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Petição 1 - Relaxamento de prisão - NPJ

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AO DOUTO JUÍZO DA COMARCA DE SÃO PAULO / SP 
JOÃO DA COUVES, brasileiro, solteiro, carteira de identidade número xxx, residente e domiciliado na cidade de São Paulo/SP, vem por meio seu advogado..., oab..., com endereço profissional..., respeitosamente a presença de Vossa Excelência, impetrar HABEAS CORPUS, com pedido de RELAXAMENTO DE PRISÃO em caráter liminar, com base no artigo art 5º, inciso LVIII, da CF/RR, combinado com o art. 647 e 648, inciso I do Código de Processo Penal, contra ato do Ministério Público e policiais em desfavor do ora paciente.
I) DOS FATOS
Narra a denúncia que o paciente estava dentro de sua casa, acompanhado de sua namorada, em momento de intimidade, quando foi abruptamente surpreendido em seu quarto por policiais civis. 
Notório dizer que os agentes de segurança entraram na casa do paciente sem qualquer autorização, na busca insaciável e ilegal, diga-se de passagem, de flagrar o sr. João das Couves praticando conjunção carnal com sua namorada, que segundo informações de seus pais, possuía apenas 13 anos. 
Que durante a prisão do paciente o mesmo foi duramente agredido pelos policiais que realizaram o procedimento. O ministério público aceitou denúncia contra o paciente como incurso no art. 217-A, parágrafo 5º, CP, sendo ainda considerada a sua prisão em flagrante e solicitada a sua prisão preventiva.
II) DO DIREITO
O paciente foi denunciado pela prática do delito de estupro de vulnerável, previsto no art. 217-A, parágrafo 5º, CP. Tendo sido confirmado o recebimento da denúncia pela parte coatora. Deferida sua prisão em flagrante e solicitada pelo membro do ministério público a sua prisão preventiva. 
Ocorre que a sua prisão ocorreu de modo completamente ilegal, visto os agentes que o prenderam, terem invadido a sua casa sem qualquer autorização. Infringindo duramente o disposto no art. 5º, inciso XI da CF quando se fala concernente a inviolabilidade do lar. Ao que diz respeito ao inciso LXV deste mesmo artigo, a prisão deve ser imediatamente relaxada, dada sua notória ilegalidade por invasão de local inviolável, à saber, a residência do paciente. A única justificativa plausível seria na possibilidade de exposto flagrante delito ou desastre. Mas no caso, era impossível que os policiais soubessem da situação de flagrância, visto que aparentemente a casa estava calma e tranquila por olhar externo. Neste diapasão o consentimento do morador é motivo inerente para que haja a transposição da sua residência.
Adiante, em audiência de custódia, onde constata-se ter ocorrido somente 72 horas após a prisão do paciente, houve novamente afronta a dispositivo legal que no art. 310 do código de Processo Penal diz que tal audiência deverá ocorrer invariavelmente em até 24 horas após a prisão. E tal desrespeito enseja o relaxamento de prisão, conforme inciso I deste mesmo artigo citado acima.
Outro fato importantíssimo foram as atrocidades cometidas pelos agentes da lei que conduziram esta ação policial culminada na prisão do paciente. Em laudo acostado pelo IML o senhor JOÃO DA COUVES foi duramente agredido pelos policiais, com lesões corporais por todo o seu corpo. Este fato trazido à luz do Estado democrático de Direito, é medida completamente inaceitável. Visto que autoridades legitimadas pelo Estado para agir, devem ser estritamente vinculadas ao que a lei determina que seja feito. As agressões sofridas pelo paciente fragilizam ainda mais este ato prisional completamente ilegal contra o senhor JOÃO DA COUVES, e configuram crime de abuso de poder previsto na Lei n. 13.869/19, art. 13, II, na forma transcrita abaixo: 
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a: 
I - Exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; 
II - Submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; III - (VETADO). 
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência.
Por todos estes fatos relatados acima, tem-se que a prisão lograda pelo Estado foi completamente ilegal, devendo ser relaxada de imediato.
Passando para a análise do pedido de prisão preventiva feito pelo membro do Ministério Público, há também questionamentos a serem levantados, pois merecem destaque. Existe a necessidade do preenchimento das hipóteses previstas no art. 312 do CPP para que a prisão preventiva possa ser decretada.
O artigo 312, CPP, possui a seguinte redação: 
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado
No caso em concreto não estão sequer presentes os requisitos do art. mencionado, pois o paciente tem apenas 18 anos, não possui nenhum tipo de anotação criminal em sua folha, possui residência fixa e não há perigo nenhum gerado ao ser mantida sua liberdade, instituto conhecido como periculum libertatis. Ademais ao se questionar o fummus commissi delicti (representado pela materialidade e indícios suficientes de autoria) os meios que se conseguiu a prova (a prisão em flagrante) foram completamente ilegais. Por estes fatos, a prisão preventiva deve ser indeferida por este respeitável juízo.
Da marcha processual, a Constituição em seu artigo 5°, inciso LVI, consagrou a regra da inadmissibilidade das provas ilícitas. Neste sentido, a doutrina majoritária sempre traçou uma diferenciação da prova ilícita (obtida com violação a uma regra de direito material) e a prova ilegítima (obtida com violação a uma regra de direito processual). Além disso, como consequência da sua produção, a prova ilícita deveria ser desentranhada do processo e a prova ilegítima acarretaria a utilização da Teoria das Nulidades. 
No tocante a este caso, pode-se escolher para qual lado seguir, pois houve violação direta a direito material e também processual, como já exposto anteriormente.
E como a única prova entranhada ao processo foi obtida de forma totalmente ilegal só existe um caminho a ser percorrido. Inclusive é como pensa a 3ª seção do STJ em decisão recente. Que reconheceu a nulidade de processo após reconhecer ilicitude de prova. 
No RHC 89.385 foi reconhecida a ilegalidade da prova, declarou-se a ilicitude de todo conjunto probatório a partir do momento em que foi produzida a prova e que, em razão dela, foi condenado o réu.
Então por fim, este processo enseja nulidade pelos atos cometidos até o momento.
III) DO PEDIDO
- Que o senhor JOÃO DA COUVES, seja posto imediatamente em liberdade, expedindo-se para tal, alvará de soltura;
- Relaxamento da prisão em flagrante ilegal com base no art. 5º, inciso XI e LXV
- Decretar o trancamento da ação penal com base 648, inciso I do Código de Processo Penal;
- Seja declarada a nulidade do processo com base no artigo 5°, inciso LVI da C.F;
Nestes termos pede-se deferimento.
São Paulo, xx/xx/xx
Advogado...
Oab...

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