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AUDITORIA E GESTÃO DA QUALIDADE NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário AUDITORIA EM SAÚDE ......................................................................... 4 AUDITORIA EM ENFERMAGEM ............................................................ 7 PRINCÍPIOS DIRETRIZES E REGRAS DA AUDITORIA DO SUS NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE ............................................................. 9 GESTÃO DE QUALIDADE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE: O PAPEL DA AUDITORIA ..................................................................................................... 12 AVALIAÇÃO NOS SERVIÇOS DE SAÚDE .......................................... 16 AUDITORIA EM SAÚDE SUPLEMENTAR ........................................... 19 QUALIDADE DO CUIDADO: CONCEITO E DIMENSÕES ................... 21 SEGURANÇA DO PACIENTE .............................................................. 24 A IMPORTÂNCIA EM AVALIAR A FREQUÊNCIA E TIPOLOGIA DOS EVENTOS ADVERSOS ................................................................................... 29 CULTURA DE SEGURANÇA DO PACIENTE ...................................... 31 PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE ..................................... 37 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 42 4 AUDITORIA EM SAÚDE A auditoria na área da saúde, pode ser determinada como uma análise sistemática e formal de atividades por um profissional não-envolvido em seu cumprimento, com o intuito de garantir a conformidade, a qualidade e o controle em uma função, processo ou instituição. Na atualidade é vasta a quantidade de profissionais que exercem auditoria em saúde e, para que seja executada de maneira concreta, é necessário que os auditores internos saibam as atividades que estão sendo auditadas, assim como o fluxo de auditoria e custos de materiais e medicamentos. A auditoria em saúde é bastante específica, devido a necessidade um enfermeiro para auditar os procedimentos de enfermagem e, assim, para cada classe de profissionais da saúde, devido ao auditor atuar junto aos profissionais da assistência, visando o monitoramento do quadro clínico de paciente internado, verificando a procedência e gerenciando o internamento, auxiliando na liberação de procedimentos ou materiais e medicamentos de alto custo, e também verificando a qualidade da assistência prestada. Médicos e enfermeiros são os profissionais que, em maior número, são contratados como auditores nas maiores instituições de saúde, como hospitais, devido a demanda dos procedimentos realizados. Existem algumas classificações que melhor especificam o campo de atuação do auditor, sendo elas: • Auditoria regular ou ordinária: realizada em caráter de rotina. É periódica, sistemática e previamente programada, com vistas à análise e verificação das fases específicas de uma atividade, ação ou serviço; • Auditoria especial ou extraordinária: realizada para atender às apurações de denúncias e indícios de irregularidades administrativas. É indicada para a verificação de uma atividade específica e deve ser autorizada por autoridade competente. A auditoria também pode ser classificada ainda quanto aos tipos, conforme RIBEIRO (2009), destaca: 5 • Auditoria analítica: é o conjunto de procedimentos especializados para análise de relatórios, processos e documentos, visando avaliar se os serviços ou sistemas de saúde atendem às normas e padrões previamente definidos; • Auditoria operativa: é a verificação de processos e documentos comparados aos requisitos legais/normativos que regulamentam o SUS/Operadoras de Saúde (OPS) e as atividades relativas à área de saúde, por meio do exame direto dos fatos, documentos e situações; • Auditoria de gestão: atividades que abrangem áreas de controle, fiscalização orçamentária, financeira e contábil, avaliação técnica da atenção à saúde, avaliação de resultados e comprovação de qualidade; • Auditoria contábil: avaliação sistemática de transações, procedimentos, rotinas e demonstrações contábeis de uma entidade versus cumprimento de metas previstas em planos de saúde e/ou de trabalho, apuração de resultados, comprovação de qualidade, para o cumprimento das atividades de controle financeiro, contábil e patrimonial nas instituições. A auditoria ainda pode ser agrupada conforme a área: • Auditoria interna ou de 1ª parte: realizada por auditores habilitados da própria organização auditada, tendo como função examinar os controles e avaliar a eficiência e eficácia da gestão, melhorando os controles operacionais e a gestão de recursos; • Auditoria externa ou de 2ª parte: realizada por auditores ou empresa independente contratada para analisar as atividades e resultados de uma determinada organização ou sistema. • Auditoria de 3ª parte: avaliação aplicada por uma entidade certificadora Quando à execução, a auditoria pode ser classificada, conforme destacado abaixo: • Auditoria prospectiva ou auditoria prévia: possui caráter preventivo, procurando identificar situações de alarme para impedir problemas. Geralmente está ligada ao setor de liberação de procedimentos ou guias das operadoras de Planos de saúde; 6 • Auditoria concorrente: acontece durante um fato ou processo, para acompanhar a execução das atividades e garantir a qualidade do produto. É realizada quando o paciente ainda se encontra hospitalizado ou em atendimento ambulatorial. Pode ser feita de quatro maneiras: pela avaliação feita pelo paciente e sua família, verificando suas percepções acerca da assistência prestada; pela entrevista do funcionário após a prestação do cuidado, levando-o à reflexão; pelo exame do paciente e confronto com as necessidades levantadas e pela verificação do cumprimento das atividades a serem realizadas pelos profissionais; • Auditoria retrospectiva: avalia resultados e repara as falhas. Realizada após a alta do paciente. Dessa forma, o paciente que deixou o internamento não é beneficiado após a avaliação dos dados obtidos. Entretanto, o benefício se reverte de forma global aos demais. 7 AUDITORIA EM ENFERMAGEM O auditor em enfermagem possui como atribuição o controle do processo administrativo, averiguando se os resultados da assistência estão em conformidade com os objetivos. Entretanto, alguns autores definem a auditoria como um método de caráter gerencial, tendo como função a avaliação da qualidade do cuidado, de processos e de custos. MELO; VAITSMAN (2008), destacam que o enfermeiro auditor, executa todas as atividades de sua competência na auditoria conforme os aspectos técnicos, levando em conta às legislações vigentesdo Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, às Normas de Auditoria de Enfermagem, ao Código de Ética de Enfermagem e Legislação do Conselho Federal de Enfermagem, Conselho Regional de Enfermagem, lei 9.656/1998, Lei do Código de Defesa do Consumidor, contratos e coberturas contratuais, exclusões de cobertura e Tabelas contratuais, sempre sustentando os padrões de qualidade da instituição. Conforme a resolução-COFEN n° 266/2001 destacam-se algumas atividades privativas do enfermeiro auditor em exercício de sua função: • Organizar, dirigir, planejar, coordenar e avaliar, prestar consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre os serviços de auditoria de enfermagem; • Atuar na elaboração de medidas de prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados aos pacientes durante a assistência de enfermagem; • O enfermeiro auditor, segundo a autonomia legal conferida pela lei e decretos que tratam do exercício profissional de Enfermagem, para exercer sua função não depende da presença de outro profissional; • Possui o direito de visitar/entrevistar o paciente, com o objetivo de constatar sua satisfação com o serviço de Enfermagem prestado, bem como a qualidade desse serviço. Se necessário, deve acompanhar os procedimentos prestados no sentido de dirimir quaisquer dúvidas que possam interferir no seu relatório; 8 • Tem o direito de acessar, in loco, toda a documentação necessária, sendo-lhe vedado retirar da instituição os prontuários ou suas cópias; pode, também, se necessário, examinar o paciente, desde que autorizado por ele ou por seu representante legal; • Quando integrante de equipe multiprofissional, deve preservar sua autonomia, liberdade de trabalho, e sigilo profissional; bem como respeitar autonomia, liberdade de trabalho dos membros da equipe, respeitando a privacidade, e o sigilo profissional, salvo nos casos previstos em lei, que objetivem a garantia do bem estar do ser humano e a preservação da vida; • Quando em sua função, deve sempre respeitar os princípios profissionais, legais e éticos no cumprimento do seu dever. Como descrito na resolução acima, o trabalho do enfermeiro deve ser baseado na qualidade, o que torna estimável seu trabalho e direciona seus objetivos. Possibilitando que o enfermeiro consiga efetuar a auditoria da qualidade, levando em conta alguns indicadores, como por exemplo: As anotações de enfermagem, que devem ser claras, precisas, legíveis e descritas de forma a contar todos os procedimentos realizados ao paciente, intercorrências e queixas; O estado de saúde do paciente e o estado emocional de sua família; O processo de enfermagem, rotinas e descrição dos procedimentos; Protocolos, como os de troca de sonda/cateteres, diluição de medicamentos, preparo para exames, entre outros. 