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PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 TUTORIA 8 – PROBLEMA 7 OBJETIVOS 1- ANALISAR O TC, CONSIDERANDO EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, CONDUTA (ATLS), COMPLICAÇÃO, EVOLUÇÃO, EXAMES DE IMAGEM E PROGNÓSTICO. EPIDEMIOLOGIA Introdução: O TCE é responsável por pelo menos 50% dos casos de morte associada ao trauma. É uma causa comum em serviços de politrauma, sendo o principal determinante isolado de mortalidade. Jovens 15-24 anos são os mais acometidos. Maior incidência no sexo masculino. Elevada morbimortalidade -> Profilaxia é melhor do que o tratamento da lesão. 3 picos de incidência: < 5 anos; 15 – 24 anos; > 70 anos. Regra do 1/3: 1/3 dos casos graves não sobreviverá; 1/3 dos casos graves terá sequelas importantes; 1/3 dos casos graves terá sequelas mínimas. Principais causas: Traumas relacionados ao trânsito; Quedas; Violência interpessoal; Traumas relacionados a práticas esportivas. FISIOLOGIA DA REGULAÇÃO CEREBRAL Alguns dos fatores envolvidos na lesão neurológica relacionada às alterações da dinâmica cerebral incluem hipertensão intracraniana, regulação do fluxo sanguíneo cerebral, formação de edema cerebral e alterações no líquor. O cérebro é capaz de suportar períodos muito curtos de isquemia, diferentemente dos rins, do fígado e dos músculos, por exemplo. Então o FSC (Fluxo Sanguíneo Cerebral) deve ser mantido para assegurar uma oferta constante de oxigênio e glicose, além de retirar os produtos do metabolismo cerebral. A manutenção do FSC depende de um equilíbrio entre a pressão intracraniana (PIC) e a pressão arterial média do sangue (PAM). É importante manter um FSC relativamente constante. Assim, quando a PAM diminui, alguns mecanismos fisiológicos são ativados para manter o FSC e evitar isquemia neuronal. Da mesma forma, se a PAM se eleva, o FSC também deve ser mantido senão o cérebro incharia pelo aumento do FSC e a PIC se elevaria. Este processo é denominado de Auto-regulação. Pressão Intracraniana O crânio possui, nos adultos, um compartimento rígido preenchido com 3 componentes: tecido cerebral (80%), sangue (10-12%) e líquor (8-10%). O volume total é de cerca de 1600 ml. De acordo com a Doutrina de Monro-Kellie, todos os três componentes estão em um estado de equilíbrio dinâmico. Se o volume de um dos componentes aumenta, o volume de um ou mais dos outros componentes deve diminuir ou a pressão intracraniana irá aumentar. Dentro dos ventrículos, a pressão intracraniana normalmente deve ser menor que 15 mmHg. Como o crânio pode ser visto fisiologicamente como uma caixa rígida cheia de líquido, se o volume de um de seus constituintes aumentar, a pressão dentro do crânio deverá aumentar, a não ser que algum de seus elementos líquidos possa escapar. E este não pode ser o encéfalo, mas o sangue ou o líquor. Quando o sangue ou o líquor não puder escapar, a PIC irá se elevar acima de seu valor normal (5-15 mmHg). Normalmente, a resposta inicial é uma redução no volume de líquor do crânio. O líquor é desviado do crânio para dentro do saco espinhal. Desta forma, a PIC é inicialmente controlada. Se o processo patológico inicial progride com mais aumento de volume, o sangue venoso dos seios e eventualmente mais líquor podem ser forçados a sair do crânio. Quando este mecanismo de compensação é exaurido, qualquer aumento maior de PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 volume intracraniano irá causar um rápido aumento da PIC. As relações entre as variações de volume e de pressão dentro do crânio são representadas na figura. Ela indica que um aumento no volume com pouca mudança de pressão ocorre até certo ponto, quando pequenos aumentos de volume acarretam grandes aumentos de pressão. Este ponto geralmente indica que os mecanismos de compensação se tornaram exauridos e uma fase de aumento da PIC compensada foi sucedida por uma fase descompensada. Complacência A Complacência Intracraniana é de grande importância para a manutenção da dinâmica intracraniana. Complacência intracraniana é a capacidade do crânio de tolerar aumentos no volume sem um aumento correspondente na pressão