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Fundamentos da saúde coletiva Hugo Braz Marques Descrição Aplicação de fundamentos da Saúde Coletiva como escopo para o desenvolvimento de ações de alimentação e nutrição. Propósito Reconhecer os fundamentos da Saúde Coletiva, de modo a subsidiar ações de alimentação e nutrição na assistência e na gestão da Atenção Primária à Saúde. Objetivos Módulo 1 Saúde Coletiva na con�guração da Atenção Primária à Saúde Identificar a influência de fundamentos da Saúde Coletiva na configuração da Atenção Primária à Saúde. Módulo 2 Saúde Coletiva em ações de alimentação e nutrição Reconhecer a aplicabilidade de fundamentos da Saúde Coletiva em ações de alimentação e nutrição na Atenção Primária à Saúde. Introdução Constituída pelos campos disciplinares inerentes às Ciências Sociais, à Epidemiologia e ao Planejamento em Saúde, a Saúde Coletiva pretende incorporar o conceito ampliado em saúde por meio da análise da determinação social da distribuição de eventos em saúde em uma dada população, com vistas à formulação de linhas de cuidado e políticas públicas. A Promoção da Saúde busca fomentar o controle social para transformar a realidade local com o enfrentamento dos determinantes sociais. Ela tem como cenário precípuo de práticas a Atenção Primária à Saúde, que é norteada pelos seguintes atributos: atenção no primeiro contato, longitudinalidade, integralidade, coordenação, orientação familiar e comunitária, e competência cultural. Em virtude da transição epidemiológica e nutricional, a população brasileira tem sido predominantemente afetada por doenças crônicas não transmissíveis, pelo excesso de peso e obesidade, requerendo ações de promoção da alimentação saudável que considerem o direito humano à alimentação adequada, o conceito de segurança alimentar e nutricional, a valorização da comida-patrimônio e o desenvolvimento de capacidade crítica da população quanto à configuração do sistema alimentar hegemônico, subsidiada pelas diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira (2014). Neste conteúdo, veremos a aplicabilidade de fundamentos da Saúde Coletiva em ações de alimentação e nutrição, tanto na assistência quanto na gestão da Atenção Primária à Saúde. 1 - Saúde Coletiva na con�guração da Atenção Primária à Saúde Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a in�uência de fundamentos da Saúde Coletiva na con�guração da Atenção Primária à Saúde. Saúde Coletiva Em um contexto de luta pela democratização, a Saúde Coletiva emergiu no Brasil como crítica ao campo da Saúde Pública, a qual tinha caráter original de regulação moral de comportamentos, por meio de intervenções em campanhas de massa baseadas em pedagogia tradicional e impositiva. A Saúde Coletiva é constituída por três principais campos disciplinares, como as Ciências Sociais, a Epidemiologia e o Planejamento em Saúde. Tais campos consideram a compreensão da construção social do processo saúde-doença; o estudo de fatores que determinam a frequência e a distribuição dos eventos em saúde na coletividade; a revisão sobre a organização e a gestão dos serviços para formulação de linhas de cuidado, vigilância em saúde e políticas públicas de saúde. Comentário A Saúde Coletiva pretende superar o paradigma da centralidade na doença por meio da análise da realidade da coletividade com enfrentamento dos determinantes sociais, o que suscita a intermediação entre diferentes campos disciplinares e setoriais para construção de um conceito ampliado em saúde. Os determinantes sociais da saúde representam os fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que condicionam a vida das pessoas. Eles podem proteger ou aumentar o risco de eventos negativos à saúde e são objeto da Promoção da Saúde, que compreende um conjunto de valores, como qualidade de vida, justiça social, universalidade e participação popular democrática. Suas estratégias devem ser adaptadas às necessidades locais, por meio da criação de ambientes favoráveis, reforço na ação comunitária, desenvolvimento de atitudes pessoais de empoderamento e reflexão crítica sobre a realidade, com vistas ao tensionamento do Estado para a consecução da proteção social prevista na Constituição Federal, que promova o acesso cada vez mais universal a condições de vida condizentes com saúde. O conceito ampliado de saúde tem como objetivo a melhoria da qualidade de vida de forma difusa, que extrapole a necessidade de mudanças comportamentais para a prevenção e o controle de doenças. Também é meta a transformação de condições de vida que constituem a estrutura usualmente encoberta dos problemas de saúde pelo viés biomédico, o que suscita a prática da intersetorialidade. Promoção da Saúde A Reforma Sanitária Brasileira foi notavelmente influenciada pelas estratégias centrais da Promoção da Saúde, veiculadas na Carta de Ottawa, produto da 1ª Conferência Internacional inerente à temática, em 1986. Inspirada no modelo de Estado de bem-estar social, a formulação do Sistema Único de Saúde (SUS) teve como princípios organizacionais: Universalidade A universalidade relaciona-se ao direito social e coletivo à saúde, resultante do contexto econômico e social brasileiro, transcendendo a concepção biomédica do processo saúde e doença. Por isso, o SUS requer o desenvolvimento de ações intersetoriais para o alcance desse princípio, que representa a universalidade do acesso às ações e serviços de saúde, assim como a universalidade das condições de vida que possibilitem boas condições de saúde. Ao afirmar que o atendimento integral deve priorizar as ações preventivas, sem prejuízo das assistenciais, a Constituição Federal amplia o espectro da atenção à saúde em todos os níveis do processo saúde e doença, incluindo prevenção, tratamento e reabilitação. O princípio da integralidade também representa uma extrapolação da concepção estritamente biomédica, incorporando o conceito ampliado de saúde que deve ser compreendido por múltiplas dimensões determinantes em saúde, simbólicas, sociais, ambientais. Para tanto, deve ser estimulada a escuta qualificada, o acolhimento e a humanização nas práticas de saúde, de modo que necessidades silenciosas, não somente biológicas, sejam expressas pelo usuário em sua relação com o profissional inserido no SUS. O princípio da equidade vai ao encontro da justiça social, com vistas à minimização das desigualdades no acesso, gestão e produção dos serviços de saúde. Não significa igualdade, mas direcionar-se para o equilíbrio de necessidades coletivas, procurando investir onde a iniquidade é maior. Equidade A equidade consiste na regulação das diferenças por meio da distribuição justa