9 PRINCÍPIOS DIRETRIZES E REGRAS DA AUDITORIA DO SUS NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE O Sistema Nacional de Auditoria (SNA) do SUS foi criado no ano de 1993 através da Lei n.º 8.689 e regulamentado pelo Decreto n.º 1.651, de 1995. Este opera de modo descentralizado, de acordo com o que indica o mencionado Decreto, e, por consequência, contendo elementos em cada unidade federativa do Brasil. O Sistema é coordenado pelo DENASUS, órgão que integra a estrutura da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do SUS (SGEP), do Ministério da Saúde. Ademais, o Sistema é retratado, na esfera federal, pelo DENASUS e pelas Seções de Auditoria, localizadas em cada estado da Federação. A atividade de auditoria, realizada no cenário das unidades de auditoria do Ministério da Saúde, é essencial para a melhoria da qualidade das ações e dos serviços no SUS. Os relatórios realizados pelas auditorias concretizam-se em instrumentos empregados para identificar falhas e possibilidades de aperfeiçoamento na gestão do SUS, contanto que desenvolvidos analisando-se princípios, métodos e técnicas pertinentes. Em vista disso, instituem-se em um produto considerável, um instrumento informativo e construtivo, de alta credibilidade pública, reconhecidamente indispensável na tomada de decisões dos gestores de todas as esferas do SUS. De acordo com a Organização Internacional das Entidades Fiscalizadoras Superiores (INTOSAI), a auditoria é o análise das operações, atividades e sistemas de determinada instituição, com objetivo de verificar se são executados ou funcionam em conformidade com determinados objetivos, orçamentos, regras e normas. Podendo ser definida também como o processo de avaliação que objetiva emitir juízos acerca da concordância com critérios de auditoria. No ponto de vista apontado pelo SNA, a auditoria é um método de qualificação da gestão que possui como objetivo o fortalecimento do SUS, através de recomendações e orientações ao auditado, com intuito de garantir o acesso e à qualidade da atenção à saúde ofertada a população em geral. 10 Nessa coesão, o DENASUS efetivou um meio para realizar suas auditorias, definindo padrões, inclusive de conduta, com normas explícitas relacionadas à documentação que deve corroborar todo o processo de trabalho. Nesse sentido, compromissado em respaldar a gestão do SUS, o SNA demanda profissionais empenhando-se na lógica de um observatório social das questões da resolutividade do SUS, intencionando colaborar de fato para a estruturação do modelo de saúde voltado para qualidade de vida e cidadania. Dessa forma, as finalidades da auditoria do SUS baseiam-se em: • Aferir a observância dos padrões estabelecidos de qualidade, quantidade, custos e gastos da atenção à saúde. • Avaliar os elementos componentes dos processos da instituição, serviço ou sistema auditado, objetivando a melhoria dos procedimentos por meio da detecção de desvios dos padrões estabelecidos. • Conferir a qualidade, a propriedade e a efetividade dos serviços de saúde prestados à população. • Produzir informações para subsidiar o planejamento das ações que contribuam para o aperfeiçoamento do SUS. As auditorias, no âmbito do DENASUS e da SEAUD, são executadas por equipes dirigidas pelo coordenador e assistidas por um supervisor técnico. Sendo iniciadas por meio de demandas que podem ser de áreas técnicas do Ministério da Saúde, órgãos de controle interno e externo, entre outros. A demanda é analisada e origina à tarefa, que é a sua descrição em termos de instruções para orientar o trabalho da equipe de auditoria, podendo originar novas atividades semelhantes. Figura 1: Fases de uma auditoria no SNA Fonte: CGSNA, 2017 11 O processo de auditoria do SUS obedece à lógica representada na figura 1. Na fase analítica, os servidores devem idealizar seu trabalho para garantir que a auditoria seja realizada de maneira eficiente e eficaz. Nesta etapa, procura-se identificar e elaborar a atividade de auditoria, o que envolve assimilar os pontos significativos, as normas, os controles internos vigentes equivalentes ao período a ser examinado, os sistemas e os processos pertinentes, buscando as potenciais fontes de evidência de auditoria. O produto dessa fase é o Relatório Analítico, que possui um apanhado da coleta de dados a respeito do objeto que será auditado Na fase operativa ou in loco, os auditores necessitam realizar procedimentos de auditoria que viabilizem evidência considerável e adequada para servir de respaldo ao relatório de auditoria. Representa o trabalho de campo propriamente dito, sendo seu produto, o Relatório Preliminar, que retrata as averiguações da equipe de auditoria e se presta a fundamentar notificação do auditado acerca de seu conteúdo. Na fase de Relatório Final, os auditores avaliam a evidência da auditoria e extraem conclusões fundamentadas nos achados, exercendo seu julgamento profissional paraalcançar um desfecho sobre o objeto auditado, contrapondo as suas averiguações com as justificativas expostas, caso existam, com o intuito de expor orientações aos órgãos com competência para estabelece-las. Durante todas as etapas da auditoria do SUS, é imprescindível que todos os servidores atuantes procedam conforme os princípios éticos e profissionais na Administração Pública. Esta colocação, assim como assegurar a qualidade do trabalho efetuado, garante respeito e confiança no produto apontado. 12 GESTÃO DE QUALIDADE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE: O PAPEL DA AUDITORIA A palavra qualidade pode ser definida como um valor reputado por todos, no entanto conceituado diferenciadamente por distintos grupos da população. A qual retrata uma particularidade de produtos e serviços que atendem às demandas de quem os utiliza. Um produto ou serviço de qualidade atende impecavelmente, de maneira transparente, atingível, resguardada e no tempo correto, às demandas do cliente. O controle de qualidade, concentrados aos anseios e costumes dos consumidores, simultaneamente em que se inquieta com a ciência dos custos, intenciona precipitar-se aos defeitos e reclamações possíveis através da execução das atitudes fundamentais e eficientes para alcançar os padrões pretendidos. Com a modernização da produção industrial, a apreensão com a qualidade passa a participar de todo o processo de produção. GURGEL JUNIOR; VIEIRA (2002) destacam que a qualidade como objeto de atenção gerencial pode ser identificada desde os primórdios da atividade manufatureira, cujo objetivo era evitar falhas no processo de manufatura. No início do século 20, com a evolução das organizações manufatureiras para indústria e a produção em larga escala, houve enormes mudanças nos processos de trabalho, e elevação da produtividade. O uso intenso de máquinas para auxiliar a produção em massa e a forte preocupação com a uniformidade dos produtos deram origem à atividade de inspeção, posteriormente organizada sob forma de departamento no interior das fábricas. Sua responsabilidade consistia em inspecionar o produto final e separar os defeituosos, para evitar que sua comercialização comprometesse o nome da empresa no mercado Os autores supracitados ainda lecionam que pode-se caracterizar este período como a primeira fase do movimento da qualidade e o início da atividade voltada para este objetivo de forma científica e sistematizada, utilizando-se para isso, medidas e gabaritos com modelos padrões. A administração científica introduzida por Taylor e a criação de postos de inspetores de fábrica consolidam esta etapa nos anos 20 do século passado. 