intracraniana, ou seja, em outras palavras, significa a elasticidade do crânio. Quando a complacência é adequada, um aumento no volume do tecido cerebral, de sangue ou de líquor não produz inicialmente aumento na pressão intracraniana. Quando a complacência é diminuída, mesmo um pequeno aumento no volume de qualquer componente intracraniano é suficiente para causar uma grande elevação na pressão intracraniana. A extensão da elevação da PIC decorrente do aumento do volume intracraniano é determinada pela complacência ou compressibilidade do conteúdo intracraniano. Quando a complacência é baixa, o conteúdo é pouco compressível e a PIC irá se elevar bastante mesmo que com pequenos aumentos de volume. A complacência também afeta a elastância ou a distensibilidade da parede dos ventrículos. Quando a elastância é reduzida, a distensibilidade da parede dos ventrículos é reduzida e, portanto, mais rígida. Consequentemente, haverá uma maior variação de pressão para uma mudança de volume. A forma de verificar a complacência é por meio da introdução de um cateter nos ventrículos laterais com injeção de 1 ml de solução alcalina. O volume de sangue contido dentro dos seios venosos é reduzido a um mínimo como parte do processo de compensação. Entretanto, se o fluxo livre de sangue venoso for impedido, mesmo que por algumas razões corriqueiras (tosse, aumento da pressão intratorácica, veias jugulares obstruídas), este aumento no volume de sangue venoso num cérebro criticamente inchado irá levar a um rápido aumento na PIC. Na prática é imperativo assegurar que estes pacientes mantenham a cabeceira da cama elevada a 30º e a cabeça seja mantida numa posição neutra. Isto melhora a drenagem venosa sem interferência significativa da pressão arterial. A drenagem venosa é passiva e maximizada se garantida que nenhuma interferência existe no fluxo livre através das jugulares. Pressão de Perfusão Cerebral A pressão de perfusão cerebral (PPC) é definida como a diferença entre a pressão arterial média (PAM) e a pressão intracraniana (PIC). PPC = PAM – PIC A PPC normal é de cerca de 80 mmHg, mas quando reduzida abaixo de 50-60 mmHg aparecem sinais evidentes de isquemia e atividade elétrica reduzida. A monitoração da saturação do bulbo jugular (SjO2) pode ser usada para avaliar a adequação do fluxo sanguíneo cerebral (FSC). A SjO2 é a saturação venosa do sangue que deixa o cérebro na base do crânio e sua variação normal é entre 55-75%. Se o FSC está diminuído abaixo de um nível crítico, o sangue venoso que deixa o cérebro irá demonstrar também uma diminuição na SjO2. Mais especificamente, quando a PPC é inadequada para o consumo de oxigênio cerebral, a SjO2 cai demonstrando uma maior extração de oxigênio pelo cérebro. Fluxo Sanguíneo Cerebral O cérebro recebe aproximadamente 750 ml/min de sangue arterial ou cerca de 15% do total do débito cardíaco em repouso, e tem cerca de 20% do consumo de oxigênio corporal. Sob condições normais, este PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 suprimento sanguíneo permanece relativamente constante. O Fluxo Sanguíneo Cerebral (FSC) é definido como o volume de sangue que circula através da circulação cerebral num determinado tempo. Uma vez determinado o FSC, é possível calcular a oferta e o consumo de oxigênio cerebral a partir do conteúdo de oxigênio arterial e venoso. O FSC normal é de 50-60 ml/100 g/min, variando desde 20 ml/100 g/min na substância branca até 70 ml/100 g/min em algumas áreas da substância cinzenta. Crianças entre 2 e 4 anos têm fluxos mais altos, ao redor de 100-110 ml/100 g/min, e que se “normalizam” ao longo da adolescência. Seo FSC cair, ocorrerá primeiro uma diminuição da função neuronal e, posteriormente, lesão irreversível. Se, entretanto, o FSC se elevar acima de limites fisiológicos, edema cerebral e áreas de hemorragia podem aparecer. Desta forma, o FSC deve ser mantido dentro de valores normais apesar das flutuações da PPC. Auto-Regulação O FSC é mantido num nível relativamente constante, mesmo frente às flutuações normais na PAM, pelo mecanismo de auto-regulação. Este é um mecanismo vascular fisiológico de vasoconstrição e vasodilatação, ainda dependendo