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HIS ENSINO MÉDIO PRÉ-VESTIBULAR 4 Poliedro Sistema de Ensino T. 12 3924-1616 sistemapoliedro.com.br COLEÇÃO PV Copyright © Editora Poliedro, 2022. Todos os direitos de edição reservados à Editora Poliedro. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ISBN978-65-5613-341-6 Presidente: Nicolau Arbex Sarkis Autoria: Daniel Gomes de Carvalho e Rafael Santesso Verdasca Edição de conteúdo: Ana Paula Enes, Juliana Grassmann dos Santos, Amanda Beatriz Raimundo, Beatriz de Almeida Francisco, Camila Caldas Petroni, Caroline Bárbara Ferreira Castelo Branco Reis, Daniele Dionizio, Luiza Delamare Quedinho e Luna Brum Nunes Edição de arte: Christine Getschko, Nathalia Laia, Daniella de Romero Pecora, Bruna H. Fava, Lourenzo Acunzo, Jaime Xavier, Alexandre Bueno e Suellem Silva Machado Design: Adilson Casarotti Licenciamento e multimídia: Leticia Palaria de Castro Rocha, Danielle Navarro Fernandes, Fernanda Bitencourt e Jessica Clifton Riley Revisão: Daniel de Febba Santos, Bianca da Silva Rocha, Bruno Freitas, Eliana Marilia G. Cesar, Ellen Barros de Souza, Ingrid Lourenço, Sara Santos, Sárvia Martins e Thiago Marques Impressão e acabamento: PierPrint Crédito de capa: Avigator Fortuner/Shutterstock.com A Editora Poliedro pesquisou junto às fontes apropriadas a existência de eventuais detentores dos direitos de todos os textos e de todas as imagens presentes nesta obra didática. Em caso de omissão, involuntária, de quaisquer créditos, colocamo-nos à disposição para avaliação e consequentes correção e inserção nas futuras edições, estando, ainda, reservados os direitos referidos no Art. 28 da Lei 9.610/98. Frente 1 11 República Democrática (1946-1964).................................................................5 Redemocratização no Brasil, 6 Governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), 7 Governo de Getúlio Vargas (1951-1954), 9 Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), 11 Governo de Jânio Quadros (1961), 12 Governo de João Goulart (1961-1964), 13 Revisando, 16 Exercícios propostos, 18 Texto complementar, 24 Resumindo, 25 Quer saber mais?, 25 Exercícios complementares, 25 BNCC em foco, 30 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina ................................................. 31 América Latina no contexto da Guerra Fria, 32 As ditaduras na América Latina, 33 Revisando, 47 Exercícios propostos, 49 Texto complementar, 57 Resumindo, 58 Quer saber mais?, 58 Exercícios complementares, 59 BNCC em foco, 65 13 A Nova República (de 1985 à atualidade).....................................................67 Governo de José Sarney (1985-1990), 68 Governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992), 70 Governo de Itamar Franco (1992-1994), 71 Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), 71 O governo de Lula (2003-2010), 74 O governo de Dilma Rousseff (2011-2016), 74 O governo de Michel Temer (2016-2018), 76 O governo de Jair Bolsonaro (2019-), 76 Revisando, 77 Exercícios propostos, 79 Texto complementar, 83 Resumindo, 84 Quer saber mais?, 84 Exercícios complementares, 84 BNCC em foco, 88 Sumário Frente 2 12 O período entreguerras .......................................................................................89 A Crise de 1929, 90 O fascismo, 93 O nazismo na Alemanha, 96 A Guerra Civil Espanhola (1936-1939), 99 Revisando, 100 Exercícios propostos, 103 Texto complementar, 109 Resumindo, 109 Quer saber mais?, 110 Exercícios complementares, 110 BNCC em foco, 116 13 Segunda Guerra Mundial e mundo contemporâneo .................................... 117 Segunda Guerra Mundial, 118 A Guerra Fria, 122 O fim da Guerra Fria e a Nova Ordem Mundial, 137 Revisando, 140 Exercícios propostos, 142 Texto complementar, 152 Resumindo, 153 Quer saber mais?, 153 Exercícios complementares, 154 BNCC em foco, 165 Gabarito ......................................................................................................................167 República Democrática (1946-1964) 11 CAPÍTULO FRENTE 1 O período que se estendeu de 1946 a 1964 constituiu a quarta experiência republicana do Brasil e recebeu diferentes denominações, como “República Populista”, “República Democrática” e “República Liberal”, que dão ênfase a diferentes aspectos desse mo- mento histórico. O termo “República Populista” indica o caráter populista de algumas das principais lideranças do país no período, enquanto “República Democrática” ou “Re- pública Liberal” destacam a retomada do regime democrático após o término do Estado Novo varguista. Como veremos neste capítulo, um dos principais marcos desse período foi a grande tensão que ocorreu entre os governos de Eurico Gaspar Dutra e João Goulart, cujo des- fecho culminou em uma nova ditadura no país. A rq ui vo N ac io na l. Fu nd o A gê nc ia N ac io na l. 6 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) Redemocratização no Brasil O período da redemocratização no Brasil, após a di- tadura do Estado Novo, foi intensamente marcado pelo contexto da Guerra Fria. Findada a Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética disputavam a hegemonia política em termos mundiais, lançando mão de estratégias para ampliar suas influências sobre os demais países. Nesse contexto, a polarização ideológica entre as ideias capitalistas, sob a liderança dos Estados Unidos, e as socialistas, lideradas pelos soviéticos, foi o ponto de tensão de uma série de disputas políticas que afetaram não só o Brasil, mas todo o mundo. No Brasil, o desenvolvimento industrial contribuiu para que houvesse aceleradas mudanças socioeconômicas, incluindo um intenso processo de urbanização e de êxodo rural. O debate político brasileiro foi marcado pelo choque de dois diferentes modelos acerca da industrialização. Por um lado, a política econômica do desenvolvimentismo (ou nacional-desenvolvimentismo) buscava a manutenção do modelo adotado durante a Era Vargas. Nesse senti- do, defendia-se a ideia de que o Estado seria o principal interventor e indutor do desenvolvimento econômico e do advento da modernidade. Tratava-se, portanto, de um modelo intervencionista que depositava no capital público e nas empresas estatais a principal agência para a indus- trialização. Em contrapartida, a era favorável à ideia de que o setor privado deveria agir como o principal incentivador do capital. Para isso, buscava o processo de desenvolvimento econômico e da industrialização por meio de uma soma de aplicações liberais e privatizações. Eleições de 1945 Após a renúncia forçada de Vargas em 1945, foi mon- tado um governo provisório chefiado por José Linhares (1886-1957), então presidente do Supremo Tribunal Fe- deral. A função de Linhares era organizar as eleições presi- denciais e da assembleia constituinte, que ocorreriam em dezembro de 1945, além de garantir a posse do presiden- te eleito. Durante seu breve governo, que durou de 29 de outubro de 1945 até 31 de janeiro de 1946, Linhares extinguiu o Tribunal de Segurança Nacional, o que de- monstrava arrefecimento nas práticas persecutórias do governo e certo direcionamento à retomada democrática no país. Os principais partidos políticos que disputaram as elei- ções em 1945 podiam ser divididos em dois grupos: os “de dentro”, que representavam a ala situacionista e, de alguma forma, buscavam dar continuidade às políticas promovidas durante o Estado Novo, e os “de fora”, que compunham a oposição, caracterizada pelo antigetulismo. Entre os partidos “de dentro” havia o Partido Social De- mocrático (PSD), formado por ex-integrantes da burocracia do Estado Novo, e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), também formado por antigos membros do governo varguis- ta, embora fossem representantes das camadas populares urbanas que defendiam políticas trabalhistas. Os partidos “de fora” reuniam a União Democrática Nacional (UDN), principal partido antigetulista, que representava a ortodo- xia e as classes médias e industriaisurbanas, e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que, apesar de ter apoiado o movimento “queremista” em 1945, buscava romper com a ideologia vigente. Curiosamente, nas eleições à presidência que ocorre- ram em 1945, todos os candidatos, tanto os da situação quanto da oposição, eram oficiais de alta patente do exérci- to. A única exceção era o candidato do PCB. O afastamento de Vargas pelos militares trouxe a sensação de que o exér- cito havia sido o responsável pela redemocratização. Praça Ramos de Azevedo, na região central de São Paulo (SP), em . Nos anos 0, o crescente número de edifícios e arranha-céus, assim como a movimentação de veículos pela cidade, simbolizava o intenso processo de urbanização no contexto brasileiro. Depois de 2 anos sem votar, a população fez fila na cidade de São Paulo para eleger seu candidato em 5. A R Q U IV O /E S TA D Ã O C O N TE Ú D O /A E A R Q U IV O /E S TA D Ã O C O N TE Ú D O /A E Outra questão importante que marcou a política brasi- leira e a de outros países latino-americanos foi o populismo. 7 F R E N T E 1 [...] Do quarteto de candidatos, dois duelavam com chances de vitória: o brigadeiro Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional; e o general Eurico Gaspar Dutra [...]. A impressão dominante era da vitória, de antemão assegurada, do brigadeiro [...]. Mas o brigadeiro estava longe de ser uma figura com apelo entre os menos favorecidos. Falava em tom monótono, carente de emoção [...]. Até que, em 20 de novembro, emissoras de rádio controladas pelo empresário Hugo Borghi, vinculado à candidatura Dutra, detonaram uma bomba. Em discurso, alardearam, o brigadeiro se jactara: “Não preciso do voto dos marmiteiros”. Ele teria empregado a palavra com sentido de trabalhadores humildes, que carregam comida na marmita (mar- miteiro era igualmente o funcionário de bares e restaurantes entregador de marmitas). Era tudo mentira, ou “fake news”. [...] Em suas rádios, [...] Borghi reverenciou Getúlio Vargas e mandou brasa na propaganda: “Não vencerá aquele que disse não necessitar dos votos dos marmiteiros e da patuleia [...]. Getúlio mantinha-se discreto sobre o pleito, sem anunciar adesão a nenhum postulante. [..] O brigadeiro não percebeu o estrago que a estória ameaçava provocar. No dia 21, ele passava pela cidade paulista de Bauru quando o “Correio da Manhã” alcançou-o com uma ligação telefônica. O repórter perguntou “se estava a par do caso dos marmiteiros”. “Marmiteiros?”, indagou. Não entendera. [...] Carlos Lacerda rememoraria lhe ter dito: “Brigadeiro, o senhor tem que fazer um discurso hoje, desmentindo isso, mas hoje”. O oficial da Aeronáutica encaminhou-o a outro correligionário, o ex-deputado Prado Kelly, que teria minimizado: “Mas isso, Carlos, não tem tanta importância! O povo não vai acreditar nisso. Imagina…”. Já era tarde. Nos comícios da UDN, os palanques aclamavam Eduardo Gomes como um amigão dos trabalhadores. “Mas não houve mais pobre no Brasil que se convencesse disso”, reconheceu Lacerda. Saiba mais Com o apoio de Getúlio Vargas e do PDT, o general Eurico Gaspar Dutra, candidato pelo PSD, foi eleito presi- dente em 1945. O vice, Nereu Ramos, também do PSD, foi eleito pelo Congresso Nacional no ano seguinte. Apesar de afastado da presidência, Getúlio Vargas ainda tinha um peso importante para definir os rumos políticos do país. O apoio de Vargas ao PSD foi fundamental para que o par- tido contasse também com o apoio do PTB, ainda pouco estruturado para lançar seu próprio candidato. Constituição de 1946 A Constituição de 1946, a quinta da história do país, estabeleceu que o Brasil fosse um regime republicano, presidencialista e federalista. A estrutura da divisão institucional dos três poderes permaneceu. O Legislativo manteve-se bicameral, os de- putados eram eleitos para mandatos de quatro anos, e os senadores, para mandatos de oito anos; no entanto, o número de representantes por estado passou a três. O Judiciário foi formado por: Supremo Tribunal Federal, Tribunal Federal de Recursos, Juízes e Tribunais Militares, Juízes e Tribunais Eleitorais, Juízes e Tribunais do Trabalho. O Executivo continuaria a ser exercido por um presidente da República e um vice, ambos com mandatos de cinco anos. O voto era direto, obrigatório e secreto. O direito de voto das mulheres foi assegurado, mas mantiveram-se ex- cluídos os analfabetos, os indivíduos privados de direitos políticos e os militares . O Estado permaneceu laico, e os direitos trabalhistas foram mantidos (garantindo o direito à greve, ainda que re- gulamentada pelo Estado e vetada para algumas categorias). A nova Constituição derrubou as restrições aos direitos indi- viduais promovidas pelo Estado Novo e, por isso, recebeu o apelido de Constituição liberal. Promoveu a liberdade de expressão, a inviolabilidade do sigilo de correspondência, a liberdade de associação e a garantia de ampla defesa aos judicialmente acusados. Sua defesa à propriedade privada supunha o pagamento de indenizações para o caso de desapropriações, o que, na prática, dificultava qualquer ten- tativa de promover uma reforma agrária. Governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) No início de seu mandato, em 1946, Dutra promoveu um alinhamento político-econômico com os Estados Unidos e, consequentemente, com o bloco capitalista. Rompeu as relações diplomáticas com a União Soviética, colocou o PCB na ilegalidade e cassou o mandato de políticos comu- nistas que haviam sido eleitos no ano anterior. Em 1949, inaugurou a Escola Superior de Guerra (ESG), que serviu como centro de combate à disseminação de ideais comu- nistas no Brasil. A ESG foi a responsável pela elaboração, em 1950, da teoria da Segurança Nacional, doutrina base- ada em preceitos de defesa das fronteiras contra “inimigos externos” e, sobretudo, combate a “inimigos internos”, ou seja, críticos do governo e comunistas. 8 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) Do ponto de vista econômico, o governo de Dutra foi marcado por dois importantes fatores: uma política de aber- tura às importações, para atrair multinacionais ao Brasil, e o Plano Salte, que consistia em investimento nos setores de saúde, alimentação, transporte e energia, por meio de em- préstimos feitos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Tais esforços se concentraram nos setores de transporte e energia. Foram construídas, por exemplo, diversas rodovias e hidrelétricas. Brasil: índices de valor real do salário mínimo – 1940-1951 Fonte: Segundo Governo Vargas (-). Índices de valor real do salário mínimo. Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/segundo- governo-vargas--/mapas/indices-de-valor-real-do-salario-minimo. Acesso em: jan. . O crescimento econômico no período, entretanto, foi baseado no endividamento. A abertura ao capital internacional contribuiu para que houvesse um esgota- mento das reservas cambiais, o que acabou favorecendo o crescimento do processo inflacionário. Com o objetivo de manter o apoio dos industriais, ficou estipulado que o salário mínimo não seria reajustado perante a inflação, o que fez o poder de compra das camadas populares cair significativamente. Observe, no gráfico a seguir, o índice do salário mínimo entre 1946 e 1951 em comparação com os anos anteriores. Atenção Para a construção do Maracanã, aconteceu uma briga entre dois políticos famosos no Rio de Janeiro na época, Carlos Lacerda e Mendes de Morais. Este era o prefeito à época da construção do Maracanã, na segunda metade da década de 40 [foi prefeito do Rio entre os anos de 1947 e 1951] e o Carlos Lacerda era opositor e queria ser o pai da construção do Maracanã. Lacerda fez de tudo para que o estádio fosse construído sob a sua batuta, ele queria que ele fosse feito em Jacarepaguá, longe do centro. [...] Mendes de Morais tomou a frente da situação e, como prefeito do Rio de Janeiro, definiu o local da construção e foi o verdadeiro pai do Maracanã. Tantoque o nome oficial do Maracanã era estádio Mendes de Morais, só depois mudou para o nome atual, Jornalista Mário Filho [irmão de Nelson Rodrigues], na década de 1960. Então a construção do Maracanã mostra bem essa guerra política para ver quem ficaria com os louros da construção do estádio: o Mendes de Morais ou o Car- los Lacerda, que depois veio até a se tornar governador do estado da Guanabara. O Maracanã é um exemplo específico de que a Copa de 1950 teve essa conotação política bem clara. Estabelecendo relações 9 F R E N T E 1 Governo de Getúlio Vargas (1951-1954) Em 1951, quando Vargas assumiu a presidência, o país estava em condições bastante distintas das quais se encontrava em 1945. No início da década de 1950, o elevado déficit público e a inflação crescente afetavam diretamente as classes trabalhadoras, principal grupo de apoio político de Getúlio Vargas. Além disso, o presidente sofria forte oposição encabeçada pela UDN e por um de seus principais representantes, o jornalista Carlos Lacerda, que constantemente criticava a política desenvolvimentista de Vargas. Lacerda também afirmava que a aproximação do presidente com as organizações trabalhistas era uma tentativa de montar, no Brasil, uma “República dos Sin- dicatos”, analogia aos sovietes da União Soviética, que constituíam conselhos ou órgãos deliberativos formados por operários. Mesmo diante das críticas, para tentar conter os pro- blemas econômicos e sociais, Vargas manteve sua política nacional-desenvolvimentista. A base dessa política foi o Plano Lafer, responsável pela criação de estatais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), a Eletrobras (que só foi fundada em 1962) e a Petrobras (1953), lançada sob a campanha “O petróleo é nosso”. Com a descoberta de reservas de petróleo na costa da Bahia, Vargas pretendia que a recém-criada Petrobras tivesse o monopólio na extração. fizesse um acordo com os sindicatos. Jango, como João Goulart era conhecido, era um importante aliado político de Vargas e, com carta branca e aprovação do presidente, acordou um reajuste de 100% no salário mínimo. Esse conjunto de medidas promoveu um recrudescimento na oposição. A campanha “O petróleo é nosso” contrariava os interesses das grandes petrolíferas, em sua maioria esta- dunidenses. A Lei dos Lucros Extraordinários foi interpretada, ainda que de forma equivocada, como uma tentativa de esta- tizar as multinacionais. No contexto da Guerra Fria, as ações que não estavam alinhadas aos interesses políticos e eco- nômicos dos Estados Unidos geralmente eram interpretadas como comunistas. A medida tomada por Jango também gerou descontentamento e levou 79 militares a assinar um docu- mento chamado “Manifesto dos Coronéis” para expressar a insatisfação com o aumento proposto e os salários do exército. Cada vez mais crítico das ações de Vargas, Carlos Lacerda passou a contar com membros das forças militares para sua segurança pessoal. Nesse momento, sobretudo o alto escalão da aeronáutica e do exército havia assumido significativamente uma postura de oposição em relação a Vargas. No dia 5 de agosto de 1954, teve início uma série de eventos que levou o mandato de Vargas a um desfecho inesperado. Chegando em sua casa, Lacerda sofreu um atentado a tiros que acabou matando Rubens Vaz, major da aeronáutica e segurança pessoal do jornalista. Lacerda, que foi atingido no pé durante o atentado, acusou publica- mente Vargas de ter sido o mandante do crime, conhecido como “atentado da Rua Tonelero”, endereço da residência de Lacerda na cidade do Rio de Janeiro, onde ocorreu o episódio. No jornal Tribuna da Imprensa, Lacerda escreveu o seguinte sobre o atentado: “Perante Deus, acuso um só homem como responsável por esse crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como os dessa noite. Este homem chama-se Getúlio Vargas [...] ele está deposto moralmente pelo sangue que fez derramar”. Selo comemorativo da criação da Petrobras em que Vargas é representado com a mão suja de petróleo. Um dos principais problemas de Vargas era lidar com as multinacionais que chegaram ao país durante o governo Dutra. O capital gerado por essas empresas em território nacional saía do Brasil e era direcionado para o país de origem das multinacionais. Como medida para manter os lucros no Brasil, em 1953, Vargas tentou aprovar no Con- gresso a Lei dos Lucros Extraordinários, cuja proposta era impor um limite sobre o envio dos lucros das companhias estrangeiras para o exterior. Caso desejassem expatriar maiores quantidades de capital, essas empresas deveriam promover investimentos no Brasil como contrapartida. Para melhorar a condição dos trabalhadores, Vargas permitiu que seu então ministro do Trabalho, João Goulart, Carlos Lacerda com o pé enfaixado, 5, Rio de Janeiro (RJ). O atentado aumentou a pressão contra o governo, e a situação tornou-se crítica quando as investigações apontaram Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas, como o mandante do crime. Nesse momento, a oposição começou a organizar de forma categórica a derrubada do presidente. A ce rv o Ic on og ra fia E m pr es a B ra si le ira d e C or re io s e Te lé gr af os 10 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) No dia 14 de agosto, 1500 oficiais se reuniram no Clube Militar, exigindo a renúncia de Vargas. Em 21 de agosto, o vice-presidente João Café Filho propôs que ambos renunciassem. Na madrugada do dia 23 para 24 de agosto, Vargas recebeu um ultimato dos militares para que abandonasse o cargo. Vargas se reuniu com seus ministros, aliados e familiares, mas não conseguiram chegar a nenhum consenso. Na manhã do dia 24 de agosto, Lutero Vargas, filho de Getúlio, encontrou o pai morto em seus aposentos. Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no peito, deixando uma carta-testamento que foi lida na rádio, provocando grande comoção nacio- nal. Jornais que faziam oposição ao governo foram invadidos e depredados pela população que tomou as ruas durante o cortejo fúnebre do presidente. A pressão sobre Vargas, promovida tanto pelos militares como pela UDN, foi o início de uma série de tentativas de golpe que assolaram o país ao longo da década seguinte. As primeiras tentativas de golpe Nesse delicado contexto, o vice-presidente João Café Filho (1899-1970) assumiu a presidência para terminar o man- dato de Getúlio Vargas. As eleições presidenciais, em 1955, foram polarizadas por getulistas e antigetulistas. Entre os apoiadores de Vargas, o PSD indicou o então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek (1902-1976), enquanto o PTB lançou João Goulart para vice. A UDN, que liderava a oposição, indicou como candidato o ex-tenentista Juarez Távora. Também concorreram Adhemar de Barros, pelo PSP, e Plínio Salgado, pelo PRP. Juscelino Kubistchek e João Goulart foram eleitos, respectivamente, presidente e vice-presidente. Observe no mapa a seguir a votação por estado para presidência da República em 1955. A eleição Juscelino Kubistchek e Jango, sucessores diretos de Getúlio Vargas, causou revolta entre os setores da oposição. Para eles, Jango estava alinhado a ideias comunistas. Um documento falso indicando uma possível articulação de Jango com Perón, então presidente da Argentina, chegou a circular pelo país no intuito de denunciar a relação de Jango com o comunismo, embora essa ideia fosse bastante contraditória, já que Perón liderou perseguições contra os comunistas na Argentina. Além disso, a UDN e as principais lideranças atreladas à Escola Superior de Guerra estavam determinadas a impedir a posse de Juscelino. Brasil: eleição de Juscelino Kubitschek – 1955 Soma dos votos em todo o país Equador Trópico de Capricórnio 0° OCEANO ATLÂNTICO 50° O Fonte: elaborado com base em A apertada eleição de JK. Governo Café Filho (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-cafe-filho--/mapas/apertada-eleicao-de-jk. Acesso em: jan. . 11 FR E N T E 1 No dia 1 de novembro de 1955, a fala de um oficial do exército contra a eleição de Juscelino foi interpretada pelo então ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, como incitação ao golpe. Dois dias depois, Café Filho sofreu um ataque cardíaco e foi afastado da presidência. Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, o sucedeu para finalizar o man- dato, mas acabou se aliando aos golpistas que pretendiam impedir a posse de Juscelino. Antes que o golpe fosse consumado, Teixeira Lott deu um golpe preventivo. Em 10 de novembro, colocou as tropas sob seu comando nas ruas, depôs Carlos Luz e empossou o presidente do Senado, Nereu Ramos, para garantir a posse de Juscelino em 31 de janeiro de 1956. Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) Mesmo após enfrentar uma série de conflitos até assumir a presidência, Juscelino não teve um mandato tranquilo. Em abril de 1956, o Congresso tentou aprovar uma reforma política para substituir o regime presidencialista pelo parlamentarismo, com o intuito de reduzir os poderes do Executivo. A proposta, no entanto, foi derrotada no Legislativo. Durante sua gestão, quatro outras tentativas de golpe aconteceram. No campo econômico, o período foi marcado por um acelerado crescimento industrial. Uma das principais propostas de Juscelino era industrializar o Brasil o equivalente a “50 anos em 5”. Para isso, foi traçado o Plano de Metas, que consistia em uma estratégia de caráter desenvolvimentista com capital misto, ou seja, além de empréstimos estrangeiros, destinados à infraestrutura, também seriam usados capital público e privado para investir na indústria de bens de consumo duráveis. As metas estavam divididas em cinco setores: alimentação, energia, indústria de base, educação e transporte. No entanto, assim como ocorreu no governo Dutra, energia e transporte receberam maior atenção. Foi durante o governo de Juscelino que o Brasil consolidou sua estrutura para o transporte rodoviário, o que, por sua vez, foi fundamental para atrair montadoras automobilísticas para o país. Observe no mapa a seguir a expansão da malha rodoviária no Brasil entre 1957 e 1964 e os dados relativos ao pessoal ocupado na indústria em 1957. Brasil: expansão da malha rodoviária 1957-1964 OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO Equador Trópico de Capri córnio 0° 50° O Fonte: elaborado com base em Estradas de rodagem – a expansão de -. Governo Juscelino Kubitschek (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-juscelino-kubitschek--/mapas/estradas-de-rodagem-expansao-de--. Acesso em: jan. . Juscelino Kubitschek, conhecido como “presidente bossa nova”, em alusão ao estilo musical que despontava naquele momento sob influência do samba e do jazz. G al er ia d e P re si de nt es /G ov er no d o B ra si l 12 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) Em 1955, durante a breve presidência de Café Filho, o então ministro da fazenda Eugênio Gudin, em aliança com o presidente da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), um embrião do que viria a ser o Banco Central, montou uma política econômica pautada na abertura do país ao capital internacional. No governo JK essa política foi mantida e ampliada ao garantir facilidades a empresas estrangeiras que importassem máquinas e equipamentos para o Brasil. Essa medida facilitava uma possível remessa ilegal de lucros ao exterior por meio da compra de equipamentos muitas vezes considerados obsoletos e tornava o Brasil um lugar interessante para os conglomerados multinacionais. A construção de uma nova capital foi o grande marco do governo Juscelino. A ideia, no entanto, não surgiu no governo JK. Ela já havia sido proposta na Constituição de 1891, com o argumento de que uma capital localizada no interior do território seria menos vulnerável que uma capital localizada no litoral. Apesar disso, no contexto da década de 1950, a mudança da capital para a região Centro-Oeste do país teve como objetivo principal impulsionar as demais metas do plano econômico do governo. Para construir uma nova cidade, que seria planejada pelo urbanista Lúcio Costa e cujas edificações seriam desenhadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer, era preciso construir estradas que conectassem as diversas partes do país ao novo centro político administrativo do Brasil, além da infraestrutura para a futura cidade. Outro projeto que buscou promover o desenvolvimento de regiões foi a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), criada em 1959, cuja estratégia de atuação ficou a cargo do economista Celso Furtado até 1964. Apesar do amplo desenvolvimento industrial houve um significativo agravamento da situação econômica com a retoma- da do processo inflacionário e o crescimento da dívida externa. A desvalorização da moeda fortaleceu a exportação de insumos agrícolas, e o Brasil passou a sofrer com uma crise de abastecimento. Ao final do mandato, a popularidade de Juscelino estava em queda e havia acusações de corrupção relacionada à Sudene, embora não houvesse prova disso. Nesse contexto desfavorável, Juscelino não conseguiu eleger Henrique Lott, seu candidato à presidência nas eleições de 1960, que acabou derrotado por Jânio Quadros. Estabelecendo relações Governo de Jânio Quadros (1961) Dotado de uma retórica moralista, teatral e caricata, Jânio Quadros foi eleito com a promessa de salvar o Brasil da corrupção. A vassoura foi o grande símbolo da campanha política de Jânio Quadros, que prometia “varrer” a corrupção do Brasil. Um trecho de um dos jingles mais conhecidos de sua campanha eleitoral dizia “ Varre, varre, varre vassourinha! /Varre, varre a bandalheira!”, e nos comícios eleitorais de Jânio Quadros, seus apoiadores costumavam erguer vassouras para o alto. Em seus discursos, usava um português bastante rebuscado para passar uma imagem intelectualizada. Também jogava talco em seu cabelo e no paletó para simular que tinha “caspa” e ser visto como um homem próximo ao povo. Na legislação da época o presidente e o vice-presidente eram eleitos separadamente, por isso, embora Jânio Quadros tenha sido eleito com o apoio da UDN e vencido o candidato de Juscelino Kubistchek, quem conquistou a vaga de vice-pre- sidente foi João Goulart, político aliado a Getúlio Vargas. Essa e outras contradições marcaram o período. A retórica moralista transpareceu em uma série de medidas tomadas por Jânio Quadros: proibiu apostas em corridas de cavalo durante os dias da semana, o uso de lança perfume, rinhas de galo e biquínis nas praias. A política econômica foi pautada em um pacote de cortes de gastos públicos, de medidas recessivas e com aumento de tributos. O FMI, satisfeito com a economia de contenção, concedeu dois novos empréstimos ao Brasil. 13 F R E N T E 1 Mas a condução das relações internacionais foi o que gerou maiores controversas. Isso porque, em meio à Guerra Fria, Jânio optou por uma polí- tica externa independente. Esse posicionamento adotado pelo presidente levou o Brasil, alinhado com os Estados Unidos desde o governo Dutra, a retomar as relações com o bloco oriental soviético. Além de enviar Jango para a China a fim de estabelecer relações econômicas, Jânio recebeu, em Brasília, o líder revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Se por um lado a oposição a Jânio cresceu em virtude de sua política externa, que aproximou o país das ideias comu- nistas, sua renúncia acarretou a posse de João Goulart, constantemente taxado de comunista pela mídia, pelas classes conservadoras e por outros políticos. No momento da renúncia de Jânio, João Goulart estava na China, e o cenário havia se tornado favorável ao golpe. Ranieri Mazzilli, então presidente da Câmara dos Deputados, foi empossado como presidente, e parte do Congresso, com o apoio de militares, estava determinada a impedir a volta de Jango ao Brasil. Governo de João Goulart (1961-1964) Em oposição aos que não queriam que Jango assumisse a presidência, Leonel Brizolae Tancredo Neves organizaram uma campanha legalista em defesa do cum- primento da Constituição. Contra a tentativa de golpe, sucederam-se passeatas e comícios nos grandes centros urbanos, assim como uma greve nacional, apoiada pela União Nacional dos Estudantes (UNE). Brizola já estava determinado a dar início a uma guerra civil, quando Tancredo Neves, que tinha bom trânsito entre os diversos agrupamentos políticos, conseguiu um acordo para o retorno de João Goulart. No dia 2 de setembro de 1961, como resultado do acordo obtido por Tancredo, foi assinada uma Emenda Constitucional que instituiu o sistema parlamentar de governo. Jango voltaria, mas com poderes limitados. Pela emenda, o presidente nomearia o Presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro) que, por sua vez, nomearia os demais ministros do Estado; no entanto, o primeiro-ministro e os ministros nomeados precisavam ser aprovados pelo Congresso, o que conferia maior poder ao Legislati- vo. Previa-se, ainda, a realização, em 1965, de um referendo para decidir acerca da continuidade ou não do parlamentarismo. Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública. Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia. Saiba mais Em agosto de , Jânio condecorou Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul no intuito de fortalecer vínculos com Cuba, que havia passado por um processo revolucionário anos antes. Para que a oposição aceitasse a posse de João Goulart foi preciso um acordo que limitasse seus poderes como presidente. Fotografia de . Carlos Lacerda e a UDN romperam com o presidente em retaliação à postura que aproximou o Brasil da China e de Cuba, inimigos dos Estados Unidos. O presidente ficava cada vez mais isolado politicamente e com pouco apoio parla- mentar no Congresso. Foi então que, de forma súbita, Jânio entregou uma carta ao Congresso anunciando sua renúncia. A gê nc ia N ac io na l/A rq ui vo N ac io na l Jo hn F . K en ne dy P re si de nt ia l L ib ra ry a nd M us eu m 14 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) Parlamentarismo (1961-1963) No período do governo parlamentar de João Goulart, o contexto internacional foi marcado por um dos momen- tos mais delicados de toda a Guerra Fria, em que ficou iminente a eclosão de um conflito nuclear: a Crise dos Mísseis. Em 1962, mísseis soviéticos foram trazidos para Cuba, e a proximidade da ilha caribenha com os Estados Unidos levou ao limite a tensão com a União Soviética, afetando as relações políticas de quase todo o mundo. Além da crise política, o Brasil enfrentava uma crise econômica e social. O processo inflacionário se mantinha crescente, impulsionando agitações populares em todo o país. No campo, os movimentos rurais, por meio da atuação das Ligas Camponesas, lideradas por Francisco Julião Arruda de Paula (1915-1999), exigiam uma reforma agrária; nas cidades, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) passou a coordenar as greves, cada vez mais constantes no país. Em pouco mais de 15 meses de parlamentarismo, o Brasil teve três primeiros-ministros (Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima). No entanto, os problemas mais sérios do país não foram combatidos, como o endividamento, o aumento da inflação e a instabilidade política. Com a aprovação do Congresso, o referendo para decidir sobre o sistema de governo foi adiado para 1963, quando a população votou pelo fim do parlamentarismo. Era a segunda vez que a população votava em João Goulart, a primeira quando o elegeu vice-presidente e, agora, pelo retorno ao presidencialismo. Observe, a seguir, o resultado do plebiscito de 1963 em todo o território nacional. Imagem utilizada pelas agências estadunidenses para justificar a existência de mísseis soviéticos em Cuba, em 2. As cotas em inglês indicam a tenda de mísseis, a posição de lançamento deles e o local de armazenamento do combustível. Brasil: plebiscito referente ao retorno ao presidencialismo – 1963 OCEANO ATLÂNTICO Equador Trópico de Capricórnio 0° 50° O Fonte: elaborado com base em Governo João Goulart (-). Plebiscito de der- ruba o parlamentarismo. Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https:// atlas.fgv.br/marcos/ governo-joao-gou- lart--/mapas/ plebiscito-de--der- ruba-o-parlamentarismo. Acesso em: jan. . A rq ui vo N ac io na l d os E st ad os U ni do s 15 F R E N T E 1 Presidencialismo (1963-1964) Uma vez restaurado o presidencialismo, Jango ainda teria o mandato até 1965. Para lidar com a situação da economia nacional, o presidente reuniu uma equipe de intelectuais, como o economista Celso Furtado, responsável pela criação da Sudene no governo de Juscelino Kubitschek, para montar o Plano Trienal. A proposta era contornar a crise econômica sem que houvesse prejuízos à perspectiva desenvolvimentista. Ao aumentar os impostos sobre os grupos mais ricos, um dos pontos do Plano Trienal, o empresariado se sentiu prejudicado. Da insatisfação da classe patronal decorreu que, nos primeiros seis meses de 1963, houve um decréscimo de 30% no volume de créditos bancários obtidos pelo setor privado. O plano econômico de Jango não conseguiu apoio dos industriais nem dos trabalhadores, mostrando-se inviável. Ao final de 1963, o PIB brasileiro havia sofrido intensa desaceleração, chegando a valores abaixo de 1%. Observe, no gráfico a seguir, os índices econômicos durante o governo de João Goulart. Brasil: índices econômicos no governo João Goulart – 1961-1964 Fonte: Governo João Goulart (-). Índices econômicos no governo Jango. Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-joao-goulart--/mapas/indices-economicos-no-governo-jango. Acesso em: jan. . João Goulart manteve, então, a postura de não alinhamen- to político e aproximação econômica com a União Soviética e passou a trocar café por petróleo e helicópteros com a antiga Tchecoslováquia. As medidas não foram suficientes, e como era necessário ga- rantir a governabilidade mesmo sem o apoio de parte do Legislativo, Jango optou por uma nova estratégia: discutir as propostas políticas e econômicas diretamente com o povo por meio de comícios. Ao conquistar o apoio das massas, ele poderia governar por decretos, atravessando o Legislativo. Caso houvesse algum tipo de ruído por parte do Congresso, seria possível recorrer a plebiscitos para demonstrar que tinha o apoio popular. O primeiro comício ocorreu em 13 de março de 1964, na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse momento, Jango apresentou para uma grande plateia suas Reformas de Base, cujas propostas abarcavam reforma tributária para que as grandes fortunas fossem taxadas de maneira diferenciada, reforma bancária para que houvesse maior controle sobre os juros, reforma política que inseria os analfabetos e as baixas patentes militares no sistema de eleições, reforma educacional que expandiria as escolas públicas, reforma urbana para conter a especulação imobiliária e, por fim, reforma agrária para distribuir terras aos camponeses. Em São Paulo, em março de , foi organizada a “Marcha da família com Deus pela liberdade”, cujo objetivo era manifestar uma reação conservadora às reformas de Jango. A rq ui vo N ac io na l/ Fu nd o A gê nc ia N ac io na l % % % % % % 16 HISTÓRIA Capítulo República Democrática(-) Ao mesmo tempo que conquistava o apoio da po- pulação, a oposição a Jango crescia em grande medida, principalmente de latifundiários, da classe empresarial e de parte da classe média. Esses setores, impulsionados pelo contexto da Guerra Fria, entendiam as propostas de reforma do presidente como medidas alinhadas ao comunismo. Em apoio às reformas propostas pelo presidente, houve um motim de marinheiros. Como resposta, o alto escalão do exército, da marinha e da aeronáutica se posicionava cada vez mais contrário ao governo, acusando Jango de incentivar rupturas hierárquicas. O clima era de profunda tensão no país. No dia 30 de março, Jango fez um discurso no Automóvel Clube para obter apoio dos setores mais radicais do exército. O dis- curso foi visto como uma ameaça à ordem, uma vez que o presidente estaria passando por cima da autoridade dos Revisando 1. Acafe-SC 2018 Após a saída de Getúlio Vargas do poder em o então Ministro da Guerra do Es- tado Novo, General Eurico Gaspar Dutra, foi eleito presidente do Brasil. Entre as características do seu governo, pode-se destacar, exceto: a) Uma nova constituição foi aprovada e o voto tornou- -se obrigatório para todos os brasileiros alfabetizados, maiores de 18 anos e de ambos os sexos. b) Alinhamento com o bloco capitalista liderado pe- los Estados Unidos e rompimento de relações diplomáticas com a União Soviética. c) Criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), fundação da Petrobras e iní- cio da campanha nacional “O petróleo é nosso”. d) Propôs o SALTE, um plano econômico desenvol- vimentista que priorizava investimentos na Saúde, Alimentação, Transporte e Energia. 2. Enem 2021 Quando Getúlio Vargas se suicidou, em agosto de 1954, o país parecia à beira do caos. Acuado por uma grave crise política, o velho líder preferiu uma bala no peito à humilhação de aceitar uma nova deposi- ção, como a que sofrera em outubro de 1945. Entretanto, ao contrário do que imaginavam os inimigos, ao ruído do estampido não se seguiu o silêncio que cerca a derrota. REIS FILHO, D. A. O Estado à sombra de Vargas. Revista Nossa História, n. 7, maio 2004. O evento analisado no texto teve como repercussão imediata na política nacional a: a) reação popular b) intervenção militar c) abertura democrática d) campanha anticomunista e) radicalização oposicionista 3. Acafe-SC 2021 Passaram-se anos da morte de Getúlio Vargas, em . Para muitos, um excelen- te presidente, para outros um ditador. Ainda hoje, a trajetória política de Getúlio Vargas suscita o interesse da historiografia brasileira, atestado pelas constantes obras e teses que analisam seu governo. Acerca do seu governo de a é correto afirmar: a) Getúlio Vargas chegou a limitar a remessa para o exterior de lucros de empresas estrangeiras. Criou também o BNDE (Banco Nacional de De- senvolvimento Econômico), para incentivar a área industrial. b) O conhecido atentado da rua Toneleros, contra a vida de Getúlio Vargas, desencadeou uma grande onda de protestos por todo o Brasil. Neste aten- tado morreu o Major da Aeronáutica Rubens Vaz. c) O suicídio de Getúlio Vargas ocorreu logo após a sua destituição do cargo de presidente da repúbli- ca e a nomeação de um interventor federal pelos militares ligados ao Ministério da Aeronáutica. d) Ao nomear Carlos Lacerda da UDN (União Demo- crática Nacional), para o Ministério do Trabalho, Vargas obteve apoio da oposição para a implan- tação da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho). 4. Acafe-SC 2021 Chamado de presidente “Bossa-No- va”, em uma alusão ao estilo musical que aparecia e se destacava na década de (XX), Juscelino Kubits- chek foi eleito presidente da república, prometendo um plano desenvolvimentista. Acerca do governo do presidente Juscelino Kubitschek, todas as alternativas estão corretas, exceto a alternativa: a) Juscelino realizou a construção de uma nova ca- pital para o Brasil: Brasília, no Planalto Central. Brasília tornou-se símbolo de modernidade e integração nacional. Foi inaugurada em abril de 1960. b) Em seu “plano de metas – crescer 50 anos em 05 anos”, Juscelino promoveu grandes investimentos nas indústrias de base e nas áreas de transporte e produção de energia. generais ao falar diretamente com seus subalternos. Em reação direta, o general Olímpio Mourão Filho, em Juiz de Fora, Minas Gerais, deu início à “Operação Popeye”, que deslocou indivíduos da Quarta Região Militar e da Polícia Militar de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. No dia 1 de abril, as tropas do exército chegaram ao Rio de Janeiro e tomaram o Forte de Copacabana. João Goulart, em reunião no Palácio das Laranjeiras, optou por viajar para Porto Alegre. Alguns militares se opuseram ao golpe e, juntamente com Leonel Brizola, aconselharam o presidente a resistir à ofensiva do Exército, chegando a mobilizar tropas no Rio Grande do Sul. Jango, temendo uma guerra civil, negou qualquer tipo de resistência. Em 2 de abril de 1964, o Congresso Nacional apro- vou a declaração de vacância da Presidência da República, consumando o golpe militar. No dia 4 de abril, João Goulart deixou o Brasil e se exilou no Uruguai. 17 F R E N T E 1 c) Foi criada a Petrobras, possibilitando ao Brasil uma autossuficiência na produção de combus- tível. Isso foi determinante para e entrada, no Brasil, das fábricas de automóveis. d) O prometido crescimento econômico de Jusce- lino, teve um preço: a inflação cresceu e a dívida externa do Brasil cresceu. Esse crescimento não beneficiou todas as camadas sociais, e muitas de- sigualdades sociais permaneceram. 5. Enem 2013 Seu estilo político e personalidade entusiasta re- forçam o tradicional senso de otimismo brasileiro, pois enfatizava soluções ao invés de problemas. Ele irradiava confiança no país e em sua capacidade de unir-se ao mundo industrial. SKIDMORE, T. Uma história do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 204. Essa visão especíca sobre os anos JK encontra res- paldo em alguns episódios de época, como a(o) a) inauguração do Cristo Redentor e a instalação da Companhia Siderúrgica Nacional b) emergência das chanchadas e do Plano SALTE c) realização da Semana de Arte Moderna e a assi- natura do Convênio de Taubaté d) nascimento da Tropicália e a ocorrência do “mila- gre econômico” e) surgimento da bossa nova e a inauguração de Brasília 7. Uece 2020 Quando, em agosto de , Ernesto ‘Che’ Guevara foi condecorado com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, maior honraria que o Estado brasi- leiro oferece a alguma personalidade estrangeira, estava demonstrada a posição da política externa independente do Brasil em relação às potências da época. Esse episódio é considerado como um dos fa- tores que contribuíram para a) o governo de João Goulart sofrer, em 31 de mar- ço de 1964, o golpe militar que instaurou os 21 anos de governos ditatoriais militares. b) o desencadeamento da crise de apoio popular que levou o governo de Getúlio Vargas a ser destituído e à realização de eleições livres para presidência da república. c) o agravamento da crise política urdida por líderes conservadores de direita, como Carlos Lacerda, e para a renúncia do Presidente Jânio Quadros. d) o aumento da popularidade de Juscelino Kubis- tchek, que a utilizou para eleger seu candidato como sucessor na presidência da república. 8. Uece 2018 Como outros governantes brasileiros do século XX, Jânio Quadros também não concluiu seu mandato presidencial. O fim precoce do governo de Jânio Quadros deveu-se a) ao golpe civil-militar que, em março de 1964, derrubou o governo e estabeleceu 21 anos de governo ditatorial conduzidos por militares. b) ao seu suicídio, ocorrido ainda em agosto de 1961, em função da grave crise econômica e po- lítica em seu governo. c) à sua inesperada renúncia apresentada ao con- gresso em uma carta na qual dizia ter forças terríveis agindo contra ele. d) ao processo de impeachment aberto contra ele a partir das denúncias de corrupção feitas pelo seu próprio irmão aos órgãos da mídia.JK — Você agora tem automóvel brasilei- ro, para correr em estradas pavimentadas com asfalto brasileiro, com gazolina brasileira. Quer mais quer? JECA — Um prato de feijão brasileiro, seu doutô! THÉO. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através da caricatura (1840-2001). Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2001. A charge ironiza a política desenvolvimentista do go- verno Juscelino Kubitschek, ao: a) evidenciar que o incremento da malha viária dimi- nuiu as desigualdades regionais do país. b) destacar que a modernização dinamizou a produ- ção de alimentos para o mercado interno. c) enfatizar que o crescimento econômico implicou aumento das contradições socioespaciais. d) ressaltar que o investimento no setor de bens du- ráveis incrementou os salários dos trabalhadores. e) mostrar que a ocupação de regiões interioranas abriu frente de trabalho para a população local. 6. FMP-RJ 2019 Estudando a situação do Brasil durante o governo de Juscelino Kubitschek (-), o bra- silianista Thomas Skidmore escreveu: Além dos avanços econômicos diretos havia também mais benefícios políticos indiretos gerados pela estratégia econômica de Juscelino. 18 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) 9. Acafe-SC 2021 Após a renúncia de Jânio Quadros à presidência da República, criou-se um impasse pela oposição em relação à posse do vice-presidente, João Goulart (Jango). Dentro deste contexto todas as alternativas estão corretas, exceto a alternativa: a) Com o impasse criado para a posse de João Gou- lart, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola iniciou uma campanha pela posse do vice- -presidente, foi a Campanha da legalidade. b) Para a posse de João Goulart, foi instaurado o par- lamentarismo com o objetivo de enfraquecer sua atuação, já que seus poderes estariam limitados. c) Quando Jânio Quadros renunciou à presidência da República, João Goulart estava em visita oficial à China. d) Apesar da resistência da oposição, os militares asseguraram a imediata posse de João Goulart e garantiram apoio ao seu governo. 