13 O controle de qualidade do produto final é a etapa seguinte deste processo, no qual o caráter científico foi oferecido por W. Shewhart. A influência da Segunda Guerra Mundial aumentou o requisito de qualidade e confiabilidade nos armamentos e a carência de porção maior de produtos. Esta situação repercutiu diretamente na redução do tempo à disposição para a inspeção final. Na década de 40, o controle de qualidade estava enraizado como uma disciplina acadêmica nos cursos de engenharia, estabelecendo uma nova etapa do processo. Nos anos 50 e 60 ocorreu uma considerável evolução no gerenciamento das empresas, especialmente, no Japão, instigadas pela demanda de restauração da economia japonesa pós Segunda Grande Guerra. Nesse período, expressaram-se quatro constituintes fundamentais no processo de evolução da qualidade: a Quantificação dos Custos da Qualidade, o Controle Total da Qualidade, a Engenharia da Confiabilidade e o Programa de Zero Defeito. Inicia-se, assim, a Era da Garantia da Qualidade. A Quantificação dos Custos da Qualidade foi primeiramente apresentada em 1951, por J. Juran. O qual debatia o problema dos custos da não-qualidade, ressaltando o quanto a instituição sofria prejuízos em consequência de falhas na produção, retratada pelo sobre trabalho e retrabalho, além da insatisfação dos clientes com os produtos de má qualidade. Já no ano de 1956, Armand Feigenbaum sugeriu uma definição mais desenvolvida, o Controle Total da Qualidade, baseando-se na condição que a qualidade do produto é escopo de todos na organização, desde a criação, até a chegada dos produtos às mãos dos clientes. A qualidade, no setor saúde, obteve um sentido característico e dissemelhante aos outros serviços, em razão do aspecto do método de trabalho realizado pelos trabalhadores da área. A qualidade pode ser delimitada, para isto, como uma série de propriedades que engloba um grau de excelência profissional, uso eficiente de recursos, mínimo risco ao usuário, alto grau de satisfação dos mesmos, levando em conta ainda os valores sociais vigentes. 14 TRONCHIN; MELLEIRO; TAKAHASHI (2010), destacam que a implementação de ações e programas com objetivo de garantir a qualidade é uma necessidade na busca de eficiência e um dever do ponto de vista ético e moral para os usuários e profissionais. Considera-se que a qualidade está fundamentada em sete pilares, sendo os seguintes: • EFICÁCIA – capacidade da arte e da ciência da Medicina produzirem melhorias na saúde e no bem-estar. Significa o melhor que se pode fazer nas condições mais favoráveis, dado o estado do paciente e mantidas constantes as demais circunstâncias. • EFETIVIDADE – melhoria na saúde, alcançada ou alcançável nas condições usuais da prática cotidiana. Ao definir e avaliar a qualidade, a efetividade pode ser mais precisamente especificada como sendo o grau em que o cuidado, cuja qualidade está sendo avaliada, alça-se ao nível de melhoria da saúde que os estudos de eficácia têm estabelecido como alcançáveis. • EFICIÊNCIA – é a medida do custo com o qual uma dada melhoria na saúde é alcançada. Se duas estratégias de cuidado são igualmente eficazes e efetivas, a mais eficiente é a de menor custo. • OTIMIZAÇÃO – torna-se relevante à medida que os efeitos do cuidado da saúde não são avaliados em forma absoluta, mas relativamente aos custos. Numa curva ideal, o processo de adicionar benefícios pode ser tão desproporcional aos custos acrescidos, que tais “adições” úteis perdem a razão de ser. • ACEITABILIDADE – sinônimo de adaptação do cuidado aos desejos, expectativas e valores dos pacientes e de suas famílias. Depende da efetividade, eficiência e otimização, além da acessibilidade do cuidado, das características da relação médico-paciente e das amenidades do cuidado. • LEGITIMIDADE – aceitabilidade do cuidado da forma em que é visto pela comunidade ou sociedade em geral. • EQUIDADE – princípio pelo qual se determina o que é justo ou razoável na distribuição do cuidado e de seus benefícios entre os 15 membros de uma população. A equidade é parte daquilo que torna o cuidado aceitável para os indivíduos e legítimo para a sociedade. Nos serviços de saúde, a qualidade carece ser salientada, sobretudo uma vez que o produto/serviço é consumido ao longo da sua produção, tornando-se distinto da produção de bens, no qual é inconcebível desassociar o produto com irregularidade, sem maiores repercussões. A qualidade da assistência pode ser indicada como o contentamento das carências dos clientes, tendo em conta que este necessitará ser o objeto central das técnicas na procura da qualidade, tal qual envolver-se efetivamente desse processo, no papel de avaliador das atitudes dos profissionais de saúde e dos resultados obtidos através do tratamento recebido. Ao abordar a qualidade em saúde pensando em Gestão da Qualidade Total, faz-se necessário avaliar a qualidade, a fim de perceber e julgar o serviço que está sendo oferecido pela instituição de saúde. 16 AVALIAÇÃO NOS SERVIÇOS DE SAÚDE TRONCHIN; MELLEIRO; TAKAHASHI (2010) lecionam que a avaliação nos serviçosde saúde vem sendo considerada como um processo de determinação da extensão com a qual as metas e objetivos estão sendo alcançados e de como esse processo fornece subsídios para uma tomada de decisão. Dessa maneira algumas estratégias podem ser empregadas para garantir a qualidade na prestação dos serviços. Avaliar é apresentar um valor obtido por meio de parecer exercido através de parâmetros anteriormente precisos, e que, na área da saúde, é entendida como uma estratégia técnico-administrativa designada à tomada de decisão. A avaliação consiste em um recurso sistemático e objetivo, que procura examinar a eficiência por meio de objetivos predeterminados, de forma a reorientá-la para o alcance de privilégios. No âmbito do setor público, a avaliação é a indicação quantitativa e qualitativa dos resultados obtidos pelo SUS no que diz respeito as metas definidas nos programas de saúde e na conformação aos parâmetros de qualidade, resolutividade, eficiência e eficácia determinados pelos órgãos competentes. Dedica-se ao estudo de estrutura, processos e resultados das ações, serviços e sistemas de saúde, com intuito de averiguar sua conformação aos critérios e parâmetros de eficácia, eficiência e efetividade estabelecidos para o Sistema de Saúde. A avaliação da qualidade em saúde é construída por meio de três dimensões: • Estrutura: implica as características relativamente estáveis das instituições, como: área física, recursos humanos, materiais, financeiros e modelo organizacional; • Processo: refere-se ao conjunto de atividades desenvolvidas na produção em geral e no setor saúde, nas relações estabelecidas entre os profissionais e os clientes, desde a busca pela assistência até o diagnóstico e o tratamento; 17 • Resultado: é a obtenção das características desejáveis dos produtos ou serviços, retratando os efeitos da assistência na saúde do cliente da população. A qualidade pode ser avaliada, por meio de instrumentos, como por exemplo, padrões, indicadores e critérios, observando as fases de identificação das necessidades e expectativas dos usuários, o estabelecimento de padrões assistenciais, a sistematização para o planejamento e implementação da assistência, a auditoria do processo assistencial e de recursos humanos, qualificados e comprometidos com o desenvolvimento das ações assistenciais por meio do que foi determinado pela organização. Padrão é uma medida quantitativa, apta a indicar a qualidade aspirada, e critério é uma propriedade de estrutura, de processo ou resultado, capacitada a orientar a determinação da qualidade; indicador, conforme a Joint Commission on Acreditation of Healthcare Organization (JCAHO), é uma grandeza quantitativa que pode ser utilizada como uma direção para supervisionar a qualidade assistencial e gerencial de determinado serviço. TRONCHIN; MELLEIRO; TAKAHASHI (2010), destacam que as instituições de saúde podem ser avaliadas de várias maneiras para cumprir a exigências legais, as condições de classificação de acordo a determinado critério ou as condições de qualidade. No sistema de saúde brasileiro existem pelo menos quatro categorias de avaliação: • Habilitação ou Alvará: avaliação executada pela autoridade sanitária jurisdicional, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária ou por entidade delegada para esse propósito; • Categorização: refere-se à classificação de unidades ambulatoriais ou de internação, de acordo com critérios determinados, como: graus de complexidade, de prevenção de riscos, de especialidades médicas e de outros serviços; • Programas de auto avaliação: métodos de monitoração, como reuniões anatomopatológicas, discussões de casos clínicos ou 18 revisões de prontuários, controle de infecção, morbidade, grau de satisfação individual e da família; • Acreditação: procedimento de avaliação dos recursos institucionais, periódico e reservado para o reconhecimento de padrões previamente definidos na estrutura, no processo e no resultado, com vistas a estimular e manter o desenvolvimento da cultura de qualidade. A definição de avaliação na área da saúde, especialmente no setor público, ocasionalmente possui sua concepção confundida com a noção de auditoria. As duas representam instrumentos utilizados visando a melhoria da qualidade de gestão, no entanto possuem conceitos diferentes. Diferenciando, avaliação possui como intuito a compreensão e descrição do serviço de saúde, determinando um parecer de valor, como evidenciado por diversos autores. Já a auditoria, em contrapartida, tem como objetivo verificar a concordância de serviço conforme as normas vigentes e com o planejamento e modelo de gestão da instituição. 