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Laísa Dinelli Schiaveto Pâncreas ANATOMIA E FISIOLOGIA Na imagem: fígado (verde), baço (vermelho), estômago (amarelo), pâncreas (azul) e rim esquerdo (laranja). Laísa Dinelli Schiaveto Na imagem: fígado (verde), baço (marrom), estômago (amarelo), pâncreas (azul claro), rins (laranja), artéria aorta (vermelha), veia cava (azul escuro) e veia porta (azul intermediário). Na figura: estômago (verde), pâncreas (rosa), artéria aorta (vermelha) e artéria mesentérica superior (amarelo). Laísa Dinelli Schiaveto FUNÇÕES DO PÂNCREAS (1) FUNÇÃO EXÓCRINA: • Suco pancreático (enzimas e bicarbonato); • Amilase, lipase e tripsinogênio. (2) FUNÇÃO ENDÓCRINA: • Insulina; • Glucagon. PANCREATITE AGUDA DEFINIÇÃO: consiste numa condição inflamatória do pâncreas, que pode apresentar um grado leve ou grave, podendo haver complicações e ser fatal. - Portanto, o tratamento não deve ser feito com antibióticos. ETIOLOGIA: • Mecânica: litíase biliar (principal causa de pancreatite aguda). • Tóxica: álcool (principal causa de pancreatite crônica). • Idiopática: 2/3 microlitíase (lama biliar) e 1/3 disfunção do esfíncter de Oddi. • Metabólica: hipertrigliceridemia e hipercalcemia. • Trauma: pós-CPRE e trauma abdominal. • Medicamentosa. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Abdome agudo inflamatório; • Dor abdominal no andar superior do abdome em faixa ou em barra; • Náuseas; • Vômitos; • Febre; • Pode ter icterícia associada. ANAMNESE: • História de litíase biliar; • Presença dos 4Fs: female, forty, fat e fertility; • História de abuso de medicamento; • História de etilismo; • Menos comum: história de hipertrigliceridemia, pós-CPRE, disfunção do esfíncter de Oddi e pós-traumática. EXAME FÍSICO: • Desidratação; • Febre; • Dor à palpação abdominal; • Hematomas na parede abdominal: sinal de Cullen, sinal de Grey-Turner e Sinal de Fox; • Peritonite (incomum); • Pode ter choque: perda para o terceiro espaço e vasodilatação sistêmica. SUPEITA DIAGNÓSTICA: Quando há suspeita diagnóstica, levando em conta a anamnese e o exame físico, deve ser feito exames complementares (laboratoriais ou de imagem). EXAMES DE IMAGEM: (1) USG DE ABDOME: - Primeiro exame a ser solicitado. - Método de escolha para elucidação da etiologia de litíase biliar: cálculos pequenos (< 0,5 cm) e lama biliar. - Orienta a conduta posterior. - DESVANTAGEM: péssimo tanto para o diagnóstico de pancreatite aguda quanto para a detecção de complicações. (2) TC DE ABDOME: - É o melhor exame. - Deve ser solicitado no terceiro dia (48-72h). Laísa Dinelli Schiaveto - INDICAÇÕES: dúvida diagnóstica, casos graves na apresentação inicial, ausência de melhora em 48h e piora depois da melhora. - ACHADOS: edema pancreático, borramento da gordura peripancreática, líquido peripancreático e necrose. DIAGNÓSTICO: • Presença de 2 dos 3 seguintes critérios: 1. Clínica: dor abdominal sugestiva de pancreatite. 2. Laboratorial: amilase ou lipase > três vezes o valor da normalidade. - Não apresentam valor prognóstico; - Lipase é mais específica do que a amilase; - Amilase se eleva no primeiro dia e se mantém alta por 3-5 dias; - Lipase se eleva junto da amilase e se mantém alta por mais tempo (7-10 dias). 3. Radiológico: TC com contraste EV à apenas se há dúvida, estado grave ou piora do quadro. CRITÉRIOS DE ATLANTA: • Tem valor diagnóstico. 1. Clínica (dor) + laboratorial. 2. Clínica (dor) + imagem. 3. Imagem + laboratorial. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO E GRAVIDADE: (1) RANSON: - Feita na admissão e após 48 horas. - Biliar x não biliar. - Cada vez menos utilizada. - 3 ou mais pontos = quadro grave. (2) ATLANTA 2012: - Avalia a clínica, o laboratório e a imagem. Laísa Dinelli Schiaveto (3) BALTHAZAR: - Avalia imagens: morfologia do pâncreas e presença de necrose. - Pior prognóstico = > 6 pontos. (4) OUTROS: APACHE II e BISAP. TRATAMENTO: • Depende da gravidade do quadro. • Pode ser geral ou específico. à TRATAMENTO GERAL: 1. Analgesia com opioides: morfina e meperidina; 2. Hidratação; 3. Correção de distúrbios hidroeletrolíticos; Laísa Dinelli Schiaveto 4. Jejum de 48 horas; 5. Suporte nutricional com S/N; - Liberar dieta se: melhora da dor, ausência de vômito e fome. 6. Dieta: rica em proteínas e pobre em gorduras, com meta de 25 kcal/kg/dia. - Oral > enteral > parenteral. 