de recursos, insumos e serviços de saúde. Ao afirmar que o atendimento integral deve priorizar as ações preventivas, sem prejuízo das assistenciais, amplia-se o espectro da atenção à saúde em todos os níveis do processo saúde-doença, incluindo prevenção, tratamento e reabilitação. O princípio também representa uma extrapolação da concepção estritamente biomédica, incorporando o conceito ampliado de saúde, que deve ser compreendido por múltiplas dimensões Integralidade Equidade determinantes em saúde, simbólicas, sociais, ambientais. Para tanto, deve ser estimulada a escuta qualificada, o acolhimento e a humanização nas práticas de saúde, de modo que necessidades silenciosas, não somente biológicas, sejam expressas pelo usuário em sua relação com o profissional inserido no SUS. As diretrizes de articulação do SUS com os princípios organizacionais incluem: Com vistas ao controle social e à perspectiva de transformação da realidade local, coloca-se em evidência o caráter emancipatório da educação em saúde, que teve como principal influência na América Latina e no Brasil a pedagogia de Paulo Freire, baseada fundamentalmente na troca de reflexões críticas estabelecidas por meio do diálogo entre educador e educando sobre a realidade vivenciada. Saiba mais Assim, a educaçãoem saúde problematizadora é estabelecida por meio de uma relação dialógica que respeite a vivência e o saber popular acerca do cuidado em saúde, na busca pela intermediação com o saber Descentralização A descentralização corresponde à distribuição de poder político, responsabilidades e recursos da esfera federal para a estadual e a municipal. Regionalização e hierarquização A ideia de regionalização e hierarquização relaciona-se à noção de território, para que o planejamento de ações em saúde se baseie em perfis epidemiológicos e sociais regionalizados, pautado na lógica de que a proximidade da população favorece a identificação de necessidades em saúde e sua gestão. Participação da comunidade A participação da comunidade é um instrumento importante para a democracia, pela inserção popular em tomadas de decisão em instâncias, como os conselhos e conferências de saúde. científico, de maneira reflexiva, promotora de autonomia e de sensação de pertencimento político enquanto cidadão. Nesse sentido, a Política Nacional de Promoção da Saúde tem por objetivo promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos relacionados aos determinantes da saúde relacionados a diversos setores, como trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais. De modo específico, pretende: ( A ) Implantar ações de promoção da saúde, com ênfase na atenção básica. ( B ) Ampliar a autonomia dos indivíduos em corresponsabilidade com o Poder Público para a produção de cuidado integral à saúde e mitigação de iniquidades. ( C ) Divulgar o conceito ampliado de saúde. ( D ) Contribuir para a resolubilidade do SUS. ( E ) Fomentar a inovação e inclusão social no âmbito das ações de Promoção da Saúde. ( F ) Valorizar o uso dos espaços públicos de convivência e de produção de saúde. ( G ) Favorecer a preservação do meio ambiente e a promoção de ambientes mais seguros e saudáveis. ( H ) Contribuir para formulação de políticas públicas intersetoriais e integradas. ( I ) Ampliar os processos de integração baseados na cooperação, solidariedade e gestão democrática. ( J ) Prevenir determinantes de agravos à saúde – entre outros objetivos. Paulo Freire e a educação em saúde O especialista Hugo Braz abordará a importância de Paulo Freire para a Saúde Coletiva e a educação em saúde. Atenção Primária à Saúde A Atenção Primária em Saúde (APS) corresponde ao ponto da Rede de Atenção à Saúde (RAS) elegível para responder de forma regionalizada, contínua e sistematizada às necessidades de saúde, com perspectiva interdisciplinar e intersetorial, que fomente a participação popular de caráter emancipatório sobre processos de gestão e controle. Trata-se da porta de entrada para o SUS e centro de comunicação e ordenador do fluxo de serviços em toda a RAS, dos mais simples aos mais complexos em termos de tecnologias. A APS concretiza-se em local próximo da vida das pessoas e se constituindo por equipamentos como as Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Saúde da Família (USF) e Academias da Saúde. Os atributos derivados compreendem orientação familiar e comunitária, assim como competência cultural. Os essenciais que devem guiar a APS incluem: Atenção no primeiro contato Implica na frequência de utilização dos serviços de saúde pelos usuários a cada nova situação de saúde manifestada, o que representa não somente acessibilidade física, mas também a consolidação de referência e impressão favorável sobre o estabelecimento de saúde. Longitudinalidade Implica na constituição de uma fonte regular de atenção e sua utilização ao longo do tempo para continuidade do cuidado em saúde, o que é capaz de mensurar o vínculo estabelecido fi i i Norteada por todos os atributos essenciais e derivados, congregados em seu escopo de ações, a Estratégia Saúde da Família (ESF) visa à expansão, qualificação e consolidação da APS, de modo a ampliar resolutividade em saúde. De modo geral, a equipe de Saúde da Família (eSF) é composta minimamente por médico generalista ou especialista em Saúde da Família, enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família, auxiliar ou técnico de enfermagem, agentes comunitários de saúde, podendo ser acrescidos por odontólogo e auxiliar ou técnico em saúde bucal. Conforme o perfil epidemiológico de cada território, é possível que se dê o apoio matricial por meio de equipes do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), constituídas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento. Seu propósito é ampliar a abrangência e o escopo das ações da APS com vistas à integralidade do cuidado e otimização da capacidade de análise e intervenção sobre os determinantes sociais em saúde. As ações do NASF-AB, que se dão a partir dos limites encontrados pelas eSF diante das situações de saúde, consistem com os profissionais. Integralidade Abarca a atenção nos três níveis de complexidade da assistência à saúde, com articulação em ações de promoção, proteção e prevenção, e a abordagem integral do indivíduo e sua família. Pressupõe a incorporação de um conceito ampliado em saúde que extrapole o enfoque do risco de adoecimento em função do enfrentamento das iniquidades sociais. Requer humanização de práticas, acolhimento e escuta qualificada com vistas à valorização de subjetividades e necessidades singulares dos sujeitos. Coordenação do cuidado Compreende a articulação entre os diversos