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ESUTES - HISTÓRIA DA IGREJA 15

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PLANO DE AULA APOSTILADO 
Escola Superior de Teologia do Espírito Santo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História da IgrejaHistória da IgrejaHistória da IgrejaHistória da Igreja 
Da igreja primitiva à reforma 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Escola Superior de Teologia do ES 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Escola Superior de Teologia do Espírito Santo – ESUTES, é amparada pelo disposto no parecer 
241/99 da CES (Câmara de Ensino Superior) – MEC 
O ensino superior à distância é amparado pela lei 9.394/96 – Artº 80 e é considerado um dos mais 
avançados sistemas de ensino da atualidade. 
Sistema de ensino: Open University – Universidade aberta em Teologia 
O presente material apostilado é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria em 
questão. 
A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da apostila, segue 
a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo aborda, bem como 
bibliografia para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 3 
 
 
 ____________ 
 SSSSSSSSuuuuuuuummmmmmmmáááááááárrrrrrrriiiiiiiioooooooo 
 ________ 
 
A Plenitude dos Tempos................................................................................................................1 
Primeiro aos Judeus......................................................................................................................9 
O Ambiente de Paulo...................................................................................................................13 
Com os Bispos e os Diáconos .....................................................................................................15 
A Luta da Antiga Igreja Católica Imperial Para Sobreviver...........................................................19 
Causas da Perseguição...............................................................................................................20 
Fábulas ou Sã Doutrina? .............................................................................................................25 
Em Defesa da Fé.........................................................................................................................28 
A Luta da Antiga Igreja Católica Imperial Para Sobreviver – 100-313...........................................30 
O Desenvolvimento Doutrinário na era Conciliar .........................................................................34 
A Supremacia da Antiga Igreja Católica Imperial .........................................................................39 
Reavivamento e Divisão na Igreja ...............................................................................................42 
Os Precursores da Reforma ........................................................................................................46 
As Interpretações da Reforma.....................................................................................................51 
Outros Motivos de Perseguições ........................................................ Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido.Erro! Indicador não definido. 
Bibliografia ..................................................................................................................................59 
 
