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Apostila-MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIALFinal2Col

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MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-
RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE 
FAIXA GERACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ETECBA E FACULDADES INTEGRADAS 
Rua dos Bacurizeiros, Quadra G, Nº 13 - Nova Bacabeira Bacabeira-MA 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 2 
 
 
 
PLANO DE ENSINO 
DISCIPLINA: MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-
RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
PROFESSOR: ___________________________ 
PERÍODO: _______ ANO: __________ 
CARGA HORÁRIA: 60 HORAS 
JUSTIFICATIVA 
Conhecer o desenvolvimento de habilidades no 
tratamento das questões culturais e de gênero na 
prática pedagógica, assim como, a diversidade 
sociocultural, desigualdades econômicas e as reflexões 
em sala de aula, seja na forma de abordar o tema como 
nas potencialidades que os métodos de 
pesquisa possibilitam no campo educacional 
OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA 
 Proporcionar ao aluno contato de natureza geral com 
a diversidade, cultura e educação, despertando o 
interesse para o valor da disciplina como componente 
presente no cotidiano de sua prática. 
OBJETIVO ESPECÍFICO DA DISCIPLINA 
 Operacionalizar meios que levem o aluno a 
desenvolver um espírito crítico, em face da 
diversidade, práticas educativas e a dialética da 
exclusão/inclusão, assim como fundamentos para 
discussão sobre a pluralidade cultural no cotidiano da 
sala de aula; contribuindo para uma visão crítica 
diante das mudanças na sociedade. 
EMENTA 
A diversidade como constituinte da condição humana. 
Diversidade e questões de gênero. A cultura como 
universo simbólico que caracteriza os diferentes grupos 
humanos. A diversidade étnico-racial com ênfase nas 
histórias e culturas dos povos indígenas e africanos. A 
diversidade na formação da cultura brasileira. A 
diversidade social e as desigualdades econômicas. A 
educação escolar como catalisadora e expressão das 
diversidades. 
Bibliografia BÁSICA 
ESCOSTEGUY, Cléa Coitinho. Estudos Culturais em 
Educação. Porto Alegre: Grupo A, 2018. (BV) 
SOARES, Rodrigo Goyena; TÁVORA, Fabiano Col. Diplomata 
- História do Brasil: tomo II: o tempo das repúblicas. 
São Paulo: Editora Saraiva, 2015. (BV) 
SOARES, Rodrigo Goyena; TÁVORA, Fabiano Col. Diplomata 
- História do Brasil: tomo I: o tempo das monarquias. 
São Paulo: Editora Saraiva, 2015. (BV) 
FORLI, Cristina Arena; RÜCKERT, Gustavo Henrique. 
Literaturas Africanas em Língua Portuguesa. Porto 
Alegre: Grupo A, 2017. (BV) 
DORETO, Daniela Tech; SCHEIFLER, Anderson Barbosa; 
SALVADOR, Anarita de Souza; SCHOLZE, Marta Lucian. 
Questão Social, direitos humanos e diversidade. Porto 
Alegre: Grupo A, 2018. (BV) 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
SANTOS, Christiano Jorge. Crimes de Preconceito e de 
Discriminação. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. (BV) 
CASTILHO, Ricardo. Direitos humanos. São Paulo: Editora 
Saraiva, 2017. (BV) 
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos 
direitos humanos. São Paulo: Editora Saraiva, 2018. (BV) 
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito 
constitucional internacional. São Paulo: Saraiva, 2018. 
(BV) 
BACILA, Carlos Roberto. Criminologia e Estigmas: Um 
Estudo sobre os Preconceitos. 4. ed. São Paulo: Grupo 
GEN, 2015. (BV) 
KABENGELE, Munanga. O negro no Brasil de hoje. 2ed. 
São Paulo: Global, 2016. 
MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. 9 ed. São Paulo 
2014. 
KON, Noemi Moritz. O Racismo e o negro no Brasil 
questões para psicanalise. São Paulo: Perspectiva, 2007. 
GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Racismo e 
antirracismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 2009. 
D’Adesky Jacques. Pluralismo étnico e 
multiculturalismo: racismo e antirracismo no Brasil. 
Rio de Janeiro: Pallas, 2009. 
SANTOS, Gevanilda. Relações raciais e desigualdades no 
Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2009. 
CHIAVENATO, Júlio José. O negro no Brasil. 1 ed. São 
Paulo: Cortez, 2012. 
CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. org. Racismo e 
antirracismo na educação repensando nossa escola. 
São Paulo: Selo Negro, 2001. 
METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DE ENSINO 
A disciplina propõe orientá-lo em seus procedimentos de 
estudo e na produção de trabalhos científicos, 
possibilitando que você desenvolva em seus trabalhos 
pesquisas, o rigor metodológico e o espírito crítico 
necessário ao estudo. Assim, cuide do seu tempo de 
estudo! Defina um horário regular para estudar e refletir 
sobre todo o conteúdo da sua disciplina disponível no 
material impresso. 
Utilize-se dos recursos técnicos e humanos que 
estão ao seu dispor para buscar esclarecimentos e para 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 3 
 
 
aprofundar as suas reflexões, bem como, favorecer a 
realização de: i) Dinâmicas de Grupo; ii) Estudo dirigido 
(leitura de textos); iii) Filmes com relatórios críticos; iv) 
Seminários e pesquisa (de campo e ou bibliográfica), 
resenhas e fichamentos. 
RECURSOS DIDATICOS 
• Livros; Notebook; Slides e pequenos filmes; 
Biblioteca Física e/ou Virtual; TV e Vídeo; Quadro 
Branco e Pincel; Mural; Apostila e textos 
xerografados; Datashow. 
SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO 
As avaliações terão um caráter formativo e uma função 
diagnóstica permitindo além da obtenção das notas 
perceberem as dificuldades de aprendizagem, tendo em 
vista subsidiar correções durante o processo e será 
desenvolvida através de aulas expositivas e seminários 
de discussão dos textos em classe. A média final 
resultará de duas notas: uma prova parcial (com peso 
10) e um trabalho de grupo (peso 10). 
MULTICULTURALISMO E SUAS IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO1
A atualidade educacional é um espelho da ausência 
de modelos, de referenciais que antes balizavam a 
sociedade brasileira. Em educação, vivenciar o 
multiculturalismo e a inserção das tecnologias vem se 
transformando em desafio à prática pedagógica. O 
currículo escolar representa um grande esforço para 
trabalhar com a diversidade cultural, a mensagem 
gerada pela indústria cultural e a aquisição de 
conhecimentos e informações. Este texto apresenta uma 
problematização relacionada à temática do currículo 
escolar a partir do recorte cultural e social. 
Os(as) educadores(as) não poderão ignorar, no 
próximo século, as difíceis questões do 
multiculturalismo, da raça, da identidade, do poder, do 
conhecimento, da ética e do trabalho, que, na verdade, 
as escolas já estão tendo de enfrentar. Essas questões 
exercem um papel importante na definição da 
escolarização, no que significa ensinar e na forma como 
as(os) estudantes devem ser ensinados(as) para viver 
em um mundo que será amplamente mais 
globalizado, high tech e racialmente mais diversos do 
que em qualquer outra época da escola (Giroux, apud 
Candau, 2002). 
Não ter paradigmas traz à tona a insegurança dos 
conceitos que antes sustentavam e eram pilares de uma 
cultura tradicional. Se por um lado tudo era respondido 
por meio dos valores difundidos por determinadas 
instituições, hoje isso não é considerado nem validado. 
Podemos afirmar que até mesmo, ou 
fundamentalmente, o Estado proporcionou esse levante 
de contrários quando passou a não exercer o seu poder 
na execução e legislação das ações pertinentes ao bom 
convívio e à regulação das oportunidades para toda a 
sociedade. 
A multiplicidade é a tônica deste tempo em que 
vivemos. A diversidade, com toda a sua amplitude de 
questões, tomou uma proporção em que esse arcaico 
modelo de escola, de educação não vem conseguindo 
 
1 Texto da obra acadêmica de Danielle Rodrigues e Sabrina Guedes, publicado em 08 de janeiro de 2019, https://educacaopublica. cecierj.edu.br/artigos/19/1/multiculturalismo-e-suas-implicaes-na-
educao#:~:text=A%20quest%C3%A3o%20do%20multiculturalismo %20deve, prop%C3%B3sito%20cultural%20ou%20pol%C3%ADtico%20envolvido%2C. 
trabalhar e responder aos anseios da geração que se 
apresenta.“Candau afirma o multiculturalismo como 
uma realidade social, ou seja: a presença de diferentes 
grupos culturais numa mesma sociedade” (Morante; 
Gasparin, s. d., p.13). 
1.1 DESDOBRAMENTO 
Podemos dizer que há muito a sociedade passa por 
uma incerteza de valores, de paradigmas, que seriam 
sustentáculos desse organismo que é vivo e mutante. As 
dúvidas, as incertezas, as vulnerabilidades... Construídas 
ao longo de algumas gerações perpassam também as 
instituições sociais, o lócus da organização e dos modos 
como se identificam e expressam diante dos 
desafios/dos questionamentos que se colocam como 
aportes teóricos e vitrines para o caminhar do humano, 
que é sujeito histórico, fazedor de conhecimento e 
cultura. 
Os desafios postos pela sociedade contemporânea, 
principalmente no que diz respeito à diversidade 
humana e ao pluralismo cultural, aparecem dentro da 
escola, que é onde basicamente tudo se origina, pois 
acredita-se que a reflexão sobre a diversidade seja o 
ponto de partida da nossa caminhada rumo a 
transformações conceituais e práticas da escola, a fim 
de garantir educação para todos por meio de 
aprendizagens efetivas que garantam a permanência do 
aluno e, consequentemente, seu sucesso escolar. 
Durante as últimas décadas vem se discutindo a 
incorporação da cultura ao processo de ensino-
aprendizagem; alguns educadores e movimentos sociais 
lutam para que suas culturas sejam legitimadas como 
essenciais e coparticipantes no processo de ensino; com 
relação à temática, Bourdieu afirma que "a cultura é o 
conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua 
justificação última [...]; uma não pode ser pensada sem 
a outra". Embasados na ideia de que a cultura é um 
elemento que nutre todo o processo educacional e que 
UNIDADE I 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 4 
 
