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Livro-Texto - Ética e Intervenção Profissional em Educação Física I

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Autores: Profa. Tatyane Perna Dias
 Prof. Mário André Sigoli
Colaboradoras: Profa. Vanessa Santhiago
 Profa. Christiane Mazur Doi
Ética e Intervenção 
Profissional em 
Educação Física
Professores conteudistas: Tatyane Perna Dias / Mário André Sigoli
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D541e Dias, Tatyane Perna.
Ética e Intervenção Profissional em Educação Física / Tatyane 
Perna Dias, Mário André Sigoli. – São Paulo: Editora Sol, 2022.
92 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Ética. 2. Resolução. 3. Profissional. I. Título.
CDU 372.879.6
U515.02 – 22
Tatyane Perna Dias
Graduada no curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) em 2010. 
Mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Entre 2011 e 2015, atuou na educação 
básica estadual e nos cursos superiores de Educação Física, Ciências Biológicas e Pedagogia. Atualmente, é docente do 
ensino superior, desde agosto de 2017, e coordenadora do curso de Educação Física, campus Alphaville, na Universidade 
Paulista (UNIP).
Mário André Sigoli
Graduado no curso de Bacharelado em Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo 
(EEFE-USP) em 2000. Mestre em Pedagogia do Movimento Humano pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade 
de São Paulo (EEFE-USP). Atuou profissionalmente na área esportiva da natação, sendo técnico de atletas federados no São 
Paulo Futebol Clube (1999 a 2002) e depois como técnico das categorias de base da natação da Fundesport Araraquara, 
entre 2013 e 2015. Atualmente, é docente do ensino superior, desde fevereiro de 2004, e coordenador do Curso de 
Educação Física, do campus Araraquara, na Universidade Paulista (UNIP). Desenvolve trabalho e pesquisa com a população 
idosa e com necessidades especiais, com ênfase em emagrecimento e doenças hipocinéticas, por meio da metodologia 
do treinamento cruzado (cross training). Também atua como consultor da Comissão de Qualificação e Avaliação (CQA) da 
UNIP, sendo colaborador na publicação de tomos de apoio ao estudo preparatório para o Exame Nacional de Desempenho 
do Estudante (Enade) e publicações para os cursos de Ensino a Distância (EaD).
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Profa. Sandra Miessa
Reitora em Exercício
Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini
Vice-Reitora de Administração
Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia
Vice-Reitor de Extensão
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades do Interior
Unip Interativa
Profa. Elisabete Brihy
Prof. Marcelo Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático
 Comissão editorial: 
 Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
 Profa. Dra. Angélica L. Carlini
 Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista
 Profa. Deise Alcantara Carreiro
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Vitor Andrade
 Jaci Albuquerque
 Bruna Baldez
Sumário
Ética e Intervenção Profissional em Educação Física
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 FUNDAMENTOS DA ÉTICA ...............................................................................................................................9
1.1 Aspectos históricos e filosóficos relacionados à ética .......................................................... 10
1.2 Conceitos contemporâneos de ética e moral ........................................................................... 22
1.3 Ética e liberdade .................................................................................................................................... 24
2 FUNDAMENTOS DA BIOÉTICA..................................................................................................................... 26
2.1 Os princípios da bioética ................................................................................................................... 29
2.1.1 Princípio do consentimento ou autonomia ................................................................................. 29
2.1.2 Princípio da beneficência .................................................................................................................... 29
2.1.3 Princípio da não maleficência ........................................................................................................... 30
2.1.4 Princípio da justiça ................................................................................................................................. 30
2.2 Bioética aplicada ao exercício profissional da educação física ......................................... 31
2.3 A ética da pesquisa na história ....................................................................................................... 32
2.4 Ética na pesquisa em educação física .......................................................................................... 35
2.5 Os comitês de ética.............................................................................................................................. 36
3 DEONTOLOGIA E CÓDIGO DE ÉTICA ......................................................................................................... 37
4 RESOLUÇÕES E DIRETRIZES DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA ........................ 39
4.1 Regulamentação da profissão e criação dos conselhos de educação física 
(Confef/Cref) .................................................................................................................................................. 39
4.2 Conselhos Federal e Regionais e suas atribuições .................................................................. 43
4.3 Regimento Interno Confef ............................................................................................................... 47
Unidade II
5 CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ................................................... 55
6 ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM EQUIPES 
MULTIDISCIPLINARES – LIMITES ÉTICOS DO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO ..................................... 60
6.1 Casos de atuação multidisciplinar relacionados ao profissional 
de educação física ....................................................................................................................................... 62
6.1.1 O profissional de educação física nas equipes do Nasf .......................................................... 62
6.1.2 A atuação do profissional de educação física na área de ginástica laboral e 
os possíveis conflitos com os profissionais de fisioterapia ............................................................... 63
6.1.3 A prescrição de suplementos alimentares por profissionais de educação física .......... 63
7 CASOS ESPECÍFICOS EM ÉTICA PROFISSIONAL ................................................................................... 64
7.1 Relações de trabalho: concorrência e divulgação .................................................................. 65
7.2 Academias de musculação: corpo, estética e desempenho ................................................ 69
7.2.1 A conduta profissional e os relacionamentossocioafetivos nas 
academias de musculação ............................................................................................................................. 73
7.3 Escolas: compromisso profissional e banalização das aulas ............................................... 74
8 EQUIPES ESPORTIVAS: REGRAS, RESPEITO E VIOLÊNCIA ................................................................ 76
8.1 A regulamentação do esporte, o fair play e a ética do gentleman ................................. 76
8.2 O movimento mundial do fair play no esporte ....................................................................... 77
8.3 A intervenção do profissional de educação física e os valores do fair play ................. 79
7
APRESENTAÇÃO
Esta disciplina tem a finalidade de apresentar discussões de temas atuais da profissão, abrangendo 
os valores éticos e morais que permeiam o exercício do profissional em educação física.
Os objetivos desta disciplina são:
• desenvolver sólida reflexão acerca da atuação profissional;
• discutir os comportamentos esperados no exercício da profissão;
• compreender a importância das questões éticas na sociedade contemporânea;
• analisar, sob o ponto de vista ético, temas ligados direta ou indiretamente à escolha profissional;
• conhecer e discutir o código de ética dos profissionais de educação física;
• debater a ética profissional do professor de educação física a partir da análise de alguns casos 
representativos.
Inicialmente, serão abordados temas introdutórios e conceituais sobre as bases filosóficas e históricas 
relacionadas à construção do conceito de ética atual, além de princípios que envolvem a bioética. Os 
princípios de deontologia serão estudados, sendo requisito para o entendimento da construção dos 
códigos de ética e, mais especificamente, dos profissionais de educação física.
Assim, ao final desta disciplina, você será capaz de pautar sua própria atuação profissional nos 
direitos e deveres da categoria; comprometer-se com o exercício ético da profissão nas mais diversas 
áreas que a compõe; basear-se no código de ética para uma atuação comprometida com o benefício da 
sociedade e identificar conflitos de interesses presentes na prática profissional.
8
INTRODUÇÃO
Caro aluno,
Atualmente, o mercado de trabalho exige profissionais com ótima formação técnica, ou seja, com 
conhecimentos sólidos sobre sua área de atuação e também com uma boa formação moral e ética.
Os conhecimentos técnicos são facilmente observados a cada disciplina cursada; ensinam-se e 
aprendem-se o futebol, o basquete, as ginásticas e muitas outras áreas pertinentes à educação física. 
Mas onde está, então, essa formação moral e ética?
Este livro-texto apresentará desde conceitos e bases históricas e filosóficas até situações específicas 
da atuação profissional que exigem um olhar ético. Você poderá perceber como as normas morais e os 
conceitos éticos modificam-se a partir do contexto histórico, político, social e cultural.
Nesta disciplina, serão acentuados os conceitos relacionados à formação ética e moral do profissional 
de educação física, proporcionando momentos de reflexão sobre a atuação profissional e temas atuais 
relacionados a ela.
9
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Unidade I
1 FUNDAMENTOS DA ÉTICA
Os estudos sobre ética são resultantes da filosofia. As discussões e definições sobre o tema remontam 
à Antiguidade, especificamente a Grécia, sendo os filósofos gregos os primeiros a pensar o conceito de 
ética e sua aplicação na sociedade.
Podemos dizer que o estudo da ética é aliado ao estudo da vida em sociedade, existem normas e 
regras para o bom convívio entre todos. Aprendemos desde pequenos que devemos respeitar os mais 
velhos, ser trabalhador, não roubar, ser honesto, entre outros atributos.
Valls (2013) aponta que a ética é normalmente entendida como uma reflexão filosófica sobre as 
ações humanas, podendo ser o estudo das ações ou dos costumes, ou ainda a própria realização de um 
tipo de comportamento.
Assim, nossos comportamentos são julgados de acordo com o que é socialmente aceito em diversos 
aspectos, com o que é chamado de ético e não ético, ou ainda moral ou imoral. Para Marcondes (2007, 
p. 9) a ética é tida como um dos temas mais importantes dentro da filosofia, abordando, em seu sentido 
amplo, a “[...] determinação do que é certo ou errado, bom ou mau, permitido ou proibido, de acordo 
com um conjunto de normas ou valores adotados historicamente por uma sociedade”.
 Observação
“Os valores éticos de uma comunidade variam de acordo com o ponto 
de vista histórico e dependem de circunstâncias determinadas. O que é 
considerado ético em um contexto pode não ser considerado da mesma 
forma em outro” (MARCONDES, 2007, p. 10).