19 AUDITORIA EM SAÚDE SUPLEMENTAR SANTOS; BARCELLOS (2009) lecionam que a auditoria dentro da saúde suplementar surge em meados da década de 1990 com o objetivo de economizar na assistência à saúde. Anteriormente, quando o Brasil tinha índices inflacionários altos, os reajustes mensais de preços eram a rotineiros e os planos de saúde mantinham excelente relacionamento com seus prestadores de serviço (médicos, laboratórios, hospitais, entre outros), pois obtinham lucros de capital no mercado financeiro. A partir da estabilização da moeda brasileira, começaram a auditar contas médicas e hospitalares com caráter restritivo, baseado em autorizações de internações hospitalares e suas necessidades, passando pela autorização de procedimentos em diagnose e terapia, órteses, próteses, materiais e medicamentos especiais. Por meio dessa postura do mercado das operadoras de saúde e seu impacto negativo perante clientes, o governo federal notou precisão de interferir e regular a saúde suplementar. Surgiu no ano de 1998, a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. As organizações que integram o setor de saúde suplementar necessitaram se adaptar e efetivar a regulamentação determinada. Para preservar posição competitiva no mercado, careceram se recompor e reconstruir, ocorrendo uma sucessão de modificações que propiciassem sua adequação aos novos processos de trabalho. SANTOS; BARCELLOS (2009) ainda destacam que ao fornecer conhecimentos acerca do verdadeiro estado da organização, a auditoria tornou- se facilitadora dessas mudanças, deixando de ser apenas um instrumento fiscalizador para promover a contenção de custos. Lançando mão das atividades de auditoria interna, a organização consegue alcançar os seus objetivos internos de custos, produtividade, qualidade e satisfação dos clientes. KOYAMA (2006) destaca que a auditoria não deveria ter somente foco no controle de custos e auditagem de despesas médicas, podendo executar um papel significativo de regulador entre a qualidade dos serviços prestados e seus respectivos custos, constituindo o fator que estabelece o equilíbrio. A participação da auditoria nas operações de uma operadora é imprescindível e 20 ocorre de diversas formas. Na maior parte delas, o auditor médico pode atuar sozinho, no entanto quando há sinergia entre os departamentos e a equipe de auditoria, os controles podem ser mais efetivos. No cenário da operadora de saúde, auditoria expressa a atuação de diversos profissionais, relacionada à múltipla aplicação de conhecimentos, experiências, e expertise de auditoria, em variados setores e departamentos operacionais da operadora. A formatação da operação ganha sinergia quando as informações médicas são partilhadas entre os setores, no entanto esta estruturação ainda intenciona sobretudo, o controle dos custos, à redução de sinistros, à identificação de abusos e fraudes, além de muitas das motivações das operadoras em realizar programas de medicina preventiva, gerenciamento de pacientes com doenças crônicas, e programas de prevenção primária, estão relacionadas com a questão mercadológica,a redução de custos assistenciais e a fidelização de clientes. É necessário destacar a necessidade de sistemas de software de apoio à auditoria para identificar desvios e abusos, coibir fraudes e desperdícios. Os profissionais podem pretender a efetuar procedimentos desnecessários ou de fácil execução, aos quais são remunerados por consumação. A auditoria pode também se constituir como um método para amparar o diagnóstico da rede prestadora, ponderando seus pontos fortes e fracos, possuindo como vantagens a transparência e a quantificação do desempenho da rede, apontando os reais problemas e servindo para o prestador como uma maneira de atesta resultados e o retorno do investimento da instituição. O auditor, por sua parte, possui a atribuição de aprimorar as formas de atendimento, providenciar os recursos de maneira técnica, conduzir a qualidade dos serviços ofertados e certificar a precisão na indicação de sua execução. 21 QUALIDADE DO CUIDADO: CONCEITO E DIMENSÕES A escolha do conceito de qualidade é importante, pois após sua definição será necessário definir os princípios da gestão da qualidade que definirão as características gerais e as formas de atuação da gestão da qualidade, a qual estará atrelada ao conceito escolhido de qualidade. Segundo PALADINI (2009), os princípios da gestão da qualidade devem ter estrutura consistente, solidamente embasada, já que serão adotados por todas as áreas e todos os setores, definirão todos os procedimentos e, enfim, terão impacto sobre todas as pessoas que atuam na organização. Por isso, a determinação de princípios é feita com base em referenciais cuidadosamente selecionados, que se constituem, em última análise, no conjunto de elementos utilizados para definir cada diretriz. No caso da gestão da qualidade, estes referenciais são os conceitos adotados para qualidade, ou seja, a forma como a organização escolheu para viabilizar a qualidade em processos e em produtos. O conceito de qualidade tem um caráter multidimensional e suas dimensões modificaram-se ao longo do tempo. Em parte, essas modificações espelharam a relevância de determinados problemas em conjunturas e/ou contextos específicos, como o acesso quando há barreiras ao uso dos serviços a serem conhecidas e removidas ou a segurança do paciente quando a magnitude de erros e riscos evitáveis é reconhecida. Nessa evolução, em 2001, o Institute of Medicine (IOM) publicou o relatório “Crossing the Quality Chasm: A New Health System for the 21st Century”, no qual reconheceu como metas para assegurar e melhorar a qualidade do cuidado em saúde as seguintes dimensões: efetividade, segurança, oportunidade, centralidade no paciente, eficiência e equidade. Essa formulação foi adotada por distintos países embora haja variação nas dimensões privilegiadas. O conceito de qualidade, segundo PALADINI (2009), pode ser listado e analisado em sete classificações, que dão suporte aos princípios de qualidade: I. Evolução do termo qualidade; II. A qualidade segundo o domínio público; 22 III. As concepções usuais da qualidade e suas decorrências; IV. Implicações gerenciais das múltiplas concepções da qualidade: as falhas, implicações gerenciais das múltiplas concepções da qualidade: as oportunidades; V. Criando um conceito estratégico para a qualidade; VI. Visão da qualidade: o consumidor. O conceito de qualidade muda ao longo do tempo, variando de acordo com os princípios organizacionais e sociais. Se a forma de conceituar qualidade muda com o passar do tempo, alteram-se, também, os princípios de operação das estruturas e a natureza das ações destinadas a viabilizar a opção pela qualidade. Assim, a gestão da qualidade deve criar, permanentemente, um ambiente compatível com os conceitos da qualidade hoje em vigor ou aqueles selecionados pela organização para nortear sua atuação (PALADINI, 2009). Conforme apresentado por PALADINI (2009), existem duas situações em que se observa com maior intensidade a mudança de conceitos da qualidade. Primeiro – Natureza: refere-se à natureza do conceito. Pode-se considerar, por exemplo, que a variedade de cores já foi considerada com qualidade do produto “tinta”. Hoje, tonalidades específicas, diferenciadas, ainda que em menor número, podem ser mais adequadas ao gosto do mercado. Segundo – Alcance: envolve o alcance do conceito. Tempos atrás, bom preço e boa qualidade eram características mutuamente exclusivas de um produto. Algo do tipo: o que é barato não presta; o que é bom é caro. Hoje, o preço é um item que diferencia o produto ante seus concorrentes. E ele é fixado, em boa medida, como decorrência dos esforços de gerar qualidade no processo produtivo, em ações que minimizem custos. No final do século passado, Avedis Donabedian estabeleceu como sete os atributos dos cuidados de saúde que definem a sua qualidade: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade 23 e equidade. Esses atributos ajudaram a compreender melhor o conceito de qualidade em saúde. No início deste século, o Instituto de Medicina (IOM) dos Estados Unidos da América (EUA) passou a incorporar “segurança do paciente” como um dos seis atributos da qualidade, com a efetividade, a centralidade no paciente, a oportunidade do cuidado, a eficiência e a equidade (HURTADO; SWIFT; CORRIGAN, 2001). O IOM define qualidade do cuidado como o grau com que os serviços de saúde, voltados para cuidar de pacientes individuais ou de populações, aumentam a chance de produzir os resultados desejados e são consistentes com o conhecimento profissional atual (CHASSIN et al., 1998). Figura 2: As definições dos atributos da qualidade No Brasil, o Projeto de Avaliação de Desempenho de Sistemas de Saúde (Proadess), criado com o objetivo de propor uma metodologia de avaliação de desempenho para o País, considerou a segurança como um atributo do cuidado em saúde com qualidade e apresenta definições e indicadores para cada dimensão (PROQUALIS, s.d.). 