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PSICOLOGIA E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA Alex Ribeiro Nunes Atendimento educacional especializado: discutindo legislações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância das legislações no espaço escolar. Diferenciar os tipos de legislação que regulam o ambiente escolar. Analisar a Resolução nº. 04/2009. Introdução O acolhimento e a inclusão escolar de alunos com deficiências, transtor- nos globais de desenvolvimento ou altas habilidades estão ocupando cada vez mais a pauta de importantes debates no cenário brasileiro. Portanto, têm surgido documentos e acordos que legitimam as ações de apoio a essas pessoas. Esse processo de discussão sobre a inclusão representa uma possibilidade de tornar as instituições escolares ambientes abertos à diversidade, nos quais os indivíduos tenham as suas diferenças sociais, culturais e pedagógicas respeitadas. A partir dessa perspectiva, é importante perceber que a escola ocupa um lugar central na vida de crianças, jovens e adolescentes, podendo garantir acesso às informa- ções e propostas inclusivas e, ainda, promover uma atitude reflexiva, crítica e responsável. Nesse cenário, é preciso reconhecer e fazer valer as leis que asseguram o direito das pessoas com deficiência, bem como compreender a Resolução nº. 04/2009, que institui diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado (AEE) na educação básica, na modalidade educação especial. É necessário ir além da inserção desses alunos, não se restringindo à socialização ou passividade nas relações pedagógicas. Assim, os sistemas de ensino devem responder às necessidades educacionais específicas dos alunos, de maneira a promover a igualdade de direitos e de oportu- nidades. Logo, há urgência em pensar na dimensão escolar, encarando as práticas educativas para além da estagnação, problematizando e subvertendo tudo aquilo que estamos acostumados a ver. Acima de tudo, é necessária uma abertura de consciência que funcione como uma teia, em que a formação de professores e professoras e a visibilidade da escola para o AEE seja o nosso passo inicial. Neste capítulo, você vai estudar as diferentes legislações e a sua im- portância dentro do espaço escolar. Mais especificamente, vai analisar a Resolução nº. 04/2009, que institui as diretrizes operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na educação básica. A importância da legislação no espaço escolar As bases para o apoio, a proteção e as intervenções referentes à educação espe- cial e ao processo de inclusão escolar das pessoas com defi ciências podem ser alinhadas à ideia de que somos únicos em nossas diferenças e diversidades, mas devemos ter igualdade de direitos, de oportunidades e de acessibilidade. Seja nos espaços públicos ou nos privados, toda pessoa tem o direito de ir e vir; para tanto, é importante conhecer e se apropriar das leis que asseguram esses direitos. As pessoas, de forma geral, têm direito de conviver com os seus pares, sem submissão a preconceitos ou discriminações que os marginalizem. Esse deveria ser um direito fluido e natural, que não necessariamente precisaria estar proposto em lei. No entanto, dadas as assimetrias de percepção existentes em nossa sociedade, para fazer valer os direitos de todos, existem as regula- mentações. Dessa forma, o direito de conviver em uma escola, precisamente em uma sala de aula, experienciando e participando com outras crianças, com ou sem deficiência, é configurado como fundamental e necessário, o qual contribui para reafirmar os processos e as conquistas no campo da inclusão. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) postula sobre o direito da criança e do adolescente de ter acesso à educação, de estar em uma instituição escolar e em uma sala de aula, ou seja, é um direito que emerge do fato de eles serem, acima de tudo, cidadãos (BRASIL, 1990). De certo modo, o espaço escolar nos dá a oportunidade de sermos sujeitos e agentes de nossa história. A escola é formadora, é agregadora, e nós aprendemos ao mesmo tempo em que Atendimento educacional especializado: discutindo legislações2 ensinamos — é um espaço de compartilhamento e desenvolvimento. Portanto, as práticas na escola devem ser multifuncionais, abrangentes, adaptadas e aces- síveis a todos. A exclusão deve ser banida da estrutura e dos projetos escolares. De acordo com Santos (1995, p. 1), “[...] temos o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza [...]”