Antunes (2013) propõe uma reflexão sobre o conceito de viver em uma sociedade; imagine que 
você é transportado sozinho para outro planeta, onde não há vida humana, para realizar um trabalho 
de coleta de informações. Após um período você é informado de que não poderá mais retornar à Terra 
e passará o restante da sua vida isolado, sem nenhum contato com outros seres humanos, e que o 
alimento disponível é suficiente para que você viva por mais algumas décadas.
Apesar de ser um exemplo bastante extremo, Antunes (2013, p. 3) indaga, “como seria viver sem 
o contato com outras pessoas? O que mudaria na sua forma de pensar e viver?”. Essas perguntas nos 
levam a outras reflexões: “como a vida em conjunto com outras pessoas influencia a nossa forma de ver 
o mundo e os dilemas que enfrentamos no dia a dia?”.
10
Unidade I
Os valores éticos e morais são aprendidos a partir do convívio em sociedade, assim como o ser 
humano não nasce humano, mas aprende a ser a partir das relações com as outras pessoas e com o 
mundo (SAVIANI, 2003).
Podemos refletir sobre a questão ética de se viver em sociedade, por exemplo: como é designado o 
que é ou não correto? Por quem são ditadas as regras e normas sociais? Viver seguindo normas nos tira 
a liberdade?
Claro que esses questionamentos e conclusões são bastante simplistas e de senso comum, porém 
mostram-se como um elemento norteador do que será estudado neste tópico.
 Saiba mais
O filme A caixa narra a história de um casal que enfrenta um dilema 
moral quando recebe uma caixa com um botão e a instrução: ao apertar o 
botão, o casal receberá 1 milhão de dólares, entretanto, um desconhecido 
morrerá em algum lugar.
A CAIXA. Direção: Richard Kelly. EUA: Warner Bros., 2009. 115 min.
1.1 Aspectos históricos e filosóficos relacionados à ética
A ética está pautada nos conhecimentos filosóficos, buscando fundamentar as normas de conduta 
da sociedade, comumente designada como código de ética ou moral. Dessa forma, é possível afirmar 
que a ética auxilia na definição dos valores e costumes relacionados ao convívio humano, bem como em 
sua aceitação pela sociedade, ou seja, estamos falando dos julgamentos morais.
De acordo com Figueiredo (2008), foi entre 500 a 300 a.C. que surgiram ideias e definições sobre o 
que seria ética, que fundamentam até hoje os conceitos nesse campo de estudo.
A reflexão sobre o tema iniciou-se com Sócrates, filósofo ateniense do período clássico que viveu 
entre 470 e 399 a.C., porém só foi sistematizada anos depois em obras de Platão (427-347 a.C.) e 
Aristóteles (384-322 a.C.).
11
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 1 – Sócrates
Disponível em: https://bit.ly/3KeJVRf. Acesso em: 25 abr. 2022.
Figura 2 – Platão
Disponível em: https://bit.ly/3vnyCCd. Acesso em: 25 abr. 2022.
12
Unidade I
Figura 3 – Aristóteles
Disponível em: https://bit.ly/3KaOGuZ. Acesso em: 25 abr. 2022.
É importante registrar que as práticas e costumes do mundo antigo são, em diversos elementos, 
muito diferentes daquilo que se encontra atualmente. Assim, evidencia-se que a religião (politeísta 
para os gregos) era fundamental, havia um predomínio da tradição e o desprezo pelos ofícios técnicos e 
profissõesmercantis (COMPARATO, 2006).
Platão deixa registrado em seus diálogos discussões à volta de conceitos éticos, sendo possível 
observar em seus primeiros registros uma forte influência de Sócrates, seu mentor. Platão parte do 
princípio de que todos os homens buscavam a felicidade, sendo que ético é aquele que tem capacidade 
de autocontrole, “governar a si mesmo”; aponta também que a possibilidade de agir eticamente depende 
do conhecimento do Bem (MARCONDES, 2007; VALLS, 2013).
No diálogo “Górgias”, Platão indica que Sócrates mostra que “[...] o indivíduo que comete injustiças e 
causa danos a outro será visto como injusto e perverso [...] não se pode ser feliz fazendo o Mal, por isso 
é preferível sofrer uma injustiça a praticá-la” (MARCONDES, 2007, p. 21).
 Observação
Diálogos é o nome da obra escrita por Platão, em que cada diálogo 
possui o nome de seu interlocutor. Na maioria de seus textos, Sócrates é o 
personagem principal.
A obra platônica é dividida em períodos: no intermediário, Platão desenvolve a teoria das ideias ou 
das formas, momento em que é escrito um dos diálogos mais conhecidos e mais extensos do filósofo, 
A República, que se tornou um livro. Marcondes (2007, p. 29) afirma que esse diálogo inclui praticamente 
13
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
todos os temas da filosofia de Platão, “[...] a natureza da realidade, as formas como verdadeira realidade, 
o problema do conhecimento e o Bem [...] como fonte suprema e fundamento da ética e da justiça [...]”.
Um dos textos do diálogo mencionado anteriormente, “O Anel de Giges”, expõe a tese de que os 
homens somente agem com justiça por temerem o castigo caso ajam de forma contrária. “Deem a um 
indivíduo o poder de fazer o que quiser e ele não hesitará em agir de forma injusta e de acordo com seu 
interesse particular” (MARCONDES, 2007, p. 29).
Exemplo de aplicação
Leia o texto a seguir e reflita: se não houvesse nenhum tipo de punição, você faria tudo que 
tem vontade?
O Anel de Giges
Giges era um pastor a serviço do rei de Lídia. Houve uma grande tempestade e um terremoto fez 
uma abertura na terra no lugar onde ele estava alimentando seu rebanho. Espantado com a visão, 
desceu até a abertura, onde, entre outras maravilhas, viu um cavalo oco de bronze, com portas. Giges 
então se agachou e viu o corpo de um homem com apenas um anel de ouro no dedo. Ele pegou o anel 
e voltou para a superfície. 
Com esse anel no dedo, foi assistir à assembleia habitual dos pastores, que se realizava todos os 
meses, para informar ao rei o estado dos seus rebanhos. Tendo ocupado o seu lugar no meio dos outros, 
virou sem querer o engaste do anel para o interior da mão; imediatamente se tornou invisível aos 
seus vizinhos, que falaram dele como se não se encontrasse ali. Assustado, apalpou novamente o anel, 
virou o engaste para fora e tornou-se visível. Logo em seguida repetiu a experiência, para ver se o anel 
tinha realmente esse poder; reproduziu-se o mesmo prodígio: virando o engaste para dentro, tornava-se 
invisível; para fora, visível. Assim que teve certeza, conseguiu juntar-se aos mensageiros que iriam 
conversar com o rei. Chegando ao palácio, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o 
e obteve assim o poder. 
Agora suponha que existem dois anéis desta natureza e o justo recebesse um e o injusto outro. 
É provável que nenhum fosse de caráter tão firme para perseverar na justiça e para ter a coragem de não 
se apoderar dos bens de outra pessoa. Afinal, ele poderia tirar sem receio o que quisesse dos mercados 
e lojas, introduzir-se nas casas para se unir a quem lhe agradasse, matar uns, libertar outros da prisão e 
fazer o que quisesse, tornando-se igual a um deus entre os homens. Agindo assim, nada o diferenciaria 
do mau: ambos tenderiam para o mesmo fim. Isso é uma grande prova de que ninguém é justo por 
vontade própria, mas por obrigação, não sendo a justiça um bem individual, visto que aquele que se julga 
capaz de cometer a injustiça comete-a. De fato, todo homem pensa que a injustiça é individualmente 
mais proveitosa que a justiça, e pensa isto com razão, segundo os partidários desta doutrina. Pois, se 
alguém recebesse a permissão de que falei e jamais quisesse cometer a injustiça nem tocar nos bens 
de outra pessoa, pareceria o mais infeliz dos homens e o mais idiota àqueles que soubessem da sua 
conduta; em presença uns dos outros, iriam elogiá-lo, mas para se enganarem mutuamente e por causa 
do medo de se tomarem vítimas da injustiça. Eis o que eu tinha a dizer sobre este assunto (PLATÃO apud 
GONÇALVES, 2021, p. 13-14).
14
Unidade I
Outro texto muito conhecido do livro (diálogo) A República intitula-se “A Alegoria da Caverna”. 
Nele Platão convida o leitor a imaginar uma caverna onde os homens vivem como prisioneiros 
desde seu nascimento, ou seja, nunca viram nenhum outro lugar ou coisa. Nessa caverna existe 
uma fogueira na entrada que permite que as sombras de tudo que está do lado de fora sejam 
reproduzidas na parede da caverna, sendo a única realidade que os homens que lá estão conhecem. 
Um dos prisioneiros consegue escapar e, após acostumar-se com a claridade do sol, consegue 
observar tudo que há fora da caverna. O filósofo propõe que pensemos o que poderia acontecer 
caso esse prisioneiro que escapou voltasse à caverna para contar aos demais o que havia visto, 
concluindo que seria mais provável que seus companheiros o julgassem louco e o matassem do 
que abandonassem a única realidade que conheciam.
Figura 4 – Imagem representando “A Alegoria da Caverna”
Disponível em: https://bit.ly/3EJzbJx. Acesso em: 25 abr. 2022.
Ao analisar esse diálogo, é possível notar que uma pessoa só poderá tornar-se justa e com virtudes 
a partir de um processo de transformação pelo qual deve passar, afastando-se das aparências e do 
preconceito para adquirir conhecimento, sendo considerado sábio aquele que consegue atingir essa 
percepção. Platão acreditava que “[...] conhecer o Bem significa tornar-se virtuoso. Aquele que conhece 
a justiça não pode deixar de agir de modo justo” (MARCONDES, 2007, p. 31).
