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PLANO DE AULA APOSTILADO Escola Superior de Teologia do Espírito Santo História da IgrejaHistória da IgrejaHistória da IgrejaHistória da Igreja Da igreja primitiva à reforma Escola Superior de Teologia do ES ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 2 A Escola Superior de Teologia do Espírito Santo – ESUTES, é amparada pelo disposto no parecer 241/99 da CES (Câmara de Ensino Superior) – MEC O ensino superior à distância é amparado pela lei 9.394/96 – Artº 80 e é considerado um dos mais avançados sistemas de ensino da atualidade. Sistema de ensino: Open University – Universidade aberta em Teologia O presente material apostilado é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria em questão. A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da apostila, segue a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo aborda, bem como bibliografia para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 3 ____________ SSSSSSSSuuuuuuuummmmmmmmáááááááárrrrrrrriiiiiiiioooooooo ________ A Plenitude dos Tempos................................................................................................................1 Primeiro aos Judeus......................................................................................................................9 O Ambiente de Paulo...................................................................................................................13 Com os Bispos e os Diáconos .....................................................................................................15 A Luta da Antiga Igreja Católica Imperial Para Sobreviver...........................................................19 Causas da Perseguição...............................................................................................................20 Fábulas ou Sã Doutrina? .............................................................................................................25 Em Defesa da Fé.........................................................................................................................28 A Luta da Antiga Igreja Católica Imperial Para Sobreviver – 100-313...........................................30 O Desenvolvimento Doutrinário na era Conciliar .........................................................................34 A Supremacia da Antiga Igreja Católica Imperial .........................................................................39 Reavivamento e Divisão na Igreja ...............................................................................................42 Os Precursores da Reforma ........................................................................................................46 As Interpretações da Reforma.....................................................................................................51 Outros Motivos de Perseguições ........................................................ Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido. Bibliografia ..................................................................................................................................59 AA PPlleenniittuuddee ddooss TTeemmppooss ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 4 Em Gálatas 4:4, Paulo chama a atenção para a era histórica da preparação. providencial que antecedeu a vinda de Cristo a terra em forma humana: "Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho..." Marcos também indica que a vinda de Cristo aconteceu quando estava tudo já preparado na terra (Mc 1:15). O estudo dos eventos que antecederam o aparecimento de Cristo sobre esta terra faz com que o estudante equilibrado reconheça a verdade das afirmações de Paulo e Marcos. Na maioria das discussões sobre este assunto, esquece-se que não apenas os. judeus, mas os gregos e os romanos também, contribuíram para a preparação religiosa para a aparição de Cristo. A contribuição grega e romana foi, na realidade, negativa, mas em muito contribuiu para levar o desenvolvimento histórico até o ponto em que Cristo pudesse exercer o impacto máximo sobre a história de uma forma até então impossível. O AMBIENTE A. Contribuições Políticas dos Romanos. A contribuição política anterior à vinda de Cristo foi basicamente obra dos romanos. Este povo, seguidor do caminho da idolatria, dos cultos de mistérios e do culto ao imperador, foi então usado por Deus, a quem ignoravam, para cumprir a sua vontade. 1. Os romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um sentido da unidade da espécie sob uma lei universal. Este sentido da solidariedade do homem no Império criou um ambiente favorável à aceitação do Evangelho que proclamava a unidade de raça humana, baseada no fato de que todos os homens estavam sob a pena do pecado e no fato de que a todos era oferecida a salvação que os integra num organismo universal, a Igreja Cristã, o Corpo de Cristo. Nenhum império do antigo Oriento Próximo, nem mesmo o império de Alexandre, tinha conseguido dar aos homens um sentido de unidade numa organização política. A unidade política seria a contribuição particular de Roma. A aplicação da lei romana aos cidadãos de todo o Império era imposta diariamente a todos os cidadãos e súditos do Império pela justiça imparcial das cortes romanas. Esta lei romana se originava da lei consuetudinária da antiga monarquia. Durante a primeira república, no quinto século, antes de Cristo, esta lei foi codificada nas Doze Tábuas, que eram parte essencial na educação de toda criança romana. A compreensão de que os grandes princípios da lei romana eram também parte das leis de todas as nações sob o domínio dos romanos como praetor peregrinus, que era encarregado da tarefa de tratar com as cortes em que estrangeiros estivessem sendo julgados, tornou-se realidade para todos os sistemas jurídicos desses estrangeiros. Assim, o código das Doze Tábuas, baseado no costume romano, foi enriquecido pelas leis de outras nações. Os romanos de inclinação filosófica explicavam essas semelhanças pelo uso do conceito grego de uma lei universal cujos princípios foram escritos na natureza do homem e seriam descobertos por um processo racional. Um passo adicional no estabelecimento da idéia de unidade foi a garantia de cidadania romana aos não romanos. Este processo foi principiado no período anterior ao nascimento de Cristo e foi completado quando Caracala concedeu, em 212, a todos os homens livres do Império Romano a cidadania romana. O Império Romano reunia todo o mundo ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 5 mediterrâneo que contava na história de então; desse modo para todos os propósitos práticos, todos os homens estavam debaixo de um sistema jurídico, como cidadãos de um só reino. A lei romana com sua ênfase sobre a dignidade do indivíduo, e no direito deste à justiça e a cidadania romana, além de sua tendência a agrupar homens de raças diferentes numa só organização política, antecipou um Evangelho que proclamava a unidade da raça ao anunciara pena do pecado e o Salvador do pecado. Paulo lembrou aos da igreja de Filipenses que eles eram membros de uma comunidade celestial (Fp 3:20). 2. A movimentação livre em torno do mundo mediterrâneo teria sido mais difícil para os mensageiros do Evangelho antes de César Augusto (27 a.C. - 14 d.C). A divisão do mundo antigo em grupos, cidades – estados ou tribos, pequenos e enciumados um do outro, impedia a circulação e a propagação de idéias. Com o aumento do poderio imperial romano no período da expansão imperial, uma era de desenvolvimento pacífico ocorreu nos países ao redor do Mediterrâneo. Pompeu tinha varrido os piratas do Mediterrâneo e os soldados romanos mantinham a paz nas estradas da Ásia, África e Europa. Este mundo relativamente pacífico tornou mais fácil a movimentação dos primeiros cristãos nas cidades onde pregavam o Evangelho a todos os homens. 3. Os romanos criaram um ótimo sistema de estradas que iam do marco áureo no fórum a todas as regiões do Império. As estradas principais eram de concreto e duraram séculos. Elas passavam por montes e vales até chegarem aos pontos mais distantes do Império; algumas delas são usadas até hoje. Um estudo das viagens de Paulo indica que ele se serviu muito deste ótimo sistema viário para atingir os centros estratégicos do Império Romano. As estradas romanas e as cidades estrategicamente localizadas às margens dessas estradas foram uma ajuda indispensável na concretização da missão de Paulo. 