Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CONSTRUÇÃO DE INDICADORES AULA 3 Profª Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, você compreenderá que a construção de indicadores se dá pela necessidade de acompanhamento do desempenho organizacional, tanto desempenho oriundo de uma empresa privada quanto de uma organização pública. Assim, você terá acesso ao entendimento de que é difícil ter uma única definição do que é desempenho organizacional, já que ele se apresenta sob as mais diferentes óticas. Perceberá, então, que o importante é definir qual tipo de desempenho da organização que se pretende acompanhar. Para conhecer essa variedade, você terá disponível um modelo com várias óticas sobre o que é desempenho, mas não basta saber o que é desempenho, também é necessário compreender como mensurá-lo. Para isso, você verá mais um modelo, agora explicando as várias formas de coleta de dados para a mensuração do desempenho. Conhecer essa ideia deixa clara a necessidade de compreender os aspectos estratégicos das organizações, pois é com base nesses aspectos que se definem os indicadores de mensuração de desempenho. Portanto, você vai conhecer a questão estratégica tanto sob a ótica das empresas privadas, por meio das etapas de seu processo estratégico, bem como das organizações públicas, por meio de seu ciclo de políticas. Assim, você terá condição de compreender a importância dos indicadores para as empresas privadas e para as organizações públicas. TEMA 1 – DESEMPENHO ORGANIZACIONAL A sobrevivência das organizações e sua busca por uma vantagem competitiva que as possa manter em uma boa posição no mercado faz com que elas elaborem estratégias. Essas estratégias nada mais são do que os objetivos que a organização possui e a forma de alcançá-los. Com os objetivos bem definidos, é importante observar se a organização, com as ações que está implementando, está conseguindo alcançá-los. Assim, surge a necessidade de se ter conhecimento e controle sobre o desempenho da organização. O desempenho organizacional deve ser controlado de tal forma que seja possível observar, identificar e gerir tudo o que diga respeito ao alcance do desempenho desejado. Mas essa não é uma tarefa simples, já que, conforme Carneiro et al. (2005, p. 1), o “desempenho organizacional é um fenômeno 3 complexo e multifacetado, que escapa a uma concepção simplista”. E essa complexidade vem do fato de que “não é possível descrever o sucesso de uma empresa, de uma divisão ou de um projeto fazendo-se uso simplesmente de uma única métrica. De fato, diversas perspectivas deverão ser consideradas para se avaliar se o sucesso foi ou não alcançado”, dificultando a tarefa de se compreender e de se gerir o desempenho. Figura 1 – Desempenho organizacional Créditos: oatawa/Shutterstock. Na verdade, não há um conceito único para desempenho organizacional, então é importante saber que se pode usar de diferentes critérios, indicadores e abordagens para se mensurar o desempenho, desde que o gestor tenha a compreensão do que pretende acompanhar em termos de resultados organizacionais. Carneiro et al. (2005) também apontam que os gestores trabalham em um contexto de racionalidade limitada, ou seja, não conseguem imaginar todas as consequências futuras de ações realizadas no presente, o que pode tornar mais difícil imaginar quais serão as métricas necessárias para se acompanhar o desempenho. Outra dificuldade está no fato de que pode haver graus de sucesso na avaliação do desempenho, o que torna a atividade de seu acompanhamento ainda mais difícil, já que não é apenas uma questão binária de sucesso ou insucesso. 4 Carneiro et al. (2005) propõem um modelo geral de classificação dos diversos aspectos do desempenho que levam em conta as várias definições encontradas pelos autores na literatura sobre o tema. Esse modelo nos auxilia a perceber a complexidade de aplicação, já que várias são as possibilidades de entendimento do que seja o desempenho organizacional, organizadas segundo a ótica dos stakeholders (partes interessadas), as classes de medidas, as perspectivas de referência e a orientação temporal. Você pode observar o modelo no Quadro 1. Quadro 1 – Modelo genérico para caracterização conceitual do desempenho organizacional Ótica dos stakeholders Classes de medidas Perspectiva de referência Orientação temporal Acionistas Clientes Empregados Executivos e gerentes Credores Fornecedores Canais de distribuição Parceiros Sindicatos Beneficiários de pensões Membros de conselho administrativo Comunidade local Público em