de uma melhor compreensão dos seus mecanismos fisiopatológicos intrínsecos. Uma queda da PPC é compensada com vasodilatação; Elevação da PPC é compensada por vasoconstrição, dentro de limites fisiológicos; Estes ajustes são regulados principalmente pela demanda metabólica, pela inervação simpática e parassimpática e pela concentração de algumas substâncias como adenosina, óxido nítrico, PaO2 e PaCO2. Pressão Intracraniana Normal: 5 – 15 mmHg; Pressão Intracraniana Anormal: 20 mmHg; Pressão Intracraniana Grave: 40 mmHg. FISIOPATOLOGIA Estágios de Lesão O TCE pode ser divido em dois estágios quanto a sua fisiopatologia: 1º Estágio: O primeiro estágio da lesão cerebral após o trauma craniano é caracterizado por lesão tecidual e desregulação do fluxo sanguíneo encefálico e do seu metabolismo. Nesse quadro que se parece com isquemia tecidual, ocorre o acumulo de ácido lático proveniente da glicólise anaeróbia, aumento da permeabilidade da membrana celular e consequentemente edema tecidual. Desde o momento que o metabolismo anaeróbico não é mais adequado para a manutenção do gasto energético celular encefálico, o estoque de adenosina trifosfato (ATP) é esgotado e começa a ocorrer falha das bombas iônicas. 2º Estágio: No segundo estágio da lesão no traumatismo craniano a cascata é iniciada pela despolarização terminal da membrana junto com a liberação excessiva de neurotransmissores excitatórios (glutamato e aspartato), ativação de receptores N-Metil-D- Aspartato (NMDA) e abertura dos canais de sódio e cálcio-dependentes. Como consequência da abertura dos canais iônicos, ocorre um influxo de íons sódio e cálcio que desencadeia uma autodigestão (catabolismo) dos processos intracelulares. O influxo de íons cálcio ativa as peroxidases lipídicas, proteases e fosfolipases os quais por sua vez aumentam a concentração intracelular de ácidos graxos livres e radicais livres. O principal mecanismo do TCE pode ser classificado como: Lesão Cerebral Focal: resultando em contusão, laceração e hemorragia intracraniana por trauma local direto; Lesão Cerebral Difusa: causando lesão axonal difusa e aumento do tamanho do cérebro (edema) pelo mecanismo de aceleração/desaceleração. O resultado da lesão cerebral é definido por dois mecanismos ou estágios diferentes: Lesão Primária: ocorrida no momento do trauma; Lesão Secundária: sendo o processo patológico iniciado no momento do trauma com manifestações clinicas tardias. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 Classificação do TCE quanto a seu mecanismo: Fechado: são lesões resultantes de colisão de veículos, quedas e agressões; Abertos: quando causadas por arma de fogo e lesões penetrantes. Classificação morfológica do TCE quanto ao local acometido, tipos de traumatismos: Fratura de Crânio: fratura óssea, fratura de base de crânio. Lesões Intracranianas: Envolve lesões cerebrais difusas, hematoma peridural, subdural e intracerebral, contusões e concussões. TIPOS DE TRAUMATISMOS FRATURA DE CRÂNIO A fratura óssea do crânio implica em grande força exercida pelo mecanismo de trauma diretamente na cabeça. Elas podem ser observadas em torno da calota óssea, base do crânio ou nos ossos da face. Podem ser classificadas como: Lineares ou Não Lineares Com afundamento (Deprimida) ou sem afundamento (Não Deprimida) Fraturas Lineares: é uma fratura única que na maioria das vezes se estende por toda a espessura da calvária. Eles ocorrem com mais frequência nas regiões temporoparietal, frontal e occipital. Não necessitam de tratamento cirúrgico, devendo-se apenas observar se a linha de fratura cruza algum território vascular no RX de crânio, pelo maior risco de hematomas intracranianas. Fratura Com Afundamento: Quando além da fratura, o impacto é suficiente pra empurrar o osso pra dentro, em direção ao cérebro, temos um afundamento de crânio. Podem ou não se constituir em uma emergência cirúrgica, sendo que a conduta está direcionada à lesão cerebral associada; Fraturas Abertas De Crânio: são aquelas que apresentam comunicação direta entre a laceração do couro cabeludo e o parênquima cerebral em consequência do rompimento da dura. Nesse tipo de fratura, visualiza-se