4. O papel do exército romano .no desenvolvimento do ideal de uma organização universal é na propagação do Evangelho não pode ser ignorado. Os romanos adotavam a prática de usar habitantes das províncias no exército como forma de suprir a falta de cidadãos romanos atingidos pelas guerras e pelo conforto da vida. Os provincianos entravam em contato com a cultura romana e ajudavam a divulgar suas idéias através do mundo antigo. Em muitos casos, alguns destes homens converteram-se ao cristianismo e levaram o Evangelho às regiões para onde eram designados. É provável que a introdução do cristianismo na Bretanha seja um resultado dos esforços de soldados cristãos que acantonaram por lá. 5. As conquistas romanas levaram muitos povos à falta de fé em seus deuses, uma vez que eles não foram capazes de protegê-los dos romanos. Tais povos foram deixados num vácuo espiritual que não estava sendo satisfeito pelas religiões de então. Além disso, os substitutos que Roma tinha a oferecer em lugar das religiões perdidas nada mais podiam fazer além de levar os povos a compreenderem sua necessidade de uma religião mais espiritual. O culto ao imperador romano, que surgiu cedo na Era Cristã, fazia um apelo ao povo somente como um meio de tornar tangível o conceito de Império romano. As várias religiões de mistério pareciam oferecer muito mais que isso como um meio de auxílio espiritual e emocional, e nelas o Cristianismo achou seu maior rival. A adoração de Cibele, a grande mãe terra, foi trazida da Frigia para Roma. A adoração desta deusa da ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 6 fertilidade tinha ritos tais como o drama da morte e ressurreição do consorte de Cibele, Átis, o que parecia suprir as necessidades emocionais dos homens. O culto à Ísis, importado do Egito, era semelhante ao de Cibele, com sua ênfase sobre a morte e ressurreição. O Mitraísmo importado da Pérsia, teve aceitação especial entre os soldados romanos. Tinha um festival em dezembro, um Maligno, um Salvador nascido miraculosamente - Mitra, um deus-salvador além de capelas e cultos de adoração. B. Contribuições Intelectuais dos Gregos Embora importante para a preparação para a vinda de Cristo, a contribuição .romana foi ofuscada pelo ambiente intelectual criado pela mente grega. A cidade de Roma pode ser identificada com o ambiente político do cristianismo, mas foi Atenas que ajudou a criar um ambiente intelectual propício à propagação do Evangelho. Os romanos podem ter sido os conquistadores dos gregos, mas como indicou Horácio; (65 a.C - 8 d.C) em sua poesia, os gregos conquistaram os romanos culturalmente. A mente prática dos romanos pode ter construído boas estradas, pontes fortes e belos edifícios, mas a grega erigiu os grandiosos edifícios da mente. Foi graças à influência grega que a cultura basicamente rural da antiga República deu lugar à cultura intelectual do Império. 1. O Evangelho universal precisava de uma língua universal para poder exercer um impacto real sobre o mundo. Os homens têm procurado desde a Torre de Babel criar uma língua universal para que possam comunicar suas idéias uns aos outros sem problemas. Assim como o inglês no mundo moderno e o latim no mundo medieval erudito, o grego tornou-se no mundo antigo, ao tempo em que o Império Romano apareceu, a língua universal. Os romanos mais ilustres sabiam grego e latim. O processo pelo qual o grego se tomou o vernáculo do mundo é interessante. O dialeto ático usado pelos atenienses começou a ser usado amplamente no quinto século antes de Cristo com a solidificação do Império Ateniense. Mesmo depois de o Império ser destruído ao final do quinto século, o dialeto de Atenas, que se originara da literatura grega clássica, tornou-se a língua que Alexandre, seus soldados e os comerciantes do mundo helenístico, entre 338 e 146 a.C., modificaram, enriqueceram e espalharam através do mundo mediterrâneo. Foi através deste dialeto do homem comum, conhecido como koinê e diferente do grego clássico, que os cristãos foram capazes de se comunicar com os povos do mundo antigo, usando-o inclusive para escrever o seu Novo Testamento, o mesmo fazendo os judeus de Alexandria para escrever seu Velho Testamento, a Septuaginta . Só recentemente se soube que o grego do Novo Testamento era o grego do homem comum dos dias de Jesus Cristo, o que o diferencia do grego dos clássicos. Um teólogo alemão chegou mesmo a dizer que o grego do Novo Testamento era um grego especial criado pelo Espírito Santo para a produção do Novo Testamento. 2. A filosofia grega preparou o caminho para a vinda do Cristianismo por ter levado à destruição as antigas religiões. Qualquer um que chegasse a conhecer seus princípios, fosse grego ou romano, logo perceberia que sua disciplina intelectual tornou a religião tão ininteligível que a acabava abandonando em favor da filosofia. A filosofia falhou, porém, na satisfação das necessidades espirituais do homem, que se via obrigado então a tornar-se um ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 7 cético ou a procurar conforto nas religiões de mistério do Império Romano. Á época do advento de Cristo, a filosofia descera do ponto elevado que alcançara com Platão para um sistema de pensamento individualista egoísta, como é o caso do Estoicismo ou do Epicurismo. Na maioria dos casos, a filosofia apenas aspirava por Deus, fazendo dele uma abstração; jamais revelava um Deus pessoal de amor. Este fracasso da filosofia do tempo da vinda de Cristo tornou as mentes humanas prontas para entender uma apresentação mais espiritual da vida. Só o cristianismo pode preencher o vazio na vida espiritual de então. A outra forma pela qual os grandes filósofos gregos ajudaram o cristianismo está ligada ao fato de chamarem a atenção dos gregos para uma realidade que transcendia o mundo temporal e visível em que viviam. Tanto Sócrates quanto Platão ensinaram, cinco séculos antes de Cristo, que este presente mundo temporal dos sentidos é apenas uma sombra do mundo real em que os ideais supremos são ao mesmo tempo abstrações intelectuais, o bem, a beleza e a verdade. Insistiam que a realidade não era temporal e material, mas espiritual e eterna. Sua busca da verdade jamais lhes conduziram a um Deus pessoal, mas evidenciou que o melhor que o homem deve fazer é buscar a Deus através do intelecto. O cristianismo ofereceu a este povoque aceitava a filosofia de Sócrates e Platão, a revelação histórica do Bem, da Beleza e da Verdade na pessoa do Deus-homem, Cristo. Os gregos aceitavam a imortalidade da alma, mas não tinham lugar para a ressurreição do corpo. Os gregos, entretanto, viam o pecado como um problema mecânico e contratual; não o viam como um problema pessoal que afrontava a Deus e prejudicava os homens. A época da vinda de Cristo, os homens tinham compreendido finalmente a insuficiência da razão humana e do politeísmo. As filosofias individualistas de Epicuro (341-270 a.C.) O cristianismo, com sua oferta de um relacionamento pessoal, forneceu aquilo para o que a cultura grega, em função de sua própria inadequação, tinha produzido muitos corações famintos. 3. O povo grego também contribuiu no campo da religião para preparar o mundo a aceitar a nova religião cristã quando ela surgisse. O advento da filosofia grega materialista no sexto século antes de Cristo destruiu a fé das pessoas no velho culto politeísta como descrito na Ilíada e na Odisséia de Homero. Embora os elementos deste culto se baseassem no culto mecânico oficial, logo perderiam a sua vitalidade. O povo voltou, então, à filosofia. Esta também, entretanto, perdeu o seu vigor. A filosofia tornou-se um sistema de individualismo pragmático, dirigido pelos sucessores dos sofistas ou um sistema de individualismo subjetivista. Desse modo, os sistemas gregos e romanos de filosofia e religião contribuíram negativamente para a vinda do cristianismo, ao destruírem as velhas religiões politeístas e demonstrarem a incapacidade da razão para alcançar Deus. As religiões de mistério, para onde muitos foram, familiarizaram o povo a pensar em termos de pecado e redenção. Então, quando o cristianismo apareceu, as pessoas do Império Romano estavam bem receptivas a uma religião que parecia oferecer uma perspectiva espiritual para a vida. CONTRIBUIÇÕES RELIGIOSAS DOS JUDEUS As contribuições religiosas para a "plenitude do tempo" incluem tanto a dos gregos e ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 8 romanos como a dos judeus. Todavia, por mais importantes que as contribuições de Atenas e Roma, como pano-de-fundo histórico, tenham sido para o cristianismo, as contribuições dos judeus formam a Herança do Cristianismo. O cristianismo pode ter se desenvolvido no sistema político de Roma e pode ter encontrado o ambiente intelectual criado pela mente grega, mas seu relacionamento com o Judaísmo foi muito mais íntimo. Ao contrário dos gregos, os judeus não intentavam encontrar a Deus pelos processos da razão humana. Eles pressupunham Sua existência e lhe prestavam o culto que sentiam lhe dever. O povo judeu foi muito influenciado a estas atitudes pelo fato de que Deus o procurou e Se revelou a ele na história por Suas aparições a Abraão e a outros grandes líderes da raça. Jerusalém tornou-se o símbolo de uma preparação religiosa positiva para a vinda do cristianismo. A salvação viria, pois "dos judeus", como Cristo diria à mulher no poço (Jo.4:22). A. Monoteísmo O Judaísmo contrastava flagrantemente com a maioria das religiões pagãs, ao fundamentar- se num sólido monoteísmo espiritual. Nunca, depois da sua volta do cativeiro babilônico, os judeus caíram em idolatria. A mensagem de Deus para eles através de Moisés ligava-os ao único Deus verdadeiro de toda a terra. Os deuses dos pagãos eram apenas ídolos que os profetas judeus condenavam em termos muito claros. Este sublime monoteísmo foi espalhado por numerosas sinagogas localizadas em volta da área mediterrânea durante os três últimos séculos anteriores à vinda de Cristo. B. Esperança Messiânica Os judeus ofereceram ao mundo a esperança de um Messias que estabeleceria a justiça na Terra. A esperança de um Messias tinha sido popularizada no mundo romano a partir desta firme proclamação pelos judeus. Até mesmo os discípulos depois da morte e ressurreição de Cristo ainda esperavam por um reino messiânico sobre a terra (At 1:6). Certamente, os homens instruídos que viveram em Jerusalém na época imediatamente anterior ao nascimento de Cristo tiveram contato com esta esperança. A expectativa de muitos cristãos hoje em torno da vinda de Cristo ajuda-nos a compreender a atmosfera da expectação no mundo judeu acerca da