Aranha e Martins (2003) complementam a discussão sobre “A Alegoria da Caverna” considerando, a 
partir dos diálogos de Platão, que a virtude pode ser aprendida, já que esta se relaciona com a sabedoria, 
e o vício com a ignorância; e complementam: “o sábio é o único capaz de se soltar das amarras que 
o obrigam a ver apenas sombras e, dirigindo-se para fora, contempla o sol, que representa a ideia do 
Bem” (p. 353, grifo do autor).
As discussões de Aristóteles sobre ética rumam para uma pesquisa sobre os bens concretos para o 
homem, em contraponto ao Sumo Bem proposto por Platão, assim, considera-se que a ética aristotélica 
é marcada pelo que deve ser alcançado com o objetivo de atingir a felicidade (VALLS, 2013).
15
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Mas em que consiste o bem ou a felicidade para o homem? Qual o maior 
dos bens? Ora, Aristóteles não isola muito um bem supremo, pois ele sabe 
que o homem, como um ser complexo, não precisa apenas do melhor dos 
bens, mas sim de vários bens, de tipos diferentes, tais como amizade, saúde 
e até alguma riqueza. Sem um certo conjunto de tais bens, não há felicidade 
humana. Mas claro que há uma certa escala de bens, pois os bens são 
de várias classes, e uns melhores do que outros. Quais os melhores bens? 
As virtudes, a força, o poder, a riqueza, a beleza, a saúde ou os prazeres 
sensíveis? A resposta de Aristóteles parte do fato de que o homem tem o 
seu no viver, no sentir e na razão (VALLS, 2013, p. 29-30, grifo do autor).
Para Aristóteles, a ética é um saber prático, cuja intenção é estabelecer as condições necessárias 
para que seja possível agir da melhor forma possível, visando à felicidade ou à realização pessoal 
(MARCONDES, 2007).
Em seu tratado Ética a Nicômaco, Aristóteles apresenta discussões sobre a investigação ética, sendo a 
publicação reconhecida como uma obra-prima da filosofiamoral. É atribuído a Aristóteles o pioneirismo 
na formulação de princípios da ação humana sobre a diferença entre conhecimentos práticos e teóricos; 
sobre as relações entre a ética individual e a social. O filósofo define ética como a ciência dos costumes 
(FIGUEIREDO, 2008).
 Observação
O termo “felicidade” nas discussões de Aristóteles também pode ser 
encontrado como “eudaimonia”, que pode ser entendido como bem-estar 
ou felicidade.
Na concepção do filósofo, a felicidade é relativa à realização humana e ao sucesso, que só 
existirá caso aquilo que se pretende fazer seja bem-feito, assim, pode-se afirmar que a felicidade 
relaciona-se com a excelência humana, e é dependente de uma virtude, qualidade de caráter ou areté 
(MARCONDES, 2007).
Pode-se dizer que, na visão de Aristóteles, “[...] a ética serve para conduzir as ações humanas a 
respeito das boas ações (virtudes) ou das não éticas, às más (vícios)” (FIGUEIREDO, 2008, p. 2).
Para Aranha e Martins (2003), a concepção de que a virtude é resultante da reflexão, da sabedoria e 
do controle racional dos desejos e paixões, é uma constante no pensamento dos filósofos gregos.
A Idade Média (século V ao século XV) foi marcada por uma visão teocêntrica, o que fez com que os 
valores religiosos infiltrassem as discussões sobre ética, vinculando os critérios da moral à fé (ARANHA; 
MARTINS, 2003).
16
Unidade I
O monoteísmo delineou o sistema de valores dos povos que acataram a religião mais difundida 
na Idade Média, assim foi substituída a “[...] imanência mundana, própria dos deuses mitológicos, pela 
transcendência absoluta da divindade” (COMPARATO, 2006, p. 67).
 Observação
O monoteísmo defende a ideia de uma divindade criadora de todo o 
universo. Já o politeísmo é a crença em mais de uma divindade.
Valls (2013) acredita que a religião foi responsável por grande parte do progresso moral da 
humanidade, porém ressalta que o fanatismo religioso, por diversas vezes, contribuiu para obscurecer 
“[...] a mensagem ética profunda da liberdade, do amor, da fraternidade universal” (p. 37).
Santo Agostinho, nascido em Tagasta em 345, foi um dos grandes nomes da época, sendo considerado 
uma autoridade na teologia do cristianismo, além de o maior filósofo depois de Aristóteles. Abordou 
questões éticas em seus diálogos, apoiando-se na filosofia grega, especialmente em Platão, tratando-as 
com base nos conhecimentos do cristianismo (MARCONDES, 2007).
Figura 5 – Santo Agostinho
Disponível em: https://bit.ly/3rRo77J. Acesso em: 25 abr. 2022.
17
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Fica claro que no cristianismo os valores éticos e morais identificam-se com os valores religiosos; o 
homem deve viver para amar e servir a Deus, o ideal de vida é uma vida de acordo com as doutrinas e 
dogmas religiosos (VALLS, 2013).
Agostinho debate várias questões éticas em seus diálogos, como “o problema da natureza humana 
e do caráter inato da virtude, a origem do Mal, o conceito de felicidade, a liberdade e a possibilidade de 
agir de forma ética” (MARCONDES, 2007, p. 50).
O livre-arbítrio é tema central nas argumentações de Santo Agostinho. De acordo com o teólogo, é a 
característica humana responsável pelas escolhas e ações, permitindo que se haja de forma ética ou não. 
Entendia-se que o livre-arbítrio fora dado por Deus, não sendo possível questionar esse fato (DUSILEK, 
2013; MARCONDES, 2007).
 
Para Agostinho, sem livre-arbítrio não há amor. Isso porque o amor precisa 
ser precedido por uma vontade livre [...] o teólogo afirma que uma vez o 
livre-arbítrio seja direcionado ao amor, o homem experimentará conexão, 
presença. Para que haja uma ética do amor, há necessidade de uma livre 
vontade capaz de fazer opções e inclinar-se para a direção correta, para 
o perfeito amor, para Deus. Esse ato responsivo do homem a Deus é o 
esteio para a ética do amor. Deus deu ao homem o livre-arbítrio para 
que ele pudesse, por amor e em amor, corresponder com o seu Criador 
(DUSILEK, 2013, p. 87).
 Saiba mais
Para ampliar seus conhecimentos, leia:
DUSILEK, S. R. G. A ética do amor em Santo Agostinho: uma apreciação. 
Revista Filosófica São Boaventura, Curitiba, v. 6, n. 1, p. 85-100, jan./jun. 2013.
Ainda na Idade Média, outro filósofo se destacou por suas contribuições com os debates éticos, São 
Tomás de Aquino (1224-1274). Assim como Santo Agostinho, suas concepções éticas foram baseadas 
na filosofia grega, mais especificamente nas contribuições de Aristóteles, procurando mostrar que as 
ideias do filósofo grego eram compatíveis com o cristianismo (MARCONDES, 2007).
18
Unidade I
Figura 6 – São Tomás de Aquino
Disponível em: https://bit.ly/3Kk5m37. Acesso em: 25 abr. 2022.
Destaca-se que na Idade Média a moral e a ética eram transmitidas por meio de uma experiência 
religiosa, ou seja, seguir as doutrinas e os mandamentos era obedecer a Deus, e os preceitos éticos eram 
apresentados como leis divinas (ZAJDSZNAJDER, 1999). Comparato (2006) reitera essa ideia afirmando 
que não havia uma diversidade de códigos morais conforme a diversidade de povos, mas sim um código 
ético universal.
O Renascimento, momento de transição da Idade Média para a Idade Moderna, ficou marcado por 
grandes transformações no pensamento científico e filosófico.
O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) é considerado o grande pensador do iluminismo e dos ideais 
da burguesia da época. Kant idealiza a ética com o ideal da autonomia individual, “o homem racional, 
autônomo, autodeterminado, aquele que age segundo a razão e a liberdade, eis o critério da moralidade” 
(VALLS, 2013, p. 45).
19
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 7 – Immanuel Kant
Disponível em: https://bit.ly/3KcUbt1. Acesso em: 25 abr. 2022.
As obras de Kant procuraram formular conceitos sobre uma filosofia moral pura e com questões 
morais concretas e aplicação prática dos princípios éticos, sendo três obras principais: Fundamentação 
da metafísica dos costumes, de 1785; Crítica da razão prática e Metafísica dos costumes (1797-8) 
(MARCONDES, 2007).
 Observação
Renascimento e iluminismo ocorreram em dois momentos diferentes 
na história, ambos começando na Europa. O Renascimento está relacionado 
com um avanço da literatura, arquitetura e do humanismo; já o iluminismo 
associa-se ao método científico e à racionalidade.
Kant parte do princípio de que ação moral é somente aquela que pode ser universalizada; esse 
princípio foi chamado de “imperativo categórico”, sendo considerado um dos fundamentos do 
racionalismo ético kantiano. Para ele, o agir de maneira moral e ética fundamenta-se apenas na razão, 
ou seja, rejeita as concepções que até então eram predominantes, da filosofia grega e da cristã, não 
aceitando que a ação moral deve se orientar a partir da felicidade, por exemplo (ARANHA; MARTINS, 
2003; MARCONDES, 2007).
20
Unidade I
Exemplificando, suponhamos a norma moral “não roubar”:
 
- para a concepção cristã, o fundamento da norma se encontra no 
sétimo mandamento de Deus;
- para os teóricos jusnaturalistas (como Rousseau), ela se funda no 
direito natural, comum a todos os seres humanos;
- para os empiristas (como Locke, Condillac), a norma deriva do interesse 
próprio, pois o sujeito que a desobedece será submetido ao desprazer, 
à censura pública ou à prisão;
- para Kant, a norma se enraíza na própria natureza da razão; ao aceitar 
o roubo e consequentemente o enriquecimento ilícito, elevando 
a máxima (pessoal) ao nível universal, haverá uma contradição: se 
todos podem roubar, não há como manter posse do que foi furtado 
(ARANHA; MARTINS, 2003, p. 354).