. Ter direito a estudar, frequentar a escola regular e ter atividades e práticas adequadas à sua limitação está na lei e precisa ser cumprido e respeitado. Muito se tem feito, mas há muito ainda a se fazer. Por exemplo, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006 e da qual o Brasil faz parte, estabelece que os Estados pertencentes devem ofertar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta da plena participação e inclusão. Assim, é preciso adotar medidas para garantir alguns fatores (BRASIL, 2007): As pessoas com deficiência não devem ser excluídas do sistema educa- cional geral sob alegação de deficiência, e as crianças com deficiência não devem ser excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório sob alegação de deficiência. As pessoas com deficiência devem ter acesso ao ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem. Vale frisar que, ainda no ano de 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos e os Ministérios da Educação e da Justiça, juntamente com a Organi- zação das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), apresentaram o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Esse plano tem como objetivo, em meio a diversas outras ações, estabelecer no currículo da educação básica temáticas que englobem as questões voltadas às pessoas com deficiência, além de ações inclusivas, de acessibilidade e de igualdade de direitos, bem como o acesso à educação superior (BRASIL, 2007). Tornar visíveis e reais as leis que instituem o AEE remete às potencialidades que os sujeitos têm de ser e de agir, visto que, ao se apropriarem das leis, eles terão a oportunidade de fazê-las cumprir. A chance de resistir se aproxima quando há a luta pela igualdade de direitos e pelo direito à oportunidade e à acessibilidade. É preciso repensar e buscar olhares que considerem os contextos e o seu caráter transitório — em termos legais, as mudanças devem ocorrer desde as estruturas das edificações até as propostas pedagógicas. 3Atendimento educacional especializado: discutindo legislações Com base no pensamento de Vygotsky (1998), compreende-se que construir conhecimentos implica uma ação compartilhada, já que é por meio dos outros que as relações entre sujeito e objeto de conhecimento são estabelecidas. Assim, a diversidade de níveis de conhecimento de cada criança pode propiciar uma rica oportunidade de troca de experiências, questionamentos e cooperação. O compartilhamento da criança com deficiência com os colegas vai depender muito de o docente colocar em prática as leis que o asseguram, bem como utilizar em seu processo de trabalho uma pedagogia inclusiva, que não pretenda a correção do aluno com deficiência, mas a manifestação do seu potencial. A instituição escolar, apontando para essa análise, deve procurar trabalhar para a consolidação do apoio e do respeito no que se refere às diferenças em todos os aspectos. Essas diferenças não devem ser vistas como obstáculos para o cumprimento das ações pedagógicas e educacionais, mas como característica enriquecedora do processo de ensino-aprendizagem, tanto para alunos com deficiência quanto para todos os demais.Tipos de legislação que regulam o ambiente escolar De maneira geral, faz-se urgente que as leis sejam mais bem explicitadas e ganhem mais força e visibilidade. Por outro lado, são necessários agentes fi scalizadores que estabeleçam, de maneira clara, as responsabilidades das instituições escolares, bem como dos familiares, para possibilitar os acessos e atendimentos às crianças com defi ciências. Vale ressaltar que esses direitos emergem e são reafi rmados em textos legais, que vão desde os tratados inter- nacionais até as portarias ministeriais ou os pareceres de órgãos colegiados, passando pelas leis ordinárias e pela própria Constituição do país. De acordo com Sartoretto (2011), foi o que aconteceu com os direitos das pessoas com deficiências — particularmente com o direito à educação. Trata-se de um direito visto na perspectiva da educação inclusiva, não como um movimento de mão única, mas como um processo de mão dupla. Por um lado, reconhece-se à pessoa com deficiência o direito de frequentar e usufruir de todos os espaços e condições de vida; por outro, atribui-se à sociedade, via Poder Público, a responsabilidade de garantir à pessoa com deficiência reais condições de acessibilidade a todos os bens materiais e culturais socialmente produzidos e disponíveis, eliminando toda e qualquer barreira — física, cogni- tiva, cultural — que se interponha entre a pessoa com deficiência e esses bens. Atendimento educacional especializado: discutindo legislações4 A Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948, proclamou que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza (UNICEF BRASIL, 1948). Nessa perspectiva, há uma reafir- mação de que todas as pessoas deverão ter igualdade de oportunidades, de acessos e de direitos. Mais um exemplo marcante de avanços e conquistas está na Resolução aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em 9 de dezembro de 1975 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1975), conhecida como Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes. Nela se afirma que a pessoa com deficiência — qualquer que seja a origem, a natureza e a gravidade dessa deficiência — tem os mesmos direitos fundamentais que os seus concidadãos da mesma idade. Isso reforça o direito de acesso a um atendimento educacional, permitindo à pessoa com deficiência sentir-se integrada e participante do processo. Após quatro décadas da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Brasil, em 1988, ao explicitar os deveres do Estado brasileiro em relação à educação, instituiu o cumprimento do atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, que deve ser oferecido preferencialmente na rede regular de ensino (CF, Art. 208, Inciso III). Desde então, diversas lutas estão sendo travadas para fazer valer as leis que defendem e asseguram os direitos das pessoas com deficiências, inclusive no âmbito escolar (BRASIL, 1988). Muito se tem conquistado, mas há ainda muito a se fazer! A Constituição Federal de 1988 defendeu a educação como um direito subjetivo do cidadão, ou seja, um direito inalienável. Assim, é dever do Estado garantir o cumprimento desse direito, não podendo jamais ser relativizado nem colocado em segundo plano (BRASIL, 1988). É claro que, em termos de política, isso demanda uma implementação que leva tempo, mas que aos poucos vai se tornando uma prática. Entretanto, ao se democratizar a educação, nem sempre se pautou pela busca e permanência da qualidade de ensino. As escolas públicas da educação básica não oferecem, de modo geral, a mesma qualidade de ensino das instituições privadas. Vale ressaltar ainda que a Leis de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº. 9.394/96) deu nova legitimidade jurídica para que forças sociais transfor- madoras conquistem mais espaço político para atuarem nos sistemas de ensino (BRASIL, 1988). A LDB é também chamada de Carta Magna da Educação. Inspirada e defendida pelo antropólogo Darcy Ribeiro, que conseguiu manter as suas ideias em um texto legal e bem sintetizado, permitiu uma generalização e flexibilidade com repercussões políticas (FAGUNDES, 2008). 5Atendimento educacional especializado: discutindo legislações O antropólogo Darcy Ribeiro foi educador, político, etnólogo, antropólogo e escritor brasileiro. Seus estudos foram essenciais para alavancar uma nova reforma educacional no Brasil. Na área da antropologia, aprofundou na análise das comunidades indígenas. O principal conceito difundido por ele foi o de identidade cultural. Darcy produziu diversas obras e ensaios nas áreas de antropologia, sociologia e educação. Além disso, ele escreveu alguns romances. Culturas e línguas indígenas do Brasil (1957) A política indigenista brasileira (1962) A Universidade necessária (1969) Os índios e a civilização (1970) Os brasileiros: teoria do Brasil (1972) Configurações histórico-culturais dos povos americanos (1975) O dilema da América Latina (1978) Nossa escola é uma calamidade (1984) América Latina: a pátria grande (1986) O povo brasileiro (1995) Reflexões sobre o histórico e as leis que envolvem o Estatuto da Criança e do Adolescente O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) foi assinado pelo primeiro presidente eleito pelo voto direto no Brasil, Fernando Collor de Mello, após a ruptura com a ditadura militar. É importante e necessário explicitar a extensa luta comandada pelos movimentos sociais em prol da defesa de direitos da criança e do jovem, buscando reconhecimento e justiça junto ao poder público. Ocultar a histórica participação desses movimentos é ocultar de fato a trajetória de inúmeras pessoas que se uniram para reivindicar direitos. Tomar para si uma ideia como se fosse uma proposta inovadora, desconsi- derando todo o caminho já percorrido e algumas conquistas já alcançadas, é uma maneira desleal e desrespeitosa com os verdadeiros autores e precursores dessa história. Apropriar-se do estatuto como se tivesse patente sobre ele, sem fazer menção a todo o processo na qual este se formou, é uma atitude de enganação e crueldade contra o povo, visto que este é submetido à alienação