 AA PPlleenniittuuddee ddooss TTeemmppooss 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 4 
Em Gálatas 4:4, Paulo chama a atenção para a era histórica da preparação. providencial 
que antecedeu a vinda de Cristo a terra em forma humana: "Vindo a plenitude dos tempos, 
Deus enviou seu Filho..." Marcos também indica que a vinda de Cristo aconteceu quando 
estava tudo já preparado na terra (Mc 1:15). O estudo dos eventos que antecederam o 
aparecimento de Cristo sobre esta terra faz com que o estudante equilibrado reconheça a 
verdade das afirmações de Paulo e Marcos. 
Na maioria das discussões sobre este assunto, esquece-se que não apenas os. judeus, mas 
os gregos e os romanos também, contribuíram para a preparação religiosa para a aparição de 
Cristo. A contribuição grega e romana foi, na realidade, negativa, mas em muito contribuiu 
para levar o desenvolvimento histórico até o ponto em que Cristo pudesse exercer o impacto 
máximo sobre a história de uma forma até então impossível. 
O AMBIENTE 
A. Contribuições Políticas dos Romanos. 
 A contribuição política anterior à vinda de Cristo foi basicamente obra dos romanos. Este 
povo, seguidor do caminho da idolatria, dos cultos de mistérios e do culto ao imperador, foi 
então usado por Deus, a quem ignoravam, para cumprir a sua vontade. 
1. Os romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um sentido da 
unidade da espécie sob uma lei universal. Este sentido da solidariedade do homem no 
Império criou um ambiente favorável à aceitação do Evangelho que proclamava a unidade de 
raça humana, baseada no fato de que todos os homens estavam sob a pena do pecado e no 
fato de que a todos era oferecida a salvação que os integra num organismo universal, a Igreja 
Cristã, o Corpo de Cristo. 
Nenhum império do antigo Oriento Próximo, nem mesmo o império de Alexandre, tinha 
conseguido dar aos homens um sentido de unidade numa organização política. A unidade 
política seria a contribuição particular de Roma. A aplicação da lei romana aos cidadãos de 
todo o Império era imposta diariamente a todos os cidadãos e súditos do Império pela justiça 
imparcial das cortes romanas. Esta lei romana se originava da lei consuetudinária da antiga 
monarquia. Durante a primeira república, no quinto século, antes de Cristo, esta lei foi 
codificada nas Doze Tábuas, que eram parte essencial na educação de toda criança romana. A 
compreensão de que os grandes princípios da lei romana eram também parte das leis de 
todas as nações sob o domínio dos romanos como praetor peregrinus, que era encarregado da 
tarefa de tratar com as cortes em que estrangeiros estivessem sendo julgados, tornou-se 
realidade para todos os sistemas jurídicos desses estrangeiros. Assim, o código das Doze 
Tábuas, baseado no costume romano, foi enriquecido pelas leis de outras nações. Os romanos 
de inclinação filosófica explicavam essas semelhanças pelo uso do conceito grego de uma lei 
universal cujos princípios foram escritos na natureza do homem e seriam descobertos por um 
processo racional. 
Um passo adicional no estabelecimento da idéia de unidade foi a garantia de cidadania 
romana aos não romanos. Este processo foi principiado no período anterior ao nascimento de 
Cristo e foi completado quando Caracala concedeu, em 212, a todos os homens livres do 
Império Romano a cidadania romana. O Império Romano reunia todo o mundo 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 5 
mediterrâneo que contava na história de então; desse modo para todos os propósitos 
práticos, todos os homens estavam debaixo de um sistema jurídico, como cidadãos de um só 
reino. 
A lei romana com sua ênfase sobre a dignidade do indivíduo, e no direito deste à justiça e 
a cidadania romana, além de sua tendência a agrupar homens de raças diferentes numa só 
organização política, antecipou um Evangelho que proclamava a unidade da raça ao 
anunciara pena do pecado e o Salvador do pecado. Paulo lembrou aos da igreja de Filipenses 
que eles eram membros de uma comunidade celestial (Fp 3:20). 
2. A movimentação livre em torno do mundo mediterrâneo teria sido mais difícil para os 
mensageiros do Evangelho antes de César Augusto (27 a.C. - 14 d.C). A divisão do mundo 
antigo em grupos, cidades – estados ou tribos, pequenos e enciumados um do outro, impedia 
a circulação e a propagação de idéias. Com o aumento do poderio imperial romano no 
período da expansão imperial, uma era de desenvolvimento pacífico ocorreu nos países ao 
redor do Mediterrâneo. Pompeu tinha varrido os piratas do Mediterrâneo e os soldados 
romanos mantinham a paz nas estradas da Ásia, África e Europa. Este mundo relativamente 
pacífico tornou mais fácil a movimentação dos primeiros cristãos nas cidades onde pregavam 
o Evangelho a todos os homens. 
3. Os romanos criaram um ótimo sistema de estradas que iam do marco áureo no fórum a 
todas as regiões do Império. As estradas principais eram de concreto e duraram séculos. Elas 
passavam por montes e vales até chegarem aos pontos mais distantes do Império; algumas 
delas são usadas até hoje. Um estudo das viagens de Paulo indica que ele se serviu muito 
deste ótimo sistema viário para atingir os centros estratégicos do Império Romano. As 
estradas romanas e as cidades estrategicamente localizadas às margens dessas estradas foram 
uma ajuda indispensável na concretização da missão de Paulo. 
4. O papel do exército romano .no desenvolvimento do ideal de uma organização 
universal é na propagação do Evangelho não pode ser ignorado. Os romanos adotavam a 
prática de usar habitantes das províncias no exército como forma de suprir a falta de 
cidadãos romanos atingidos pelas guerras e pelo conforto da vida. Os provincianos entravam 
em contato com a cultura romana e ajudavam a divulgar suas idéias através do mundo 
antigo. Em muitos casos, alguns destes homens converteram-se ao cristianismo e levaram o 
Evangelho às regiões para onde eram designados. É provável que a introdução do 
cristianismo na Bretanha seja um resultado dos esforços de soldados cristãos que 
acantonaram por lá. 
5. As conquistas romanas levaram muitos povos à falta de fé em seus deuses, uma vez 
que eles não foram capazes de protegê-los dos romanos. Tais povos foram deixados num 
vácuo espiritual que não estava sendo satisfeito pelas religiões de então. 
Além disso, os substitutos que Roma tinha a oferecer em lugar das religiões perdidas 
nada mais podiam fazer além de levar os povos a compreenderem sua necessidade de uma 
religião mais espiritual. O culto ao imperador romano, que surgiu cedo na Era Cristã, fazia 
um apelo ao povo somente como um meio de tornar tangível o conceito de Império romano. 
As várias religiões de mistério pareciam oferecer muito mais que isso como um meio de 
auxílio espiritual e emocional, e nelas o Cristianismo achou seu maior rival. A adoração de 
Cibele, a grande mãe terra, foi trazida da Frigia para Roma. A adoração desta deusa da 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 6 
fertilidade tinha ritos tais como o drama da morte e ressurreição do consorte de Cibele, Átis, 
o que parecia suprir as necessidades emocionais dos homens. O culto à Ísis, importado do 
Egito, era semelhante ao de Cibele, com sua ênfase sobre a morte e ressurreição. O Mitraísmo 
importado da Pérsia, teve aceitação especial entre os soldados romanos. Tinha um festival em 
dezembro, um Maligno, um Salvador nascido miraculosamente - Mitra, um deus-salvador 
além de capelas e cultos de adoração. 
B. Contribuições Intelectuais dos Gregos 
Embora importante para a preparação para a vinda de Cristo, a contribuição .romana foi 
ofuscada pelo ambiente intelectual criado pela mente grega. A cidade de Roma pode ser 
identificada com o ambiente político do cristianismo, mas foi Atenas que ajudou a criar um 
ambiente intelectual propício à propagação do Evangelho. Os romanos podem ter sido os 
conquistadores dos gregos, mas como indicou Horácio; (65 a.C - 8 d.C) em sua poesia, os 
gregos conquistaram os romanos culturalmente. A mente prática dos romanos pode ter 
construído boas estradas, pontes fortes e belos edifícios, mas a grega erigiu os grandiosos 
edifícios da mente. Foi graças à influência grega que a cultura basicamente rural da antiga 
República deu lugar à cultura intelectual do Império. 
1. O Evangelho universal precisava de uma língua universal para poder exercer um 
impacto real sobre o mundo. Os homens têm procurado desde a Torre de Babel criar uma 
língua universal para que possam comunicar suas idéias uns aos outros sem problemas. 
Assim como o inglês no mundo moderno e o latim no mundo medieval erudito, o grego 
tornou-se no mundo antigo, ao tempo em que o Império Romano apareceu, a língua 
universal. Os romanos mais ilustres sabiam grego e latim. 
O processo pelo qual o grego se tomou o vernáculo do mundo é interessante. O dialeto 
ático usado pelos atenienses começou a ser usado amplamente no quinto século antes de 
Cristo com a solidificação do Império Ateniense. Mesmo depois de o Império ser destruído 
ao final do quinto século, o dialeto de Atenas, que se originara da literatura grega clássica, 
tornou-se a língua que Alexandre, seus soldados e os comerciantes do mundo helenístico, 
entre 338 e 146 a.C., modificaram, enriqueceram e espalharam através do mundo 
mediterrâneo. 
Foi através deste dialeto do homem comum, conhecido como koinê e diferente do grego 
clássico, que os cristãos foram capazes de se comunicar com os povos do mundo antigo, 
usando-o inclusive para escrever o seu Novo Testamento, o mesmo fazendo os judeus de 
Alexandria para escrever seu Velho Testamento, a Septuaginta . Só recentemente se soube 
que o grego do Novo Testamento era o grego do homem comum dos dias de Jesus Cristo, o 
que o diferencia do grego dos clássicos. Um teólogo alemão chegou mesmo a dizer que o 
grego do Novo Testamento era um grego especial criado pelo Espírito Santo para a produção 
do Novo Testamento. 
2. A filosofia grega preparou o caminho para a vinda do Cristianismo por ter levado à 
destruição as antigas religiões. Qualquer um que chegasse a conhecer seus princípios, fosse 
grego ou romano, logo perceberia que sua disciplina intelectual tornou a religião tão 
ininteligível que a acabava abandonando em favor da filosofia. A filosofia falhou, porém, na 
satisfação das necessidades espirituais do homem, que se via obrigado então a tornar-se um 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 7 
cético ou a procurar conforto nas religiões de mistério do Império Romano. Á época do 
advento de Cristo, a filosofia descera do ponto elevado que alcançara com Platão para um 
sistema de pensamento individualista egoísta, como é o caso do Estoicismo ou do 
Epicurismo. Na maioria dos casos, a filosofia apenas aspirava por Deus, fazendo dele uma 
abstração; jamais revelava um Deus pessoal de amor. Este fracasso da filosofia do tempo da 
vinda de Cristo tornou as mentes humanas prontas para entender uma apresentação mais 
espiritual da vida. Só o cristianismo pode preencher o vazio na vida espiritual de então. 
A outra forma pela qual os grandes filósofos gregos ajudaram o cristianismo está ligada 
ao fato de chamarem a atenção dos gregos para uma realidade que transcendia o mundo 
temporal e visível em que viviam. Tanto Sócrates quanto Platão ensinaram, cinco séculos 
antes de Cristo, que este presente mundo temporal dos sentidos é apenas uma sombra do 
mundo real em que os ideais supremos são ao mesmo tempo abstrações intelectuais, o bem, a 
beleza e a verdade. Insistiam que a realidade não era temporal e material, mas espiritual e 
eterna. Sua busca da verdade jamais lhes conduziram a um Deus pessoal, mas evidenciou 
que o melhor que o homem deve fazer é buscar a Deus através do intelecto. O cristianismo 
ofereceu a este povoque aceitava a filosofia de Sócrates e Platão, a revelação histórica do 
Bem, da Beleza e da Verdade na pessoa do Deus-homem, Cristo. Os gregos aceitavam a 
imortalidade da alma, mas não tinham lugar para a ressurreição do corpo. 
Os gregos, entretanto, viam o pecado como um problema mecânico e contratual; não o 
viam como um problema pessoal que afrontava a Deus e prejudicava os homens. 
A época da vinda de Cristo, os homens tinham compreendido finalmente a insuficiência 
da razão humana e do politeísmo. As filosofias individualistas de Epicuro (341-270 a.C.) O 
cristianismo, com sua oferta de um relacionamento pessoal, forneceu aquilo para o que a 
cultura grega, em função de sua própria inadequação, tinha produzido muitos corações 
famintos. 
3. O povo grego também contribuiu no campo da religião para preparar o mundo a 
aceitar a nova religião cristã quando ela surgisse. O advento da filosofia grega materialista no 
sexto século antes de Cristo destruiu a fé das pessoas no velho culto politeísta como descrito 
na Ilíada e na Odisséia de Homero. Embora os elementos deste culto se baseassem no culto 
mecânico oficial, logo perderiam a sua vitalidade. 
O povo voltou, então, à filosofia. Esta também, entretanto, perdeu o seu vigor. A filosofia 
tornou-se um sistema de individualismo pragmático, dirigido pelos sucessores dos sofistas 
ou um sistema de individualismo subjetivista. 
Desse modo, os sistemas gregos e romanos de filosofia e religião contribuíram 
negativamente para a vinda do cristianismo, ao destruírem as velhas religiões politeístas e 
demonstrarem a incapacidade da razão para alcançar Deus. As religiões de mistério, para 
onde muitos foram, familiarizaram o povo a pensar em termos de pecado e redenção. Então, 
quando o cristianismo apareceu, as pessoas do Império Romano estavam bem receptivas a 
uma religião que parecia oferecer uma perspectiva espiritual para a vida. 
 CONTRIBUIÇÕES RELIGIOSAS DOS JUDEUS 
As contribuições religiosas para a "plenitude do tempo" incluem tanto a dos gregos e 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 8 
romanos como a dos judeus. Todavia, por mais importantes que as contribuições de Atenas e 
Roma, como pano-de-fundo histórico, tenham sido para o cristianismo, as contribuições dos 
judeus formam a Herança do Cristianismo. O cristianismo pode ter se desenvolvido no 
sistema político de Roma e pode ter encontrado o ambiente intelectual criado pela mente 
grega, mas seu relacionamento com o Judaísmo foi muito mais íntimo. 
Ao contrário dos gregos, os judeus não intentavam encontrar a Deus pelos processos da 
razão humana. Eles pressupunham Sua existência e lhe prestavam o culto que sentiam lhe 
dever. O povo judeu foi muito influenciado a estas atitudes pelo fato de que Deus o procurou 
e Se revelou a ele na história por Suas aparições a Abraão e a outros grandes líderes da raça. 
Jerusalém tornou-se o símbolo de uma preparação religiosa positiva para a vinda do 
cristianismo. A salvação viria, pois "dos judeus", como Cristo diria à mulher no poço 
(Jo.4:22). 
A. Monoteísmo 
O Judaísmo contrastava flagrantemente com a maioria das religiões pagãs, ao fundamentar-
se num sólido monoteísmo espiritual. Nunca, depois da sua volta do cativeiro babilônico, os 
judeus caíram em idolatria. A mensagem de Deus para eles através de Moisés ligava-os ao 
único Deus verdadeiro de toda a terra. Os deuses dos pagãos eram apenas ídolos que os 
profetas judeus condenavam em termos muito claros. Este sublime monoteísmo foi 
espalhado por numerosas sinagogas localizadas em volta da área mediterrânea durante os 
três últimos séculos anteriores à vinda de Cristo. 
B. Esperança Messiânica 
Os judeus ofereceram ao mundo a esperança de um Messias que estabeleceria a justiça na 
Terra. A esperança de um Messias tinha sido popularizada no mundo romano a partir desta 
firme proclamação pelos judeus. Até mesmo os discípulos depois da morte e ressurreição de 
Cristo ainda esperavam por um reino messiânico sobre a terra (At 1:6). Certamente, os 
homens instruídos que viveram em Jerusalém na época imediatamente anterior ao 
nascimento de Cristo tiveram contato com esta esperança. A expectativa de muitos cristãos 
hoje em torno da vinda de Cristo ajuda-nos a compreender a atmosfera da expectação no 
mundo judeu acerca da vinda do Messias. 
C. Sistema Ético 
Na parte moral da lei judaica, o judaísmo também ofereceu ao mundo o mais puro 
sistema ético de então. O elevado padrão proposto nos Dez Mandamento se chocava com os 
sistemas éticos prevalecentes e com as práticas por demais corruptas dos sistemas morais 
pelos quais se pautavam. Para os judeus, o pecado não era o fracasso externo, mecânico e 
contratual dos gregos e romanos, mas era uma violação da vontade de Deus, violação esta 
que se expressava num coração impuro e, mais ainda, em atos pecaminosos, externos e 
visíveis. Esta perspectiva moral e espiritual do Velho Testamento favoreceu uma doutrina de 
pecado e redenção que realmente resolvesse o problema do pecado. 
D. O Antigo Testamento 
O povo judeu, ademais, preparou o caminho para a vinda do cristianismo ao legar à 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 9 
Igreja em formação um livro sagrado, o Velho Testamento. Mesmo um estudo superficial do 
Novo Testamento revela a profunda dívida de Cristo e dos apóstolos para com o Velho 
Testamento e sua reverência por ele como a palavra de Deus para o homem. Muitos gentios 
também o leram e se familiarizaram com os fundamentos da fé judaica. Este fato é indicado 
pelos relatos de vários prosélitos judeus. Muitos desses prosélitos foram capazes de passar 
do judaísmo ao cristianismo por causa do Velho Testamento, o livro sagrado da nova Igreja. 
Muitas religiões, o Islamismo por exemplo, confiam em seu fundador por causa do seu Livro 
sagrado, mas Cristo não deixou textos sagrados para a Igreja. Os livros do Velho Testamento 
e os do Novo Testamento, produzidos sob a inspiração do Espírito Santo, seriam a literatura 
viva da Igreja. 
E. Filosofia da História 
Os judeus tornaram possível uma filosofia da história por insistirem que a história tem 
significado. Eles se opuseram a toda e qualquer visão que deixasse a história sem significado, 
como uma série de círculos ou como um processo de evolução linear. Eles sustentavam uma 
visão linear e cataclísmica da história, na qual o Deus soberano, que criou a história, iria 
triunfar sobre a falha do homem na história para trazer uma era dourada. 
F. A Sinagoga 
Os judeus também forneceram uma instituição da qual muitos cristãos esquecem a 
utilidade, no surgimento e desenvolvimento do cristianismo primitivo. Esta instituição era a 
sinagoga judia. Nascida da necessidade decorrente da ausência dos judeus do templo de 
Jerusalém durante o cativeiro babilônico, a sinagoga se tornou parte integrante da vida 
judaica. Através dela, os judeus e também muitos gentios se familiarizaram com uma forma 
superior de viver. Em nenhum outro lugar na história do mundo antes da vinda de Cristo 
houve uma região tão grande sob uma mesma lei e um mesmo governo. O mundo mediterrâ-
neo tinha seu centro cultural em Roma. Uma língua comum tornou possível levar o 
Evangelho à maioria das pessoas do Império numa língua comum a elas e ao pregador. A 
Palestina, o berço da nova religião estava estrategicamente neste mundo. Paulo estava certo 
ao mostrar que o cristianismo "não se fez em qualquer canto", porque a Palestina era um 
importante cruzamento que ligava os continentes da Ásia e da África com a Europa por via 
terrestre. 
Negativamente, através da contribuição do mundo grego e romano, e positivamente, 
através do judaísmo, o mundo foi preparado para a "plenitude dos tempos" quando Deus 
enviou Seu Filho para levar a redenção a uma humanidade partida pelas guerras e fatigada 
pelo pecado.PPrriimmeeiirroo aaooss JJuuddeeuuss 
 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 10 
O Avanço do Cristianismo no Império até 100 
Cristo é mais o Fundamento do que o Fundador da Igreja. Isto fica evidente pelo uso do 
tempo futuro que faz em Mateus 16:18, ao dizer: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja. 
Lucas destaca isto ao nos informar em seu Evangelho "acerca de tudo quanto Jesus começou 
a fazer e ensinar" (At. 1:1). Em Atos ele relatou a fundação e a divulgação da Igreja cristã 
pelos apóstolos sob a direção do Espírito Santo. 
Até mesmo os discípulos compreenderam mal a natureza espiritual da missão de Cristo 
por quererem saber, após Sua ressurreição, quem restauraria o reino messiânico (At. 1:6). 
Cristo mesmo já lhes tinha dito que, depois de fortalecidos pelo Espírito Santo, a sua tarefa 
seria testemunhar dele "em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da 
terra" (At. 1:8). 
Cristo deu prioridade à proclamação aos judeus. Mesmo um estudo superficial dos Atos 
dos Apóstolos revelará que esta é a ordem seguida pela Igreja primitiva. O Evangelho foi 
primeiro proclamado em Jerusalém por Pedro no dia de Pentecoste; depois, foi levado pelos 
cristãos judeus a outras cidades da Judéia e da Samaria. Desse modo, a Igreja foi 
primeiramente judia e existiu dentro do judaísmo. O desenvolvimento do cristianismo aí e 
sua chegada a Antioquia é descrito por Lucas nos primeiros 12 capítulos do Atos. 
I. A Fundação da Igreja em Jerusalém 
Parece paradoxal que o principal centro de inimizade contra Cristo tenha sido a cidade 
onde a religião cristã começou. Mas esta é a realidade. Do ano 30 a aproximadamente 44, a 
igreja em Jerusalém manteve uma posição de liderança na comunidade cristã primitiva. 
O Espírito Santo teve o papel de proeminência na fundação da Igreja Cristã. Ele se tornou o 
Agente da Trindade na mediação da obra de redenção dos homens. Judeus de todas as partes 
do mundo mediterrâneo estavam presentes em Jerusalém para vera Festa do Pentecoste por 
ocasião da fundação da Igreja (At 2: 5-11). A manifestação sobrenatural do poder divino no 
falar em línguas, claramente relacionada à origem da Igreja, e a vinda do Espírito Santo 
levaram os judeus presentes a declararem a maravilha das obras de Deus em sua própria 
língua (At. 2:11). Pedro aproveitou a oportunidade para proferir o primeiro e possivelmente 
o mais fecundo sermão já pregado, e proclamar a messianidade de Cristo e a graça salvadora. 
Por fim, três mil pessoas aceitaram a sua palavra e foram batizados (At. 2:41). Foi desta 
maneira que, a entidade ou organismo espiritual, a Igreja invisível, o Corpo do Cristo 
ressuscitado, começou a existir. 
O crescimento foi rápido. Outros eram acrescidos diariamente ao número dos três mil até 
chegarem logo a cinco mil (At. 4:4). Há menção de multidões se integrando à Igreja (At. 5:14). 
É interessante que muitos eram judeus helenistas (At. 6:1) da dispersão e que estavam em 
Jerusalém para celebrar as grandes festas relacionadas com a Páscoa e o Pentecoste. Nem 
mesmo os sacerdotes ficaram imunes ao contágio da nova fé. "Muitos sacerdotes" (At. 6:7) 
são mencionados como estando entre os membros da igreja primitiva em Jerusalém. Talvez 
alguns deles tivessem visto a abertura do grande véu do templo, logo depois da morte de 
Cristo, e isto, junto com a pregação dos apóstolos, levou-os a se comprometerem com Cristo. 
Este crescimento tão rápido não se fez sem a oposição da parte de judeus. As autoridades 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 11 
eclesiásticas logo perceberam que o cristianismo representava uma ameaça a suas 
prerrogativas como intérpretes e sacerdotes da lei; por isto, reuniram suas forças para 
combater o cristianismo. A perseguição veio primeiro de um organismo político-eclesiástico 
o Sinédrio, que, com permissão romana, supervisionava a vida civil e religiosa do estado. 
Pedro e João tiveram que comparecer perante este egrégio órgão duas vezes e foram 
proibidos de pregar o Evangelho, mas eles se recusaram a cumprir a ordem. Mais tarde a 
perseguição tomou cunho mais político. Herodes matou Tiago e prendeu Pedro (At. 12) nesta 
fase de perseguição. Daí por diante a perseguição tem seguido esse padrão eclesiástico ou 
político. 
Esta perseguição deu ao cristianismo seu primeiro mártir, Estevão. Fora ele um dos mais 
destacados dos sete homens escolhidos para administrar os fundos de caridade na Igreja de 
Jerusalém. Testemunhos falsos, que não podiam resistir ao espírito e à lógica com que ele 
falou, obrigaram-no a comparecer diante do Sinédrio. Após um emocionante discurso em 
que denunciou líderes judeus por sua rejeição de Cristo, foi retirado e apedrejado até a 
morte. Sua morte, como o primeiro mártir da fé cristã, foi um fator importante na divulgação 
e crescimento do cristianismo. Saulo depois Paulo o apóstolo, guardou as capas daqueles que 
apedrejaram Estevão. É claro que a coragem e o espírito perdoador de Estevão diante de uma 
morte tão trágica marcaram bem fundo no coração de Saulo. Aquilo que Cristo lhe disse, em 
 Atos 9:5, "Duro será para ti recalcitrar contra os aguilhões, parecia indicar esta 
realidade. A perseguição que se seguiu foi mais dura e acabou sendo o meio usado pela 
igreja nascente para que sua mensagem fosse levada a outras partes do mundo ( At.8.4). 
Nem todos os convertidos ao cristianismo tinham, entretanto, um coração puro. Ananias 
e Safira constituíram-se nos primeiros objetos da disciplina da igreja em Jerusalém por causa 
da cobiça. Pronta e terrível, esta disciplina foi ministrada através dos apóstolos que eram os 
líderes da organização. 
O relato da aplicação da disciplina sobre este casal culpado suscita o problema se a igreja em 
Jerusalém, praticou, ou não o comunismo. Um jovem comunista se empenhou muito para 
demonstrar a este autor que os cristãos praticavam o comunismo. Realmente passagens como 
Atos 2: 44-45 e 4:32 parecem sugerir a prática de um tipo utópico de socialismo baseado no 
princípio máximo do socialismo: "a cada um segundo a sua capacidade, de acordo com a sua 
necessidade". O fato que tudo era feito voluntariamente é importante. Pedro afirmou 
claramente em Atos 5:3-4 que Ananias e Safira tinham liberdade para reter ou vender sua 
propriedade. O ter tudo em comum era uma decisão de caráter fundamentalmente livre. A 
Bíblia não pode ser usada como Escritura autoritativa para o Capitalismo estatal. 
Agora, sem dúvida, o cristianismo primitivo promoveu uma grande mudança social em 
certas regiões. A igreja de Jerusalém insistiu sobre a igualdade espiritual dos sexos e deu 
muita importância às mulheres na igreja. A liderança de Dorcas na promoção do trabalho de 
caridade foi registrada por Lucas (At, 9:36) . A criação de um grupo de homens para tomar 
conta das necessidades foi outro acontecimento de relevância social ocorrido ainda nos 
primeiros anos do nascimento da Igreja. A caridade deveria ser administrada por um corpo 
organizado, os precursores dos diáconos. Com isto, os apóstolos ficaram completamente 
livres para o exercício de sua liderança espiritual. A necessidade, devido ao rápido 
crescimento e possivelmente à imitação das práticas da sinagoga judaica, levou à 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 12 
multiplicação de ofícios e oficiais bem cedo na história da Igreja. Algum tempo depois, os 
presbíteros (anciãos) passaram a integrar o corpo de oficiais, finalmente formado de 
apóstolos, presbíteros e diáconos, que dividiam a responsabilidade de liderar a Igreja de 
Jerusalém. 
A natureza da pregação dos líderes dessa igreja primitiva desponta logo no relato do 
surgimento do cristianismo. O sermão de Pedro (At. 2:14-36) é o primeiro sermão de um 
apóstolo. 
A igreja judaica em Jerusalém, cuja história foi descrita, logo perdeu seu lugar de líder do 
cristianismo para outrasigrejas. A decisão tomada no Concílio em Jerusalém, de que os 
gentios não eram obrigados a obedecer a lei, abriu o caminho para a emancipação espiritual 
das igrejas gentílicas do controle judaico. Durante o cerco de Jerusalém em 70 por Tito, os 
membros da Igreja foram forçados a fugir para Pela, do outro lado do Jordão. Depois da 
destruição do templo da fuga da Igreja judaica, Jerusalém deixou de ser vista como o centro 
do cristianismo; a liderança espiritual da Igreja Cristã se centralizou, então, em outras 
cidades, especialmente em Antioquia. Isto evitou o perigo de que o cristianismo jamais se 
libertasse dos quadros do judaísmo. 
 
