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Laísa Dinelli Schiaveto Tuberculose DEFINIÇÃO A Tuberculose (TB) é uma doença causada pelas bactérias Micobacterium tuberculosis, que pode ocorrer em diversos sítios do organismo, sendo que os mais comum, na infância, são a tuberculose pulmonar, seguida pela ganglionar e pela meníngea. Compreende uma doença subnotificada e subdiagnosticada devido as dificuldades na realização do diagnóstico. Suspeita-se de tuberculose em casos de criança comunicante (que convive com um doente portador de tuberculose) ou em casos de contato prévio com doente com tuberculose. OBS.: Em geral, crianças com tuberculose não são capazes de infectar outras pessoas. EPIDEMIOLOGIA A OMS considera 48 países como prioritários em relação à tuberculose, os quais contêm 84% dos casos mundiais. Esses são divididos em três listas de prioridade: carga bacilar, coinfecção TB-HIV e multirresistência. Assim, o Brasil participa em 20º lugar (carga bacilar) e em 19º lugar (coinfecção TB-HIV). Além disso, em 2019, o Brasil notificou 76.417 novos casos com 3.180 mortes, representando a 4ª causa de mortes por doenças infecciosas e a 1ª causa dentre as doenças infecciosas em pessoas com HIV/AIDS. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Em geral, os sinais e sintomas nas crianças são inespecíficos e se confundem com infecções próprias da infância, dificultando, assim, a suspeita diagnóstica. Frequentemente, crianças entre 5 e 10 anos apresentam quadros assintomáticos ou com pouco sintomas, enquanto as crianças de faixa etária menos apresentam sobretudo sintomas respiratórios. Já, nos adolescentes, a apresentação clínica é similar à da tuberculose no adulto. Ainda, normalmente, a presença dos sinais e/ou sintomas é baixa, mas quando estão presentes, ocorrem de forma persistente e não remitente. SINAIS E SINTOMAS: • Febre (acima de 38ºC) persistente por mais de 15 dias, que ocorrer principalmente no final da tarde (vespertina); • Tosse persistente/crônica e com piora progressiva (> 21 dias); • Perda de peso; • Anorexia; • Redução do apetite; • Inapetência; • Sudorese noturna; • Irritabilidade; • Adinamia; • Parada de desenvolvimento; • Hepatoesplenomegalia; • Linfonodomegalia; • Hemoptise (raro); • Sinais autolimitados de hiper-reatividade do sistema imunológico, como conjuntivite flictenular e eritema nodoso. OBS.: É obrigatório considerar a possibilidade diagnóstica de tuberculose em uma criança com pneumonia (com ou sem sibilância) que não melhora com o tratamento habitual, como antibioticoterapia e broncodilatadores, devendo, portanto, proceder com investigação adequada. DIAGNÓSTICO Não existe um método de fácil aplicação e acurado para o diagnóstico de tuberculose na infância, principalmente pelo fato de as crianças não saberem expectorar e por apresentarem uma baixa quantidade de bacilos no escarro (abacilífera ou paucibacilar). Assim, há uma grande dificuldade na comprovação com os métodos bacteriológicos. Nesse sentido, na maioria das vezes, o diagnóstico é baseado em uma combinação de critérios clínicos e epidemiológicos, associados à prova tuberculínica e à radiografia de tórax. Laísa Dinelli Schiaveto Portanto, não existe padrão-ouro para esse diagnóstico. 1. HISTÓRIA DE CONTATO (CRITÉRIO EPIDEMIOLÓGICO) Como mais de 90% dos casos de tuberculose na criança ocorrem dentro dos primeiros anos após a primo-infecção, é obrigatório a procura do caso-índice que infectou a criança. Além disso, da mesma forma, toda vez que se descobre um adulto com tuberculose, deve-se investigar, dentre os contatos, a presença de crianças doentes e/ou infectadas. 2. EXAMES COMPLEMENTARES • PROVA TUBERCULÍNICA: É um teste in vivo, no qual se mede a enduração formada na pele por uma intradermorreação, em resposta à injeção de uma tuberculínica, como o PPD-Rt23 (derivado proteico purificado – renset tuberculin 23). Esse teste é valido para o diagnóstico de tuberculose quando associado a outros critérios diagnósticos. Em relação à dificuldade de interpretação, essa se deve à possibilidade de ocorrerem falsos- negativos e falsos-positivos. - Falsos-negativos: podem ocorrer por erros na técnica de aplicação, má qualidade do PPD-Rt23 e fatores referentes à imunidade do indivíduo, como imunossupressão, quadros virais, febre e aplicação prévia de vacinas de vírus atenuados. - Falsos-positivos: podem ocorrer à reação cruzada com outras micobactérias, como M/ bovis (vacina BCG) ou micobactérias não tuberculosas (MNTB). De acordo com o Ministério da Saúde, ao valores adotados como reatores para prova tuberculínica são: • RAIO-X DE TÓRAX: Pode mostrar alterações estruturais antes do aparecimento dos sintomas clínicos, apesar da sua normalidade não excluir o diagnóstico, sobretudo em crianças imunossuprimidas. Além disso, é útil no seguimento terapêutico e na avaliação de