 
tem papel de suma importância na formação de um 
indivíduo crítico e socializado, esses movimentos 
reivindicam a inclusão da cultura no currículo escolar. 
O reconhecimento da multiculturalidade da 
sociedade leva à constatação da diversidade de raízes 
culturais que fazem parte de um contexto educativo – 
como uma sala de aula. Nesse sentido, autores como 
Candau (2000; 2002) e Forquin (1993) enfatizam a 
relação existente entre escola e cultura e instigam a 
buscar melhor compreensão acerca da importância da 
cultura no processo de aprendizagem e nas práticas 
pedagógicas. 
O espaço educacional também sofre ausência de 
direcionamento, de concepções de aprendizagem, das 
atribuições dos atores envolvidos no processo e quais as 
possibilidades e limites espaço-temporais. Como 
reverter? Há respostas? 
Refletir e apurar algumas situações do cotidiano 
brasileiro e suas implicações no espaço escolar, tendo 
por alicerce algumas concepções teóricas, auxiliarão 
nossa base argumentativa. A escola vem demonstrando 
grande dificuldade para atender a essa diversidade 
humana, uma vez que ainda conserva concepções e 
práticas pautadas em tendências pedagógicas que 
acreditam no processo de aprendizagem 
homogeneizado, desconsiderando a diversidade, ou 
seja, as diferenças. 
Segundo Carvalho (2002, p. 70), “pensar em 
respostas educativas da escola é pensar em sua 
responsabilidade para garantir o processo de 
aprendizagem para todos os alunos, respeitando-os em 
suas múltiplas diferenças”. 
A escola é defendida como uma entidade 
socializadora que deve incorporar as diversas culturas, a 
fim de que haja ambiente sociável em que todos possam 
manifestar seus ideais sem ser discriminados pela 
cultura que manifestam ou a que pertencem. 
Por causa de a escola não saber lidar com tais 
questões, alguns educadores relutam em usar a cultura 
como conteúdo em suas aulas; surgem então alguns 
questionamentos a serem respondidos, como: a cultura 
é mesmo importante no processo de aprendizagem? O 
que ela tem a oferecer nesse processo de 
conhecimento? 
A cultura faz parte do nosso íntimo; somos criadores 
e propagadores da cultura, de forma que a 
manifestamos de diversas maneiras. Mas o que é cultura 
e qual a sua relação com a educação? Candau (2003) 
afirma que “cultura é um fenômeno plural, multiforme, 
que não é estático, mas que está em constante 
transformação, envolvendo um processo de criar e 
recriar”. Ou seja, a cultura é um componente ativo na 
vida do ser humano e manifesta-se nos atos mais 
corriqueiros da conduta do indivíduo e não há indivíduo 
que não possua cultura; pelo contrário, cada um é 
criador e propagador de cultura. 
Podemos dizer que cultura e educação são 
fenômenos intrinsecamente ligados; juntas, tornam-se 
elementos socializadores, capazes de modificar a forma 
de pensar dos educandos e dos educadores. Portanto, 
as relações entre escola e cultura não podem ser 
concebidas como entre dois polos independentes, mas 
sim como universos entrelaçados, como uma teia tecida 
no cotidiano e com fios e nós profundamente 
articulados. 
Embora seja palco dessa multiculturalidade, a 
escola vem encontrando várias dificuldades para fazer 
interagir suas práticas educativas mais comuns com a 
diversidade cultural vivenciada pelos alunos, porque os 
conteúdos selecionados e trabalhados pela escola não 
têm nenhuma relação com o universo cultural ou com a 
Multiculturalidade vivenciada pelos educandos; a cultura 
que os alunos conhecem é apenas de folclores, ou seja, 
a cultura chamada tradicional; não se discute a cultura 
existente na sala de aula, apenas dá-se ênfase às 
culturas distantes da realidade do aluno. A escola 
deveria seguir o papel de intermediador entre as 
diferentes culturas jovens, permitindo o debate entre 
elas, valorizando-as nos eventos escolares ou outros 
meios pedagógicos. 
O pensamento de cultura no Brasil é frágil e não 
estruturado; ela é profundamente desvalorizada, 
tomando-se em seu lugar a cultura estrangeira como 
modelo de modernidade a ser alcançada. Trata-se de 
perceber como estão os brasileiros; a sociedade e a 
escola não estão à parte em relação a essa concepção. 
A modernidade frequentemente é vista como algo que 
vem de fora e que deve ser admirado e adotado ou, ao 
contrário, considerado com cautela aos modelos lá 
vigentes, aclimatando-os num novo solo, que é a 
sociedade brasileira. A modernidade também se 
confunde com a ideia de contemporaneidade, uma vez 
que aderir a tudo que está em alta é, muitas vezes, 
entendido como moderno e correto a ser adotado. 
Temos que refletir sobre a postura de 
multiculturalismo, com a convivência pacífica de várias 
culturas em um mesmo ambiente. É um fenômeno social 
diretamente relacionado à globalização; as sociedades 
pós-modernas e a escola não podem se abster desse 
papel de fornecer conhecimento como embasamento 
para reflexões, opiniões e histórico social, não apenas de 
uma imposição da cultura dominante, que teria 
culminado com a hegemonização da globalização, mas 
com as múltiplas culturas que habitam em harmonia 
justamente em função da possibilidade das relações 
globais. A ideia é que as culturas são diversas e devem 
ser respeitadas na sua essência, sem existir certo ou 
errado nos costumes. 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 5 
 
 
A questão do multiculturalismo deve ser levada para 
discussões dentro de sala de aula para criar um 
ambiente que aceite melhor as diferenças e assim 
despertar problematizações como as questões de 
racismo e preconceito entre os alunos, além de poder 
avaliar e entender o propósito cultural ou político 
envolvido, promovendo práticas pedagógicas que 
despertem os alunos para a diversidade, em que 
aprendam a respeitar as diferenças e que se defronte 
com assuntos como identidade cultural e de gênero. 
Um dos principais equívocos sobre a sociedade 
contemporânea é o argumento de que o conjunto dos 
meios de comunicação, a mídia, é a instituição social 
mais poderosa. Fazem parte desse argumentoexpressões problemáticas como “sociedade 
midiatizada”, “cultura da mídia”, dentre outros; algumas 
movimentam enorme quantidade de capital, 
influenciando comportamentos individuais e coletivos e 
agindo politicamente, defendendo seus próprios 
interesses e os interesses da sociedade capitalista de 
modo geral. De forma alguma as empresas podem ser 
consideradas como fazendo parte de uma mesma 
instituição social, com todos aqueles que são produtores 
de mensagens e utilizam algum tipo de recurso 
tecnológico. 
O sistema educacional, nesse sentido, é um 
elemento excepcionalmente importante na manutenção 
das relações existentes de dominação e exploração nas 
sociedades (Apple, 1989, p. 26). Ou seja, a escola 
exerce função vital na recriação das condições 
necessárias para que a ideologia hegemônica seja 
mantida. Como professores, o nosso trabalho serve a 
funções que, muitas vezes, não condizem com nossas 
melhores intenções (Apple, 1989, p. 33). 
Por isso, precisamos considerar a questão do poder 
para além de sua concepção como algo que pode ser 
possuído e usado sobre outras pessoas. E isso exige uma 
noção de poder que enfatize seus efeitos produtivos, 
destacando a forma como ele funciona, não apenas 
sobre as pessoas, mas por meio delas. Nessa visão, o 
poder é inerente às formas de saber e desejo que 
dirigem a possibilidade de conduta e ordenam possíveis 
resultados de certas formas de ação (Silva et al., 1995, 
p. 63-64). 
O poder não é algo que, de fora, determina que 
forma assumirão os saberes inscritos na escola; o poder 
está inscrito no interior, mediante a seleção dos 
conhecimentos e das resultantes divisões entre os 
diferentes grupos sociais; quem determina o que é 
conhecimento e o que não é isso é precisamente o poder 
(Silva et al., 1995, p. 197). Dessa forma, cabe-nos o 
questionamento: 
em que medida os currículos escolares expressam 
uma visão restrita de conhecimento, ignorando e até 
mesmo desprezando outros conhecimentos, valores, 
interpretações da realidade, de mundo, de sociedade 
e de ser humano acumulados pelos coletivos 
diversos? (Gomes, 2007, p. 36). 
1.2 FINALIZANDO 
A atualidade está repleta de desafios que, em 
muitos casos, estão ligados a situações de moral e ética. 
Não podemos mais prever e dizer que há certezas sobre 
a realidade e os acontecimentos, mas como educadores 
devemos questionar nosso papel na formação humana e 
o quanto de propriedade o conhecimento que possuímos 
tem. 
Podemos afirmar que a educação tem papel 
preponderante na formação de opinião e na constituição 
dos sujeitos, sendo modificada ao longo dos séculos e 
dos paradigmas pedagógicos/educacionais. A história, a 
cultura, a sociedade são elementos fortificadores dessa 
dinâmica, corroborando para essa multiplicidade, e se 
expandem para o cotidiano dos nossos alunos. “A 
necessidade de construir um saber válido 
interculturalmente se torna mais imperiosa em uma 
época em que as culturas e as sociedades se confrontam 
todo o tempo nos intercâmbios” (Canclini, s. d.). 
Essa abrangência de meios, dados e ambientes teve 
como consequência insegurança e incerteza, em que 
não há respostas e concretudes por parte dos principais 
organismos da sociedade, com maior relevância a 
família, a escola e outras ordens ideológicas e de 
formação de opinião. A educação está sem parâmetros 
e acaba transitando por caminhos instáveis; essa é a 
realidade; sob esse novo pilar os saberes precisam se 
fundamentar. 
MULTICULTURALISMO E GÊNERO - CONCEITOS IMPORTANTES PARA O COMBATE 
ÀS DESIGUALDES SOCIAIS ONTEM E HOJE
2.1 INTRODUÇÃO 
Com o surgimento do conceito de etnia, surgem os 
conceitos de Gênero e Multiculturalismo, ambos 
atrelados a movimentos sociais de luta por direitos. No 
caso do multiculturalismo, surge a partir dos 
movimentos negros da década de 1960, e o conceito de 
gênero surge inicialmente atrelado ao movimento 
feminista e aos estudos feministas, no espaço 
universitário, na década de 1980. 
Os dois movimentos possuem duas dimensões 
UNIDADE II 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 6 
 
