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ARA1102 PSICOLOGIA EXISTENCIAL HUMANISTA ANNA AMÉLIA FREITAS - 2023.2 TEMA 01 1.1 Correntes Filosóficas e FENOMENOLOGIA A FENOMENOLOGIA A Psicologia Fenomenológica e Existencial permite aos psicólogos ajudar O CLIENTE a compreender o seu espaço psicológico, dando sentido à sua vivência de uma maneira transformadora, tornando possível que o resultado seja um estado emocional e comportamental de autenticidade e empoderamento existencial. Para entendermos sobre fenomenologia, é necessário aprendermos os seus conceitos fundamentais, os seus antecedentes históricos e toda a sua crítica ao movimento científico da época, especificamente, o PSICOLOGISMO, o NATURALISMO e o EMPIRISMO CLÁSSICO. IMPORTÂNCIA DA FENOMENOLOGIA Compreender um pouco sobre a história da ciência, acerca das novas disciplinas (final do S.XIX e começo do S.XX), como, a Psicologia e a Sociologia. Nessa jornada da história da teoria do conhecimento serão apresentados os conceitos de INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA, de REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA, de ATITUDE NATURAL e de ATITUDE FENOMENOLÓGICA da relação entre sujeito e objeto da consciência, e o conceito de FENÔMENO. Para entendermos os antecedentes da fenomenologia é preciso falarmos sobre a ciência, seu nascimento, seu processo formativo, bem como seus postulados e princípios. Nesse sentido, entender a ciência é compreender o contexto no qual EDMUND HUSSERL passa a pensar a fenomenologia como uma crítica ao que era vigente na filosofia e na ciência. Podemos dizer que ela nasceu como uma nova proposta metodológica no acesso ao conhecimento. EDMUND HUSSERL 1.1 FENOMENOLOGIA Você já se perguntou o que queremos da ciência? O que você poderia elaborar como uma possível extensão explicativa dela? Podemos encontrar justificativas que consideram que a ciência permite uma vida em sociedade com mais qualidade ou descobertas, invenções ou novas formas de sustentabilidade da vida. Tudo isso são prolongamentos da atividade científica. Será que no começo do pensamento científico as pessoas que faziam ciência pensavam nela como um recurso para se alcançar um benefício prático tal como pensamos agora? PROLONGAMENTOS DA ATIVIDADE CIENTÍFICA Quando GALILEU GALILEI aprimorou a luneta e a apontou para as estrelas, buscava verdades e lançava uma mensagem (não intencionalmente): a verdade das coisas precisa ser buscada e não somente recebida. A “verdade” era ditada pela tradição (principalmente, católica), que dizia que o planeta Terra era o centro de tudo e que o Sol girava em torno dela. Foi preciso que NICOLAU COPÉRNICO desenvolvesse a teoria heliocêntrica (Terra girando em torno do Sol), defendida por Galileu. GALILEU GALILEI Galileu contribuiu com a ideia de que as leis da natureza podem ser expressas pela matemática, relacionando-a com a prática de experimentos e sendo considerado um dos pais da ciência. Uma das fortes consequências do trabalho de Galileu, para além da teoria heliocêntrica, é de que a ciência expressa uma verdade contida no mundo natural e que essa verdade pode ser representada em números (uma prerrogativa que mantemos até hoje). Portanto, nesse seu início, o método científico configurava-se como um método para acessar a “verdade” que estaria no mundo natural, e a melhor linguagem para expressar essa natureza seria a matemática, via experimentação. LEIS EXPRESSAS PELA MATEMÁTICA RENÉ DESCARTES RENÉ DESCARTES foi contemporâneo de Galileu e, trouxe muitas contribuições para a matemática, a álgebra e a geometria, desenvolveu a filosofia e a epistemologia. Esse grande matemático e filósofo trouxe o RACIONALISMO como importante colaboração ao movimento científico. Descartes era neoinatista. Acreditava que o sujeito já nascia com o conhecimento e precisaria do método científico (seu método cartesiano) para operacionalizar e até fazer emergir novos conhecimentos. RENÉ DESCARTES O MÉTODO ANALÍTICO (cartesiano), envolvia alguns processos, mas sempre com o exercício da racionalidade. Neles estavam inclusos o ato de dividir o problema em diversas partes e estudá-las separadamente, realizando análises e classificações, para chegar a conclusões lógicas. Descartes usava o MÉTODO DEDUTIVO, por meio de duas assertivas já consideradas verdades, extraía uma terceira assertiva. A LÓGICA DEDUTIVA via racionalidade ajudava a extrair novas verdades que estavam implícitas nos problemas estudados. A lógica dedutiva (com o método analítico), ajudava a trazer verdades mais específicas e a elucidar questões mal resolvidas. Tinha falhas, se qualquer uma das duas primeiras assertivas de um problema for falsa, logo, a terceira derivada de ambas também será. Esse tipo de raciocínio equivocado acontece muito no caso das generalizações. Vejamos um exemplo: Por exemplo: PRINCÍPIOS