o cérebro ou o extravasamento de líquido céfalo raquidiano. O tratamento é cirúrgico e precoce, com redução ou remoção de fragmentos ósseos e sutura da dura; Fratura De Base De Crânio: muitas vezes não se apresenta ao exame radiológico. O diagnóstico é dado pelos achados clínicos como: Extravasamento de líquido céfalo raquidiano e pelo ouvido (otorreia) ou pelo nariz (rinorreia). Quando houver a presença de sangue, deve-se observar o “sinal do duplo halo”, que são anéis concêntricos com sangue no anel central e anéis progressivos mais claros ao redor. Equimose na região mastoidea (Sinal de Battle) – indica fratura de base de crânio e acúmulo de sangue na membrana timpânica (hemotimpano). PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 As fraturas da placa crivosa associam-se à equimose periorbitais (olhos de guaxinim). Esse sinal geralmente não está presente no período imediato após o trauma. Destaca-se aqui o cuidado ao inserir dispositivos nasais (SNG) e por isso a indicação da inserção de SOG. LESÕES INTRACRANIANAS LESÕES CEREBRAIS DIFUSAS São produzidas quando movimentos rápidos de cabeça (aceleração e desaceleração) determinam interrupção concomitante da função cerebral em muitas áreas cerebrais. As lesões mais graves são as Axonais difusas (lesões microscópicas que acometem todo o cérebro e que podem causar problemas permanentes). Especificidades: Concussão: é uma lesão cerebral acompanhada por uma breve perda das funções neurológicas, podendo causar confusão ou amnésia, ou perda temporária da consciência, um período curto que comumente acontece antes da chegada do paciente ao hospital. Todas as alterações tendem a desaparecer de forma rápida, geralmente antes da chegada do paciente à Sala de Emergência. O paciente poderá se queixar de cefaleia, tonturas ou náusea; Lesão Axonal Difusa: Caracterizada por ruptura de axônios, se manifesta com a presença de coma decorrente de TCE com duração de mais de 6h. Aparece muito mal na TC ou nem aparece, sendo um diagnóstico clínico de exclusão (exclui hematomas e outras lesões e o paciente ainda está em coma). Na RM costuma aparecer melhor. Clinicamente, observa-se alteração importante no nível de consciência já no momento do trauma. O estado comatoso dura obrigatoriamente > 6h. Mecanismo: Forças de cisalhamento, em consequência à aceleração rotacional da cabeça. Há um efeito rotacional diferente na substância cinzenta e branca. LESÕES FOCAIS São aquelas cujo dano macroscópico é circunscrito a área bem delimitada e compreendem as contusões, as hemorragias e os hematomas. Devido ao efeito de massa, essas lesões podem requerer tratamento cirúrgico de urgência. Contusão: Pode ser única ou múltipla, pequena ou grande e com manifestação clínica variada. É comum associar-se com concussão grave PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 manifestada por períodos prolongados de coma, obnubilação e confusão mental.A lesão pode ser por trauma direto ou por contragolpe. O lobo frontal e temporal são locais frequentes de contusão. Hemorragias Intracranianas: São classificas como hemorragias meníngeas ou intracerebrais. A tomografia computadorizada tornou o diagnóstico mais preciso. Hematoma peridural: Os hematomas peridurais são relativamente incomuns, presentes apenas em 1% dos casos de TCE e apenas 10% apresentam rebaixamento do nível de consciência. São localizados fora da dura-máter, mas dentro do crânio, são tipicamente em forma biconvexos ou lenticulares. São mais frequentemente localizados na região temporal ou temporoparietal, onde frequentemente as fraturas cranianas causam laceração da artéria meníngea média. Hematoma subdural: Os hematomas subdurais são mais comuns do que os peridurais, ocorrendo em aproximadamente 30% dos casos de trauma craniano grave. Resultam principalmente da ruptura de uma veia que faz a ligação entre o córtex cerebral e a drenagem venosa para os seios. Em aproximadamente 80% dos casos de hematoma subdural, pode ser considerada a base da lesão neurológica. Ocorre com frequência adjacente a contusões do parênquima cerebral. Caso o hematoma seja grande, pode causar compressão das estruturas com desvio da