 
distintas, uma relativa aos movimentos sociais e outra 
relativa aos estudos e pesquisas realizados nas 
universidades. Também os dois campos de estudos são 
provenientes majoritariamente das Ciências Sociais. 
Um dos resultados destes movimentos foi o 
desmantelamento do segregacionismo racial nos 
Estados Unidos, devido às lutas pelos direitos civis na 
década de 1960. A partir daí se começou a perceber 
quais mecanismos sociais de fato contribuíam para a 
manutenção das desigualdades raciais e sexuais. As 
desigualdades não eram produzidas por questões 
inerentes à raça ou ao sexo (incapacidade física ou 
intelectual), mas sim por todo um sistema social, político 
e econômico que oferecia aos negros e mulheres 
oportunidades desiguais, como a falta de acesso a 
escolas e a empregos de qualidade, como a exposição à 
pobreza (GUIMARÃES, 1995). Assim surgem outros 
conceitos interpretativos da realidade, como a etnia, o 
gênero, o status social, entre outros. 
2.2 DO MOVIMENTO FEMINISTA AOS ESTUDOS DE GÊNERO 
Os estudos de gênero surgiram pela necessidade de 
compreender certos aspectos das desigualdades sociais, 
especialmente aqueles relacionados às hierarquias 
sociais provenientes das diferenças sexuais. No entanto, 
para chegarmos a discutir especificamente a categoria 
de gênero, é importante compreender suas raízes 
históricas. 
O surgimento dos estudos atuais sobre a condição 
feminina e sobre as assimetrias sociais, os “Estudos de 
Gênero”, só foram possíveis porque, ao longo do tempo, 
muitos foram os movimentos de mulheres denunciando 
as situações de opressão, preconceito e dominação que 
sofreram e ainda sofrem. O movimento feminista não 
pode e não deve ser reconhecido como um movimento 
único, mas sim como o conjunto de movimentos 
ocorridos desde o século XVIII (e provavelmente até 
mesmo antes disso) voltados a conquistas de direitos 
para as mulheres. Se hoje o gênero representa uma 
categoria de análise tão importante para as Ciências 
Sociais, como o conceito de classe e etnia, é porque se 
fez legítimo pelas tantas batalhas dos movimentos 
feministas, tornando-se fundamental para a 
compreensão das relações humanas. 
Para falarmos sobre os estudos de gênero, é 
necessário primeiro contextualizar o surgimento deste 
conceito, não é mesmo? 
O termo gênero surge nos Estados Unidos na 
década de 1970, quando os problemas das mulheres 
começam a entrar em cena nos espaços universitários, 
mas antes disso é preciso compreender que o conceito 
de gênero decorre do movimento feminista e de suas 
lutas. Por este motivo, vamos conhecer um pouco sobre 
o feminismo. 
O feminismo é um conceito múltiplo, porque possui 
uma dimensão política que se refere aos movimentos de 
luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, que se 
refere aos estudos da condição feminina. A dimensão 
acadêmica, ou seja, o campo de pesquisa e de 
conhecimento sobre as mulheres, pode ser considerada 
multidisciplinar, porque ocorre em diferentes campos 
disciplinares, como: Antropologia, História, Educação, 
Sociologia, Direito e vários outros. 
O principal objetivo do movimento feminista não foi 
alcançar a igualdade entre homens e mulheres, mas sim 
a equidade entre eles. Para assegurar a equidade de 
gênero não deve ser necessário que as mulheres 
assumam posturas “masculinas”. Elas devem preservar 
suas identidades. Por isso a ideia de “equidade” e não 
igualdade. 
No debate de gênero e etnia, quando se fala em 
equidade referimo-nos ao entendimento de que é 
necessário reconhecer as diferenças para adequar as 
políticas e demais ações sociais para a realidade de cada 
um, permitindo que todos alcancem seus direitos e a 
justiça social ocorra. 
FIGURA 41 – CONCEPÇÃO DE IGUALDADE E EQUIDADE
 
FONTE: Disponível em: <https://br.linkedin.com/topic/equidade>. Acesso em: 
6 fev. 2017. 
O MovimentoFeminista surgiu no século XVIII, na 
Europa, especialmente na Inglaterra e França, mas logo 
repercutiu em outros países e se desenvolveu de 
diferentes formas e expressões até os dias atuais. Para 
dar uma ideia da dimensão do Feminismo, ele foi 
dividido em três grandes momentos, que explicam as 
diferentes concepções e lutas do movimento: As 
chamadas primeira, segunda e terceira onda feminista. 
De acordo com Zirbel (2016, p. 98), a “Primeira Onda 
Feminista” refere-se: 
[...] às extensas lutas a favor do direito de voto para 
mulheres (também conhecido como movimento 
sufragista), que se estenderam no ocidente desde o 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 7 
 
 
final do século XIX até meados do século XX, 
configuram a primeira onda feminista, cujo objetivo 
central foi o de reformar as instituições sócio-
políticas no sentido de propiciar maior igualdade 
entre homens e mulheres, utilizando-se do voto 
como estratégia. No final da 
década de 1960 e em grande 
parte da década de 1970, 
após a percepção e avaliação 
de que o voto não fora 
suficiente para operar as 
mudanças desejadas, uma 
segunda onda de protestos e 
reivindicações buscou ampliar 
direitos. 
A Segunda Onda Feminista culmina com os 
movimentos sociais em andamento nos Estados Unidos, 
e o país será desta vez a referência do movimento para 
o restante do mundo. A segunda onda feminista se 
refere a um período da atividade feminista que começa 
no início da década de 60 e dura até o fim da década de 
80. Este momento do feminismo é considerado um dos 
mais importantes, porque é quando de fato os 
movimentos começam a se tornar mais organizados. 
Nesse período os Estados Unidos são um dos mais 
importantes polos de lutas por direitos das mulheres no 
Ocidente. Houve várias mudanças sociais objetivas, 
como a conquista do direito ao voto, o acesso ampliado 
à educação, ao trabalho e uma maior participação 
política das mulheres. Além disso, outras questões, 
como as conquistas sociais em torno do aborto e dos 
direitos reprodutivos (contracepção), pela proteção das 
mulheres vítimas de violência, entre outros. 
É na Terceira Onda Feminista que surge o conceito 
de gênero, nos Estados Unidos, especialmente por meio 
do movimento feminista e do movimento homossexual 
que, na década de 1970, começam a questionar as 
relações de dominação e opressão no espaço privado, 
local em que mulheres e homossexuais eram 
constantemente obrigados a representar os papéis 
sociais “naturais” ao seu sexo. 
 
FIGURA 42 - PAPEL SOCIAL DA MULHER NA DÉCADA DE 1940, NOS 
ESTADOS UNIDOS 
FONTE: Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin /783908497360 
79944/>. Acesso em: 10 mar. 2017. 
A partir desses movimentos, os temas mulher e 
sexualidade começam a adentrar o espaço universitário, 
e pesquisas passam a ser desenvolvidas no interior de 
várias disciplinas. Logo se percebe que não é mais 
possível falar sobre a mulher de maneira generalizante, 
ou seja, de uma única condição feminina, mas levar em 
conta outros elementos no entendimento das 
desigualdades e assimetrias que sofriam as mulheres. 
Era necessário levar em conta a posição de classe, 
a identidade étnica, as referências regionais nas quais 
as mulheres estariam inseridas, assim como todos os 
condicionantes que implicam esses lugares sociais que 
ocupavam. Porque não eram os mesmos problemas que 
viviam, por exemplo, mulheres brancas de classe média 
e mulheres negras, pobres de periferia. Por mais que as 
duas sofressem discriminações de gênero, como a 
imposição dos papéis sociais que pressupunham uma 
posição de submissão e obediência aos homens, por 
exemplo, ainda outras discriminações e dificuldades se 
sobrepõem no caso da mulher pobre e negra. 
 
FIGURA 43 - AS CONDIÇÕES FEMININAS 
FONTE: Disponível em: <https://maniacosporfilme. 
files.wordpress.com/2013/ 04/the-help-3.jpg>. Acesso em: 20 jun. 
2017. 
Nesse período, várias teses são desenvolvidas, no 
entanto, a referência utilizada para o reconhecimento 
das mulheres enquanto grupo ainda permanece 
bastante associada a uma unidade biológica, como 
vagina, útero, seios (GROSSI, s.d.). 
Em seguida, surge o conceito de gênero para acabar 
de vez com a essencialização da condição feminina, 
através de pesquisadoras norte-americanas. Elas vão 
tratar as relações entre homens e mulheres de forma a 
negar as diferenças biológicas como constituidoras das 
identidades dos seres humanos e introduzir a 
perspectiva de que somos construídos a partir de 
determinados mecanismos sociais, que nos condicionam 
a cumprirmos papéis sociais, preestabelecidos. Uma das 
principais responsáveis por essa nova perspectiva é a 
autora Joan Scott. No artigo intitulado “Gênero: uma 
categoria útil de análise histórica”, ela diz que: 
O gênero torna-se uma maneira de indicar 
‘construções sociais’ – a criação inteiramente social 
de ideias sobre os papéis adequados aos homens e 
às mulheres. É uma maneira de se referir às origens 
exclusivamente sociais das identidades subjetivas 
dos homens e das mulheres. O gênero é, segundo 
esta definição, uma categoria social imposta sobre 
um corpo sexuado (SCOTT, 1995, p. 7). 
Para a estudiosa Françoise Heritier (1996), o 
conceito de gênero é relacional, ou seja, se constrói na 
relação entre homens e mulheres, haja vista que 
ninguém vive só, pois todas as pessoas se relacionam 
desde que nascem, independentemente das regras 
sociais e culturais. 
Segundo Grossi (s.d.), papéis de gênero são as 
representações (tomadas como representações de uma 
personagem no teatro) de cada sexo, ou seja, papéis 
sexuais são as características atribuídas a cada sexo, de 
acordo com sua cultura. São modelos do que é próprio 
e concernente a cada sexo. 
Sabe-se, através de relatos de historiadores, que os 
papéis de gênero podem ser alterados dentro de uma 
mesma sociedade, dependendo das situações. Com 
relação à identidade de gênero, ela se forma, segundo 
Grossi (s.d.), a partir da socialização de valores e 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 8 
 