II. A Igreja na Palestina 
A visita de Filipe a Samaria ( Atos 8:5-25) levou o Evangelho a um povo que não era de 
sangue judeu puro. Os samaritanos eram os descendentes daquelas dez tribos que não foram 
levadas para a Assíria depois da queda da Samaria e dos colonos que os assírios trouxeram 
de outras partes do seu império em 721 a.C. Os judeus e os samaritanos fizeram-se inimigos 
ferrenhos desde então. Pedro e João foram chamados a Samaria para ajudar Filipe, pois o 
trabalho crescera tão rapidamente que ele estava sem condições de atender a todas as 
necessidades. Este reavivamento foi a primeira brecha na barreira racial a divulgação do 
Evangelho. Filipe foi compelido pelo Espírito Santo, após completar seu trabalho em 
Samaria, a pregar o Evangelho a um eunuco etíope, alto oficial do governo da Etiópia. 
Pedro, o primeiro a pregar o Evangelho aos judeus, foi também o primeiro a levar 
oficialmente o Evangelho aos gentios. Depois de uma visão, que deixou claro para ele que os 
gentios também tinham direito ao Evangelho, Pedro foi à casa de Cornélio, o centurião 
romano, e se assombrou quando as mesmas manifestações ocorridas no dia de Pentecoste 
voltavam a se verificar na casa de Cornélio (Atos 10-11). A partir daí, ele se dispôs a levar aos 
gentios o Evangelho da graça. O eunuco etíope e Cornélio foram os primeiros gentios a ter o 
privilégio de receber a mensagem da graça salvadora de Cristo. 
Embora aqueles que tinham sido obrigados a sair de Jerusalém pregassem somente aos 
judeus (At. 11:19), não demorou para que surgisse uma grande igreja gentia que brotou em 
Antioquia. Aí o termo "cristão", inicialmente empregado com sentido, pejorativo, por 
mordazes antioquienses ,tornou-se a designação de honra dos seguidores de Cristo. Foi em 
Antioquia que Paulo começou seu ministério público ativo entre os gentios e foi daí que ele 
partiu para suas viagens missionárias cujo objetivo final era chegar a Roma. A igreja em 
Antioquia era tão grande que foi capaz de socorrer as igrejas judaicas quando elas passaram 
fome. Ela foi o principal centro do cristianismo, de 44-68 d. C. 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 13 
A tarefa de levar o Evangelho aos gentios nos "confins" estava apenas começando. 
Começada por Paulo, esta tarefa continua ainda hoje como a missão, inacabada da Igreja de 
Cristo. 
Também Aos Gregos 
A Igreja judaico-cristã primitiva demorava a compreender o sentido universal do 
cristianismo embora Pedro tivesse sido o instrumento na comunicação do Evangelho aos 
primeiros convertidos judeus. Foi Paulo, capacitado pela revelação de Deus, que teve a visão 
das necessidades do mundo gentio, dedicando sua vida à pregação do Evangelho a este 
mundo. Como nenhum outro na Igreja primitiva, Paulo entendeu o caráter universal do 
cristianismo e entregou-se à sua pregação aos confins do Império Romano ( Rm. 11:13: 15:16). 
Poder-se-ia até dizer que ele tinha em sua mente o slogan "O Império Romano para Cristo" 
pelo tanto que ele fez no ocidente com a mensagem da Cruz (Rm. 15:15, 16, 18-28; At. 9:15, 
22:21). Embora não poupasse esforços na consecução deste ministério, ele não negligenciou 
seu próprio povo, os judeus. Isto se evidencia por sua procura das sinagogas judaicas logo 
que chegava a uma cidade e pela proclamação do Evangelho a todos os prosélitos judeus e 
gentios que pudessem ouvi-lo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 OO AAmmbbiieennttee ddee PPaauulloo 
 