linha média. Hematoma intracerebral: O hematoma intracerebral ocorre comumente associado com traumas cranianos de média ou grande intensidade, geralmente produzindo lesões de massa (efeito de massa). A maioria das lesões ocorre no lobo frontal e temporal. Muitos hematomas intracranianos demoram a apresentar alterações nos exames de imagem como à tomografia computadorizada (TC) sendo necessárias 24 horas ou mais para que se estabeleça uma lesão completa, que possa ser diagnosticada como hematomas intracerebrais pela TC. CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE Classificada com base na escala de coma de Glasgow e no exame físico. O valor da escala de coma de Glasgow vai de 3 a 15. TCE Leve: 13 – 15 TCE Moderado: 9 – 12 TCE Grave: 3 – 8 FATORES DE RISCO Mecanismos de Lesão PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 Traumatismos penetrantes têm pior prognóstico do que aqueles sem lesão penetrante. Pacientes com lesão penetrante são mais propensos a apresentar nível na escala de coma de Glasgow (ECG) mais baixo, indicando pior prognóstico e morte precoce. Pedestres e ciclistas sofrem piores lesões do que em acidentes por veículos a motor, e a ejeção do veículo causa maior risco de lesão intracraniana. Outros dados são levados em conta quando há trauma craniano, como a idade do paciente, influenciando no tipo de seu mecanismo e no prognóstico da lesão sofrida, tanto primária quando secundária ao trauma. ATLS – SUPORTE AVANÇADO DE VIDA NO TRAUMA Atendimento do paciente politraumatizado - ABCDE: A – airways (via aérea com proteção da coluna cervical) – colar de proteção. B – breathing (ventilação) C – circulation (circulação, parar a hemorragia) D – disability (neurológico – Glasgow do paciente) E – exposure (despir e controlar temperatura) A – VIA AÉREA: Procurar corpo estranho ou sangue na boca do paciente. Usar a cânula de aspiração para retirar o sangue. Todo paciente traumatizado deve receber máscara com oxigênio (100%). B - VENTILAÇÃO Inspeção Ausculta Percussão Palpação Raio-x de tórax e pelve. C - CIRCULAÇÃO Choque Dois acessos venosos calibrosos 1L de ringer lactato ou SF (soro fisiológico) 0,9% aquecidos Qual a origem do choque hemorrágico? >> Contenção do sangramento 1. Achar a fonte de sangramento 2. Parar o sangramento 3. Repor volume D - NEUROLÓGICO Avaliação das pupilas – isofotoreagentes Escala de coma de Glasgow Sinais de lateralidade E - EXPOSIÇÃO DO PACIENTE Exposição de todo o doente. Rodar o doente em monobloco e procurar por lesões externas em todo o paciente. Prevenir hipotemia. Dedos e sondas em todos orifícios: Toque vaginal Toque retal Sonda vesical Sonda nasogástrica CONDUTA DO PACIENTE COM TCE O tratamento a este paciente deve ser feito em três fases. A primeira compreende o atendimento correto no local do acidente e remoção adequada ao hospital. Cabendo a segunda abordagem ao atendimento inicial na sala de emergência para avaliação diagnóstica e terapêutica com a finalidade de estabilização da função ventilatória e de estabilização hemodinâmica do paciente. Para que possa ser instituída a segunda etapa do tratamento o tratamento clínico e/ou cirúrgico com medidas de suporte básico e específicos. As medidas de suporte básico abrangem: suporte respiratório, hemodinâmico, hidroeletrolítico, nutricional. O primeiro passo é a obtenção e manutenção das vias aéreas pérvias, por meio das manobras de desobstrução das vias aéreas: Tração do mento; Elevação da mandíbula; Cânula orofaríngea (Guedel); Aspiração; Via aérea definitiva (intubação orotraqueal ou cricotireidostomia); Proteção da coluna cervical. Avaliar a respiração e a ventilação através da ausculta pulmonar, avaliando a necessidade de se realizar PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 procedimentos como a drenagem do tórax (hemotórax ou pneumotórax e pneumotórax hipertensivo). Devem-se tentar normalizar os parâmetros hemodinâmicos dos pacientes por meio da infusão de solução cristaloide, sangue ou mesmo fármacos vasopressores, em casos específicos, e realizar a retirada de amostra de sangue para realização de exames laboratoriais de emergência como tipo sanguíneo, hemoglobina e