24 SEGURANÇA DO PACIENTE A segurança como dimensão da qualidade teve destaque no Relatório do Institute of Medicine (IOM). Este documento foi publicado 15 meses após a publicação pelo mesmo Instituto, do relatório “To Err is Human” que revelou que anualmente dezenas de milhares de pacientes morrem em decorrência de erros no cuidado de saúde. No geral, qualidade aborda os resultados esperados com os sistemas de saúde, enquanto a segurança tem como foco as diversas possibilidades de falha no funcionamento de um sistema, que obrigatoriamente são maiores do que os modos de funcionamento aceitáveis. A questão do dano ao paciente já estava presente no conceito de qualidade de Avedis Donabedian: cuidado de boa qualidade é aquele que proporciona ao paciente o máximo e mais completo bem estar, após ter sido considerado o equilíbrio previsto entre ganhos (benefícios) e perdas (danos) que acompanham o processo de cuidado, em toda a sua extensão. Mais recentemente, VINCENT; BURNETT; CARTHEY (2013) destacaram que os sistemas de saúde devem se orientar para prestar cuidado de saúde a um grande número de pessoas, a um custo aceitável e de modo seguro. Qualidade, segurança e custo são elementos que não devem ser considerados isoladamente. Há na literatura duas principais abordagens da relação entre qualidade do cuidado e segurança do paciente: na primeira, como na abordagem adotada pelo IOM, a segurança do paciente é tratada como dimensão da qualidade do cuidado enquanto na segunda, a segurança é tomada como um constructo em si independente da qualidade ou mesmo incluindo esta como dimensão. VINCENT; BURNETT; CARTHEY (2013), argumentam que, em várias circunstâncias, qualidade e segurança não têm como serem distinguidas. Apresentam a abordagem adotada por BROWN etal. (2008) que distinguem qualidade e segurança segundo a força da associação causal e a proximidade temporal com o dano no paciente. Aqueles problemas que causam danos permanentes e que estão claramente associados a uma falha no processo de cuidado são considerados 25 questões de segurança (por exemplo, injeção intratecal de vincristina), enquanto falhas no processo de cuidado cujo resultado no paciente é menos óbvio (por exemplo, falha em prescrever betabloqueador para pacientes que tiveram infarto agudo do miocárdio) são consideradas como questões de qualidade. A crescente preocupação com a segurança do paciente levou à criação pela OMS da Classificação Internacional de Segurança do Paciente (International Classification for Patient Safety - ICPS) publicada em 2009. Os principais conceitos da ICPS e suas definições são apresentados. A tradução para o português foi realizada pelo Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado e a Segurança do Paciente (PROQUALIS) em 2010. O conceito de incidente é central nesta taxonomia. Incidente relacionado ao cuidado de saúde é um evento ou circunstância que poderia ter resultado, ou resultou, em dano desnecessário ao paciente. Os incidentes classificam-se como: Incidente que não atingiu o paciente (near miss) – por exemplo, uma unidade de sangue é conectada ao paciente de forma errada, mas o erro é detectado antes do início da transfusão. Incidente sem dano ao paciente – evento que atingiu o paciente, mas não causou dano discernível, como, por exemplo, a unidade de sangue acabou sendo transfundida para o paciente, mas não houve qualquer reação. Incidente com dano ao paciente (evento adverso) – por exemplo, é feita infusão da unidade errada de sangue no paciente e este morre por reação hemolítica. Erro é uma falha em executar um plano de ação como pretendido (por exemplo, falha na administração de um medicamento) ou a aplicação de um plano incorreto (por exemplo, erro diagnóstico). Os erros podem ocorrer por ação (ato de fazer algo errado) ou por omissão 26 (ato de falhar em fazer a coisa certa) na fase de planejamento ou na fase de execução do plano. Erros são, por definição, não intencionais, enquanto violações são atos intencionais, embora no caso do cuidado de saúde sejam raramente maliciosas, que podem se tornar rotineiras e automáticas em certos contextos. Um exemplo de violação "rotineira" é a não adesão à higienização das mãos por profissionais de saúde. REASON (2003) definiu que o termo erro só pode ser aplicado às ações em que o indivíduo tem a intenção de realizar a tarefa a contento. Ele acrescenta que os tipos de erro dependem de duas espécies de falhas: A primeira delas envolve falha na execução das ações que caminham de acordo com a intenção pretendida, são os lapsos (lapses) e os deslizes (slips). A segunda diz respeito à falha no planejamento/planeamento das ações intencionais para alcançar os resultados desejados, são os enganos (mistakes). Quando os erros não são corrigidos, por repetição e/ou revisão, dentro do nível em que ele ocorre, é necessário buscar recursos no nível seguinte para reordenar todo o processo de execução da tarefa. REASON (2003) menciona que a passagem do nível baseado nas normas para o nível baseado no conhecimento possui fatores determinantes menos distintos, e os fatores emocionais provavelmente desempenham aspecto importante. James Reason, por ter genuína preocupação com a aplicação prática da teoria e conceitos por ele formulados, sustenta que há, ainda, um vasto campo para argumentação e aprofundamento sobre o tema. Em sua face prática, o autor propõe duas formas de abordagem do erro: a individual e a sistêmica. A primeira – abordagem individual – se detém em atos inseguros dos indivíduos que trabalham na ponta do sistema, ou seja, nos erros e violações de procedimentos adotados por pilotos de avião, controladores de voo, médicos, enfermeiras, cirurgiões e outros a 27 partir de um processo mental fora do padrão desejável para a tarefa, tais como: esquecimento, desatenção, descuido, pouca motivação, negligência e imprudência. A abordagem sistêmica tem como premissa básica a falibilidade dos seres humanos e, portanto, erros são esperados mesmo nas organizações de excelência. Essa abordagem não enfatiza a perversidade humana, nem a culpabilização e a responsabilização do indivíduo como única causa do erro. Aspectos morais também são colocados em segundo plano. REASON (2003) assume a premissa de que não se pode mudar a natureza humana, mas é possível mudar as condições em que os indivíduos trabalham. Os sistemas de defesa são o eixo dessa abordagem. Na ocorrência do erro, a questão importante é identificar como e porque as defesas falharam. REASON (2000) propõe o Modelo do Queijo Suíço no sistema de acidentes – também chamado modelo epidemiológico –, apresentado na Figura 2, que se adéqua especialmente aos sistemas de alta tecnologia por terem várias barreiras ou camadas defensivas. Algumas são construídas como alarmes, umas são focadas nos indivíduos que trabalham nas ações finalistas ou de ponta (cirurgiões, pilotos etc.), e outras dependem de procedimentos e dos controles gerenciais. Sua função é proteger. Figura 3: Modelo de queijo suíço com defesas e barreiras que podem ser penetradas pela trajetória de um acidente 28 Na prática, as barreiras defensivas são como fatias de queijo suíço, pois apresentam muitos furos. Somente quando os furos, nas várias camadas defensivas, estão momentaneamente dispostos em uma mesma linha, permite-se que a trajetória do acidente venha a