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Evolção- Texto base 4

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EVOLUÇÃO 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Silmara Terezinha Pires Cordeiro 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta aula trabalharemos a evolução biológica com base em várias 
perspectivas. Alguns pesquisadores se dedicam a esse estudo pela 
microscopia; outros, pela química molecular, testando hipóteses sobre a origem 
da vida no planeta, como foi o caso da teoria de Oparin e Haldane, testada por 
Stanley Miller. Outros preferem a origem dos genes e genomas e a evolução 
das células, como no caso da teoria endossimbiótica para as organelas 
mitocôndria e cloroplasto. Podemos dizer que esses estudos estão todos 
relacionados e fazem parte da evolução molecular da vida, ou microevolução. 
Mas alguns estudiosos preferem estudar a evolução com base em 
fatores macroscópicos, como os geologistas e paleontologistas, que se 
dedicam às grandes transições evolutivas. Existem ainda estudos ecológicos 
que analisam a evolução do ponto de vista da interação de alguns seres, como 
os parasitas e seus hospedeiros, ou ainda os predadores e suas presas, que 
vivem em ambientes tão próximos que coevoluem de modo integrado. Os 
profissionais responsáveis por organizar e ordenar todas essas informações, 
traçando linhas evolutivas, ou melhor, “cladogramas”, são o filogenistas, 
também chamados de “sistematas”, pois organizam suas teorias em sistemas, 
produzindo as reconstruções filogenéticas. 
Todos esses temas serão tratados aqui, iniciando pelas teorias da 
origem da vida e finalizando com as técnicas de filogenia. Os objetivos da aula 
são: 
 Reconhecer a ancestralidade comum dos seres vivos, as transições 
evolutivas, as reconstruções filogenéticas e a evolução molecular; 
 Apresentar a cronologia da vida na Terra e a abordagem evolutiva que 
atualmente é utilizada no estudo da origem das espécies e das formas 
de vida a partir do mundo abiótico; 
 “Apresentar mudanças marcantes na história evolutiva da Terra para 
compreensão de alguns fenômenos e processos macroevolutivos”; 
 “Entender o papel das interações evolutivas entre espécies na dinâmica 
da aquisição de adaptações recíprocas ou não”; 
 “Reconhecer a sistemática (e a taxonomia) e o processo de 
reconstrução filogenética”; 
 
 
3 
 “Compreender as mudanças evolutivas no nível do DNA, ressaltando a 
evolução dos genes e genomas procarióticos e eucarióticos através dos 
estudos de filogenia comparada”. 
TEMA 1 – ORIGEM DA VIDA E O ANCESTRAL DE TODAS AS FORMAS DE 
VIDA ATUAIS 
Segundo Damineli e Damineli (2007, p. 264-265), a ideia de uma sopa 
primordial, proposta de Darwin e que segundo os autores “imaginava que uma 
poça de caldo nutritivo, contendo amônia, sais de fósforo, luz, calor e 
eletricidade, pudesse ter dado origem a proteínas, que se transformaram em 
compostos mais complexos, até originarem seres vivos”. Essas ideias são 
utilizadas por Oparin e Haldane para propor sua teoria da evolução molecular, 
como veremos a seguir. 
1.1 Teorias da origem da vida: histórico 
Desde os primórdios da civilização, a origem da vida é tema de 
discussões que já foram mais acaloradas, como o caso da geração espontânea 
(ou abiogênese), aceita até meados do século XIX. Nesse período, Pasteur e 
Tyndall realizaram uma série de experimentos e apresentaram evidências de 
que a vida surgia pela reprodução, sendo a abiogênese substituída pela 
biogênese (Damineli; Damineli, 2007; Zaia, 2003). 
A teoria da evolução molecular citada no tópico anterior foi proposta por 
Oparin em 1924: 
Ele usou um cenário de evolução darwiniana lenta e gradual, partindo 
do mais simples para o mais complexo. A partir dos hidrocarbonetos 
e da amônia, ter-se-iam formado outros compostos mais complexos, 
como carboidratos e proteínas. Processos semelhantes, num 
ambiente redutor proposto por Haldane em 1929. (Zaia, 2004, p. 4) 
A esses compostos Oparin deu o nome de “coacervados”, que seriam 
estruturas semelhantes às atuais células. 
 