geral ONGs Governos Contábeis-financeiras De clientes/ De mercado De processos internos De inovação e aprendizado Sociais Ambientais Comportamentais/Sit uacionais Gerais/Agregadas Absoluta Relativa – média dos principais competidores – Benchmark – Outras operações da empresa – Objetivos predefinidos Transversal/estática – Passado recente – Expectativas de futuro Longitudinal/ dinâmica – Mudanças no passado recente – Mudanças nas expectativas de futuro Fonte: Carneiro et al., 2005. Sob a ótica dos stakeholders, o desempenho estará relacionado ao que cada parte interessada em relação à empresa tem por expectativa, e essas expectativas são diferentes. Por exemplo, empregados poderiam desejar salários mais altos, mas isso poderia contrariar os interesses de rentabilidade 5 dos acionistas ou as expectativas de preços dos consumidores. Assim, um bom desempenho organizacional será obtido se a houver compreensão das diversas partes interessadas de que cada um deve ceder um pouco em relação a suas expectativas quanto à empresa. “Torna-se, pois, necessário alcançar no curto e no longo prazo um certo equilíbrio (embora não necessariamente um consenso) nos níveis de desempenho de acordo com as diversas óticas envolvidas” (Carneiro et al., 2005, p. 4). Quanto às classes de medidas, até algum tempo atrás o desempenho era analisado somente por meio de medidas contábeis-financeiras. Elas continuam sendo relevantes, em especial para os acionistas, que precisam saber se há lucratividade. No entanto, ao longo do tempo, novas medidas surgiram, e o desempenho passou a ser visto não somente sob a ótica financeira, mas também sob uma série de novas óticas. As medidas relacionadas ao mercado indicam o desempenho quanto, por exemplo, a satisfação e a lealdade dos clientes, que podem auxiliar a predizer o desempenho financeiro da empresa. As medidas de processos internos verificam a eficiência com que os recursos estão sendo utilizados pela empresa, indicando o desempenho nas tarefas necessárias à rotina organizacional. Medidas de inovação e aprendizado, por sua vez, estão relacionadas ao desempenho da empresa no que se refere à sua capacidade de mudança, em conformidade com as alterações do ambiente externo, que exigem novos posicionamentos da empresa. Já que as organizações estão postas em um ambiente social e fazem parte da sociedade, também é importante pensar em seu desempenho de acordo com suas contribuições para o atendimento das necessidades da sociedade. Isso também se dá quanto ao meio ambiente. É necessário que a empresa demonstre ações de preocupação com o meio ambiente e o uso de recursos escassos. Nesse sentido, ela terá algum tipo de desempenho ambiental que será representado por meio de medidas ambientais. Medidas comportamentais e ou situacionais também demostram desempenho, em termos de sucesso ou fracasso em tomadas de decisão estratégica. Finalmente, quanto às classes de medidas, tem-se a necessidade de observar o desempenho dos resultados de diversas áreas ao mesmo tempo. As medidas relacionadas a esse tipo de análise de desempenho são denominadasde gerais ou agregadas. 6 Figura 2 – Classes de medidas sociais e ambientais Créditos: hobbit/Shutterstock. Carneiro et al. (2005, p. 6) também apontam a necessidade de se compreender a perspectiva de referência em relação ao desempenho e dizem que existem duas possibilidades, que são a perspectiva absoluta e a perspectiva relativa. A perspectiva absoluta pode ser usada na comparação dos “resultados da empresa em um determinado período com seus próprios resultados em outro período ou com uma determinada expectativa ou meta de desempenho”. Já as medidas relativas são usadas na comparação dos resultados obtidos pela empresa com algum benchmark, oferecendo informação adicional, em relação às medidas absolutas, quanto ao desempenho organizacional. A última característica para se compreender o desempenho das organizações está na orientação temporal. Há dois modos de observação, quanto ao tempo, do desempenho das empresas. Uma forma é a medida transversal, que é uma medida estática. Nesse caso, de acordo com Carneiro et al. (2005, p. 7), fixa-se “um determinado ponto ou período no tempo e coletam informações nesse ponto”. Já as medidas longitudinais ou dinâmicas buscam indicar “a variação nos indicadores ao longo do tempo” para que o desempenho seja compreendido quanto ao progresso no alcance de objetivos e metas. Importante observar que cada uma dessas óticas de compreensão do que é desempenho apresenta limitações, sendo papel do gestor definir o