Paulo estava consciente de que devia três lealdades temporais. Como jovem judeu, ele 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 14 
recebera educação ministrada apenas aos jovens judeus de futuro e foi educado aos pés do 
grande mestre judeu, Gamaliel. Poucos podiam se orgulhar de ter mais instrução do que 
Paulo no que dizia respeito à educação religiosa judaica e poucos se aproveitaram tanto 
quanto ele da educação que recebeu ( Fp 3: 4-6). Era ele também cidadão de Tarso, a principal 
cidade da Cicília, "cidade não insignificante" (At. 21:39). Era também cidadão romano livre 
(At. 22:28) e não tinha dúvidas em usar os privilégios de sua cidadania romana quando estes 
privilégios podiam ajudá-lo em sua missão por Cristo (At. 16:37; 25:11). 
 
O judaísmo foi seu ambiente religioso anterior a sua conversão; Tarso foi sua grande 
universidade e sua atmosfera intelectual, o palco dos primeiros anos de sua vida; e o Império 
romano foi o espaço político em que viveu e agiu. 
Este ambiente político não parecia ser tão favorável a alguém para a proclamação do 
Evangelho. A situação social e moral era mais assustadora do que a política. A pilhagem do 
Império criou uma classe alta rica de novos aristocratas que tinham escravos e dinheiro para 
satisfazer seus muitos desejos legítimos e ilegítimos. Esta classe desdenhava de certo modo a 
nova religião e viam seu apelo às classes pobres como uma ameaça à sua posição elevada na 
sociedade. Assim mesmo, alguns desta classe se converteram com a pregação do Evangelho 
feita por Paulo na prisão em Roma (Fl.1:13). 
Paulo enfrentou também a rivalidade de outros sistemas de religião. Os romanos eram de 
certo modo ecléticos em sua vida religiosa e se dispunham a tolerar toda religião desde que 
esta não proibisse seus seguidores de participar no culto do Estado, que misturava o culto ao 
imperador com o velho culto do estado republicano e exigia a obediência de todos os povos 
do Império exceto aos judeus, que por lei eram isentos destes rituais. Aos cristãos não se 
concedeu tal privilégio e eles tiveram que enfrentar o problema da oposição do Estado. As 
religiões de mistério subjetivistas de Mitra, Cibele e ísis pediam a associação de muitos 
outros no Império. O judaísmo, de quem o cristianismo foi distinto como seita separada, 
enfrentou uma oposição cada vez maior. 
 