Já no século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) propõe um rompimento com a 
moral cristã e com a tradição grega, até então prevalecentes no campo da ética. O pensador defendia 
que a ética não se fundamenta na razão e que a moral cristã se caracteriza por uma moral de rebanho, 
em que as pessoas se deixam levar pela maioria e submissos à religião (MARCONDES, 2007).Nietzsche orienta seu pensamento na direção de recuperar questões relacionadas ao inconsciente 
e a questões instintivas, que foram subjugadas pela razão por tanto tempo. Assim, realizando uma 
análise história de moral e ética, denuncia uma incompatibilidade entre elas e a vida, pois, “[...] sob o 
domínio da moral, o ser humano se enfraquece, tornando-se doentio e culpado” (ARANHA; MARTINS, 
2003, p. 355).
Em sua obra Além do bem e do mal, de 1886, Nietzsche indaga a dicotomia bem/mal e 
verdadeiro/falso, e nessa dicotomia baseava-se a tradição do conhecimento. Para ele, esses conceitos 
até então tratados como objetivos e oriundos da razão universal são, na verdade, fruto dos sentimentos 
humanos, resultantes da cultura, da história e da educação (MARCONDES, 2007).
Um ano depois, publicou sua obra Genealogia da moral, continuando sua crítica à ideia de que os 
valores morais são universais e objetivos, defendendo que esses valores possuem origem em uma cultura 
e um momento histórico específicos (MARCONDES, 2007).
21
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 8 – Friedrich Nietzsche
Disponível em: https://bit.ly/3vbglrx. Acesso em: 25 abr. 2022.
Ainda no mesmo século, Sigmund Freud (1856-1939), pensador e criador da psicanálise, influenciou 
campos da ciência, filosofia, artes e religião. Com a formulação do conceito de inconsciente, críticas 
foram realizadas aos pressupostos filosóficos do racionalismo da época (MARCONDES, 2007).
Quando a hipótese do inconsciente é levantada, “[...] Freud descobre o mundo oculto da vida das 
pulsões, dos desejos, da energia primária da sexualidade e agressividade, que se encontram na raiz de 
todos os comportamentos humanos [...]” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 356).
Freud passa a questionar a fundamentação dos valores morais e éticos na razão, mostrando que as 
ações humanas não necessariamente são baseadas totalmente no controle racional; pelo contrário, de 
acordo com o pensador, a ação humana é determinada em grande parte pelos elementos inconscientes, 
como os instintos, desejos e traumas, dos quais não se tem consciência plena (MARCONDES, 2007).
Junqueira e Coelho Junior (2005, p. 107) ressaltam que Freud não se propôs a pensar novos conceitos 
para ética e moral, e sim “[...] desvendar a gênese da consciência moral e dos sentimentos éticos nos 
indivíduos e na sociedade”.
Michel Foucault (1926-1984), pensador francês do século XX, abordou a moral em sua obra póstuma 
O uso dos prazeres, segundo volume da coleção História da Sexualidade. O autor entende por moral o 
conjunto de regras ou valores que são propostos às pessoas e grupos através de instituições educativas 
(MARCONDES, 2007).
 
22
Unidade I
[...] por “moral” entende-se igualmente o comportamento real dos 
indivíduos em relação às regras e aos valores que lhes são propostos: 
designa-se, assim, a maneira pela qual eles se submetem mais ou menos 
completamente a um princípio de conduta; pela qual eles obedecem ou 
resistem a uma interdição ou a uma prescrição; pela qual eles respeitam 
ou negligenciam um conjunto de valores (FOUCAULT, 1998, p. 26).
1.2 Conceitos contemporâneos de ética e moral
Ética e moral são dois termos que ganharam espaços de conhecimento de senso comum e são 
utilizados em diversos sentidos nas mais variadas situações cotidianas. Dessa forma, serão apresentados 
alguns conceitos de ética e moral contemporâneos.
Aranha e Martins (2003, p. 301) definem ética, também chamada de filosofia moral, como “a parte da 
filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral”.
Valls (2013) acredita que hoje os problemas éticos estejam relacionados a três situações: à família, 
abordando questões da exigência ética do amor, dos compromissos, dos relacionamentos; à sociedade 
civil, englobando problemas referentes ao trabalho e à propriedade; e ao Estado, relacionado a uma 
ética política.
Para Marcondes (2007), a ética está relacionada com os valores que adotamos, os atos que praticamos e 
como tomamos nossas decisões. O autor salienta que estamos passando por uma crise ética, “[...] que 
vai desde a situação política do país, passando por questões de corrupção na sociedade e no governo, 
até problemas de relacionamento familiar” (MARCONDES, 2007, p. 9).
Corroborando com as definições apresentadas, Luiz (2018) acredita que a ética constitui-se como uma 
análise reflexiva da moral, analisando seus fundamentos, implicações e consequências nos elementos 
ambientais e socioculturais. Afirma ainda que justiça, tolerância, solidariedade, responsabilidade, 
democracia, liberdade e igualdade são alguns dos princípios éticos fundamentais para se viver em 
sociedade. O autor completa: “estes princípios devem existir tanto num plano individual quanto coletivo” 
(LUIZ, 2018, p. 244).
Cotrim (1998) define ética como sendo a parte da filosofia dedicada à reflexão sobre os fundamentos 
da vida moral. É possível notar que os conceitos de ética apresentados se apoiam em um denominador 
comum, a moral. Nesse instante, é preciso elucidar as aproximações e distanciamentos dos termos 
“ética” e “moral”.
Revisando a origem etimológica da palavra ética, nos deparamos com ethos, palavra grega 
que possui mesmo significado de “costume” (ARANHA, MARTINS, 2003). Porém, Figueiredo 
(2008) aponta que existem controvérsias em relação ao entendimento de ética justamente pela 
diversidade de significados que permeiam a palavra ethos. O autor aponta que esse termo pode ter 
compreensões diferentes a depender da grafia, êthos significando “morada” ou “caráter ou índole”, e 
éthos relacionando-se a “hábitos, costumes”.
23
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Comparato (2006) observa que já na etimologia de ética é possível observar duas vertentes dessa 
reflexão, a primeira subjetiva, centrada no indivíduo, a segunda objetiva, fundamentada na vida coletiva.
 Observação
Etimologia é o estudo do sentido original das palavras.
O termo ethos foi traduzido para o latim mos ou mores, que quer dizer costume, já que não existia 
uma palavra exata para sua tradução e que realmente representasse o sentido de ethos; assim derivou-se 
a palavra “moral”. Etimologicamente, os termos possuem conteúdos idênticos, por isso são muitas vezes 
utilizados como sinônimos (FIGUEIREDO, 2008).
Apesar disso, são estabelecidas algumas diferenças entre esses conceitos, sendo a ética a filosofia ou 
ciência da moral; e a moral é “um conjunto de regras de conduta admitidas em determinada época 
ou por um grupo de pessoas”, ou ainda como “o conjunto de regras que determinam o comportamento 
dos indivíduos em um grupo social” (ARANHA, MARTINS, 2003, p. 301).
Luiz (2018) faz uma comparação aos conceitos de moral defendidos pelos sociólogos e filósofos 
Émile Durkheim (1858-1917) e Karl Marx (1818-1883). Para Durkheim, a moral apresenta-se como 
um conjunto de valores, regras e normas que determinam as condutas dos indivíduos e que são 
construídas socialmente.
 
Já em uma visão marxista, a moral é resultante de um conjunto de relações 
de produção articuladas com a base material da sociedade, ou seja, o 
estágio de desenvolvimento das forças produtivas envolve as relações 
de produção contribuindo para o surgimento da moral, que compõe a 
superestrutura da sociedade (LUIZ, 2018, p. 241).
Ou seja, apesar de os dois estudiosos mencionados defenderem a participação da sociedade na 
construção do que se entende por moral, Durkhein apresenta um conceito de sociedade como o resultado 
das interações sociais, sem que quaisquer outras condições influenciem em sua formação. Por sua vez, 
Marx afirma que a sociedade possui uma estrutura classista, que constitui o capitalismo, destacando 
que é dessa forma que se deve avaliar os temas relacionados à sociedade.
Assim, para compreender a moral como algo constituído socialmente, é preciso entender seu 
funcionamento, visto que “as expressões da consciência humana – inclusive a moral – são o reflexodas 
relações que os seres humanos estabelecem na sociedade [...] e portanto mudam conforme se alteram 
os modos de produção” (ARANHA, MARTINS, 2003, p. 354).
Passos (1993, p. 58) também afirma que a moral, ou valores morais, como se refere, é dialética, o 
que quer dizer que acompanha as transformações sofridas pela sociedade. Alerta, ainda, para o quão 
complexa é a problemática moral, visto que lida “com regras de conduta elaboradas pela sociedade e 
impostas a indivíduos dotados de consciência de capacidade de decisão”.
24
Unidade I
 Observação
Dialética tem origem grega e é entendida como um método de busca 
de conhecimento baseado no diálogo.
Apoiando-se na visão marxista, compreendemos que continuamente haverá uma moral 
predominante, ou seja, a moral é aprendida; essa “moral” sempre, ou quase sempre, estará pautada 
em valores das classes dominantes, fornecendo os parâmetros socialmente aceitos como morais pela 
sociedade (LUIZ, 2018).
Observamos, contudo, que apesar de esses conceitos serem distintos, existe uma estreita articulação 
entre si, na medida em que a ética tem como objeto de estudo a própria moral, uma não existe sem a 
outra, sendo independentes entre si (PEDRO, 2014).