serviços, ações em saúde e níveis assistenciais, em compartilhamento sincronizado e integrado de projetos preventivos e/ou terapêuticos, por meio da comunicação sem hiatos entre a referência e a contrarreferência da regulação de encaminhamentos. em educação permanente com as equipes, discussão ampliada de casos com elaboração de projeto terapêutico singular, consultas interdisciplinares, visitas domiciliares, educação em saúde com a população e articulações com a RAS ou outros setores sociais. Saiba mais O NASF-AB é considerado um suporte especializado para as eSF, nas dimensões clínico-assistencial e técnico-pedagógica. A Epidemiologia é o campo que analisa a distribuição de eventos e agravos à saúde de uma população, que, complementado pela articulação crítica com as Ciências Sociais, pode permitir a triangulação de dados sobre a determinação social desses eventos e agravos, subsidiando o planejamento, gestão e avaliação das ações de saúde. Desse modo, indicadores epidemiológicos que retratem a incidência e a prevalência relacionadas à morbidade podem ser cruzados com análises sobre desigualdades sociais; questões inerentes aos ambientes, qualidade de vida, conceitos, visões e medidas em saúde; monitoramento e escolha de intervenções. O planejamento e a gestão em saúde podem abarcar recursos humanos, processos de trabalho, informação em saúde, unidades de saúde e vigilância em saúde. Embora dentro do campo da Saúde Coletiva haja hegemonia da Epidemiologia e de pesquisas quantitativas em detrimento daquelas qualitativas articuladas às Ciências Sociais, a intenção por uma maior resolutividade está na homogeneidade entre os campos. A hegemonia tem a ver com persistência do domínio do ideário positivista e quantitativo sobre a abstração e subjetividade. Sobre a Epidemiologia, é sabido que a medida de prevalência consiste no número de casos acumulados de uma doença em uma população durante um período específico, ao passo que a incidência se refere exclusivamente a casos novos, mensurada a partir do surgimento da doença. Sendo assim: Prevalência A taxa de prevalência é calculada pela razão entre o número de indivíduos acometidos pelo agravo em uma determinada população ao longo de um dado período e o número total de habitantes daquela população. Incidência A taxa de incidência é calculada pela razão entre o número de casos novos de certo agravo em uma determinada população em um dado momento e o número total de habitantes daquela população. Confira essas taxas no quadroa seguir: Indicador Definição Fórmula R p Prevalência Casos existentes da doença em um determinado momento dividido pela população em risco de ter a doença. Casos totais de COVID-19 do início até o dia 16/07/2021 ÷ População brasileira 19.300.000 ÷ 211.000.000 0 Incidência Novos casos da doença em uma população definida durante um período específico (um dia, por exemplo) dividido pela população em risco. Novos casos de COVID-19 na semana de 9 a 15/07/2021 ÷ População brasileira 52789 ÷ 211.000.000 0 Tabela: Indicadores epidemiológicos, prevalência e incidência. Hugo Braz Marques. Dados epidemiológicos são disponibilizados com competências mensais pelo Departamento de Informática do SUS, o DATASUS. Tais informações podem subsidiar análises objetivas sobre a situação de saúde de uma dada população, a fim de que sejam estabelecidas tomadas de decisão em termos de planejamento e gestão em saúde baseadas em evidências. Indicadores epidemiológicos costumam ser adotados para o planejamento de ações programáticas estratégicas em saúde, incorporadas de modo a organizar a produção do cuidado de grupos específicos ou vulneráveis. Cada município ou unidade de saúde pode incorporar outras estratégias conforme o diagnóstico situacional local e sensibilidade para necessidades subjetivas dos usuários e da população. Carteira de Serviços da Atenção Primária à Saúde A Carteira de Serviços é considerada instrumento norteador sobre as ações de saúde da APS que contempla o reconhecimento da clínica multidisciplinar. Por meio dela, pretende-se descrever para a população, para gestores e profissionais inseridos na APS, uma lista de ações e serviços clínicos e de vigilância em saúde, disponíveis nesse nível de atenção da RAS. No que tange à Vigilância em Saúde, estão discriminadas as seguintes ações na Carteira de Serviços da APS: Análise epidemiológica da situação de saúde local. Discussão e acompanhamento intersetorial de casos de violência. Emissão de atestados e laudos médicos. Identificação e monitoramento de saúde de beneficiários do Programa Bolsa Família e outros programas de assistência social. Sobre a Promoção da Saúde, incluem-se estratégias, como: aconselhamento para introdução da alimentação complementar da criança; acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança; acolhimento e respeito étnico-racial, à diversidade religiosa e sexual; promoção de hábitos de vida saudáveis, como alimentação adequada e saudável, práticas corporais e atividade física, controle do uso de álcool, tabaco e outras drogas; oferta de práticas integrativas e complementares de cuidado; promoção da paternidade responsável e ativa; promoção do envelhecimento saudável e ativo; promoção e apoio ao aleitamento materno exclusivo até 6 meses e continuado até 2 anos ou mais; aconselhamento sobre saúde sexual e reprodutiva. Mapeamento de riscos relativos ao controle de vetores no território. Imunização conforme o calendário vacinal nas diversas fases do ciclo da vida. Investigação de óbitos em mulheres em idade fértil, além de óbitos infantis e fetais. Rastreamento sobre uso abusivo de medicamentos. Notificação de doenças de notificação compulsória. Vigilância do recém-nascido de risco com base em informes concedidos pelas maternidades. Os cuidados centrados nas específicas fases do ciclo da vida estão elencados na Carteira de Serviços da seguinte maneira: Assistência ao pré-natal; assistência ao puerpério; assistência ao climatério; abordagem sexual e reprodutiva; manejo de problemas ginecológicos mais comuns; manejo de problemas mamários comuns relacionados à lactação; rastreamento de neoplasia de colo de útero e de mama; prevenção e acolhimento de situações de violência à mulher. Atendimento domiciliar para idosos com mobilidade reduzida ou acamados; identificação de idosos vulneráveis, em risco de declínio funcional; prevenção e acolhimento de situações de violência ao idoso; prevenção de acidentes domésticos; prevenção e tratamento de distúrbios nutricionais no idoso. Acompanhamento de adultos e idosos em cuidados integrados e continuados, incluindo paliação; atendimento de adultos e idosos em situação de