complicações. O achado mais típico é a condensação pulmonar e o linfonodomegalia hilar, podendo apresentar os achados de lesões nos terços superiores, escavações (pneumonias) e derrame pleural. Em relação à tuberculose miliar, o achado característico é o infiltrado intersticial reticular ou micronodular difuso. Portanto, é de suma importância a dissociação clínico-radiológica. • TOMOGRAFIA DE TÓRAX: Apesar de ser mais sensível, deve ser utilizada para diagnósticos diferenciais ou casos complicados. Assim, não existe nenhuma indicação para a utilização como exame rotina. • MICROBIOLOGIA (BACILOSCOPIA E CULTURA): Apesar da baixa positividade, devem ser realizados sempre que disponível. Ressalta-se que a probabilidade de se alcançar uma confirmação biológica depende da extensão da doença, do tipo de espécime coletado e da idade do paciente. Nesse sentido, o diagnóstico bacteriológico geralmente é feito a partir dos 10 anos de idade ou mais. ESCORE PARA DIAGNÓSTICO De acordo com o Ministério da Saúde, há um sistema de pontos para o diagnóstico de Laísa Dinelli Schiaveto tuberculose pulmonar em crianças e adolescentes negativos à baciloscopia, que segue os seguintes pontos: 1. QUADRO CLÍNICO-RADIOLÓGICO: • Febre ou sintomas como tosse, adinamia, expectoração, emagrecimento e sudorese > 2 semanas = + 15 pontos. • Assintomático ou com sintomas < 2 semanas = 0 pontos. • Infecção respiratória com melhora após uso de antibióticos para germes comuns ou sem antibióticos = - 10 pontos. • Adenomegalia hilar ou padrão miliar OU condensação ou infiltrado (com ou sem escavação) inalterado > 2 semanas OU condensação ou infiltrado (com ou sem escavação) inalterado > 2 semanas evoluindo com piora ou sem melhora com antibióticos para germes comuns = + 15 pontos. • Condensação ou infiltrado de qualquer tipo < 2 semanas = + 5 pontos. • Radiografia normal = - 5 pontos. 2. CONTATO COM ADULTO COM TUBERCULOSE: • Próximo (nos últimos 2 anos) = + 10 pontos. • Ocasional ou negativo = 0 pontos. 3. TESTE TUBERCULÍNICO: • > 10 mm em vacinados com BCG ou vacinados < 2 anos OU > 5 mm em vacinados > 2 anos ou não vacinados com BCG = + 15 pontos. • < 5 mm = 0 pontos. 4. ESTADO NUTRICIONAL: • Desnutrido grave = + 5 pontos. • Eutrófico ou desnutrido não grave = 0 pontos. TRATAMENTO ESQUEMA I: indicado nos casos novos de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar, incluindo infectados pelo HIV. - 1ª fase: rifampicina, isoniazida e pirazinamida durante 2 meses. - 2ª fase: rifampicina e isoniazida durante 4 meses. ESQUEMA I REFORÇADO: indicado nos casos de recidiva após cura ou retorno após abandono do esquema I. - 1ª fase: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol durante 2 meses. - 2ª fase: rifampicina, isoniazida e etambutol durante 4 meses. ESQUEMA II: indicado para a forma meningoencefálica da tuberculose. - 1ª fase: rifampicina, isoniazida e pirazinamida durante 2 meses.- 2ª fase: rifampicina e isoniazida durante 7 meses. - Corticoide (prednisona 1-2 mg/kg/dia) durante 1-4 meses. ESQUEMA III: indicado nos casos de falência de tratamento com esquema I e esquema I reforçado. - 1ª fase: estreptomicina, pirazinamida, etambutol e etionamida durante 3 meses. - 2ª fase: etambutol e etionamida durante 9 meses. FALHA TERAPÊUTICA Em casos de falha terapêutica, deve-se considerar: - Má-adesão ou tratamento incompleto; - Percepção tardia dos pacientes ou retardo do diagnóstico no sistema de saúde; - Diagnóstico incorreto; - Mortalidade precoce; - Mal absorção das drogas em infectados pelo HIV ou em desnutridos graves. PREVENÇÃO A prevenção da tuberculose pode ser feita de duas formas: profilaxia primária e profilaxia secundária. Profilaxia Primária É feita antes do recém-nascido se infectar para evitar a infecção. Laísa Dinelli Schiaveto 1. VACINA BCG Compreende uma vacina de bactéria viva atenuada (Bacillus Calmette-Guérin), que protege, prioritariamente, contra as formas mais graves da doença. Deve ser realizada dentro do 1º mês de vida, de forma intradérmica, no braço direito, em dose única. Caso não ocorra a reação vacinal com formação da cicatriz até o 6º mês após a sua aplicação, a dose deve ser repetida para afastar a possibilidade de erro na técnica. É indicada em crianças até 5 anos de idade e contraindicada em imunossuprimidos ou recém-nascido com menos de 2.000g. 2. CONTROLE DE CASOS Profilaxia Secundária É feita quando a criança já está infectada para evitar o adoecimento. 1. CONTROLE DE CASOS TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR • Presente em 25% do total de casos; • Localizações mais frequentes incluem: gânglios periféricos, pleura, ossos e meninges. • A forma osteoarticular mais encontrada se situa na coluna vertebra (Mal de Pott). • A positividade bacteriológica é ainda mais baixa do que a forma pulmonar.
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