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- -1 PESQUISA E PRÁTICA EM EDUCAÇÃO - PROJETO O DELINEAMENTO METODOLÓGICO - -2 Olá! Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer as características da pesquisa documental, dos estudos de caso, da etnografia e da pesquisa-ação /participante; 2. elaborar e redigir a metodologia da pesquisa de seu projeto de pesquisa, indicando os procedimentos metodológicos e técnicas que serão adotados, bem como as fontes empíricas e documentais a serem utilizadas. 1 A formulação dos objetivos e da justificativa Maria Regina Bortolini A pesquisa em educação alcançou substantivo progresso a partir dos estudos qualitativos. E são muitas e relevantes as contribuições de pesquisas delineadas nos moldes dos estudos de caso, ou da contribuição da etnografia, ou ainda a partir da pesquisa-ação/participante ou da pesquisa documental. Não obstante, as críticas essas pesquisas tem permitido uma compreensão mais profunda sobre os processos educacionais. Vamos conhecer essas modalidades. 2 Estudo de caso Diferentemente dos estudos de levantamento que, como vimos, são estudos de extensão, os Estudos de Caso são estudos em profundidade. Eles se constituem de uma investigação exaustiva que busca conhecer os processos e sentidos que engendram um fenômeno. Para que seja possível ultrapassar uma visão superficial do objeto, “desfolhando suas camadas mais exteriores” de modo a dar um tratamento mais aprofundado ao problema, como a própria designação indica, eles tomam um caso em particular para estudo. Ludke e André defendem que os estudos de caso têm um grande potencial aplicado à pesquisa em educação. É que a realidade educacional é complexa, sua compreensão não é completa a partir de dados objetivos. Mas os estudos de caso permitem aproximações sucessivas ao objeto, a observação de um problema no contexto em que se situa, eles revelam a experiência vivida pelos sujeitos. E para conseguir tamanha profundidade de análise é necessária prolongada permanência no campo. Esse mergulho em campo é o que irá permitir a observação dos processos e a interlocução com os sujeitos que constroem a realidade estudada e a análise das múltiplas dimensões e das relações que estabelecem. - -3 Embora tenha como horizonte a compreensão de problemas complexos, é uma modalidade de pesquisa muito usada nos estudos acadêmicos e exploratórios dada a simplicidade e flexibilidade metodológica que a caracteriza. Nos estudos de caso, não há exigências de caráter quantitativo, posto que eles são modalidade exemplar dos estudos qualitativos. Assim, neles, frequentemente estaremos lidando com um universo limitado e os critérios de validade estão fundados mais na coerência e consistências das opções teórico-metodológicas do que em controles ou tratamento estatístico das variáveis/dos dados. Não é preciso visitar muitas escolas, observar muitas turmas ou entrevistar muitas pessoas. O importante nos estudos de caso é a qualidade (leia-se aqui, o quão profunda e ampla pode ser sua observação e entrevista) dos dados obtidos, ou seja, se eles permitem o pesquisador construir uma explicação plausível sobre o problema, compreender de modo significativo o fenômeno estudado. Dessa forma, uma etapa fundamental na preparação do trabalho de campo nesses estudos é a definição do caso. Que "caso" vou estudar para compreender o problema de minha pesquisa? Embora caso seja sempre uma situação mais ou menos particular nunca é demais lembrar que ele não se refere a algo pessoal. Ele é sempre a expressão de algo maior, de um problema mais amplo. Os critérios de seleção do caso devem estar relacionados à problemática e às necessidades do estudo e não apenas operacionais. A escolha do caso deve atender às necessidades da pesquisa e não do pesquisador, não se pode escola porque ela fica perto de casa ou porque uma amiga "facilitou" a nossa entrada nela. Embora se deva as facilidades, é claro, os casos devem ser escolhidos a partir de critérios científicos. Por esse motivo a aso deve considerar, antes de tudo, o objeto e o universo da pesquisa. Quanto ao objeto de estudo, os casos podem ser: a) típicos Quando ele está dentro dos padrões médios, “comuns”. Por exemplo: se queremos estudar “as dificuldades vividas pelas crianças o processo de alfabetização”, não podemos tomar como caso uma turma com desempenho acima da média, pois nessa turma provavelmente vamos encontrar menos dificuldades no que na média, nem uma turma com desempenho abaixo da média, porque nesse caso provavelmente vamos ter uma situação mais complicada do que na maioria dos casos. O ideal é tomarmos como caso para estudo uma turma comum, que não se destaca “nem pra mais, nem pra menos”, e dessa forma os resultados da pesquisa podem, por similitude, se aplicar a um número maior de realidades. b) exemplares - -4 Com características especificas que o distingue. Por exemplo: se queremos verificar se “a música cria um clima favorável à aprendizagem”, precisamos escolher uma turma em que a professora usa a música com frequência na sua pratica, pois se não há musica na prática, como vamos verificar se a música favorece a aprendizagem? c) atípicos Que contrariam os padrões, “incomuns”. Por exemplo, se vamos analisar como a escola reforça padrões de comportamento de gênero, talvez seja interessante tomar como caso de estudo a situação de alunos travestis. É que coisa como a discriminação de uniforme para meninos e meninas em geral não é vista como um problema, mas diante de um caso de um aluno travesti vamos nos dar conta de como as regras da escola obedecem a um padrão heteronormativo, que não inclui outras identidades. Depois da escola do caso, vamos levantar dados que permitam caracterizá-lo. Essa caracterização é importante porque permitirá outros pesquisadores verificar em que medidas os resultados dessa pesquisa pode ou não aplicar-se a outras realidades similares. Como em qualquer pesquisa empírica, será preciso preparar o campo ou seja, fazer o