vulnerabilidade social; atendimento às demandas espontâneas com avaliação de risco nos serviços de saúde; acompanhamento de pessoas com doenças ocupacionais; atendimento domiciliar de pessoas restritas ao leito; prevenção, busca ativa, diagnóstico e tratamento da hanseníase e da tuberculose; aconselhamento quanto ao uso abusivo de álcool, tabaco e outras drogas; prevenção, rastreamento e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis; rastreamento de neoplasia de cólon e reto em pessoas com idade a partir de 50 anos; rastreamento e acompanhamento de diabetes mellitus, hipertensão arterial e risco cardiovascular; manejo e acompanhamento de pessoas com doenças cardiovasculares; manejo e acompanhamento de condições endocrinológicas permanentes; manejo de parasitoses intestinais; manejo de arboviroses (dengue, zika e febre amarela); manejo de condições mais prevalentes no trato gastrointestinal; manejo de doenças crônicas respiratórias; manejo de condições genitourinárias e renais mais prevalentes; identificação e manejo de pessoas em sofrimento psíquico e com transtornos mentais mais prevalentes; entre outras. Saúde da mulher Saúde do idoso Saúde do adulto e do idoso Prevenção, identificação e tratamento de situações relacionadas a distúrbios nutricionais; triagem neonatal; suplementação nutricional quando oportuna; prevenção, busca ativa e tratamento de crianças e adolescentes com hanseníase, tuberculose, arboviroses, infecções sexualmente transmissíveis; aconselhamento quanto ao tabagismo e uso de álcool e outras drogas; acolhimento em situações de violência; atendimento domiciliar a crianças e adolescentes restritas ao leito; identificação e acompanhamento de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizado; identificação e acompanhamento de crianças e adolescentes com deficiências; identificação e manejo de problemas comuns no recém-nascido e lactente; entre outras. Haja vista a cronificação de agravos à saúde da população brasileira, a APS não tem podido se restringir a ações estritamente preventivas, até mesmo pela insuficiência e investimentos regressivos na atenção secundária ambulatorial nos últimos anos. Contudo, existem críticas sobre o predomínio da concepção biomédica e foco em patologias, assim como o risco de exclusão de determinadas situações de saúde e/ou sociais, sugerindo uma APS seletiva e caminho contrário à universalidade. Por outro lado, apesar da previsão de coordenação de cuidados pela APS, a discriminação de um rol tão vasto de situações clínicas sob seu espectro (que não necessariamente possa ser excludente) pode estrangular o primeiro nível de atenção à saúde, comprometendo sua resolutividade nas intervenções ou regulação para a RAS, assim como trazer a dialética entre a longitudinalidade x acolhimento de casos novos. Saúde da criança e do adolescente Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Três são os principais campos disciplinares abarcados pela Saúde Coletiva: as Ciências Sociais, a Epidemiologia e o Planejamento em Saúde. Embora interdependentes, cada um deles apresenta sua particularidade. Qual das seguintes assertivas relaciona-se especificamente ao campo referente ao Planejamento em Saúde? Parabéns! A alternativa A está correta. A tríade que conforma a Saúde Coletiva é constituída pelo campo das Ciências Sociais, que pretende analisar a construção social do processo saúde-doença, a partir do enfrentamento dos determinantes sociais; pelo campo da Epidemiologia, que consiste no estudo da distribuição dos eventos em saúde dentro de uma comunidade em termos de incidência de casos novos e prevalência de casos acumulados; e pelo campo do Planejamento em Saúde, que compreendem aspectos relativos à organizaçãoe à gestão dos serviços de saúde, com vistas à definição de linhas de cuidado, vigilância em saúde e formulação de políticas públicas. Questão 2 Porta de entrada do Sistema Único de Saúde, a Atenção Primária à Saúde é norteada por atributos essenciais que incluem atenção no primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação. Assinale a definição mais adequada a esse último atributo: A Revisão sobre a gestão dos serviços de saúde para estruturação de linhas de cuidado e vigilância em saúde. B Concentração nos determinantes sociais envolvidos no processo saúde-doença. C Construção de indicadores de prevalência dos principais agravos à saúde. D Incentivo à participação popular para transformação da realidade local. E Esforços para a regulação moral de comportamentos em saúde. A Percepção do estabelecimento de saúde como principal referência para o usuário. B Exprime o vínculo estabelecido na continuidade do cuidado junto aos profissionais de saúde. Parabéns! A alternativa D está correta. Os atributos essenciais norteadores da APS são atenção no primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação. Esse último significa a adequada articulação com outros níveis de atenção à saúde, em compartilhamento de informações terapêuticas por meio da referência e a contrarreferência claras na regulação de encaminhamentos. 2 - Saúde Coletiva em ações de alimentação e nutrição C Demonstra abordagem integral à saúde do indivíduo e de sua família. D Êxito na regulação de encaminhamentos e monitoramento da situação de saúde dos usuários mesmo quando assistidos em outro nível de atenção. E Requer humanização de práticas e valorização de necessidades simbólicas dos usuários. Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a aplicabilidade de fundamentos da Saúde Coletiva em ações de alimentação e nutrição na Atenção Primária à Saúde. Epidemiologia nutricional Em virtude da rápida transição nutricional vivenciada pela população de países em desenvolvimento, tem ocorrido a manifestação simultânea de desnutrição (deficiências de micronutrientes, baixo peso e baixa estatura) e de excesso de peso, que é definida como dupla carga de má nutrição. Isso significa que, ao longo da vida, uma proporção crescente de indivíduos é exposta a diferentes formas de má nutrição. Na população brasileira adulta, o principal agravo nutricional em todas as fases do ciclo da vida é o excesso de peso, que contribui para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como hipertensão arterial, diabetes, cardiopatias e câncer, assim como o excesso de peso e a obesidade, sendo, por vezes, acompanhado por deficiências de micronutrientes. Comentário A Vigilância Alimentar e Nutricional consiste na descrição contínua e predição de tendência das condições de alimentação e nutrição da população, incluindo seus fatores determinantes. A consolidação de resultados antropométricos e de consumo alimentar serve ao planejamento