mais 7 adequadamente possível o que é mais importante para sua mensuração de desempenho, pois só assim terá um conjunto de indicadores que realmente demonstre como a empresa está se saindo em termos de sucesso ou fracasso no alcance de seus objetivos. TEMA 2 – MENSURAÇÃO DE DESEMPENHO ORGANIZACIONAL Compreender o que é desempenho é necessário porque precisamos analisar como a empresa vem se comportando e se ela está atingindo seus objetivos, conforme o planejado. Só tendo o conhecimento do que a empresa busca em termos de desempenho será possível revisar ações implementadas, quando necessário. É nesse momento que surgem os indicadores, essenciais ao controle dos processos organizacionais, pois é por meio deles que se faz uma “análise crítica do desempenho da organização, para as tomadas de decisões, e para o replanejamento” (Falqueto, 2001, p. 19). Os indicadores são medidas de desempenho organizacional. Portanto, para acompanhar o desempenho, é necessário medi-lo. De acordo com Camillis et al. (2018), medir é uma atividade corriqueira em nossa rotina diária que se materializa quando se põe em prática um conjunto de operações para determinar o valor de uma grandeza. Não é diferente na rotina das organizações. Também é possível criar para as empresas um conjunto de medidas para observar desempenho nas mais diversas óticas, tanto quanto às diversas partes que compõem a organização, como seus processos e suas atividades. Para tanto, tem-se como requisito obter dados e transformá-los em informações que, por sua vez, tornam-se indicadores e mensuram desempenho. Para Carneiro et al. (2005), é possível classificar essa medição de desempenho por meio de macrodimensões metodológicas, esclarecendo as várias formas voltadas à coleta dos dados, conforme o Quadro 2. Quadro 2 – Modelo genérico para caracterização metodológica do desempenho organizacional 8 Nível de análise Objetividade dos dados Formato dos dados UEN/Divisão Conjunto de UEN Empresa Combinação específica produto-mercado Objetivos – De fontes secundárias – Autorreportados Subjetivos/perceptuais (fontes primárias) – Autoavaliação – Avaliação pelos competidores – Avaliação por especialistas Subjetivos/perceptuais (fontes secundárias) – Material de casos Qualitativos Quantitativos (métricos) – Intervalares – Escalares Quantitativos (não métricos) – Nominais – Ordinais Fonte: Carneiro et al., 2005. O nível de análise diz respeito a quanto se pretende agregar ou desagregar a coleta de dados dentro da empresa. Quanto mais estratégico é o nível em que se coletam dados, menos se terá a visão da contribuição individual de cada uma das operações que compõem a empresa. Então, no nível de unidade estratégica de negócios (UEN), os dados aparecerão bastante agregados. Se a empresa precisa de medidas mais específicas de algumas áreas, ela deve usar um nível de coleta mais desagregado, como o de combinação específica produto-mercado. “Contudo, tende a existir uma considerável dificuldade na extração ou segregação dos dados sobre cada nível produto-mercado a partir dos dados da empresa como um todo”, conforme Carneiro et al. (2005, p. 7). Assim, é importante definir que desempenho se pretende medir. Somente assim será possível determinar o nível de coleta de dados. A segunda dimensão diz respeito à objetividade dos dados. Há, naturalmente, uma expectativa de que dados sejam objetivos. No entanto, nem sempre isso é verdade, pois essa objetividade depende da fonte em que os dados foram obtidos. Por outro lado, dados subjetivos existem e, normalmente, sua fonte será a opinião pessoal ou a percepção da pessoa que está cedendo esse dado. Para Carneiro et al. (2005, p. 8), tanto os dados subjetivos quanto os dados objetivos têm papel importante na avaliação do desempenho, pois um dado subjetivo “incorpora e consolida algum tipo de ponderação explícita ou 9 implícita entre os diversos aspectos do desempenho”, mas não constitui uma medida independente de outras medidas mais específicas, ou seja, de uma coleta de dados objetivos. A terceira dimensão está relacionada ao formato dos dados, que podem ser narrativos, qualitativos e/ou quantitativos. A coleta de dados para mensurar desempenho pode utilizar tanto um único tipo de formato como formatos combinados, tudo depende do que se pretende medir. Dados narrativos podem ter como fonte relatórios ou estudos de casos. Os dados qualitativos podem ser representados por categorias ou por escalas de um determinado atributo. Já os dados quantitativos são encontrados em formato de escalas de intervalo (Carneiro