7. Antibiótico: - APENAS em casos de infecção; - INDICAÇÕES: necrose infectada (presença de gás na TC e punção de conteúdo com cultura positiva); - Carbapenênimo (imipenem) ou quinolona (ciprofloxacino) + metronidazol. - NÃO TEM INDICAÇÃO DE ATBPROFILAXIA. à TRATAMENTO ESPECÍFICO DA PANCREATITE BILIAR: 1. Colecistectomia após a recuperação do paciente: - Preferencialmente na mesma internação; - Casos graves: após 6-8 semanas. 2. CPRE: se colangite associada. 3. Realizar colangio intraoperatória. COMPLICAÇÕES: (1) Coleção fluida aguda: - Precoce; - Assintomática; - Maioria resolve em 7-10 dias; - TC: conteúdo homogêneo não encapsulado. (2) Pseudocisto: - Evolução da coleção fluida aguda; - > 4 semanas; - Tem que ser pseudo; - Geralmente, assintomático; - Sintomas: plenitude gástrica, epigastralgia, icterícia e massa palpável. - TC: conteúdo homogêneo encapsulado. - Em casos assintomáticos: observação. - Quando abordar: expansão, complicações, obstrução TGI ou via biliar, infecção, rotura e pseudoaneurisma. - Como abordar: - Endoscópica: coleção em contato com parede gástrica ou duodenal; tamanho ≥ 6 cm. - Percutânea: sem relação com estômago e duodeno; pacientes instáveis para procedimento invasivo; terapia ponte para outro procedimento após estabilização. - Cirúrgica (cistogastrostomia, cistoduodenostomia e cistojejunostomia): coleção comunicante com ducto pancreático; ausência de outros recursos terapêuticos. Laísa Dinelli Schiaveto (3) Coleção necrótica aguda; - Coleção necrótica peri-pancreática; - TC: conteúdo heterogêneo não encapsulado; - Manejo semelhante ao do pseudocisto; - Pode ser acompanhando ambulatorialmente; - Pode demandar drenagem; - Atenção se infecção. (4) Walled of necrosis (WON): - Coleção necrótica envolta por uma cápsula inflamatória. - TC: conteúdo heterogêneo encapsulado. PANCREATITE CRÔNICA ETIOLOGIA: • Álcool (principal causa). OBS.: Não existe pancreatite crônica biliar. CLÍNICA: • Dor abdominal (mais comum); • Esteatorreia; Laísa Dinelli Schiaveto • Diabetes; • Calcificação; • Emagrecimento. DIAGNÓSTICO: (1) RAIO-X: baixa sensibilidade e altíssima especificidade. (2) TC COM CONTRASTE EV: sensibilidade de 80-90% e especificidade de 85%. - Atrofia, aumento pancreático, calcificação, dilatações ductais, cálculos pancreáticos e complicações (pseudocisto). (3) TESTE DE FUNÇÃO PANCREÁTICA: - Teste da secretina: mais sensível e específico. TRATAMENTO: 1. Abstinência etílica. 2. Fracionamento das refeições e redução da ingesta de gordura. 3. Suplementação de enzimáticos orais. 4. Analgesia farmacológica escalonada. 5. Casos selecionados: descompressão ductal, pancreatectomia subtotal e bloqueio de plexo celíaco. QUESTÕES 1. (USP-SP-2021) Mulher de 56 anos de idade está em investigação de icterícia obstrutiva e realiza o exame a seguir. A lesão presente na imagem tem contato com qual estrutura vascular? a) Artéria mesentérica superior. b) Veia cava inferior. c) Tronco celíaco. d) Veia mesentérica superior. 2. (SCMSP-2020) Uma paciente de 76 anos de idade foi ao serviço de emergência com história de dor abdominal epigástrica e muitos vômitos há três dias. Nos exames daadmissão, apresentava uma amilase de 3.552 e uma proteína C reativa de 20. Estava desidratada com muita dor à palpação em andar superior do abdome. Feito o diagnóstico de pancreatite aguda, optou-se pela realização de tomografia de abdome com contraste endovenoso, que demonstrou necrose pancreática de aproximadamente 50% do órgão e uma coleção líquida de aproximadamente 5 cm na porção caudal. Com base nesse caso hipotético, assinale a alternativa correta: a) Trata-se de paciente com pancreatite aguda grave, classificada como Baltazar E, e está indicado o tratamento em unidade de terapia intensiva. b) Trata-se de paciente com pancreatite aguda grave, classificada como Baltazar D. c) Trata-se de paciente com pancreatite aguda leve, classificada como Baltazar E, e está indicado o tratamento em unidade de terapia intensiva. d) Trata-se de paciente com pancreatite aguda leve, classificada como Baltazar D, e está Laísa Dinelli Schiaveto indicado o tratamento operatório de gastroduodenopancreatectomia. e) Trata-se de paciente com pancreatite aguda grave, classificada como Baltazar E, e está indicado o tratamento clínico. 