 
 
4 
Figura 1 – Variação abstrata sobre o tema da vida originada na água há 3,8 
bilhões de anos, com a representação de vários coacervados 
 
Crédito: Maksimilian/Shutterstock. 
Essa teoria foi testada com sucesso por Stanley Miller, que, ainda 
segundo Damineli e Damineli (2007, p. 272), se apoiou nas ideias de Harold 
Urey (1893-1981), o qual argumentou que a atmosfera original da Terra era 
parecida com a dos planetas gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Esse 
experimento deu origem à química prebiótica (Damineli; Damineli, 2007; Zaia, 
2003). A seguir, podemos observar na Figura 2 esse experimento, com os 
possíveis gases existentes segundo as ideias de Urey e Haldane, testadas por 
Stanley Miller: 
Figura 2 – Experimento realizado em 1953 com amônia, metano e hidrogênio, 
além de descargas elétricas, simulando as condições da Terra primitiva 
 
Crédito: Fouad. A. Saad/Shutterstock. 
 
 
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Segundo Damineli e Damineli (2007) e Zaia (2003), como resultado 
desse experimento, acabaram se formando aminoácidos, que são moléculas 
precursoras na formação de proteínas e essenciais à estrutura dos seres vivos. 
Porém, existem hoje resistências na comunidade científica com relação a esse 
experimento, pois novos estudos apontam que a atmosfera terrestre nunca foi 
redutora, ou seja, portadora de substâncias que oxidam na presença de 
oxigênio. Como seria o caso de haver hidrogênio abundante descrito nessa 
proposta, uma nova esperança surgiu com a descoberta de hidrotermais, 
ambientes similares ao dessa proposta (redutora), nas quais poderia ter 
surgido a vida. 
Segundo Weiss et al. (2016, p. 1-6), o last universal common ancestor 
(Luca), já visto anteriormente, parece ter surgido em hidrotermais, locais com 
presença de ferro, enxofre e metais de transição. Segundo os autores, esse 
primeiro ser vivo seria o ancestral das arqueobactérias e eubactérias da 
atualidade e, no próximo tópico, veremos a proposta de fases para a origem da 
vida. 
1.2 Fases da origem da vida 
Segundo Freeman e Herron (2009, p. 681), a formação dos aminoácidos 
precursores ocorreu por meio de reações químicas em um ambiente até então 
designado como “sopa primordial”, substituída por Weiss et al. (2016, p. 1-6) 
por aberturas hidrotermais submarinas ou fumarolas. 
Freeman e Herron (2009, p. 681) também propõem que, após essa 
síntese de aminoácidos formados pela reação química de moléculas 
inorgânicas (presentes no ambiente descrito anteriormente), formaram-se os 
nucleotídeos (também vistos anteriormente) e os carboidratos (açúcares) 
simples, sendo essa a primeira etapa; numa segunda fase, esses nucleotídeos 
e carboidratos teriam se juntado, formando um polímero com capacidade de se 
autocopiar e um ácido nucleico, possivelmente o RNA; e na terceira fase 
surgiriam membranas que dariam origem à membrana plasmática e às demais 
organelas membranosas nas células que, no caso das procariontes, seriam 
apenas os ribossomos, posteriormente diversificando-se nas demais organelas 
em eucariontes. 
Para Damineli e Damineli (2007, p. 275), a hipótese do surgimento do 
RNA primeiro, conhecida como “mundo do RNA”, precisa ser aprimorada, pois 
 