et al., 2005). Figura 3 – Coleta de dados Créditos: Andrii Yalanskyi/Shutterstock. Camillis et al. (2018, p. 32) ressaltam a importância da medição do desempenho de uma empresa ao dizer que essa é uma ação necessária para se compreender se a empresa “está trilhando o caminho desejado, o quanto ainda falta para alcançar os objetivos e para que seja possível a realização dos ajustes necessários rumo à sua estratégia”. Então, medição de desempenho não é apenas construir indicadores e medir, é também propor ajustes e melhorias com base nas análises proporcionadas por essas medições, sendo esse seu objetivo mais importante. Assim, ao construir a forma de se fazer essas medições, é necessário conhecer o processo estratégico da organização, seja ela uma empresa privada, seja uma organização pública. 10 TEMA 3 – PROCESSO ESTRATÉGICO Há uma relação forte entre medição de desempenho e estratégia, posto que as definições do que se deve medir em relação aos vários tipos de desempenho organizacional dependem dos objetivos da empresa. Então, quando se pretende gerir o desempenho organizacional por meio de indicadores, é importante considerar o processo estratégico da empresa. A estratégia em si pode ser compreendida como um conjunto de objetivos e a forma de alcançá-los. Para que isso se concretize, é necessário implementar uma série de etapas predeterminadas, que podem ser denominadas de processo estratégico. Nestas etapas, encontram-se as atividades de elaboração de planos, estabelecimento de políticas, definição de alternativas e implantação das ações para concretizar os objetivos desejados. A Figura 4 ilustra essas etapas. Figura 4 – Etapas doprocesso estratégico OPORTUNIDADES E AMEAÇAS DO AMBIENTE EXTERNO Macroambiente Ambiente setorial AMBIENTE INTERNO Recursos, missão organizacional, objetivos da empresa FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Formulação de estratégias empresariais Formulação de estratégias de unidades de negócio Formulação de estratégias funcionais IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Estrutura organizacional Liderança, poder e cultura organizacional CONTROLE ESTRATÉGICO Processo de controle estratégico e desempenho Fonte: Elaborado com base em Wright; Kroll; Parnell, 2009. 11 A primeira etapa, segundo Wright, Kroll e Parnell (2009), é a análise de oportunidades e ameaças, que ocorrem fora da empresa. Para tanto, é necessário conhecer as forças que impactam a empresa, tanto aquelas que estão mais distantes da organização, como a força demográfica, a tecnológica, a político-legal, a cultural, a econômica e a ambiental (natural), como as forças mais próximas à organização, relacionadas à concorrência por meio da rivalidade já existente no mercado em que ela atua, das novas empresas que estão tentando entrar nesse mesmo mercado e dos produtos substitutos que podem reduzir o consumo do produto que a empresa oferece e por meio das forças pertinentes ao poder de negociação de clientes e fornecedores em relação à empresa. A segunda etapa diz respeito à análise do ambiente interno da organização, já que se faz necessário verificar os recursos que a empresa tem e decidir se eles são suficientes, ou não, para a implementação da estratégia. Além disso, é fundamental que sejam definidos e revisados, de tempos em tempos, a missão, a visão e os valores organizacionais. Na quarta etapa, já é possível formular as estratégias empresariais, em que a empresa pode buscar crescer, ficar do jeito que está ou reduzir a sua atuação no mercado. Com base nessa decisão, pode-se definir estratégias de unidades de negócios. Uma unidade estratégica de negócios é uma espécie de empresa dentro da empresa, pois tem missão e objetivos específicos e pode ser planejada independentemente dos outros negócios da empresa, conforme Kotler e Armstrong (1993). Finalmente, definem-se as estratégias funcionais, ou seja, as estratégias que darão suporte à estratégia empresarial, por meio de ações de TI, marketing, finanças, operações, recursos humanos, entre outras. A quinta etapa é a da implementação das estratégias, em conformidade com a estrutura e a cultura da empresa. A sexta etapa é a medição do desempenho por meio de indicadores predefinidos. Conforme se dá o acompanhamento do desempenho, é possível definir se há necessidade de mudanças nas estratégias ou sua manutenção. Assim, é possível iniciar novamente todo o processo. TEMA 4 – CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Além das empresas privadas, há que se considerar que as organizações públicas também