ocorrer. Os “furos” nas camadas de defesa sucedem em função de erros ativos e de erros latentes. Diferenciar erros ativos e latentes permite a distinção da contribuição humana na ocorrência dos acidentes. Os erros latentes, inevitáveis dentro do sistema, são gerados por decisões tomadas pelos responsáveis pelo desenho de seu funcionamento. Esse fato possibilita a ocorrência de dois tipos de efeitos diversos: Aqueles que podem provocar erro no ambiente de trabalho como: equipamento inadequado, fadiga e inexperiência do profissional que cuida; Aqueles que podem criar fragilidades e lacunas no sistema e se mantêm por longos períodos, tais como: alarmes e indicadores que não são fidedignos, desenho e construção de processos de trabalho deficientes etc. Condições latentes podem permanecer imperceptíveis por anos a fio até que se combine com um erro ativo no sistema, de modo a criar uma oportunidade de acidente. Nesse caso, são acidentes de grande monta, como acidentes aéreos, vazamentos em usinas nucleares etc. Diferentemente do erro ativo, os erros ou condições latentes podem ser remediados e/ou identificados antes que o acidente ocorra. Ao advogar pela abordagem sistêmica como forma de prevenir o erro, Reason propõe ações pautadas em distintos objetos: no indivíduo, na equipe, na tarefa, no local de trabalho e na organização em sua totalidade. A criação e manutenção de um sistema resiliente é o principal objetivo. 29 A IMPORTÂNCIA EM AVALIAR A FREQUÊNCIA E TIPO- LOGIA DOS EVENTOS ADVERSOS Uma vez definida a ocorrência de um incidente é útil determinar se esse constituiu um EA, ou seja, se ocorreu dano no paciente causado pelos cuidados de saúde, ou se foi suficientemente grave para prolongar o tempo de interna- mento/internação ou causar algum grau de incapacidade temporária ou perma- nente (BAKER et al., 2004). Nos últimos 25 anos, realizaram-se, em vários países do mundo, diversos estudos sobre a frequência e a natureza dos EAs em pacientes internados em hospitais utilizando diferentes metodologias. Em sua maioria, foram estudos de incidência e de prevalência, baseados em informação contida nosprocessos clí- nicos/prontuários, cujos resultados têm possibilitado conhecer a dimensão do problema e desenvolver soluções para sua prevenção (BAKER et al., 2004; SOUSA, 2006; ZEGERS, 2009; ARANAZ--ANDRÉSET et al., 2008; WILSON et al., 2012). Na última década, começaram a ser dados os primeiros passos no sentido de reunir todo o conjunto de evidências de vários estudos realizados no campo dos cuidados primários, com o objetivo de definir prioridades a partir da frequên- cia e tipologias dos erros e dos EAs. Estudos que incidam na frequência, tipolo- gia ou impacte dos EAs nos cuidados de saúde continuados, de forma geral, têm sido muito residuais. Apresenta-se como exceção o investimento feito pelos pa- íses do norte da Europa (Suécia, Dinamarca, Noruega, por exemplo), que sem- pre dedicaram particular atenção a essa área (long term care; home care). A visibilidade desses resultados é diminuta (face ao seu interesse), pois, na maio- ria dos casos, esses estudos não foram publicados em revistas internacionais (em língua inglesa). Para aprofundar mais esse tema, sugere-se o recente artigo de Sears e colaboradores (SEARS et al., 2013). Para conhecer a frequência de EAs ocorridos, podemos recorrer a dife- rentes fontes de informação, nomeadamente: dados administrativos; procedi- mentos efetuados; registos de morbilidade/morbidade e mortalidade; reclama- ções dos pacientes e processos litigiosos referentes a queixas de má prática. Essa informação é dependente da qualidade dos registos, da limitada abrangência da codificação de diagnósticos relacionados com a iatrogenia e da 30 percepção do erro pelos pacientes no caso das reclamações. Quando são reu- nidos, apresentam habitualmente números inferiores aos obtidos por outras me- todologias mais específicas, como a revisão de processos clínicos/prontuários, os sistemas de notificação voluntária de incidentes ou os estudos observacionais prospetivos. A observação direta da prestação dos cuidados de saúde é um dos méto- dos utilizados para identificar os erros ativos, pois se refere a um conjunto de técnicas de observação em tempo real de todos os aspetos do processo de pres- tação de cuidados ao paciente (LÉPÉE et al., 2012; WALLACE et al., 2013). A observação direta é considerada uma metodologia inadequada para identificar erros latentes e apresenta algumas limitações práticas e metodológi- cas, nomeadamente, a dificuldade em respeitar a confidencialidade implícita na prestação dos cuidados, uma vez que esses dados podem ser utilizados pelos supervisores a fim de punir os prestadores de cuidados de saúde. Esse processo de observação dos cuidados de saúde requer um observador experiente e bas- tante treinado para assegurar a precisão dos dados obtidos, o que normalmente corresponde a um processo dispendioso. Outra das limitações associadas ao método de observação direta é o en- viesamento dos dados em razão da sobrecarga de informação disponível du- rante o processo de observação e da dificuldade normalmente sentida pelo ob- servador em se distanciar dos resultados e consequências da prestação de cui- dados ao paciente (MORGAN et al., 2013). A análise de reclamações por má prática clínica é um dos métodos utilizados na avaliação dos EAs em hospitais (WALLACE et al., 2013). 31 CULTURA DE SEGURANÇA DO PACIENTE A cultura de segurança é um elemento chave para enfrentar e delinear esforços direcionados à prestação de um cuidado de saúde mais seguro e, portanto conformar organizações de saúde que sejam seguras e confiáveis. A literatura salienta que a cultura de segurança representa um dos aspectos da cultura organizacional, constructo este que engloba outras dimensões e aspectos. Cultura de segurança está calcada na abordagem de sistema para identificação dos fatores contribuintes da segurança nas organizações. O conceito de cultura de segurança tem origem nas HRO. Nas organizações de saúde, o compromisso com a cultura de segurança está calcado em quatro princípios fundamentais: I. Reconhecimento do alto risco inerente às atividades da organização de saúde e determinação em agir na realização das tarefas de forma consistentemente segura; II. Promoção de um ambiente livre de culpa, no qual os indivíduos são capazes de notificar erros ou incidentes sem medo de reprimenda ou punição; III. Estímulo à colaboração entre equipes de trabalho e disciplinas para buscar soluções para os problemas de segurança do paciente; IV. Destinação de recursos da organização para responder às preocupações de segurança. Cultura de segurança do paciente refere-se aos valores, crenças, normas e procedimentos compartilhados pelos membros de uma organização, unidade ou equipe. A Health and Safety Commission do Reino Unido define cultura de segurança como “o produto de valores, atitudes, percepções, competências e padrões de comportamento dos indivíduos e dos grupos que determina o compromisso, e o estilo e a proficiência da gerência com a saúde e a segurança da organização" (tradução livre dos autores). A cultura influenciará as atitudes, comportamentos e aprendizados dos profissionais e também a prioridade dada pela organização à segurança do paciente frente a outras 32 dimensões da qualidade e do desempenho. A cultura de segurança estimula e motiva a adoção de comportamentos seguros na prática diária. Vale destacar que os termos cultura de segurança do paciente e clima de segurança do paciente são utilizados como sinônimos, embora conceitualmente e metodologicamente apresentem diferenças. Dada à complexidade e natureza do trabalho e do produto das organizações de saúde, o reconhecimento das falhas, erros e da magnitude dos resultados adversos para os pacientes e profissionais esbarra na barreira da culpabilidade e responsabilização do indivíduo. São essas as barreiras que a cultura de segurança do paciente busca modificar. Ou seja, transformar a cultura da culpabilidade em uma cultura focada no aprendizado a partir dos erros, baseada no compartilhamento de informações estratégicas para a melhoria da qualidade do cuidado e da segurança do paciente. Embora as organizações de saúde sejam definidas como organizações profissionais altamente especializadas e calcadas na autonomia e competência de seu corpo profissional, é fundamental reconhecer a falibilidade humana e a interdependência dos processos. Nessa perspectiva, conhecer os erros que ocorrem no ambiente de trabalho e identificar alterações no desenho dos sistemas operantes para prestação de cuidados de saúde, a