 
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apresenta uma complexidade que precisa ser investigada, e ainda não existe 
uma explicação plausível para o que chamam de “mundo pré-RNA”. Alguns 
estudiosos de biologia molecular e genômica se dedicam ao estudo da origem 
e evolução dos genomas, nosso próximo tema. 
TEMA 2 – GRANDES TRANSIÇÕES EVOLUTIVAS 
Segundo Cavalcanti e Cavalcante (2014, p. 21), a formação da Terra 
teve início há 4,6 bilhões de anos e, a partir dessa data, até cerca de 542 
milhões de anos atrás, houve um período denominado “pré-cambriano”, no qual 
ocorreram processos de aglomeração, choque e fissão de continentes, 
originando os supercontinentes (Atlântida, Rodínia, Panótia, Gondwana e 
Laurásia), e no Fanerozoico surge a Pangeia. Os mesmos autores afirmam que 
ao final do Proterozoicoe do Fanerozoico se inicia o Cambriano, há cerca de 
543 milhões de anos. 
Figura 3 – Pangeia, Laurásia e Gondwana. Supercontinentes que existiram 
durante a Era Paleozoica e a Mesozoica (Era do Gelo; Idade Glacial) 
 
Fonte: Designua/Shutterstock. 
 
 
7 
Os autores se basearam na datação feita pela Comissão Internacional 
de Estratigrafia em 2009 e, dependendo de qual modelo de datação for 
utilizado, pode haver divergências sobre a sequência correta dos eventos 
geológicos. 
Figura 4 – Escala geocronológica: unidades, fileiras e nomes 
cronoestratigráficos internacionais 
 
Crédito: Alinabel/Shutterstock. 
No próximo tema há outra proposta de organização das transições 
evolutivas. 
 
 
 
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2.1 Eventos evolutivos nos éons 
Éons são os maiores períodos de divisão na escala de tempo geológico, 
sendo divididos em eras e períodos. Segundo Freeman e Herron (2009, p. 62), 
o Período Hadeano teve início há 4,6 bilhões de anos e, por muito tempo, o 
planeta permaneceu instável, com mudanças gradativas no clima e nos 
oceanos, além dos diferentes níveis de oxigênio. Segundo Cavalcanti e 
Cavalcante (2014, p. 1), nesse tempo ocorreu o surgimento da Terra e, nesse 
período, meteoritos colidiam com o planeta como bombas, enquanto havia um 
resfriamento que levou à solidificação da crosta terrestre. Para os autores, 
embora sejam raros os registros de rochas nesse éon, sabe-se que a crosta 
terrestre surgiu nessa fase. 
Freeman e Herron (2009, p. 62) afirmam que o Éon Arqueano teve seu 
início há 3,6 bilhões de anos e, durante essa fase, surgiram os primeiros 
microrganismos procariontes, conforme visto anteriormente, com os registros 
de fósseis de estromatólitos com a datação similar. Os autores colocam o início 
do Proterozoico há cerca de 2,5 bilhões de anos, ocorrendo a evolução dos 
procariontes para os primeiros eucariontes e, na sequência, o surgimento dos 
seres multicelulares. No Fanerozoico, iniciado há 543 milhões de anos, ocorreu 
a diversificação de seres vivos, tanto unicelulares quanto multicelulares, sendo 
esse o éon do qual fazemos parte. 
TEMA 3 – COEVOLUÇÃO E DINÂMICA DAS INTERAÇÕES 
INTERESPECÍFICAS 
Os estudos sobre a evolução biológica caminham cada vez mais para a 
automação, pois a complexidade de processos e interações nos processos 
evolutivos tornam esses estudos inacessíveis por outros métodos. Os modelos 
matemáticos conseguem avaliar uma série de variantes que podem ocorrer no 
caminho, como a herança genética do tipo pleiotropia e de alelos múltiplos, os 
vários sistemas coevolutivos, as mudanças das taxas evolutivas decorrentes 
das pressões da seleção natural, entre outros fatores. Esses algoritmos 
matemáticos são utilizados para construir modelos digitais que cumprem com 
vantagens as exigências para analisar esses fenômenos (Futuyama, 2009, 
p. 11). 
 