 
comportamentos que são internalizados logo nas 
primeiras fases da infância. Esses valores e 
comportamentos que são repassados são diferentes 
para cada sexo e também variam de uma cultura para 
outra. 
Nos últimos tempos os estudos de gênero passaram 
a se preocupar com várias questões relativas ao universo 
das relações sociais. Observar a realidade a partir da 
análise de gênero possibilitou novas interpretações 
sobre o comportamento humano e a reprodução das 
desigualdades de gênero. 
2.3 MULTICULTURALISMO E SEU CONTEXTO HISTÓRICO 
A seguir vamos trabalhar o conceito de 
multiculturalismo, enfatizando as origens do surgimento 
do movimento, situando-o do ponto de vista político 
(movimentos sociais multiculturais e políticas públicas) e 
teóricos (ciências multiculturalistas), visando oferecer 
conteúdo de base para a interpretação deste campo de 
estudos e sua importância para o debate das relações 
interétnicas. 
Conhecer o conceito de multiculturalismo e suas 
origens é importante, pois, ao longo de sua trajetória 
profissional e pessoal, você certamente os utilizará para 
interpretar as diferentes realidades sociais nas quais 
estiver inserido. Portanto, bons estudos! 
Como a própria etimologia da palavra nos sugere, o 
termo “multi” significa vários; o termo “culturalismo” 
refere-se à cultura; e o sufixo “ismo” está associado às 
posições assumidas ou ideias aceitas sobre as 
possibilidades de conhecimento, ou seja, no caso de 
multiculturalismo significa uma posição assumida sobre 
as diferentes relações entre as várias culturas. 
O “multiculturalismo” é um termo polissêmico e 
existem, pelo menos, dois sentidos diferentes em 
que este pode ser utilizado. Um primeiro sentido é 
descritivo e reporta a um fato da vida humana e 
social, que é a diversidade culturalétnica, religiosa 
que se pode observar no tecido social, ou seja, um 
certo cosmopolitismo que atualmente é fácil de ver 
em qualquer grande cidade da Europa e da América 
do Norte. Um segundo sentido é prescritivo e está 
associado às chamadas políticas de reconhecimento 
da identidade e/ou da diferença que os poderes 
públicos prosseguem, ou deveriam prosseguir, 
segundo os seus defensores, em nome dos grupos 
minoritários e/ou “subalternos” (FERNANDES, 2006, 
p. 2). 
Dito de outra forma, MULTICULTURALISMO 
significa a existência de grupos de diversas culturas, 
assim como o embate político, econômico e social 
travado pelos diferentes grupos sociais na luta pelo 
respeito à diversidade. Por isso, além de estudos 
teóricos e empíricos, o termo implica na conquista de 
reivindicações das chamadas minorias ou grupos 
marginalizados, como os negros, índios, mulheres, 
homossexuais e outros tantos, que buscam assegurar 
seus direitos sociais através de políticas públicas de ação 
afirmativa. 
O multiculturalismo é pluralista, porque as 
diferenças coexistem em um mesmo país ou região. Ali 
convivem diferentes culturas, valores e tradições. Há o 
diálogo e convivência pacífica entre as culturas diversas. 
No entanto, esta coexistência pacífica não significa 
negar as diferenças entre as culturas, nem as 
homogeneizar, mas compreendê-las a partir de uma 
visão dialética sobre os termos igualdade e diferença, na 
medida em que não se pode falar em igualdade sem 
levar em conta as diferenças culturais, e não se pode 
relacionar a diferença como medida de valor. 
Por este motivo, entendemos que igualdade e 
diferença não são termos opostos. De fato, a 
IGUALDADE opõe-se à desigualdade, enquanto 
DIFERENÇA opõe-se à padronização, à 
homogeneização, à produção em série. 
Neste sentido, o objetivo do multiculturalismo, 
assim como todo o debate das relações interétnicas, é 
lutar pela igualdade e pelo reconhecimento das 
diferenças. Assim, um dos temas centrais para o 
multiculturalismo tem sido o DIREITO À DIFERENÇA e a 
DIMINUIÇÃO DAS DESIGUALDADES, bandeira de luta de 
vários movimentos sociais contemporâneos espalhados 
pelo mundo inteiro. 
O termo “multiculturalismo” é relativamente recente 
e sua utilização ocorreu pela primeira vez na Inglaterra, 
entre as décadas de 1960 e 1970. Na linguagem oficial, 
de acordo com Fernandes (2006), o “multiculturalismo” 
surgiu no Canadá e na Austrália, para designar as 
políticas públicas com o objetivo de valorizar e/ou 
promover a diversidade cultural. O autor destaca que 
ainda nesse período outros países anglo-saxônicos, 
como o Reino Unido, a Nova Zelândia e os EUA, também 
iniciam políticas públicas qualificadas como 
“multiculturais”. 
TOME NOTA 
PAÍSES ANGLO-SAXÔNICOS: são países cujos descendentes são 
provenientes de povos germânicos (anglos, saxões e jutos). Esta 
denominação é resultado da fusão desses povos que se fixaram ao 
sul e leste da Grã-Bretanha, no século V. O multiculturalismo 
possui, na sua essência, a ideia, ou ideal, de uma coexistência 
harmônica entre grupos étnica ou culturalmente diferentes em uma 
sociedade pluralista. Os principais usos do termo, contudo, 
alcançaram uma extensão de sentidos que o incluíram como uma 
ideologia, um discurso e um apanhado de políticas e práticas. 
Ideologicamente, o multiculturalismo abrangeu temas relacionados, 
incorporando a aceitação de diferentes grupos étnicos, religiosos, 
práticas culturais e diversidades linguísticas numa sociedade 
pluralista. Quando aplicado à política, abrangeu uma extensão de 
antigas políticas estatais com dois propósitos principais: manter a 
harmonia entre grupos étnicos diversos e estruturar as relações 
entre o Estado e as minorias étnicas. Alguns críticos do 
multiculturalismo argumentaram o seu efeito de dividir a sociedade 
e a sua tendência a ameaçar a unidade do Estado. Outros alegaram 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 9 
 
 
que ele gera guetos sociais e culturais, que limitam as 
oportunidades das minorias étnicas. Outras críticas apontaram os 
conflitos ou tensões entre a promoção do multiculturalismo e a 
conquista da igualdade de gênero. Nos contextos educacionais, o 
multiculturalismo desenvolveu-se por meio de críticas aos modelos 
educacionais de assimilação que tentam impor uma educação 
monocultural a sociedades culturalmente diversificadas. Os críticos 
do multiculturalismo na educação, por sua vez, argumentaram a 
seu respeito a partir de perspectivas assimiladoras e antirracistas. 
Alguns acusaram o relativismo subliminar ao tratamento de 
diferentes culturas como igualmente merecedoras de respeito. 
Análises do crescimento dos debates a respeito do 
multiculturalismo revelam mudanças subliminares nas relações de 
poder, resultantes de fatores como migração, mudanças 
demográficas ou resistência sistemática ao racismo. Nesse 
contexto, torna-se possível o surgimento de debates a respeito das 
práticas e princípios do multiculturalismo, assumindo diferentes 
formas em vários contextos locais, nacionais ou internacionais. 
FONTE: CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e 
Raciais. São Paulo. Summus, 2000, p. 371. 
Para entender o motivo pelo qual estes movimentos 
surgiram, devemos resgatar o aspecto da constituição 
histórica dos Estados Unidos, marcada por um longo 
processo de colonização, que teve como base a 
eliminação e a opressão das diversas tribos indígenas 
que ali estavam. Além disso, devemos levar em conta o 
processo de escravidão que ocorreu no país, no qual os 
negros serviram como base para o desenvolvimento da 
nação. 
Estas posturas dos colonizadores norte-americanos 
foram influenciadas pelos valores religiosos de igrejas 
protestantes, comuns à maioria dos colonos de origem 
anglo-saxã. Esta influência permeou o pensamento e as 
atitudes dos colonizadores norte-americanos em relação 
aos demais grupos, desencadeando, mais tarde, uma 
série de movimentos pela busca de justiça social. 
Para falarmos sobre as políticas multiculturais nos 
Estados Unidos, realizamos um breve relato histórico da 
constituição do território, enfatizando a relação dos 
colonos norte-americanos com os nativos, assim como 
com os escravos trazidos da África. Além disso, 
destacaremos a importância do movimento negro em 
prol da luta pelos direitos civis. 
2.3.1 A LEI DOS DIREITOS CIVIS E AS PRIMEIRAS POLÍTICAS DE AÇÕES 
AFIRMATIVAS 
De maneira geral, os enfrentamentos e as lutas por 
direitos sociais nos Estados Unidos, no início do século 
XX, dividiram as opiniões. De um lado, havia os grupos 
a favor da integração racial e, de outro, os grupos 
segregacionistas, que não desejavam a mudança, pois 
consideravam legítimas as desigualdades. De certa 
forma, o que ocorre é que, no ano de 1964, o Congresso 
norte-americano aprovou o Civil Rights Act (Lei dos 
Direitos Civis), que, além de banir todo tipo de 
discriminação, concedeu ao Governo Federal poderes 
para implementar a dessegregação. 
O termo ações afirmativas foi primeiramente 
empregado em 1961, quando o presidente Kennedy 
organizou um grupo de trabalho para refletir e deliberar 
sobre a questão das oportunidades iguais no mercado 
de trabalho. Em seguida, em 1965, o presidente Lyndon 
Johnson instituiu que as empresas prestadoras de 
serviço ao governo deveriam assegurar um processo 
seletivo de trabalho de forma igualitária para todos os 
cidadãos. Determinou ainda que as empresas deveriam 
promover ações afirmativas que tivessem como objetivo 
combater a discriminação do passado. Com o passar do 
tempo, na década de 1970, essa iniciativa do governo 
passa a ser implementada nas instituições de ensino e 
nas empresas privadas, sendo punidas as instituições 
que desrespeitassem as exigências oficiais dos planos e 
programas de ação afirmativa. 
A partir do momento em que a comunidade negra 
efetivamente começa a colher os resultados da 
mobilizaçãosocial, através de políticas afirmativas, 
outros grupos começam a se organizar no sentido de 
acessar direitos próprios às suas especificidades. 
De acordo com Oliven (2007), a luta dos 
movimentos sociais do período pode ser em parte 
resumida como a tentativa de enfrentar a “supremacia 
WASP (White, Anglo-Saxan and Protestant)”. Ou seja, 
enfrentar uma maioria branca, anglo-saxã e protestante, 
entendidos como colonos “oficiais” do território. 
 