e articulação de ações locais ou desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a melhoria do perfil alimentar e nutricional da população. Os parâmetros para avaliação antropométrica variam segundo fases do ciclo da vida, sendo adotados os seguintes indicadores: Para crianças menores de 5 anos Peso para idade, estatura para idade, peso para estatura, IMC para idade. Para crianças entre 5 e 10 anos incompletos Peso para idade, estatura para idade, peso para estatura, IMC para idade. Para adolescentes IMC para idade, estatura para idade. Para gestantes IMC por idade gestacional. Para adultos IMC, perímetro da cintura. Para idosos IMC para idoso, perímetro da panturrilha. A classificação do estado nutricional pode ser realizada por meio da utilização de referências disponíveis na Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) e dos gráficos disponíveis nas cadernetas da criança, do adolescente, da gestante ou do idoso. No que se refere ao consumo alimentar, métodos como anamnese alimentar, recordatório alimentar de 24h, questionário de frequência de consumo alimentar e registro alimentar podem ser empregados. Dados do SISVAN indicam que 63% da população brasileira adulta que frequentou unidades da Atenção Primária à Saúde em 2019 apresentava excesso de peso e 28,5%, obesidade. O universo amostral considerado compreendeu 12.776.938 pessoas (BRASIL, 2020). Já o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostra frequência de excesso de peso de 55,4% e de obesidade de 20,3%, na população adulta brasileira, também em 2019. O número total de indivíduos entrevistados correspondeu a 52.443 (BRASIL, 2020). Atenção! Cabe esclarecer que uma epidemia corresponde à elevação brusca e acima do esperado de um agravo à saúde em uma determinada população. Quando a pandemia é extrapolada em nível global, configura-se como pandemia, como é o caso da obesidade. Na contemporaneidade, a pandemia do novo coronavírus tem sido conjecturada como uma sindemia por conta de interações biológicas e sociais com a obesidade, levando à maximização da carga de complicações das duas condições de saúde com características epidêmicas. A exacerbação do estado inflamatório em pessoas com obesidade tem sido associada à maximização de complicações respiratórias, cardiovasculares e metabólicas e uma menor sobrevida na COVID-19. Atualmente, também tem se considerado a interação sinérgica de determinantes sociais sobre três pandemias associadas à configuração do sistema alimentar hegemônico, configurando-se a chamada Sindemia Global: Obesidade Desnutrição Mudanças climáticas No Brasil, o sistema alimentar hegemônico tem sido marcado pela produção em larga escala de commodities (mercadorias de baixo valor agregado) de origem agrícola caracterizadas por monoculturas de milho, soja e cana, destinadas à exportação, mas, ao mesmo tempo, dependentes de insumos, como sementes transgênicas, agrotóxicos e maquinaria, provenientes das grandes potências. Internamente, consome-se cada vez mais produtos alimentícios agregados de aditivos químicos, com alta densidade calórica e pobre valor nutricional, provenientes de indústrias de alimentos que foram oligopólios, junto a grandes redes de hipermercados que têm definido o abastecimento alimentar nas cidades grandes. Somado ao consumo exacerbado de proteínas de origem animal, o impacto das monoculturas e dos alimentos industrializados sobre a pegada de carbono e pegada hídrica demandadas da natureza têm contribuído para o aquecimento global. Metodologia NOVA Com vistas ao enfrentamento dos efeitos deletérios da indústria de alimentos sobre o estado nutricional, a cultura alimentar e a sustentabilidade ambiental, as diretrizes alimentares nacionais vigentes incorporaram uma nova categorização de alimentos, com base no grau de processamento industrial – a metodologia NOVA. Esta divide os alimentos em: In natura ou minimamente processados Obtidos diretamente de plantas ou animais sem qualquer adição de substância. Ingredientes culinários Como óleos, gorduras, sal e açúcar, extraídos de alimentos in natura por processos como prensagem, moagem, trituração e refino. Processados Produzidos com adição de sal, açúcar ou óleo para prolongar validade ou aumentara palatabilidade. Ultraprocessados Produzidos industrialmente, derivados de constituintes alimentares agregados de aditivos químicos, como corantes, conservantes, emulsificantes, realçadores de sabor, que fazem com que a matriz do alimento de origem seja ínfima. A regra de ouro consiste em preferir alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados. De forma qualitativa, estratifica grupos de alimentos em: Feijões ou leguminosas; Cereais; Raízes e tubérculos; Legumes e verduras; Frutas; Castanhas e nozes (oleaginosas); Leite e queijos; Carnes e ovos; e Água. Atenção! Por trazer uma classificação de vanguarda e de enfrentamento direto ao sistema alimentar hegemônico, o Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB; 2014) deve ser o norteador contemporâneo para as diversas frentes da Nutrição em Saúde Coletiva. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE (2020) referente ao período de 2017-2018 expressa que, para o total da população brasileira com idade igual ou superior a 10 anos, 53,4% das calorias consumidas provinha de alimentos in natura ou minimamente processados, 15,6% de ingredientes culinários processados, 11,3% de alimentos processados e 19,7% de alimentos ultraprocessados. Políticas públicas de alimentação e nutrição No que se refere à área de alimentação e nutrição, destacam-se duas políticas públicas brasileiras que consideram diversos pontos do sistema alimentar e condicionam a situação de saúde e nutrição da população por levantarem dois direitos constitucionais – o direito à saúde e o direito humano à alimentação adequada (DHAA). A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN; BRASIL, 2012) pretende reorganizar, qualificar e aperfeiçoar as ações de alimentação e nutrição no SUS. Essa política leva à melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados. A PNAN está estruturada em nove diretrizes que indicam linhas prioritárias para promoção da saúde. São elas: ( 1 ) Organização da atenção nutricional na Rede de Atenção à Saúde, guiada pelo perfil epidemiológico do território. ( 2 ) Promoção da alimentação adequada e saudável, vista como um conjunto de estratégias que fomentem práticas alimentares apropriadas aos aspectos biológicos e socioculturais, além de ambientalmente sustentáveis. ( 3 ) Vigilância alimentar e nutricional, com integração de dados antropométricos e sobre consumo alimentar derivados de sistemas de