vinda do Messias. C. Sistema Ético Na parte moral da lei judaica, o judaísmo também ofereceu ao mundo o mais puro sistema ético de então. O elevado padrão proposto nos Dez Mandamento se chocava com os sistemas éticos prevalecentes e com as práticas por demais corruptas dos sistemas morais pelos quais se pautavam. Para os judeus, o pecado não era o fracasso externo, mecânico e contratual dos gregos e romanos, mas era uma violação da vontade de Deus, violação esta que se expressava num coração impuro e, mais ainda, em atos pecaminosos, externos e visíveis. Esta perspectiva moral e espiritual do Velho Testamento favoreceu uma doutrina de pecado e redenção que realmente resolvesse o problema do pecado. D. O Antigo Testamento O povo judeu, ademais, preparou o caminho para a vinda do cristianismo ao legar à ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 9 Igreja em formação um livro sagrado, o Velho Testamento. Mesmo um estudo superficial do Novo Testamento revela a profunda dívida de Cristo e dos apóstolos para com o Velho Testamento e sua reverência por ele como a palavra de Deus para o homem. Muitos gentios também o leram e se familiarizaram com os fundamentos da fé judaica. Este fato é indicado pelos relatos de vários prosélitos judeus. Muitos desses prosélitos foram capazes de passar do judaísmo ao cristianismo por causa do Velho Testamento, o livro sagrado da nova Igreja. Muitas religiões, o Islamismo por exemplo, confiam em seu fundador por causa do seu Livro sagrado, mas Cristo não deixou textos sagrados para a Igreja. Os livros do Velho Testamento e os do Novo Testamento, produzidos sob a inspiração do Espírito Santo, seriam a literatura viva da Igreja. E. Filosofia da História Os judeus tornaram possível uma filosofia da história por insistirem que a história tem significado. Eles se opuseram a toda e qualquer visão que deixasse a história sem significado, como uma série de círculos ou como um processo de evolução linear. Eles sustentavam uma visão linear e cataclísmica da história, na qual o Deus soberano, que criou a história, iria triunfar sobre a falha do homem na história para trazer uma era dourada. F. A Sinagoga Os judeus também forneceram uma instituição da qual muitos cristãos esquecem a utilidade, no surgimento e desenvolvimento do cristianismo primitivo. Esta instituição era a sinagoga judia. Nascida da necessidade decorrente da ausência dos judeus do templo de Jerusalém durante o cativeiro babilônico, a sinagoga se tornou parte integrante da vida judaica. Através dela, os judeus e também muitos gentios se familiarizaram com uma forma superior de viver. Em nenhum outro lugar na história do mundo antes da vinda de Cristo houve uma região tão grande sob uma mesma lei e um mesmo governo. O mundo mediterrâ- neo tinha seu centro cultural em Roma. Uma língua comum tornou possível levar o Evangelho à maioria das pessoas do Império numa língua comum a elas e ao pregador. A Palestina, o berço da nova religião estava estrategicamente neste mundo. Paulo estava certo ao mostrar que o cristianismo "não se fez em qualquer canto", porque a Palestina era um importante cruzamento que ligava os continentes da Ásia e da África com a Europa por via terrestre. Negativamente, através da contribuição do mundo grego e romano, e positivamente, através do judaísmo, o mundo foi preparado para a "plenitude dos tempos" quando Deus enviou Seu Filho para levar a redenção a uma humanidade partida pelas guerras e fatigada pelo pecado.PPrriimmeeiirroo aaooss JJuuddeeuuss ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 10 O Avanço do Cristianismo no Império até 100 Cristo é mais o Fundamento do que o Fundador da Igreja. Isto fica evidente pelo uso do tempo futuro que faz em Mateus 16:18, ao dizer: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja. Lucas destaca isto ao nos informar em seu Evangelho "acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e ensinar" (At. 1:1). Em Atos ele relatou a fundação e a divulgação da Igreja cristã pelos apóstolos sob a direção do Espírito Santo. Até mesmo os discípulos compreenderam mal a natureza espiritual da missão de Cristo por quererem saber, após Sua ressurreição, quem restauraria o reino messiânico (At. 1:6). Cristo mesmo já lhes tinha dito que, depois de fortalecidos pelo Espírito Santo, a sua tarefa seria testemunhar dele "em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra" (At. 1:8). Cristo deu prioridade à proclamação aos judeus. Mesmo um estudo superficial dos Atos dos Apóstolos revelará que esta é a ordem seguida pela Igreja primitiva. O Evangelho foi primeiro proclamado em Jerusalém por Pedro no dia de Pentecoste; depois, foi levado pelos cristãos judeus a outras cidades da Judéia e da Samaria. Desse modo, a Igreja foi primeiramente judia e existiu dentro do judaísmo. O desenvolvimento do cristianismo aí e sua chegada a Antioquia é descrito por Lucas nos primeiros 12 capítulos do Atos. I. A Fundação da Igreja em Jerusalém Parece paradoxal que o principal centro de inimizade contra Cristo tenha sido a cidade onde a religião cristã começou. Mas esta é a realidade. Do ano 30 a aproximadamente 44, a igreja em Jerusalém manteve uma posição de liderança na comunidade cristã primitiva. O Espírito Santo teve o papel de proeminência na fundação da Igreja Cristã. Ele se tornou o Agente da Trindade na mediação da obra de redenção dos homens. Judeus de todas as partes do mundo mediterrâneo estavam presentes em Jerusalém para vera Festa do Pentecoste por ocasião da fundação da Igreja (At 2: 5-11). A manifestação sobrenatural do poder divino no falar em línguas, claramente relacionada à origem da Igreja, e a vinda do Espírito Santo levaram os judeus presentes a declararem a maravilha das obras de Deus em sua própria língua (At. 2:11). Pedro aproveitou a oportunidade para proferir o primeiro e possivelmente o mais fecundo sermão já pregado, e proclamar a messianidade de Cristo e a graça salvadora. Por fim, três mil pessoas aceitaram a sua palavra e foram batizados (At. 2:41). Foi desta maneira que, a entidade ou organismo espiritual, a Igreja invisível, o Corpo do Cristo ressuscitado, começou a existir. O crescimento foi rápido. Outros eram acrescidos diariamente ao número dos três mil até chegarem logo a cinco mil (At. 4:4). Há menção de multidões se integrando à Igreja (At. 5:14). É interessante que muitos eram judeus helenistas (At. 6:1) da dispersão e que estavam em Jerusalém para celebrar as grandes festas relacionadas com a Páscoa e o Pentecoste. Nem mesmo os sacerdotes ficaram imunes ao contágio da nova fé. "Muitos sacerdotes" (At. 6:7) são mencionados como estando entre os membros da igreja primitiva em Jerusalém. Talvez alguns deles tivessem visto a abertura do grande véu do templo, logo depois da morte de Cristo, e isto, junto com a pregação dos apóstolos, levou-os a se comprometerem com Cristo. Este crescimento tão rápido não se fez sem a oposição da parte de judeus. As autoridades ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 11 eclesiásticas logo perceberam que o cristianismo representava uma ameaça a suas prerrogativas como intérpretes e sacerdotes da lei; por isto, reuniram suas forças para combater o cristianismo. A perseguição veio primeiro de um organismo político-eclesiástico o Sinédrio, que, com permissão romana, supervisionava a vida civil e religiosa do estado. Pedro e João tiveram que comparecer perante este egrégio órgão duas vezes e foram proibidos de pregar o Evangelho, mas eles se recusaram a cumprir a ordem. Mais tarde a perseguição tomou cunho mais político. Herodes matou Tiago e prendeu Pedro (At. 12) nesta fase de perseguição. Daí por diante a perseguição tem seguido esse padrão eclesiástico ou político. Esta perseguição deu ao cristianismo seu primeiro mártir, Estevão. Fora ele um dos mais destacados dos sete homens escolhidos para administrar os fundos de caridade na Igreja de Jerusalém. Testemunhos falsos, que não podiam resistir ao espírito e à lógica com que ele falou, obrigaram-no a comparecer diante do Sinédrio. Após um emocionante discurso em que denunciou líderes judeus por sua rejeição de Cristo, foi retirado e apedrejado até a morte. Sua morte, como o primeiro mártir da fé cristã, foi um fator importante na divulgação e crescimento do cristianismo. Saulo depois Paulo o apóstolo, guardou as capas daqueles que apedrejaram Estevão. É claro que a coragem e o espírito perdoador de Estevão diante de uma morte tão trágica marcaram bem fundo no coração de Saulo. Aquilo que Cristo lhe disse, em Atos 9:5, "Duro será para ti recalcitrar contra os aguilhões, parecia indicar esta realidade. A perseguição que se seguiu foi mais dura e acabou sendo o meio usado pela igreja nascente para que sua mensagem fosse levada a outras partes do mundo ( At.8.4). Nem todos os convertidos ao cristianismo tinham, entretanto, um coração puro. Ananias e Safira constituíram-se nos primeiros objetos da disciplina da igreja em Jerusalém por causa da cobiça. Pronta e terrível, esta disciplina foi ministrada através dos apóstolos que eram os líderes da organização. O relato da aplicação da disciplina sobre este casal culpado suscita o problema se a igreja em Jerusalém, praticou, ou não o comunismo. Um jovem comunista se empenhou muito para demonstrar a este autor que os cristãos praticavam o comunismo. Realmente passagens como Atos 2: 44-45 e 4:32 parecem sugerir a prática de um tipo utópico de socialismo baseado no princípio máximo do socialismo: "a cada um segundo a sua capacidade, de acordo com a sua necessidade". O fato que tudo era