Do ponto de vista do desenvolvimento e ampliação 
das políticas afirmativas nos Estados Unidos, no período, 
surgem quatro grandes grupos que passam a ser 
atendidos sistematicamente. De acordo com O liven 
(2007, p. 35), são eles: 
1. African-Americans, negros nascidos nos Estados Unidos. 
2. Native-Americans, descendentes de índios que pertencem a 
vários grupos, grande parte deles vivendo nos territórios 
indígenas demarcados. 
3. Asian-Americans, descendentes de asiáticos que formam um 
grupo muito heterogêneo em termos de nacionalidades, 
etnias, culturas e nível de escolaridade; são, também, 
oriundos de períodos migratórios diferentes. 
4. Hispanics, mexicanos, porto-riquenhos, cubanos e demais 
migrantes de outros países da América Central e do Sul e seus 
descendentes, que podem ser brancos, indígenas ou negros. 
De acordo com essa classificação, do ponto de vista 
da promoção do acesso a direitos, muitos grupos 
estariam mal representados, ou mesmo sem 
representação, dada, por exemplo, a infinidade de 
descendentes de imigrantes nos Estados Unidos. Nesse 
WASP: Este termo é utilizado de forma pejorativa nos 
países norte-americanos. Teoricamente, a palavra designa um 
grupo relativamente homogêneo de indivíduos 
estadunidenses de religião protestante e ascendência 
britânica que supostamente detêm enorme poder econômico, 
político e social. Costuma ser empregada para indicar 
desaprovação ao poder excessivo de que esse grupo gozaria 
na sociedade norte-americana. 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 10 
 
 
sentido, as políticas de ação afirmativa tornam-se mais 
vulneráveis. 
Não falamos aqui sobre outros movimentos sociais 
da década de 1960 nos Estados Unidos porque o 
movimento negro foi o que mais teve peso na conquista 
dos direitos civis, momento de abertura política para os 
movimentos em geral. No entanto, não podemos deixar 
de admitir que muitos outros movimentos foram 
importantes para a conquista das políticas multiculturais. 
Dentre eles, podemos destacar os movimentos: 
operário, feminista, homossexual, hippie, religioso e 
outros. 
3.2 CONCEITUANDO POLÍTICAS PÚBLICAS E DE AÇÃO 
AFIRMATIVA 
Traremos o debate sobre políticas públicas e 
demonstraremos as políticas afirmativas que, no geral, 
visam proteger as minorias étnicas que tenham sido 
discriminadas no passado, dando a elas condições de 
acesso ao trabalho, universidades e posições de 
liderança. 
Para compreendermos o debate do 
multiculturalismo do ponto de vista das ações políticas, 
precisamos refletir primeiramente sobre o conceito de 
“políticas públicas”. No decorrer das pesquisas para o 
desenvolvimento deste fascículo, nos deparamos com 
vários conceitos de “política pública”, porque, assim 
como o multiculturalismo, o conceito representa, ao 
mesmo tempo, aspectos políticos (ações e programas de 
governo) e acadêmicos (áreas de conhecimento que 
discutem teoricamente o tema). Podemos dizer, 
portanto, que o conceito é múltiplo, porque o campo de 
discussão é muito vasto, e pode ser entendido como 
uma área interdisciplinar de conhecimento. De acordo 
com pesquisas de Souza (2006, p. 24): 
não existe uma única, nem melhor definição sobre o 
que seja política pública. Mead (1995) a define como 
um campo dentro do estudo da política que analisa 
o governo à luz de grandes questões públicas, e Lynn 
(1980), como um conjunto de ações do governo que 
irá produzir efeitos específicos. Peters (1986) segue 
o mesmo veio: política pública é a soma das 
atividades dos governos [...] que influenciam a vida 
dos cidadãos. Dye (1984) sintetiza: “política pública 
é o que o governo escolhe fazer ou não fazer”. A 
definição mais conhecida continua a ser a de 
Laswell: Decisões e análises sobre política pública 
implicam responder às seguintes questões: quem 
ganha o quê, por que e que diferença faz. 
Segundo Simões Pires (2001), as políticas públicas 
devem ser desenvolvidas, na medida em que se leve em 
consideração as posições e interesses da sociedade, 
através de um processo democrático de participação. 
As políticas públicas devem ser - em sua formulação 
- a expressão pura e genuína do interesse geral da 
sociedade, o que, num processo legítimo, pressupõe 
seja a demanda social auscultada em instâncias 
democráticas, enfrentada de forma realística pela 
instituição formuladora e solucionada à luz do 
possível consenso dos atores sociais, sem prejuízo 
da adoção de critérios de conhecimento 
tecnicamente racionais para a solução de problemas 
sociais, a partir de eficaz fluxo de informações 
(SIMÕES PIRES, 2001, p. 192). 
Em última análise, entende-se que as “políticas 
públicas” devem representar o conjunto de ações 
políticas desenvolvidas e implementadas por todos os 
atores políticos, de maneira que garantam a satisfação 
das demandas sociais levantadas nas mais diversas 
áreas. 
No caso das políticas de ações afirmativas, o termo 
está relacionado ao contexto dos movimentos sociais da 
década de 1960, na América do Norte, especialmente a 
partir do movimento negro. O termo “ações afirmativas” 
surge pela primeira vez no ano de 1961, durante o 
governo Kennedy, que se preocupava com a 
possibilidade de igualdade para negros e brancos no 
mercado de trabalho. Atualmente, o termo “políticas de 
ações afirmativas” pode ser entendido como: 
[...] o conjunto de políticas públicas para proteger 
minorias e grupos que, em uma determinada 
sociedade, tenham sido discriminados no passado. A 
ação afirmativa visa remover barreiras, formais e 
informais, que impeçam o acesso de certos grupos 
ao mercado de trabalho, universidades e posições de 
liderança. Em termos práticos, as ações afirmativas 
incentivam as organizações a agir positivamente, a 
fim de favorecer pessoas de segmentos sociais 
discriminados a terem oportunidade de ascender a 
postos de comando. Nessa perspectiva, a sub-
representação de minorias, em instituições e 
posições de maior prestígio e poder na sociedade 
pode ser considerada um reflexo de discriminação. 
Portanto, visa-se, por um período provisório, a 
criação de incentivos aos grupos minoritários, que 
busquem o equilíbrio entre os percentuais de cada 
minoria na população em geral e os percentuais 
dessas mesmas minorias na composição dos grupos 
de poder nas diversas instituições que fazem parte 
da sociedade (OLIVEN, 2007, p. 30). 
As políticas de ação afirmativa também são 
comumente chamadas de “políticas multiculturais”, 
referindo-se ao caráter das lutas políticas do movimento. 
Por outro lado, as políticas de ação afirmativa são 
entendidas pelos críticos do movimento multiculturalista 
como movimentos de “discriminação positiva”. 
DISCRIMINAÇÃO POSITIVA trata deliberadamente os 
candidatos de forma desigual, favorecendo pessoas de grupos que 
tenham sido vítimas habituais de discriminação. O objetivo de tratar 
as pessoas desta forma desigual é acelerar o processo de tornar a 
sociedade mais igualitária, acabando não apenas com desequilíbrios 
existentes em certas profissões, mas proporcionando também 
modelos que possam ser seguidos e respeitados pelos jovens dos 
grupos tradicionalmente menos respeitados. [...] A discriminação 
positiva é apenas uma medida temporária, até que a percentagem 
de membros do grupo tradicionalmente excluído reflita mais ou 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 11 
 