3. (EINSTEIN-2019) Um homem de 35 anos teve pancreatite aguda necrotizante, provavelmente relacionada a droga. A tomografia ilustrada a seguir foi feita um mês e meio após o processo agudo. O paciente vem tendo febre e dificuldade para se alimentar e desconforto abdominal, principalmente em quadrante inferior direito. Tem aumento moderado dos leucócitos. Melhor conduta: a) Drenagem percutânea. b) Drenagem endoscópica. c) Observação. d) Cistogastroanastomose. e) Aspiração percutânea. 4. (IAMSPE-2017) Homem, 57 anos, tem diagnóstico de pancreatite aguda idiopática há 12 semanas. Desde o diagnóstico, ele apresenta anorexia e intolerância à ingestão de qualquer dieta, e vomita tudo que tenta comer. Uma sonda pós-pilórica é passada para nutri-lo. Está hemodinamicamente normal e não tem leucocitose. Uma tomografia obtida é mostrada a seguir. O melhor tratamento para essa situação, associado à baixa mortalidade, é: a) Drenagem percutânea. b) Cistogastroanastomose endoscópica. c) Desbridamento retroperitoneal videoassistido. d) Cistojejunostomia em Y de Roux. e) Esfincteroplastia transduodenal e septectomia transampular. 5. (SCMSP-2017) Paciente etilista crônico, de 54 anos, masculino, tabagista, com história pregressa de várias internações por HDA e dores na região abdominal superior. Há 1 mês, com dores na região de epigástrio, associadas a náuseas e vômitos, com piora progressiva na última semana. Perda de peso significativa nos últimos meses. Apresenta-se em regular estado geral, desidratado, ictérico, febril, apresentando vômitos, e relata ter desenvolvido diabetes no último ano. Internado para investigação, realizou uma tomografia de abdome total demonstrada a seguir. Em relação ao caso descrito, a hipótese diagnóstica e conduta seriam: a) Neoplasia gástrica, e, em seguida, estadiamento gastrectomia com reconstrução em Y de Roux. b) Neoplasia de pâncreas e derivação biliodigestiva. c) Neoplasia de pâncreas e realização Gastro- Duodeno-Pancreatectomia (GDP). d) Pancreatite aguda com formação de abscesso pancreático, e drenagem guiada por tomografia. e) Pancreatite crônica com formação de pseudocisto, drenagem do cisto guiada por exame de imagem ou cirurgia de drenagem. Laísa Dinelli Schiaveto 6. (AMRIGS-2023) Sobre o manejo da pancreatite aguda, analise as assertivas abaixo: I. A dieta via oral pode ser reintroduzida tão logo há sinais de peristaltismo, melhora dos marcadores inflamatórios e da dor abdominal. II. Na presença de hipercalcemia, prefere-se ressuscitação volêmica com solução salina, pois o ringer lactato contém cálcio. III. Antibioticoterapia profilática está indicada para pancreatite aguda grave necrotizante, independentemente de sinais de infecção. Quais estão corretas? a) Apenas I e II. b) Apenas I e III. c) Apenas II e III. d) I, II e III. 7. (HOS-2019) Segundo a revisão da classificação de Atlanta para pancreatite aguda, publicada em 2012, foi descrita uma entidade morfológica que consiste em uma área circunscrita contendo líquido e restos pancreáticos necróticos que substitui parte do parênquima pancreático e surge a partir de uma área de necrose que ocorre tardiamente no curso da pancreatite aguda necrosante, cerca de quatro semanas após o quadro inicial. Essa entidade é: a) Necrose pancreática deliminada (walled-off necrosis). b) Pseudocisto pancreático. c) Acúmulos líquidos agudos peripancreáticos. d) Esteatonecrose peripancreática. e) Pancreatonecrose difusa peripancreática. 