precisam verificar seu desempenho. Nesse sentido, os 12 indicadores que serão construídos para mensurar o desempenho de organizações públicas estarão baseados nas políticas do Estado. Tais políticas buscam ajudar a alcançar e manter o progresso econômico e social e auxiliar as empresas a se manterem competitivas no mercado em que atuam. Uma política pública deve ser formulada quando se percebe a necessidade de enfrentamento de um problema social, uma situação-problema que surge no âmbito da sociedade e precisa ser resolvida. Procopiuck (2013, p. 138) confirma essa ideia ao dizer que a política pública diz respeito à “mobilização político-administrativa para articular e alocar recursos e esforços para tentar solucionar dado problema coletivo”. Procopiuck (2013) afirma que as políticas públicas têm por função dar as orientações normativas necessárias para atingir um determinado objetivo e, para que isso aconteça, devem ser orientadas pelos valores da sociedade e para a elaboração de estratégias, programas e planos que transformem essas políticas em ação real. Verificam-se, para tanto, as possibilidades de solução, levantam-se os custos e define-se o escopo da ação para resolver o problema, parcial ou totalmente, observando o tempo necessário para se colocar essa ação em prática. Em resumo, Procopiuck (2013) nos diz que políticas públicas são um conjunto de ações estratégicas associadas a instrumentos para sua execução, pela alocação de recursos para obtenção de resultados e pela ação de agentes governamentais, da sociedade civil organizada ou de agentes de mercado. Para que sejam formuladas, é necessário que se observe um processo específico, denominado de ciclo de políticas públicas, como se observa na Figura 5. Figura 5 – Ciclo de políticas públicas 13 Crédito: Elias Aleixo. O ciclo se inicia no momento em que se identificam problemas, bem como se verifica a emergência da situação e os recursos disponíveis. Com base nessa identificação, os problemas serão colocados em uma agenda governamental, mas nem tudo que está na agenda será solucionado de imediato, então se estabelece um critério de prioridades para a resolução. Ao se ter ciência de quais são os problemas, formulam-se as possíveis soluções ou alternativas. É nesse momento que se define o objetivo da política, quais serão os programas desenvolvidos e as linhas de ação. Após esse processo, avaliam-se as causas e as prováveis alternativas para minimizar ou eliminar o problema em questão. Tendo em mãos as possíveis alternativas disponíveis, toma-se a decisão de qual será o curso de ação adotado para a situação em pauta. São definidos os recursos e o prazo para a ação da política, por meio do planejamento da execução. Finalmente, a política é implementada, ou seja, transforma-se o planejamento em ação, com o direcionamento de recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos para executá-la. Paralelamente, faz-se o controle da política, por meio da avaliação do ciclo (Andrade, 2016). Explicando em mais detalhes cada etapa do ciclo, tem-se na identificação dos problemas que estes podem ser constatados em fóruns públicos, por exemplo, em reinvindicações diretas da população; em planos setoriais, regionais ou territoriais; em “documentos de Conselhos, em fóruns científicos e relatórios governamentais, discursos de congressistas, apontamentos de órgãos de controle externo e interno”, entre outras fontes que 14 evidenciem a necessidade de tratá-los (Brasil, 2018, p. 10). A próxima etapa diz respeito à inclusão na agenda pública, que é um “conjunto de problemas que já são considerados de interesse público ou sobre o qual já há consenso quanto ao seu enfrentamento pelo poder público e, principalmente, já passaram por discussões e debates” (Brasil, 2018, p. 11). As próximas etapas do ciclo englobam o planejamento e a priorização das ações, momento no qual se definem as ações em si e as prioridades para a alocação dos recursos públicos. “Os recursos são definidos a partir da elaboração de objetivos, metas ou outros elementos, cujo teor dita a preferência para alocação desses recursos em leis orçamentárias, conforme as estratégias de implementação já desenhadas”. A partir de então, planeja-se a execução em si, incluindo “análises e estimativas de custos, levantamentos de riscos esperados e cronograma com a lista de ações a serem realizadas com os respectivos atores responsáveis pela execução dos planos” (Brasil, 2018, p. 11). A etapa de implementação “consiste na execução do conjunto de atividades planejadas. Inclui atividades como