10. UEPG-PR 2020 O chamado “período de redemocratiza- ção”, ocorrido entre e , está situado entre o fim do Estado Novo e o início da ditadura civil-militar. A res- peito desse período histórico, assinale o que for correto. O presidente Juscelino Kubitschek construiu a ci- dade de Brasília e transferiu a capital federal do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste brasileiro. Jânio Quadros, presidente eleito pelo voto direto, renunciou ao cargo poucos meses após assumir a presidência. Getúlio Vargas voltou ao poder por meio do voto direto, mas acabou se suicidando após uma longa crise política. Apoiado pelos militares, João Goulart fechou o Congresso Nacional, mandou prender adver- sários políticos e ampliou seus poderes após o golpe de 1964. Soma: Exercícios propostos 1. FGV-SP 2019 Houve movimentos militares em 1945, 1954, 1964, uma tentativa frustrada em 1961 e um outro movimento em 1955, que precipitou um contramovi- mento em defesa das autoridades constitucionais. Os anos de 1945 a 1964 assinalam o período da primeira experiência do Brasil com uma política competitiva, de- mocrática e aberta. Stepan, A. Os militares na política. As mudanças de padrões na vida brasileira. Rio de Janeiro: Artenova, 1975, p. 66. Sobre os movimentos militares citados no texto é cor- reto a rmar: a) Foram movimentos anticomunistas impulsionados pela polarização ideológica da Guerra Fria. b) Em 1945 e 1964, os presidentes da República foram destituídos, marcando o início de novos pe- ríodos políticos. c) A intervenção mais aguda ocorreu em 1961 com a implementação do regime presidencialista. d) Em seu conjunto, percebe-se a inexistência de correntes políticas de opiniões distintas no seio das Forças Armadas brasileiras. e) Tais intervenções militares revelam a caracterís- tica democrática e civil da história da República brasileira. 2. FGV-SP A gestão do Presidente Eurico Gaspar Dutra foi marcada pela adoção de medidas que visavam à modernização das instituições político-administrati- vas. Entre essas mudanças, pode ser destacada: a) a aprovação de uma nova Constituição que, embora seguisse princípios liberais e democráticos, manti- nha a proibição ao direito de voto das mulheres. b) a aproximação com a União Soviética, em função do enorme prestígio dos parlamentares ligados ao PCB. c) a extinção do corporativismo, com a regulamen- tação de centrais sindicais livres da tutela do Estado. d) a implantação de um plano de metas (Plano Salte) que visava atender às necessidades da industria- lização e do abastecimento doméstico. e) a recusa de participação na Organização dos Estados Americanos (OEA), por considerá-la um instrumento de consolidação da hegemonia nor- te-americana na América Latina. 3. Cefet-MG 2018 A industrialização realizada durante os anos 50 trouxe consigo a modernização do Brasil. Modernização dos homens, tornando-os cada vez mais urbanos. Modernização de seus pensamentos e hábitos, tornando-os consumistas. Modernização do modo de vida, das cidades, da arquitetura, das artes, da técnica, da ciência. RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo: Ática, 1992. p. 31. Sobre a modernização do modo de vida brasileiro nos anos , é INCORRETO a rmar que a) atingiu de maneira uniforme todas as parcelas da população, independentemente de classe social e de localização geográfica. b) teve como símbolo do progresso e da liberdade o automóvel, indispensável para vencer as distân- cias nas grandes cidades. c) consolidou o poder homogeneizador da indústria cultural, com o desenvolvimento da publicidade e o avanço dos meios de comunicação de massa. d) representou a criação de novos hábitos, como o uso de roupas de tecidos sintéticos, o consumo de alimentos enlatados e a aquisição de eletro- domésticos. 19 F R E N T E 1 4. FICSAE-SP 2016 b) a tentativa de assassinato sofrida pelo jornalis- ta Carlos Lacerda por apoiar os assessores do presidente que discordavam de suas ideias e o avanço dos conservadores foi intensificado pela ação dos militares. c) o presidente sentiu-se impotente para atender a seus inimigos, como Carlos Lacerda, que o pressionavam contra a ditadura e os aliados do presidente teriam que aguardar mais uma década para concretizar a democracia progressista. d) o jornalista Carlos Lacerda foi responsável direto pela morte do presidente e este fato veio impedir definitivamente a ação de grupos conservadores. e) o presidente cometeu o suicído para garantir uma definitiva e dramática vitória contra seus acusado- res e oferecendo a própria vida Vargas facilitou as estratégias de regimes autoritários no país. 6. Unesp 2015 Examine a charge do cartunista Théo, publicada na revista Careta em ... Flavio de Campos e Miriam Dolhnikoff. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1994, p.58. “Você é que é feliz”... Getúlio: – Ser pai dos pobres dá mais trabalho do que ser Papai Noel! Você só se amofina no Natal: a mim eles chateiam o ano inteiro! Isabel Lustosa. Histórias de presidentes, 2008. O apelido de “pai dos pobres”, dado a Getúlio Vargas, pode ser associado: a) ao autoritarismo do presidente diante dos mo- vimentos sociais, manifesto na repressão às associações de operários e camponeses. b) aos esforços de negociação com a oposição, com a decorrente distribuição de cargos administrati- vos e funções políticas. c) ao caráter popular do regime, originário de uma revolução social e empenhado no combate à bur- guesia industrial brasileira. d) à política de concessões desenvolvida junto a sin- dicatos, como contrapartida do apoio político dos trabalhadores. e) à supressão de legislação trabalhista no país, que obrigava o governo a agir de forma assis- tencialista. Os grácos acima mostram os resultados das eleições presidenciais brasileiras de , e . Eles permitem constatar a) o declínio da influência política dos estadosde São Paulo e Minas Gerais, que não conseguiram eleger seus candidatos à presidência. b) a ausência de oposição clara ao projeto traba- lhista, o que facilitou a vitória eleitoral de Getúlio Vargas e dos candidatos apoiados por ele. c) a lógica bipartidária, que impedia o surgimento de uma terceira força política, capaz de enfrentar os candidatos da aliança PTB e PSD. d) a força do varguismo, expressa nos seguidos sucessos eleitorais dos trabalhistas e que prosse- guiu mesmo após a morte do seu líder. 5. Enem Zuenir Ventura, em seu livro “Minhas memó- rias dos outros” (São Paulo: Planeta do Brasil, ), referindo-se ao fim da “Era Vargas” e ao suicídio do presidente em , comenta: Quase como castigo do destino, dois anos depois eu iria trabalhar no jornal de Carlos Lacerda, o inimigo mortal de Vargas (e nun- ca esse adjetivo foi tão próprio). Diante daquele contexto histórico, muitos estudiosos acreditam que, com o suicídio, Getúlio Vargas atingiu não apenas a si mesmo, mas o coração de seus aliados e a mente de seus inimigos. A armação que aparece “entre parênteses” no co- mentário e uma consequência política que atingiu os inimigos de Vargas aparecem, respectivamente, em: a) a conspiração envolvendo o jornalista Carlos La- cerda é um dos elementos do desfecho trágico e o recuo da ação de políticos conservadores devi- do ao impacto da reação popular. 20 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) 7. UEM-PR 2017 No Brasil do final dos anos de e início da década de , vivia-se o período chamado de liberal-democrático, no qual políticas voltadas para o desenvolvimento nacional eram implementadas e o apelo popular da figura política de Getúlio Vargas ain- da era muito forte. Sobre esse período, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). O texto da Constituição de 1946 previa uma rotina democrática para as instituições republi- canas, garantia a liberdade de imprensa e de opinião, reconhecia a importância dos partidos políticos e ampliava o escopo democrático da República, incorporando, como eleitores, o contingente populacional com idade a partir de dezoito anos. A Constituição de 1946 estendeu vários direitos sociais aos trabalhadores rurais, através de uma legislação trabalhista moderna e eficiente. O governo do general Eurico Gaspar Dutra, apoia- do pelo PSD-PTB, adotou uma política conflituosa com os Estados Unidos e intensificou as relações diplomáticas com a União Soviética. Durante esse período, a defesa do monopólio da exploração do petróleo pelo Estado havia se transformado em um dos maiores movimentos de opinião pública da nação. A Campanha do Petróleo abrigou grupos políticos heterogêneos, a saber: militares, comunistas, católicos, traba- lhistas. A União Nacional dos Estudantes (UNE) lançou, inclusive, a palavra de ordem: “O petróleo é nosso!”. Carlos Lacerda, da UDN, representou um dos prin- cipais porta-vozes de apoio ao governo de Getúlio Vargas, que regressava ao Palácio do Catete, sede do governo federal, pelo voto direto popular. Soma: 8. UEMG 2017 Os liberais-conservadores não se conforma- vam com Vargas na presidência da República. Por duas vezes derrotada com seu candidato, em 1945 e 1950, a União Democrática Nacional escolheu a estratégia de desqualificar Vargas. A opção pelo golpe vai sendo amadurecida pelos grupos conservadores, tendo a UDN à frente, até tornar-se uma decisão irreversível a partir de 1953. FERREIRA, Jorge. Crises da República: 1954, 1955 e 1961. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucília de A. N. (Orgs.). O tempo da experiência democrática: da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011, p. 306-307 (Coleção O Brasil Republicano, v. 3. Nesse contexto, ocorreram fatos que foram decisi- vos para o recuo dos defensores do golpe de Estado e a sobrevivência da democracia, dentre os quais destacam-se a) a vitória de Carlos Lacerda e a instauração de uma ditadura. b) a eleição de Cristiano Machado e o fim do parla- mentarismo. c) o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe preventivo do general Lott. d) o impeachment de Juscelino Kubitschek e a pos- se do deputado Carlos Luz. 9. Famerp 2019 Leia o texto para responder à(s) questão(ões). De 1889/1890, começo da República, até 1930-1940 mais ou menos, a indústria e as cidades apresentaram determinadas características. A atividade industrial, sempre crescente, era conduzi- da fundamentalmente no interior de empresas de pequeno e médio porte, ainda que as grandes fábricas existentes concentrassem o maior número de operários e a maior quantidade de capital, sendo responsáveis também pela maior parte da produção industrial. [...] Apenas a partir das décadas de 1940 e 1950 as indústrias de bens de consumo duráveis e bens de capital desenvolveram-se de modo significativo. Maria Auxiliadora Guzzo de Decca. Indústria e trabalho no Brasil, 1991. O segundo ciclo de industrialização mencionado no texto é marcado a) pelo ingresso, no país, de grande quantidade de tecnologia e de capitais estrangeiros. b) pela política nacional de controle do câmbio, o que facilitava a exportação brasileira de produtos industrializados. c) pelo deslocamento do eixo industrial para a região Norte, a partir da criação da Zona Franca de Manaus. d) pela implantação de políticas públicas de apoio às pequenas e médias empresas. e) pelo processo de privatização das empresas estatais, adquiridas por grandes empresários nacionais. 10. FGV-RJ 2016 Leia o fragmento a seguir, extraído de um artigo do jornalista Carlos Lacerda, publicado no jornal A Tribuna da Imprensa, em de junho de . O Sr. Getúlio Vargas senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revo- lução para impedi-lo de governar. A partir do fragmento, assinale a alternativa que apre- senta a interpretação correta do discurso de Carlos Lacerda. a) Marca o rompimento público com o trabalhismo, devido aos planos ditatoriais de Vargas. b) Reflete a posição dos setores liberais contrários à aproximação do Brasil com os países do Leste europeu. c) Denuncia Vargas, que pretendia modificar a constituição para se candidatar à Presidência da República. d) Representa o posicionamento político de setores contrários ao trabalhismo. e) Mostra a defesa intransigente do processo eleito- ral contra as ameaças ao sistema democrático. 21 F R E N T E 1 11. Unesp 2019 Os gráficos indicam a expansão das re- des de transporte ferroviário e rodoviário no Brasil (em km) em função do tempo (ano). Considerando a composição do setor rural nacional e o programa desenvolvimentista do governo JK, é cor- reto armar que: a) A “Marcha para o Oeste” obteve grande êxito porque, além dos grandes ruralistas, conseguia atender também aos interesses dos pequenos posseiros, trabalhadores sem-terra e indígenas. b) O desenvolvimentismo atendia às ambições da oligarquia rural, em função das políticas de mo- dernização da agricultura, permitindo que ela se beneficiasse da expansão do mercado consumi- dor, um dos desdobramentos da industrialização. c) O Plano de Metas do governo JK fracassou por- que os interesses do agronegócio se mostraram posteriormente inconciliáveis com as demandas da velha oligarquia rural das regiões Norte e Cen- tro-Oeste. d) Os interesses agrários e o projeto de industria- lização do nacional-desenvolvimentismo eram compatíveis porque o Partido Trabalhista Brasileiro era composto principalmente pela oligarquia rural. 13. Uece 2017 Eleito com o slogan “cinquenta anos em cinco”, o presidente Juscelino Kubitschek – JK – fez de seu governo um período de grandes investimentos em setores produtivos, mas também de gastos eleva- díssimos. Apesar do inegável avanço e diversificação do setor produtivo, o último ano de seu governo apre- sentou um índice de inflação de ,%. O processo inflacionário gerado nesse período corroeu a econo- mia brasileira nos anos seguintes ao seu governo.Um dos aspectos de destaque do governo de JK foi a) o investimento de capital nacional em indústrias de base, com a criação da Petrobras e da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional. b) o aumento da dívida externa em função dos vultu- osos empréstimos tomados para realização de seu Plano de Metas e para a construção de Brasília. c) a promoção da importação de automóveis, pois JK acreditava que era mais importante comprar a preços vantajosos do que investir na produção nacional. d) sua política desenvolvimentista, voltada exclu- sivamente para atender o desenvolvimento das atividades agroexportadoras de que o Brasil dependia. 14. Unesp 2017 A industrialização contemporânea requer investimentos vultosos. No Brasil, esses investimen- tos não podiam ser feitos pelo setor privado, devido à escassez de capital que caracteriza as nações em desen- volvimento. Além disso, o crescimento econômico do Brasil, um recém-chegado ao processo de modernização, processou-se em condições socioeconômicas diferentes. Um efeito internacional de demonstração, na forma de imitação de padrões de vida, entre países ricos e pobres, e entre classes ricas e pobres dentro das nações, resultou em pressões significativas sobre as taxas de crescimento para diminuir a diferença entre nações desenvolvidas e Dados extraídos de: Paul Singer. Interpretação do Brasil: uma experiência histórica de desenvolvimento. In: Boris Fausto (Org). História geral da civilização brasileira, tomo III, vol., . As informações dos dois grácos estão traduzidas na tabela: a) Rede ferroviária Rede rodoviária b) Rede ferroviária Rede rodoviária c) Rede ferroviária Rede rodoviária d) Rede ferroviária Rede rodoviária e) Rede ferroviária Rede rodoviária 12. Unicamp 2018 Vistas em conjunto, as aspirações ruralistas não eram contraditórias ou incompatíveis com o programa desenvolvimentista de Juscelino Ku- bitschek. A ideia de incompatibilidade entre o projeto nacional-desenvolvimentista e os interesses agrários era uma ficção. Adaptado de Vânia Moreira, “Os Anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desenvolvimento rural”, em Jorge Ferreira e Lucília Delgado (Orgs.), O Brasil Republicano. v. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 169-170. 22 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) em desenvolvimento. Em vista das aspirações de melho- res padrões de vida, o governo desempenhou um papel importante no crescimento econômico recente do Brasil. Carlos Manuel Peláez e Wilson Suzigan. História monetária do Brasil, 1981. Adaptado. Os impasses do desenvolvimento industrial brasileiro, apontados pelo texto, foram enfrentados no governo Juscelino Kubitschek (-) com o Plano de Metas, cujo objetivo era promover a industrialização por meio a) da associação de esforços econômicos entre o Es- tado, o capital estrangeiro e as empresas nacionais. b) da valorização da moeda nacional, da estatização de fábricas falidas e da contenção de salários. c) da criação de indústrias têxteis estatais e do au- mento de impostos sobre o grande capital nacional. d) do emprego de empresas multinacionais subme- tidas à severa lei da remessa de lucros, juros e dividendos para o exterior. e) do combate à seca no Nordeste e do aumento do salário mínimo, com controle da inflação. 15. UFJF-MG 2021 Em de abril de , Brasília come- morou anos de sua fundação. A imagem e o texto abaixo são dois registros da inauguração da cidade, em . A partir da imagem e do texto, marque a alternativa CORRETA: a) a fotografia distingue-se do discurso por ser re- veladora de que o projeto de interiorização do governo de Juscelino Kubitschek ampliou as possibilidades para que as classes populares pudessem participar mais diretamente da vida política do país. b) a fotografia e o discurso se assemelham pela linguagem de exaltação ao projeto nacional- -desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, que foi acompanhado por uma po- lítica de inclusão social e de enfrentamento das desigualdades sociais do país. c) apesar de se tratar de linguagens distintas, a fotografia e o discurso se aproximam por de- monstrarem que a inauguração de Brasília foi o cumprimento de uma promessa de atender aos anseios das classes populares de transferir a ca- pital para o interior do país. d) a fotografia distingue-se do discurso por expres- sar as contradições entre um projeto de Brasil moderno, simbolizado pela arquitetura ao fundo, e as disparidades sociais e regionais que per- sistiam no país, representadas pela imagem do operário e de sua família. e) a fotografia e o discurso do presidente se apro- ximam, pois ambos simbolizam a defesa de um projeto de interiorização do país ancorado em um passado arcaico, que se contrapunha aos discur- sos de desenvolvimento e de modernização em voga no período. 16. Enem A moderna democracia brasileira foi cons- truída entre saltos e sobressaltos. Em , a crise culminou no suicídio do presidente Vargas. No ano seguinte, outra crise quase impediu a posse do pre- sidente eleito, Juscelino Kubitschek. Em , o Brasil quase chegou à guerra civil depois da inesperada renúncia do presidente Jânio Quadros. Três anos mais tarde, um golpe militar depôs o presidente João Goulart, e o país viveu durante vinte anos em regime autoritário. A partir dessas informações, relativas à história repu- blicana brasileira, assinale a opção correta. a) Ao término do governo João Goulart, Juscelino Kubitschek foi eleito presidente da República. b) A renúncia de Jânio Quadros representou a primeira grande crise do regime republicano bra- sileiro. c) Após duas décadas de governos militares, Getúlio Vargas foi eleito presidente em eleições diretas. d) A trágica morte de Vargas determinou o fim da carreira política de João Goulart. e) No período republicano citado, sucessivamente, um presidente morreu, um teve sua posse contes- tada, um renunciou e outro foi deposto. Fotografia de Rene Burri, 0. Operário leva a família para conhecer Brasília no dia de sua inauguração. Brasília, DF, Magnum Photos. FIGUEIREDO, L; MARTINS, A. História do Brasil em 100 fotografias. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2017, p. 171. TEXTO Dirigindo-me a todos os meus concidadãos, de todas as condições sociais, de todos os graus de cultura, que, dos mais longínquos rincões da Pátria, voltais os olhos para a mais nova das cidades que o Governo vos entrega (...). Não nos voltemos para o passado, que se ofusca ante esta profusa radiação de luz que outra aurora derrama sobre a nossa Pátria. (...) Viramos no dia de hoje uma página da História do Brasil. (...) Olhai agora para a Capital da Esperança do Brasil. (...) Esta cidade, recém-nascida, já se enraizou na alma dos brasileiros já vem sendo apontada como demonstração pujante da nossa vontade de pro- gresso, como índice do alto grau de nossa civilização (...). Discurso do presidente Juscelino Kubitschek na solenidade de inauguração de Brasília. Fonte: BRASIL. Discursos selecionados do Presidente Juscelino Kubitschek. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, pp.51-53. 23 F R E N T E 1 17. Mackenzie-SP 2020 O governo do presidente João Goulart pretendeu realizar reformas de base a fim de corrigir as distorções resultantes do processo de de- senvolvimento do país de tal forma que crescimento econômico não veio acompanhado de uma distribui- ção equilibrada dos rendimentos junto à população brasileira. A respeito dessas reformas de base, consi- dere as assertivas abaixo. I. No campo econômico sua proposta principal foi a reforma agrária, com emenda do artigo da Constituição, em que se previa a indenização aos proprietários de terras. II. Tais reformas previam, além da reforma agrária, reformas administrativa, bancária e fiscal, em que o governo buscava unir tanto às massas mobili- zadas, quanto a opinião pública, em relação à necessidade de mudanças institucionais para al- cançar o desenvolvimento nacional. III. A realização de reformas de base foi uma propos- ta do seu antecessor,o presidente Jânio Quadros, que durante sua campanha eleitoral e no seu curto governo, esboçou e deu início a algumas estratégias políticas com o intuito de corrigir as distorções econômicas. Assinale a) se apenas a I estiver correta. b) se apenas a II estiver correta. c) se apenas a III estiver correta. d) se apenas a I e II estiverem corretas. e) se somente a I e III estiverem corretas. 18. Unesp 2017 Observe o cartaz, relativo ao plebiscito realizado em janeiro de . b) renúncia presidencial, debates sobre sistema de governo e projetos de reforma social. c) ascensão de governos conservadores, despoliti- zação da sociedade e abolição de leis trabalhistas. d) deposição do presidente da República, priva- tizações de empresas estatais e adoção do neoliberalismo. e) autoritarismos governamentais, restrições à liber- dade de expressão e cassações de mandatos de parlamentares. 19. UEPG-PR 2018 De acordo com Guita Debert “o po- pulismo constitui uma relação pessoal entre um líder e um conglomerado de indivíduos, relação essa explicada através do recurso à ideia de demagogia, nem sempre claramente definida... o líder populista não aparece como um verdadeiro político, mas sobretudo como um aproveitador da ignorância popular, e as massas, na sua irracionalidade, não constituem fundamento para qual- quer tipo de política. O populismo, desse ponto vista, seria, pois, um fenômeno pré-político ou parapolítico.” DEBERT, Guita G. Ideologia e Populismo: Adhemar de Barros, Miguel Arraes, Carlos Lacerda, Leonel Brizola. Rio de Janeiro: CEPS, 2008. p. 6. Com base no exposto acima, e considerando que a história política brasileira está marcada por governos e políticos populistas, assinale o que for correto. Juscelino Kubitschek foi um líder populista que se caracterizou por reforçar o sentimento de bra- silidade. O projeto nacional-desenvolvimentista de JK baseava-se no crescimento do país sem vínculo com o capital internacional, pautado ex- clusivamente nas potencialidades nacionais. Herdeiro político de Vargas, João Goulart caracteri- zou-se como um dos principais líderes populistas da história política brasileira. Uma das marcas do gover- no Goulart foi o seu contato cotidiano com as massas por meio dos veículos de comunicação. Foi ele o cria- dor do programa radiofônico “Hora do Brasil”. Jânio Quadros, eleito presidente com grande apoio popular, é um dos exemplos de governos populistas brasileiros. Personalista, elegeu-se com um discurso moralista baseado no combate à corrupção. Filiado ao Partido Comunista, Jânio foi o maior exemplo de popu- lismo de esquerda no Brasil. Conhecido como “pai dos pobres”, Getúlio Var- gas é um dos grandes exemplos do populismo brasileiro. Carismático, autoritário, criador de uma ampla legislação social e trabalhista, Vargas foi aprovado e venerado pelas massas no Brasil das décadas de 1930, 40 e 50. O nacionalismo foi um dos valores centrais disse- minados por líderes populistas brasileiros (como Getúlio Vargas e João Goulart). O estímulo ao sentimento de amor à pátria, à nação e aos valo- res originários da brasilidade se fez presente em discursos, peças publicitárias e rituais promovidos por tais líderes. Soma: www.projetomemoria.art.br O cartaz alude à situação histórica brasileira marcada por a) estabilidade política, crescimento da economia agroindustrial e baixas taxas de inflação. 24 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) 20. PUC-SP 2014 Texto complementar Leia a seguir a carta-testamento escrita por Getúlio Vargas em 1954. Direcionada ao povo brasileiro, a carta procura rebater as acusações dire- cionadas a ele, relembrar sua trajetória política e explicar as razões que o levaram ao suicídio. Carta-testamento Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esque- cendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não aba- teram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História. (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas) BRASIL. Carta Testamento de Getúlio Vargas. Câmara dos Deputados, Brasília, s/d. Disponível em: https://www.