informação em saúde, inquéritos populacionais e produções científicas, para subsidiar o planejamento de ações. ( 4 ) Gestão das ações de alimentação e nutrição, de responsabilidade tripartite (federal, estadual e municipal), por meio da articulação intra e intersetorial. ( 5 ) Participação e controle social, que pressupõe o protagonismo da população na militância pelo direito à saúde e à alimentação adequada e saudável, com inserção em conselhos e conferências de saúde. ( 6 ) Qualificação da força de trabalho, por meio de educação profissional em saúde que suscite a promoção da alimentação saudável para a população. ( 7 ) Controle e regulação de alimentos para proteção à saúde. ( 8 ) Fomento à pesquisa, inovação e conhecimento em alimentação e nutrição. ( 9 ) Cooperação e articulação para segurança alimentar e nutricional. A Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) foi criada pelo Decreto nº 7.272, de 25 de agosto de 2010 (BRASIL, 2010), com objetivo geral de garantir a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), por meio das seguintes estratégias: a. Promoção do acesso universal à alimentação adequada e saudável, tendo como prioridade famílias e pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional (IAN); b. Promoção do abastecimento e estruturação de sistemas sustentáveis e descentralizados, de base agroecológica, de produção, extração, processamento e distribuição de alimentos; c. Instituição de processos permanentes de educação alimentar e nutricional, pesquisa e formação nas áreas de SAN e do DHAA; d. Promoção, universalização e coordenação das ações de SAN voltadas para quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais, povos indígenas e assentados da reforma agrária; e. Fortalecimento das ações de alimentação e nutrição em todos os níveis da atenção à saúde, de modo articulado às demais ações de SAN; f. Promoção do acesso universal à água de qualidade e em quantidade suficiente, com prioridade para as famílias em situação de insegurança hídrica e para a produção de alimentos da agricultura familiar, da pesca e aquicultura; g. Apoio a iniciativas de promoção da soberania alimentar, SAN e do DHAA em âmbito internacional e a negociações internacionais baseadas nos princípios e diretrizes da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN); e h. Monitoramento da realização do DHAA. De modo transversal às diretrizes e estratégias de ambas as políticas, ressalta-se a importância da educação alimentar e nutricional para Promoção da Saúde, com potencial para contribuir para a valorização da cultura alimentar, o fortalecimento de hábitos regionais, a redução do desperdício de alimentos, bem como a promoção do consumo alimentar saudável e sustentável. Atenção! Enquanto a orientação nutricional tradicional se constitui pela prescrição com necessidade de seguimento de uma dieta indicada por um profissional detentor de saber e autoridade para mudança imediata de hábitos alimentares, a educação alimentar e nutricional concerne na construção dialogada em torno de um processo gradativo de revisão de práticas alimentares, por um sujeito ativo e autônomo sobre sua própria vida e saúde. Para uma educação alimentar e nutricional efetiva, espera-se que a comunicação estabelecida entre profissional e usuário seja realizada por meio de escuta ativa e próxima, que valorize o conhecimento, a cultura e o patrimônio alimentar, reconheça os simbolismos e a linha tênue entre prazer e restrições ligadas à alimentação, de modo que se alcancem soluções contextualizadas e críticas em um processo longitudinal de mudança. Como visto anteriormente, o ponto de atenção da RAS elegível para Promoção da Saúde, com vistas ao desenvolvimento de postura emancipatória e crítica dos usuários para controle social sobre seus direitos inerentes ao campo da alimentação e nutrição, é a Atenção Primária à Saúde, onde existe uma multiplicidade de cenários de práticas para o nutricionista, tanto na assistência quanto na gestão em saúde. Cenários de práticas de nutrição na Atenção Primária à Saúde No que se refere a cenários assistenciais para inserção do nutricionista na APS, destacam-se, principalmente, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as Unidades de Saúde da Família (USF), embora também possam atuar de modo interdisciplinar nas Academias da Saúde e de modo intersetorial em equipamentos da Educação, Assistência Social e outros setores. Nas UBS, a linha de atuação do nutricionista costuma se efetivar em nível ambulatorial, em ações programáticas em saúde definidas conforme a especificidade epidemiológica daquele território e por meio de ações educativas em saúde, alimentação e nutrição. Nas USF ou no NASF-AB, o potencial para o exercício da interdisciplinaridade e intersetorialidade é expandido, ampliando-se também as possibilidades do alcance dos atributos da APS. Orientado pelo referencial do apoio matricial, a prática de trabalho no NASF-AB acontece a partir da integração de eSF, reconhecidas como equipes de referência para os usuários de um território adscrito com profissionais com outros núcleos de conhecimento distintos e complementares. A justificativa para essa integração concerne necessidade, dificuldade ou limitações das eSF diante de demandas e do perfil epidemiológico daquela população.O NASF-AB configura-se como uma retaguarda especializada para as eSF, desenvolvendo atividades matriciais divididas em duas vertentes: clínico-assistenciais e técnico-pedagógicas. O matriciamento clínico- assistencial relaciona-se a uma ação clínica direta sobre os usuários e suas famílias, ao passo que o técnico- pedagógico consiste em processo educativo com e para as próprias eSF. Os atributos essenciais da APS mais diretamente ligados à atuação do NASF-AB compreendem longitudinalidade e integralidade. Elementos constituintes da agenda do NASF-AB incluem: Reuniões de matriciamento com as equipes; Atendimentos individuais e interdisciplinares; Projeto Terapêutico Singular Destaca-se ainda sua participação na elaboração de Projeto Terapêutico Singular, que é o instrumento de organização do cuidado em saúde construído entre equipe e usuário, por meio da identificação de necessidades em saúde, discussão sobre o diagnóstico e definição do cuidado e autocuidado, o que favorece o fortalecimento do vínculo, a corresponsabilização e a emancipação do usuário. De modo específico, as ações do nutricionista na APS minimamente incluem: Visitas domiciliares; Grupos educativos em saúde e atividades coletivas; e Elaboração de materiais de apoio, rotinas e protocolos para educação permanente das equipes. Realizar diagnóstico alimentar e nutricional