feito voluntariamente é importante. Pedro afirmou claramente em Atos 5:3-4 que Ananias e Safira tinham liberdade para reter ou vender sua propriedade. O ter tudo em comum era uma decisão de caráter fundamentalmente livre. A Bíblia não pode ser usada como Escritura autoritativa para o Capitalismo estatal. Agora, sem dúvida, o cristianismo primitivo promoveu uma grande mudança social em certas regiões. A igreja de Jerusalém insistiu sobre a igualdade espiritual dos sexos e deu muita importância às mulheres na igreja. A liderança de Dorcas na promoção do trabalho de caridade foi registrada por Lucas (At, 9:36) . A criação de um grupo de homens para tomar conta das necessidades foi outro acontecimento de relevância social ocorrido ainda nos primeiros anos do nascimento da Igreja. A caridade deveria ser administrada por um corpo organizado, os precursores dos diáconos. Com isto, os apóstolos ficaram completamente livres para o exercício de sua liderança espiritual. A necessidade, devido ao rápido crescimento e possivelmente à imitação das práticas da sinagoga judaica, levou à ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 12 multiplicação de ofícios e oficiais bem cedo na história da Igreja. Algum tempo depois, os presbíteros (anciãos) passaram a integrar o corpo de oficiais, finalmente formado de apóstolos, presbíteros e diáconos, que dividiam a responsabilidade de liderar a Igreja de Jerusalém. A natureza da pregação dos líderes dessa igreja primitiva desponta logo no relato do surgimento do cristianismo. O sermão de Pedro (At. 2:14-36) é o primeiro sermão de um apóstolo. A igreja judaica em Jerusalém, cuja história foi descrita, logo perdeu seu lugar de líder do cristianismo para outrasigrejas. A decisão tomada no Concílio em Jerusalém, de que os gentios não eram obrigados a obedecer a lei, abriu o caminho para a emancipação espiritual das igrejas gentílicas do controle judaico. Durante o cerco de Jerusalém em 70 por Tito, os membros da Igreja foram forçados a fugir para Pela, do outro lado do Jordão. Depois da destruição do templo da fuga da Igreja judaica, Jerusalém deixou de ser vista como o centro do cristianismo; a liderança espiritual da Igreja Cristã se centralizou, então, em outras cidades, especialmente em Antioquia. Isto evitou o perigo de que o cristianismo jamais se libertasse dos quadros do judaísmo. II. A Igreja na Palestina A visita de Filipe a Samaria ( Atos 8:5-25) levou o Evangelho a um povo que não era de sangue judeu puro. Os samaritanos eram os descendentes daquelas dez tribos que não foram levadas para a Assíria depois da queda da Samaria e dos colonos que os assírios trouxeram de outras partes do seu império em 721 a.C. Os judeus e os samaritanos fizeram-se inimigos ferrenhos desde então. Pedro e João foram chamados a Samaria para ajudar Filipe, pois o trabalho crescera tão rapidamente que ele estava sem condições de atender a todas as necessidades. Este reavivamento foi a primeira brecha na barreira racial a divulgação do Evangelho. Filipe foi compelido pelo Espírito Santo, após completar seu trabalho em Samaria, a pregar o Evangelho a um eunuco etíope, alto oficial do governo da Etiópia. Pedro, o primeiro a pregar o Evangelho aos judeus, foi também o primeiro a levar oficialmente o Evangelho aos gentios. Depois de uma visão, que deixou claro para ele que os gentios também tinham direito ao Evangelho, Pedro foi à casa de Cornélio, o centurião romano, e se assombrou quando as mesmas manifestações ocorridas no dia de Pentecoste voltavam a se verificar na casa de Cornélio (Atos 10-11). A partir daí, ele se dispôs a levar aos gentios o Evangelho da graça. O eunuco etíope e Cornélio foram os primeiros gentios a ter o privilégio de receber a mensagem da graça salvadora de Cristo. Embora aqueles que tinham sido obrigados a sair de Jerusalém pregassem somente aos judeus (At. 11:19), não demorou para que surgisse uma grande igreja gentia que brotou em Antioquia. Aí o termo "cristão", inicialmente empregado com sentido, pejorativo, por mordazes antioquienses ,tornou-se a designação de honra dos seguidores de Cristo. Foi em Antioquia que Paulo começou seu ministério público ativo entre os gentios e foi daí que ele partiu para suas viagens missionárias cujo objetivo final era chegar a Roma. A igreja em Antioquia era tão grande que foi capaz de socorrer as igrejas judaicas quando elas passaram fome. Ela foi o principal centro do cristianismo, de 44-68 d. C. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 13 A tarefa de levar o Evangelho aos gentios nos "confins" estava apenas começando. Começada por Paulo, esta tarefa continua ainda hoje como a missão, inacabada da Igreja de Cristo. Também Aos Gregos A Igreja judaico-cristã primitiva demorava a compreender o sentido universal do cristianismo embora Pedro tivesse sido o instrumento na comunicação do Evangelho aos primeiros convertidos judeus. Foi Paulo, capacitado pela revelação de Deus, que teve a visão das necessidades do mundo gentio, dedicando sua vida à pregação do Evangelho a este mundo. Como nenhum outro na Igreja primitiva, Paulo entendeu o caráter universal do cristianismo e entregou-se à sua pregação aos confins do Império Romano ( Rm. 11:13: 15:16). Poder-se-ia até dizer que ele tinha em sua mente o slogan "O Império Romano para Cristo" pelo tanto que ele fez no ocidente com a mensagem da Cruz (Rm. 15:15, 16, 18-28; At. 9:15, 22:21). Embora não poupasse esforços na consecução deste ministério, ele não negligenciou seu próprio povo, os judeus. Isto se evidencia por sua procura das sinagogas judaicas logo que chegava a uma cidade e pela proclamação do Evangelho a todos os prosélitos judeus e gentios que pudessem ouvi-lo. OO AAmmbbiieennttee ddee PPaauulloo Paulo estava consciente de que devia três lealdades temporais. Como jovem judeu, ele ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 14 recebera educação ministrada apenas aos jovens judeus de futuro e foi educado aos pés do grande mestre judeu, Gamaliel. Poucos podiam se orgulhar de ter mais instrução do que Paulo no que dizia respeito à educação religiosa judaica e poucos se aproveitaram tanto quanto ele da educação que recebeu ( Fp 3: 4-6). Era ele também cidadão de Tarso, a principal cidade da Cicília, "cidade não insignificante" (At. 21:39). Era também cidadão romano livre (At. 22:28) e não tinha dúvidas em usar os privilégios de sua cidadania romana quando estes privilégios podiam ajudá-lo em sua missão por Cristo (At. 16:37; 25:11). O judaísmo foi seu ambiente religioso anterior a sua conversão; Tarso foi sua grande universidade e sua atmosfera intelectual, o palco dos primeiros anos de sua vida; e o Império romano foi o espaço político em que viveu e agiu. Este ambiente político não parecia ser tão favorável a alguém para a proclamação do Evangelho. A situação social e moral era mais assustadora do que a política. A pilhagem do Império criou uma classe alta rica de novos aristocratas que tinham escravos e dinheiro para satisfazer seus muitos desejos legítimos e ilegítimos. Esta classe desdenhava de certo modo a nova religião e viam seu apelo às classes pobres como uma ameaça à sua posição elevada na sociedade. Assim mesmo, alguns desta classe se converteram com a pregação do Evangelho feita por Paulo na prisão em Roma (Fl.1:13). Paulo enfrentou também a rivalidade de outros sistemas de religião. Os romanos eram de certo modo ecléticos em sua vida religiosa e se dispunham a tolerar toda religião desde que esta não proibisse seus seguidores de participar no culto do Estado, que misturava o culto ao imperador com o velho culto do estado republicano e exigia a obediência de todos os povos do Império exceto aos judeus, que por lei eram isentos destes rituais. Aos cristãos não se concedeu tal privilégio e eles tiveram que enfrentar o problema da oposição do Estado. As religiões de mistério subjetivistas de Mitra, Cibele e ísis pediam a associação de muitos outros no Império. O judaísmo, de quem o cristianismo foi distinto como seita separada, enfrentou uma oposição cada vez maior. Os intelectuais romanos aceitavam os sistemas filosóficos, como o Estoicismo, o Epicurismo e o Neo-pitagorismo, que sugeriam a contemplação filosófica como o caminho da salvação. O estoicismo, com sua interpretação panteística de Deus, sua concepção de leis éticas naturais descobríveis pela razão e sua doutrina da paternidade de Deus e fraternidade do homem, parecia dar um fundamento filosófico para o Império Romano. Alguns imperadores, como Marco Aurélio (161-180), aceitaram suas formulações éticas. Paulo teve que enfrentar este confuso cenário religioso com o simples Evangelho redentor da morte de Cristo. A Arqueologia nos ajuda a datar pontos-chave na vida e obra de Paulo. Paulo esteve em Corinto 18 meses quando Gálio tornou-se procônsul (At. 18:12-13). ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 15 CCoomm ooss BBiissppooss ee ooss DDiiááccoonnooss A Igreja existe em dois níveis. Um deles é um organismo eterno, invisível, bíblico, que é consolidado em um corpo pelo Espírito Santo. O outro nível é o da organização temporal, histórica, visível, humana. O primeiro é o fim, o segundo os meios. O desenvolvimento da Igreja como uma organização foi iniciado pelos apóstolos sob a direção do Espírito Santo. Todo corpo organizado precisa de uma liderança e, quanto mais cresce,a divisão de funções e a especialização da liderança acontecem para que possa funcionar eficientemente. Uma liturgia para conduzir o culto da Igreja de modo ordenado (l Co. 14:40) é outra conseqüência lógica do crescimento da Igreja como organização. O objetivo final da Igreja como um organismo que cultua é a conquista da qualidade de vida. I. O GOVERNO DA IGREJA A origem da administração eclesiástica deve ser creditada a Cristo, ao escolher os 12 apóstolos que seriam os líderes da Igreja nascente. Os apóstolos tomaram a iniciativa no desenvolvimento de outros ofícios na Igreja quando dirigidos pelo Espírito Santo. Isto não implica numa hierarquia piramidal, como a desenvolvida pela Igreja Católica Romana, porque os novos oficiais deviam ser escolhidos pelo povo, ordenados pelos apóstolos e precisavam ter qualificações espirituais próprias que envolviam a subordinação ao Espírito Santo. Assim, havia uma chamada interna pelo Espírito Santo para o ofício, uma chamada externa pelo voto democrático da igreja e a ordenação ao ofício pelos apóstolos. Não deveria haver uma classe especial de sacerdotes à parte para ministrar o sistema sacerdotal da salvação, porque tanto os oficiais da Igreja como os membros eram sacerdotes com o direito de acesso direto a Deus através de Cristo ( Ef. 2:18). Estes oficiais podem ser divididos em duas classes. Os oficiais carismáticos ( charisma em grego significa dom) foram escolhidos por Cristo e revestidos com dons espirituais próprios (Ef. 4: 11-12; l Co. 12-14); suas funções eram basicamente inspirativas. Os oficiais administrativos constituíam a segunda classe. Suas funções eram principalmente administrativas, embora após a morte dos apóstolos, os presbíteros tenham assumido muitas responsabilidades espirituais. Estes oficiais eram escolhidos pela congregação depois de orarem pedindo a orientação do Espírito Santo e depois da indicação pelos apóstolos. Oficiais Carismáticos Estes homens, cujas responsabilidades principais eram a preservação da verdade do Evangelho e sua proclamação inicial, foram selecionados especialmente por Cristo através do Espírito Santo para exercer a liderança da Igreja. Houve quatro ou cinco destes ofícios designados por Paulo: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e/ou mestres. Muitos pensam que pastor e mestre sejam designações para a mesma pessoa. Os apóstolos eram homens que tinham sido testemunhas da vida, morte e principalmente da ressurreição de Cristo e que tinham sido chamados pessoalmente por Cristo. Paulo baseou seu apostolado numa chamada direta do Cristo vivo. Estes homens, que foram os primeiros oficiais da Igreja primitiva, combinaram em seu ministério todas as funções posteriormente ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 16 exercidas por vários oficiais quando os apóstolos se tornaram incapazes de cuidar das necessidades da Igreja primitiva em rápida expansão. Pedro é a figura principal entre os apóstolos nos primeiros 12 capítulos do relato lucano da história da Igreja primitiva. Ele não só fez a primeira proclamação oficial aos judeus em Jerusalém no dia de Pentecostes como também foi o primeiro a introduzir o Evangelho entre os gentios com sua pregação na casa de Cornélio. Tiago, o filho de Zebedeu, estava presente na transfiguração e no Getsêmani. Foi o primeiro dos 12 a ser martirizado, decapitado que foi por Herodes Agripa l em 44. Tiago, o irmão de Cristo, tornou-se logo, com Pedro o líder da Igreja em Jerusalém. Sua proeminência na Igreja é evidente por sua posição de liderança no Concílio de Jerusalém. Embora mais próximo do legalismo do que a maioria dos líderes da primitiva igreja de Jerusalém, ele exerceu um papel de mediador entre cristãos judeus e gentios no Concílio. João é mencionado junto com Pedro como um líder da Igreja primitiva. A tradição relaciona suas últimas atividades com a cidade de Éfeso. Ele foi confinado por Domiciano na ilha de Palmos, uma solitária e infrutífera ilha pedregosa, distante da costa ocidental da Ásia Menor. Aí escreveu o livro de Apocalipse. Após a morte de Domiciano, recebeu permissão para voltar a Éfeso, onde morou, pastoreando as Igrejas da Ásia até morrer em avançada idade. Seu Evangelho, suas três epístolas e Apocalipse integram ricamente a herança literária da Igreja do Novo Testamento. André, irmão de Pedro, pregou em regiões do Oriente Antigo. Segundo tradição posterior, foi crucificado numa cruz em forma de X que tomou o seu nome. Pouco se sabe da vida de Filipe, que muito possivelmente morreu de morte natural em Hierápolis após a destruição de Jerusalém. Nada se sabe das últimas atividades e da morte de Tiago o Menor, filho de Alfeu. A tradição sobre Judas Tadeu fala de suas atividades na Pérsia, onde teria sido martirizado. Matias, que substituiu Judas, pregou na Etiópia e aí conheceu o martírio, de acordo com o relato. Simão o zelote também foi martirizado. A tradição não é clara acerca da forma do martírio de Bartolomeu, mas seu nome é associado à proclamação do Evangelho na índia, por uma tradição. Mateus talvez tenha trabalhado na Etiópia também. O nome do mais célico dos discípulos, Tomé, é ligado ao trabalho em Parto, mas outros relatos colocam seu trabalho e martírio na índia. O silêncio do Novo Testamento e mesmo da tradição sobre estes homens marca um notável contraste com a tendência medieval de glorificar a morte dos homens mais notáveis da Igreja. Os profetas pareciam estar entre os líderes mais influentes da Igreja do Novo Testamento. Eles exerceram a função de proclamar ou pregar o Evangelho (At. 13:1, 15:32) bem como de antecipar ou predizer o futuro. Filipe exerceu o dom do evangelismo (At. 21:8), mas pouco se sabe de seu trabalho e suas funções específicas. Talvez tenha se dedicado ao trabalho do missionário itinerante cuja principal tarefa era proclamar o Evangelho em áreas novas ainda não atingidas. B. Oficiais Administrativos Todos os oficiais de que tratamos eram especialmente indicados para seus cargos por Deus e não pelos homens. Havia outra classe de oficiais que eram democraticamente escolhidos "com o consenso de toda igreja". Sua tarefa era executar as funções ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 17 administrativas dentro da igreja local. Diferentemente dos apóstolos e dos outros líderes carismáticos, estes homens, e, em alguns casos, mulheres, operavam e exerciam sua autoridade na igreja ou congregação local e não na Igreja de Cristo como um todo. Estes oficiais surgiram com a divisão de funções e a especialização necessárias para ajudar os sobrecarregados apóstolos diante dos problemas de uma Igreja em crescimento. O ofício do ancião ou presbítero era o mais elevado na congregação local. Aqueles que defendem a existência de uma organização tríplice na Igreja entendem que os termos ancião (presbuteros) e bispo ( episkopos) não são sinônimos mas representam os ofícios separados de bispo e presbítero. As qualificações de um presbítero são detalhadamente esboçadas pelo menos duas vezes no Novo Testamento (l Tm 3:1-7; Tt. 1:5-9). Os presbíteros deviam ser homens de boa reputação entre os membros da igreja e para os de fora. A direção do culto público parece ter sido uma de suas principais funções (l Tm. 5:17; Tt. 1:9) bem como a responsabilidade pela boa administração e pela disciplina segura da Igreja. Os diáconos tinham uma posição de subordinação aos anciãos, mas aqueles que exerciam tal função precisavam das mesmas qualidades exigidas dos presbíteros (At. 6:3; l Tm. 3:8-13). A prática de eleição democrática era também uma recomendação dos apóstolos em Jerusalém (At. 6:3,5). A ministração da caridade pela Igreja era a principal tarefa dos diáconos. Mais tarde, eles ajudaram os presbíteros na distribuição dos elementos da Ceia à congregação. II. O CULTO DA IGREJA PRIMITIVAA questão de uma forma segura de culto parece ter sido uma preocupação ao tempo dos apóstolos. Paulo exortara a igreja em Cristo a conduzir sua adoração de uma forma decente e ordeira, (l Co. 14:40). Cristo afirmou a essência do verdadeiro culto quando disse que, como Deus era um espírito, o verdadeiro culto estava no domínio do espírito (Jo. 4:24). Os cristãos primitivos não concebiam a igreja como um lugar de culto como se faz hoje. Igreja significava um corpo de pessoas numa relação pessoal com Cristo. Para tanto, os cristãos se reuniam em casas (At. 12:12; Rm. 16:5,23; Cl. 4:15;), no templo (At. 5:12), nos auditórios públicos de escolas (At. 19:9) e nas sinagogas até quando foram permitidos (At. 14:1,3; 17:1; 18:4). O lugar não era tão importante como o propósito de encontro para comunhão uns com os outros e para culto a Deus. No primeiro século, dois cultos eram realizados no primeiro dia da semana, adotado como o dia de culto por ter sido o dia em que Cristo ressuscitou dentre os mortos (At. 20:7; l Co. 16:2; Ap, 1:10). O culto da manhã certamente incluía leitura da Bíblia (CI. 3:16), a exortação pelo presbítero principal, orações e cânticos,(Ef. 5:19). A. festa do amor (l Co. 11:20- 22) ou ágape precedia a Ceia no culto da noite. Ao final do primeiro século, a festa do amor tinha praticamente desaparecido, sendo a Ceia celebrada no culto da manhã. A Ceia do Senhor e o batismo eram os dois sacramentos da Igreja primitiva, usados por terem sido instituídos por Cristo. A imersão parece ter sido amplamente praticada no primeiro século, mas de acordo com o Didaquê, o batismo podia ser administrado com água na cabeça do balizando, se nenhuma corrente ou uma grande quantidade de água não estivessem à disposição. Somente os batizados participavam da Ceia. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 18 III. A VIDA DA IGREJA A Igreja primitiva não tinha uma organização de benemerência para ajudar aos cobres e doentes. Cada igreja tomava sobre si esta responsabilidade. O dinheiro coletado, daqueles que podiam dar, na oferta que seguia à celebração da Ceia era dedicado para a satisfação destas necessidades. Paulo também mencionou a prática de coleta de doações dos crentes todos os domingos (l Co.16:1-2). Os diáconos deveriam então cuidar daqueles que passavam por necessidades. As mulheres das igrejas também ajudavam esta obra de caridade ao fazer roupas para aqueles que necessitassem (At. 9:36-41). A Igreja primitiva insistia na separação das práticas pagãs da sociedade romana, mas não insistia na separação dos vizinhos pagãos em relações sociais que não fossem prejudiciais. Realmente, Paulo permitiu por inferência o convívio social que não comprometesse ou sacrificasse os princípios cristãos (l Co. 10:20-33). Ele mesmo exortou, porém; à separação total de qualquer prática que pudesse estar relacionada à idolatria ou à imoralidade pagã. O cristão devia seguir os princípios de não fazer nada que prejudicasse o corpo do qual Cristo era Senhor (l Co. 6:12), nada fazer que prejudicasse os outros ou enfraquecesse os cristãos (l Co. 8:13; 10:24), evitar tudo que não glorificasse a Deus (l Co. 6:20; 10:31). Estes princípios proibiam a freqüência a teatros, estádios, jogos ou templos pagãos. Apesar desta atitude de separação moral e espiritual, os cristãos estavam prontos para, como o próprio Paulo exortou, cumprir suas obrigações cívicas de obediência e de respeito às autoridades constituídas, pagamento de taxas e de oração pelas autoridades (Rm. 13:7, l Tm. 2:1-2). Eles eram excelentes cidadãos, desde que não fossem instados a violar os preceitos de Deus, a maior autoridade a quem deviam obediência absoluta. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 19 AA LLuuttaa ddaa AAnnttiiggaa IIggrreejjaa CCaattóólliiccaa IImmppeerriiaall PPaarraa SSoobbrreevviivveerr - Cristo ou César - O cristianismo tem sempre enfrentado problemas internos e externos em todos os períodos de sua história. A Igreja teve que enfrentar o sério problema interno da heresia e resolvê-lo, entre 100 e 313, além de Ter, ao mesmo tempo, que resolver o problema externo da perseguição movida pelo estado romano. Cristãos no Império Romano, Nestorianos na China nos séculos IX e X, e católico-romanos no Japão no século XVII, bem como cristãos nos estados nazista e comunistas, têm tido a experiência comum de hostilidade estatal até ao ponto do martírio. Os cristãos também têm enfrentado ataques de pagãos intelectuais, como Lúcio, Fronto e Celso. Muitos têm a idéia confusa acerca do número, duração, escopo e intensidade das perseguições que a Igreja sofreu. Antes de 250, a perseguição foi predominantemente local, esporádica e geralmente mais um produto da ação popular do que resultado de uma política definida. Após esta data, porém, a perseguição se tornou, às vezes, uma estratégia consciente do governo imperial romano e, por isso, ampla e violenta. E neste tempo, a idéia de Tertuliano de que o sangue dos mártires é a semente da Igreja se transformou numa terrível realidade para muitos cristãos. A igreja continuou a se desenvolver por isso ou talvez parcialmente por isso, até o período em que conseguiu a liberdade de culto no governo de Constantino. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 20 CCaauussaass ddaa PPeerrsseegguuiiççããoo A. Política Enquanto era vista pelas autoridades como parte do judaísmo, que era uma religião licita, isto é, uma seita legal, a Igreja sofreu pouco. Mas logo que foi distinguido do judaísmo como seita separada e pôde ser classificado como sociedade secreta, o cristianismo recebeu a interdição do estado romano que não admitia nenhum rival à obediência por parte de seus súditos. Tornou-se então uma religião ilícita, uma religião ilegal, considerada como ameaça à segurança do estado romaria O estado era o supremo bem em uma união dele com a religião. Não poderia haver religiões particulares. A religião somente seria tolerada se contribuísse para a estabilidade do estado. Desde que a religião cristã, em rápido crescimento, exigia exclusiva lealdade moral e espiritual daqueles que aceitavam a Cristo; quando a escolha entre lealdade a Cristo e lealdade a César tinha de ser feita, César era colocado em segundo plano. Era este o temor dos líderes romanos, empenhados em preservar a cultura clássica dentro da estrutura do império estatal: como desleais ao Estado, os cristãos estavam tentando fundar um estado dentro do estado. Ou o estado universal ou a Igreja universal, o Corpo de Cristo, tinha de ceder. A soberania exclusiva de Cristo confrontou-se com as reivindicações de César à soberania exclusiva. Muitas práticas cristãs pareciam confirmar as suspeitas da deslealdade básica dos cristãos ao Estado levantadas pelas autoridades romanas. Os cristãos se recusavam terminantemente a oferecer incenso nos altares devotados ao culto ao imperador romano com quem o bem- estar do estado era inextricável mente associado na mente do povo ao período imperial entre César Augusto e Constantino. Quem sacrificasse nesses altares, podia praticar uma segunda religião particular. Os cristãos não faziam estes sacrifícios e eram, consequentemente, tomados como desleais. Os cristãos também realizavam a maioria de suas reuniões à noite e em segredo. Para a autoridade romana isto deixava claro que se preparava uma conspiração contra a segurança do estado. Os cristãos não serviram o exército até o ano 313. B. Religiosas Além da causa política básica para a perseguição, havia uma razão religiosa. A religião romana era mecânica e externa. Tinha seus altares, ídolos, processionais,ritos e práticas que o povo podia ver. Os romanos não se opunham a acrescentar um novo ídolo ao grupo do Panteão, desde que a divindade se subordinasse às pretensões de primazia feitas pela religião do Estado. Os cristãos não tinham ídolos e no seu culto nada havia para ser visto. Seu culto era espiritual e interno. Quando se punham de pé e oravam de olhos fechados, suas orações não eram dirigidas a nenhum objeto visível. Para as autoridades romanas, acostumadas às manifestações materiais simbólicas de seu deus, isto nada mais era do que ateísmo. O sigilo dos encontros dos cristãos também suscitou ataques morais contra eles. O vulgo popular os acusou de incesto, de canibalismo e de práticas desumanas. Entendendo equivocadamente o significado de "comer e beber" os elementos representativos do corpo e do sangue de Cristo, o vulgo popular logo depreendeu que o cristãos matavam e comiam crianças em sacrifício ao seu Deus. A expressão "beijo da paz" foi logo transformada em ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 21 acusações de incesto e outras formas de conduta imoral que repugnava à mente cultural romana. Pouca diferença fazia se estes boatos eram verdadeiros ou não. C. Sociais Problemas sociais também contribuíram para o início da perseguição à Igreja. Os cristãos que exerciam grande atrativo sobre as classes pobres e escravas, eram odiados pelos líderes aristocráticos influentes da sociedade. Estes líderes os viam com desprezo mas temiam sua influência sobre as classes pobres. Os cristãos defendiam a igualdade entre todos os homens (Cl. 3:11), enquanto que o paganismo insistia na estrutura aristocrática da sociedade em que uns poucos privilegiados eram servidos pelos pobres e pelos escravos. Os cristãos se separavam dos ajuntamentos pagãos dos templos, teatros e lugares de recreação. Este inconformismo com os modelos sociais vigentes lhes trouxe uma antipatia jamais conhecida por qualquer grupo inconformista da história. A pureza de sua vida era uma reprovação silenciosa às vidas escandalosas levadas pelas pessoas da classe alta. O inconformismo dos, cristãos diante dos padrões vigentes levou os pagãos a pensarem que eles eram um perigo para a sociedade e os caracterizavam como “inimigos da raça humana”, capazes de incitar as massas à revolta. D. Econômicas Não se pode esquecer que questões econômicas são parte das causas da perseguição aos cristãos. A oposição que Paulo recebeu dos fabricantes de ídolos em Éfeso, mais preocupados com o perigo que representava o cristianismo para seus negócios que com a ameaça possível ao culto de Diana (At. 19:27), é uma chave para a compreensão da reação daqueles cujos interesses do “ganha-pão” estavam ameaçados pelo avanço do cristianismo. Sacerdotes, fabricantes de ídolos, videntes, pintores, arquitetos e escultores dificilmente se entusiasmariam com uma religião que ameaçasse seus meios de sustento. No ano 250, em que a perseguição deixou de ser local e intermitente para se tornar generalizada e violenta, Roma entrava, segundo a contagem dos romanos, nos mil anos de sua fundação. Nesta época uma fome e uma agitação civil assolavam o Império; a opinião pública atribuía estes problemas à presença do cristianismo no Império e o conseqüente abandono dos deuses. Há sempre um bom motivo para a superstição quando se aproxima o fim de um milênio e os romanos nisto não foram melhores que as pessoas da Idade Média que viveram pouco antes do ano 1.000. A perseguição aos cristãos parecia, aos romanos, uma forma lógica de superar os problemas. Tudo isto cooperou para justificar a perseguição dos cristãos na mente das autoridades. Nem todas as razões estiveram presentes em cada caso mas a pretensão de exclusividade por parte da religião cristã sobre a vida do cristão conflitava com o sincretismo pagão e sua exigência de lealdade exclusiva ao estado romano na maioria dos assuntos. A perseguição sucedeu como parte natural da política imperial de preservar a integridade do estado romano. Ao cristianismo não se permitia direito legal de existência. Mártires e apologistas foram suas respostas ao povo, ao estado e aos escritores pagãos. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 22 A PERSEGUIÇÃO DA IGREJA A perseguição aos cristãos era eclesiástica e política. Durante os primórdios da Igreja em Jerusalém, os judeus foram os perseguidores. Somente no governo de Nero (54-68) as perseguições partiram do estado romano. Estas perseguições foram locais e esporádicas até 250, quando se tornaram gerais e violentas, começando com uma dirigida por Décio. A. As Perseguições até 100 Nero tem o dúbio privilégio de ser o primeiro imperador romano a perseguir a Igreja Cristã. Tácito conta a suspeita de que o próprio Nero ordenara o incêndio que destruiu parte de Roma (em 64 d.C.). O rumor foi tão amplamente aceito que Nero tinha de encontrar um bode expiatório. Ele desviou o ódio do povo para os cristãos, ao acusá-los de incendiários. Aparentemente, a perseguição se restringiu a Roma e seus arredores. Pedro e Paulo morreram nesse período. A perseguição estourou pela segunda vez em 95 durante o governo despótico de Domiciano. Os judeus tinham se recusado a pagar um imposto público criado para o sustento de Capitolinus Júpiter. Por serem identificados com os judeus, os cristãos sofreram também os efeitos da fúria do imperador. Foi durante esta perseguição que p apóstolo João foi exilado na ilha de Patmos, onde escreveu o livro de Apocalipse. B. O Cristianismo sob interdição estatal,100-250 A primeira perseguição organizada, como resultado de uma política governamental definida, começou na Bitínia durante a administração de Plínio, o Moço, por volta de 112. Antes, Plínio escreveu uma interessante carta ao Imperador Trajano, em que prestava informações sobre os cristãos, esboçava seu programa e pedia a Trajano uma opinião sobre o assunto. Dizia ele que "o contágio desta superstição" (cristianismo) espalhava-se por vilas e regiões rurais como também por grandes cidades com tal velocidade que os templos ficavam geralmente vazios e os vendedores de animais sacrificiais, empobrecidos. Plínio procurava informar a Trajano sobre sua política para com os cristãos. Quando alguém era denunciado como cristão, Plínio convocava o tribunal e lhe perguntava se era cristão. Se admitisse a acusação três vezes, o cristão era condenado à morte. C. Perseguição Universal depois de 250 O Imperador Décio subiu ao trono imperial ao tempo em que Roma completava o fim do primeiro milênio de uma história e numa época em que o Império cambaleava sob calamidades naturais e ataques internos e externos à sua estabilidade. Percebeu ele que se a cultura clássica fosse salva, esta lhe seria um forte aliado. Os cristãos foram tomados como uma perigosa ameaça ao estado por causa de seu rápido crescimento numérico é por sua aparente tentativa de se constituírem num estado dentro do estado. Décio promulgou um edito em 250 que exigia, pelo menos, uma oferta anual de sacrifício nos altares romanos aos deuses e à figura do imperador. Aqueles que oferecessem este sacrifício receberiam um certificado chamado libellus. A igreja, mais tarde, foi sacudida com ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 23 o problema de como tratar aqueles que tinham negado a sua fé cristã para conseguir esses certificados. Felizmente para a Igreja, a perseguição durou só até a morte de Décio, no ano seguinte, mas as torturas que Orígenes sofreu, mais tarde causaram sua morte. Embora houvesse períodos de perseguição estatal por ordem dos imperadores, nenhuma grande perseguição aconteceu após a de Décio e Valeriano. Diocleciano líder militar forte, chegou ao trono imperial no fim de um século marcado pela desordem política no ImpérioRomano. Ele concluiu que somente uma monarquia forte salvaria o Império e sua cultura clássica. Os primeiros editos, com ordem de perseguição aos cristãos, foram promulgados em março de 303. Diocleciano ordenou o fim das reuniões cristãs, a destruição das igrejas, a deposição dos oficiais da Igreja, a prisão daqueles que persistissem em seu testemunho de Cristo e a destruição das Escrituras pelo fogo. Esta última ordem trouxe mais tarde um problema para a Igreja quando a controvérsia donatista começou no norte da África, em torno de como os tradutores, que tinham dado cópias das Escrituras aos perseguidores, deviam ser tratados ao pedirem readmissão à igreja, cessada a perseguição. Um último edito obrigou os cristãos a sacrificarem aos deuses pagãos sob pena de morte caso recusassem. Eusébilo conta que as prisões ficaram tão cheias de líderes cristãos e crentes comuns que não havia lugar suficiente para os criminosos. Os cristãos foram punidos com o confisco de bens, exílio, prisões ou execuções à espada ou por animais ferozes. Os mais felizes eram enviados aos campos de trabalhos forçados, onde trabalhavam até a morte nas minas. A força da perseguição foi diminuída quando Diocleciano abdicou e se retirou em 305. Depois de outros períodos de perseguição, Galério promulgou um edito, em seu leito de morte em 311, que estabelecia a tolerância ao cristianismo, desde que os cristãos não violassem a paz do Império. A perseguição só acabaria totalmente no reino de Constantino, que promulgou o édito de Milão em 313. Este edito garantia liberdade de culto não somente ao cristianismo mas a todas as religiões. Constantino cria que a "adoração a Deus" deveria ser o "primeiro e o principal cuidado" do governante, por isso ele pensava que não poderia haver outra alternativa senão a liberdade religiosa como política do Império. Certamente ele estava adiante de sua época, pois somente no período moderno a liberdade religiosa tornou-se norma, mesmo nos estados democráticos. Daquele tempo em diante, os cristãos tinham liberdade para adorar a Deus e propagar o Evangelho a outras pessoas a fim de ganhá-las para Cristo. CONSEQÜÊNCIAS DA PERSEGUIÇÃO O rápido avanço do cristianismo, mesmo durante os períodos de feroz perseguição, provou que realmente o sangue dos mártires era a semente da Igreja. Durante o período apostólico, o cristianismo fora predominantemente um movimento urbano. O número de crentes ativos em Jerusalém após a ressurreição foi calculado em 500 por Paulo (l Cor. 16:6). A ênfase durante o terceiro século recaiu sobre a propagação do Evangelho aos latinos da parte ocidental do Império. Uma igreja poderosa , tendo como Cartago seu centro intelectual, floresceu no Norte da África. A Igreja em Alexandria se tornou a principal das igrejas do Egito. Estimativas sobre a população da igreja, por volta de 250, variam entre 4 e 15 por cento da população do Império, que girava em torno de 50 a 75 milhões. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 24 A perseguição, todavia, criou problemas internos que necessitavam de solução. Duas duras controvérsias tiveram lugar no Norte da África e em Roma, envolvendo a maneira de tratar aqueles que tinham oferecido sacrifícios em altares pagãos, quando da perseguição movida por Décio, e aqueles que entregaram Bíblias na perseguição dirigida por Diocleciano, mas que, arrependidos, agora queriam voltar. Uns queriam privá-los de qualquer comunhão com a Igreja; outros queriam aceitá-los após um período de prova. A era da perseguição é interessante devido à luz que projeta sobre o perene problema da relação entre a Igreja e o Estado. O cristianismo pretendia fidelidade exclusiva de seus seguidores em assuntos morais e espirituais. O cristão deveria obedecer ao Estado, enquanto este não lhe exigisse uma violação de sua submissão moral e espiritual a Deus. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 25 FFáábbuullaass oouu SSãã DDoouuttrriinnaa?? Os cristãos do segundo e do terceiro séculos tiveram que fazer o que todo estrategista tenta evitar: lutar em duas frentes. Ao mesmo tempo em que lutava para preservar sua existência diante das tentativas do estado romano de acabar com ela, a Igreja lutava também para preservar a pureza da doutrina. Os convertidos à fé cristã vieram ou do legalismo judaico ou do ambiente pagão da filosofia grega. Muitos desses convertidos, antes que a Igreja os instruísse corretamente, tinham a tendência de levar suas velhas idéias para seu novo ambiente. Outros procuravam fazer o cristianismo parecer intelectualmente respeitável diante das classes altas do estado. A ameaça dos desvios legalista ou filosófico do cristianismo foi algo muito real na Igreja deste período. Em alguns casos, líderes super- zelosos desenvolveram uma interpretação particular para corrigir males reais ou imaginários na Igreja, chegando mesmo a seguir suas idéias heréticas até que resultassem em. cismas e daí em novas seitas. I. Heresias Legalistas Alguém poderia pensar que a decisão do Concílio de Jerusalém, de deixar os gentios livres das exigências cerimoniais e ritualistas da lei judaica, para a salvação, tenha encerrado o problema. Estas pessoas enfatizavam a unidade de Deus e de Sua criação. Criam que a lei judaica era a maior expressão de Sua vontade e que continuava válida para o homem. Para eles, Jesus era um homem que se tornou o Messias em virtude de ter cumprido fiel e completamente a lei. Seguiam, então, os ensinos do Evangelho de Mateus, mas rejeitavam os escritos de Paulo. II. Heresias Filosóficas O maior perigo para a pureza doutrinária da fé cristã veio da filosofia grega. Mais gentios do que judeus se converteram ao cristianismo. Entre estes estavam muitos filósofos que queriam combinar cristianismo com