Os intelectuais romanos aceitavam os sistemas filosóficos, como o Estoicismo, o 
Epicurismo e o Neo-pitagorismo, que sugeriam a contemplação filosófica como o caminho da 
salvação. O estoicismo, com sua interpretação panteística de Deus, sua concepção de leis 
éticas naturais descobríveis pela razão e sua doutrina da paternidade de Deus e fraternidade 
do homem, parecia dar um fundamento filosófico para o Império Romano. Alguns 
imperadores, como Marco Aurélio (161-180), aceitaram suas formulações éticas. 
Paulo teve que enfrentar este confuso cenário religioso com o simples Evangelho 
redentor da morte de Cristo. A Arqueologia nos ajuda a datar pontos-chave na vida e obra de 
Paulo. Paulo esteve em Corinto 18 meses quando Gálio tornou-se procônsul (At. 18:12-13). 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 15 
 CCoomm ooss BBiissppooss ee ooss DDiiááccoonnooss 
A Igreja existe em dois níveis. Um deles é um organismo eterno, invisível, bíblico, que é 
consolidado em um corpo pelo Espírito Santo. O outro nível é o da organização temporal, 
histórica, visível, humana. O primeiro é o fim, o segundo os meios. 
O desenvolvimento da Igreja como uma organização foi iniciado pelos apóstolos sob a 
direção do Espírito Santo. Todo corpo organizado precisa de uma liderança e, quanto mais 
cresce,a divisão de funções e a especialização da liderança acontecem para que possa 
funcionar eficientemente. Uma liturgia para conduzir o culto da Igreja de modo ordenado (l 
Co. 14:40) é outra conseqüência lógica do crescimento da Igreja como organização. O objetivo 
final da Igreja como um organismo que cultua é a conquista da qualidade de vida. 
I. O GOVERNO DA IGREJA 
A origem da administração eclesiástica deve ser creditada a Cristo, ao escolher os 12 
apóstolos que seriam os líderes da Igreja nascente. Os apóstolos tomaram a iniciativa no 
desenvolvimento de outros ofícios na Igreja quando dirigidos pelo Espírito Santo. Isto não 
implica numa hierarquia piramidal, como a desenvolvida pela Igreja Católica Romana, 
porque os novos oficiais deviam ser escolhidos pelo povo, ordenados pelos apóstolos e 
precisavam ter qualificações espirituais próprias que envolviam a subordinação ao Espírito 
Santo. Assim, havia uma chamada interna pelo Espírito Santo para o ofício, uma chamada 
externa pelo voto democrático da igreja e a ordenação ao ofício pelos apóstolos. Não deveria 
haver uma classe especial de sacerdotes à parte para ministrar o sistema sacerdotal da 
salvação, porque tanto os oficiais da Igreja como os membros eram sacerdotes com o direito 
de acesso direto a Deus através de Cristo ( Ef. 2:18). 
Estes oficiais podem ser divididos em duas classes. Os oficiais carismáticos ( charisma em 
grego significa dom) foram escolhidos por Cristo e revestidos com dons espirituais próprios 
(Ef. 4: 11-12; l Co. 12-14); suas funções eram basicamente inspirativas. Os oficiais 
administrativos constituíam a segunda classe. Suas funções eram principalmente 
administrativas, embora após a morte dos apóstolos, os presbíteros tenham assumido muitas 
responsabilidades espirituais. Estes oficiais eram escolhidos pela congregação depois de 
orarem pedindo a orientação do Espírito Santo e depois da indicação pelos apóstolos. 
Oficiais Carismáticos 
Estes homens, cujas responsabilidades principais eram a preservação da verdade do 
Evangelho e sua proclamação inicial, foram selecionados especialmente por Cristo através do 
Espírito Santo para exercer a liderança da Igreja. Houve quatro ou cinco destes ofícios 
designados por Paulo: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e/ou mestres. Muitos 
pensam que pastor e mestre sejam designações para a mesma pessoa. 
Os apóstolos eram homens que tinham sido testemunhas da vida, morte e principalmente 
da ressurreição de Cristo e que tinham sido chamados pessoalmente por Cristo. Paulo baseou 
seu apostolado numa chamada direta do Cristo vivo. Estes homens, que foram os primeiros 
oficiais da Igreja primitiva, combinaram em seu ministério todas as funções posteriormente 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 16 
exercidas por vários oficiais quando os apóstolos se tornaram incapazes de cuidar das 
necessidades da Igreja primitiva em rápida expansão. 
Pedro é a figura principal entre os apóstolos nos primeiros 12 capítulos do relato lucano 
da história da Igreja primitiva. Ele não só fez a primeira proclamação oficial aos judeus em 
Jerusalém no dia de Pentecostes como também foi o primeiro a introduzir o Evangelho entre 
os gentios com sua pregação na casa de Cornélio. 
Tiago, o filho de Zebedeu, estava presente na transfiguração e no Getsêmani. Foi o 
primeiro dos 12 a ser martirizado, decapitado que foi por Herodes Agripa l em 44. 
Tiago, o irmão de Cristo, tornou-se logo, com Pedro o líder da Igreja em Jerusalém. Sua 
proeminência na Igreja é evidente por sua posição de liderança no Concílio de Jerusalém. 
Embora mais próximo do legalismo do que a maioria dos líderes da primitiva igreja de 
Jerusalém, ele exerceu um papel de mediador entre cristãos judeus e gentios no Concílio. 
João é mencionado junto com Pedro como um líder da Igreja primitiva. A tradição 
relaciona suas últimas atividades com a cidade de Éfeso. Ele foi confinado por Domiciano na 
ilha de Palmos, uma solitária e infrutífera ilha pedregosa, distante da costa ocidental da Ásia 
Menor. Aí escreveu o livro de Apocalipse. Após a morte de Domiciano, recebeu permissão 
para voltar a Éfeso, onde morou, pastoreando as Igrejas da Ásia até morrer em avançada 
idade. Seu Evangelho, suas três epístolas e Apocalipse integram ricamente a herança literária 
da Igreja do Novo Testamento. 
André, irmão de Pedro, pregou em regiões do Oriente Antigo. Segundo tradição 
posterior, foi crucificado numa cruz em forma de X que tomou o seu nome. 
Pouco se sabe da vida de Filipe, que muito possivelmente morreu de morte natural em 
Hierápolis após a destruição de Jerusalém. Nada se sabe das últimas atividades e da morte 
de Tiago o Menor, filho de Alfeu. A tradição sobre Judas Tadeu fala de suas atividades na 
Pérsia, onde teria sido martirizado. Matias, que substituiu Judas, pregou na Etiópia e aí 
conheceu o martírio, de acordo com o relato. Simão o zelote também foi martirizado. A 
tradição não é clara acerca da forma do martírio de Bartolomeu, mas seu nome é associado à 
proclamação do Evangelho na índia, por uma tradição. Mateus talvez tenha trabalhado na 
Etiópia também. O nome do mais célico dos discípulos, Tomé, é ligado ao trabalho em Parto, 
mas outros relatos colocam seu trabalho e martírio na índia. O silêncio do Novo Testamento e 
mesmo da tradição sobre estes homens marca um notável contraste com a tendência 
medieval de glorificar a morte dos homens mais notáveis da Igreja. 
Os profetas pareciam estar entre os líderes mais influentes da Igreja do Novo Testamento. 
Eles exerceram a função de proclamar ou pregar o Evangelho (At. 13:1, 15:32) bem como de 
antecipar ou predizer o futuro. 
Filipe exerceu o dom do evangelismo (At. 21:8), mas pouco se sabe de seu trabalho e suas 
funções específicas. Talvez tenha se dedicado ao trabalho do missionário itinerante cuja 
principal tarefa era proclamar o Evangelho em áreas novas ainda não atingidas. 
B. Oficiais Administrativos 
Todos os oficiais de que tratamos eram especialmente indicados para seus cargos por 
Deus e não pelos homens. Havia outra classe de oficiais que eram democraticamente 
escolhidos "com o consenso de toda igreja". Sua tarefa era executar as funções 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 17 
administrativas dentro da igreja local. Diferentemente dos apóstolos e dos outros líderes 
carismáticos, estes homens, e, em alguns casos, mulheres, operavam e exerciam sua 
autoridade na igreja ou congregação local e não na Igreja de Cristo como um todo. Estes 
oficiais surgiram com a divisão de funções e a especialização necessárias para ajudar os 
sobrecarregados apóstolos diante dos problemas de uma Igreja em crescimento. 
O ofício do ancião ou presbítero era o mais elevado na congregação local. Aqueles que 
defendem a existência de uma organização tríplice na Igreja entendem que os termos ancião 
(presbuteros) e bispo ( episkopos) não são sinônimos mas representam os ofícios separados de 
bispo e presbítero. 
As qualificações de um presbítero são detalhadamente esboçadas pelo menos duas vezes 
no Novo Testamento (l Tm 3:1-7; Tt. 1:5-9). Os presbíteros deviam ser homens de boa 
reputação entre os membros da igreja e para os de fora. A direção do culto público parece ter 
sido uma de suas principais funções (l Tm. 5:17; Tt. 1:9) bem como a responsabilidade pela 
boa administração e pela disciplina segura da Igreja. 
Os diáconos tinham uma posição de subordinação aos anciãos, mas aqueles que exerciam 
tal função precisavam das mesmas qualidades exigidas dos presbíteros (At. 6:3; l Tm. 3:8-13). 
A prática de eleição democrática era também uma recomendação dos apóstolos em Jerusalém 
(At. 6:3,5). A ministração da caridade pela Igreja era a principal tarefa dos diáconos. Mais 
tarde, eles ajudaram os presbíteros na distribuição dos elementos da Ceia à congregação. 
II. O CULTO DA IGREJA PRIMITIVAA questão de uma forma segura de culto parece ter sido uma preocupação ao tempo dos 
apóstolos. Paulo exortara a igreja em Cristo a conduzir sua adoração de uma forma decente e 
ordeira, (l Co. 14:40). Cristo afirmou a essência do verdadeiro culto quando disse que, como 
Deus era um espírito, o verdadeiro culto estava no domínio do espírito (Jo. 4:24). 
Os cristãos primitivos não concebiam a igreja como um lugar de culto como se faz hoje. 
Igreja significava um corpo de pessoas numa relação pessoal com Cristo. Para tanto, os 
cristãos se reuniam em casas (At. 12:12; Rm. 16:5,23; Cl. 4:15;), no templo (At. 5:12), nos 
auditórios públicos de escolas (At. 19:9) e nas sinagogas até quando foram permitidos (At. 
14:1,3; 17:1; 18:4). O lugar não era tão importante como o propósito de encontro para 
comunhão uns com os outros e para culto a Deus. 
No primeiro século, dois cultos eram realizados no primeiro dia da semana, adotado 
como o dia de culto por ter sido o dia em que Cristo ressuscitou dentre os mortos (At. 20:7; l 
Co. 16:2; Ap, 1:10). O culto da manhã certamente incluía leitura da Bíblia (CI. 3:16), a 
exortação pelo presbítero principal, orações e cânticos,(Ef. 5:19). A. festa do amor (l Co. 11:20-
22) ou ágape precedia a Ceia no culto da noite. Ao final do primeiro século, a festa do amor 
tinha praticamente desaparecido, sendo a Ceia celebrada no culto da manhã. 
A Ceia do Senhor e o batismo eram os dois sacramentos da Igreja primitiva, usados por 
terem sido instituídos por Cristo. A imersão parece ter sido amplamente praticada no 
primeiro século, mas de acordo com o Didaquê, o batismo podia ser administrado com água 
na cabeça do balizando, se nenhuma corrente ou uma grande quantidade de água não 
estivessem à disposição. Somente os batizados participavam da Ceia. 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 18 
III. A VIDA DA IGREJA 
A Igreja primitiva não tinha uma organização de benemerência para ajudar aos cobres e 
doentes. Cada igreja tomava sobre si esta responsabilidade. O dinheiro coletado, daqueles 
que podiam dar, na oferta que seguia à celebração da Ceia era dedicado para a satisfação 
destas necessidades. Paulo também mencionou a prática de coleta de doações dos crentes 
todos os domingos (l Co.16:1-2). Os diáconos deveriam então cuidar daqueles que passavam 
por necessidades. As mulheres das igrejas também ajudavam esta obra de caridade ao fazer 
roupas para aqueles que necessitassem (At. 9:36-41). 
A Igreja primitiva insistia na separação das práticas pagãs da sociedade romana, mas não 
insistia na separação dos vizinhos pagãos em relações sociais que não fossem prejudiciais. 
Realmente, Paulo permitiu por inferência o convívio social que não comprometesse ou 
sacrificasse os princípios cristãos (l Co. 10:20-33). Ele mesmo exortou, porém; à separação 
total de qualquer prática que pudesse estar relacionada à idolatria ou à imoralidade pagã. O 
cristão devia seguir os princípios de não fazer nada que prejudicasse o corpo do qual Cristo 
era Senhor (l Co. 6:12), nada fazer que prejudicasse os outros ou enfraquecesse os cristãos (l 
Co. 8:13; 10:24), evitar tudo que não glorificasse a Deus (l Co. 6:20; 10:31). Estes princípios 
proibiam a freqüência a teatros, estádios, jogos ou templos pagãos. 
Apesar desta atitude de separação moral e espiritual, os cristãos estavam prontos para, 
como o próprio Paulo exortou, cumprir suas obrigações cívicas de obediência e de respeito às 
autoridades constituídas, pagamento de taxas e de oração pelas autoridades (Rm. 13:7, l Tm. 
2:1-2). Eles eram excelentes cidadãos, desde que não fossem instados a violar os preceitos de 
Deus, a maior autoridade a quem deviam obediência absoluta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 19 
 