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/ discursos/escrevendohistoria/getulio-vargas/carta-testamento-de-getulio-vargas. Acesso em: jan. . Augusto Bandeira. Correio do Amanhã, ... Apud: Rodrigo Patto Sá Motta. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, , p. . É correto armar que a charge, publicada em setembro de : a) celebra as reformas realizadas pelo presidente João Goulart e as interpreta como sendo resultado das mobiliza- ções populares. b) mostra que o golpe militar é iminente e que o presidente João Goulart defende a necessidade de reprimir os movimentos sociais. c) critica o presidente João Goulart e faz alusão a protestos, greves e forte crise política e social, que ocorriam durante seu governo. d) rejeita a autoridade do presidente João Goulart e defende a rebelião como única saída para superar as dificul- dades políticas e econômicas. e) destaca o uso político da mídia pelopresidente João Goulart e critica a influência do rádio e da televisão no cotidiano dos brasileiros. 25 F R E N T E 1 1. Unifesp ... E a elevação do salário mínimo a nível que, nos grandes centros do país, quase atingirá o dos vencimentos má- ximos de um [militar] graduado, resultará, por certo, se não corrigida de alguma forma, em aberrante subversão de todos os valores profissionais, estancando qualquer possibilidade de recrutamento, para o Exército, de seus quadros inferiores. Memorial dos Coronéis, de fevereiro de 1954. Sobre o documento, é correto a rmar que expressava: a) o ponto de vista de todos os coronéis, que estavam preocupados com os baixos salários pagos aos militares. b) a posição dos coronéis contrários ao presidente Vargas e à sua política econômica, incluindo a elevação do salário mínimo. c) o mal-estar generalizado existente nas fileiras do Exército brasileiro com a política industrial do presidente Vargas. d) o descontentamento dos coronéis nacionalistas pelo fato de o salário mínimo não contemplar os trabalhadores rurais. e) a luta surda que então existia entre coronéis, de um lado, inimigos de Vargas, e tenentes, de outro, que apoiavam o presidente. 2. Fuvest-SP 2021 Em 1945, 1954 e 1964, datas de movimentos vitoriosos contra o presidente do país, a pressão civil no sentido de intervenção militar no processo político cresceu e foi comunicada aos militares através de contatos pessoais, ma- nifestos públicos e editoriais da imprensa. [...] Normalmente, os pedidos de intervenção afirmavam que o presidente estava agindo de maneira ilegal e que, em face destas condições, a cláusula de ‘obediência dentro dos limites da lei’ os dispensava do dever de obedecer ao chefe do executivo. Stepan, A. Os militares na política. Rio de Janeiro: 1975, p. 73. a) Identifique um partido político que atuou na oposição aos presidentes nos três momentos citados no texto. b) Indique duas diferenças entre as crises políticas enfrentadas pelo presidente Vargas em 1945 e 1954. c) Caracterize uma medida econômico-social que teria contribuído para as crises de 1954 e 1964. Quer saber mais? Podcasts História Pirata #28 – A História de Brasília e outras Brasílias com Cristiane Portela e Mateus Gamba Neste episódio são debatidas as histórias relacionadas à criação de Brasília. Estação Brasil 014 – Petrobras: do nacional desenvolvimentismo ao neoliberalismo Este episódio é dedicado a tratar de diferentes momentos da Petrobras desde sua criação. Exercícios complementares Resumindo Eleições de 94 Constituição de 946 República presidencialista e federalista com eleições inde- pendentes para vice-presidência Voto direto, universal e secreto, com exceção dos analfa- betos Governo de Eurico Gaspar Dutra (946-9) Plano Salte Abertura às importações Governo de Getúlio Vargas (9-94) Medidas econômicas nacionalistas e nacionalizantes Forte oposição Suicídio (2 de agosto de ) Governo de Juscelino Kubitschek (96-96) Plano de metas Governo de Jânio Quadros (96) Política externa independente Renúncia inesperada Governo de João Goulart (96-964) Parlamentarismo Presidencialismo Golpe militar ( de abril de 964) 2 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (96-96) 3. Uema 2015 O Segundo Governo Vargas (-) foi marcado pela reorientação do eixo central da política econômica brasileira. A chamada “vocação agrícola do Brasil” foi intensamente questionada e a industrialização consolidou-se como o principal cami- nho para o desenvolvimento brasileiro. Nesse processo, a campanha “O Petróleo é Nosso” assu- me papel central na estratégia governamental e desencadeia uma intensa polêmica entre os “nacionalistas”, favoráveis à campanha, e os chamados “entreguistas”, opositores. Fonte: VAINFAS, Ronaldo et al. História: o mundo por um fio: do século XX ao XXI. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2010. O ponto principal de nossa ação política consiste em manter a linha de oposição e acentuar o propósito de luta crescente contra as forças que há tantos anos dominam o poder, na corrupção administrativa e comprometendo as bases morais da vida política. Convenção Nacional da UDN, 1957. Citado em BENEVIDES, M. V. de M. A UDN e o udenismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. Nos documentos acima podem ser reconhecidos po- sicionamentos e atitudes que marcaram a atuação de lideranças da União Democrática Nacional (UDN), par- tido que existiu de até . A partir desses documentos, indique duas característi- cas da atuação udenista em meio às disputas políticas e partidárias do período. Cite, ainda, uma iniciativa ou uma crise na qual o partido se envolveu. 5. FPP-PR 2020 Leia a estrofe a seguir. Pode o pato não nadar Pode o leão ser mofino Pode o gato não miar A galinha criar dente Gente vai virar serpente Mas Getúlio vai voltar. LESSA, O. Getúlio na literatura de cordel. In: DORATIOTO, F.; DANTAS FILHO, J. De Getúlio a Getúlio: o Brasil de Dutra a Vargas - 1945 a 1954. São Paulo: Atual, 1991. A estrofe acima faz referência à campanha eleitoral de 0. A respeito desse momento histórico, é CORRETO armar que a) afinado em um discurso nacionalista com relação ao desenvolvimento industrial, o programa político de Getúlio Vargas apresentava uma contradição na campanha presidencial de 195 ao defender uma concepção menos centralizadora de Estado. b) em virtude das condições em que se deu o fim do primeiro governo Vargas em 1945, a campanha presidencial de 195 não teve condições de utili- zar feitos passados em sua composição. Assim, o trabalhismo varguista não constituiu um elemento essencial na elaboração da campanha que levou Vargas novamente à presidência da República. c) apesar da oposição da imprensa, as bases do ge- tulismo estavam quase intactas em 195. A única perda de apoio massiva que ocorreu fora a dos mi- litares, que, descontentes com a política de controle estatal do petróleo, abandonaram as bases do go- verno Vargas logo depois da Revolução de 193. d) em contraponto ao governo Dutra, que terminava em 195 com uma política de incentivo à importa- ção de bens de consumo, Getúlio Vargas prometia a seus eleitores a valorização da indústria nacional, porém sem o controle estatal sobre as importações. e) a fim de garantir a vitória eleitoral em 195, Vargas realizou uma série de promessas de campanha a diferentes setores da sociedade. Do cumprimento dessas promessas dependia a governabilidade, o que acabava comprometendo toda a eficiência administrativa do novo governo varguista. Com base no cartaz, estabeleça a relação econômi- ca entre “Bandeira Nacionalista” e “Independência do Brasil” no contexto do Segundo Governo Vargas. . Uerj 201 A Getúlio Vargas dirijo, de todo coração, um apelo supremo; presidente da república: renuncia para salvar a República. Getúlio Vargas: deixa o poder para que o teu país, que é o nosso país, possa respirar nos dias de paz que os teus lhe roubaram. Sai do poder, Getúlio Vargas, se queres ainda merecer algum respeito como criatura humana, já que perdeste o direito de ser acatado como chefe do governo. Carlos Lacerda A Tribuna da Imprensa, 11/08/1954. Pegou o Carlos Lacerda Com a sua cara de frango No cenário político Querendo dançar o tango Querendo com a Argentina Sujar a carta de Jango (...) Agora dizem os golpistas Que são loucos nos extremos Os eleitos não tomam posse Muita bala nós teremos Isso caro leitor É o que veremos Cuíca de Santo Amaro, em A vitória de J. J. ou a vitória de um morto, s/d. Citado em CURRAN, M. J. História do Brasil em cordel. São Paulo: Edusp, 2001. 27 F R E N T E 1 . EsPCEx-SP 201 Entre e , existiam no Brasil dois projetos de Nação que disputavam a preferência dos eleitores, o nacional estatismo, liderado por Getúlio Vargas, e o liberalismo conservador, liderado por Carlos Lacerda. Avalie as informações abaixo listadas. I. O Estado devia intervir na economia. II. Abertura total às empresas e aos capitais estran- geiros. III.O Brasil deveria alinhar-se com os EUA incondi- cionalmente. IV. Criação das empresas estatais em áreas estratégicas. A alternativa que apresenta propostas do liberalismo conservador é a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) II e IV. e) III e IV. 7. Uece 2015 Assinale a opção que apresenta somente características do segundo Governo Vargas (-). a) Apoio sistemático ao Partido Comunista Brasileiro – PCB; controle da inflação; proibição da entrada de capital estrangeiro no País. b) Crescente instabilidade política; aumento do custo de vida; sistemática oposição da União Democráti- ca Nacional – UDN. c) Defesa inconteste dos interesses populares; estabi- lidade política; amplo desenvolvimento econômico. d) Controle da inflação; apoio do Partido Comunista Brasileiro – PCB; oposição sistemática do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB – ao governo. 8. FGV-SP 201 Em de outubro de , o presidente Getúlio Vargas sancionou a Lei n.º 2.00, que criava a Petrobras. Sobre o processo de criação dessa empre- sa, é correto afirmar que a) as fortes rivalidades entre os principais partidos brasileiros da etapa pós-Estado Novo, PSD, PTB e UDN, não prevaleceram no debate de cons- tituição de uma empresa nacional destinada à exploração petrolífera, porque todos concorda- vam com a necessidade de uma empresa estatal e monopolizadora, ainda que a UDN não apoiasse o endividamento externo para garantir as primei- ras ações da nova empresa. b) as suas origens remontam à década de 194, com a campanha do petróleo, e avançou mui- to com o envio, por Vargas, em janeiro de 1951, de um projeto de lei para a criação da Petróleo Brasileiro S.A., aprovada como uma empresa de propriedade e controle totalmente nacionais, en- carregada de explorar, em caráter monopolista, todas as etapas da indústria petrolífera, exceto a distribuição de derivados. c) apesar de o Partido Comunista encontrar-se na ilegalidade a partir de 1947, esse agrupamento político foi decisivo na luta pela criação de uma empresa que explorasse o petróleo nacional, em contraposição aos partidos nacionalistas, como a UDN, a qual defendia a criação de uma em- presa pública, com a possiblidade da presença de capitais estrangeiros e associada às grandes empresas petrolíferas, principalmente as estaduni- denses. d) a Constituição de 1946 preconizava a criação de uma empresa pública de capital nacional para a exploração de todos os recursos naturais, inclu- sive o petróleo, mas a ação do governo Dutra protelou essa decisão, cabendo ao governo Vargas, após forte pressão da UDN e do PSD, decretar a criação de uma empresa estatal de petróleo, mas com permissão para a presença do capital estrangeiro nas atividades de maior risco. e) a ideia de uma empresa estatal para a exploração do subsolo brasileiro nasceu ainda durante o Estado Novo, mas não pôde ser concretizada em virtude da posição governamental de apoio ao desenvolvi- mento agrícola, entretanto, no pós-Segunda Guerra, com o importante apoio político e financeiro dos Es- tados Unidos, foi criada uma empresa estatal com o monopólio da exploração do petróleo, excetuando- -se a pesquisa de novos campos. . UFPR 2012 As duas figuras abaixo são propagandas de carro publicadas na famosa revista O Cruzeiro, em 0 (O Cruzeiro, nº 2, de abril de 0). Analise as figuras, explicando o que foi o Plano de Metas e quais suas consequências para a sociedade brasileira no período do governo Juscelino Kubitschek (-0). 10. Fuvest-SP 201 O período do governo Juscelino Kubitschek (-0) é uma referência positiva no imaginário político brasileiro. Não por acaso ele é denominado de “Anos Dourados”. As transfor- mações implementadas nesse período suscitaram desafios e impasses. A partir destas considerações, a) caracterize a política econômica adotada no refe- rido período; b) explique qual foi o papel do Estado e cite uma diretriz implementada por aquele governo; c) indique de que maneira as transformações im- plementadas por esse governo repercutiram nas migrações populacionais internas. 28 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (96-96) Fonte: http://bloghistoriacritica.bloghistoriacritica.blogspot.com.br. Acessado em jan. 20. 11. Unicamp-SP 201 A construção de Brasília liga-se à questão regional do Brasil, que se colocou com inten- sidade na década de 1950, indicando a necessidade de se corrigirem desequilíbrios regionais. Mas, no Plano Pi- loto, vive uma minoria da população total de Brasília. O Plano Piloto não existiria sem as cidades-satélites, onde reside a maior parte dos trabalhadores, um contin- gente de pedreiros, motoristas, auxiliares de escritórios, serventes, encarregados de segurança, balconistas, etc. Brasília, dessa forma, é uma só cidade, do Plano Piloto às cidades-satélites. Assim, torna-se difícil aceitar a ideia de que Brasília foi projetada para antecipar um futuro mais igualitário. (Adaptado de José William Vesentini, A capital da geopolítica. São Paulo: Ática, 1986, p. 116-117, 144-145 e 148.) a) Quais os objetivos oficiais para a construção de Brasília? b) Segundo o texto, por que é “difícil aceitar a ideia de que Brasília foi projetada para antecipar um fu- turo mais igualitário” para a sociedade brasileira? 12. Fuvest-SP 2013 A construção de Brasília foi um mar- co no governo de Juscelino Kubitschek (-). a) Relacione a construção de Brasília com as metas do governo JK. b) Indique algumas decorrências da mudança da ca- pital federal para o interior do país. 13. Unicamp-SP 2013 e são os anos do estabelecimento de Salvador e Rio de Janeiro, res- pectivamente, como capitais da área que viria a ser o Brasil. Em 0, a terceira capital foi inaugurada. Em relação ao estabelecimento das capitais, responda: a) Quais os objetivos políticos do estabelecimento das duas primeiras capitais? b) Por que a mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília pode ser vista como uma mudança política e estratégica? 1. Unicamp-SP 2013 Na foto abaixo reproduzida, o presidente Jânio Quadros condecora o líder da Revo- lução Cubana, Ernesto Che Guevara. 15. UFTM-MG 2012 Observe a imagem da primeira pági- na do jornal Ultima Hora, de agosto de . a) Indique o acontecimento que originou a manche- te principal. b) Na manchete principal, faz-se referência ao fato de o país estar alarmado. De fato, instaurou-se uma crise institucional. Em que consistiu essa cri- se? Qual foi a saída política para a mesma? 1. FGV 2018 Observe a imagem a seguir: (hhttp://sul2.com.br) http://www.museuvirtualbrasil.com.br/museu_brasilia/modules/brttimeline/ index.php?pid=&ano= acesso em 20/0/20 a) Como essa condecoração pode ser explicada no contexto das propostas do governo Jânio Qua- dros para as relações externas do Brasil? b) Quais grupos, no Brasil, criticaram esse aconte- cimento? a) Qual decisão os eleitores brasileiros foram convo- cados a tomar no Plebiscito de 1963, no Brasil? b) Explique o contexto político brasileiro no qual ocorreu o Plebiscito. c) Exponha os desdobramentos políticos do resul- tado do Plebiscito de 1963. F R E N T E 1 2 (Augusto Bandeira." Correio da Manhã", 08.0.2. In: Rodrigo Patto Sá Motta. Jango e o golpe de 1964 na caricatura, 200. Adaptado). Augusto Bandeira apud Rodrigo Patto Sá Motta. Jango e o golpe de 1964 na caricatura, 200. LAN, Jornal do Brasil, jun, , IN: MOTTA, Rodrigo P. Sá. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 200, p. . (Adaptado). A charge representa João Goulart e Juscelino Kubitschek. A que episódio político a imagem se refere? Qual é o contexto político interno em que tal episódio se insere? Justique sua resposta. 18. UFMG 2012 Analise esta charge. Analise a charge, publicada originalmente em .0., e identique como ela representa as di- culdades enfrentadas pelo governo João Goulart em seu projeto de reformas sociais. 20. PUC-RS 201 Em março de , um movimento mi- litar derrubou o então presidente João Goulart (PTB),dando origem a uma nova fase da história brasileira, na qual se estabeleceu uma Ditadura Militar, que du- rou até meados dos anos 80. Sobre as causas que deram origem ao Golpe Militar de , NÃO é possí- vel incluir: a) as reformas de base que Jango tentou implantar no seu governo e que deveriam envolver a refor- ma eleitoral e a reforma agrária, contrariando os interesses das classes conservadoras. b) a falta de apoio de Goulart à revolta dos sargen- tos que defendiam o direito dos indivíduos desta patente se candidatarem ao Poder Legislativo, o que descontentou a cúpula militar. c) as diretrizes da Política Externa Independente (PEI) adotada pelo governo João Goulart, que pri- vilegiava alianças diplomáticas com países fora da zona de controle dos EUA, provocando temores em Washington sobre os seus reais propósitos. d) as características políticas de João Goulart, líder sindicalista e populista, o que levava os setores conservadores a suspeitar de suas intenções em estabelecer um regime peronista no Brasil. e) a visão oposicionista da grande imprensa bra- sileira, que encetou forte campanha contra o governo de Goulart, especialmente entre os anos de 1963 e 1964, defendendo a sua saída da Presidência da República. No início da década de 0, o debate político sobre a implementação das Reformas de Base gerou uma forte mobilização e radicalização política no País. A partir da análise dessa charge e considerando outros conhecimentos sobre o assunto, a) Explique em que consistia a proposta de Refor- mas de Base do Governo João Goulart. b) Explique o posicionamento de cada uma das lide- ranças políticas representadas na charge. c) Cite duas manifestações contrárias ao Governo João Goulart que foram estimuladas pelas pro- postas de Reformas de Base. 1. Unesp 2012 17. Unesp 2013 1. a) b) c) d) e) 2. EM13CHS1O1 EM13CHS1O1 a) b) c) d) e) 3. a) b) c) d) e) EM13CHS1O3 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (96-96) BNCC em foco As ditaduras no Brasil e na América Latina 12 CAPÍTULO FRENTE 1 No contexto da Guerra Fria, a América Latina assistiu à queda de governos populistas e da democracia. Países como Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Nicarágua sofreram golpes e enfrentaram anos de ditadura. Na maior parte dos casos, houve apoio dos Estados Unidos, que temiam a ascensão do comunismo após a revolução cubana. Assim como o contexto mundial favoreceu a instauração dos governos ditatoriais, o fim da Guerra Fria contribuiu para encerrar esse regime em quase todos os casos. Permanecia, no entanto, uma herança autoritária, além de uma grave situação econômica na maior parte dos países da América Latina. A rq u iv o N a c io n a l/ C o rr e io d a M a n h ã 32 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina América Latina no contexto da Guerra Fria Em 1959, concretizou-se a Revolução Cubana, a qual culminou, nos anos seguintes, na instauração do socialismo e no rompimento com os Estados Unidos. A revolução em Cuba marcou definitivamente a entrada da América Latina na Guerra Fria. A partir da década de 1950, o marxismo ga- nhou espaço no continente, principalmente entre artistas e intelectuais de maneira geral. Além do pensamento marxista, ideias nacionalistas e desenvolvimentistas constavam na pauta dos governos populistas, como vimos anteriormente. Nesse contexto, o brasileiro Glauber Rocha (1939- -1981) capitaneou o movimento conhecido como Cinema Novo, sobre o qual nos aprofundaremos mais adiante, e o colombiano Gabriel García Márques (1927-2014) escreveu Cem Anos de Solidão (1967), o romance latino-americano mais conhecido do século XX, no qual denunciava o impe- rialismo estadunidense no massacre a trabalhadores que se rebelaram contra a multinacional United Fruit Company. padre colombiano Camilo Torres (1929-1966), o peruano Gustavo Gutiérrez, o salvadorenho Oscar Romero (1917- -1980) e o brasileiro Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), muitos dos quais defendiam mudanças sociais profundas como concretização da proposta cristã. O papa João Paulo II (1920-2005), no final da década de 1970, se opôs feroz- mente à Teologia da Libertação, postura que foi seguida por diversos setores conservadores da Igreja Católica. Política externa estadunidense No contexto de Guerra Fria, os Estados Unidos aban- donaram a política da boa vizinhança e redesenharam suas diretrizes de relações externas. Enquanto na Segunda Guerra Mundial o combate foi travado contra o nazismo e o Eixo, que formavam a imagem do inimigo externo, durante a Guerra Fria tornou-se imperativo extirpar internamente o inimigo, o que consistia em combater o comunismo em fábricas, bairros de camadas populares, universidades. Nos Estados Unidos, essa postura foi impulsionada pelo macar- thismo, termo inspirado no senador republicano Joseph McCarthy (1908-1957), que presidiu o Comitê de Atividades Antiamericanas. Na América Latina, esse papel coube às forças armadas, que receberam treinamento estadunidense. A pretensão estadunidense de proteger a América era antiga. A Doutrina Monroe, instituída em 1823, incumbia os Estados Unidos de “proteger” a América dos colonizadores europeus. No contexto da Guerra Fria, passaram a “proteger” a América da influência soviética, mesmo que para isso fosse necessário intervir militarmente nesses países. A partir da década de 1960, os Estados Unidos esta- beleceram alianças com forças conservadoras de países latino-americanos para que governos militares, ditatoriais, anticomunistas e alinhados aos Estados Unidos tomassem o poder. A justificativa dessa política externa era de que a democracia seria incapaz de conter o comunismo. No Chile, por exemplo, a CIA (sigla em inglês para Agência Central de Inteligência) forneceu cinco milhões de dólares para que os caminhoneiros entrassem em greve, sabotando o abastecimento no país e causando fome no governo de esquerda de Salvador Allende. Cena de Terra em transe, uma das produções de Glauber Rocha que abordam a desigualdade social. O poeta Pablo Neruda (1904-1973), eleito senador no Chile em 1945 pelo Partido Comunista, escolheu a “América” como um de seus principais temas e o uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), em 1971, denunciou o co- lonialismo e o imperialismo no clássico As Veias Abertas da América Latina. Na educação, a partir de 1963, o pedagogo e intelec- tual Paulo Freire (1921-1997), amplamente reconhecido em todo o mundo, passou a formular um programa de alfabetização das massas. Com base no conceito de edu- cação libertária, sua proposta era respeitar a autonomia e a liberdade do educando. Cabe notar que além de ensinar a ler e escrever, a alfabetização tornava essas pessoas aptas ao voto – aspecto especialmente relevan- te quando consideramos que essas iniciativas estavam ligadas ao movimento do pós-colonialismo e do terceiro mundismo, críticos do colonialismo e do imperialismo, que serão abordados na frente 2. Na Igreja Católica, a Teologia da Libertação, corrente teológica cristã desenvolvida na América Latina na década de 1960, era representada, entre outras pessoas, pelo John Kennedy (1917-1963), presidente estadunidense, em discurso no aniversário da Aliança para o Progresso, 1962. O programa dava assistência econômica à América Latina para explicitar a eficiência do capitalismo e a influência dos Estados Unidos em países latino-americanos. J o h n F . K e n n e d y P re s id e n ti a l L ib ra ry A n d M u s e u m R e p ro d u ç ã o /P M P A 33 F R E N T E 1 Dois gabinetes estratégicos anticomunistas, ligados à CIA, foram instalados no Brasil: o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais. Ambos contribuíram para que a opinião pública se posicionasse contra o governo de João Goulart e ajudaram na organização de manifestações contrárias às reformas de base. Embora o apoio dos Estados Unidos tenha favorecido a instauração dos regimes ditatoriais na América Latina, os golpes de Estadoforam organizados dentro dos países lati- no-americanos, encabeçados pelos militares anticomunistas e sustentados pela classe média, pela grande mídia, pelo empresariado, por grandes proprietários rurais e por parte da Igreja Católica. Esse apoio de setores da sociedade civil levou os historiadores a usarem a expressão golpe civil-militar. Vale lembrar que quase todos os