 
9 
Freeman e Herron (2009, p. 135) afirmam que os exemplos de interação 
entre os seres vivos com coevolução são a predação e o parasitismo. A 
coevolução ocorre quando a pressão da seleção natural produz adaptações 
recíprocas em ambas as espécies. 
3.1 Interações entre espécies 
Nagai (2018), em sua pesquisa sobre a coevolução entre presas e 
predadores, utilizou modelos matemáticos para analisar o sistema presa-
predador. O autor considera que são inúmeras as variáveis que podem alterar 
as relações coevolutivas, justificando sua escolha. Para ele, podem ocorrer 
inúmeras modificações ambientais e comportamentais difíceis de observar nas 
pesquisas de campo (p. 31). 
Outro modelo similar foi utilizado por Barbieri e Carvalho (2001) para 
analisar fungos parasitas, os quais podem ser vistos por duas perspectivas: no 
sistema gene a gene, em que é feita a análise da evolução dos genes de 
resistência de parasita que aumentam sua patogenicidade; ou da perspectiva 
do hospedeiro, por meio da hipótese da rainha vermelha, na qual são 
analisados os mecanismos de defesa desse hospedeiro (p. 79). 
No próximo tópico, veremos como essas pesquisas com análise de 
genes e modelos matemáticos influenciam as reconstruções filogenéticas. 
TEMA 4 – RECONSTRUÇÕES FILOGENÉTICAS 
A reconstrução filogenética se baseia nas normas de cladística e 
filogenética (Henning, 1950, 1966), sem abandonar a nomenclatura binominal 
(Lineu, 1753), tendo como modelo o esboço da primeira árvore genealógica 
(Darwin, 1837). Essa árvore foi aprimorada, passando a ser uma árvore 
filogenética, agora com caracteres analisados pelas normas anteriormente 
citadas e por outras técnicas de análise molecular do DNA, RNA e proteínas. 
Pode-se dizer que esses cladogramas (Figura 5), para explicar as 
relações evolutivas, passaram por uma evolução conceitual, e agora passam 
por uma evolução tecnológica, considerando que os sequenciamentos são 
analisados por supercomputadores que otimizam o trabalho minucioso dos 
filogenistas. Na Figura 5 temos o diagrama da origem das espécies de Darwin 
 
 
10 
e, na Figura 6, podemos ver a ilustração de uma árvore filogenética. Ambas 
são exemplos de cladogramas. 
Figura 5 – O famoso e único diagrama da origem das espécies, de Darwin 
 
Fonte: CC-20. 
Figura 6 – Representação da árvore da vida 
 
Fonte: TRGrowth/Shutterstock. 
 
 
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No próximo tópico, veremos os parâmetros utilizados na classificação 
dos seres vivos. 
4.1 Classificação dos seres vivos: histórico de ideias 
Tabela 1 – Linha cronológica da classificação dos seres vivos 
Autor/data Marco na classificação 
Lineu, 1758 
 