da população, com a identificação de áreas geográficas, segmentos sociais e grupos populacionais de maior risco aos agravos nutricionais, bem como identificação de hábitos alimentares regionais e suas potencialidades para Promoção da Saúde; Diversas estratégias podem ser empregadas para educação alimentar e nutricional, adaptadas aos interesses e habilidades do público-alvo. As possibilidades de vivência e experimentação por meio do desenvolvimento de hortas comunitárias e oficinas culinárias, por exemplo, têm grande potencial para promoção da alimentação adequada e saudável. Além de despertarem ou rememorarem afetividade e subjetividade no contato sensorial com os alimentos, ao compartilhar o exercício de habilidades culinárias com uma referência profissional de saúde em um contexto leve, permite-se a abstração técnica do “nutricionismo” e a humanização de práticas de saúde. Desenvolver ações alternativas de alimentação e nutrição voltadas às famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família e de outros programas sociais. Dentre as condicionalidades a serem monitoradas para inclusão e permanência nos benefícios sociais, estão: A Vigilância Alimentar e Nutricional periódica dos integrantes das famílias beneficiárias. As alternativas como oficinas que contemplem o aproveitamento integral de alimentos, alimentos in natura dentro da safra e incentivo à produção local de alimentos são interessantes. A identificação dos indivíduos com agravos relacionados à alimentação e nutrição, como, por exemplo, doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, hipertensão arterial, obesidade, entre outras), desnutrição infantil, má nutrição por micronutrientes e baixo peso. Realizar a Vigilância Alimentar e Nutricional em todas as fases do curso da vida, desenvolvendo e apoiando ações voltadas para os agravos relacionados; e Por meio de ações de educação alimentar e nutricional, promover a alimentação adequada e saudável. De um modo geral, a obesidade acaba sendo abordada de modo transversal às demais doenças crônicas não transmissíveis, mas requer enfrentamento por meio de linha de cuidado específica, com o entendimento de que se trata de patologia. Cabe destacar que estratégias moralizantes e culpabilizantes sobre excesso de peso e obesidade não são resolutivas, demandando empatia e valorização das necessidades subjetivas dos usuários na Promoção da Saúde. Por este motivo é preciso: Identificar distúrbios associados à alimentação (anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros transtornos alimentares); Contribuir na construção de estratégias para responder às principais demandas assistenciais quanto aos distúrbios alimentares, deficiências nutricionais, desnutrição e obesidade; Realizar orientações para valorização e apoio ao aleitamento materno; Articular a intersetorial dos serviços de saúde com instituições e entidades locais, escolas e ONGs para desenvolvimento de ações de alimentação e nutrição; Apoiar as equipes no planejamento e realização de atividades do Programa Saúde na Escola, relativas à alimentação e nutrição; e Acompanhar, com apoio do Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso, pessoas com necessidades alimentares especiais e indivíduos com via alternativa de alimentação. Com relação às fases do ciclo da vida, as ações clínicas destacadas na Carteira de Serviços da APS diretamente relacionadas à alimentação e nutrição salientam a prevenção e tratamento de distúrbios nutricionais, com suplementação nutricional quando necessário. Diante da vulnerabilidade social de muitas famílias, em caso de baixa acessibilidade financeira, existem mecanismos de suporte na rede municipal associados à judicialização, como as Câmaras de Resolução de Litígios de Saúde, que podem autorizar a dispensação de suplementos ou dietas enterais mediante laudo interdisciplinar bem fundamentado. No que se refere a cenários gerenciais para inserção do nutricionista na APS, destacam-se as Coordenações de Áreas de Planejamento em Saúde e as Áreas Técnicas em Alimentação e Nutrição. O monitoramento das condições laborativas, como a compatibilidade no dimensionamento de recursos humanos atuantes na APS, seu número de atendimentos e sua carga horária com a Resolução CFN nº 600/2018 para a área de Nutrição em Saúde Coletiva, assim como a disponibilidade de equipamentos antropométricos e consultórios em condições adequadas e ergonômicas, faz parte do rol de atividades da gestão nutricional. Em caso de insuficiência, relatórios devem ser apresentados ao titular da Pasta, Secretaria Municipal de Saúde, para ajuste. Curiosidade Ações de educação permanente do corpo de nutricionistas e equipes de APS por meio de notas técnicas e metodologias ativas descentralizadas são importantes ferramentas gerenciais, seja sobre o processo de trabalho, seja sobre a especificidade técnica. O monitoramento contínuo sobre a produtividade dos nutricionistas inseridos na APS, que, no caso particular do NASF-AB, deve valorizar atividades coletivas e em território em detrimento das ambulatoriais, que cabem à gestão nutricional da APS. Paralelamente, a consolidação de resultados sobre VAN deve ser permanente, para o planejamento e revisão de ações estratégicas. A elaboração de materiais educativos em alimentação e nutrição destinados à população pode ser mediada pela gestão nutricional da APS a partir de discussões longitudinais estabelecidas em GTs (Grupos Técnicos) com participação representativa de profissionais dos diversos territórios, com a possibilidade de realização de pré-testes com os usuários e profissionais das eSF que poderiam empregá-los. Parcerias com instituições acadêmicas e de pesquisa para diagnósticos situacionais, revisão de linhas de cuidado e intervenções são valiosas para o planejamento em saúde. Cabe à Área Técnica de Alimentação e Nutrição a formulação de políticas públicas locais inerentes à área, assim como a resposta por parecer técnico a projetos de leis relacionados. Atendimento nutricional nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Saúde da Família (USF) O especialista Hugo Braz abordará o atendimento nutricional nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Saúde da Família (USF). Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O trabalho do nutricionista no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) pode apresentar duas vertentes junto aos usuários e aos profissionais das equipes: a clínico-assistencial e a técnico-pedagógica. Qual das seguintes opções contempla práticas específicas do matriciamento técnico-pedagógico? A Visitasdomiciliares Parabéns! A alternativa C está correta. Enquanto a vertente clínico-assistencial incide sobre ação clínica direta sobre os usuários, a técnico- pedagógica volta-se para as equipes. Desse modo, estão mais diretamente relacionadas à vertente técnico-pedagógica ações como reuniões de matriciamento com as equipes e formulação de protocolos para educação permanente, o que não exclui o efeito de aprendizado compartilhado estabelecido com a interdisciplinaridade por meio do lado clínico-assistencial. Questão 2 Como se denomina o instrumento de organização do cuidado em saúde construído de modo dialogado entre profissional de saúde e usuário para definição do cuidado e autocuidado em saúde, importante ferramenta para inserção do nutricionista no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB)? B Educação alimentar e nutricional C Educação permanente D Elaboração de Projeto Terapêutico Singular E Atendimentos individuais A Carteira de Serviços da Atenção Primária à Saúde B Relatórios de Vigilância Alimentar e Nutricional C Programa de Atenção Domiciliar Parabéns! A alternativa E está correta. Dentre os elementos constituintes da agenda do NASF-AB, destaca-se o Projeto Terapêutico Singular, cuja construção é compartilhada entre membros do NASF-AB, das eSF e usuários, para definição de estratégias para o cuidado e autocuidado em saúde, fortalecendo a autonomia do usuário e o vínculo com o profissional de saúde. Considerações �nais A Saúde Coletiva pretende a construção de um conceito ampliado em saúde especialmente mediado pela articulação com o campo das Ciências Sociais. A análise da realidade por meio dos determinantes sociais é o cerne da Promoção da Saúde, voltada para a capacitação da comunidade para intervir sobre a melhoria de sua qualidade de vida e justiça social. Na Atenção Primária em Saúde (APS), porta de entrada para o SUS, localiza-se o ponto da Rede de Atenção à Saúde elegível para responder de forma regionalizada e contínua às necessidades de saúde. Seus atributos incluem: atenção no primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação, orientação familiar e comunitária, assim como competência cultural. As principais políticas públicas de alimentação e nutrição estão baseadas no conceito de Promoção da Saúde, justificando a presença do nutricionista na APS, de modo a fomentar o despertar crítico e a emancipação da população quanto à configuração vigente do sistema alimentar hegemônico e correlacioná-la a indicadores epidemiológicos que revelam prevalência do excesso de peso, obesidade e doenças crônicas no país, promovendo a cidadania e o exercício político de luta pelo direito humano à alimentação adequada e à segurança alimentar e nutricional. A atuação do nutricionista na APS pode se concretizar tanto na assistência quanto na gestão, subsidiada por tais políticas públicas, por diretrizes alimentares nacionais, pela Carteira de Serviços da APS, por indicadores epidemiológicos e de vigilância alimentar e nutricional. D Nota técnica de alimentação e nutrição E Projeto Terapêutico Singular Podcast Agora, o especialista Hugo Braz abordará as estratégias dos nutricionistas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Saúde da Família (USF). Explore + 1. Acesse a Biblioteca do Portal da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) do Ministério da Saúde para complementar a fundamentação sobre atuação do nutricionista em Saúde Coletiva, em especial na APS. 2. Para se aprofundar sobre as principais referências de diretrizes alimentares nacionais, que devem subsidiar a atuação do profissional de Nutrição em Saúde Coletiva, acesse o Guia Alimentar para a População Brasileira e o Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, publicados pelo Ministério da Saúde. 3. Dados epidemiológicos são disponibilizados com competências mensais pelo Departamento de Informática do SUS, o DATASUS, disponível na aba Informações de Saúde (TABNET) do site do DATASUS, onde também consta um tutorial para sua utilização. 4. A classificação do estado nutricional pode ser realizada por meio da utilização de referências disponíveis na Norma Técnica do SISVAN e dos gráficos disponíveis nas cadernetas da criança, do adolescente, da gestante ou do idoso. Para saber mais, acesse as Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN, do Ministério da Saúde. 5. Com relação ao Programa Saúde na Escola (PSE), assista a três vídeos interessantes da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, no seu canal do YouTube, que podem servir como instrumentos para disparar ações de educação alimentar e nutricional com alunos, famílias e comunidade escolar: Caminhos da comida Caminhos da comida Sem cantina! 6. Confira ainda os relatórios públicos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, disponíveis no site SISVAN, cujos filtros são ainda mais refinados para os gestores formalmente credenciados à Plataforma Sisvan Web. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014a. 156p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 84p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – Sisvan. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Saúde da Família. Carteira de serviços da Atenção Primária à Saúde (CaSAPS): versão profissionais de saúde e gestores. Brasília: Ministério da Saúde, 2020. 83p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Situação alimentar e nutricional no Brasil: excesso de peso e obesidade da população adulta na Atenção Primária à Saúde. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2020a. 17p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2019: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2019. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2020b. 137p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 60 p. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Publicado em: 25 ago. 2010. Consultado na internet em: 20 jul. 2021. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. CFN. Resolução CFN nº 600/2018. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências. Brasília: CFN, 2018. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017- 2018: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. IBGE, 2020. 120p. ROUQUAYROL, M. Z.; GURGEL, M. Epidemiologia & Saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 2018. 719p. STARFIELD, Bárbara. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO Brasil, Ministério da Saúde, 2002. SWINBURN, B. et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet Commission Report. The Lancet, v. 393, n. 1, p. 791-846, 2019. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatarproblema javascript:CriaPDF()
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