filosofia, ou vestir a filosofia pagã com uma roupagem cristã. A. Gnosticismo O gnosticismo, a maior das ameaças filosóficas, chegou ao máximo de sua influência ao redor do ano 150. Suas raízes estão fincadas nos tempos do Novo Testamento. Paulo parece ter enfrentado uma forma incipiente de gnosticismo em sua carta aos colossenses. O gnosticismo surgiu do desejo humano natural de criar uma teodicéia, isto é, uma explicação para a origem do mal. Os gnósticos, que identificavam a matéria com o mal, procuravam uma forma de criar um sistema filosófico em que Deus como espírito seria livre da influência do mal e no qual o homem seria identificado, no lado espiritual de sua ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 26 natureza, com a divindade. Era também um sistema lógico ou racional que ilustrou a tendência humana de procurar respostas às grandes questões da origem do homem. Queria com isto, fazer uma síntese entre o cristianismo e a filosofia helênica. Os gnósticos, a exemplo dos gregos dos dois primeiros capítulos de l Coríntios, procuravam pela sabedoria humana compreender as relações de Deus com o homem e evitar o que lhes parecia ser o estigma da cruz. Foram necessárias a habilidade intelectual e a força espiritual do polemista Irineu e o desenvolvimento de uma regra de fé e um cânon da Bíblia pela Igreja para superar a ameaça desse movimento ao cristianismo. Se os gnósticos tivessem vencido, o cristianismo não teria passado de uma mera religião filosófica do mundo antigo. O dualismo era um dos principais fundamentos do gnosticismo. Os gnósticos defendiam uma separação entre os mundos material e espiritual, porque para eles a matéria estava sempre identificada com o mal e o espírito com o bem. Por isto, Deus não poderia ter criado este mundo material. O vazio entre Deus e o mundo damatéria era preenchido pela idéia de um demiurgo que era uma de uma série de emanações do bem supremo do gnosticismo. Estas emanações eram seres com pouco espírito e muita matéria. O demiurgo, como uma destas emanações, tinha bastante de espírito em si para ter um poder criativo e o bastante de matéria para criar o mundo material. Os gnósticos identificavam o demiurgo com o Javé do A.T., por quem nutriam antipatia. Para interpretar Cristo, eles adotaram a doutrina conhecida como Docetismo. A palavra veio de um termo grego, dokeo, que significa parecer. Como a matéria era má, Cristo não podia ter um corpo humano apesar de a Bíblia dizer o contrário. Como bem espiritual absoluto, Cristo não se misturava com a matéria. O homem Jesus era ou um fantasma com a aparência de corpo material (docetismo) ou Cristo tomou o corpo humano de Jesus apenas por pouco tempo, entre o batismo do homem Jesus e o começo de seu sofrimento na cruz. Cristo deixou, pois, o homem Jesus morrer na Cruz. A tarefa de Cristo era ensinar uma gnosis ou conhecimento especial que ajudaria o homem a se salvar por um processo intelectual. Marcion deixou sua cidade natal, Ponto, em 138 e foi para Roma, onde se tornou influente na igreja romana. Por entender que o Judaísmo era mau, rejeitou a Bíblia hebraica e o Javé nela apresentado. Ele formou seu próprio cânon, que incluía o Evangelho de Lucas, os Atos e dez das cartas identificadas com o nome de Paulo. Embora seus negócios tenham feito dele rico o bastante para prestar uma substancial ajuda à igreja romana, ele foi expulso por causa destas idéias. Ele fundou, então, sua própria igreja. Uma crítica do gnosticismo a partir da Bíblia logo indicará que a Igreja foi sábia em lutar contra esta doutrina. Ele propunha dois deuses, um mal, o do A.T., para criar e um bom para redimir. Desse modo, ele espalhou o anti-semitismo na Igreja. O gnosticismo também rejeitava a realidade da divindade do Cristo humano que João disse ter habitado entre nós para revelar a glória de Deus. Não é, pois, estranho que Paulo tenha afirmado a plenitude de Deus em Cristo em sua carta à igreja colossense (Cl. 1:19; 2:9). O gnosticismo ainda fomentou um orgulho espiritual com sua sugestão de que apenas uma elite aristocrática alcançaria os favores de habitar com Deus nos céus. Não havia lugar para o corpo humano na vida futura. Neste sentido, assemelhava-se a mitologia e à filosofia gregas para quem também não havia ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 27 futuro para o corpo humano além desta vida. Seu ascetismo foi um dos fatores formativos do movimento ascético medieval conhecido como monasticismo. O gnosticismo contribuiu involuntariamente, pois, para o avanço da Igreja. Quando Marcion formou o seu cânon do Novo Testamento, a Igreja foi forçada como auto-defesa a se preocupar com o problema de que livros seriam considerados canônicos e autoritativos para a fé e para a vida. Um pequeno credo para provar a ortodoxia foi logo elaborado a fim de atender a uma necessidade prática. O prestígio do bispo foi aumentado com a ênfase sobre seu ofício como o centro da unidade contra a heresia. Em troca, isto provocou o posterior desenvolvimento da proeminência do bispo romano. Polemistas como Irineu, Tertuliano e Hipólito engajaram-se na controvérsia literária para refutar idéias gnósticas. B. Maniqueísmo O maniqueísmo, em alguns pontos semelhante ao gnosticismo, foi fundado por um homem chamado Mani ou Maniqueu, da Mesopotâmia, que desenvolveu seu peculiar sistema filosófico em meados do terceiro século. Mani fez uma curiosa combinação de pensamento cristão, zoroastrismo e idéias religiosas orientais numa refinada filosofia dualística. A alma do homem relacionava-se com o reino da luz, mas seu corpo levava-o a depender do reino das trevas. A salvação era uma questão de liberar a luz em sua alma da escravidão à matéria de seu corpo. Esta libertação poderia ser conseguida através da exposição à luz, Cristo. A elite ou os perfeitos constituíam a casta sacerdotal para este grupo. Viviam asceticamente e cumpriam certos ritos essenciais à liberação da luz. Os auditores ou ouvintes participavam da santidade deste grupo eleito para satisfação de suas necessidades. Desta forma, os ouvintes poderiam também participar na salvação. O maniqueísmo provocou uma tal exaltação da vida ascética ao ponto de ver o instinto sexual como mal e enfatizar a superioridade do estado civil do solteiro. O maniqueísmo ajudou também no surgimento do conceito na Igreja de uma classe sacerdotal independente do resto dos crentes, que eram considerados leigos não iniciados. Geralmente a maioria das pessoas vê o misticismo apenas em relação aos místicos medievais. O fato é que através dos tempos têm havido tendências místicas na Igreja. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 28 EEmm DDeeffeessaa ddaa FFéé No segundo e terceiro séculos, a Igreja exprimiu sua autoconsciência nascente numa forma literária nova — as obras dos Apologistas e dos Polemistas. Justino Mártir foi o maior do primeiro grupo; Irineu, o grande nome do segundo. Estes homens enfrentaram um governo hostil a quem procuraram convencer com os argumentos de suas produções literárias. Os Apologistas procuraram convencer os líderes do estado de que os cristãos nada tinham feito para merecer a perseguição que lhes era impingida: os Polemistas, como Irineu, procuraram enfrentar o desafio dos movimentos heréticos. Ao passo que os Pais Apostólicos escreveram apenas por e para os cristãos, estes escritores escreveram por e para o estado romano ou para os heréticos num esforço para convencê-los da verdade da Bíblia através de argumento literário. Os apologistas usavam a forma do diálogo literário pagão e a forma legal da apologia. I. Os Apologistas Os apologistas tinham um objetivo negativo e positivo em seus escritos. Negativamente, queriam refutar as falsas acusações de ateísmo, canibalismo, incesto, preguiça e práticas anti- sociais atribuídas a eles por vizinhos e escritores pagãos, entre os quais Celso, por exemplo. Positivamente, desenvolveram uma perspectiva construtiva para demonstrar que, ao contrário do cristianismo, o judaísmo, as religiões pagãs e o culto do estado, eram loucos e malévolos. Seus escritos, conhecidos como apologias, fizeram um apelo racional aos líderes pagãos e procuraram criar uma interpretação inteligente do cristianismo e assim revogar os dispositivos legais contra si. Um dos maiores argumentos era de que, já que as falsas acusações não podiam ser provadas, os cristãos deviam ser tolerados pelo governo e protegidos pelas leis do estado romano. Estes homens, escrevendo mais como filósofos do que como teólogos, pintaram o cristianismo como a religião e filosofia mais antigas, uma vez que escritos como o Pentateuco tinham sido escritos antes das guerras troianas e que toda a verdade que se encontrasse no pensamento grego era superada pelo cristianismo ou pelo judaísmo. A vida pura de Cristo e o cumprimento das profecias do Velho Testamento sobre Ele eram as provas de que o cristianismo era a mais alta filosofia. Educados em geral na filosofia grega antes de aceitarem o cristianismo, estes escritores consideravam a filosofia grega, como um meio de levar os homens a Cristo. Eles usaram o NT mais do que os pais apostólicos. ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 29 II. Os Polemistas Diferentemente dos apologistas do segundo século que procuraram fazer uma explanação e uma justificação racional do cristianismo para as autoridades, os polemistas empenharam- se por responder ao desafio dos falsos ensinos dos heréticos, condenando veementemente esses ensinos e seus mestres. Os apologistas,
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