Apresentou a proposta de nomenclatura binominal, na qual os nomes científicos 
são escritos em latim ou latinizados. É usada até hoje. 
Darwin, 
1837 
Árvore genealógica: realizou o primeiro esboço em seus cadernos de anotação 
sobre o Beagle. 
Henning, 
1950 
Propôs as normas de cladística, determinando a formação de clados e 
cladogramas. 
Henning, 
1966 
Criou as normas de filogenética com a organização dos cladogramas por 
critérios de afinidade genética e maior grau de parentesco baseado na análise 
do DNA. 
Whittaker, 
1969 
Apresentou a proposta de classificação dos seres vivos em cinco reinos: 
Monera, Protista, Plantae, Fungi e Animalia, utilizada até os dias atuais. 
Carl Woese, 
1970 
Apresentou a proposta de três domínios: Bacteria, Archaea e Eucarya. 
Baseando-se em novas técnicas que revelaram as diferenças fundamentais 
entre células procarióticas e eucarióticas, foram mapeadas geneticamente as 
Archeas, bactérias que apresentam maior parentesco com as células 
eucariontes. Suas diferenças estruturais as diferem muito das demais bactérias, 
e isso foi o marco para uma nova proposta de classificação. 
Margulis, 
1981 
Descreveu a teoria endossimbiótica, baseada na evolução das organelas 
celulares mitocôndria e cloroplastos, além de diversos outros casos de 
organismos simbiontes encontrados na natureza. 
Proposta de 
2016 
“Luca”: essa proposta de 2016 se baseia em análises moleculares comparativas 
de proteínas de bactérias e arqueobactérias, chegando à conclusão de que o 
primeiro ser vivo poderia ser um procarionte que viveu em uma fenda 
hidrotermal. 
Observação: todas essas propostas são utilizadas ainda hoje e não são excludentes, dando 
embasamento para as pesquisas de reconstrução filogenética. 
Fontes: Adaptado de Freeman; Herron, 2009; Margulis, 2001; Pough; Janis; Heiser, 2006; 
Raven, 2014; Weiss et al., 2016. 
4.2 Reconstruções filogenéticas que utilizam cladogramas 
Neste tópico listaremos algumas das regras utilizadas para analisar as 
características dos seres vivos segundo Pough, Janis e Heiser (2006, p. 9), 
antes de decidir seu posicionamento em um cladograma. Uma das regras é a 
presença de apomorfias, ou seja, características consideradas recentes, como 
modificações em ossos de tetrápodes e, nas serpentes, a modificação para 
deixarem de ter patas. Outra regra é a presença de sinapomorfias, ou seja, 
caracteres derivados compartilhados, como as glândulas mamárias,que estão 
presentes em todos os mamíferos. Podem ocorrer plesiomorfias, ou seja, 
 
 
12 
características mais antigas, como a coluna vertebral dos vertebrados 
terrestres. 
Os mesmos autores (2006, p. 9) nomeiam os clados e os classificam em 
tipos, utilizando as regras de cladística; outras considerações são sobre os 
tipos de cladograma, que podem ser: monofiléticos, incluindo um ancestral e 
todos seus descendentes; ou parafiléticos, incluindo um ancestral comum e 
apenas alguns de seus descendentes. Essas reconstruções utilizam 
atualmente análises moleculares do RNA ribossômico e sequências de 
aminoácidos em proteínas e de nucleotídeos (DNA e RNA), sendo importantes 
para avanços nas mais diversas áreas de estudo da evolução biológica. 
Na sessão “Na prática”, veremos a sequência de procedimentos 
utilizados em reconstruções filogenéticas. 
TEMA 5 – ESTRUTURA E DINÂMICA EVOLUTIVA DE GENES E GENOMAS 
O estudo da origem e da evolução dos genes e genomas é indissociável, 
pois é dentro das células que ocorrem processos importantes, como replicação 
do DNA, transcrição do DNA, tradução do RNA e síntese proteica – processos 
vistos anteriormente. A evolução dos genes e genomas é o tema do próximo 
tópico. 
5.1 Investigação de mecanismos relacionados à evolução genômica 
Matioli (2001, p. 82) propõe que alguns elementos sejam utilizados como 
parâmetro para verificar a evolução genômica: ordenação dos nucleotídeos nos 
ácidos nucleicos, se está homogênea (semelhante) ou não; ou se existem 
isócoros, sequências de nucleotídeos com alta similaridade das bases 
nitrogenadas pareadas citosina e guanina (C+G). Outros elementos 
investigados são os telômeros (sequências finais dos cromossomos), os 
transposons (elementos de transposição) e, por fim, os códons, que são trincas 
de bases nitrogenadas relacionadas à síntese de proteínas. Com base nessas 
premissas, surgem as hipóteses que tentam explicitar a origem e a evolução 
dos genomas, como veremos a seguir. 
 