hematócrito em todos os pacientes e teste de gravidez em mulheres. A avaliação neurológica no paciente com trauma craniano deve receber uma atenção especial, principalmente na avaliação secundária, após se realizar o ABCDE, preconizado pelo ATLS®. Durante a realização da avaliação primária, deve-se avaliar a Escala de Coma de Glasgow, já na admissão, avaliação dos padrões pupilares, avaliação de déficit motor e dos reflexos. A avaliação do nível de consciência do paciente pela Escala de Coma de Glasgow é a forma mais prática de se avaliar com objetividade o seu nível de consciência, mostrando o prognóstico com relação a sua lesão cerebral. A Escala de Coma de Glasgow avalia através do examinador a abertura ocular, melhor resposta verbal e melhor resposta motora, sendo atribuídos valores para cada achado no paciente. CUIDADOS GERAIS As lesões cerebrais secundárias no trauma causam alterações sistêmicas e intracranianas, podendo ocorrer a qualquer momento durante a fase de reanimação e estabilização do paciente ou durante o tratamento intensivo. As condutas e procedimentos a serem adotados no TCE têm como alvo otimizar a perfusão cerebral, a oxigenação tecidual e evitar lesões secundárias. A maioria dos protocolos de condutas no TCE é baseada em torno dos procedimentos básicos de tratamento e também na avaliação da pressão de perfusão cerebral (PPC) e da pressão intracraniana (PIC). Suporte ventilatório, sedação e analgesia Pacientes com TCC grave (ECG < 8) exigem intubação e ventilação mecânica para manter a PO2 arterial acima de 80 mmHg e a PCO2 arterial em torno de 34 a 38 mmHg. A hipercapnia deve ser evitada nesses pacientes, pois sua ação vasodilatadora pode aumentar a PIC. A sedação adequada diminui a dor, ansiedade e agitação, reduzindo o metabolismo cerebral, diminuindo o consumo de oxigênio e facilitando a ventilação mecânica. Isso pode ser conseguido por meio do uso de fármacos sedativos e opioides. Benzodiazepínicos de ação curta como o MIDAZOLAM são comumente utilizados, tendo função sedativa e anticonvulsivante. O PROPOFOL tem alguns benefícios em relação ao midazolam, pois tem meia-vida plasmática menor. Entretanto, o propofolnão é recomendado sua utilização em caso de hipotermia, pois esses pacientes têm tendência de precipitar hiperlipidemia. Outras complicações do propofol incluem colapso cardiovascular, acidose metabólica, rabdomiólise e bradicardia. Os BARBITÚRICOS são menos usados como sedativos por causa do risco de depressão cardiovascular e aumentar o risco de infecção. A analgesia é obtida através do uso de acetaminofeno e infusão de opioides, como REMIFENTANIL, FENTANIL ou MORFINA, os quais possuem efeitos mínimos no controle hemodinâmico cerebral. O uso de bloqueadores neuromusculares pode aumentar a PIC. Suporte Hemodinâmico Pacientes com TCE tendem à instabilidade hemodinâmica por inúmeras razões. Lesões associadas podem conduzir a depleção do volume intravascular e o trauma do miocárdio pode resultar em falência cardíaca. Além disso, as lesões cerebrais podem afetar diretamente a estabilidade cardiovascular. A manutenção da estabilidade hemodinâmica é essencial para o tratamento do paciente com TCE grave, já que a PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 lesão cerebral pode levar a perda da capacidade de auto-regulação vascular de modo localizado, no sistema nervoso central, ou sistemicamente. Estudos demonstrando a relação da pressão arterial com a sobrevida dos pacientes com TCE, observou-se que a pressão sanguínea sistólica > 90 mmHg no tratamento inicial e na reanimação do paciente, está associada com melhor prognóstico. A hipotensão deve ser evitada a todo custo, pois pode ocorrer redução do fluxo sanguíneo cerebral (FSC), que abaixo do valor aceitável pode causar isquemia cerebral. A hipertensão também apresenta efeitos lesivos no paciente traumatizado, podendo aumentar o edema vasogênico causando efeito prejudicial na PIC. Inicialmente, o volume vascular deve ser mantido buscando uma pressão venosa central em torno de 5- 10 mmHg, usando soluções isotônicas de cristaloides ou coloides. Se a pressão sanguínea adequada não pode ser mantida facilmente