AA LLuuttaa ddaa AAnnttiiggaa IIggrreejjaa CCaattóólliiccaa IImmppeerriiaall PPaarraa 
SSoobbrreevviivveerr 
 
- Cristo ou César - 
O cristianismo tem sempre enfrentado problemas internos e externos em todos os 
períodos de sua história. A Igreja teve que enfrentar o sério problema interno da heresia e 
resolvê-lo, entre 100 e 313, além de Ter, ao mesmo tempo, que resolver o problema externo 
da perseguição movida pelo estado romano. 
Cristãos no Império Romano, Nestorianos na China nos séculos IX e X, e católico-romanos 
no Japão no século XVII, bem como cristãos nos estados nazista e comunistas, têm tido a 
experiência comum de hostilidade estatal até ao ponto do martírio. Os cristãos também têm 
enfrentado ataques de pagãos intelectuais, como Lúcio, Fronto e Celso. 
Muitos têm a idéia confusa acerca do número, duração, escopo e intensidade das 
perseguições que a Igreja sofreu. Antes de 250, a perseguição foi predominantemente local, 
esporádica e geralmente mais um produto da ação popular do que resultado de uma política 
definida. Após esta data, porém, a perseguição se tornou, às vezes, uma estratégia consciente 
do governo imperial romano e, por isso, ampla e violenta. E neste tempo, a idéia de 
Tertuliano de que o sangue dos mártires é a semente da Igreja se transformou numa terrível 
realidade para muitos cristãos. A igreja continuou a se desenvolver por isso ou talvez 
parcialmente por isso, até o período em que conseguiu a liberdade de culto no governo de 
Constantino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 20 
 CCaauussaass ddaa PPeerrsseegguuiiççããoo 
 
A. Política 
Enquanto era vista pelas autoridades como parte do judaísmo, que era uma religião licita, 
isto é, uma seita legal, a Igreja sofreu pouco. Mas logo que foi distinguido do judaísmo como 
seita separada e pôde ser classificado como sociedade secreta, o cristianismo recebeu a 
interdição do estado romano que não admitia nenhum rival à obediência por parte de seus 
súditos. Tornou-se então uma religião ilícita, uma religião ilegal, considerada como ameaça à 
segurança do estado romaria O estado era o supremo bem em uma união dele com a 
religião. Não poderia haver religiões particulares. 
A religião somente seria tolerada se contribuísse para a estabilidade do estado. Desde que 
a religião cristã, em rápido crescimento, exigia exclusiva lealdade moral e espiritual daqueles 
que aceitavam a Cristo; quando a escolha entre lealdade a Cristo e lealdade a César tinha de 
ser feita, César era colocado em segundo plano. Era este o temor dos líderes romanos, 
empenhados em preservar a cultura clássica dentro da estrutura do império estatal: como 
desleais ao Estado, os cristãos estavam tentando fundar um estado dentro do estado. Ou o 
estado universal ou a Igreja universal, o Corpo de Cristo, tinha de ceder. A soberania 
exclusiva de Cristo confrontou-se com as reivindicações de César à soberania exclusiva. 
Muitas práticas cristãs pareciam confirmar as suspeitas da deslealdade básica dos cristãos 
ao Estado levantadas pelas autoridades romanas. Os cristãos se recusavam terminantemente 
a oferecer incenso nos altares devotados ao culto ao imperador romano com quem o bem-
estar do estado era inextricável mente associado na mente do povo ao período imperial entre 
César Augusto e Constantino. Quem sacrificasse nesses altares, podia praticar uma segunda 
religião particular. Os cristãos não faziam estes sacrifícios e eram, consequentemente, 
tomados como desleais. Os cristãos também realizavam a maioria de suas reuniões à noite e 
em segredo. Para a autoridade romana isto deixava claro que se preparava uma conspiração 
contra a segurança do estado. Os cristãos não serviram o exército até o ano 313. 
B. Religiosas 
Além da causa política básica para a perseguição, havia uma razão religiosa. A religião 
romana era mecânica e externa. Tinha seus altares, ídolos, processionais,ritos e práticas que 
o povo podia ver. Os romanos não se opunham a acrescentar um novo ídolo ao grupo do 
Panteão, desde que a divindade se subordinasse às pretensões de primazia feitas pela religião 
do Estado. Os cristãos não tinham ídolos e no seu culto nada havia para ser visto. Seu culto 
era espiritual e interno. Quando se punham de pé e oravam de olhos fechados, suas orações 
não eram dirigidas a nenhum objeto visível. Para as autoridades romanas, acostumadas às 
manifestações materiais simbólicas de seu deus, isto nada mais era do que ateísmo. 
 O sigilo dos encontros dos cristãos também suscitou ataques morais contra eles. O vulgo 
popular os acusou de incesto, de canibalismo e de práticas desumanas. Entendendo 
equivocadamente o significado de "comer e beber" os elementos representativos do corpo e 
do sangue de Cristo, o vulgo popular logo depreendeu que o cristãos matavam e comiam 
crianças em sacrifício ao seu Deus. A expressão "beijo da paz" foi logo transformada em 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 21 
acusações de incesto e outras formas de conduta imoral que repugnava à mente cultural 
romana. Pouca diferença fazia se estes boatos eram verdadeiros ou não. 
 
C. Sociais 
Problemas sociais também contribuíram para o início da perseguição à Igreja. Os cristãos 
que exerciam grande atrativo sobre as classes pobres e escravas, eram odiados pelos líderes 
aristocráticos influentes da sociedade. Estes líderes os viam com desprezo mas temiam sua 
influência sobre as classes pobres. Os cristãos defendiam a igualdade entre todos os homens 
(Cl. 3:11), enquanto que o paganismo insistia na estrutura aristocrática da sociedade em que 
uns poucos privilegiados eram servidos pelos pobres e pelos escravos. Os cristãos se 
separavam dos ajuntamentos pagãos dos templos, teatros e lugares de recreação. Este 
inconformismo com os modelos sociais vigentes lhes trouxe uma antipatia jamais conhecida 
por qualquer grupo inconformista da história. A pureza de sua vida era uma reprovação 
silenciosa às vidas escandalosas levadas pelas pessoas da classe alta. O inconformismo dos, 
cristãos diante dos padrões vigentes levou os pagãos a pensarem que eles eram um perigo 
para a sociedade e os caracterizavam como “inimigos da raça humana”, capazes de incitar as 
massas à revolta. 
 
D. Econômicas 
Não se pode esquecer que questões econômicas são parte das causas da perseguição aos 
cristãos. A oposição que Paulo recebeu dos fabricantes de ídolos em Éfeso, mais preocupados 
com o perigo que representava o cristianismo para seus negócios que com a ameaça possível 
ao culto de Diana (At. 19:27), é uma chave para a compreensão da reação daqueles cujos 
interesses do “ganha-pão” estavam ameaçados pelo avanço do cristianismo. Sacerdotes, 
fabricantes de ídolos, videntes, pintores, arquitetos e escultores dificilmente se 
entusiasmariam com uma religião que ameaçasse seus meios de sustento. 
No ano 250, em que a perseguição deixou de ser local e intermitente para se tornar 
generalizada e violenta, Roma entrava, segundo a contagem dos romanos, nos mil anos de 
sua fundação. Nesta época uma fome e uma agitação civil assolavam o Império; a opinião 
pública atribuía estes problemas à presença do cristianismo no Império e o conseqüente 
abandono dos deuses. Há sempre um bom motivo para a superstição quando se aproxima o 
fim de um milênio e os romanos nisto não foram melhores que as pessoas da Idade Média 
que viveram pouco antes do ano 1.000. A perseguição aos cristãos parecia, aos romanos, uma 
forma lógica de superar os problemas. 
Tudo isto cooperou para justificar a perseguição dos cristãos na mente das autoridades. 
Nem todas as razões estiveram presentes em cada caso mas a pretensão de exclusividade por 
parte da religião cristã sobre a vida do cristão conflitava com o sincretismo pagão e sua 
exigência de lealdade exclusiva ao estado romano na maioria dos assuntos. A perseguição 
sucedeu como parte natural da política imperial de preservar a integridade do estado 
romano. Ao cristianismo não se permitia direito legal de existência. Mártires e apologistas 
foram suas respostas ao povo, ao estado e aos escritores pagãos. 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 22 
A PERSEGUIÇÃO DA IGREJA 
 
A perseguição aos cristãos era eclesiástica e política. Durante os primórdios da Igreja em 
Jerusalém, os judeus foram os perseguidores. Somente no governo de Nero (54-68) as 
perseguições partiram do estado romano. Estas perseguições foram locais e esporádicas até 
250, quando se tornaram gerais e violentas, começando com uma dirigida por Décio. 
 