1.3 Ética e liberdade
No início deste tópico, ao abordar conceitos históricos e filosóficos da ética, nos deparamos 
com alguns questionamentos sobre a liberdade, ou o livre-arbítrio em Santo Agostinho e São 
Tomás de Aquino.
Para relacionar ética e liberdade, é imprescindível apresentar o que se entende por liberdade; assim, 
pensando em um sentido comum da palavra, pode-se dizer que livre é aquele que pensa e age por si 
mesmo, que não é obrigado a realizar o que não quer e que não seja escravo ou prisioneiro (ARANHA; 
MARTINS, 2003).
A liberdade pode ser pensada em diferentes campos, como a política, as leis, a economia, a 
sociedade, ou em qualquer espaço onde haja a relação de indivíduos, neste caso, é claro que uma ideia 
de liberdade ética aparece. De acordo com Aranha e Martins (2003), “[...] a ideia de liberdade ética [...] 
diz respeito ao sujeito moral, capaz de decidir com autonomia em relação a si mesmo e aos outros” 
(p. 316, grifo do autor).
 Saiba mais
O filme indicado a seguir narra ações de uma gangue de jovens no Reino 
Unido. O filme explora questões sociais e políticas, além de indagações 
éticas relacionadas à liberdade e ao livre-arbítrio.
LARANJA Mecânica. Direção: Stanley Kubrick. EUA: Warner Bros., 
1971. 136 min.
25
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Comparato (2006) afirma que a liberdade como concepção de que as pessoas são livres e responsáveis 
pelos seus atos voluntários surgiu apenas no período axial. O autor ainda complementa:
 
Antes dele, prevalecia a convicção de que as forças sobrenaturais decidiam, 
em última instância, o destino da vida humana. A divindade estaria na 
origem de nossas boas ou más ações. A criação da filosofia ética na Grécia 
[...] partiu do postulado fundamental da liberdade de cada indivíduo e, em 
consequência, da irrecusável responsabilidade de cada qual na condução 
de sua vida [...] para os modernos, ao contrário, liberdade foi redescoberta e 
afirmada, no século XVIII, como um status de independência do indivíduo, 
de defesa da vida íntima ou particular contra a indevida interferência dos 
poderes constituídos, sejam eles políticos ou religiosos (COMPARATO, 2006, 
p. 538, grifo do autor).
O autor afirma ainda que, a partir do capitalismo industrial, viu-se a importância de se defender a 
liberdade da classe dos trabalhadores de forma coletiva, haja vista o poder econômico dos empresários.
Alguns filósofos defendiam que o ser humano não é livre, seja pelo fato de estarem fadados ao 
destino imutável, seja pelo discurso científico que sujeita o indivíduo ao determinismo (ARANHA; 
MARTINS, 2003).
 Observação
Na filosofia, determinismo é uma teoria que acredita que todos os 
acontecimentos possuem uma relação de causa, ou seja, tudo acontece por 
necessidade de acontecer e obedece a leis imutáveis.
O filósofo Taine (1828-1893), por exemplo, afirmou que a ação humana não é livre, mas sim causada 
por três fatores, raça, meio e momento, dos quais seria impossível escapar e que, por consequência, 
determinariam os atos humanos (ARANHA; MARTINS, 2003).
Outras perspectivas acreditam que existam determinações que afetam os sujeitos, visto que todos 
estão situados em algum tempo e espaço, permeados por uma cultura. Contudo, defendem também 
que uma pessoa consciente é capaz de reconhecer a existência desses determinismos e a partir de 
então “[...] construir um projeto de ação. Portanto, a liberdade se torna verdadeira quando acarreta um 
poder de transformação sobre a natureza do mundo e sobre a própria natureza humana” (ARANHA; 
MARTINS, 2003, p. 320).
26
Unidade I
Exemplo de aplicação
Você já ouviu falar sobre o mito das três Moiras?
As Moiras eram três irmãs, senhoras do destino na filosofia grega: Cloto (klothó), Láquesis (láchesis) 
e Átropos (átropos). Os gregos antigos acreditavam que elas eram responsáveis por tecer o fio da vida, 
assim, o destino das pessoas era determinado por elas, era imutável. Cloto era a responsável por fiar o 
fio da vida, ou seja, estava relacionado com o nascimento; Láquesis enrolava o fio na roda da fortuna, 
dando os “altos e baixos” da vida das pessoas; Átropos era a mais nova das irmãs, responsável por findar a 
vida, ou seja, segurava uma tesoura e cortava o fio. Nessa perspectiva, nenhuma das escolhas realizadas 
pelas pessoas teria qualquer influência em sua vida, já que o seu destino estava nas mãos das Moiras.
Com o conhecimento desse mito, reflita sobre as concepções de destino dos gregos antigos e a 
relação com a concepção de livre-arbítrio apresentada a partir da Idade Média.
Figura 9 – Representação do mito das três Moiras – Strudwick, J. M. 
A Golden Thread, 1885, óleo sobre tela
Disponível em: https://bit.ly/3KrAs9p. Acesso em: 25 abr. 2022.
2 FUNDAMENTOS DA BIOÉTICA
A bioética é uma área de conhecimento proveniente da ética e que transita diante das questões 
relacionadas à preservação da vida e, consequentemente, discute a atividade dos profissionais da área 
da saúde (STRONG, 2007).
Seu idealizador foi o médico oncologista e professor da Universidade de Wisconsin, professor Van 
Rensselaer Potter (1911-2001), que chamou a bioética de “ciência da sobrevivência humana”. Em sua 
obra Bioética – uma ponte para o futuro (1971), Potter destacava que era preciso ter atenção para que 
os avanços da medicina e das ciências não descuidassem da necessidade de manutenção da dignidade 
humana e da qualidade de vida (STRONG, 2007).
27
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Suas ideias sempre defenderam a bioética como uma disciplina norteadora de questões que afetam 
a dignidade da vida, a integridade dos seres vivos em suas dimensões biológicas, sociais e culturais 
(STRONG, 2007).
Em sua gênese, a bioética debruçou-se sobre questões relativas ao relacionamento do profissional 
de saúde com o paciente/cliente. Discute as questões relativas a pesquisas biomédicas com seres vivos. 
Por meio da Declaração de Helsinque, foi redigido o Relatório de Belmont, que definiu os princípios para 
experimentos com seres humanos: beneficência, justiça e autonomia (STRONG, 2007).
O marco fundamental da regulação para as pesquisas científicas com seres humanos ocorreu no 
Julgamento de Nuremberg – agosto de 1945 a outubro de 1946 –, no qual foram condenados junto 
com oficiais nazistas os médicos que desrespeitaram os direitos humanos de prisioneiros nos campos 
de concentração nazistas, submetendo-os a atrozes experimentos científicos. A partir do julgamento 
das atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra, muitas delas em nome da pesquisa científica, foi 
promulgado o Código de Nuremberg em 20 de agosto de1947 (BUB, 2005).
Um episódio muito conhecido na história da bioética foi o Estudo da Sífilis não Tratada de Tuskegee 
(Tuskegee Syphilis Study),de 1932 a 1972. Nesse estudo, pesquisadores reuniram 600 homens negros, 
399 com sífilis e 201 sem a doença, com o objetivo de observar a evolução da doença sem o tratamento 
adequado (GOLDIM, 1999).
Goldim (1999) alerta que, antes mesmo de o estudo ser iniciado, em 1929 já existiam estudos 
publicados sobre casos de sífilis não tratados. Além disso, a partir da década de 1950 havia tratamento 
estabelecido para a doença, e mesmo assim o estudo perdurou até 1972. A inadequação inicial da 
pesquisa deu-se pelo fato de os participantes não terem conhecimento de que tinham sífilis nem dos 
efeitos por ela causados, o diagnóstico dado era o de “sangue ruim”, nomenclatura bastante utilizada 
pelos eugenistas da década de 1920.
Figura 10 – Cientistas e participantes do Estudo Tuskegee
Disponível em: https://bit.ly/3vKTwtR. Acesso em: 25 abr. 2022.
28
Unidade I
O autor reitera que “mesmo que tendo alguma relevância inicial, esse estudo teve sua maior 
inadequação ao não se confrontar frente aos novos conhecimentos que foram sendo gerados ao longo 
do tempo” (GOLDIM, 1999).
 Saiba mais
O filme indicado a seguir foi inspirado no caso Tuskegee.
COBAIAS. Direção: Joseph Sargent. EUA: HBO, 1997. 118 min.
Na década de 1970 foi criada nos EUA a Comissão Nacional para a Proteção dos Seres Humanos 
da Pesquisa Biomédica e Comportamental, com o objetivo principal de identificar os princípios éticos 
básicos que deveriam orientar a experimentação em seres humanos nas ciências humanas e na saúde 
(BUB, 2005).
Em 1978 essa Comissão publicou o Relatório Belmont, o qual apresentou as diretrizes básicas da 
ética principialista. Os três princípios básicos publicados foram: autonomia, beneficência e justiça. Após 
sua publicação, os problemas envolvidos na pesquisa em seres humanos passaram a ser analisados a 
partir desses princípios, e não mais dependiam de códigos e juramentos específicos de cada carreira ou 
área de conhecimento (BUB, 2005).
No Brasil, a pesquisa com seres humanos passou a ter uma atenção diferenciada em 1996, com 
a Resolução n. 196 (BRASIL, 1996) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que aprovou normas 
para pesquisas com humanos norteadas por documentos internacionais tais como: O Relatório 
de Nuremberg, A Declaração dos Direitos Humanos, a Declaração de Helsinque e a Constituição 
Brasileira (STRONG, 2007).