 
menos a percentagemde membros deste grupo na população em 
geral. Em alguns países é ilegal; noutros, é obrigatória. 
FONTE: Adaptado de: <cadernosociologia.blogspot.com/ 
2011_03_01_archive.html>. Acesso em: 30 set. 2011. 
MULTICULTURALISMO, GÊNERO, RAÇA E ETNIA NO BRASIL 
3.1 AS POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA AMÉRICA LATINA E NO 
BRASIL 
Para iniciar esta etapa, vamos começar discutindo a 
categoria raça e seu desenvolvimento histórico. Tal 
conceito, como veremos adiante, tem sofrido críticas 
quanto à sua utilização nas Ciências Sociais, da mesma 
forma como existe a defesa de sua utilização. Lívio 
Sansone (1998, p. 409) indica, por exemplo, categorias 
alternativas, como “racialização, relações e hierarquias 
raciais”, ou mesmo, o “racismo”. Existe, claro, o peso de 
seu passado e a ligação com teorias e políticas de cunho 
racistas. 
3.1.1 A FRAGILIDADE DAS POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA 
AMÉRICA LATINA 
As políticas multiculturais na América Latina têm 
sido insuficientes para dar conta de diminuir as 
desigualdades sociais ocasionadas pela exploração de 
vários povos, como os indígenas e os negros. Isso 
acontece porque, na América Latina, a discriminação 
dirigida a negros, índios e tantas outras minorias étnicas 
ocorre de forma velada, ou seja, de forma indireta e 
personalista, como se a questão fosse individual e não 
social. Ficando no nível pessoal, muitos governos não 
reconhecem esse problema, e, não o reconhecendo, não 
planejam e não executam políticas públicas nesta 
direção. 
Esse processo começa com a colonização, que em 
praticamente todos os países da América Latina foi de 
exploração. Europeus, principalmente portugueses e 
espanhóis, invadiram nossas terras em busca de 
riquezas e, para manter essas riquezas, as metrópoles e 
os demais países da Europa contaram com a exploração 
dos índios e dos negros. Inicialmente, logo que os 
primeiros descobridores chegaram às américas, 
iniciaram um processo de aculturação dos índios. 
Ocasionando muitos conflitos e choques culturais, e 
quem saiu perdendo foram os habitantes nativos da 
América Latina “recém-descoberta” pelos europeus, pois 
de forma violenta e sem condições de defesa, vários 
índios, dentre eles mulheres e crianças, foram mortos 
para que o projeto de exploração desse território 
pudesse ser levado adiante sem a interferência dos 
nativos. 
O processo de colonização da América Latina, que 
perdurou até o início do século XX, em alguns países, 
quase provocou a eliminação da cultura indígena e a 
supremacia da cultura europeia. Portanto, a diversidade 
cultural aqui existente foi praticamente esquecida, 
politicamente, e apenas no final do século XX, com as 
constituições federais democráticas, é que alguns países 
começam a tentar corrigir as injustiças praticadas contra 
esses povos e a iniciar um processo de resgate dessas 
culturas, apesar da completa extinção de muitas tribos 
indígenas. Vieira e Pinto (2008, p. 4) nos dizem que: 
As novas constituições contêm algum tipo de 
reconhecimento da diversidade cultural e linguística 
e, em alguns casos, estabelecem regimes jurídicos 
específicos às comunidades indígenas. Algumas 
respostas são mínimas e pouco satisfatórias, outras 
são amplas e de completa aplicação prática. 
É diante desse contexto – onde todos os países da 
América Latina foram colônias de exploração e 
continuam sofrendo até hoje as consequências sociais e 
econômicas, especificamente as culturas minoritárias, e 
ainda diante do processo de ditadura militar que passou 
a maioria dos países, a partir de meados do século XX 
até a década de 1980. 
3.2 O SURGIMENTO DAS POLÍTICAS MULTICULTURAIS NO BRASIL 
As políticas multiculturais no Brasil surgiram durante 
o Governo Lula, no final do século XX, e ampliaram-se 
no início do século XXI, através da criação de diversas 
secretarias. Alguns elementos fundamentais para a 
discussão das políticas multiculturais no país são a 
política de cotas nas universidades, o Estatuto da 
Igualdade Racial e a criação das comunidades 
quilombolas e negras com direito à propriedade da terra 
e à manutenção da sua cultura. 
A seguir veremos que as políticas multiculturais 
existentes no Brasil são importantes instrumentos de 
ampliação e consolidação das políticas públicas para a 
diminuição das desigualdades sociais, na direção de um 
país mais justo e solidário, que leva em consideração a 
diversidade étnica e cultural existente em seu território. 
O primeiro mandato do Governo Lula teve início no 
dia 1º de janeiro de 2003 e se estendeu até dezembro 
de 2006. Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições de 
2002 após três tentativas. Foi a primeira vez na história 
do Brasil que um ex-operário chegou ao cargo mais 
importante do país. 
Nos governos anteriores a Lula os investimentos 
realizados foram mais voltados para a área econômica, 
pois o país passava por uma grande crise, com a inflação 
descontrolada. Somente no governo FHC é que o país 
conseguiu controlar a inflação, houve alguns 
investimentos em programas sociais com o objetivo de 
amenizar as desigualdades sociais existentes no país, 
mas em relação às políticas culturais e o 
multiculturalismo: 
UNIDADE IIi 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 12 
 
 
[...] não há registros de que o governo FHC tenha 
realizado um processo de debate público, ou seja, 
não houve uma abertura à participação popular 
sobre o papel da Cultura na construção de uma 
sociedade democrática, não inserindo a Cultura no 
desenvolvimento da cidadania [...] (PINTO, 2010, p. 
14). 
Isso significa dizer que apenas no final do século XX 
e início do século XXI é que se iniciam efetivamente 
alguns investimentos em políticas multiculturais no Brasil 
e a cultura passa a ser considerada um dos parâmetros 
para o desenvolvimento do país, sendo prevista desde a 
Constituição Federal de 1988. 
O governo Lula ampliou as políticas sociais iniciadas 
no governo FHC. Criou o Programa Fome Zero, que 
consistia na transferência de renda direta para famílias 
com renda per capita de R$ 69,01 a R$ 137,00, com o 
objetivo de diminuir a miséria e a fome no país. Também 
foram criadas diversas secretarias com o objetivo de 
respeitar a diversidade étnica e cultural existente no país 
e diminuir as desigualdades sociais históricas, 
ocasionadas por questões de gênero e raça. Foram 
criadas a Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria de 
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Secretaria 
Especial de Políticas para as Mulheres, bem como o 
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à 
Fome, criadas para promover a cidadania e diminuir as 
desigualdades sociais no Brasil, além de serem o alicerce 
na criação de políticas multiculturais. 
Isso não quer dizer que a discriminação por raça, 
gênero, religião, etnia e classe social tenha acabado no 
país, mas são políticas públicas importantes 
desenvolvidas através desses ministérios e secretarias, 
instrumentos eficazes na construção de uma sociedade 
brasileira mais justa e que respeite de fato a diversidade 
existente nesse imenso país, para que a nossa nova 
história seja construída com a efetiva participação de 
todos. 
3.4 O SISTEMA DE COTAS 
O Brasil inicia sua trajetória no sistema de cotas 
adotando políticas afirmativas para dois grupos: 
deficientes e mulheres. Em relação aos deficientes, 
foram estabelecidas cotas para que possam ingressar no 
serviço público através de concurso, e também 
programas exigindo que as empresas contratem um 
percentual de pessoas com deficiências no seu quadro 
funcional. Esse 
ordenamento 
jurídico encontra 
seu respaldo na 
Constituição 
Federal de 1988. 
 
FIGURA 48 - O 
SISTEMA DE COTAS É 
PRODUTO DA LUTA 
DOS MOVIMENTOS NEGROS | FONTE: Disponível em: 
<http://www.politize.com.br/wp-content/uploads/2016/10/ movimento-negro-
passeata.jpg>. Acesso em: 20 jun. 2017. 
Além disso, o Brasil fixou a obrigatoriedade de os 
partidos políticos terem no mínimo 20%do seu quadro 
eleitoral composto por mulheres. Nas universidades, o 
sistema de cotas começa a entrar em vigor no ano 2000, 
sendo que as primeiras universidades a adotarem esse 
sistema no vestibular, no ano de 2004, foram as 
universidades estaduais no Rio de Janeiro, garantindo 
que 50% das vagas fossem destinadas a estudantes de 
escolas públicas. 
Logo em seguida, no dia 9 de novembro de 2001, a 
Lei nº 3.708/01 institui o sistema de cotas para 
estudantes negros ou pardos, destinando 40% das 
vagas das universidades públicas estaduais do Rio de 
Janeiro. Em 2002, a Universidade Estadual do Rio de 
Janeiro (UERJ) e a UENF passam a adotar essa política 
no seu vestibular. A Universidade de Brasília (UNB) e a 
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) também 
aderem ao sistema de cotas, adotando critérios 
socioeconômicos ou a cor ou raça em seus vestibulares. 
Nesta mesma perspectiva, para reforçar as políticas 
multiculturais em âmbito nacional, foi criado o Programa 
Diversidade na Universidade, através da Lei Federal nº 
10.558/02, de 13 de novembro de 2002, conhecida 
como “Lei de Cotas”. 
Existe muita resistência por parte de vários 
segmentos tradicionais da sociedade brasileira em 
aceitar a Lei de Cotas nas Universidades, pois, para 
estes, esta lei reforça o racismo já existente no país, 
fazendo com que negros e pardos ou pessoas de 
condições socioeconômicas desfavoráveis acessem as 
universidades não pelo mérito, mas pelo enquadramento 
em uma lei. No entanto, como citamos anteriormente, 
esse sistema existe para equiparar danos provocados a 
estas etnias e classes sociais que sempre foram 
marginalizadas no decorrer da história do país. 
Além do sistema de cotas, devem acontecer em 
paralelo outros programas sociais que resolvam as 
deficiências estruturais da sociedade brasileira, focando 
em áreas como educação, saúde, distribuição de renda, 
cultura, qualificação profissional, habitação, entre 
outras. O problema apresentado é que, gerando 
oportunidades para a camada social menos favorecida, 
a elite brasileira perde privilégios históricos, pois agora 
os seus filhos terão que concorrer a uma vaga no 
mercado de trabalho com as “minorias étnicas ou com 
os pobres”. As carreiras que antes só pertenciam a eles, 
como Medicina, Engenharia, Direito, dentre outros 
cursos elitizados, que entraram no sistema de cotas, 
agora tornam-se acessíveis a um maior número de 
brasileiros que, até então, não podiam sonhar em 
construir uma profissão promissora. 
O sistema de cotas geralmente possui um período 
determinado, ou seja, ele perdura até eliminar a 
http://www.politize.com.br/wp-content/uploads/2016/10/
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 13 
 
 
desigualdade e a exclusão ocasionadas a determinados 
grupos sociais, como falamos anteriormente. Ele só 
terminará quando os grupos sociais, que foram incluídos 
no sistema de cotas, estiverem inseridos de maneira 
digna na sociedade brasileira. 
3.5 ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL 
Outro instrumento jurídico que reforça as políticas 
multiculturais no Brasil é o Estatuto da Igualdade Racial, 
criado em 20 de julho de 2010, através da Lei Federal 
nº 12.288/2010. Este estatuto visa garantir à população 
negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a 
defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e 
difusos e o combate à discriminação e às demais formas 
de intolerância étnica (BRASIL, 2010). O Estatuto da 
Igualdade Racial estabelece a inclusão da população 
negra nas políticas públicas de educação, cultura, 
esporte, lazer, saúde, respeito às suas crenças religiosas 
e liberdade de expressão, direito à terra e à moradia 
digna, políticas de inclusão da população negra no 
mercado de trabalho, a valorização da herança cultural 
negra, através dos meios de comunicação, combate à 
discriminação e às demais formas de intolerância étnica, 
levando em consideração critérios como gênero e classe 
social. Portanto, esse Estatuto significa um importante 
avanço na promoção da igualdade de oportunidades 
para a população negra no país, que desde o período de 
colonização sofreu as consequências de uma sociedade 
eurocêntrica baseada na exploração de negros, índios e 
mestiços, como forma de enriquecimento através de 
povos considerados “inferiores e subalternos”. 
3.6 COMUNIDADES QUILOMBOLAS E TRADICIONAIS: UM CAMINHO 
PARA O RESPEITO À DIVERSIDADE ÉTNICA-CULTURAL 
Após grande pressão do Movimento Negro, foram 
criadas, em 2003, as comunidades quilombolas. Elas são 
definidas como remanescentes de Quilombo, com uma 
identidade étnica comum diferente das demais 
existentes no país com ancestralidade negra, criadas 
com o objetivo de fortalecer a cultura desses grupos e 
que estabelecem o direito à terra de acordo com o 
Decreto nº 4.887/03. 
Atualmente, existem cerca de 3.524 comunidades 
quilombolas no Brasil, em 24 estados da federação, 
segundo dados da Fundação Palmares. Os movimentos 
sociais também foram determinantes para que na 
Constituição de 1988 aparecesse o termo “Comunidades 
Tradicionais”. A partir de 2002, um conjunto de medidas 
governamentais possibilitou a sua implementação. Como 
definir o que são comunidades tradicionais? O Decreto 
nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, Art. 30, define 
povos e comunidades como (BRASIL, 2007): 
[…] grupos culturalmente diferenciados e que se 
reconhecem como tais, que possuem formas 
próprias de organização social, que ocupam e usam 
territórios e recursos naturais como condição para 
sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e 
econômica, utilizando conhecimentos, inovações e 
práticas gerados e transmitidos pela tradição. 
 