governos que sofre- ram golpe de Estado na América Latina não eram comunistas ou socialistas, mas reformistas e nacionalistas. João Goulart, no Brasil, Jacobo Arbenz Guzmán (1913-1971), na Guate- mala, e até mesmo Salvador Allende (1908-1973), o único declaradamente socialista, buscaram, no primeiro momento, não romper relações com os Estados Unidos. Além disso, os soviéticos pouco ajudaram os revolucionários latino- -americanos, mantendo a política de respeito às áreas sob a influência político-econômica dos Estados Unidos. Nós estamos tomando medidas complementares com os patrocínios disponíveis, visando colaborar com o fortalecimento das forças de resistência. Elas incluem suporte sigiloso para comícios pró-democracia (a próxima grande manifestação será no dia 2 de abril no Rio, e outras estão sendo programadas), discreta referência ao fato de o USG [United States Government] estar profundamente interessado nos eventos, e encorajamento [do] sentimento democrático e anticomunista no Congresso, nas Forças Armadas, nos grupos de estudantes e líderes sindicais sim- páticos à política norte-americana, na Igreja e no mundo dos negócios. Num futuro próximo, poderemos requisitar modestos fundos suplementares para outros programas sigilosos de ação. Saiba mais [...] O golpe de Estado não é um golpe no Estado ou contra o Estado. Seu protagonista se encontra no interior do próprio Estado, podendo ser, inclusive, o próprio go- vernante. Osmeiossão excepcionais, ou seja, não são característicos do funcionamento regular das instituições políticas. Tais meios se caracterizam pela excepcionalida- de dos procedimentos e dos recursos mobilizados. Ofimé a mudança institucional, uma alteração radical na distri- buição de poder entre as instituições políticas, podendo ou não haver a troca dos governantes. Sinteticamente, golpe de estado é uma mudança institucional promovida sob a direção de uma fração do aparelho de Estado que utiliza para tal de medidas e recursos excepcionais que não fazem parte das regras usuais do jogo político. Atenção As ditaduras na América Latina Os golpes que ocorreram no Irã, em 1953, e na Guatemala, em 1954, definiram padrões da política externa dos Estados Unidos na Guerra Fria que se repetiram na fracassada invasão da Baía dos Porcos (1961), em Cuba, no Brasil (1964), na República Dominicana (1965), no Peru e na Bolívia (1968), no Chile (1973), no Uruguai (1973), no Paraguai e na Argentina (1976). De acordo com o historiador Oswaldo Coggiola, todos os regimes militares latino-americanos tiveram os seguintes pontos em comum: fortalecimento da instituição militar, o que inclui a militarização da vida social e política (por exemplo, aulas de educação cívica nas escolas); dissolução das instituições representativas; anticomunismo declarado; falência ou crise dos partidos políticos tradicionais. Há ainda outra semelhança entre todos eles: o terroris- mo de Estado, empregado com a justificativa de combater as forças de esquerda, materializado no aumento dos gastos militares. Para se ter uma ideia, os gastos com ar- mas compradas de empresas estadunidenses durante os períodos ditatoriais cresceram 96,3% na Argentina e 199% no Peru. Entre 1976 e 1983, funcionaram na Argentina 362 campos de concentração e extermínio, por onde pas- saram militantes políticos, ativistas sociais e opositores em geral do governo. No Chile, nas primeiras semanas após o golpe, iniciou-se a chamada “caravana da morte”, que 34 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina consistia na detenção sistemática de ativistas políticos e no envio deles aos campos de concentração. Esse terrorismo estatal incluiu ainda a difusão das práticas de tortura física e psicológica, como choques elétricos, estupros e ameaças contra familiares. Cabe notar que havia uma articulação entre as várias ditaduras latino-americanas e os Estados Unidos. Em 1970, entrou em ação a Operação Condor, uma cooperação entre as ditaduras de Brasil, Bolívia, Chile, Uruguai, Paraguai e Argentina, coordenadas pela CIA para prender e executar a oposição em seus respectivos países, trocando informações, pessoas, técnicas de perseguição e de tortura. O Paraguai, onde a ditadura foi comandada por Alfredo Stroessner (1912-2006) durante 35 anos, foi o centro dessas operações. Observe, no mapa a seguir, informações sobre as ditaduras militares na América Latina, as quais trataremos em linhas gerais mais adiante. América Latina: ditaduras militares – 1960-1990 OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO Golfo do México ESTADOS UNIDOS BRASIL PERU COLÔMBIA A BOLÍVIA ARGEN GUATEMALA EL SALVADOR TA RICA A 720 km N 0° 80° Trópico de Capr icórnio Tróp ico de C ânc er Equador Experiência socialista Tortura ural Guerrilha Ditatorial Constitucional Socialista Colônia, outros Regime pico do militarismo (1973) Trajetória por país ano a ano (1961-1990) 1961 1970 1980 1990 Fonte: elaborado com base em Golpe Militar de . Ditaduras militares na América Latina dos anos -. Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/ revolucao-de-/mapas/dita- duras-militares-na-america-latina- dos-anos--. Acesso em: jan. . A ditadura na Guatemala (1954-1996) O primeiro golpe militar na América Latina ocorreu na Guatemala. Entre 1944 e 1954, duas eleições democráticas levaram ao poder dois presidentes nacionalistas. O primeiro deles, Juan José Arévalo (1904-1990), professor universitário, instalou um novo código trabalhista, uma nova constituição e a previdência social. O segundo, o militar Jacobo Arbenz Guzmán (1913-1971), levou a cabo um programa de reforma agrária, confiscando terras da empresa estadunidense United Fruit Company (a mesma do massacre dos trabalhadores colombianos retratado no livro de García Márquez), a qual tinha ligações com o chefe da CIA naquele período. Internamente, o país estava dividido. Setores do exército, da Igreja Católica e das classes médias acusavam o governo de comunista. Em contrapartida, setores marxistas do governo providenciavam armas da Tchecoslováquia, país que integrava o bloco soviético. Essa relação foi o estopim para um golpe militar, em 1954, em aliança com os Estados Unidos, que tirou Arbenz do poder e instaurou uma ditadura no país. 35 F R E N T E 1 A ditadura no Uruguai (1973-1985) O Uruguai gozava relativa tranquilidade política e pros- peridade econômica desde a Segunda Guerra Mundial. O país chegou a experimentar, entre 1951 e 1966, a possibi- lidade de substituir o presidente por um comitê executivo, com o objetivo de evitar o . Em 1964, um grupo guerrilheiro de base ideológica marxista-leninista conhecido como Tupamaros, sob inspiração cubana, rea- lizou ousadas operações para tomar o poder no Uruguai. Em 1967, o presidente uruguaio declarou lei marcial, isto é, um regime que suspende garantias civis previstas na Constituição, para combater os Tupamaros, ao que se- guiu uma gradual tomada de poder, concluída em 1973 e justificada para combater o “perigo” comunista. A ditadura se institucionalizou e o Uruguai passou a ser o país com o maior número de prisioneiros políticos per capita do mundo, com 1% da população presa. Nesse contexto de mudanças, em 1964, as Forças Ar- madas, encabeçadas pelos comandantes René Barrientos (1919-1969) e Alfredo Ovando Candía (1918-1982), derrubaram o governo do MRN, acusando-o de comunista. José Pepe Mujica, presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, também foi um dos guerilheiros dos Tupamaros. Na fotografia, Mujica em 2017. A ditadura na Bolívia (1964-1982) A Bolívia detém o recorde mundial de golpes militares– no período aqui estudado, foram três golpes. No início do século XX, o país era governado pela oligarquia agrária e do estanho, que não investia em infraestrutura ou em projetos de diversificação econômica. Uma insurreição camponesa e mineira ocorrida em 9 de abril de 1952 derrubou essa aristocracia do poder e destruiu o antigo exército. O novo governo, composto pelo Movimento Nacionalista Revolucio- nário (MRN), cujo líder era Victor Paz Estenssoro (1907-2001), reconstruiu as Forças Armadas com a ajuda de missões mi- litares e créditos estadunidenses. Apoiado pelos sindicatos de mineiros e suas milícias, o MRN também instaurou o voto universal, nacionalizou as minas de estanho, concedeu melhorias salariais e outras garantias aos mineiros e promoveu uma reforma agrária que beneficiou 60 mil famílias. René Barrientos, 1967. Porém, diante das dificuldades econômicas decorren- tes da política de Barrientos, em 1968, o general Ovando Candía comandou um “golpe dentro do golpe” que desti- tuiu o então governo e instaurou uma política nacionalista de estatização de petrolíferas estadunidenses. Contra sua política de nacionalização, Candía também foi derrubado e eleições foram convocadas. Em 1970, foi eleito Juan José Torres (1920-1976) com a proposta de governar com a participação de assembleias populares, criando uma república socialista democrática. Antes de completar um ano de mandato, foi derrubado por um golpe militar, liderado pelo general Hugo Banzer Suárez (1962-2002). Torres fugiu para Buenos Aires, mas foi assas- sinado em ação coordenada pela Operação Condor. Banzer assumiu como ditador e proibiu as atividades políticas. Em seu governo, houve aumento das exportações de estanho. Capa do livro Si me permiten hablar (Se me permitem falar), biografia da mineira Domitila Barrios de Chungara (1937-2012), que se tornou uma líder da resistência das mulheres bolivianas contra a ditadura em seu país. P a u lo F a b re R u iz ( C C B Y- S A 4 .0 )/ W ik im e d ia C o m m o n s C o le ç ã o P a rt ic u la r J a le s V k .c o m 36 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina Em 1980, o general Luis García Meza (1929-2018) liderou um novo golpe de Estado na Bolívia, conhecido como “Golpe da Cocaína”, que teve apoio de mercenários argentinos, italianos e nazistas. Na década de 1980, a economia da Bolívia girou em torno do narcotráfico, que também era administrado por militares. Nesse contexto, a inflação estava fora do controle e o governo se misturava aos cartéis do tráfico. Meza foi obrigado a renunciar em agosto de 1981, quando fugiu para o Brasil. O ditador, entretanto, foi levado de volta ao país, onde foi julgado. O primeiro presidente a assumir o cargo após o fim da ditadura foi Victor Paz Estenssoro, que cumpriu o mandato de 1985 a 1989 e lutou, sem sucesso, para estabilizar o país. A ditadura na Argentina (1966-1973 e 1976-1983) Como vimos anteriormente, após a derrubada de Juan Domingo Perón, em 1955, a Argentina passou por uma sé- rie de governos civis instáveis que estiveram em constante conflito com os setores militares e católicos da sociedade. No dia 28 de junho de 1966, o exército Argentino, sob o comando de Juan Carlos Onganía (1914-1955), destituiu o governo peronista da União Cívica Radical, partido político argentino de orientação social-democrata. Onganía pôs fim à autonomia das universidades, re- primiu a oposição e deu o controle da educação à Igreja Católica. No entanto, durante a ditadura militar argentina a economia foi um fracasso, houve baixos investimentos estrangeiros e a dívida externa ultrapassou cinco bilhões de dólares. o general Roberto Levingston (1920-2015) depôs Onganía. Sem conseguir conter a crise, Levingston também foi de- posto, agora pelo general Alejandro Lanusse (1918-1996) . Em novembro de 1970, Juan Perón, que estava exilado na Espanha, articulou com empresários e partidos argen- tinos uma coalizão política que recebeu o nome de Hora dos Povos. Como Perón estava impedido de candidatar-se, Héctor Cámpora (1909-1980), um peronista incondicional, venceu as eleições em junho de 1973. Perón, por sua vez, deu um golpe de Estado, substituiu Cámpora e tornou-se presidente da Argentina. No entanto, morreu pouco tempo depois, em julho de 1974. María Estela Martínez de Perón, esposa de Perón e conhecida como Isabelita, assumiu a presidência e, com ela, a ultradireita peronista. Em um contexto de ampla instabilidade, em março de 1976, sob a justificativa de acabar com a guerrilha fabril, uma junta militar destituiu Isabelita e tomou o poder. Na- quele momento, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru, Brasil, Paraguai e Equador estavam controlados por dita- duras militares. A ditadura conduziu a Argentina a uma intensa crise econômica, marcada pela saída de capital estrangeiro, além de queda na produção industrial, falência de pequenas e grandes empresas, desemprego e diminuição da condição de vida dos assalariados. Em 1980, uma nova junta militar tomou o poder, mas foi derrubada menos de um ano depois por outra junta. Em 1982, o cenário argentino tornou-se ainda mais complexo quando os militares declararam guerra ao Reino Unido pela posse das Ilhas Malvinas, também conhecidas como Ilhas Falkland, no Atlântico Sul, colonizadas pelos ingleses desde o século XIX. No dia 2 de abril de 1982, a Argentina ocupou as ilhas, dando início ao confronto com o Reino Unido, que tinha apoio internacional, incluindo dos Estados Unidos, e o su- porte logístico do Brasil e do Chile. Repressão policial na Universidade de Buenos Aires, Argentina, em 29 de julho de 1966. Por ordem de Onganía, militares interviram nas universidades contra professores e estudantes. O período entre 1969 e 1976 ficou conhecido como os anos de fogo na Argentina. A expressão se deve aos assassinatos dos Montoneros, grupo guerrilheiro compos- to por marxistas e peronistas, pelos esquadrões de morte após interrogatório e tortura. Em maio de 1969, na cidade de Córdoba, centro indus- trial do país à época, ocorreu o Cordobazo, levante liderado por trabalhadores e estudantes que entraram em greve e, armados com projéteis fabricados por eles, derrotaram as forças armadas. O povo controlou cerca de 150 quarteirões em Córdoba. Nesse cenário de crise, em meados de 1970, Militares argentinos capturados em Port Stanley, capital das Ilhas Malvinas, em 1982. Em 16 de junho de 1982, os argentinos foram derrota- dos. O conflito acabou com o que restava do prestígio da ditadura e dos militares argentinos. As eleições foram então convocadas para outubro de 1983 e vencidas por Raúl Alfonsín (1927-2009), candidato da União Cívica Radical. Chegava ao fim a ditadura militar na Argentina. K e n G ri ff it h s /C o le ç ã o p a rt ic u la r C o le ç ã o p a rt ic u la r 37 F R E N T E 1 A ditadura no Chile (1973-1990) Durante quase um século, entre 1830 e 1920, gover- nos conservadores e liberais alternaram-se no poder no Chile, embora houvesse poucas diferenças ideológicas entre eles. Nesse período, ocorreram regimes presiden- cialistas e parlamentaristas, sempre restritos à participação da elite econômica chilena. Após a Guerra do Pacífico (1879-1884), o Chile anexou ao seu território o sul do Peru, que possuía minas de cobre e de salitre, e parte da Bolívia, que perdeu sua saída para o mar. Desse modo, o Chile consolidava sua economia mi- neradora e adquiria seus contornos atuais. O crescimento da economia mineradora, sobretudo de cobre, foi respon- sável por diversificar a sociedade, multiplicando os setores urbanos e iniciando a formação de uma classe operária mineradora forte, responsável pela criação de sindicatos e partidos de esquerda no início do século XX. No entanto, o Chile não conseguiu se manter imperme- ável à Guerra Fria. Na década de 1960, as promessas de uma reforma agrária, que criaria um quadro de pequenos proprietários e de investimentos em industrialização, não foram cumpridas, gerando levas de migrantes ruraispara a cidade. Em 1965, foi fundado o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), o principal grupo marxista armado do Chile. Em 1969, jovens da esquerda cristã se organizaram no Movimento de Ação Popular Unificado, o Mapu. Nesse contexto, Salvador Allende, candidato da Uni- dade Popular (UP), coalizão de partidos políticos formada em 1969, venceu as eleições presidenciais de 1970. O Partido Socialista, do qual Salvador Allende era membro, e o Partido Comunista Chileno encabeçavam a Unidade Popular, que contava também com o Mapu e uma ampla base de apoio popular. O programa da UP previa transformações de caráter socialista considerando as estruturas políticas vigentes, por- tanto, não haveria uma revolução armada. Nesse sentido, Allende se comprometia a realizar apenas as reformas que estivessem de acordo com a legislação. Além disso, ao assumir o poder, em 1970, ele assinou um estatuto de ga- rantias prometendo respeitar as estruturas estatais e manter intactos o sistema educacional, a Igreja Católica, os meios de comunicação em massa e as Forças Armadas. Assim, Salvador Allende avançou na estatização de setores-chave da economia, como o sistema bancário, as empresas de seguro, a indústria têxtil, a indústria de borracha e o petróleo. O elemento central do pacote da UP, entretanto, foi nacionalizar sem indenização as minas de cobre de propriedade estadunidense, o que deu ao governo Allende o controle sobre a principal indústria de exportação do Chile. Com o aumento de salários e o con- trole de preços, Allende pretendia aumentar o consumo e conter a inflação. No campo, o presidente deu continuida- de ao projeto de reforma agrária herdado da década de 1960, garantindo as indenizações aos proprietários rurais e o direito de manter o uso dos melhores acres de terra e do melhor maquinário agrícola. Saiba mais Salvador Allende, 1973. Apesar de as reformas de Allende serem limitadas, os Estados Unidos, a classe média conservadora e o empresa- riado chileno as consideraram uma ameaça, sobretudo pelo contexto histórico em que eram implantadas. Em oposição, a classe empresarial recusou-se a fazer investimentos, di- minuiu a produção e concentrou suas vendas no mercado paralelo. Em 1972, após receber cinco milhões de dólares da CIA, os donos das frotas de caminhões entraram em gre- ve. O Congresso, dominado pela oposição, bloqueou todas as iniciativas do governo. Nas Forças Armadas, crescia a mobilização a favor de um golpe, com ações terroristas de grupos paramilitares fascistas. O braço militar do golpe, constituído pelo grupo fascista Pátria e Liberdade, aumen- tava o nível de ações terroristas no país. Essa desestabilização em larga escala promovida pela oposição impôs uma situação caótica ao Chile. A classe trabalhadora reagiu fortemente à sabotagem econômica do empresariado, tomando o controle de diversas ruas e fábricas. Dessa luta conjunta emergiu o famoso cordón in- dustrial, um modelo de organização operária no qual os trabalhadores, reunidos em uma assembleia, controlavam a produção de diversas fábricas. Nas ruas, integrantes do movimento MIR e da organização Pátria e Liberdade entra- ram em confrontos que resultaram em centenas de mortos. E v e re tt /S h u tt e rs to ck 38 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina Allende havia programado para o dia 11 de setembro de 1973 um discurso de renúncia que seria transmitido via rádio e televisão. A ideia era passar o poder para Eduardo Frei, da Democracia Cristã, tentando, assim, uma solução institucional para evitar um possível golpe de Estado. No entanto, no dia em que Allende faria o pronunciamento, uma junta militar golpista cercou o Palácio da Moneda, resi- dência oficial do governo chileno, e o obrigou a abandonar o palácio até as 11h da manhã, momento em que aviões estadunidenses começaram a bombardear as instalações do edifício. Allende recusou-se a se entregar e foi morto pelos militares. Em 27 de junho de 1974, o general Augusto Pinochet (1915-2006) assumiu o título de Chefe Supremo da Nação, impondo uma ditadura no Chile que durou mais de 15 anos. Após o golpe de 11 de setembro de 1973, sucederam-se inúmeras perseguições que lotaram as cadeias e fizeram com que outros espaços fossem usados para manter os presos políticos, como o Estádio Nacional. O Congresso foi fechado e o vigorou por 10 anos. Esse contexto possibilitou que os militares dobrassem seus salários. Em 1974, foi criada a Dirección de Inteligencia Nacional (Dina), substituída pela CNI em 1977, a polícia política de Pinochet, cujos agentes eram treinados por oficiais de inteligência estadunidenses. A cen- sura da imprensa, o estado de sítio, o toque de recolher, a suspensão de partidos, o fechamento do Congresso, o uso da tortura e a perseguição a grupos marxistas defini- ram o terrorismo do Estado chileno promovido pelo ditador Augusto Pinochet. Constituição de 1981, Pinochet continuou governando com amplos poderes, o que o permitiu legislar mediante decre- tos, dissolver a Câmara e nomear senadores sem qualquer consulta ao Parlamento. A partir de abril de 1975, a ditadura chilena delegou a responsabilidade econômica do país aos economistas da Escola de Chicago, discípulos do economista neoliberal Milton Friedman (1912-2006). Os Chicago Boys, como eram chamados, afirmavam que todos os problemas econômicos do Chile eram decorrentes da intervenção do Estado, que reduzia a concorrência, aumentava os salários artificial- mente e produzia inflação. As políticas neoliberais, então, ganharam uma nova escala com a experiência chilena. O governo deixou de ser um agente promotor do de- senvolvimento e assumiu a função de regulamentar a vida econômica. Os gastos sociais do governo foram drastica- mente reduzidos com a privatização nas áreas de saúde, educação e previdência social. Essa diminuição do papel do Estado, no entanto, não ocorreu em suas funções militares e repressivas. O governo chileno diminuiu os entraves para importa- ção e conseguiu conter a inflação, reduzindo-a de 500% para 10% ao ano. Além disso, atingiu um crescimento mé- dio de 7,5% entre 1976 e 1982. Ao mesmo tempo, o país retrocedeu: deixou de ter uma estrutura industrial média e passou à condição de exportador de matérias-primas, o que comprometeu seu futuro com uma crescente dívida externa. Em 1982, após longo período de crescimento, o PIB chileno diminuiu 19,4%, e 90% da pauta de exportação do país ainda era de produtos primários. Em 1972, 27% da po- pulação vivia em habitações precárias, enquanto em 1988, esse número se elevou para 40%. A crise econômica logo se tornou uma crise sociopolítica, e, a partir das jornadas de protesto de 1983, o regime ditatorial de Pinochet entrou definitivamente em crise. Em 1988, a população chilena votou em um plebiscito pela realização de novas eleições. Era o fim do regime ditatorial de Pinochet, que entregou a presidência ao de- mocrata-cristão Patricio Aylwin (1918-2016), vencedor das eleições em 11 de março de 1990. A ditadura na Nicarágua (1934-1979) No início da década de 1970, a Nicarágua tinha 2,5 milhões de habitantes, dos quais 75% eram analfabetos. Além disso, a expectativa de vida no país era de 53 anos, a mais baixa da América Central, e o total de escolas de ensino fundamental chegava a apenas cem. Entre as déca- das de 1930 e 1970, a Nicarágua foi governada por uma única família, os Somozas, que assumiu o poder após o assassinato de Augusto César Sandino, em 1934. Aliada dos Estados Unidos, a família Somoza auxiliou barcos e aviões estadunidenses que invadiram Cuba pela Baía dos Porcos, em 1961, e contribuiu com o golpe em El Salvador, em 1972. A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), movimento revolucionário de nicaraguenses, formou-se em Havana inspirada em táticas e ideias das guerrilhas cubana e argelina. Entre as razões que mobilizavam a luta dos sandinistas estavam a reforma agrária, a nacionalização Augusto Pinochet, 1986. Cerca de 20 mil pessoas foram mortas pelo regime de Pinochet. Além disso,30 mil viraram prisioneiras, 25 mil estudantes foram expulsos de suas escolas e 200 mil operários foram demitidos. Mesmo após a promulgação da S ip a /S h u tt e rs to ck 39 F R E N T E 1 das empresas estrangeiras, a reforma urbana, o fim do anal- fabetismo, os direitos dos trabalhadores, a expropriação das propriedades dos Somoza, a criação de uma milícia popular e o fim da dominação estadunidense. Clamavam também pelo fim da discriminação contra os indígenas das etnias Miskito e Sumo e contra os negros. Sandino, herói nacionalista morto pela ditadura, deu o nome e tornou-se símbolo do movimento. Do total de integrantes da FSLN, 25% eram compostos por mulheres. Setores da Igreja Ca- tólica também participaram da Frente. Nacional Opositora (UNO), composta por 14 partidos e com ajuda financeira estadunidense. Em 2007, contudo, Daniel Ortega voltou à presidência da Nicarágua no contexto da ascensão do chavismo na América Latina. Selo cubano da década de 1980 que homenageia Augusto César Sandino e a Frente Sandinista de Libertação Nacional. Por duas décadas os sandinistas lutaram contra os Somozas, compondo guerrilhas nas montanhas e ataques à Guarda Nacional, até conseguirem derrubar a ditadura em 19 de julho de 1979, quando se formou um governo provisório constituído por três sandinistas – Daniel Ortega, Moisés Hassan e Sergio Ramírez –, um industrial milionário – Alfonso Robelo – e Violeta Chamorro. Em 1984, ocorre- ram