DO CORPO TEÓRICO Ao contrário do inatismo, para esse novo movimento, o sujeito não nasce com o conhecimento, pois ele precisa, via empiria (experiência), ter contato com o objeto em questão e, via percepção, ter contato com a realidade própria. Os empiristas entendiam que esse processo não tinha como ser perfeito, o sujeito não captaria a completude da verdade natural já implicada no mundo, por isso precisaria do método científico para operacionalizar essa relação sujeito-objeto (sujeito do conhecimento e objeto a ser conhecido). O exercício filosófico nunca foi uma atividade completamente consensual. Os filósofos irão concordar em alguns pontos, e irão discordar em outros. Foi daí que surgiu o movimento inglês do EMPIRISMO. Foi com FRANCIS BACON, um famoso empirista, que se desenvolveu também o MÉTODO INDUTIVO. Com esse método, defendia-se que o conhecimento do mundo natural viria da construção de hipóteses que pudessem ser testadas/ experenciadas e confirmadas. Justamente porque não se podia confiar exclusivamente na razão ou nas deduções lógicas, que poderiam estar corrompidas por noções velhas e já estabelecidas. FRANCIS BACON E O EMPIRISMO O MÉTODO CIENTÍFICO, AQUI REPRESENTADO PELO EMPIRISMO, é contrário ao INATISMO e à exclusividade da racionalidade na obtenção do conhecimento. O empirismo condiciona o método científico à experiência sensorial e à testagem de hipóteses para, enfim, evitar que esse conhecimento seja particular e possa se tornar cada vez mais abrangente. As consequências desse movimento, chamado posteriormente de CARTESIANISMO (mesmo que nele estejam inseridos vários postulados discordantes e que não tenham vindo todos de René Descartes) reúne um corpo robusto de princípios relativos à(o):. FRANCIS BACON E O EMPIRISMO Princípios de um método que revela controle do que se experimenta e do experimentador, deixando um ambiente de pesquisa minimamente PLANEJADO E PADRONIZADO para que não seja uma experiência de investigação pessoal, mas sim passível de ser repetida por outros pesquisadores. Esse modelo de fazer ciência foi chamado também de PARADIGMA MECANICISTA, por demonstrar um método com características semelhantes à de uma máquina (partes separadas, determinista, controlada e matematizada). No ápice desse movimento/paradigma, passa-se a investigar o sujeito do conhecimento, mas seguindo o mesmo método. PARADIGMA MECANICISTA O movimento cartesiano embasou o modelo científico (S.XIX), criticado por Husserl. Descartes teve influência no pensamento de Husserl, principalmente pela sua DÚVIDA METODOLÓGICA (princípio da atitude de questionamento, posto como “dado”, o “que já é”). O racionalismo de Descartes serve de base para uma evolução filosófica em Husserl com o MÉTODO FENOMENOLÓGICO. No fim do século XIX, já se tinha o que se chamou de PSICOLOGISMO, sendo este bastante criticado por Edmund Husserl. PSICOLOGISMO = tentativa das ciências naturais de abrangerem os mais diversos objetos de estudo, inclusive os mais subjetivos como a mente/consciência, utilizando-se do mesmo método que utilizavam nas pesquisasque faziam com uma planta, um animal ou um corpo celeste. O psicologismo foi decorrente desse CIENTIFICISMO, produto do método científico/cartesianismo aplicado ao que estava fora das ciências naturais. PSICOLOGISMO Para esses teóricos, a mente teria padrões estruturais investigáveis pelo método científico, justamente por eles acharem que o sujeito do conhecimento seria capaz de estudar com imparcialidade um objeto, podendo esse último ser até mesmo a própria mente/consciência. Essa visão cientificista deles será um ponto de divergência com a fenomenologia. Nesse contexto de cartesianismo, o EMPIRISMO (junto com o positivismo) trabalhava com a ideia de um sujeito do conhecimento que poderia estudar objeto de forma objetiva. Nessa relação sujeito-objeto, OBJETIVIDADE CIENTÍFICA, o método científico seria essencial para fazer emergir o conhecimento, considerando que as experiências sensoriais do sujeito do conhecimento não eram suficientes para o contato com a realidade pertencente à natureza do objeto. A SUBJETIVIDADE deveria ser “purificada” e até controlada, já que ela seria “hostil” ao método científico. A consequência negativa foi que os primórdios da Psicologia foram caracterizados por uma tentativa de controle do então objeto de estudo (sujeito do conhecimento), aplicando as mesmas leis e métodos no estudo de um objeto natural qualquer. Porém, a mente racional que constrói hipóteses sobre seu próprio funcionamento não conseguiria fazer isso de forma imparcial, já que estaria tomada de preconceitos. OBJETIVIDADE CIENTÍFICA E SUBJETIVIDADE “A interpenetração do sujeito e objeto do conhecimento psicológico manifesta-se também no que vem sendo apontado por vários autores: as hipóteses não deixam intactos seus objetos, senão que contribuem para