reconhecimento e analisar as condições de trabalho no campo, contratar os sujeitos, agendar os encontros, providenciar equipamentos etc., assim como elaborar e testar os instrumentos de coleta de dados. Nos estudos de caso, a coleta de dados envolve, geralmente, observação, entrevista, análise de documentos e/ou história de vida. Etnografia Muitas vezes no campo educacional se confunde a pesquisa etnográfica com o estudo de caso. É que as pesquisas etnográficas também envolvem um mergulho de campo, trabalham com o universo restrito e fazem uso de observação e entrevistas. Então, qual a diferença entre elas? A diferença está especialmente na forma como se constrói e na abordagem que se dá ao objeto. Nos estudos de caso a problematização do objeto se dá antes do trabalho de campo e busca uma delimitação bem específica do objeto. Já nos estudos etnográficos a construção do objeto, em geral, se dá ao longo do trabalho de campo, pois o pesquisador está menos preocupado com a especificidade de um tema ou problema, mas tende a querer considerá-lo em relação a um modo de vida, ou seja, a compreendê-lo a partir da análise do significado que ele tem em uma rede de relações e processos que distinguem um grupo de outros. Já é possível perceber que para esse tipo de pesquisa não basta que o investigador faça algumas visitas e umas poucas entrevistas numa comunidade. Ele precisa de uma prolongada imersão no campo para vivenciar o cotidiano daquele grupo, familiarizar-se com seus valores, visões de mundo, hábitos, tradições, conflitos. Ele precisa sentir "na pele" como as pessoas vivem aquela realidade, para compreender melhor como elas vivem. - -5 Assim, os estudos etnográficos geram um volume e uma densidade muito grande de dados descritivos (registros de observação das situações do cotidiano, reproduções de conversas/entrevistas, fotografias, filmagens, documentos diversos, entre outros produtos culturais que podem ser considerados expressivos/representativos do grupo).3 Pesquisa ação/participante Nessas modalidades, a pesquisa é parte de uma ação estratégica em determinada instituições, comunidade ou região e envolve necessariamente algum nível de participação dos grupos/sujeitos envolvidos com a problemática enfrentada. A pesquisa assume o papel de estudo preliminar sobre uma população e/ou região ou diagnóstico em relação à problemática que se pretende solucionar que permita substanciar a elaboração de um plano de ação. É muito pouco evidente a diferença entre pesquisa-ação e pesquisa participante. Muitas vezes essa distinção se faz mais em virtude dos objetos e tipos de grupos envolvidos. Muito usada por organizações governamentais e comunitárias, geralmente tem origem em dificuldades enfrentadas por profissionais ou agentes comunitários no desenvolvimento de suas atividades. Costuma-se chamar pesquisa-ação, quando parte do interesse de profissionais ou pesquisadores que, embora não façam parte de uma determinada comunidade, estão envolvidos com seus problemas pela própria natureza de suas atividades laborais e entendem ser necessário algum tipo de intervenção. Nestes casos, os pesquisadores geralmente detêm os conhecimentos técnicos necessários para o desenvolvimento da investigação, dentro dos critérios científico-acadêmicos. No entanto, muitas vezes é a própria comunidade que reconhece a necessidade uma ação mais organizada e qualificada para enfrentar alguma dificuldade e reclama o apoio e orientação de pesquisadores para a realização de uma pesquisa que os ajude a compreender melhor sua própria realidade e, a partir daí, possam desenvolver algum empreendimento ou solicitar uma atitude por parte do poder público. 4 Pesquisa documental A pesquisa documental é aquela que toma como principal objeto de investigação um documento. Há tempos atrás só eram considerados válidos para a pesquisa científica os documentos oficiais, no entanto, hoje são considerados documentos qualquer forma de registro da experiência humana. Assim, são considerados documentos: registros oficiais, cartas, desenhos, livros, fotos, vídeos, pinturas, mobiliário, etc. A pesquisa - -6 documental é muito comum nos estudos históricos. Os fatos do passado nem sempre são accessíveis a partir de contato direto aos sujeitos e situações envolvidas. Muitas vezes, as informações sobre os fenômenos estudados só podem ser acessadas através de documentos. Dada a diversidade de tipos de registros, a pesquisa documental muitas vezes envolve um alto grau de especialização técnica, como o domínio de línguas mortas ou de técnicas de manuseio de materiais. Os estudos qualitativos em educação têm sido alvo de muitas criticas na atualidade. Críticas referentes a sua relevância (Será que estamos pesquisando questões realmente importantes?), a sua objetividade (será que estamos sendo verdadeiramente rigorosos do ponto de vista metodológico?) e a transferibilidade dos resultados (será que estamos gerando resultados com um grau consistente de análise que permita a sua transferência a outras realidades?). Nosso compromisso com a educação exige maior responsabilidade com a pesquisa. Leve a sério o seu projeto de pesquisa. Ele não é apenas uma etapa na burocracia acadêmica. Ele é a oportunidade de você começar a contribuir para o desenvolvimento do conhecimento no campo educacional e dessa forma, para a melhoria da educação no país. Bom trabalho! O que vem na próxima aula •etapas do trabalho de campo; •instrumentos de coleta de dados: questionário/formulário, entrevista, observação, análise documental; •instrumentos de análise de dados: categorização. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • conheceu as características dos estudos de caso, da etnografia, da pesquisa ação/participante e da pesquisa documental; • Olá! 1 A formulação dos objetivos e da justificativa 2 Estudo de caso 3 Pesquisa ação/participante 4 Pesquisa documental O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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