 
 
13 
5.2 Evolução dos genomas de organelas 
Segundo Hartl (2001, p. 21, 22, 24), os seres unicelulares dotados de 
núcleo delimitado por membrana, conhecidos como “eucariotos”, teriam surgido 
por endossimbiose entre células procarióticas. O autor cita como exemplos as 
organelas com DNA próprio, similaridade proteica e estrutural com seres 
procariontes, que são a mitocôndria (responsável pela respiração celular) e o 
cloroplasto (responsável pelo processo fotossintético). 
Hartl (2001) e Moreira (2015) apontam como mais provável a hipótese 
autógena para a evolução das organelas celulares. Nessa hipótese, a evolução 
dos procariontes ocorreu de forma lenta e gradual, com dobramentos da 
membrana plasmática, originando as organelas e o núcleo celular dos 
eucariontes. Quanto à evolução dos genes e famílias gênicas, Hartl (2001) 
afirma que a maioria dos grupos surgiu por mutações do tipo duplicação 
gênica. 
Carrapiço e Rita (2009) afirmam que a análise molecular (filogenética) 
forneceu evidências de influência de retrovírus endógenos humanos, 
conhecidos pela sigla “Hervs”. Esses segmentos, ou sequências de DNA 
advindas de retrovírus (vírus com RNA), segundo os autores, produziram 
mutações e geraram “uma quantidade de deleções, duplicações e 
remodelações cromossómicas na evolução do genoma humano, tendo 
desempenhado um papel preponderante na evolução e divergência dos 
hominídeos” (Carrapiço; Rita, 2009, p. 17). 
Os mesmos autores citaram a influência do DNA endógeno na produção 
do hormônio liberador da gonadotrofina (GNRH) e em proteínas relacionadas 
ao funcionamento da placenta humana. Caso essas sequências de DNA 
retroviral fossem removidas, poderiam, por exemplo, comprometer o 
funcionamento normal da gestação. Sendo assim, os autores consideram que 
os seres humanos deveriam ser considerados “entidades poligênicas”, 
enfatizando o papel da simbiose na evolução biológica (Carrapiço; Rita, 2009, 
p. 18). 
NA PRÁTICA 
Segundo Pederneiras (2011, p. 2-7), a cladística na verdade é um ramo 
da sistemática que estuda a filogenia (história genealógica) e as reconstruções 
 
 
14 
filogenéticas que produzem cladogramas com representações hipotéticas de 
uma determinada espécie. O autor (p. 5-6) fala sobre a comparação anatômica 
entre caracteres homólogos (presentes no ancestral comum) e homoplasias, 
semelhanças não homólogas que podem ter surgido por convergência ou 
reversão. Essas características podem se apresentar como plesiomórficas 
(antigas, primitivas, ancestrais) e, ao contrário, apomórficas (recentes, 
derivadas). 
Os cladogramas preferencialmente são monofiléticos, ou seja, contêm 
um ancestral comum para todos os descendentes e são divididos em ramos 
por caracteres derivados compartilhados ou sinapomórficos (p. 7-8). 
Pederneiras fala ainda do método de parcimônia pelo qual os cladistas 
produzem diversos modelos de cladograma e escolhem o que tiver menor grau 
de divergências ou uma árvore de consenso. Existe ainda o método de 
policotomia, no qual podem emergir três clados do mesmo ancestral sem que 
sejam encontrados caracteres compartilhados como em monofiléticos. Nesse 
caso, podem ser espécies derivadas do mesmo ancestral ou se divergir de 
modo independente do ancestral comum (Pederneiras, 2011, p. 10-11). 
Leia o texto que tem esse resumo e faça as seguintes atividades: 
1. Diferencie filogenia de cladística; 
2. Defina homologias e homoplasias; 
3. Diferencie um caráter plesiomófico de um apomófico; 
4. Defina monofiletismo e sinapomorfias; 
5. Defina parcimônia e policotomia. 
Sugerimos ainda uma opção que também consta no livro Evolução 
biológica: pensamento evolutivo histórico e contemporâneo. Que tal um 
aplicativo em que fosse possível passar algum tempo distraído e ao mesmo 
tempo revisar vários conteúdos deste capítulo de forma lúdica? 
Pois essa é a proposta do jogo produzido pela Computer Lunch 
chamado Evolution Never Ends (A evolução nunca acaba). Trata-se de um 
aplicativo para celular que contém as fases de desenvolvimento da vida no 
planeta, partindo da evolução molecular (sopa primordial) e passando pelas 
fases da macroevolução. Simula ainda a evolução biológica dos animais, como 
os peixes, répteis e mamíferos, incrementando seu aprendizado sobre 
evolução biológica e história natural. 
 