A bioética é uma disciplina de reflexão e construção do conhecimento a respeito de questões morais 
humanas relativas à saúde, à dignidade e à sobrevivência humana e busca ser um valor universal, 
respeitando-se as divergências circunstanciadas por aspectos sociais, econômicos, culturais, sempre 
considerando as divergências entre os povos (STRONG, 2007).
Silveira e Silveira (2006) ressaltam que a preocupação com os estudos envolvendo seres humanos 
veio crescendo nos últimos anos por parte de institutos de pesquisa, órgãos governamentais e mesmo 
pela população em geral, haja vista a influência midiática, principalmente, sobre os avanços em 
pesquisas genéticas.
Mesmo diante dessa situação de imensa diversidade moral, a bioética se propõe a assumir um 
protagonismo na construção da reflexão crítica para uma sociedade melhor, tendo como finalidade 
última a defesa da dignidade da vida desde o seu início até o fim (STRONG, 2007).
29
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
2.1 Os princípios da bioética
Rocha e Benedetti (2009) afirmam existir valores e princípios balizadores do caminho desejado e 
esperado para a humanidade no campo da bioética. São eles:
• autonomia: dignidade, respeito à vontade, às crenças e aos valores morais das pessoas;
• beneficência: maximizar o bem do outro supõe minimizar o mal, atenção aos riscos e benefícios, 
assegurando-lhe o bem-estar ou diminuindo-lhe o mal-estar;
• justiça: exigência de equidade na distribuição dos bens e benefícios.
Esses princípios têm origem em um movimento da década de 1970 denominado Ética Principialista. 
Um ano após a publicação do Relatório Belmont (1978), foi publicado o livro Principles of biomedical 
ethics (BUB, 2005). Segundo o autor, o livro é um marco da ética principialista, precursora da bioética. 
Seus princípios estavam voltados para as questões vinculadas ao exercício profissional da prática médica 
e demais profissionais da saúde. Ao estudar os três princípios do Relatório Belmont, a obra os divide em 
quatro – autonomia, não maleficência, beneficência e justiça (BUB, 2005).
2.1.1 Princípio do consentimento ou autonomia
A autoridade para ações envolvendo outros em uma sociedade pluralista é derivada de sua 
permissão. Sem essa permissão não há autoridade. Assim, ações contra o consentimento devem ser 
denunciadas e seu praticante deve ser punido (ENGELHARDT, 1998).
O princípio da autonomia assegura o direito das pessoas de terem pontos de vista próprios, fazer 
escolhas e tomar decisões embasadas em seus próprios valores e crenças pessoais (BUB, 2005).
São características desse princípio a existência do consentimento implícito ou a necessidade de 
anuência individual. O consentimento explícito está pautado em normas, contratos e códigos criados 
por uma determinada comunidade moral, responsável pela criação de direitos de assistência social 
(ENGELHARDT, 1998).
Esse princípio se justifica pelo fato de o consentimento expressar autoridade para resolver disputas 
morais em uma sociedade pluralista. Essa resolução somente pode acontecer mediante o acordo dos 
participantes, uma vez que não tem origem em argumentos racionais ou em crença comum. Portanto, 
a permissão ou consentimento é a origem da autoridade, e o respeito pelo direito de consentir é 
condição para a sustentação de uma comunidade moral (ENGELHARDT, 1998).
2.1.2 Princípio da beneficência
A finalidade de uma ação moral é alcançar o bem e evitar o dano aos indivíduos. No entanto, em 
uma sociedade plural não existe uma definição absoluta do que pode ser ordenado como o bem ou o 
30
Unidade I
prejuízo para determinada pessoa. Todavia, um compromisso com a beneficência é uma característica de 
uma ação moral e sem essa característica o exercício da moral não tem essência (ENGELHARDT, 1998).
Dessa forma, é vital apontar algumas características do princípio da beneficência. Em determinada 
comunidade, em comum acordo, deve haver uma visão comum e uma ordenação ou explicação a 
respeito do bem e dos prejuízos. A divergência entre o que é bom ou mal deve ser solucionada, quando 
possível, pelo princípio do consentimento (ENGELHARDT, 1998).
O princípio da beneficência implica buscar fazer o bem para o paciente em todas as ações de 
assistência de saúde. A beneficência se baseia na solidariedade para gerar benefícios que garantam 
a integridade física, moral, intelectual e cultural do paciente, evitando riscos, prevenindo o dano e 
maximizando os benefícios (BUB, 2005).
2.1.3 Princípio da não maleficência
Defende a obrigação de não causar dano intencionalmente. Está estreitamente vinculado com a 
máxima hipocrática primum non nocer. Embora muitos autores não o distingam diante do princípio de 
beneficência, o de não maleficência gera a obrigação de não causar dano, incapacitar ou lesar, essa ação 
é bem diferente da obrigação de ajudar os outros (BUB, 2005).
 Observação
Primum non nocere é um termo em latim da bioética que significa 
“primeiro, não prejudicar”.
2.1.4 Princípio da justiça
O princípio da justiça envolve ações que visem fazer o bem de acordo com uma visão moral particular. 
A ideia é entender o que cabe a cada um fazer ou não fazer para que haja ação beneficente para os 
participantes da comunidade moral (ENGELHARDT, 1998).
A ação de julgamento do certo ou errado, bem ou mal está relacionada ao confrontamento com 
acordos, normas e leis previamente acordados e amplamente divulgados pelos entes participantes de 
determinada comunidade moral pluralista (ENGELHARDT, 1998).
O princípio de justiça refere-se à distribuição igualitária dos benefícios sociais, representa as 
necessidades da sociedade, garantindo-seo direito de todos a receber assistência de saúde. Os 
profissionais da saúde não podem desconsiderar as situações de fragilidade social e as desigualdades 
econômicas no acesso à assistência à saúde. As ações dos profissionais da saúde devem preservar sua 
integridade moral sem comprometer as finalidades da prática profissional. Os privilégios e recursos na 
área da saúde devem ser distribuídos sem discriminação no tratamento das pessoas, assegurando uma 
efetiva administração dos recursos comunitários (BUB, 2005).
31
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
2.2 Bioética aplicada ao exercício profissional da educação física
O profissional de educação física tem por preceitos o desenvolvimento de conhecimentos e práticas 
relacionados ao movimento corporal humano, que promovam o desenvolvimento pessoal e a saúde de 
seus alunos e/ou clientes.
Diante do desafio de combater fatos da sociedade contemporânea que são prejudiciais à saúde, 
tais como o sedentarismo, o enclausuramento de crianças – em função de sua própria segurança –, o 
acesso a uma alimentação desregrada, hipercalórica, feita com a predileção de alimentos processados, 
o profissional de educação física tem a missão de levar informação e desenvolver hábitos saudáveis e 
que promovam a saúde e o bem-estar das pessoas.
A bioética é, nesse sentido, uma área de conhecimento bastante pertinente para pautar as ações 
do profissional de educação física, uma vez que transita na área das relações entre agentes da área da 
saúde e seus clientes com a proposta de preservar a dignidade da vida e a integridade dos seres vivos 
em suas dimensões biológicas, sociais e culturais.
O professor de educação física deve ser um defensor de práticas saudáveis, no caso exercícios 
físicos sistematizados e embasados em conhecimentos técnicos e científicos. Deve trabalhar 
na orientação de uma alimentação saudável dentro de equipes multidisciplinares apoiadas por 
profissionais da área de nutrição. Essa premissa deve preservar a dignidade da vida e a integridade 
biológica, social e cultural de seus alunos.
Nesse sentido, o professor deve ser cauteloso ao oferecer programas de exercícios físicos que, apesar 
de cientificamente comprovados, podem ser prejudiciais à integridade dos alunos em razão do princípio 
da individualidade biológica (WEINECK, 2003).
A individualização, pautada em aspectos da experiência motora pregressa do aluno, no nível de 
condicionamento físico atual, nas condições de repouso, trabalho e alimentação, é uma condição 
fundamental para que a aplicação dos programas de exercícios físicos seja inclusiva e adequada a cada 
pessoa (WEINECK, 2003).
Portanto, o profissional de educação física não deve usar a si próprio como referência para prescrever 
o exercício, mesmo acreditando que está fazendo o bem para o aluno, pois as consequências podem ser 
prejudiciais e atentar contra a integridade física e a dignidade do aluno. Como ocorre comumente nas 
fases de adaptação ao exercício, quando o aluno é exposto a sobrecargas de esforço que são maiores 
do que aquelas adequadas a sua condição, desencadeando lesões musculares e dores articulares, 
levando-o a ter uma experiência negativa com o exercício físico e potencialmente prejudicial a sua 
saúde (WEINECK, 2003).
A bioética sugere a reflexão a respeito de questões morais humanas relativas à saúde, à dignidade e 
à sobrevivência humana, respeitando-se as divergências circunstanciadas por aspectos sociais, econômicos 
e culturais das pessoas (STRONG, 2007).
32
Unidade I
Um princípio essencial da bioética é o consentimento das pessoas envolvidas nos procedimentos 
de saúde. Dentro de uma mesma comunidade moral, não existe unanimidade a respeito do que é 
benévolo. As variações culturais, socioeconômicas e sociais podem ter nuances de aceitação diferente 
de determinado processo (ENGELHARDT, 1998). Por esse motivo, cabe ao professor de educação física 
ser bastante esclarecedor a respeito da proposta de estímulo de treinamento, sendo bem receptivo a 
dúvidas e solicitações de adaptação dos alunos.
O professor de educação física, na ânsia de criar um ambiente de motivação para o aluno, pode gerar 
constrangimento ao oferecer a atividade sem o consentimento dele. É fundamental que a explicação 
seja bastante esclarecedora e acessível e que o aluno tenha entendido e concordado com a proposta. 