licitação, contratação e a realização das ações concretas que permitem alcançar os objetivos definidos no planejamento” (Brasil, 2018, p. 11). Com a implementação, vem a necessidade de monitoramento, a etapa em que surge o uso de indicadores. O monitoramento consiste no acompanhamento contínuo da implementação dos programas e políticas em relação a seus objetivos emetas, permitindo que se verifique se as ações estão sendo executadas conforme o planejado e na direção correta. Indicadores coletados e calculados nessa etapa permitem a adoção de medidas corretivas por parte dos gestores ainda dentro do ciclo de execução do programa, auxiliando sua operacionalização e o alcance dos objetivos. (Brasil, 2018, p. 11) Finalizando o ciclo, tem-se a etapa de avaliação, que “consiste em determinar se uma ação pública tem realmente valor para a sociedade”. Normalmente, essa avaliação é realizada ao final do ciclo de implementação. Nesse momento, utilizam-se técnicas que permitem “verificar se os resultados obtidos resolveram ou mitigaram de fato os problemas como se esperava inicialmente, ou seja, se as ações certas foram executadas e tiveram o resultado social esperado” (Brasil, 2018, p. 11). Para que essas políticas se transformem em soluções reais para os problemas da sociedade, é fundamental que se verifique o desempenho das ações propostas. 15 TEMA 5 – OS CICLOS DE POLÍTICA E OS INDICADORES Assim como para a empresa privada, só será possível lançar mão de indicadores a partir do momento em que se evidencia que tipo de desempenho se quer mensurar. No caso das organizações públicas, os indicadores só fazem sentido a partir do momento em que o ciclo de políticas está definido. De acordo com Coura, Carvalho e Souza (2017, p. 567), o uso de indicadores se mostra uma ferramenta importante para o acompanhamento das atividades do setor público e das empresas privadas, já que as informações obtidas com os indicadores “podem proporcionar inferências acerca de como a gestão, pública ou privada, vem focando suas estratégias e ações”. A avaliação das políticas públicas, de acordo com Langwinski (2013), requer indicadores que possam dimensionar o grau de cumprimento dos objetivos (eficácia), o nível de utilização dos recursos diante dos custos em disponibilizá-los (eficiência) e o impacto (efetividade) das ações implementadas. Coura, Carvalho e Souza (2017) comentam que os indicadores podem proporcionar informações sobre gastos e investimentos do poder público e relacioná-los com aspectos específicos das funções básicas de governo, verificando assim a eficácia da gestão pública e, ao mesmo tempo, avaliando os efeitos causados pelas diversas maneiras de atuação das organizações públicas. Para os autores, os indicadores de gestão pública são uma ótima ferramenta de análise do desempenho dos entes que funcionam e desenvolvem suas atividades através de recursos públicos. Com a análise, é possível avaliar, comprovar gastos e fiscalizar se a entidade realmente aplicou e gerenciou as finanças respeitando as normas previstas em Leis. Não se reduzindo apenas à avaliação de aplicação, tais indicadores também proporcionam base para que o gestor possa tomar decisões mais favoráveis em relação ao gerenciamento das finanças públicas para que ocorra maior eficácia na aplicação e atendimento das necessidades da população abrangida pelo gasto. (Coura; Carvalho; Souza, 2017, p. 568) 16 Figura 6 – Indicadores no setor público Créditos: magic pictures/Shutterstock. A gestão dos indicadores de política pública deve levar em consideração não somente o que se pretende mensurar, mas também o tempo de execução das políticas. “Para efeitos de análise, é preciso separar aquelas políticas que já estão em andamento, algumas há décadas, daquelas que estão em fase de concepção e elaboração ou que ainda são incipientes” (Brasil, 2018, p. 12). Isso se deve ao fato de que, no caso das políticas que já são executadas, os indicadores naturalmente já existem e têm maturidade, facilitando sua gestão por já terem sido testados anteriormente. Isso encurta os procedimentos do ciclo de política, que algumas de suas atividades serão resolvidas sem precisar passar por todas as etapas. Essa conjuntura se mostra diferente quando há o desenho de uma nova política, já que nessa situação “o ciclo deve ser considerado por completo, ou seja, desde a identificação de problemas” (Brasil, 2018, p. 12). Quando se precisa passar por todas as etapas do ciclo de políticas, é possível usar os indicadores como ponto de chegada, pois eles servirão para verificar os resultados que se gostaria de alcançar ao final do ciclo. Além da questão do tempo de execução, para se elaborar um bom conjunto de indicadores, também é necessário observar as particularidades de cada organização pública e de cada ciclo de política, já que cada organização tem necessidades distintas, e cada política almeja objetivos diferentes. 