e desconhece a verdadeira origem dessa história. Ao apresentar o ECA como a ideia “inovadora, redentora e salvadora” da Nação, criou-se uma ilusão e uma idolatria. Como afirma Botelho (1993), surgiu uma ideia de que o líder vai libertar os “menores carentes”, convidando a Nação a compartilhar com ele dessa “missão”, que ele designa como nobre. Atendimento educacional especializado: discutindo legislações6 Nesse ato, há uma evidente despolitização e um apagamento das ações de grupos de reivindicação e de movimentos sociais que lutaram para a inserção de crianças e adolescentes em um quadro jurídico de cidadãos e de sujeitos de direitos — é importante que você reflita sobre essa questão. Na esteira desse pensamento, Chauí (1986, p. 16) reforça que: [...] é comum, em sociedades autoritárias, a atribuição das transformações sociais, políticas, econômicas e jurídicas à ação de um/a líder autoritário/a, messiânico/a e que despertará a nação, conscientizando-a, integrando-a, conciliando-a e controlando-a [...]. Nessa perspectiva, observa-se que frequentemente os discursos de presi- dentes podem ser enquadrados aos de líderes populistas e autoritários, que assumem um caráter personalista, diluindo os conflitos sociais — em especial, os de classe — em nome da união de um povo solidário e irmanado, em busca da integração e do desenvolvimento da Nação. Portanto, é de fundamental importância que sejam considerados os movi- mentos sociais que de fato agem e reagem como mecanismos transformadores e revolucionários, os quais modificam e reconstroem as leis e a própria nação. Inclusive com relação a todo o trabalho realizado, todas as conquistas e todos os avanços que ocorreram junto ao ECA consolidaram-no comouma realidade. A Resolução nº. 04/2009 A Resolução nº. 04/2009 institui as diretrizes operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na educação básica, na modalidade educação espe- cial. No que se refere aos espaços escolares, a Resolução nº. 04/2009 institui e preserva o direito ao Atendimento Educacional Especializado (BRASIL, 2009). O projeto pedagógico da instituição escolar de ensino regular deve conter, obrigatoriamente, a proposta do AEE em sua estrutura organizacional, oferecendo as seguintes opções (BRASIL, 2009): sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos; matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino regular da própria escola ou de outra escola; cronograma de atendimento aos alunos; 7Atendimento educacional especializado: discutindo legislações plano do AEE: identificação das necessidades educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas; professores para o exercício da docência do AEE; outros profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Bra- sileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no apoio, princi- palmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção; redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do acesso a recursos, serviços e equi- pamentos, entre outros que maximizem o AEE. De acordo com o Art. 2º da Resolução nº. 04/2009, o Atendimento Educacional Especializado tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para a sua plena participação na sociedade e no desenvolvimento de sua aprendizagem (BRASIL, 2009). Nessa perspectiva, observa-se que a escola se torna um lócus de diversidade e integração, podendo ser vista como estratégica, na medida em que se constitui num local capaz de explicitar e questionar as muitas maneiras de perceber e discutir a diversidade, as práticas excludentes e os possíveis processos de inclusão. É preciso conhecer, compreender e problematizar as legislações que envolvem o contexto escolar, bem como se apropriar das normas e dos recursos que compõem o AEE. Vale lembrar ainda que consideram-se recursos de acessibilidade na educação aqueles que asseguram condições de acessibilidade ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utiliza- ção dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços. No que se refere ao Art. 3º, este evidencia que a educação especial se re- aliza em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como parte integrante do processo educacional (BRASIL, 2009). Portanto, é preciso ampliar as nossas discussões sobre os temas da diversidade, inclusive sobre as normas que instituem o Atendimento Educacional Especializado, de modo que possamos ir para além das ideias convencionais — muitas vezes baseadas apenas em condutas e ações preconceituosas e excludentes. É necessário que você questione os espaços, as práticas e os acessos, e faça uma reflexão que possibilite reinventar os lugares, as ideias, as maneiras de fazer educação Atendimento educacional especializado: discutindo legislações8 inclusiva, reafirmando as legislações e não contribuindo para a reprodução de uma ordem desigual e injusta. Nesse cenário, é gerada a oportunidade de nos aproximarmos das temáticas que envolvem a escola, a pluralidade e os desafios da inclusão escolar, bem como de tecermos reflexões sobre a prática docente frente a essas temáticas. O Art. 4º da Resolução nº. 04/2009 apresenta o público-alvo do Atendimento Educacional Especializado. Veja a seguir. Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsi- comotor, comprometimento nas relações sociais e na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conheci- mento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, psicomotora, de liderança, artes e criatividade. Além das preocupações com a saúde, também é necessário garantir os direitos da criança com necessidades especiais junto aos órgãos competentes da administração pública. O desenvolvimento da criança, assim como a sua relação com outras, é uma das grandes preocupações dos pais. Assim como a Resolução nº. 04/2009, outras leis garantem o direito da criança com deficiência a estudar em escolas regulares públicas ou privadas. Por exemplo, a Lei nº. 7.853/89 diz que é crime recusar, suspender, adiar, can- celar ou extinguir a matrícula de um estudante em função de sua deficiência (BRASIL, 1989). Por fim, a instituição escolar deve se projetar para acolher e atender a todos com qualidade, inclusive integrando as crianças com deficiência por meio de atividades inovadoras, adaptadas e multifuncionais. O contexto escolar e as suas diferentes práticas educativas se reafirmam como uma possibilidade de materialização das leis de acesso e inclusão das crianças e dos jovens com necessidades especiais. 9Atendimento educacional especializado: discutindo legislações O Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº. 10.172/2001) destaca que “[...] o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana [...]” (BRASIL, 2001, do- cumento on-line). Porém, ao estabelecer objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, aponta um déficit referente à oferta de matrículas para alunos com deficiência nas classes comuns do ensino regular, à formação docente, à acessibilidade física e ao atendimento educacional especializado — essa ainda é uma triste realidade. 1. Considerando as legislações que garantem o direito das pessoas com necessidades especiais e legitimam o Atendimento Educacional Especia- lizado, de que forma a escola, como cumpridora de suas funções sociais, deve se planejar para orientar e com- bater as práticas de discriminação? a) Estimular a realização de ativi- dades curriculares multifuncio- nais relacionadas à diversidade e estabelecer ações passivas frente às discussões sobre inclusão, visto que tais assuntos são de ordem particular, não se esten- dendo ao âmbito coletivo. Cada um possui as suas opiniões, e entrelaçá-las faria emergir um conflito generalizado. b) Desenvolver espaços e atividades curriculares que apresentem dis- cussões, mesmo que estas sejam controversas, para demonstrar a pertinência e a necessidade de problematizar as questões que envolvem a diversidade em sua totalidade, incluindo a educação especial e os direitos das pessoas com deficiência. c) Em sua função formadora de opiniões e condutas, a escola deve se resguardar ao direito de abordar, de maneira superficial, as temáticas de inclusão, bem como reforçar um olhar único e singular sobre a diversidade. É preciso retornar à uniformidade e homogeneidade no processo educacional. d) Encaminhar as discussões sobre esses temas para profissionais de outras áreas, para que estes tenham a função de orientar as crianças e os jovens, juntamente com suas famílias. É necessário que a escola diminua a sua responsabilidade quanto às ques- tões das deficiênciase, para isso, deve restringir o seu currículo, não se estendendo às culturas das minorias. e) Para a escola, não é preciso uma ação que implique a discussão de questões sociais, éticas e Atendimento educacional especializado: discutindo legislações10 morais. As relações entre liber- dade, autonomia e respeito às diferenças já estão presentes no trabalho educativo e, princi- palmente, naqueles que tratam do Atendimento Educacional Especializado. A compreensão da educação especial já está no ser humano e, portanto, não precisa ser entendida. 