Cabe ao professor avaliar as possíveis queixas do aluno e fazer as devidas adaptações individuais visando 
à preservação da saúde e da eficiência da atividade.
Outro princípio importante é a beneficência. As ações devem buscar fazer o bem e não gerar prejuízos 
aos clientes. Em uma sociedade pluralista deve haver normas e estatutos que reflitam os valores e ações 
que são tidos como geradores do bem ou causadores de prejuízo; tal preceito se caracteriza como um 
contrato social implícito. Outra maneira de gerar a determinação do que é bem ou prejuízo é um acordo 
de consentimento ou acordo explícito (ENGELHARDT, 1998).
O profissional de educação física deve buscar fazer o bem ao seu aluno ou cliente, partindo do 
princípio da solidariedade. Deve agir respeitando as normas sociais e leis que regem nossa sociedade, 
jamais podendo alegar ignorância destas.
Silveira e Silveira (2006) relembram que o texto que culminou na Resolução n. 196 não é arbitrário ou 
criado ao acaso, mas sim representa os preceitos básicos do respeito à integridade humana, à dignidade, 
fixando normas de preservação para as pessoas envolvidas.
 Lembrete
O profissional de educação física, respeitando seu estatuto e a 
Constituição Federal, não deve oferecer procedimento de treinamento físico 
ou substância que potencialmente seja prejudicial à saúde, à dignidade e 
à integridade de seu aluno. Essa conduta deve ser adotada, mesmo que a 
intenção seja fazer o bem ao aluno.
2.3 A ética da pesquisa na história
A raiz etimológica dos conceitos de ética e moral está pautada na sociedade greco-romana: éthos 
vem da cultura clássica da Grécia e dá à ética o sentido de debate filosófico, reflexão teórica; é o ramo 
da filosofia que fundamenta científica e teoricamente a discussão sobre valores, opções (liberdade), 
consciência, responsabilidade, o bem e o mal (NOSELLA, 2008).
33
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
O termo mos-moris (mora) tem origem na cultura romana latina. Refere-se principalmente aos 
hábitos, aos costumes, ao modo de viver. Qualifica certo hábito ou costume de virtuoso ou vicioso e 
certo modo de agir ou viver de moral ou imoral (NOSELLA, 2008).
O senso comum tende a confundir os dois conceitos, pois ambos referem-se a valores, hábitos e 
deveres, ao justo e injusto. No entanto, a ética se afirma como um postulado da esfera filosófica 
e científica que fixa normas e códigos, enquanto a moral se estabelece como um conceito pragmático 
de opção pessoal, de conduta exercida por hábitos e valores definidos em uma esfera individual 
(NOSELLA, 2008).
Como pesquisa, pode-se compreender a produção e propagação do conhecimento, a inovação 
científica e tecnológica no âmbito das ciências humanas, exatas, biológicas, da comunicação e da 
arte. A ética na pesquisa se propõe a esclarecer os fundamentos históricos e filosóficos da relação 
entre as atividades de pesquisa e as obrigações morais ao longo da história e até o momento presente 
(NOSELLA, 2008).
O princípio fundamental da ética socrática resumia-se na construção de uma ciência que fosse 
capaz de gerar conhecimento levando o homem à evolução e à superação dos impulsos sensíveis. Com 
isso, Sócrates identificava ciência e virtude, o verum e o bonum (NOSELLA, 2008).
Para Platão, a regulação da ciência deveria ser estabelecida pelos sábios filósofos, pela razão, levando 
a sabedoria à condição de contemplação do bem supremo, no exercício da evolução intelectual. A 
transgressão dos limites éticos na busca pelo conhecimento leva o homem à condição animal. Portanto, 
a reflexão ética para Platão restringe as perspectivasdo saber pelo saber e projeta o homem com um ser 
responsável pelo conhecimento que produz e pelas consequências geradas (NOSELLA, 2008).
Já Aristóteles teve sua ascensão filosófica nos meandros da corte de Alexandre Magno da 
Macedônia. Ele defendia que a arbitragem ética competia ao poder político, cuja finalidade é 
proporcionar a felicidade dos cidadãos. Para Aristóteles a felicidade individual estava circunscrita 
à vida social; também acreditava que gerar o equilíbrio geral da sociedade e dos indivíduos era 
competência da autoridade que governa o Estado (NOSELLA, 2008).
A autoridade política defendida por Aristóteles foi reafirmada pelo direito romano e pelo 
autoritarismo católico. O código do direito romano regulamentou os valores e as normas para a 
relação do homem com os conceitos de Deus, pátria, família, religião, ciência, arte, técnica. Como 
herança do período romano, as estruturas políticas do período medieval entrelaçadas com o domínio 
dogmático da Igreja Católica radicalizaram o pragmatismo romano, substituindo seu relativismo e 
ecletismo filosófico por um rígido teocentrismo (NOSELLA, 2008).
No período medieval a relação hierárquica entre Deus, clero e povo cristão tornou-se tão dogmática 
que a dialética entre ciência e virtude se extinguiu totalmente. A ciência, para a filosofia escolástica da 
Igreja Medieval – detentora do monopólio intelectual –, foi conduzida ao patamar de instrumento de 
confirmação e legitimação dos estatutos fixados pela teologia dogmática (NOSELLA, 2008).
34
Unidade I
A filosofia moderna pós-renascentista atribuiu aos Estados laicos a arbitragem política no 
estabelecimento dos limites éticos da pesquisa científica. A Igreja passou a ter função de assessoramento, 
e não mais de deliberação final e inquisição. Essa transição ocorreu em razão de novos estudos e 
pesquisas científicas, que fortaleceram a hegemonia do Estado e permitiram aos homens a formulação 
de novos problemas sociais, amadurecendo as condições técnicas para sua superação. A separação entre 
os dogmas católicos e a ciência laica foi fundamental para a definição de novos paradigmas éticos 
(NOSELLA, 2008).
Desse ideário nasceu o éthos iluminista da Revolução Industrial, que rompeu a clássica relação 
política entre a ciência e a virtude, devolvendo ao homem a reflexão individual a respeito da ética e 
atitudes morais que permearam as pesquisas e a busca pelo saber (NOSELLA, 2008).
Diante dessa nova perspectiva, livre da ação dogmática da Igreja, a Ciência avançou rapidamente, 
aparelhando todo avanço da burguesia industrial capitalista. A todo custo a eficiência e a produção 
avançaram, e muitas vezes a reflexão ética foi negligenciada, gerando a exploração e o abuso diante da 
dignidade humana (NOSELLA, 2008).
Grande risco de erro se comete quando um Estado laico se autodenomina benevolente e capaz 
de gerar a felicidade universal e impor a ética oficial à população e à pesquisa, que passa a operar 
em função de seus interesses. Assim aconteceu de forma terrível com as ditaturas fascistas, nazistas 
e comunistas, o bem universal sempre foi justificativa para fazer as maiores atrocidades contra a 
humanidade (NOSELLA, 2008).
Sem qualquer filtro ético, a ciência avançou com experimentos cruéis realizados nos campos de 
concentração nazista, usando a vida humana como combustível para a especulação científica. Esses atos 
atrozes foram julgados no tribunal de Nuremberg (NOSELLA, 2008).
A tecnologia foi criada a serviço da felicidade humana e do avanço da ciência. De fato, foi um marco. 
Contudo, também promoveu um grande grito de terror para o mundo, a exemplo da bomba atômica que 
foi detonada por duas vezes na Segunda Guerra Mundial no Japão, nas cidades de Hiroshima e Nagasaki 
(NOSELLA, 2008).
Muitos pensadores do século XX, Gramsci, Brecht, Sartre, entre outros afirmaram a necessidade de 
se restaurar o diálogo dialético entre virtude e ciência, entre ética e pesquisa, entre autoridade política 
e consciência individual. Pesquisar sem saber o propósito não é ético. A busca pelo saber é ilimitada e 
muitas vezes se justifica pelos objetivos imediatos, mas não dá conta das consequências a longo prazo 
(NOSELLA, 2008).
Contudo, o limite ético da pesquisa deve ser ponderado pelas margens dos códigos legais da 
sociedade civil, pelo direcionamento da sociedade política e pela consciência individual.
35
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
 Lembrete
A filosofia moderna pós-renascentista atribuiu aos Estados 
laicos a arbitragem política no estabelecimento dos limites éticos da 
pesquisa científica.
2.4 Ética na pesquisa em educação física
Desde meados da década de 1980, os aspectos éticos em pesquisas envolvendo seres humanos têm 
gerado debates no meio acadêmico. O julgamento de médicos nazistas em Nuremberg julgou abusos 
em pesquisas experimentais com humanos e foi um marco histórico do início da criação de comitês de 
ética para pesquisa. Em 1947, foi criado o Código de Nuremberg, em que foram instituídos princípios 
que impedem ações abusivas envolvendo seres humanos em projetos de pesquisa (TENÓRIO et al., 2005).
Ainda hoje não existe um consenso a respeito das ações que podem ser aplicadas em projetos 
de pesquisa que usam seres humanos como amostra das experiências científicas. Por esse motivo, a 
instauração dos comitês de ética para a pesquisa em universidades é um fator fundamental para garantir 
os princípios básico da bioética: beneficência, consentimento e justiça. Essas medidas visam assegurar 
que os benefícios de qualquer pesquisa serão maiores do que os riscos à integridade física, mental e 
social dos sujeitos (TENÓRIO et al., 2005).
No Brasil, as comissões éticas surgiram em 1985. Somente uma década depois foi criada a Comissão 
Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), por meio da Resolução n. 196 (BRASIL, 1996). A Conep é uma 
instância colegiada, de natureza consultiva, deliberativa, normativa, educativa, independente, vinculada 
ao Conselho Nacional de Saúde (CONEP, 2000).