com uso de volume, a introdução de um agente vasoativo está indicada. Além disso, em pacientes com lesões associadas com evolução para choque e que necessitam de fármacos inotrópicos e agentes vasopressores para controlar a pressão, um cateter de artéria pulmonar ou monitor cardíaco não invasivo deve ser considerado. Antes que monitorização da PIC esteja estabelecida, a hipertensão arterial não deve ser tratada, a menos que a pressão arterial media (PAM) esteja acima de 120 mmHg, porque a pressão sanguínea sistêmica elevada pode estar mantendo o FSC. Para o tratamento da hipertensão, a infusão de betabloqueadores de curta ação está indicada, pois não causam vasodilatação cerebral, quando comparado com nitratos e bloqueadores de canais de cálcio, e consequentemente, não causam aumento do volume sanguíneo cerebral ou da PIC. Suporte nutricional O suporte nutricional precoce é recomendado em pacientes com TCE, devendo ser iniciada assim que a estabilidade hemodinâmica for obtida. Estudos mostram que o início precoce da dieta está associado à melhores resultados de sobrevida e melhores taxas de recuperação pós-lesão neuronal. Estudos mostram que o início precoce de suporte nutricional está associado a um aumento na função imunológica dos pacientes, com aumento dos valores de células T CD4, relação CD4-CD8 e linfócitos T mais responsivos. O uso de fórmula enteral é preferível, mas em casos de grande volume residual gástrico, com risco de broncoaspiração ou trauma abdominal associado, o uso de dieta parenteral pode ser utilizado. Independente do método de suporte nutricional deve ser feita a monitorização do paciente em busca de efeitos colaterais do suporte dietético como hiperglicemia, cetoacidose, intolerância gástrica, diarreia e desidratação, ou qualquer condição que cause alteração do quadro hemodinâmico do paciente. Controle glicêmico O estresse responde ao trauma, inclusive ao trauma craniano, gerando um estado hipercatabólico levando à rápida quebra de proteína muscular causando um estado de hiperglicemia. Em nível celular, a hiperglicemia possui efeito deletério na função dos macrófagos e neutrófilos, estando relacionado diretamente com a lesão axonal difusa. O controle glicêmico com insulina reduz o número de mortes por falência de múltiplos órgãos com sepse, mesmo com história de presença de diabetes ou hiperglicemia. Em pacientes com TCE, a hiperglicemia está associada com aumento da PIC, levando a um aumento no tempo de internação, piora das lesões neurológicas secundárias ao trauma e reduzindo a sobrevida. Aproximadamente 50% dos pacientes que desenvolvem hiperglicemia > 200 mg/dL nas primeiras 24h após o TCE apresentam aumento significativo na mortalidade e na piora das complicações neurológicas após um ano do trauma. Estudo recente mostra que após a introdução de um protocolo de controle glicêmico com a manutenção da glicose dentro de parâmetros normais (entre 140 e 180 mg/dL) em pacientes traumatizados, ocorre uma redução de 30% na mortalidade dos pacientes. Existem fortes evidências sobre o efeito negativo da hiperglicemia em pacientes vítimas de traumas; entretanto não se sabem no TCE, os valores adequados de glicemia que não possuam efeitos deletérios ao sistema nervoso. EXAMES DE IMAGEM Tomografia Computadorizada (TC): De urgência, deve ser feita após normalização hemodinâmica. Deve ser repetida se alterações neurológicas e, de forma PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 rotineira, 12 e 24 horas após o trauma nos casos de contusão ou hematoma à TC inicial. Pode demonstrar fraturas de crânio, inchaço do couro cabeludo, hematomas na região do impacto, desvio de linha média e septo pelúcido, etc. Radiografia de Crânio: Geralmente não é necessária, exceto em traumas penetrantes e em casos de suspeita de lesão em osso temporal. Ressonância Magnética: Não é usada por motivos óvios. É caro, demorado e nem todos os hospitais possuem esse recurso disponível. PROGNÓSTICO TCE grave fechado. 30- 36%: Mortalidade; 5%: Estado vegetative; 15%: Disfunção severa; 15 – 25%: Disfunção moderada; 25%: Evolução satisfatória.
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