2. A elaboração e a execução do plano de AEE são de competência dos professores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou nos cen- tros de AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com a participação das famílias e em interface com os demais serviços se- toriais da saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendi- mento. O AEE tem como função: a) a substituição de práticas regu- lares e da modalidade regular de ensino por práticas multifuncio- nais e pela modalidade especial de educação. b) preparar alunos comuns, por meio do AEE, para lidarem com os demais alunos com defici- ência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habili- dades/superdotação nas classes do ensino regular. c) complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, re- cursos de acessibilidade e estra- tégias que eliminem as barreiras para a sua plena participação na sociedade e no desenvolvimento de sua aprendizagem. d) combater o que é disposto no Artigo 10 da Resolução nº. 04/2009. e) desintegrar as exigências legais estabelecidas pelo Conselho de Educação do respectivo sistema de ensino quanto ao seu creden- ciamento, autorização de fun- cionamento e organização, em consonância com as orientações preconizadas nestas diretrizes operacionais. 3. O Estatuto da Criança e do Ado- lescente (Lei nº. 8.069/90), a Lei nº. 7.853/89 e o Decreto nº. 3.298/89, estabelecem que todas as crianças e todos os adolescentes, inclusive os que têm deficiência, devem conviver com dignidade, respeito e liberdade com seus familiares e na comunidade onde vivem. Para que isso seja assegurado, eles têm direito a brincar, estudar e ser atendidos em entidades sociais e serviços de saúde, na região onde moram. Um dos mais importantes critérios para que isso aconteça está ligado ao di- reito de ir e vir, que se relaciona com: a) acessibilidade, ou seja, possibili- dade e condição de alcance para utilização, com segurança e auto- nomia, de espaços, transportes, edificações e outros. b) deveres, ou seja, o dever de cumprir leis para ter direitos adquiridos. c) desejo, ou seja, desejar as mu- danças é, de certa forma, um meio de consegui-las. d) família, ou seja, ter a figura de pai e mãe. e) saúde, ou seja, gozar de boa saúde para circular em todos os espaços. 4. A Constituição Federal, em seu Artigo 205, diz que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, 11Atendimento educacional especializado: discutindo legislações será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. No Artigo 208, encontramos que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: a) atendimento educacional especializado às pessoas sem deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. b) atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, obrigatoriamente em escola especial. c) atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, obrigatoriamente no serviço público social. d) atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente no âmbito familiar e de apoio social. e) atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. 5. De acordo com o Ministério da Educação, o Conselho Nacional de Educação e a Câmara de Educação Básica, a Resolução nº. 04, de 2 de outubro de 2009, institui: a) leis que regulamentam o Aten- dimento Regular de Ensino, baseando-se na cidadania e no direito de todos. b) diretrizes operacionais para o Atendimento Educacional Espe- cializado na educação básica, na modalidade educação especial. c) diretrizes que organizam o ECA e reafirmam os direitos da criança e do adolescente. d) portarias que deliberam sobre a educação especial, sobre a diversidade e sobre a igualdade de oportunidades. e) regras para o comportamento educacional das pessoas com necessidades especiais. BOTELHO, R. U. Uma história da proteção à infância no Brasil: da questão do menor aos direitos da criança e do adolescente – 1920-1990. 1993. 161 f. Dissertação (Mestrado em História) – Departamento de História, Universidade de Brasília, Brasília, 1993. BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. 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Dispõe sobre o apoio às pessoas por- tadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. 1989.Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7853.htm>. Acesso em: 24 jul. 2018. BRASIL. Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. 1990. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em: 25 jun. 2018. BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9394.htm>. Acesso em: 06 jul. 2018. BRASIL. Lei nº. 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. 2001. 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