fim de preveni-los é crucial; mas tampouco trivial nem passível de obter resultados em curto prazo, pois exige o engajamento contínuo de todos os membros da organização. Nesta abordagem, a ergonomia tem muito a contribuir. Ergonomia ou Fator Humano é a disciplina científica que busca a compreensão das interações entre os seres humanos entre si e com outros elementos de um sistema. Aplicam princípios teóricos, medidas e métodos para projetar modos de aperfeiçoar o bem estar do ser humano e o desempenho global do sistema. Conta com três domínios de especialização: ergonomia física preocupa-se com as características anatômicas, antropométricas, fisiológicas e biomecânicas relativas às atividades físicas; ergonomia cognitiva preocupa-se com os processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora, 33 uma vez que afetam as interações entre os humanos e outros elementos do sistema; e ergonomia organizacional, preocupa-se com a otimização dos sistemas sócio técnicos, incluindo estruturas, políticas e processos organizacionais. A cultura, a gestão da qualidade, o trabalho em equipe, entre outros são objetos de estudo e da prática da ergonomia organizacional. O conceito de cultura justa foi introduzido por Marx. A culturajusta reconhece que os profissionais competentes cometem erros e que mesmo os profissionais competentes irão desenvolver comportamentos prejudiciais (como deslizes, violações a regras ou rotinas), porém têm tolerância zero para o comportamento imprudente. A cultura justa busca um equilíbrio entre a não responsabilização dos indivíduos por falhas do sistema sobre as quais eles não têm controle, mas reconhece a responsabilidade do indivíduo e, portanto, não é tolerante com desrespeito consciente de riscos claros para os pacientes ou falta grave. O Protocolo de Londres, citado anteriormente, reconhece que existem situações nas quais os indivíduos devem ser responsabilizados pelo incidente, mas também propõe uma análise do sistema como um todo de modo a garantir uma cultura mais aberta e justa. Nessa perspectiva, a cultura de segurança efetiva tem sido descrita como aquela em que há um compromisso compartilhado dos profissionais em assumir a segurança como principal prioridade, em que o engajamento com comportamentos promotores de segurança é encorajado pelos líderes e pelos pares e no qual as falhas e incidentes que não atingem o paciente (near misses) são valorizados como oportunidades de aprendizado e melhoria. As intervenções para promover a cultura de segurança do paciente são comparativamente menos delimitadas que outras Prática de segurança do paciente (PSP). Intervenções múltiplas, ou abordagens multicomponentes, são as modalidades mais utilizadas para solidificar a cultura de segurança. As ações preponderantemente empregadas pelas organizações de saúde com esta finalidade estão relacionadas ao treinamento da equipe e às ferramentas de comunicação com forte 34 engajamento das altas lideranças da área, trabalho em equipe e mudança comportamental. Análoga a outras PSP, a mensuração do estado inicial e posterior a uma intervenção, o monitoramento da evolução e dos resultados e a devolução de informações (feedback) são etapas essenciais para promover e fortalecer a cultura de segurança nas organizações de saúde. Em revisão sistemática feita por WEAVER et al., que incluiu 33 estudos que avaliaram intervenções para promover a cultura de segurança em organizações hospitalares, identificou-se que os instrumentos de mensuração da cultura/clima de segurança do paciente validados mais empregados foram: Safety Attitudes Questionaire (SAQ), AHRQ Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPS) e Patient Safety Climate in Healthcare Organization Survey (SCS). Os questionários de cultura de segurança medem esta cultura em um momento determinado no tempo. Utilizam o termo clima de segurança para indicar esta fotografia, que representa a superfície da cultura. Estes questionários são utilizados para conhecer a percepção dos funcionários diretamente envolvidos no cuidado ao paciente sobre a cultura/clima de segurança do paciente na organização em que trabalham. Em consonância com os achados desta revisão, que destacou que a maioria dos estudos adotou como desenho o delineamento pré- pós-intervenção, esses questionários, em geral são aplicados com a finalidade de conhecer o nível da cultura no estágio inicial e em distintos momentos do tempo posterior a realização de uma determinada intervenção. Vale destacar que tanto o SAQ como o HSOPS já foram utilizados no contexto brasileiro, sobre o SCS até o presente momento não foram identificadas experiências ou estudos. A cultura de segurança aparece relacionada ao comportamento do corpo clínico em termos de notificação de erros e incidentes, redução de eventos adversos e mortalidade. A revisão sistemática acima referida destacou haver resultados de estudos indicando associação entre cultura e prática de cuidado seguro (como notificação de erro e incidentes); entre cultura de segurança do paciente e resultados para o 35 paciente (redução de eventos adversos e mortalidade) e entre cultura e indicadores de segurança do paciente desenvolvidos pela AHRQ. Destacaram ainda que cultura pode influenciar até 6% da variação da ocorrência de eventos adversos e 18% da variação da disposição do paciente em recomendar um hospital para a família ou amigos. Os principais elementos de uma cultura de segurança são: Comunicação aberta e frequente; Equipes multidisciplinares de excelência; Cultura justa (compreensão de erros do sistema versus erros individuais); Sistema de notificação de incidentes robusto que feche o ciclo (close the loop); Prática de recursos humanos que apoia a cultura da segurança; Liderança: Foco nos eventos que nunca devem ocorrer (never events); Disposição para enfrentar o mau comportamento; Responsabilização para melhoria e segurança em todos os níveis; Mensuração. Em resumo, a cultura de segurança do paciente é destacada como importante para compreender questões de segurança, qualidade do cuidado, erro e melhoria de processo. Melhorias na qualidade do cuidado e da segurança passam também por estimular uma cultura mais aberta e atitudes reflexivas face aos erros e aos eventos adversos. Um elemento fundamental é o reconhecimento da falibilidade das pessoas e seus atos. Este representa um ponto de tensão com profissionais de saúde diretamente envolvidos no cuidado, que tomam decisões cruciais frente aos problemas de saúde do paciente, cujos resultados finais dependem dessas decisões e de sua execução. Especialistas acreditam que a comunicação completa dos eventos adversos sem culpa, levaria à redução de erros. Além disso, sublinha-se 36 que organizações com uma cultura de segurança positiva são caracterizadas pela comunicação baseada na confiança mútua, nas percepções partilhadas da importância da segurança e na certeza da importância das medidas preventivas. Na discussão sobre a cultura de segurança do paciente ainda há importantes lacunas para a sua promoção, assim como sobre a sua influência como elemento de contexto na implementação e efetividade das demais PSP. 37 PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE O conhecimento na área da segurança do paciente vem crescendo e adquirindo consistência. Em decorrência da sensibilidade ao tema e da magnitude dos problemas relacionados à segurança do paciente, pode-se constatar que desde o início dessa área de estudo sempre houve a preocupação em tentar transpor os conhecimentos adquiridos para a prática dos serviços de saúde. Este relatório apresenta informações sobre duas iniciativas relevantes: as Soluções para a Segurança do Paciente da OMS (2007), pela sua abrangência; e as Práticas de Segurança do Paciente (PSP) da AHRQ (2013), pela robustez da metodologia científica e pela atualidade das evidências apresentadas. O resumo das soluções da OMS e das 10 PSP fortemente recomendadas pelo documento da AHRQ objetiva, nesta parte do relatório, fornecer subsídios para a formulação de políticas de segurança em nosso país, aplicáveis e recomendáveis tanto no nível da organização de saúde como no nível do sistema de saúde. Em 2007, a OMS lançou as Soluções para Segurança do Paciente, um conjunto de intervenções que visam à prevenção e à redução do risco de dano aos pacientes. O principal objetivo destas soluções é orientar o redesenho dos processos de cuidado de forma a evitar que erros possam causar danos aos pacientes. O resumo das soluções apresentado abaixo foi traduzido pelo Proqualis: 1. Gerenciar medicamentos com aparência ou com nomes parecidos (“Look- Alike, Sound-Alike Medication Names”) Uma causa comum de erro de medicação é a confusão gerada por medicamentos com nomes parecidos e/ou embalagens com aparência semelhante. Em mais de cinco mil casos de erros de medicação relatados nos Estados Unidos na década de 1990, 16% foram devidos àadministração de medicação errada. Além de recomendações para minimizar a confusão dos nomes dos medicamentos, é de suma importância a educação e o treinamento dos profissionais para reduzir o risco de erro. 38 2. Identificar o paciente (“Patient Identification”) As falhas na correta identificação do paciente levam com freqüência a erros de medicação, de transfusão de hemoderivados, à realização de procedimentos no paciente errado e a alta de bebês com a família errada. Para minimizar esse problema devem ser utilizadas estratégias e intervenções simples para identificação dos pacientes ou dos bebês. 