as primeiras eleições nacionais. O novo governo nacionalizou os bancos e assumiu o controle da exportação de algodão, café e açúcar. As pro- priedades de Somoza, um quarto das terras aráveis do país, tornaram-se fazendas estatais. No entanto, parte da produ- ção industrial e algumas atividades agrícolas continuaram nas mãos de empresas privadas e receberam empréstimos governamentais. O governo afirmava que queria construir uma economia mista, com elementos socialistas e capita- listas combinados. O presidente dos Estados Unidos à época, Ronald Reagan (1911-2004), que governou entre 1981 e 1989, promoveu boicote ao país, fornecendo armas e treinamen- to para os contrarrevolucionários. Ao mesmo tempo que promovia uma guerra militar, os Estados Unidos impuse- ram à Nicarágua um embargo comercial total, minando a economia nicaraguense. Em 1988, a inflação na Nicarágua chegou a cinco dígitos. Em 1987, o Diretório Nacional da FSLN decidiu, por unanimidade, afastar-se do socialismo e confiar nos meca- nismos de mercado. Em 1990, os sandinistas, novamente representados por Daniel Ortega e Sergio Ramírez, perde- ram as eleições para Violeta Chamorro, da coalizão União Violeta Chamorro recebendo a faixa presidencial; à direita, Daniel Ortega. Rivas, Nicarágua, 1990. A ditadura no Brasil (1964-1985) As terminologias “ditadura envergonhada”, “ditadura escancarada”, “ditadura derrotada”, “ditadura encurralada” e “ditadura acabada”, aqui usadas para demarcar os dife- rentes momentos da ditadura militar no Brasil, correspondem à coleção de livros escritos pelo jornalista Elio Gaspari e publicados entre 2002 e 2016. Os títulos representam um aspecto importante das mudanças ocorridas no regime dita- torial brasileiro ao longo dos anos. No entanto, deve-se levar em conta que essas terminologias não são consensuais, uma vez que para alguns historiadores a obra de Gaspari promove um revisionismo conservador da ditadura no Brasil. Ainda assim, essa divisão reflete a percepção de que não havia, de antemão, um projeto específico de ditadura. Ou então de que se tratava de uma série de projetos em disputa. A “ditadura envergonhada” (1964-1967) O golpe foi apoiado por civis liberais, incluindo os políti- cos ligados à UDN, por uma parcela da Igreja Católica, pelo empresariado atrelado ao capital nacional e multinacional, além dos militares associados ao ideal da Doutrina de Segu- rança Nacional. Apesar disso, nem todos os que apoiaram o golpe mantiveram seu apoio ao longo da ditadura. Carlos Lacerda, em 1966, juntou-se aos antigos rivais políticos Juscelino Kubitschek e João Goulart para formar a Frente Ampla em oposição à ditadura. Da Igreja Católica, como vimos anteriormente, membros do clero, entre eles Dom Paulo Evaristo Arns, e adeptos da Teologia da Libertação também criaram uma forte resistência ao regime. A ditadura não foi unanimidade nem sequer entre os militares, que inclusive representaram um dos grupos mais perseguidos durante todo o período. Mesmo entre os que apoiaram a ditadura, havia diferentes projetos que divergiam sobre o período de vigência do regime, como o da ala cas- telista, que defendia um regime breve, e o da linha dura, favorável a um regime prolongado. As diferenças, porém, limitavam-se à duração da ditadura, uma vez que ambos defendiam as mesmas práticas de coerção e autoritarismo. F u n d a ç ã o V io le ta C h a m o rr o A le x a n d e r M it ro fa n o v / A la m y / F o to a re n a 40 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina Como veremos adiante, a ditadura no Brasil foi construída conforme o desenrolar da conjuntura nacional, a qual incluía conflitos internos e o contexto internacional da Guerra Fria. GENERAL CASTELO BRANCO Logo após o golpe de 1964, o general Humberto Castelo Branco (1897-1967), um dos articuladores da derrubada de João Goulart, foi nomeado para a presidência do novo regime. Um dos principais marcos do período da ditadura foi a formulação dos chamados Atos Institucionais, que visavam promover alterações na Constituição de 1946. O Ato Institucional número (AI-1), estabelecido ainda em 1964, fortaleceu o Poder Executivo, garantindo-lhe per- missão para declarar estado de sítio, aprovar projetos de lei que não fossem discutidos no Congresso em um intervalo de 30 dias, além de conferir ao Estado o poder de aposentar, de maneira compulsória, civis e militares, suspender direitos políticos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais. O Serviço Nacional de Informações (SNI) também foi implantado com caráter coercitivo, já que atuava como central de inteligência para investigar os possíveis opositores do regime. O SNI foi o responsável pela invasão da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro, pela extinção da Comando Geral dos Trabalhadores e por colocar as Ligas Campone- sas na ilegalidade. A perseguição política aos opositores do regime, portanto, esteve presente desde o início da ditadura. No âmbito econômico, foram estabelecidas medidas recessivas, tais como o corte de subsídios ao trigo e ao petró- leo, como havia proposto o Plano Trienal, e o aumento de impostos sobre energia elétrica e telefonia. Os salários foram reajustados anualmente para valores inferiores à inflação vigente e, para evitar manifestações por parte dos trabalhadores, os sindicatos eram rigidamente controlados pelo governo. Outro aspecto importante que favoreceu o plano econômico foi o alinhamento com os Estados Unidos, o que garantiu ao Brasil um prolongamento dos prazos para o pagamento da dívida externa com o FMI. Em 1965 o governo ditatorial sofreu seu primeiro grande teste: as eleições estaduais. Os partidos de oposição ven- ceram em oito estados, denotando que a ditadura não contava com o apoio que julgava necessário. Observe, no mapa a seguir, os partidos que participaram da eleição e como alguns estados votaram. Brasil: eleições estaduais – 1965 OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO Equador Trópico de Capri córnio 0° 50° O RORAIMA AMAZONAS RONDÔNIA ACRE ARÁ AMAPÁ UÍ CEARÁ GOIÁS MINAS GERAIS O NTO RIO GRANDE TE ARAÍBA SGO ULO SANTA CATARINA MATO GROSSO DISTRITO 51 4 166169 69 30121 582 80442 59 44 67164 110 7181 938 793 459519 328 305 360 km N Derrota do regime militar na eleição de 1965 (oposição) (situação) Outros de votos Área do PSD (oposição) V en ce d o r Área da UDN (situação) Intervenção Estado onde não houve Coligação vitoriosa Fonte: elaborado com base em Castelo Branco a Médici (-).Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/ de-castelo-branco-medici- -/mapas/derrota-do- regime-militar-na-eleicao-de- . Acesso em: jan. . 41 F R E N T E 1 A resposta veio ainda em 1965 com o Ato Institucional número (AI-2), que extinguiu os partidos políticos e instalou o bipartidarismo com a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que representaria a situação, e o Movimento Demo- crático Brasileiro (MDB), que reuniria a oposição. Vale destacar que era uma oposição consentida, já que o AI-1 permitia que o governo cassasse os mandatos de políticos considerados subversivos. Tendo em vista evitar o mesmo desfecho que o das eleições de 1965 para os governos dos estados, as eleições presidenciais, previstas para aquele mesmo ano, foram adiadas e passariam a ser indiretas, realizadas pelo Congresso Nacional. Em 1966, o Ato Institucional número (AI-3) estabeleceu que as eleições para governadores e vice-governadores também seriam indiretas, feitas pelas Assembleias Estaduais. Os governadores eleitos poderiam, então, nomear os pre- feitos das capitais de seus respectivos estados. Eleições diretas aconteceriam somente para o Legislativo, com a eleição de senadores, deputados e vereadores, e para as prefeituras das cidades que não fossem capitais de seus estados. CONSTITUIÇÃO DE Após os três primeiros Atos Institucionais, uma nova constituição foi elaborada em 1967. Legitimada pelo Ato Institu- cional número (AI-4), e não por uma constituinte representativa, como ocorre nas democracias, a Constituição de 1967 incorporou os atos institucionais estabelecidos até aquele momento. A partir de então, o Congresso manteve a imunidade parlamentar e ficou determinado que os cargos políticos só poderiam ser cassados por militares. No texto constitucional, o Brasil se manteve como República presidencialista e federalista, embora na prática os estados não tivessem a autonomia que era garantida pela Constituição anterior. O Estado permaneceu laico e a divisão clássica dos três poderes foi mantida, apesar da preponderância do Executivo sobre os demais. O presidente da República permaneceu sendo eleito por voto indireto, mas o mandato passou a ser de quatro anos. A “ditadura escancarada” (1967-1974) Como veremos, a partir de 1967, a ditadura escancarou seus métodos e propósitos. Gradualmente, os resquícios de democracia, que até então contribuíram para caracterizar a ditadura como “envergonhada”, deram lugar a uma apare- lhagem cada vez mais coercitiva. Por isso, o período que se estende de 1967 até 1974 pode ser entendido como o da “ditadura escancarada”. Esse processo foi fruto de dois aspectos relacionados entre si: o fortalecimento da oposição e da repressão. Quanto mais crescia a oposição ao governo, mais a ditadura lançava mão de novos mecanismos repressivos. Entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, o cenário nacional foi marcado por agitações sociais e por uma efervescência artística protagonizada pela juventude. Crescidos em meio à Guerra Fria, muitos jovens questiona- vam as motivações da polarização mundial imposta pelo contexto político. É importante notar que, em 1970, os jovens na faixa dos 20 anos, diferentemente de seus pais e avós, não haviam vivenciado a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial. Assim, sentiam-se distantes das justificativas usadas nos ditames ideológicos das guerras. Rejeitavam a disciplina e a hierarquia – valores comumente atrelados ao exército – e valorizavam a liberdade. Como vimos anteriormente, fora do Brasil, o período foi caracterizado pelo Movimento dos Direitos Civis e pela con- tracultura hippie nos Estados Unidos, pela Primavera de Praga, na antiga Tchecoslováquia, e pelo movimento que ficou conhecido como Maio de 1968, em Paris. No Brasil, a música e a arte foram largamente utilizadas como forma de protesto durante o período ditatorial. Os festivais da canção, a Tropicália e o Teatro de Arena são alguns exemplos da expressão artística de protesto da época. GENERAL COSTA E SILVA O Congresso Nacional escolheu o General Costa e Silva (1899-1969), então ministro da Guerra, para a presidência, e o deputado Pedro Aleixo para a vice-presidência. Costa e Silva era um representante da chamada linha dura. Ao longo de 1968, uma série de eventos favoreceu o endurecimento da ditadura no Brasil. Greves operárias eclodiram em Contagem (MG) e em Osasco (SP). No Rio de Janeiro, o assassinato do estudante Edson Luís pela polícia militar provocou intensa repercussão. Tanto no enterro de Edson como na missa de sétimo dia, a capital fluminense foi palco de conflitos entre estudantes e a força policial. Em 26 de junho, a Passeata dos Cem Mil reuniu milhares de pessoas contra a ditadura. Saiba mais 42 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina Em agosto de 1968, a Universidade de Brasília (UnB) foi invadida pela polícia com a justificativa de fazer uma busca por lideranças da UNE. Em outubro, estudantes da Univer- sidade Presbiteriana Mackenzie que eram favoráveis ao regime enfrentaram estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP que eram críticos da dita- dura. O conflito ocorreu na Rua Maria Antônia, na cidade de São Paulo. Além disso, estudantes da UNE organizaram um congresso secreto na cidade de Ibiúna, no interior de São Paulo, contra a crescente onda de repressão, mas acabaram delatados e presos. Ao final de 1968, no dia 13 de dezembro, foi decre- tado o Ato Institucional número 5 (AI-5), que determinou o fechamento do Congresso Nacional até o ano seguinte e conferiu plenos poderes ao Executivo. O novo ato tam- bém fez profundas modificações na Constituição de 1967 e proibiu qualquer tipo de atividade ou manifestação so- bre assuntos de natureza política. Caso a regra não fosse cumprida, o aparelho repressor do regime poderia impor a liberdade vigiada, que incluía a proibição de frequentar determinados lugares. Além disso, envolvidos em ações que fossem consi- deradas subversivas poderiam ter seus direitos políticos cassados por um período de até dez anos. O habeas cor- pus foi suspenso para casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a eco- nomia popular. Em agosto de 1969, Costa e Silva foi afastado da presidência por questões médicas e substituído por uma junta militar. JUNTA MILITAR (AGOSTO A OUTUBRO DE 969) Após o AI-5, houve uma radicalização da oposição ao adotar a luta armada, o que levou à eclosão de guerrilhas. Nas cidades, era comum a realização de assaltos a bancos, chamados empréstimos compulsórios, para financiar a luta armada. Uma das ações que ganhou maior repercussão foi o sequestro do embaixador estadunidense no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, realizado em conjunto pela Ação Libertadora Nacional (ALN) e pelo Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8). Como res- gate, exigiram a libertação de presos políticos. Atrizes participando da Passeata dos Cem Mil na cidade do Rio de Janeiro RJ, em 18. A rq u iv o N a c io n a l/ F u n d o C o rr e io d a M a n h ã Assim como a oposição recrudescia, o Estado aumen- tava o uso da violência contra seus opositores, marcando o início do período que ficou conhecido como anos de chumbo. A censura foi institucionalizada, incluindo os meios de comunicação que apoiaram o golpe, e o AI-14 autori- zou a aplicação da pena de morte e prisão perpétua nos chamados casos de guerra psicológica adversa e guerra revolucionária ou subversiva. Ainda em 1969, uma emenda constitucional promoveu outras modificações na Constituição de 1967. Costa e Silva ainda estava afastado e o AI-16 declarou vagos o cargo de presidente, cujo mandato foi alterado para cinco anos, e o de vice-presidente. GENERAL EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI (969-974) Durante o mandato do general Emilio Garrastazu Médi- ci, escolhido pelo Congresso em 1969, houve um intenso e violentocombate à luta armada, que foi praticamen- te neutralizada. Nesse cenário de violência, foi criado o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) para centralizar os aparatos repressivos do governo, como o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e o Centro de Informações do Exército (CIE). A tortura, ainda que não institucionaliza- da formalmente, tornou-se prática comum nos porões dos órgãos de repressão. A morte de duas das principais lideranças da luta ar- mada, Carlos Marighella, da Ação Libertadora Nacional (ALN), em 1969, e Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), em 1971, representou o enfraqueci- mento da guerrilha armada. Também contribuiu para esse enfraquecimento o assassinato de guerrilheiros na região do Rio Araguaia, em 1972, que se organizavam para um levante contra o regime. Observe, no gráfico a seguir, a quantidade de mortos pela ditadura e de desaparecidos até 1976. Com relação à economia, o período foi marcado por um extraordinário crescimento econômico, que chegou a quase 14% em 1973, e ficou conhecido como milagre econômico. Emílio Garrastazu Médici 105185. A c e rv o G a le ri a d e P re s id e n te s /G o v e rn o F e d e ra l d o B ra s il 43 F R E N T E 1 O encarecimento da mão de obra nos países mais de- senvolvidos, resultado atribuído também à consolidação do modelo de , tornou o Brasil atra- tivo às multinacionais que buscavam mão de obra barata. O governo contou com apoio internacional, principalmente dos Estados Unidos, que concedeu novos empréstimos. Em troca, o governo brasileiro garantiu o arrocho salarial, polí- tica de reajuste salarial que não acompanhava a inflação e defasava o poder de compra dos salários. Com o incremento de crédito, a classe média conseguiu ampliar seu consumo. Nesse cenário, no entanto, a desigualdade social foi ressal- tada, considerando o empobrecimento das classes baixas e a prosperidade de setores da classe média. A sensação de estabilidade econômica era reforçada pela propaganda nacionalista e ufanista. Slogans como “Brasil: ame-o ou deixe-o” ou “ninguém segura esse país” eram fre- quentemente encontrados nos jornais e nas ruas. A construção Brasil: desaparecidos e mortos pela ditadura – 1964-1976 1964 1965 1966 1967 1968 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 15 1 2 1 10 29 47 57 40 12 10 Outros Governo Castelo Governo Costa e Silva Governo Ernesto Geisel Fonte: Castelo Branco a Médici (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/de-castelo-branco-medici--/mapas/mortos-pela-ditadura-ano-ano. Acesso em: jan. . de obras monumentais, como a Transamazônica, em 1972, a Ponte Rio-Niterói, em 1974, e a Usina Hidrelétrica de Itaipu, concluída em 1982, além da criação de empresas como a Em- braer, em 1969, contribuíram para a imagem de um país forte. Trecho da BR-230, conhecida como rodovia Transamazônica, 1981. Com o intuito de integrar a região Norte ao restante do país, cerca de quatro mil pessoas trabalharam na construção da rodovia. Ao longo do tempo, muitas áreas da floresta próximas à rodovia tornaram-se alvo de disputas agrárias e desmatamento. A rq u iv o N a c io n a l d o B ra s il 44 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina A mídia representou um importante apoio ao governo. Em entrevista concedida na década de 1970 e publicada no livro Muito além do Jardim Botânico, de Carlos Eduardo Lins da Silva, Médici declarou: “Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho” (1985, p. 89). Ainda em 1973 ficou claro que o crescimento eco- nômico do país não era um milagre, mas fruto de uma dependência cada vez maior do capital internacional. Essa dependência ficou evidenciada, por exemplo, durante a crise petrolífera que ocorreu também em 1973 e gerou uma reviravolta na economia internacional, afetando dire- tamente o Brasil. O fim do governo Médici marcou o início de uma profunda crise econômica que se alastrou no país até meados da década de 1990. A “ditadura derrotada e encurralada” (1974-1985) Diante da crise econômica, as contradições internas da ditadura se deflagraram pouco a pouco. As disputas entre a ala castelista e a linha dura se acentuaram para determinar os rumos que o regime tomaria a partir de então. A vitória de Ernesto Geisel (1907-1996) como sucessor de Médici representou o retorno dos castelistas ao poder. Entre 1974 e 1979 a crise econômica internacional afetou o apoio político à ditadura e caracterizou o período no qual o regime militar foi colocado contra a parede e acabou derrotado. GENERAL ERNESTO GEISEL (974-979) Ernesto Geisel assumiu a presidência com dois objeti- vos principais: retomar o crescimento econômico e oferecer perspectivas para o retorno à democracia. Para garantir o processo de abertura política, no entanto, era necessário enfrentar a ala do governo que desejava manter o regime repressor e, ao mesmo tempo, seguir com a perseguição aos agentes considerados subversivos para não perder todo o apoio dos militares. A promessa de abertura política incluía programas de incentivo à cultura nacional e um abrandamento da censura. O governo também não abria mão de conduzir o processo de redemocratização para que não houvesse prejuízo para seus agentes. No entanto, a oposição do MDB crescia e, em 1974, o partido passou a ocupar quase a metade dos cargos no Congresso. Simultaneamente, a repressão resul- tava em escândalos de violência que colocavam a opinião pública contra o governo. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi torturado até a morte nos porões do DOI-Codi. Herzog foi prestar escla- recimentos após acusações feitas pela polícia ao jornal que comandava. Para evitar repercussões negativas ao regime militar, uma foto do jornalista enforcado em uma cela da prisão foi divulgada com a informação de que Herzog havia se suicidado. A versão oficial, porém, não convenceu parte significativa da população. Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e parte significativa do clero, como as Comunida- des Eclesiais de Base, que atuavam nos segmentos mais carentes da sociedade, começaram a agir em defesa dos presos políticos e da democracia; o movimento estudantil voltou a se organizar. Economicamente, o projeto de retomar o crescimento também não obteve sucesso. Apesar disso, um novo Plano Nacional de Desenvolvimento, o segundo, almejava que o país conquistasse maior autonomia sobre a extração de petróleo e a produção de aço, alumínio, fertilizantes e bens de capital (máquinas e ferramentas). Buscou-se a ampliação de parceiros comerciais e foram instituídos programas para a diversificação energética como o Proálcool e a construção da Usina Nuclear de Angra I e da Hidrelétrica de Itaipu. A promessa de abertura política, por sua vez, deu lugar a normas que visavam neutralizar a oposição. Em 1976, a Lei Falcão promoveu restrições sobre a propa- ganda eleitoral e determinou que os candidatos poderiam apresentar nome, número, currículo e fotografia, mas não haveria liberdade para apontar os problemas do governo. Em 1977, foi apresentado o Pacote de Abril, que instituiu o mandato presidencial de seis anos e os . Além disso, foi reduzido o número de deputados de São Paulo e Rio de Janeiro, lugares em que a oposição se fazia mais presente. Um ano antes de sair do governo, em 1978, Geisel de fato deu o primeiro passo para a redemocratização ao assinar a 11a emenda constitucional, que revogou o AI-5. GENERAL JOÃO BAPTISTA FIGUEIREDO (979-985) O governo de João Baptista Figueiredo (1918-1999) enfrentou o pior momento da crise econômica de toda a di- tadura. Em 1979, com a deflagração da Revolução Iraniana, ocorreua diminuição da produção de petróleo, que levou à segunda grande crise petrolífera mundial, conhecida como segundo choque do petróleo. O final da década de 1970 e o começo da década de 1980 foram marcados pelo fato de a Guerra Fria estar cada vez mais enfraquecida mediante o domínio estaduniden- se e por uma reformulação do capitalismo. É interessante notar que assim como o início da Guerra Fria e o apogeu do Estado de bem-estar social geraram ecos no Brasil, os desdobramentos internacionais das décadas seguintes também impactaram o contexto nacional. No país, os anos 1980 ficaram conhecidos como a “década perdida” em virtude da chamada crise da dívida. Nesse período, o Brasil viveu um processo de estagflação, isto é, uma estagnação econômica que é acompanhada de uma crescente inflação. Um novo Plano Nacional de Desenvolvimento cortou os investimentos em empresas estatais e aumentou os juros 45 F R E N T E 1 Vladimir foi morto no dia 25 de outubro de 1975, no DOI-CODI do II Exército. Nessa data havia comparecido voluntariamente ao órgão para prestar esclarecimentos sobre seu envolvimento com o PCB. Em nota, o Comando do II Exé rcito declarou que [...] Vladimir teria admitido seu vínculo com o PCB desde 1971 ou 1972. A comunicação sustenta ainda que às 16 horas, quando foi novamente procurado, Vladimir foi encontrado morto, enforcado com uma tira de pano e portando um pedaço de papel rasgado, no qual teria descrito sua participação no partido. Dessa forma, era montada a falsa versão de suicídio. [...]. Em novembro de 2012, a Comissão Interamericana de Direi- tos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) admitiu petição sobre o caso Vladimir Herzog, com o objetivo de investigar a responsabilidade internacional do Estado brasileiro por sua detenção arbitrária, tortura e morte. Como resultado do encaminhamento pela CNV de requerimento da família Herzog ao poder judiciário de São Paulo, a família de Vladimir Herzog re- cebeu, no ano de 2013, uma nova certidão de óbito, que estabeleceu que a morte do jornalista se deu em função de “lesões e maus-tratos sofridos durante os interrogatórios em dependência do II Exército (DOI-CODI)”. Saiba mais Brasil: dívida externa – 1972-1984 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 1972 1973 Governo Médici 1974 1975 1976 1977 Governo Geisel 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 Carta de intenções do governo brasileiro ao Fundo Dívida externa total Taxa de juros nos EUA (em %) Serviços anuais da dívida Empréstimos do FMI Missão do FMI no Brasil Fonte: Governo Figueiredo (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/ governo-figueiredo--/mapas/crise-da-divida-brasileira. Acesso em: jan. . internos com o objetivo de conter a inflação ao encarecer o crédito e desestimular o consumo. Observe, no gráfico a seguir, o aumento da dívida externa brasileira, sobretudo no começo dos anos 1980, e a intervenção do FMI no país. 46 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina Mesmo diante da grave situação econômica, a abertura política se manteve. Em 1979, a Lei de Anistia libertou parte dos presos políticos e permitiu que os exilados retornassem ao Brasil. A promulgação da Lei da Anistia também resultou da pressão popular. Na foto, ato a favor da anistia na Praça da Sé, região central de São Paulo (SP), 1979. Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institu- cionais e Complementares [...]. § 1º Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política. § 2º Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal. [...] Saiba mais O pluripartidarismo foi restaurado. Da Arena, formou-se o Partido Democrático Social (PDS), com a liderança de Paulo Maluf e de José Sarney. O MDB, por sua vez, fragmentou- -se inicialmente em três partidos: o Partido do Movimento Democrático (PMDB) encabeçado por Ulysses Guimarães (1916-1992) e Tancredo Neves (1910-1985); o Partido De- mocrático Trabalhista (PDT) de Leonel Brizola (1922-2004); e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), refundado por Ivete Var- gas (1927-1984), sobrinha de Getúlio Vargas. Durante o final da década de 1970, um novo modelo sindical, que rompia com o sindicalismo pelego varguista, organizou importantes greves metalúrgicas no ABC paulista e foi a base, juntamente com apoio de intelectuais da USP, para a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1980, Tancredo Neves rompeu com o PMDB e fundou o Partido Popular (PP), mas retornou ao antigo partido em 1982. A redemocratização contava com mobilização política, eleitoral e cívica a seu favor. Todavia, uma ala do governo que ainda rejeitava o fim da ditadura cometeu uma série de atentados a fim de responsabilizar os grupos de oposição. O caso mais notório foi o atentado no Riocentro em 30 de abril de 1981. Ao conceder anistia aos que cometeram crimes políticos ou conexo com estes, a lei garantiu o perdão àqueles que se levantaram contra o regime ditatorial, mas também aos responsáveis pelos crimes de tortura. O regime alegou que os crimes de tortura foram conexos aos crimes políticos e, por isso, seus responsáveis não poderiam ser penalizados. Greve de metalúrgicos em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, 1979. F o lh a p re s s /F o lh a p re s s 47 F R E N T E 1 Após a retomada das eleições diretas para o governo dos estados em 1982, cresceu a pressão por eleições diretas para a Presidência da República. Em 1984, o senador Dante de Oliveira (1952-2006) propôs uma emenda constitucional, a Emenda Dante de Oliveira, para que as eleições para presidente em 1985 fossem diretas. Com o objetivo de pressionar o Congresso e obter dois terços de votos favoráveis, necessários para a aprovação de uma Emenda Constitucional, a população tomou as ruas do Brasil na Campanha das “Diretas Já!”. Comício das “Diretas Já!” no Largo da Prefeitura de Porto Alegre (RS), 1984. 1. UPF-RS 2018 Em 3 de março de , ocorreu um Golpe Militar, com a derrubada do presidente constitucional João Goulart. Sobre esse golpe, analise as seguintes afirmativas: I. Foi o resultado de uma conspiração civil-militar alarmada com os rumos nacionalistas que o governo João Goulart estava tomando. II. Foi a forma encontrada pelo Alto comando militar para garantir a posse do novo presidente recém-eleito, que a União Democrática Nacional (UDN) estava tentando impedir. III. Representou a repulsa de setores da sociedade brasileira diante da tentativa de João Goulart de aumentar a presença do capital estrangeiro no país. IV. Evitou que o Partido Comunista Brasileiro, os sindicatos de trabalhadores e setores do Partido Trabalhista Brasi- leiro continuassem a exigir do presidente a implementação imediata das “reformas de base”. Está correto apenas o que se a rma em: a) I e IV. b) II e IV. c) I e III. d) II e III. e) I, II e III. 2. Enem 2017 No período anterior ao golpe militar de 1964, os documentos episcopais indicavam para os bispos que o desenvolvimento econômico, e claramente o desenvolvimento capitalista, orientando-se no sentido da justa distribuição da riqueza, resolveria o problema da miséria rural e, consequentemente, suprimiria a possibilidade do proselitismo e da expansão comunista entre os camponeses. Foi nesse sentido que o golpe de Estado, de 31 de março de 1964, foi acolhido pela Igreja. MARTINS, J. S. A política doBrasil: lúmpen e místico. São Paulo: Contexto, 2011 (adaptado). Em que pesem as divergências no interior do clero após a instalação da ditadura civil-militar, o posicionamento men- cionado no texto fundamentou-se no entendimento da hierarquia católica de que o (a): a) luta de classes é estimulada pelo livre mercado. b) poder oligárquico é limitado pela ação do Exército. c) doutrina cristã é beneficiada pelo atraso do interior. d) espaço político é dominado pelo interesse empresarial. e) manipulação ideológica é favorecida pela privação material. Revisando A lf o n s o A b ra h a m /G a le ri a S e n . P e d ro S im o n A emenda foi reprovada no Congresso. Desse modo, a eleição presidencial de 1985 seria a última eleição indireta. Tancredo Neves, do PMDB, foi eleito, mas teve de ser hospitalizado na véspera de sua posse. Temendo que houvesse alguma tentativa de retardar a redemocratização, José Sarney, seu vice, foi empossado em 15 de março de 1985 como o primeiro presidente civil após 21 anos de domínio militar. Em abril, Tancredo Neves faleceu, e Sarney governou o país até a retomada das eleições diretas, em 1989. 48 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina 3. Fuvest-SP 2019 Examine a tabela: Porcentagem da variação do desempenho econômico do Brasil FISHLOW, A. Uma história de dois presidentes: a economia política da gestão da crise. STEPHAN, A. (org.), Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra: , p. . Os dados da tabela referem-se a anos transcorridos durante a Ditadura Militar no Brasil. O desempenho econômico nesse período entrelaçou-se ao panora- ma político do país. Nesse sentido, é correto armar: a) Os sinais de esgotamento do “milagre brasileiro”, associados à crise internacional do petróleo entre 19 e 194, foram os responsáveis pelo recru- descimento da política repressiva dos governos militares. b) As eleições pluripartidárias de 1982 ocorreram em meio à recessão de 1981 e 198, no governo de João Baptista Figueiredo, e caracterizaram-se como um passo importante no processo de de- mocratização do país. c) A crise internacional do petróleo de 199 e seus efeitos na economia brasileira provocaram uma queda abrupta no PIB nacional e o fim imediato do regime, por falta de sustentação política. d) As oscilações do PIB brasileiro, registradas na ta- bela, correspondem igualmente às variações das taxas de crescimento e retração na indústria e na agricultura e aos processos de intensificação da repressão política e da censura. e) A crise internacional do petróleo de 199 não afetou a agricultura brasileira, mas coincidiu com as primei- ras eleições pluripartidárias desde 1966, marcadas pela estrondosa vitória dos partidos de oposição. 4. Udesc 2016 A Marcha da família com Deus pela li- berdade: “Movimento surgido em março de 1964 e que con- sistiu em uma série de manifestações, ou “marchas”, organizadas principalmente por setores do clero e por entidades femininas em resposta ao comício realizado no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, durante o qual o presidente João Goulart anunciou seu programa de reformas de base.” Adap. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/ AConjunturaRadicalizacao/A_marcha_da_familia_co m_Deus acessado em: 12/08/2015. Assinale a alternativa correta sobre a Marcha da famí- lia com Deus pela liberdade. a) Mostrou o protagonismo do movimento feminista e da contracultura, em especial a Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), a União Cívica Feminina e a Fraterna Amizade Urbana e Rural. b) Congregou segmentos das classes populares, em especial sem tetos e operários da indústria, em parceria com a Federação do Centro das In- dústrias do Estado de São Paulo (FIESP). c) Tinha como meta propagar a ideia de liberdade religiosa e de liberdade sexual. d) Contou com a aliança, de setores de esquerda da igreja católica e da juventude estudantil de classe média, contra o conservadorismo da so- ciedade brasileira. e) Era favorável à deposição do presidente eleito João Goulart e teve papel importante no Golpe Militar de 1964. 5. Enem 2020 A Divisão Internacional do Trabalho sig- nifica que alguns países se especializam em ganhar e outros, em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se aventuraram pelos mares e lhe cra- varam os dentes na garganta. Passaram-se os séculos e a América Latina aprimorou suas funções. GALENO, E. As veias abertas da América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 1978. Escrito na década de 7, o texto considera a parti- cipação da América Latina na Divisão Internacional do Trabalho marcada pela a) produção inovadora de padrões de tecnologia. b) superação paulatina do caráter agroexportador. c) apropriação imperialista dos recursos territoriais. d) valorização econômica dos saberes tradicionais. e) dependência externa do suprimento de alimentos. 6. UFJF/Pism-MG 2020 Nas décadas de a 7, a América Latina foi caracterizada por ditaduras. Em- bora esses regimes mantivessem diferenças entre si, também possuíam semelhanças. No que se refere aos elementos em comum, é CORRETO afirmar: a) Os regimes ditatoriais foram conduzidos pelos mi- litares sem o apoio de setores da sociedade civil, mas com a participação de todos os partidos polí- ticos e dos proletários. b) O envolvimento dos Estados Unidos na Guerra Fria fez com que este governo não tenha apoiado as ditaduras na América Latina. 49 F R E N T E 1 c) Elegeram como inimigos em comum os sindica- tos, os partidos políticos, os grupos de esquerda, recorrendo a métodos violentos. d) Não houve cooperação entre as ditaduras na América Latina, de maneira que cada um dos regi- mes decidia suas ações de combate aos inimigos. e) As instituições democráticas não foram abaladas em função da militarização da vida e apoio total da população aos regimes ditatoriais. 7. FGV-SP Tendo como estopim a recusa do Congresso Nacional, na sessão de 12 de dezembro de 1968, em conceder licença para que o deputado Márcio Morei- ra Alves fosse processado por ofender os militares num discurso na Câmara, no qual os responsabilizou pela violência contra os estudantes, o governo editou o mais repressor de todos os Atos Institucionais: o AI-5. Marcos Napolitano, O regime militar brasileiro: 1964-1985. Entre outras medidas, o AI- permitia ao presidente da República a) legislar por meio de medidas provisórias e indicar senadores e deputados federais. b) intervir em Estados e municípios, cassar manda- tos e suspender direitos políticos. c) cassar mandatos políticos apenas com a permis- são da Câmara dos Deputados. d) decretar a pena de morte para quem atentasse contra a segurança nacional. e) criar uma nova moeda, censurar a imprensa escri- ta e torturar presos políticos. 8. Famerp-SP 2017 O chamado “milagre brasileiro”, ocor- rido durante o regime militar (-), foi marcado a) pela implantação da indústria de base, impul- sionada pelo ingresso de fortes investimentos norte-americanos e europeus. b) pelo crescimento econômico acelerado, asso- ciado ao aumento da desigualdade social e ao endividamento externo. c) pela superação da hiperinflação, que corroía os salários dos trabalhadores e inviabilizava novos investimentos. d) pela queda das atividades industriais, que provo- cou uma retração na produção e no consumo de bens duráveis. e) pelo apoio à produção de café voltada à expor- tação, estimulada pela ampliação dos mercados consumidores na Europa. 9. Enem 2014 A Comissão Nacional da Verdade (CNV) reuniu representantes de comissões estaduais e de várias instituições para apresentar um balanço dos trabalhos feitos e assinar termos de cooperação com quatro or- ganizações. O coordenador da CNV estima que, até o momento, a comissão examinou, “por baixo”, cerca de 30 milhões de páginas de documentos e fez centenas de entrevistas. Disponível em: www.jb.com.br. Acesso em:2 mar. 2013 (adaptado). A notícia descreve uma iniciativa do Estado que resul- tou da ação de diversos movimentos sociais no Brasil diante de eventos ocorridos entre e . O ob- jetivo dessa iniciativa é a) anular a anistia concedida aos chefes militares. b) rever as condenações judiciais aos presos políticos. c) perdoar os crimes atribuídos aos militantes es- querdistas. d) comprovar o apoio da sociedade aos golpistas anticomunistas. e) esclarecer as circunstâncias de violações aos di- reitos humanos. 10. Unifesp Nos últimos anos do regime militar (- -), a gradual abertura política implicou iniciativas do governo e de movimentos sociais e políticos. Um dos marcos dessa abertura foi: a) A reforma partidária, que suprimiu os partidos políticos então existentes e implantou um regime bipartidário. b) O chamado “milagre econômico”, que permitiu crescimento acentuado da economia brasileira e aumentou a dívida externa. c) A campanha pelo “impeachment” de Fernando Collor, que fora acusado de diversos atos ilícitos no exercício da Presidência. d) O estabelecimento de novas regras eleitorais, que determinaram eleições diretas imediatas para presidente. e) A lei da anistia, que permitia a volta de exilados políticos e isentava militares que haviam atuado na repressão política. Exercícios propostos 1. Mackenzie-SP 2018 O excerto abaixo aponta para uma dimensão de análise a respeito das ditaduras implantadas na América Latina. Leia-o. “Esse plano [de análise], por mais difuso, é de mais difícil apreensão. Ficou patente nos boicotes que industriais e comer- ciantes realizaram no Chile para desgastar a presidência de Salvador Allende; na conhecida ‘Marcha da Família com Deus pela Liberdade’, realizada em São Paulo em protesto contra João Goulart pouco antes de sua deposição; na lealdade de parte das camadas médias e altas chilenas para com a figura incensada do general Augusto Pinochet; nas redes de cumplicidade com o sistema repressivo durante o regime militar na Argentina”. Maria Lígia Prado e Gabriela Pellegrino. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2016, p.168. 50 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina No contexto considerado, o texto aponta para uma cul- tura política autoritária que, nas sociedades em questão: a) se limitava à atuação repressiva das autoridades militares, em consonância com setores populares, em busca de melhores perspectivas políticas e econômicas. b) ultrapassava o domínio das Forças Armadas e do Estado e se disseminava por meio de postu- ras autoritárias de extensos setores sociais que apoiaram os golpes. c) ultrapassava a articulação política interna e criava condições para uma aliança de amplos setores sociais com grandes potências imperialistas do continente europeu. d) criava condições para o surgimento de grupos sociais opositores, com destacada atuação par- lamentar e guerrilheira contra os regimes de exceção no continente. e) impossibilitava qualquer organização de grupos civis, pois concentrava todo e qualquer poder em grupos das Forças Armadas articulados com os governos nacionais. 2. Fac. Albert Einstein 2017 O quadro apresenta fatos ocorridos em alguns países da América entre as dé- cadas de 1950 e 1980. 1954 1962 1964 1968 1973 1978 1979 1982 Adaptado de: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/ ditaturas-da-america-latina/. Acesso em 07/05/17, 15hs05. A partir dos dados fornecidos, é possível armar que a) os países sul-americanos passaram por um pro- cesso de estabilização política resultante da interferência norte-americana, que garantiu o auxílio econômico necessário aos governos mili- tares para promover o desenvolvimento nacional. b) os países da América Central vivenciaram a es- tabilidade democrática, enquanto toda a América do Sul passou por ditaduras pessoais de civis vinculados ao caudilhismo e aos EUA, que lhes fornecia o apoio político e econômico. c) os EUA lideraram o processo de redemocratiza- ção dos países latino-americanos, apoiando as campanhas de candidatos liberais contra os que eram subsidiados pela URSS, no contexto da Guerra Fria. d) os países latino-americanos vivenciaram um período de instabilidade caracterizado pela pre- sença dos militares na política, pela substituição de regimes democráticos por ditaduras, e pela interferência norte americana, tanto nos golpes quanto nos processos de redemocratização. 3. Uema 2015 Antes do jogo amistoso contra a seleção da Eslovênia, preparatório para a Copa do Mundo no Brasil, os jogadores argentinos fizeram um protesto, retratado na imagem abaixo. Fonte: Disponível em: http://online.wsj.com/articles/the-fackland-dispute- here-we-go-again-1402274673. Acesso em: 11 jun. 2014. 51 F R E N T E 1 A faixa exibida faz referência a um conito armado en- tre Argentina e a) Uruguai, pelo domínio da região do Rio da Prata. b) Reino Unido, por territórios na América do Sul. c) Chile, pela delimitação de fronteiras. d) Paraguai, pelo território do Chaco. e) França, pelo controle sobre o porto de Buenos Aires. 4. UPE 2013 O Regime Militar Brasileiro (1964-1988) foi marcado por uma bipolarização no âmbito da política e da arte, entre os que apoiavam e os que criticavam o regime. Dentro do segundo grupo, des- tacaram-se os músicos que produziram canções de protesto, algumas das quais vinham envoltas em metáforas, além de outros recursos estilísticos, no intuito de ocultar à Censura sua mensagem subli- minar. Dentre essas músicas, pode-se identificar a “Canção da despedida”, de Geraldo Vandré no se- guinte trecho: “Já vou embora, mas sei que vou voltar/ Amor não chora, se eu volto é pra ficar/ Amor não chora, que a hora é de deixar/ O amor de agora, pra sempre ele ficar.// Eu quis ficar aqui, mas não podia/ O meu caminho a ti, não conduzia/ Um rei mal coroado,/ Não queria/ O amor em seu reinado/ Pois sabia/ Não ia ser amado… ” Com base na crítica retratada pela letra da música, é CORRETO armar que: a) no âmbito da arte, a crítica a esse Regime se res- tringiu à esfera musical. b) aquele período parecia um conto de fadas, com estórias de reis e amores impossíveis. c) a difícil experiência do exílio forçado foi vivencia- da durante o período. d) Geraldo Vandré costumava musicar suas desilu- sões amorosas. e) a tranquilidade vivenciada pela sociedade permi- tia a composição de canções de amor. 5. Uece 2017 Atente ao seguinte excerto: [...]. Várias figuras importantes tiveram seus direitos políticos cassados. Muitas prisões, apreensões e queima de livros considerados subversivos foram feitos pelos ór- gãos repressivos. Reformas na máquina administrativa e mudanças nas leis trabalhistas foram promovidas logo no início do governo Castelo Branco: as greves foram praticamente proibidas e os salários arrochados, isto é, mantidos em níveis bastante baixos. Antônio Pedro e Lizânias de Souza Lima. História sempre presente. v. 3. 1ª ed. São Paulo, FTD, 2010. p. 280. O momento da História Republicana do Brasil a que o excerto acima se refere é a) a implantação do Estado Novo, em 37, quando o regime ditatorial se fez notar com todas as suas características. b) o início do período da Nova República, em 5, marcado pela liberdade de mercado e pelo forte controle social por parte do Estado. c) o início do período dos Governos Militares ins- talados após o golpe de que depôs o Presidente João Goulart e que durou até 5. d) o período posterior à morte do Presidente Getúlio Vargas, em 5, quando as forças opositoras al- cançaram o poder e impuseram sua política. 6. UEM-PR 2016 Sobre o golpe militar de 1964, no Brasil, assinale a(s) alternativa(s) correta(s): ) Houve participação dos Estados Unidos na articu- lação do golpe, através da operação conhecida como Brother Sam. ) O regime militar extinguiu os partidos políticos e instituiu o bipartidarismo, com a formação da Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movi- mento DemocráticoBrasileiro (MDB). ) Instaurou os Inquéritos Policiais Militares (IPMs) para processar e punir os cidadãos que eram con- trários à ditadura militar. 8) A “marcha da família com Deus pela liberdade”, realizada em de março de , em São Pau- lo, composta por integrantes das classes média e alta, com o apoio da Fiesp e da Igreja Católica, tinha como objetivo protestar contra as reformas de base e solicitar a deposição de João Goulart, identificado pelos participantes como simpatizante do comunismo. ) Os governadores Adhemar de Barros (São Paulo), Ney Braga (Paraná), Carlos Lacerda (Rio de Janeiro) e José Magalhães Pinto (Minas Gerais) apoiavam o presidente João Goulart e, por isso, resistiram ao golpe militar. Soma: 7. Unisc-RS 2014 Em 2014 completará 0 anos do Gol- pe que depôs o governo de João Goulart e instalou o Regime Militar no Brasil. A Ditadura permaneceu por mais de vinte anos não permitindo eleições li- vres para presidente e controlando muito de perto os sindicatos, movimentos sociais e outros grupos que questionavam a falta de democracia e a truculência do Regime por meio dos aparatos de repressão. Sobre esse período é INCORRETO armar que a) o pluripartidarismo foi extinto no Ato Institucional n. que permitiu apenas dois partidos – ARENA e MDB. b) o Ato Institucional n. 5 limitou ainda mais os direitos políticos no Brasil cassando políticos con- siderados pelo Regime como subversivos. c) a censura foi imposta logo após o Golpe Militar e teve como o Serviço Nacional de Informações (SNI) seu órgão mais atuante. d) a propaganda pró-regime militar usou slogans como Brasil – ame-o ou deixe-o. e) o último presidente militar, Costa e Silva, prome- teu uma abertura política para a democracia de forma lenta e gradual. 52 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina 8. UFPR 2015 Considere a charge abaixo, publicada na re- vista humorística brasileira Pif-Paf, em 27 de julho de 1964: A partir dos elementos da charge e dos conhecimen- tos sobre o período da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), identique as seguintes armativas como verdadeiras (V) ou falsas (F): A charge faz referência ao símbolo da suástica nazista, pois iguala a cassação de direitos civis e políticos que ocorreu após o golpe militar brasi- leiro com a cassação de direitos civis dos judeus alemães no regime nazista. A direita na América Latina, durante o período da Guerra Fria (-), recebeu apoio da União Soviética para instituir governos autoritários que afirmavam proteger o bem maior da população contra inimigos comunistas. A charge faz referência ao caráter do governo ins- tituído ser de direita, para proteger o país de uma alegada “ameaça comunista”, que foi associada pelos militares e seus apoiadores ao presidente deposto João Goulart e demais grupos de es- querda. Eventos como a Revolução Cubana () não somente inspiraram diversos movimentos de esquerda antes e depois do golpe militar, como impulsionaram os Estados Unidos para o estreita- mento de laços com a direita na América Latina. Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor- reta, de cima para baixo. a) V – F – V – V. b) V – V – V – V. c) F – V – F – F. d) F – V – V – F. e) V – F – F – V. 9. UCS-RS 2014 A ditadura militar no Brasil foi implanta- da com o golpe de 31 de março de 1964. Esse golpe tem início com a) o decreto do Ato Institucional nº , suspendendo as garantias constitucionais da população brasileira. b) a derrubada do governo do presidente João Goulart e rompeu com o regime democrático. CARDOSO, Oldimar. Tudo é história (9º ano). S. Paulo, 2006, p. 231. c) a instauração do bipartidarismo, autorizando o funcionamento apenas do MDB, que concentrou a oposição, e da UDN, governista. d) a implantação do modelo do milagre econômico, evitando que as reformas de base permitissem o ingresso de capital estrangeiro na economia bra- sileira. e) o decreto de eleições indiretas para presidente e a nomeação de senadores “biônicos”. 10. FGV-SP 2013 Observe o gráfico. A partir dos dados apresentados, é correto considerar que a) o endividamento público, a partir de meados dos anos , deve ser atribuído aos investimentos realizados na prospecção de petróleo, pois os governos ditatoriais objetivavam a autossuficiên- cia nessa área. b) durante o governo Geisel, mesmo diante de um contexto de crise econômica internacional, optou- -se pelo endividamento externo para financiar o II Plano Nacional de Desenvolvimento. c) O progressivo aumento da dívida externa durante a ditadura foi compensado pelas altas taxas do PIB, que atingiram os seus melhores níveis duran- te os governos Geisel e Figueiredo. d) O governo Médici impôs um modelo econômico baseado na industrialização dos bens de consu- mo não duráveis, objetivando a universalização do consumo nacional, mas que gerou a dívida externa. e) a dívida externa brasileira não trouxe maiores preo- cupações dos economistas durante a ditadura, porque o seu crescimento garantiu uma melhora importante na distribuição das riquezas nacionais. 