FIGURA 49 - 
QUILOMBOS 
BRASILEIROS: 
ORGANIZANDO-SE 
POR DIREITOS 
 
 
FONTE: Disponível em: 
<http://racismoambiental.net.br/wp-content/uploads/2013/07/ quilombo- da-
lapinha.jpg>. Acesso em: 20 jun. 2017. 
E os seus territórios como sendo: 
[…] os espaços necessários à reprodução cultural, 
social e econômica dos povos e comunidades 
tradicionais, sejam eles utilizados de forma 
permanente ou temporária, observado, no que diz 
respeito aos povos indígenas e quilombolas, 
respectivamente, o que dispõem o Artigo 231 da 
Constituição de 68 do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias e demais 
regulamentações. 
Em 2006, o Brasil começa a organizar uma política 
nacional dirigida para os Povos e Comunidades 
Tradicionais através do Decreto de 13 de julho de 2006, 
criando a Comissão Nacional de Desenvolvimento 
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais 
(CNPCT). Esta comissão integra representantes de 15 
Povos e Comunidades Tradicionais e também 
representantes do Ministério do Desenvolvimento Social 
e Combate à Fome e do Ministério do Meio Ambiente, 
dois órgãos públicos federais aos quais esta comissão 
está interligada. 
Logo em seguida, através do Decreto nº 6.040, de 7 
de fevereiro de 2007, foi criada a Política Nacional de 
Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades 
Tradicionais (PNPCT). O PNPCT, bem como a definição 
e o reconhecimento das Comunidades Quilombolas, é 
mais um importante passo na direção da manutenção da 
existência e preservação da cultura de grupos 
marginalizados e explorados no decorrer da nossa 
história. Mostrando também que só é possível construir 
um país desenvolvido, com dignidade, respeitando a 
diversidade étnica. 
DESIGUALDADES E VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO BRASIL 
4.1 INTRODUÇÃO 
Como vimos, nossa sociedade é culturalmente 
plural e socialmente desigual. As diversas interpretações 
sobre a realidade nacional apontaram para a existência 
de abismos profundos entre classes e grupos sociais. 
UNIDADE Iv 
http://racismoambiental.net.br/wp-content/uploads/2013/07/
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 14 
 
 
Muitos deles são oriundos da nossa concentração de 
renda. 
Outros, são vinculados a murossimbólicos erguidos 
em torno da cor da pele ou gênero, por exemplo. De 
fato, existem múltiplas camadas de injustiças e 
distâncias sociais na história brasileira. 
O Brasil é um Estado de tamanho considerável, de 
natureza exuberante, de terras férteis, porém, 
concentradas. De uma população mista, mas segregada 
em camadas de preconceitos. 
De uma indústria e serviços modernos, mas que 
convive com práticas patrimonialistas. A complexidade 
brasileira vai além. 
 
FIGURA 50 - AS MULHERES BRASILEIRAS DO CAMPO E DA CIDADE E SUAS 
LUTAS ATUAIS
 
FONTE: Disponível em: 
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/Feminist_Stencil_ 
Graffito_S%C3%A3o_Paulo_March_2012-14.jpg> e 
<http://jornalggn.com.br/sites/default/files/admin/ marcha-das-
margaridas.jpg>. 
Somos os únicos complexos em todo o mundo? 
Nada existe de verdadeiro nessa questão. Porém, 
diferente de algumas nações, como algumas localizadas 
na Europa Ocidental, as sociedades brasileiras do 
passado e atuais são resultados do encontro de muitos 
povos. Estamos mais próximos da complexidade cultural 
da Índia do que da França. Todavia, as ideias 
dominantes que prevaleceram e ainda prevalecem e que 
buscam explicar nossa sociedade são, em sua maioria, 
europeias. 
Este tópico busca apresentar alguns dados e 
resultados de pesquisas que apontam para as enormes 
desigualdades múltiplas em nosso país. Elas afetam de 
maneira desigual os grupos sociais, resultando no 
aparecimento e na consolidação de grupos mais 
vulneráveis, sejam nos aspectos ligados à escolaridade, 
renda, violência, expectativa de vida ou acesso a 
oportunidades. De certa forma, a nossa diversidade 
sociocultural convive com situações extremas de 
vulnerabilidade e exclusão social. Isso porque haveria 
uma imbricação entre desigualdades e diversidade 
(GOMES, 2012). 
Assim, apesar de muitos avanços, como o fato de o 
Brasil ter saído do Mapa da Fome da ONU, os desafios 
sociais brasileiros são inúmeros. Muitos deles passam, 
assim, por questões estruturais ligadas à etnia e ao 
gênero. No mais, estas temáticas estão ligadas ao 
reconhecimento social e político desses sujeitos e grupos 
sociais. Reconhecer a injustiça e a desigualdade que está 
estruturalmente alicerçada à realidade brasileira. E é do 
ponto de vista do gênero e das relações étnico-raciais 
que nossas instituições sociais, públicas e privadas se 
tornam sensíveis ao problema da igualdade, da justiça e 
da redistribuição. 
Primeiro, adentramos nas questões ligadas ao 
Feminismo e suas problematizações de gênero, 
refletindo sobre as desigualdades encontradas em nosso 
país. Em seguida, abordaremos o tema do ponto de vista 
étnico-racial, envolvendo as populações negras, pardas 
e indígenas. 
4.2 DENUNCIANDO AS DIFERENÇAS SOCIALMENTE CONSTRUÍDAS 
ENTRE OS GÊNEROS 
Já discutimos com profundidade o tema das 
relações de gênero, raciais e étnicas, apontando para a 
sua importância como conceito analítico. Quer dizer, 
como um recurso para incursões teóricas sobre o 
assunto nas Ciências Sociais. Porém, e isso já foi 
ressaltado, essas categorias teóricas acabam sendo 
incorporadas como conhecimento reflexivo no dia a dia, 
orientando nossas relações sociais mais básicas, 
incluindo a ação política. Basta lembrar, por exemplo, o 
debate proposto por Anthony Giddens sobre 
reflexividade do eu na nossa sociedade pós-tradicional. 
As categorias teóricas têm peso na vida cotidiana. 
Diante de determinadas injustiças, elas possuem a 
capacidade de orientar a ação e a mobilização social, 
resultando na organização de movimentos sociais, por 
exemplo. Novamente, devemos articular essa colocação 
com um assunto já abordado: a Teoria do 
Reconhecimento. Para o filósofo alemão Axel Honneth 
(2003, p. 224): “Toda reação emocional negativa que 
vai de par com a experiência de um desrespeito de 
pretensões de reconhecimento contém novamente em si 
a possibilidade de que a injustiça infligida ao sujeito se 
lhe revele em termos cognitivos e se torne o motivo da 
resistência política”. 
Assim, é constante observarmos a discussão 
calorosa nas redes sociais, a sua presença na política, 
nos meios de comunicação, na indústria cultural, nas 
ruas em ação. É a percepção de diferenças socialmente 
construídas em detrimento de alguns grupos sociais que 
alimenta a necessidade de agir para reconhecer esses 
desníveis e redistribuir os recursos em jogo, sejam eles 
legais, financeiros, simbólicos etc. Na luta contra a 
injustiça, os indivíduos percebem-se como moralmente 
injustiçados. 
Gênero e Feminismo não são as mesmas coisas. 
Todavia, o Feminismo é responsável pela 
conformação de um campo de investigações que deu 
origem às pesquisas sobre relações de gênero. Os 
estudos de gênero ganharam dimensão significativa 
http://jornalggn.com.br/sites/default/files/admin/
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 15 
 