3. Promover comunicação adequada durante a transferência de responsabilidade do paciente (“Communication During Patient Hand- Overs”) A complexidade envolvida no cuidado ao paciente, seja pela incorporação tecnológica, seja pelas características e gravidade do quadro clínico dos pacientes, requer não só uma abordagem multiprofissional e interdisciplinar, mas também uma participação efetiva dos próprios pacientes e seus familiares. Dessa forma, a adequada comunicação torna-se fundamental para evitar problemas que podem resultar em sérios danos, por causarem descontinuidade no cuidado e até tratamento inadequado. 4. Realizar o procedimento correto na parte correta do corpo (“Performance of Correct Procedure at Correct Body Site”) Os casos de procedimentos ou cirurgias na parte errada do corpo ocorrem e são considerados totalmente evitáveis. Resultam de falhas de comunicação e informação, além da falta de padronização nos procedimentos. A principal estratégia para reduzir as ocorrências de dano aos pacientes relacionados à cirurgia é a implantação do uso de uma Lista de Verificação (checklist), preparada por especialistas para auxiliar as equipes cirúrgicas. A lista padroniza os itens a serem garantidos nas seguintes etapas: antes da indução anestésica, antes da incisão na pele e antes do paciente sair da sala cirúrgica. Para que obtenha êxito, essa solução requer o engajamento da liderança gerencial e clínica, além dos profissionais envolvidos no cuidado. O Brasil tornou-se signatário dessa estratégia da OMS em 2008. 39 5. Controlar as soluções eletrolíticas concentradas (“Assuring Medication Accuracy at Transitions in Care”) As soluções eletrolíticas concentradas merecem especial atenção devido à sua grande utilização e ao alto risco de dano ao paciente, inclusive morte, associado ao uso inadequado. Devem, portanto, ser armazenadas e manipuladas de forma controlada e segura. 6. Garantir a adequação da medicação em todo o processo de cuidado (“Avoiding Catheter and Tubing Mis-Connections”) Erros de medicação são uma das causas mais frequentes de incidentes que levam ao dano ou à morte de pacientes. Esses erros são mais comuns nos momentos de transferência da responsabilidade pelo paciente, principalmente na alta hospitalar. Em alguns países 67% das prescrições contém algum erro, sendo que 46% dos erros de medicação ocorrem na admissão ou na alta. Deve ser constituído um processo para prover medicamentos corretos aos pacientes em todos os momentos do cuidado de saúde. 7. Evitar conexão errada de cateter e de tubo endotraqueal (“Avoiding Catheter and Tubing Mis-Connections”) A conexão inadequada de tubos, seringas e cateteres leva ao extravasamento de fluidos e medicamentos e provoca sérios danos aos pacientes, tais como flebite e necrose que ocorrem, por exemplo, quando quimioterápicos são aplicados fora do vaso sanguíneo. Também tem sido relatada morte de pacientes por administração de fluidos orais por via intravenosa. Para minimizar esse problema, os dispositivos devem ter forma padronizada a fim de garantir a impossibilidade de encaixe inadequado. Também é de suma importância que seja garantido o adequado manuseio por parte dos profissionais e o adequado posicionamento do paciente. 40 8. Usar dispositivo para injeção uma única vez (“Single Use of Injection Devices”) A reutilização de seringas e agulhas contribui significativamente para a transmissão dos vírus da AIDS e das hepatites B e C. Estima-se que em 2000, nos países em desenvolvimento, 250 mil casos de infecção pelo HIV (5% do total), 22 milhões de casos novos de hepatite B (um terço do total) e 2 milhões de hepatite C (40% do total) foram decorrentes de reutilização desses dispositivos. Dessa forma, a solução proposta é usar uma única vez seringas e agulhas. 9. Melhorar a higiene das mãos para prevenir infecções associadas ao cuidado de saúde (“Improved Hand Hygiene to Prevent Health Care- Associated Infections”) A higienização adequada das mãos é a medida mais importante, e reconhecida há muitos anos, para prevenir e controlar infecções nos serviços de saúde. Apesar da reconhecida importância, as taxas de infecção variam de 5% a 20%. O desafio constante é colocar em prática os procedimentos que garantem a adequada higienização das mãos. Este é o alvo da campanha da OMS “Salve vidas: higienize suas mãos”, que visa promover o incentivo e a sensibilização dos profissionais para a adesão à prática da higienização das mãos de forma constante e rotineira. O Brasil é signatário dessa estratégia da OMS. Além das soluções para segurança do paciente, o documento do Proqualis aborda outros cinco tópicos fundamentais: 1º. Prevenir queda do paciente (“Prevention of patient falls”) Alguns fatores predispõem ao risco para queda do paciente, sejam estes inerentes aos pacientes, ambientais, educacionais ou culturais. Além de avaliar os riscos tanto dos pacientes, quanto ambientais, deve-se instituir procedimentos para a sua prevenção. 41 2º. Prevenir úlcera de pressão (“Prevention of pressure ulcers”) A literatura internacional estima uma prevalência de úlceras de pressão (escaras ou úlceras de decúbito) entre 3% a 30% dos pacientes internados. Em pacientes paraplégicos ou tetraplégicos e em idosos com fratura de colo de fêmur esse percentual pode chegar a 60%. A prevenção de lesão de pele requer a avaliação do risco de desenvolver úlceras de pressão além de métodos preventivos. 3º. Responder à deterioração do quadro do paciente (“Response to the deteriorating patient”) Apesar dos avanços tecnológicos, do aperfeiçoamento e treinamento dos profissionais para o atendimento à parada cardiorrespiratória (PCR), não tem havido mudança nos dados de sobrevida pós-PCR nos hospitais. A taxa de mortalidade hospitalar pós-PCR permanece em torno de 16%. Algumas estratégias devem ser implementadas para enfrentamento da situação, das quais faz parte a criação de uma Equipe de Resposta Rápida (ERR) Trata-se de uma equipe de profissionais da saúde, liderada por um médico, com o objetivo de realizar intervenções rápidas em pacientes com sinais de deterioração clínica. 4º. Comunicar resultados críticos de exames (“Communication of critical test results”) O atraso no conhecimento de um resultado crítico de exame pode resultar em sério dano ao paciente. Por isso, devem ser criados mecanismos que permitam a comunicação de resultados críticos de exames em tempo hábil e de forma clara. 5º. Prevenir infecção da corrente sanguínea associada a cateterismo central (“Prevention of bloodstream infections associated with central lines”) Infecções de corrente sanguínea relacionadas ao uso de cateter têm alta prevalência, alta letalidade e alto custo. Nos EUA estimam-se 80.000 infecções por ano que levam a 28.000 mortes em terapia intensiva. Cada caso custa cerca de 45.000 mil dólares, o que leva a um gasto anual de mais de 2 bilhões de 42 dólares. Ações baseadas em evidências científicas devem ser implementadas para minimizar o problema. REFERÊNCIAS ______. Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Regula o processoadministra- tivo no âmbito da Administração Pública Federal. ______. Tribunal de Contas da União. ISSAI 100: princípios fundamentais de Auditoria do setor público (INTOSAI 100). Brasília, 2017 ADAMI, N. P; MARANHÃO, A. M. S.A. Qualidade dos serviços de saúde: con- ceitos e métodos avaliativos. Rev Acta Paul Enferm. 1995; 8(4):47-55. ALBERTON, L. Uma contribuição para a formação de auditores contábeis independentes na perspectiva comportamental [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2002. ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 5ª ed. São Paulo: Atlas; 1996. ANTUNES, G. 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