8. (SCMSP-2017) As duas principais características clínicas da pancreatite crônica são: a) Dor abdominal e vômitos. b) Icterícia e esteatorreia. c) Dor abdominal e diabetes. d) Vômitos e icterícia. e) Dor abdominal e esteatorreia. 9. (SES-PE-2023) O cirurgião é comumente chamado para avaliar pacientes com pancreatite aguda. As dosagens séricas de amilase e lipase fazem parte dos critérios diagnósticos de doença. Em relação a essas enzimas, é CORRETO afirmar que: a) Qualquer valor de lipase é suficiente para o diagnóstico, já que só o pâncreas produz essa enzima. b) A amilase é menos sensível, porém é a mais específica. c) Após 48h do quadro clínico, a lipase é a mais sensível. d) A insuficiência renal não afeta as dosagens dessas enzimas. e) As amilases pancreática e salivar são moléculas idênticas. 10. (UNESC-2020) Em pacientes com pancreatite aguda, o aumento da amilasemia é um fator importante para o diagnóstico, porém existem outras causas que podem cursar com essa condição e associar-se com dor abdominal, muitas vezes dificultando o diagnóstico correto. Assinale a assertiva que contenha causas de hiperamilasemia: a) Carcinoma pancreático, cetoacidose diabética, angiodisplasia colônica. b) Apendicite aguda, carcinoma pancreático, tireoidite. c) Cirrose hepática, úlcera péptica perfurada, prenhez tubária. d) Pênfigo bolhoso, insuficiência renal, parotidite. e) Coledocolitíase, pneumonia, obstrução intestinal. 11. (USP-RP-2021) Homem, 49 anos, com dor no andar superior do abdome, amilasemia de admissão de 2.460 U/dl (valor de referência até 160 U/d!), há 72 horas em tratamento com jejum, hidratação e analgesia em hospital de média complexidade, sem Unidade de Terapia Intensiva. As frequências cardíacas e respiratória estão em 106 batimentos e 26 incursões respiratórias por minuto, a Laísa Dinelli Schiaveto amilasemia elevou-se para 4.280 U/dl, o hematócrito está em 55% (valor de referência de 36 a 46%), os glóbulos brancos de 16.000/ml (valor de referência de 4.000 a 10.000/ml), a ureia e creatinina, respectivamente, de 150 (valor de referência de 16 a 40 mg/dL) e 2,8 (valor de referência de 0,6 a 1,2 mg/dL), as bilirrubinas totais de 6,4 mg/dl (valor de referência de 0,2 a 1,0 mg/dl) e bilirrubina direta de 4,4 mg/dl. Após tomografia de abdome (que mostrou coleções peripancreáticas), foi solicitada a transferência para hospital terciário. Quais os achados que podem justificar o encaminhamento para o hospital terciário? a) A leucocitose, a hiperbilirrubinemia e a amilasemia. b) As coleções peripancreáticas, a amilasemia e a leucocitose. c) As coleções peripancreáticas e a hiperbilirrubinemia. d) A hemoconcentração e a azotemia. 12. (UERJ-2023) Paciente, com diagnóstico de pancreatite crônica, está em acompanhamento no ambulatório de cirurgia geral há cinco anos. No último ano, o quadro evoluiu com dor abdominal de difícil controle, apresentando efeitos colaterais importantes com o uso de opioides. A ressonância magnética de abdômen mostrou ducto pancreático principal irregular, com pontos de estenose parcial e dilatação, medindo 12mm em seu maior diâmetro.A melhor conduta cirúrgica, nesse caso, é: a) Pancreatectomia total. b) Duodenopancreatectomia. c) Pancreatectomia corpo-caudal. d) Pancreatojejunostomia laterolateral. 13. (SMS-SP-2023) De acordo com o escore de Ranson para pancreatite aguda biliar, para a definição de uma pancreatite aguda grave, é necessária a presença de quantos pontos? a) 5. b) 4 ou mais. c) 6. d) 2 ou mais. e) 3 ou mais. 14. (FMABC-2020) As indicações de cirurgia em casos de pancreatite crônica são: a) Diabetes, suspeita de carcinoma de pâncreas, esteatorreia e pseudocisto sintomático. b) Dor grave e incapacitante, suspeita de carcinoma de pâncreas, icterícia obstrutiva e pseudocisto sintomático. c) Pancreatite por colelitíase, dor intratável, icterícia e esteatorreia. d) Dor intratável, esteatorreia, ascite e derrame pleural. GARARITO: 1D; 2B; 3A; 4B; 5E; 6A; 7A; 8E; 9C; 10C; 11D; 12D; 13E; 14B.
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