 
nas Ciências Sociais nos anos 1960. Foi uma década 
de ascensão dos novos movimentos sociais. Essas 
dinâmicas que ocorriam na realidade dos anos 1960-
1970 produziram crises que colocam sob crítica os 
paradigmas que orientavam a reflexão sociológica e 
antropológica dominante até aquele momento. Tais 
metodologias e teorias omitiam ou silenciavam a 
respeito das diferenças sociais conformadas entre os 
sexos ou etnias e raças. O grande salto qualitativo 
deste momento de questionamentos foi 
problematizar a existência de relações de gênero não 
mais como algo dado, a priori e universal, isto é, 
natural (SCAVONE, 2008, p. 174). 
E qual foi a situação social dessas duas décadas, 
que foi significativa a ponto de fazer emergir novos 
paradigmas de reflexão nas Ciências Humanas? De uma 
maneira geral, ao longo dos últimos 60 anos, um rápido 
processo de transformação social, econômico e 
ambiental acarretou no surgimento de discussões que 
partiram de um entendimento mais transversal de 
Cultura, aproximando-a da Técnica e da Ciência, da 
Economia, da Comunicação e Publicidade (RUBIM; 
RUBIM; VIEIRA, 2005). Uma das mais impactantes é a 
sua aproximação com a política. A territorialização da 
cultura, por parte da política, e vice-versa, a partir dos 
profundos deslocamentos conceituais que ocorreram no 
último século e no início deste, resultou na ampliação 
dos usos possíveis da cultura, considerada agora 
importante recurso mobilizado por uma infinidade de 
agentes sociais, públicos, privados e estatais, urbanos, 
rurais ou tradicionais para os mais diversos fins e 
justificativas. 
Para Marta Lamas (2000, p. 13), o feminismo, ao 
conformar o conceito de gênero, contribui para a 
“compreensão de que não é a anatomia que posiciona 
homens e mulheres em âmbito e hierarquias distintas”, 
mas sim, “a simbolização que as sociedades fazem dela”. 
Com isso, o Feminismo e as feministas problematizam a 
própria tradição intelectual ocidental e os postulados que 
são produzidos e que legitimam mecanismos de 
exclusão e dominação. Essas posições tratavam-se de se 
distanciar do determinismo biológico, que já havia sido 
uma teoria hegemônica. 
A emergência e consolidação dos Estudos de 
Gênero permitiu a inclusão de diversas perspectivas 
sobre as relações sociais entre homens e mulheres. 
Questões como direitos reprodutivos, violência sexual e 
doméstica, desigualdades salariais, falta de 
representatividade nas instituições públicas, nas 
empresas privadas etc. Denuncia-se formas de 
dominação simbólica masculina e a desigualdade nas 
relações de poder. Segundo Livia Scavone (2008), 
tratou-se de desconstruir o sujeito universal iluminista 
por metodologias e abordagens menos totalizantes. 
Diante de tantas constatações da artificialidade das 
divisões sexuais, constatamos a persistência de 
inúmeras desigualdades, violências e desnível nas 
relações de poder entre homens e mulheres. Em países 
como o Brasil, a situação torna-se ainda mais dramática 
para as mulheres, transgêneros e comunidade gay e 
lésbica.4.3 RELAÇÕES ENTRE GÊNERO NA SOCIEDADE BRASILEIRA 
ATUAL 
A população feminina, segundo o Censo do IBGE 
(2010), representou 51,5% do total dos brasileiros. 
Nosso país teve como característica de suas etapas 
históricas anteriores a conformação de uma sociedade 
patriarcal e organizada em torno da unidade familiar, 
cujo poder estava nas mãos dos homens. Apesar de 
maioria, hoje, em nossa história, as mulheres foram 
constantemente invisibilizadas e confinadas ao lar, 
sendo sujeitas às lógicas da família patriarcal. 
O que é uma sociedade patriarcal contemporânea? 
Para a pesquisadora Maria do Perpétuo Socorro Leite 
Barreto (2004): 
É caracterizado por uma autoridade imposta 
institucionalmente, do homem sobre mulheres e 
filhos no ambiente familiar, permeando toda 
organização da sociedade, da produção e do 
consumo, da política, à legislação e à cultura. Nesse 
sentido, o patriarcado funda a estrutura da 
sociedade e recebe reforço institucional, nesse 
contexto, relacionamentos interpessoais e 
personalidade são marcados pela dominação e 
violência (2004, p. 64). 
Trata-se de uma relação de poder que se 
fundamenta naquilo que Max Weber chamou de 
autoridade pessoal. Neste tipo de situação, o que 
fundamenta a autoridade é a sujeição pessoal. 
Este tipo de tradição cultural dominante em nossa 
sociedade tem origens estruturais sociais herdadas da 
ocupação e dominação política portuguesa desde 1500, 
continuando presente e com força até os dias atuais. 
Todavia, as lutas e movimentos sociais têm reforçado 
essa característica nociva à equidade e que se encontra 
presente em nossa sociedade. 
Para Gilberto Freyre, o patriarcalismo estruturou-se 
no Brasil “como uma estratégia da colonização 
portuguesa”, cujas bases institucionais dessa forma 
dessa dominação foram “o grupo doméstico rural e o 
regime da escravidão”. Ele sugeriu que dominação era 
exercida pelos homens através da sexualidade “como 
recurso para aumentar a população escrava”, mediada 
“pelo arbítrio masculino no uso do sexo” (AGUIAR, 2000, 
p. 308). 
Importante entender o marco legal representado 
pela Constituição Federal de 1988, que redefiniu o 
conceito de igualdade entre homens e mulheres, com 
reconhecimento explícito das diferenças e da condição 
de desigualdade da mulher na sociedade. 
Porém, atualmente, a situação da mulher brasileira 
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 16 
 
 
continua sendo social, política, cultural e 
economicamente problemática. Enraizado nas heranças 
culturais e nas dinâmicas das diferenças de gênero, a 
dominação masculina, a misoginia, as muitas formas de 
violência e de desigualdade ainda persistem em nosso 
quadro social. Vamos, agora, aprofundar a reflexão 
sobre estes problemas de primeira grandeza. 
4.3.1 A VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
Não é necessariamente apenas contra mulheres. 
Este campo inclui, também, as violências diversas 
perpetradas contra gays, lésbicas, transexuais e outros 
agentes relacionados ao universo não heterossexual. No 
caso das mulheres, a violência é resultado das 
diferenças entre o feminino e o masculino, que são 
transformadas em desigualdades hierárquicas pelos 
discursos masculinos sobre a mulher e que recaem sobre 
o corpo da mulher (SANTOS; IZUMINO, 2005). 
O interesse sobre este tipo de violência é decorrente 
das reflexões produzidas no âmbito do feminismo e dos 
estudos de gênero, com a desconstrução dos 
significados atribuídos à masculinidade e feminilidade. 
Os tipos de violência ligados ao gênero são motivados 
por desigualdades entre os sexos, do universo familiar 
ao mundo da rua e das interações sociais. Segundo 
Lourdes Maria Bandeira (2014, p. 451): 
[...] ao escolher o uso da modalidade violência de 
gênero, entende-se que as ações violentas são 
produzidas em contextos e espaços relacionais e, 
portanto, interpessoais, que têm cenários societais e 
históricos não uniformes. A centralidade das ações 
violentas incide sobre a mulher, quer sejam estas 
violências físicas, sexuais, psicológicas, patrimoniais 
ou morais, tanto no âmbito privado-familiar como 
nos espaços de trabalho e públicos. 
No Brasil, o campo de estudos sobre esse tipo de 
violência teve início nos anos 1980. Tal situação 
impactou o movimento feminista brasileiro e a 
academia, através da incorporação da categoria teórica 
aos temas de inserção intelectual e do cotidiano. 
Por exemplo, surgiram grupos de combate e 
atendimento às mulheres em situação de violência, 
sendo pioneiros os SOS Corpo de Recife (1978), São 
Paulo, Campinas e Belo Horizonte (década de 1980) 
(BANDEIRA, 2014). 
Tais estudos resultam das mudanças sociais e 
políticas no país, acompanhando o desenvolvimento do 
movimento de mulheres e o processo de 
redemocratização. Além disso, o surgimento das 
Delegacias das Mulheres nos anos 1980 forçou o Estado 
a atuar contra as violências de gênero (SANTOS; 
IZUMINO, 2005). 
Para a pesquisadora e pioneira nos estudos sobre 
violência de gênero no Brasil, Saffioti, a violência de 
gênero brota de situações complexas em que diversos 
fenômenos estão relacionados e impactam as relações, 
mas “estes nem são da mesma natureza nem 
apresentam a mesma capacidade de determinação” 
(SAFFIOTI, 2001, p. 133). É necessário refletir sobre as 
características das muitas violências contra a mulher, 
contra os gêneros, as formas de violência doméstica, 
sexual. Quer dizer, a violência contra o sexo feminino 
pode ter diversas motivações. 
E qual a atual situação das mulheres brasileiras em 
relação aos muitos tipos de violência possíveis? Para 
discutir esta problemática, tratamos de indicar alguns 
estudos e pesquisas importantes, que permitem uma 
avaliação da situação em nosso país. Desde já, 
apontamos a gravidade da situação contra as mulheres. 
Segundo esclarece o Mapa da Violência de 2015 – 
Homicídios de Mulheres no Brasil: 
A violência contra a mulher não é um fato novo. Pelo 
contrário, é tão antigo quanto a humanidade. O que 
é novo, e muito recente, é a preocupação com a 
superação dessa violência como condição necessária 
para a construção de nossa humanidade. E mais 
novo ainda é a judicialização do problema, 
entendendo a judicialização como a criminalização 
da violência contra as mulheres, não só pela letra 
das normas ou leis, mas também, e 
fundamentalmente, pela consolidação de estruturas 
específicas, mediante as quais o aparelho policial 
e/ou jurídico pode ser mobilizado para proteger as 
vítimas e/ou punir os agressores (BRASÍLIA, 2015, 
p. 7). 
Quais são os tipos de violência mais comuns contra 
as mulheres? Observe a imagem a seguir. 
FIGURA 51 – TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 
FONTE: Disponível em: <http://feminicidionobrasil.com.br/>. Acesso em: 10 
http://feminicidionobrasil.com.br/
MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAL, DE GÊNERO, SEXUAL, RELIGIOSA E DE FAIXA GERACIONAL 
 
 PEDAGOGIA 17 
 
 
ago. 2017. 
A omissão em discutir os problemas ligados às 
relações desiguais sociais, econômicas, políticas ou 
culturais entre homens e mulheres tem levado à 
constatação de uma crescente violência contra as 
mulheres. O Mapa da Violência 2015 indica que as taxas 
do Brasil são muito superiores às de vários países tidos 
como civilizados: 48 vezes mais homicídios femininos 
que no Reino Unido; 24 vezes mais homicídios femininos 
que Irlanda e Dinamarca; 16 vezes mais homicídios 
femininos que Japão ou Escócia. Entre 1980 e 2013 
foram assassinadas em nosso país 106.093 mulheres. 
Os dados de 1980 apontavam que foram mortas 
1.353 mulheres; em 2013, foram mortas 4.762 
mulheres, com um aumento de 252% (BRASÍLIA, 2015). 
Essa mesma pesquisa indicou que: 
▪ O perfil geral das mulheres vítimas de homicídios está na 
faixa etária dos 18-30 anos, incluindo em sua ampla maioria 
moças negras. Ao passo que o assassinato de mulheres 
brancas vem decaindo, cresce a vitimização das negras. Em 
média, este número aumentou 190,9%

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