A Resolução n. 196 é considerada um divisor de águas na atividade das pesquisas científicas brasileiras 
envolvendo humanos. A resolução foi construída após um longo processo de análise de declarações e 
documentos internacionais sobre pesquisas com seres humanos e cumpre o que é descrito em diversos 
artigos da legislação brasileira (BRASIL, 1996).
Existem duas espécies de deveres éticos aos quais o cientista deve se comprometer no exercício 
profissional da pesquisa científica: o primeiro diz respeito aos valores universais relacionados à bioética, 
tais como a preservação da dignidade humana e a integridade biológica, intelectual e cultural das 
pessoas envolvidas; e os derivados de valores éticos, especificamente os científicos, engajados com a 
validade, a credibilidade e a justificação das pesquisas (SANTOS, 2017).
Rocha e Benedetti (2009) apontam para problemas específicos da ética na pesquisa nos programas 
de pós-graduação no Brasil. A quantidade de pesquisas teve um aumento significativo. No entanto, 
esse crescimento quantitativo não corresponde ao aumento da qualidade das pesquisas. As pesquisas e 
publicações vêm sendo usadas como critério de avaliação e aprovação em programas de pós-graduação, 
o que vem ocasionando uma série de fraudes e abusos nas pesquisas.
36
Unidade I
Com a diminuição na qualidade das pesquisas em razão da pressão por publicações, vem ocorrendo 
não só a perda de financiamento e de poder, mas a falta de confiança na ciência e de quem a 
produz no Brasil.
A pressão para publicar pode levar à negligência de alguns métodos e condutas. A exigência de 
publicações tem preocupado os pesquisadores com elevados gastos em busca de espaço nas revistas 
indexadas nacionais e internacionais, produzindo a fragmentação de seus trabalhos e a antecipação 
de suas conclusões, com propostas e constatações mal elaboradas, trazendo poucas contribuições 
conceituais e interventivas (ROCHA; BENEDETTI, 2009).
Santos (2017) afirma existiremmás condutas na produção científica em função de um processo de 
mercantilização da produção de artigos científicos. Entre eles destacam-se a fabricação de resultados 
impulsionada pela pressão pela produção acadêmica, assim como os problemas de autoria relacionados 
a plágio, apropriação indevida de dados e resultados sem a devida citação dos autores. Outra má conduta 
seria o uso inadequado da tutoria de alunos de programas de pós-graduação, como mão de obra barata 
para a produção de artigos e experimentos científicos. Nesse contexto, os orientadores, pesquisadores 
experientes, conseguem multiplicar suas publicações usando os serviços, nem sempre qualificados de 
estudantes inexperientes, de coautores sem muita qualificação.
Atualmente, existe a tendência em solicitar certa atitude de reciprocidade na autoria dos 
trabalhos dentro do processo de produção científica. São requeridas inclusões de autores que fizeram 
sugestões de caráter técnico e não participaram efetivamente de seu processo de construção (ROCHA; 
BENEDETTI, 2009).
O plágio é um dos maiores e mais frequentes problemas éticos dentro das produções acadêmicas. 
Com os recursos tecnológicos e com os avanços da internet, percebe-se uma facilidade na ação de 
plágio. Copiar sem a devida citação a produção de conhecimento do outro é um problema encontrado 
em todos os níveis de pesquisa (ROCHA; BENEDETTI, 2009).
2.5 Os comitês de ética
As universidades têm comitês que analisam os projetos de pesquisa, para atender os princípios 
e códigos de ética. Os comitês são formados por professores da universidade e representantes de 
setores da comunidade que cedem parte de seu tempo para analisar projetos de pesquisa. Os membros 
dos comitês de ética das universidades se apoiam na Resolução n. 196 (BRASIL, 1996), do Conselho 
Nacional de Saúde, que trata da ética na pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil (ROCHA; 
BENEDETTI, 2009).
As pesquisas devem respeitar a Resolução n. 196 do CNS e criar um Termo de Consentimento Livre 
e Esclarecido (TCLE), que deve ter redação clara e formal à pesquisa que está sendo realizada, com 
linguagem acessível a todos os seus participantes, para que possam entender de forma mais simplificada 
o que está sendo pesquisado. Os participantes também devem receber orientações verbais a respeito da 
pesquisa (ROCHA; BENEDETTI, 2009).
37
ÉTICA E INTERVENÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Silveira e Silveira (2006) apontam que em pesquisas com seres humanos existem uma série de 
regras e procedimentos a serem seguidos, na intenção de assegurar que os quatro princípios da bioética 
estejam sendo respeitados. Citam os seguintes aspectos: o TCLE; a ponderação entre riscos e benefícios 
da pesquisa para os participantes, em que se busca o máximo de benefícios com o mínimo de risco; a 
garantia de que os danos previsíveis serão evitados; e a relevância social da pesquisa e sua aplicabilidade.
Nas pesquisas que exigem processos invasivos, como análise de sangue, urina, outros exames e 
utilização de fármacos específicos, é necessário que o pesquisado tenha conhecimento de todos os 
problemas que possam vir a ocorrer no procedimento experimental. Nesses casos, o pesquisador deve 
obter aprovação do comitê de ética antes de começar a coleta de dados, bem como cadastrar seu 
trabalho no Conep (ROCHA; BENEDETTI, 2009).
No intuito de criar uma cultura de integridade nas ações morais na pesquisa, a Fundação de Amparo 
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) lançou seu Código de Boas Práticas Científicas e o Conselho 
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), importantes agências de fomento à 
pesquisa no Brasil. Em 2011 a Fapesp lançou documentos reguladores das boas condutas éticas no âmbito 
das pesquisas científicas, esses documentos visam gerar uma ação de educação para a formação dos 
futuros pesquisadores, criando também ações punitivas relacionadas ao desligamentos de programas e 
perdas de bolsas de auxílio para os pesquisadores com má conduta (SANTOS, 2017).
3 DEONTOLOGIA E CÓDIGO DE ÉTICA
Uma profissão é toda a ocupação, com o devido reconhecimento social, exercida pela instrumentação 
do trabalho e de forma lícita, para obter o meio de sustento. As profissões têm sua própria dignidade 
perante a sociedade, no entanto se organizam de forma diferenciada de acordo com a realidade social 
(MONTEIRO, 2005).
As profissões vão se transformando conforme as mudanças no mundo e as características da 
sociedade. Existem profissões que desaparecem; outras, no entanto, têm importância perene, mas 
passam por constantes transformações em sua forma de agir e se relacionar com o meio através do 
trabalho. A saúde, a educação e a justiça são valores universais para a condição humana, suas profissões 
devem ser consideradas pedras fundamentais para a organização da sociedade, dentro de uma Estado 
de Direito embasado na noção básica dos direitos humanos (MONTEIRO, 2005).
As profissões que têm grande relevância e reconhecimento na sociedade possuem normas de atuação 
codificadas, definindo seus serviços com a identificação de valores e saberes que devem destacar a 
importância de seus profissionais. A ética profissional ou deontologia reúne de forma fundamentada 
os valores a serem preservados no exercício de cada profissão de forma específica (MONTEIRO, 2005).
A deontologia das profissões é um conjunto de normas que identifica o posicionamento moral de 
determinada profissão em relação à sociedade em que está inserida, incluindo o quadro normativo que se 
espelha na consciência moral predominante numa sociedade, os valores profissionais comuns e destaca 
os valores específicos de uma profissão. Esses últimos são a base para determinar as responsabilidades 
38
Unidade I
dos profissionais fundamentadas em princípios edificantes e estabelece os deveres deles para com seus 
clientes (MONTEIRO, 2005).
A deontologia, que deriva do grego deon ou deontos/logos, significa o estudo dos deveres. Surge 
da necessidade de um grupo profissional se autorregular, sendo submetido ao parecer de um conselho 
formado por membros eleitos do grupo profissional e com a função de fiscalizar o exercício profissional 
através do cumprimento de regras pré-estabelecidas em um código (CARAPETO; FONSECA, 2012).
As normas deontológicas de uma profissão devem vir do acervo científico e filosófico de cada 
profissão, evidenciando sua identidade. É necessário um organismo formado pela representatividade dos 
pares para gerir e supervisionar o cumprimento das normas deontológicas, um conselho de profissionais 
reconhecidos pela sua contribuição social e imaculada conduta, conselho este capaz de promover a 
autorregulação de uma profissão. Este órgão pode ser privado, mas deve ter reconhecimento público 
e aceitação da comunidade. Também deve ter base profissional com um estatuto público, unindo a 
legitimidade profissional e a legitimidade pública (MONTEIRO, 2005).
O objetivo da deontologia é regular a atuação profissional dos membros de uma profissão para se 
obter a excelência no trabalho, visando conquistar a confiança do público e a credibilidade da profissão. 
É o estudo do conjunto dos deveres profissionais fundamentados em um código de conduta que pode 
impor punição aos infratores (CARAPETO; FONSECA, 2012).
A deontologia funda nesse código o conjunto de deveres, princípios e normas reguladoras dos 
comportamentos que devem ser exigidos dos profissionais. Alguns princípios e normas têm função 
reguladora, outros, função normativa, cabendo sanções aos profissionais faltosos. Nesse sentido, a 
deontologia é uma disciplina da ética adaptada ao exercício de uma profissão. Geralmente, códigos 
de deontologia ou ética profissional têm por base grandes declarações universais e buscam expressar 
o direcionamento ético desses documentos com adaptações cabíveis às peculiaridades de cada profissão 
(CARAPETO; FONSECA, 2012).
No entanto, ética não se finda na deontologia, no cumprimento de regras de conduta profissional

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