moldá-los e condicioná-los”. (FIGUEIREDO, 2008, p. 18) Temos um problema, o método científico é falho quando o objeto de estudo é o próprio sujeito pensante. Esse problema foi apontado por alguns teóricos como Dilthey (1833-1911) e Franz Brentano (1838-1917). Dilthey influenciou vários outros autores como Jaspers (1883-1969), Scheler (1874-1928) e Heidegger (1889-1976), por trazer diferenciações entre as ciências naturais e as ciências do espírito (ciências humanas e sociais como Psicologia, Sociologia e Antropologia). Para Dilthey, em se tratando das ciências humanas, é necessário compreender a vida pela própria vida, sem o auxílio de valores absolutos, típicos daqueles impostos pelas ciências naturais. WILHELM DILTHEY É a experiência do próprio sujeito que revela a investigação do conhecimento. Na experiência clínica hoje, via Psicologia Fenomenológica-Existencial, mais importante do que dizem sobre a depressão, por exemplo, é o que o próprio cliente diz sobre a sua própria depressão. Para se chegar a isso, foi preciso o trabalho de Dilthey, Jaspers e Husserl. Dilthey lança a distinção entre EXPLICAÇÃO e COMPREENSÃO, funções atreladas às ciências naturais e humanas. A Psicologia seria uma ciência com função de compreensão de um sujeito histórico e social e não somente como uma unidade psicofísica. Essa contribuição muda o panorama epistemológico da época, o sujeito passa a ser entendido como um ser constituído numa inter-relação com o tempo e o espaço, que é complexa e não objetificável como nas ciências naturais. Dessa forma, Dilthey abre espaço para a crítica de Husserl via fenomenologia, além do nascimento das CIÊNCIAS HUMANAS no século XX. EXPLICAÇÃO E COMPREENSÃO IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE DILTHEY O HISTORICISMO, corrente de pensamento defendida por Dilthey, foi de grande contribuição para o questionamento desse modelo científico vigente. Porém, ele sofre críticas. Uma delas é a que, por se tratar de um modelo compreensivo e interpretativo, ele daria abertura a uma relativização da “verdade” e depois a um ceticismo. Afinal, como o estudo do objeto se daria por uma configuração compreensiva, particularizada em torno dos seus sentidos e significados experenciados, ele poderia trazer inúmeras interpretações compreensivas sobre esse objeto. Isso aproxima o estudo de uma verdade mais profunda, porém, não a deixa ser universalizada (contrariando o conhecimento científico), ficando relativizado e abrindo espaço para posturas céticas quanto a esse conhecimento: se temos muitas verdades, então não temos nenhuma. Algo precisava ser feito, com rigor, mas coerente com a real natureza da subjetividade. Com o trabalho de Franz Brentano, a fenomenologia começou a construir suas bases. Para Brentano, o que importava para seu modelo de Psicologia era a PERCEPÇÃO INTERIOR em contradição ao que era proposto por Wilhelm Wundt (1832-1920). Para Wundt, a Psicologia Empírica teria como objeto a EXPERIÊNCIA IMEDIATA, Psicologia que deveria estudar e analisar o resultado da experiência imediata do sujeito do saber diante do objeto a ser conhecido. Nesse modelo, a realidade das coisas (objeto de estudo das ciências naturais) está no mundo material e o sujeito do conhecimento via percepção/experiência imediata conseguiria captar essa realidade natural. A Psicologia de Wundt tinha o mesmo foco das ciências naturais, estudar a realidade natural das coisas, porém, estudava essa experiência de conhecimento por outro ponto de vista. Considerava que poderia fazer o estudo dessa experiência numa análise de seus conteúdos objetivos, TRATANDO A CONSCIÊNCIA COMO UM OBJETO disposto a ser investigado como qualquer objeto natural e com as mesmas regras do método científico: a observação e o experimento. INFLUÊNCIAS DE FRANZ BRENTANO Será que é possível investigarmos a consciência/mente de forma objetiva, da mesma forma que investigamos um objeto do mundo natural? Será que conseguiríamos, nessa investigação, ter um conhecimento da realidade das coisas (experenciadas) de forma isenta, sem que o sujeito que investiga inunde o objeto de estudo (experenciado) de si mesmo? Temos um problema: uma Psicologia que almejava ser científica, se utilizando de um método que talvez não fosse adequado ao seu objeto de estudo (consciência/mente). Franz Brentano, para tentar resolver isso, vai propor o conceito de INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA. Para ele, a consciência é estruturada em atos que se remetem ao mundo e não em objeto. FRANCIS BACON E O EMPIRISMO Resumindo, temos as influências de Dilthey (separação entre as ciências naturais e as ciências do espírito (humanas) e Brentano (conceito de intencionalidade da consciência) a Husserl para a criação da fenomenologia. OBRIGADA! ANNA AMÉLIA FREITAS - 2023.2
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