17 Figura 7 – Definição de indicadores Créditos: Dervish45/Shutterstock. Outra questão a se considerar diz respeito às dificuldades enfrentadas pelas organizações, tais como restrições orçamentárias e resistência dos servidores no uso dos indicadores, entre outras situações. Uma das formas de se minimizar tais problemas está no uso de tecnologia, pois o “uso de ferramentas como softwares, recursos digitais de pesquisa e plataformas específicas de gestão” auxiliam na “criação e mensuração dos indicadores, favorecendo a execução dos processos de forma fluida, automatizada, livre de subjetividades e sem custos muito altos” (Digix, 2021). A relevância da avaliação e do acompanhamento das ações e do desempenho, seja de uma organização pública, seja de uma empresa privada, pode ser observada no fato de que essas avaliações são instrumentos indispensáveis para o aperfeiçoamento de políticas e de estratégias. Somente com o uso de um bom conjunto de indicadores será possível obter informações que subsidiem as decisões de gestores para a melhoria contínua do desempenho organizacional. FINALIZANDO Esta aula auxiliou você a entender o papel do desempenho organizacional na elaboração de indicadores. Você ficou sabendo que o desempenho pode ser observado sob uma variedade de óticas distintas, e que 18 cada um desses desempenhos pode gerar um acompanhamento diferente. Por isso, há a necessidade de estabelecer bem quais são os desempenhos que se pretende mensurar e avaliar. Para a mensuração de desempenho, você pode compreender que a coleta de dados é um item fundamental. Ela define as diversas formas como se pode mensurar o desempenho, gerando vários indicadores e várias análises. Você observou que a mensuração de desempenho de uma empresa está totalmente relacionada aos aspectos estratégicos das organizações, pois é com base nesses aspectos que são definidos os seus indicadores de mensuração. Você também tomou conhecimento de que as organizações públicas elaboram e utilizam indicadores para verificar a eficácia das políticas públicas. Por isso, você estudou sobre o ciclo de políticas públicas e entendeu a relação entre os indicadores e o ciclo de políticas, compreendendo a importância dos indicadores tanto para as empresas privadas quanto para as organizações públicas. 19 REFERÊNCIAS ANDRADE, D. Conheça o ciclo das políticas públicas. Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/ciclo-politicas-publicas/>. Acesso em: 29 jul. 2021. BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Secretaria de Planejamento e Assuntos Econômicos. Indicadores – orientações básicas aplicadas à gestão pública. Coordenação de documentação e informação. Brasília: MP, 2018. CAMILLIS, P. K. D. et al. Gestão do desempenho organizacional. Porto Alegre: Sagah, 2018. CARNEIRO, J. M. T. et al. Mensuração do desempenho organizacional: questões conceituais e metodológicas. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/3es2005-trabalhoconvidado-194.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2021. COURA, J. E.; CARVALHO, J. R. M. de; SOUZA, A. de F. Indicadores sociais de gestão pública: uma análise nos maiores municípios da Paraíba. Encontro Brasileiro de Administração Pública.Disponível em: <https://www.ufpb.br/ebap/contents/documentos/0565-578-indicadores-socias- de-gestao-publica.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2021. DIGIX. Conheça os principais indicadores do setor público. Disponível em: <https://digix.com.br/conheca-os-principais-indicadores-do-setor-publico/>. Acesso em: 29 jul. 2021. FALQUETO, Â. D. Mensuração de desempenho empresarial: foco nos indicadores não financeiros. 2001. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/4081/000308173. pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 29 jul. 2021. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 5. ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall, 1993. PROCOPIUCK, M. Políticas públicas e fundamentos da administração pública: análise e avaliação, governança e redes de políticas, administração judiciária. São Paulo: Atlas, 2013. WRIGHT, P; KROLL, M.J; PARNELL, J. Administração estratégica: conceitos. São Paulo: Atlas, 2009.
Compartilhar