A. As Perseguições até 100 
Nero tem o dúbio privilégio de ser o primeiro imperador romano a perseguir a Igreja Cristã. 
Tácito conta a suspeita de que o próprio Nero ordenara o incêndio que destruiu parte de 
Roma (em 64 d.C.). O rumor foi tão amplamente aceito que Nero tinha de encontrar um bode 
expiatório. Ele desviou o ódio do povo para os cristãos, ao acusá-los de incendiários. 
Aparentemente, a perseguição se restringiu a Roma e seus arredores. Pedro e Paulo 
morreram nesse período. A perseguição estourou pela segunda vez em 95 durante o governo 
despótico de Domiciano. Os judeus tinham se recusado a pagar um imposto público criado 
para o sustento de Capitolinus Júpiter. Por serem identificados com os judeus, os cristãos 
sofreram também os efeitos da fúria do imperador. Foi durante esta perseguição que p 
apóstolo João foi exilado na ilha de Patmos, onde escreveu o livro de Apocalipse. 
 
B. O Cristianismo sob interdição estatal,100-250 
A primeira perseguição organizada, como resultado de uma política governamental 
definida, começou na Bitínia durante a administração de Plínio, o Moço, por volta de 112. 
Antes, Plínio escreveu uma interessante carta ao Imperador Trajano, em que prestava 
informações sobre os cristãos, esboçava seu programa e pedia a Trajano uma opinião sobre o 
assunto. Dizia ele que "o contágio desta superstição" (cristianismo) espalhava-se por vilas e 
regiões rurais como também por grandes cidades com tal velocidade que os templos ficavam 
geralmente vazios e os vendedores de animais sacrificiais, empobrecidos. Plínio procurava 
informar a Trajano sobre sua política para com os cristãos. Quando alguém era denunciado 
como cristão, Plínio convocava o tribunal e lhe perguntava se era cristão. Se admitisse a 
acusação três vezes, o cristão era condenado à morte. 
C. Perseguição Universal depois de 250 
O Imperador Décio subiu ao trono imperial ao tempo em que Roma completava o fim do 
primeiro milênio de uma história e numa época em que o Império cambaleava sob 
calamidades naturais e ataques internos e externos à sua estabilidade. Percebeu ele que se a 
cultura clássica fosse salva, esta lhe seria um forte aliado. Os cristãos foram tomados como 
uma perigosa ameaça ao estado por causa de seu rápido crescimento numérico é por sua 
aparente tentativa de se constituírem num estado dentro do estado. 
Décio promulgou um edito em 250 que exigia, pelo menos, uma oferta anual de sacrifício 
nos altares romanos aos deuses e à figura do imperador. Aqueles que oferecessem este 
sacrifício receberiam um certificado chamado libellus. A igreja, mais tarde, foi sacudida com 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 23 
o problema de como tratar aqueles que tinham negado a sua fé cristã para conseguir esses 
certificados. Felizmente para a Igreja, a perseguição durou só até a morte de Décio, no ano 
seguinte, mas as torturas que Orígenes sofreu, mais tarde causaram sua morte. 
Embora houvesse períodos de perseguição estatal por ordem dos imperadores, nenhuma 
grande perseguição aconteceu após a de Décio e Valeriano. Diocleciano líder militar forte, 
chegou ao trono imperial no fim de um século marcado pela desordem política no ImpérioRomano. Ele concluiu que somente uma monarquia forte salvaria o Império e sua cultura 
clássica. 
Os primeiros editos, com ordem de perseguição aos cristãos, foram promulgados em 
março de 303. Diocleciano ordenou o fim das reuniões cristãs, a destruição das igrejas, a 
deposição dos oficiais da Igreja, a prisão daqueles que persistissem em seu testemunho de 
Cristo e a destruição das Escrituras pelo fogo. Esta última ordem trouxe mais tarde um 
problema para a Igreja quando a controvérsia donatista começou no norte da África, em 
torno de como os tradutores, que tinham dado cópias das Escrituras aos perseguidores, 
deviam ser tratados ao pedirem readmissão à igreja, cessada a perseguição. Um último edito 
obrigou os cristãos a sacrificarem aos deuses pagãos sob pena de morte caso recusassem. 
Eusébilo conta que as prisões ficaram tão cheias de líderes cristãos e crentes comuns que não 
havia lugar suficiente para os criminosos. Os cristãos foram punidos com o confisco de bens, 
exílio, prisões ou execuções à espada ou por animais ferozes. Os mais felizes eram enviados 
aos campos de trabalhos forçados, onde trabalhavam até a morte nas minas. A força da 
perseguição foi diminuída quando Diocleciano abdicou e se retirou em 305. 
Depois de outros períodos de perseguição, Galério promulgou um edito, em seu leito de 
morte em 311, que estabelecia a tolerância ao cristianismo, desde que os cristãos não 
violassem a paz do Império. A perseguição só acabaria totalmente no reino de Constantino, 
que promulgou o édito de Milão em 313. Este edito garantia liberdade de culto não somente 
ao cristianismo mas a todas as religiões. 
Constantino cria que a "adoração a Deus" deveria ser o "primeiro e o principal cuidado" 
do governante, por isso ele pensava que não poderia haver outra alternativa senão a 
liberdade religiosa como política do Império. Certamente ele estava adiante de sua época, 
pois somente no período moderno a liberdade religiosa tornou-se norma, mesmo nos estados 
democráticos. Daquele tempo em diante, os cristãos tinham liberdade para adorar a Deus e 
propagar o Evangelho a outras pessoas a fim de ganhá-las para Cristo. 
CONSEQÜÊNCIAS DA PERSEGUIÇÃO 
O rápido avanço do cristianismo, mesmo durante os períodos de feroz perseguição, 
provou que realmente o sangue dos mártires era a semente da Igreja. Durante o período 
apostólico, o cristianismo fora predominantemente um movimento urbano. O número de 
crentes ativos em Jerusalém após a ressurreição foi calculado em 500 por Paulo (l Cor. 16:6). 
A ênfase durante o terceiro século recaiu sobre a propagação do Evangelho aos latinos da 
parte ocidental do Império. Uma igreja poderosa , tendo como Cartago seu centro intelectual, 
floresceu no Norte da África. A Igreja em Alexandria se tornou a principal das igrejas do 
Egito. Estimativas sobre a população da igreja, por volta de 250, variam entre 4 e 15 por cento 
da população do Império, que girava em torno de 50 a 75 milhões. 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 24 
A perseguição, todavia, criou problemas internos que necessitavam de solução. Duas 
duras controvérsias tiveram lugar no Norte da África e em Roma, envolvendo a maneira de 
tratar aqueles que tinham oferecido sacrifícios em altares pagãos, quando da perseguição 
movida por Décio, e aqueles que entregaram Bíblias na perseguição dirigida por Diocleciano, 
mas que, arrependidos, agora queriam voltar. Uns queriam privá-los de qualquer comunhão 
com a Igreja; outros queriam aceitá-los após um período de prova. 
A era da perseguição é interessante devido à luz que projeta sobre o perene problema da 
relação entre a Igreja e o Estado. O cristianismo pretendia fidelidade exclusiva de seus 
seguidores em assuntos morais e espirituais. O cristão deveria obedecer ao Estado, enquanto 
este não lhe exigisse uma violação de sua submissão moral e espiritual a Deus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 25 
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Os cristãos do segundo e do terceiro séculos tiveram que fazer o que todo estrategista 
tenta evitar: lutar em duas frentes. Ao mesmo tempo em que lutava para preservar sua 
existência diante das tentativas do estado romano de acabar com ela, a Igreja lutava também 
para preservar a pureza da doutrina. Os convertidos à fé cristã vieram ou do legalismo 
judaico ou do ambiente pagão da filosofia grega. Muitos desses convertidos, antes que a 
Igreja os instruísse corretamente, tinham a tendência de levar suas velhas idéias para seu 
novo ambiente. Outros procuravam fazer o cristianismo parecer intelectualmente respeitável 
diante das classes altas do estado. A ameaça dos desvios legalista ou filosófico do 
cristianismo foi algo muito real na Igreja deste período. Em alguns casos, líderes super-
zelosos desenvolveram uma interpretação particular para corrigir males reais ou imaginários 
na Igreja, chegando mesmo a seguir suas idéias heréticas até que resultassem em. cismas e 
daí em novas seitas. 
 
 I. Heresias Legalistas 
 
Alguém poderia pensar que a decisão do Concílio de Jerusalém, de deixar os gentios 
livres das exigências cerimoniais e ritualistas da lei judaica, para a salvação, tenha encerrado 
o problema. 
Estas pessoas enfatizavam a unidade de Deus e de Sua criação. Criam que a lei judaica 
era a maior expressão de Sua vontade e que continuava válida para o homem. Para eles, 
Jesus era um homem que se tornou o Messias em virtude de ter cumprido fiel e 
completamente a lei. Seguiam, então, os ensinos do Evangelho de Mateus, mas rejeitavam os 
escritos de Paulo. 
II. Heresias Filosóficas 
O maior perigo para a pureza doutrinária da fé cristã veio da filosofia grega. Mais 
gentios do que judeus se converteram ao cristianismo. Entre estes estavam muitos filósofos 
que queriam combinar cristianismo com filosofia, ou vestir a filosofia pagã com uma 
roupagem cristã. 
 
