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Laísa Dinelli Schiaveto Traumatismo Cranioencefálico (TCE) DEFINIÇÃO O TCE é definido como qualquer lesão de etiologia traumática que afeta o parênquima cerebral ou suas estruturas adjacentes, como as meninges, os vasos, a calota craniana e o couro cabeludo, compreendo, assim, uma emergência média com alta morbimortalidade. Em adultos, o compartimento intracraniano é protegido pelo crânio, uma estrutura rígida com volume interno fixo de 1.400-1.700 ml, composto por 80% de parênquima cerebral, 10% de LCR e 10% de sangue. FISIOPATOLOGIA 1. LESÃO CEREBRAL PRIMÁRIA Ocorre no momento do trauma. Os mecanismos envolvidos incluem impacto direto, aceleração e desaceleração, trauma penetrante e ondas de explosão, os quais resultam em forças mecânicas externas que são transferidas para os compartimentos intracranianos. Assim, o dano cerebral resultante inclui uma combinação de contusões focais e hematomas, bem como cisalhamento dos tratos de substância branca (lesão axonal difusa), juntamente com edema cerebral. 2. LESÃO CEREBRAL SECUNDÁRIA Compreende as lesões que podem ocorrer devido a cascata de lesão molecular que se inicia no momento do trauma e dura por horas ou dias. Os mecanismos incluem lesão da membrana celular por radicais livres, distúrbios hidroeletrolíticos, disfunção mitocondrial, apoptose celular, isquemia cerebral secundária a vasoespasmos, oclusão microvascular e/ou lesão vascular direta. MORFOLOGIA 1. FRATURA DE CRÂNIO: fraturas da calota craniana e fraturas de base de crânio. 2. LESÕES INTRACRANIANAS: lesão axonal difusa, contusão, hematoma epidural, hematoma subdural, hemorragia subaracnóidea e hemorragia intraventricular. CLASSIFICAÇÃO 1. ESCORE DE GRAVIDADE CLÍNICA (ESCALA DE COMA DE GLASGLOW) • Escore 13-15 = casos leves. • Escore 9-12 = casos moderados. • Escore ≤ 8 =casos graves. 2. ESCORE DE GRAVIDADE TOMOGRÁFICA (ESCALA DE MARSHALL) OBS.: As indicações para a realização de TC de crânio no TCE incluem: idade > 65 anos; amnésia pós-trauma de 30 ou mais minutos; se sintomas agudos persistirem por mais de 4 horas; déficit neurológico focal; perda de consciência > 5 minutos; ECG < 15 após 2 horas do trauma; 2 ou mais episódios de vômitos; crise convulsiva presenciada após o trauma; suspeita clínica de fratura de crânio; coagulopatia conhecida. Laísa Dinelli Schiaveto TRATAMENTO O principal objetivo do tratamento é evitar lesões cerebrais secundárias. Para isso: • Evitar hipotensão arterial e hipóxia, que diminuem o fornecimento de oxigênio e glicose. • Tratar febre e convulsões, que podem aumentar a demanda metabólica. • Evitar disglicemias, que podem exacerbar os mecanismos de lesão em andamento. TCE LEVE Consiste na avaliação precoce seguida por período de observação clínica para detecção de fatores de risco para lesão intracraniano significativa. - Não há indicação de TC como rotina. Após 4 horas de observação com melhora clínica, com ausência de fatores de risco que indiquem TC ou após TC normal, se realizada, é permitida alta hospitalar. - Retorno Imediato: cefaleia, déficit neurológico e declínio do estado mental. Nesse sentido, a admissão hospitalar é considerada quando não há melhora clínica após 4 horas, independente do resultado da TC, ou, se realizada, TC anormal. TCE MODERADO A GRAVE Consiste na estabilização do paciente, sobretudo do ponto de vista cardiopulmonar e neurológico. - É obrigatório realizar TC, hospitalização e avaliação por neurocirurgião. CONDUTA: • Protocolo ABCDE, de acordo com ATLS. • Intubação precoce, quando Glasgow ≤ 8, para evitar hipoxemia. • Suporte básico para prevenir dano cerebral: - PaO2 > 60 - SaO2 > 90 - PaCO2 35-40 - PAS > 90 - Cabeceira elevada 30º - Evitar hiperventilação, para manter normocarbia. • Se necessário, é recomendado fluidoterapia, com o uso de cristaloides, hemoderivados e vasopressores, para normovolemia e PAM. • Sedação e anestesia são indicados para a redução da dor, ansiedade e agitação. • Anticonvulsivantes são recomendados para evitar convulsões pós-traumáticas precoces, principalmente se houver alteração em TC ou história prévia de convulsão; indica-se o uso de fenitoína em dose de ataque de 1g IV e dose de manutenção de 100 mg IV a cada 8 horas. • Atentar-se a possibilidade de hipertensão intracraniana (PIC > 20 mmHg por mais de 5 minutos) que deve ser manejada com urgência através de drenagem liquórica seguida de bloqueio neuromuscular e sedação se permanecer elevada, controlando a ventilação. Se não houver melhora, está indicado manitol 1g/kg a cada 4-6h. • Controle glicêmico é fundamental, uma vez que creca de 50% da vítimas desenvolvem hiperglicemia nas primeiras 24h do trauma, a qual piora o prognóstico. - Glicemia capilar deve ser monitorada 6/6h. - Glicemia > 200 mg/dL tem como causa o aumento nos níveis de cortisol, glucagon e epinefrina devido o aumento de catecolaminas relacionado à HIC, aumento da demanda de oxigênio cerebral e elevação nos níveis séricos de glicose. - Insulinoterapia EV (padrão-ouro). OBS.: Antieméticos, como a metoclopramina, que dentre os efeitos adversos incluem sonolência, inquietação e, principalmente, reações extrapiramidais, como distonias e discinesias, não são indicados no TCE. COMPLICAÇÕES • TVP • Trombofilias (hereditárias ou adquiridas) • Tríade de Virchow (hipercoagulabilidade, estase sanguínea e lesão endotelial) • Tromboembolismo venoso Laísa Dinelli Schiaveto TROMBOPROFILAXIA 1. MECÂNICA - Pacientes com alto risco de sangramento pós-operatório. - Meias de compressão e compressão pneumática intermitente. 2. FARMACOLÓGICA - Antes do procedimento cirúrgico (cerca de 5-7 dias), deve ser descontinuada, visando o retorno da coagulação. - Baixas doses de heparina ou heparina de baixo peso molecular
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