 
15 
O jogo ainda está em fase de desenvolvimento, mas já está disponível 
em: <https://play.google.com/store/apps/details?id=com.computerlunch.evolutio
n>. Acesso em: 28 out. 2019. 
FINALIZANDO 
Vamos relembrar os tópicos de estudo desta aula: iniciamos com os 
estudos sobre a origem da vida e sobre o ancestral comum; estudamos um 
pouco sobre a dinâmica da evolução de genes e genomas, sobre a evolução 
das células procarióticas e eucarióticas, sobre os estudos geológicos e 
biológicos que definem as grandes transições evolutivas, sobre a evolução 
integrada entre presas e predadores e entre parasitas e hospedeiros. 
Conhecemos alguns modelos de estudo utilizados atualmente. No tópico 
“Reconstruções filogenéticas”, vimos o histórico de algumas técnicas de 
classificação biológica, como a taxonomia e a filogenia, e demos seguimento 
ao conteúdo com o artigo sobre os conceitos básicos de filogenia e com a 
atividade prática proposta, para melhor compreensão do conteúdo. 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
CAVALCANTI, J. A.; CAVALCANTE, J. Evolução geologia. In: BRANDÃO, 
R. L.; FREITAS, L. C. B. (Ed.). Geodiversidade do Estado do Ceará. 
Fortaleza: CPRM, 2014. p. 19-34. Disponível em: 
<https://www.researchgate.net/publication/269390299_Evolucao_Geologia_In_Bra
ndao_RL_Freitas_LCB_Eds_Geodiversidade_do_Estado_do_Ceara_CPRM>. 
Acesso em: 29 out. 2019. 
CARRAPIÇO, F.; RITA, O. Simbiogénese e evolução. In: LEVY, A. et al. (Ed.). 
Evolução: história e argumentos. Lisboa: Esfera do Caos, 2009. p. 175-198. 
DAMINELI, A.; DAMINELI, D. S. C. Origens da vida. Estudos Avançados,São 
Paulo, v. 21, n. 59, p. 263-284, 2007. Disponível em: 
<www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142007000100022>. Acesso em: 29 out. 2019. 
EVOLUTION Never Ends. Google Play. Disponível em: 
<https://play.google.com/store/apps/details?id=com.computerlunch.evolution>. 
Acesso em: 29 out. 2019. 
FREEMAN, S.; HERRON, J. C. Análise evolutiva. Tradução de Maria Regina 
Borges, Osório e Rivo Fisher. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 
MOREIRA, C. Modelo autogenético. Revista de Ciência Elementar, [S.l.], v. 3, 
2015. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/322560030_M
odelo_Autogenetico>. Acesso em: 29 out. 2019. 
WEISS, M. et al. The physiology and habitat of the last universal common 
ancestor. Nature Microbiology, [S.l.], v. 1, n. 9, 2016. Disponível em: 
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bitat_of_the_last_universal_common_ancestor>. Acesso em: 29 out. 2019. 
ZAIA, D. A. M. Da geração espontânea à química prebiótica. Química Nova, 
São Paulo, v. 26, n. 2, p. 260-264, mar. 2003. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
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_____. The Origin of Life and the Prebiotic Chemistry. Química Nova, São 
Paulo, v. 25, n. 1, p. 3-8, jan./jun. 2004. Disponível em: 
 
 
17 
<https://www.researchgate.net/publication/46485946_The_origin_of_life_and_t
he_prebiotic_chemistry>. Acesso em: 29 out. 2019.

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