A. Gnosticismo 
O gnosticismo, a maior das ameaças filosóficas, chegou ao máximo de sua influência ao 
redor do ano 150. Suas raízes estão fincadas nos tempos do Novo Testamento. Paulo parece 
ter enfrentado uma forma incipiente de gnosticismo em sua carta aos colossenses. 
O gnosticismo surgiu do desejo humano natural de criar uma teodicéia, isto é, uma 
explicação para a origem do mal. Os gnósticos, que identificavam a matéria com o mal, 
procuravam uma forma de criar um sistema filosófico em que Deus como espírito seria livre 
da influência do mal e no qual o homem seria identificado, no lado espiritual de sua 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 26 
natureza, com a divindade. Era também um sistema lógico ou racional que ilustrou a 
tendência humana de procurar respostas às grandes questões da origem do homem. Queria 
com isto, fazer uma síntese entre o cristianismo e a filosofia helênica. Os gnósticos, a exemplo 
dos gregos dos dois primeiros capítulos de l Coríntios, procuravam pela sabedoria humana 
compreender as relações de Deus com o homem e evitar o que lhes parecia ser o estigma da 
cruz. Foram necessárias a habilidade intelectual e a força espiritual do polemista Irineu e o 
desenvolvimento de uma regra de fé e um cânon da Bíblia pela Igreja para superar a ameaça 
desse movimento ao cristianismo. Se os gnósticos tivessem vencido, o cristianismo não teria 
passado de uma mera religião filosófica do mundo antigo. 
O dualismo era um dos principais fundamentos do gnosticismo. Os gnósticos defendiam 
uma separação entre os mundos material e espiritual, porque para eles a matéria estava 
sempre identificada com o mal e o espírito com o bem. Por isto, Deus não poderia ter criado 
este mundo material. 
O vazio entre Deus e o mundo damatéria era preenchido pela idéia de um demiurgo que 
era uma de uma série de emanações do bem supremo do gnosticismo. Estas emanações eram 
seres com pouco espírito e muita matéria. O demiurgo, como uma destas emanações, tinha 
bastante de espírito em si para ter um poder criativo e o bastante de matéria para criar o 
mundo material. Os gnósticos identificavam o demiurgo com o Javé do A.T., por quem 
nutriam antipatia. 
Para interpretar Cristo, eles adotaram a doutrina conhecida como Docetismo. A palavra 
veio de um termo grego, dokeo, que significa parecer. Como a matéria era má, Cristo não 
podia ter um corpo humano apesar de a Bíblia dizer o contrário. Como bem espiritual 
absoluto, Cristo não se misturava com a matéria. O homem Jesus era ou um fantasma com a 
aparência de corpo material (docetismo) ou Cristo tomou o corpo humano de Jesus apenas 
por pouco tempo, entre o batismo do homem Jesus e o começo de seu sofrimento na cruz. 
Cristo deixou, pois, o homem Jesus morrer na Cruz. A tarefa de Cristo era ensinar uma 
gnosis ou conhecimento especial que ajudaria o homem a se salvar por um processo 
intelectual. 
Marcion deixou sua cidade natal, Ponto, em 138 e foi para Roma, onde se tornou 
influente na igreja romana. Por entender que o Judaísmo era mau, rejeitou a Bíblia hebraica e 
o Javé nela apresentado. Ele formou seu próprio cânon, que incluía o Evangelho de Lucas, os 
Atos e dez das cartas identificadas com o nome de Paulo. Embora seus negócios tenham feito 
dele rico o bastante para prestar uma substancial ajuda à igreja romana, ele foi expulso por 
causa destas idéias. Ele fundou, então, sua própria igreja. 
Uma crítica do gnosticismo a partir da Bíblia logo indicará que a Igreja foi sábia em lutar 
contra esta doutrina. Ele propunha dois deuses, um mal, o do A.T., para criar e um bom para 
redimir. Desse modo, ele espalhou o anti-semitismo na Igreja. O gnosticismo também 
rejeitava a realidade da divindade do Cristo humano que João disse ter habitado entre nós 
para revelar a glória de Deus. Não é, pois, estranho que Paulo tenha afirmado a plenitude de 
Deus em Cristo em sua carta à igreja colossense (Cl. 1:19; 2:9). O gnosticismo ainda fomentou 
um orgulho espiritual com sua sugestão de que apenas uma elite aristocrática alcançaria os 
favores de habitar com Deus nos céus. Não havia lugar para o corpo humano na vida futura. 
Neste sentido, assemelhava-se a mitologia e à filosofia gregas para quem também não havia 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 27 
futuro para o corpo humano além desta vida. Seu ascetismo foi um dos fatores formativos do 
movimento ascético medieval conhecido como monasticismo. 
O gnosticismo contribuiu involuntariamente, pois, para o avanço da Igreja. Quando 
Marcion formou o seu cânon do Novo Testamento, a Igreja foi forçada como auto-defesa a se 
preocupar com o problema de que livros seriam considerados canônicos e autoritativos para 
a fé e para a vida. Um pequeno credo para provar a ortodoxia foi logo elaborado a fim de 
atender a uma necessidade prática. O prestígio do bispo foi aumentado com a ênfase sobre 
seu ofício como o centro da unidade contra a heresia. Em troca, isto provocou o posterior 
desenvolvimento da proeminência do bispo romano. 
Polemistas como Irineu, Tertuliano e Hipólito engajaram-se na controvérsia literária para 
refutar idéias gnósticas. 
B. Maniqueísmo 
O maniqueísmo, em alguns pontos semelhante ao gnosticismo, foi fundado por um 
homem chamado Mani ou Maniqueu, da Mesopotâmia, que desenvolveu seu peculiar 
sistema filosófico em meados do terceiro século. Mani fez uma curiosa combinação de 
pensamento cristão, zoroastrismo e idéias religiosas orientais numa refinada filosofia 
dualística. A alma do homem relacionava-se com o reino da luz, mas seu corpo levava-o a 
depender do reino das trevas. A salvação era uma questão de liberar a luz em sua alma da 
escravidão à matéria de seu corpo. Esta libertação poderia ser conseguida através da 
exposição à luz, Cristo. A elite ou os perfeitos constituíam a casta sacerdotal para este grupo. 
Viviam asceticamente e cumpriam certos ritos essenciais à liberação da luz. Os auditores ou 
ouvintes participavam da santidade deste grupo eleito para satisfação de suas necessidades. 
Desta forma, os ouvintes poderiam também participar na salvação. 
O maniqueísmo provocou uma tal exaltação da vida ascética ao ponto de ver o instinto 
sexual como mal e enfatizar a superioridade do estado civil do solteiro. O maniqueísmo 
ajudou também no surgimento do conceito na Igreja de uma classe sacerdotal independente 
do resto dos crentes, que eram considerados leigos não iniciados. 
Geralmente a maioria das pessoas vê o misticismo apenas em relação aos místicos 
medievais. O fato é que através dos tempos têm havido tendências místicas na Igreja. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 28 
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No segundo e terceiro séculos, a Igreja exprimiu sua autoconsciência nascente numa 
forma literária nova — as obras dos Apologistas e dos Polemistas. Justino Mártir foi o maior 
do primeiro grupo; Irineu, o grande nome do segundo. Estes homens enfrentaram um 
governo hostil a quem procuraram convencer com os argumentos de suas produções 
literárias. 
Os Apologistas procuraram convencer os líderes do estado de que os cristãos nada 
tinham feito para merecer a perseguição que lhes era impingida: os Polemistas, como Irineu, 
procuraram enfrentar o desafio dos movimentos heréticos. Ao passo que os Pais Apostólicos 
escreveram apenas por e para os cristãos, estes escritores escreveram por e para o estado 
romano ou para os heréticos num esforço para convencê-los da verdade da Bíblia através de 
argumento literário. Os apologistas usavam a forma do diálogo literário pagão e a forma 
legal da apologia. 
 
I. Os Apologistas 
Os apologistas tinham um objetivo negativo e positivo em seus escritos. Negativamente, 
queriam refutar as falsas acusações de ateísmo, canibalismo, incesto, preguiça e práticas anti-
sociais atribuídas a eles por vizinhos e escritores pagãos, entre os quais Celso, por exemplo. 
Positivamente, desenvolveram uma perspectiva construtiva para demonstrar que, ao 
contrário do cristianismo, o judaísmo, as religiões pagãs e o culto do estado, eram loucos e 
malévolos. 
Seus escritos, conhecidos como apologias, fizeram um apelo racional aos líderes pagãos e 
procuraram criar uma interpretação inteligente do cristianismo e assim revogar os 
dispositivos legais contra si. Um dos maiores argumentos era de que, já que as falsas 
acusações não podiam ser provadas, os cristãos deviam ser tolerados pelo governo e 
protegidos pelas leis do estado romano. 
Estes homens, escrevendo mais como filósofos do que como teólogos, pintaram o 
cristianismo como a religião e filosofia mais antigas, uma vez que escritos como o Pentateuco 
tinham sido escritos antes das guerras troianas e que toda a verdade que se encontrasse no 
pensamento grego era superada pelo cristianismo ou pelo judaísmo. A vida pura de Cristo e 
o cumprimento das profecias do Velho Testamento sobre Ele eram as provas de que o 
cristianismo era a mais alta filosofia. Educados em geral na filosofia grega antes de aceitarem 
o cristianismo, estes escritores consideravam a filosofia grega, como um meio de levar os 
homens a Cristo. Eles usaram o NT mais do que os pais apostólicos. 
 
 
 
 
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES 29 
II. Os Polemistas 
Diferentemente dos apologistas do segundo século que procuraram fazer uma explanação 
e uma justificação racional do cristianismo para as autoridades, os polemistas empenharam-
se por responder ao desafio dos falsos ensinos dos heréticos, condenando veementemente 
esses ensinos e seus mestres. Os apologistas,

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