11. FGV-SP No fundo, chegamos à conclusão de que fizemos a revolução contra nós mesmos. Essa lamentosa frase de Ade- mar de Barros sintetizava o ânimo de alguns conspiradores civis com os rumos do governo militar. Após duras críticas ao regime, Ademar chegou a exigir a renúncia do presidente Castelo Branco em um manifesto à nação. Em junho de 1966 teve seus direitos políticos cassados por dez anos. Flávio Campos, Oficina de História: história do Brasil. Fonte: Maria Helena M. Alves, Estado e oposição no Brasil (1964 – 1984), p. 332. (Apud Flavio de Campos, Oficina de História do Brasil) 53 F R E N T E 1 Carlos Lacerda, outro importante civil articulador do golpe de , reagiu contra o regime por meio a) da criação, no Rio de Janeiro, do Comitê pela Anistia, em 1968, com o apoio de militares e civis cassados pelo regime de exceção. b) da defesa de eleições diretas para a presidência da República e governos estaduais e apoiou, em 1968, contraditoriamente, o AI-5. c) de um mandado de segurança apresentado, em 1969, ao Supremo Tribunal Federal, reivindican- do o afastamento de Costa e Silva. d) de uma representação ao Congresso Nacional, exi- gindo a imediata reconsideração acerca do AI-2, que criou a ARENA e o MDB. e) da organização da Frente Ampla, em 196, que contou com a participação dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart. 12. Unesp 2021 Vou voltar Sei que ainda vou voltar Para o meu lugar Foi lá e é ainda lá Que eu hei de ouvir cantar Uma sabiá Cantar uma sabiá Vou voltar Sei que ainda vou voltar Vou deitar à sombra De uma palmeira Que já não há Colher a flor Que já não dá E algum amor Talvez possa espantar As noites que eu não queria E anunciar o dia Vou voltar Sei que ainda vou voltar Não vai ser em vão Que fiz tantos planos De me enganar Como fiz enganos De me encontrar Como fiz estradas De me perder Fiz de tudo e nada De te esquecer (www.chicobuarque.com.br) A canção “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim, foi apresentada no III Festival Internacional da canção, em setembro de , durante o regime militar brasi- leiro. Sua letra a) recorre à relação intertextual, para criticar a re- pressão e as perseguições políticas no país. b) explora a metáfora do voo do pássaro, para propor ação e mobilização popular contra as per- seguições políticas. c) Valoriza a esfera íntima e pessoal, para rebater o engajamento político-social de intelectuais e ar- tistas. d) adota o recurso da repetição e do paralelismo, para defender a continuidade do regime militar. e) menciona aves e plantas, para defender a adoção de política ambiental sustentável pelo governo. 13. ESPM-SP 2019 Em //, há exatos anos, nos chamados anos de chumbo, o jornal Folha de São Paulo estampava em manchete de primeira página: Com trombose cerebral, Costa e Silva se afasta O jornal acrescentava: Pouco antes das 22horas deste domingo 31/8, a Agência Nacional informou o país, em cadeia de rádio e televisão que o presidente Arthur da Costa e Silva, acometido de trombose cerebral, está tem- porariamente impedido de chefiar o governo. Reunido no Rio de Janeiro, o Alto Comando das For- ças Armadas editou o Ato Institucional No. , que teve por efeito: a) o vice-presidente Pedro Aleixo, civil e voz solitária, que havia se erguido contra o AI-5, foi imediata- mente empossado na Presidência da República; b) o Alto Comando das Forças Armadas assumiu a presidência do Brasil e a exerceu até o término do mandato de Costa e Silva, rompendo a institu- cionalidade garantida pela Constituição de 196 então em vigência; c) foi empossado na presidência o General Ernesto Geisel, que revogou o AI-5 assim que assumiu; d) foi formada uma junta militar que assumiu interina- mente, rompeu a constitucionalidade do próprio regime e impediu a posse do vice-presidente Pedro Aleixo, tendo em 0/10/1969 transferido a presidência para o General Garrastazu Médici; e) a revogação de todos os atos discricionários e a instituição de uma lei de anistia ampla geral e ir- restrita, deflagrando a abertura política. 14. UEMG 2019 Em 7, cresciam em todo o país movimentos de oposição ao regime militar, fazendo o governo decre- tar a Lei de Segurança Nacional, que previa a) aprovar o projeto elaborado da nova constituição de 196. b) penas elevadas para qualquer cidadão que se opusesse ao regime. c) punição para policiais militares que descumpris- sem a lei. d) punições para jornalistas que fizessem críticas e ataques ao regime. 15. Fuvest-SP 2012 No início de 1969, a situação política se modifica. A repressão endurece e leva à retração do movimento de massas. As primeiras greves, de Osasco e Contagem, têm seus dirigentes perseguidos e são suspensas. O movimento 54 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina estudantil reflui. A oposição liberal está amordaçada pela censura à imprensa e pela cassação de mandatos. Apolônio de Carvalho. Vale a pena sonhar. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, p. 202. O testemunho, dado por um participante da resistência à ditadura militar brasileira, sintetiza o panorama políti- co dos últimos anos da década de , marcados a) pela adesão total dos grupos oposicionistas à luta armada e pela subordinação dos sindicatos e cen- trais operárias aos partidos de extrema esquerda. b) pelo bipartidarismo implantado por meio do Ato Institucional nº 2, que eliminou toda forma de oposição institucional ao regime militar. c) pela desmobilização do movimento estudantil, que foi bastante combativo nos anos imediata- mente posteriores ao golpe de 64, mas depois passou a defender o regime. d) pelo apoio da maioria das organizações da so- ciedade civil ao governo militar, empenhadas em combater a subversão e afastar, do Brasil, o peri- go comunista. e) pela decretação do Ato Institucional nº 5, que li- mitou drasticamente a liberdade de expressão e instituiu medidas que ampliaram a repressão aos opositores do regime. 16. Unicamp-SP 2018 “ODORICO Eu sei. É um movimento subversivo procurando me intrigar com a opinião pública e criar problemas à minha administração. Sei, sim. É uma conspiração. Eles não que- riam o cemitério. Desde o princípio foram contra. E agora que o cemitério está pronto caem de pau em cima de mim, me chamam de demagogo, de tudo...” (...) “ODORICO Pois eu quero que depois o senhor soletre esta gazeta de ponta a ponta. Neco Pedreira o senhor conhece? ZECA Conheço não sinhô. ODORICO É o dono do jornal. Elemento perigoso. Sua primeira missão como delegado é dar uma batida na redação dessa gazeta subversiva e sacudir a marreta em nome da lei e da democracia...” Dias Gomes, O bem-amado. 12.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014, p. 40 e 68. A peça de Dias Gomes é uma crítica a um momento histórico e político da sociedade brasileira. Odorico Paraguassu tornou-se um personagem emblemático desse período porque por meio dele a) simbolizou-se a defesa da democracia a qual- quer custo. Essa defesa resultou em uma sociedade cindida entre o respeito à lei e o seu uso particular, temas políticos comuns aos países latino-americanos nos anos de 190. b) representaram-se o atropelo da lei constitucio- nal, a relativização da liberdade de imprensa e a construção de um inimigo interno que justificasse o arbítrio das decisões do executivo, próprios aos Anos de Chumbo. c) explicitaram-se as leis que regiam a vida política e social de uma nação subdesenvolvida da América Latina na década de 190, marcada pela inércia e pela cumplicidade dos cidadãos com a corrupção sistêmica do país. d) fez-se a defesa da democracia e do respeito irres- trito à lei constitucional para um projeto de nação brasileira da década 190, que enfrentava o espí- rito demagógico dos políticos latino-americanos. 17. Unesp 2021 Leia a letra da canção “Bom conselho”, de Chico Buarque, composta em 7. Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inútil dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado: Quem espera nunca alcança Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio vento na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade www.chicobuarque.com.br Considerando-se o contexto histórico-social em que a canção foi composta, o verso “Vou pra rua e bebo a tempestade” (3ª estrofe) sugere a ideia de manifestações populares que ocorreram no Brasil por ocasião a) do Regime Civil-Militar. b) do fim do Estado Novo. c) da deposição de João Goulart. d) do Movimento Diretas Já. e) do Movimento Grevista dos Metalúrgicos do ABC. 18. UFRGS 2016 Considere as afirmações abaixo, sobre a Operação Condor, estabelecida clandestinamente e em conjunto pelas ditaduras do Cone Sul, a partir de 7. I. Os Estados Unidos assumiram apoio e suporte à operação, ainda na década de 190. II. A meta da operação era a eliminação dos prin- cipais opositores das ditaduras do Cone Sul. III. O sequestro de militantes de esquerda uruguaios, em 198, na cidade de Porto Alegre, foi uma de suas ações mais famosas. 55 F R E N T E 1 Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 19. Fuvest-SP 2020 Documentos da Agência Central de Inteligência Ame- ricana (CIA) mostram que o Brasil quis liderar a Operação Condor e só não conseguiu porque enfrentou resistência dos outros países membros – Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia. (...) Os documentos da CIA fazem parte do Projeto de Desclassificação Argentina (The Dirty War, 1976-1983), do governo americano, e incluem mais de 40 mil páginas. Duas dezenas delas fazem menções ao Brasil (...). Marcelo Godoy, O Estado de São Paulo. Abril/2019. A respeito da Operação Condor, é correto armar: a) Ainda que tivesse um alvo comum de repressão política, ela não implicava o alinhamento automá- tico dos regimes ditatoriais de cada país. b) Ao encontrar resistência dos demais países que dela participavam, o Brasil passou a criticar publi- camente suas ações. c) Em vista da oposição norte-americana à iniciativa, a cooperação entre os países membros não foi implantada. d) O governo ditatorial paraguaio assumiu a posição de liderança no acordo firmado entre seus países fundadores. e) Limitou-se à troca de informações sobre os opo- sitores políticos que buscaram exílio em cada um desses países. 20. Unesp 2012 A situação de harmonia no Congresso entraria em crise nas eleições de 1974, marco importante do avanço pela retomada do Estado de Direito. Edgard Leite Ferreira Neto. Os partidos políticos no Brasil, 1988. O texto menciona as eleições parlamentares de 7, ocorridas durante o regime militar. Pode-se dizer que essas eleições a) representaram uma vitória significativa do partido da situação e eliminaram os esforços reformistasde deputados e senadores. b) revelaram a ampla hegemonia de que o gover- no desfrutava nos estados economicamente mais fortes do Sudeste e sua fragilidade no Centro- -Norte do país. c) reforçaram a convicção de que o bipartidarismo era o modelo político-partidário adequado para a consolidação da República brasileira. d) demonstraram insatisfação de parte expressi- va da sociedade brasileira e provocaram forte reação do governo, que alterou as leis eleitorais para assegurar a manutenção do controle sobre o Congresso Nacional. e) expressaram a popularidade dos candidatos do par- tido de oposição e o desejo dos oposicionistas de manterem a ordem política então predominante. 21. Enem 2018 São Paulo, 10 de janeiro de 1979. Exmo. Sr. Presidente Ernesto Geisel. Considerando as instruções dadas por V. S. de que sejam negados os passaportes aos senhores Francisco Julião, Miguel Arraes, Leonel Brizola, Luis Prestes, Pau- lo Schilling, Gregório Bezerra, Márcio Moreira Alves e Paulo Freire. Considerando que, desde que nasci, me identifico plenamente com a pele, a cor dos cabelos, a cultura, o sorriso, as aspirações, a história e o sangue destes oito se- nhores. Considerando tudo isto, por imperativo de minha consciência, venho por meio desta devolver o passaporte que, negado a eles, me foi concedido pelos órgãos com- petentes de seu governo. Carta do cartunista Henrique de Souza Filho, conhecido como Henfil. In: HENFIL, Cartas da mãe. Rio de Janeiro: Codecri, 1981 (adaptado). No referido contexto histórico, a manifestação do car- tunista Henl expressava uma crítica ao (à): a) censura moral das produções culturais. b) limite do processo de distensão política. c) interferência militar de países estrangeiros. d) representação social das agremiações partidárias. e) impedimento de eleição das assembleias estaduais. 22. Unesp Embora a crise já estivesse se manifestando quando o general Geisel tomou posse, o seu plano econômico [II Plano Nacional de Desenvolvimento] continuava mantendo as mesmas expectativas dos anos anteriores: altas taxas de crescimento econômico e controle da inflação. Nadine Habert, A década de 70 – Apogeu e crise da ditadura militar brasileira. A adoção do II Plano Nacional de Desenvolvimento gerou, ao nal do governo Geisel, a) uma estagnação econômica, associada a um pro- cesso de deflação das mercadorias importadas. b) uma mudança acessória no modelo econômico, que passou a privilegiar o mercado interno e a distribuição de renda. c) um aumento da participação do Estado na eco- nomia e um crescimento considerável da dívida externa brasileira. d) um crescimento econômico acima do planejado, porém com as maiores taxas de desemprego du- rante o regime militar. e) a intervenção direta do Fundo Monetário Interna- cional (FMI), exigindo o pagamento de parcelas atrasadas da dívida externa. 56 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina 23. FGV-SP O general Ernesto Geisel, candidato da Arena, venceu facilmente o representante da oposição em janeiro de 1974. (...) o novo presidente iniciou o processo de flexibilização do regime através da sua política de distensão, que previa uma série de alterações parciais (abrandamento da censura e de medidas repressivas, e negociações com setores oposicionistas). Seu objetivo era atenuar as tensões decorrentes do exercício do poder sob regras tão autoritárias e alargar a base de sustentação do governo através da cooperação de setores da oposição. Flavio de Campos, Oficina de História - História do Brasil. Apesar do anúncio de distensão política, durante esse governo ocorreram retrocessos nesse processo, repre- sentados a) pela imposição do AI-5 e pela organização da OBAN. b) pela criação da Escola Superior de Guerra e pela proibição da Frente Ampla. c) pelo decreto da Lei de Segurança Nacional e pela outorga da ARENA e do MDB. d) pelo adiamento das eleições de 198 e pela criação do SNI. e) pela imposição do Pacote de Abril e pela Lei Falcão. 24. Fuvest-SP 2017 Não nos esqueçamos de que este é um tempo de abertura. Vivemos sob o signo da anistia que é esquecimento, ou devia ser. Tempo que pede contenção e paciência. Sofremos todo ímpeto agressivo. Adocemos os gestos. O tempo é de perdão. (...) Esqueçamos tudo isto, mas cuidado! Não nos esqueçamos de enfrentar, agora, a tarefa em que fracassamos ontem e que deu lugar a tudo isto. Não nos esqueçamos de organizar a defesa das instituições democráticas contra novos golpistas militares e civis para que em tempo algum do futuro ninguém tenha outra vez de enfrentar e sofrer, e depois esquecer os conspiradores, os torturadores, os censores e todos os culpados e coniventes que beberam nosso sangue e pedem nosso esquecimento. Darcy Ribeiro. “Réquiem”, Ensaios insólitos. Porto Alegre: L&PM, 1979. O texto remete à anistia e à reexão sobre os impasses da abertura política no Brasil, no período nal do regime mi- litar, implantado com o golpe de . Com base nessas referências, escolha a alternativa correta. a) A presença de censores na redação dos jornais somente foi extinta em 1988, quando promulgada a nova Constituição. b) O projeto de lei pela anistia ampla, geral e irrestrita foi uma proposta defendida pelos militares como forma de apazi- guar os atos de exceção. c) Durante a transição democrática, foram conquistados o bipartidarismo, as eleições livres e gerais e a convocação da Assembleia Constituinte. d) A lei de anistia aprovada pelo Congresso beneficiou presos políticos e exilados, e também agentes da repressão. e) O esquecimento e o perdão mencionados integravam a pauta da Teologia da Libertação, uma importante diretriz da Igreja Católica. 25. Unesp 2013 Eu acho que a anistia foi a solução, mas ela não foi completa. Quer dizer, não podiam ser anistiados aqueles que mataram torturando, porque esse é um crime inafiançável. Quem mata calmamente, friamente, tem de sofrer um processo e tem de sofrer também as consequências do seu ato. Isso nunca foi executado no Brasil como foi executado na Argentina com todos os generais. O Brasil fez uma anistia pela metade, mas nós ficamos contentes porque não houve derramamento de sangue. D. Paulo Evaristo Arns. Cult, março de 2004. Segundo a declaração de D. Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 7 e , a Lei da Anistia no Brasil, de 7, a) perdoou opositores e defensores do regime militar e, a despeito de suas imperfeições, impediu confrontos e mortes entre setores políticos rivais. b) inspirou-se na lei de anistia argentina, que julgou e condenou militares que mataram e torturaram durante o re- gime militar. c) foi inútil, uma vez que não puniu aqueles que atuaram, durante o regime militar, nos órgãos de repressão política e policial. d) foi equivocada, pois determinou o posterior levantamento, análise e julgamento dos crimes cometidos durante o período do regime militar. e) beneficiou os opositores do regime militar e condenou aqueles que os reprimiram por meio da violência e da tortura. 57 F R E N T E 1 Texto complementar Entrevista com o historiador Mateus Gamba Torres Na entrevista feita com o professor do Departamento de História da Universidade de Brasília são abordadas questões relacionadas ao Supremo Tribunal Federal e à atuação da mais alta instância do poder judiciário brasileiro durante a ditadura militar. [...] A resistência dos ministros do STF frente aos sucessivos arroubos autoritários do governo Bolsonaro tem levado a um maior interesse social pela história da mais alta corte do país, sobretudo a sua atuação durante a ditadura militar (1964-1985). Como teriam atuado os ministros no período? Foram cooptados ou fizeram um contraponto altivo aos ditadores? Para conversar sobre o tema, entrevistei (por orres, professor do Departamento de História da Universidade de Brasília. Torres é especialista em ditadura militar e defendeu, em 2014, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma tese intitulada “Política, discurso e ditadura: o Supremo Tribunal Federalnos julgamentos dos Recursos Ordinários Criminais (1964-1970)”. Professor, vamos começar do básico: o que é o Supremo Tribunal Federal? Qual a sua função social e atribuições jurídicas? O Supremo Tribunal Federal brasileiro é um órgão do poder judiciário. Ele é formado por 11 ministros, indicados pelo Presidente da República e com seus nomes aprovados pelo Senado Federal. [...] O STF tem as funções de Corte Constitucional: decidir toda e qualquer questão jurídica que tenha a ver com a Constituição. Além disso, ele serve como última instância do poder judiciário brasileiro em processos da chamada justiça comum (não especializada, como a eleitoral, trabalhista ou Militar). A função social e política desta corte se insere no chamado sistema de freios e contrapesos de Montesquieu, onde o Supremo Tribunal Federal, na qualidade de Corte Constitucional, quando provocado através de alguma ação judicial, estabelece limites (dentro da Constituição) para a atuação de outros poderes. [...] As atribuições jurídicas do Supremo Tribunal Federal estão especificadas no artigo 102 da Constituição Federal de 1988, mas o mais importante é que esse artigo o coloca como uma salvaguarda da constituição: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição”. Após tal artigo, especifica-se as ações e medidas que o Tribunal pode tomar caso seja provocado. Como o STF de 1964 se diferencia do STF dos dias atuais, especialmente em termos de funcionamento? Analisando a Constituição de 1946 percebe-se que não estava tão explícito essa “guarda da Constituição”. Talvez os agentes daquele tempo considerassem que isso estava implícito, ou talvez não quisessem deixar tão explícito. Teríamos que pesquisar o processo de elaboração da Constituição de 1946 para saber. Com relação ao funcionamento da corte, não havia a divisão em Turmas, como ocorre atualmente, tudo, naquela época, era decidido em Plenário (com votos de todos os Ministros). Hoje, há duas turmas de 5 ministros, ambas presididas pelos mais antigos. Caso o autor da ação ou o réu não concorde com o resultado de uma turma, ele pode recorrer ao Plenário do Tribunal para ter sua questão dirimida. O Plenário é formado pelos 11 Ministros, que podem decidir a questão em definitivo. No geral, comparando as Constituições de 1946 e 1988, as atribuições do STF são bem parecidas, especialmente como última instância em alguns determinados processos: julgamento de Presidente da República, julgamento de Presidentes de outros Tribunais superiores (Eleitoral, trabalhista, Militar), etc. O que o STF poderia fazer diante do Golpe de 1964 e o que efetivamente ele fez naquela ocasião? Bom, o judiciário sempre se coloca numa posição de “inércia”. Isso significa que ele somente pode agir quando “provocado”: em geral, quando alguém entra com alguma ação. No momento do golpe, percebe-se que houve uma quebra institucional e constitucional gravíssima. Os militares depuseram um presidente eleito, e isso contrariou artigos e procedimentos determinados na Constituição da República para uma pos- sível destituição. Além disso, na continuação do golpe, no dia 2 de abril de 1964, entre 3 e 4 da manhã, o Presidente do Senado Federal, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a presidência da república, mesmo com o Presidente da República estando ainda em Porto Alegre pensando na resistência. Todos os parlamentares e militares apoiadores do golpe se dirigiram a pé ao Palácio do Planalto para dar “posse” para o Presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli. Para dar um “verniz” de legalidade, eles literalmente acordaram e chamaram o Presidente do Supremo Tribunal Federal Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa para também dar “posse” ao Presidente da Câmara dos Deputados. Eu digo que seria nesse momento que o Supremo Tribunal Federal poderia se insurgir. Por exemplo: o presidente do STF poderia ter negado a posse, não comparecer a ela ou, ainda, não considerar ela legal. A coisa foi tão estranha que um assessor da embaixada estadunidense que estava no local, assistindo ao evento, foi perguntado posteriormente por seus chefes nos EUA: a insurgência militar e deposição do Presidente foram legais? E ele respondeu que sim, afinal, o Presidente da Suprema Corte brasileira estava lá dando seu aval na “posse” do Presidente da Câmara dos Deputados (essa informação está descrita no documentário “O dia que durou 21 anos”). Nenhum dos 11 ministros fez qualquer declaração contra o golpe de 1964, nem aqueles que eram mais alinhados com João Goulart. Na minha tese de doutorado, eu mostro que o grande medo dos ministros mais alinhados com o governo João Goulart era serem cassados, como, de fato, o foram diversos políticos ligados ao ex-presidente. Ou seja, o STF foi mantido aberto pelos golpistas, e isso bastava para os membros de poder ficarem calados. E em um primeiro momento, os ministros conseguiram o seu intento: não foram cassados no momento do golpe; isso só aconteceria em 1969. Hoje, diferentemente, eu noto os Ministros do STF se insurgindo contra esses tipos de declarações autoritárias, tanto quando se fala em fechamento do Congresso, e ainda mais quando se fala em possível fechamento do STF. [...] 58 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina No final dos anos 1960, sobretudo depois do AI-5, as denúncias de tortura e outras violações dos direitos humanos se tornaram mais intensas. O STF enquanto instituição ou os seus ministros, individualmente, se pronunciaram a respeito? Mesmo cooptada, a corte conseguiu agir por alguma brecha? O que eu consegui notar na pesquisa que fiz em jornais da época é que desde 1964 a imprensa denunciava episódios de maus-tratos e torturas. Porém, até onde eu li, em nenhum momento o STF se pronunciou sobre o assunto. Isso demandaria uma pesquisa mais aprofundada, mas nem mesmo no site do STF existe qualquer menção a tortura. Não vi isso nem após o AI-5. Um mês depois do AI-5, três Ministros foram cassados (aposentados compulsoriamente): Hermes Lima, Evandro Lins e Silva e Victor Nunes Leal. Mais dois ministros pediram aposentadoria em solidariedade aos cassados: Antônio Gonçalves de Oliveira, na época presidente do tribunal, e aquele que seria seu sucessor, Antônio Carlos Lafayette de Andrade. O tribunal, assim, voltou a configuração original de 11 ministros, sendo 10 nomeados pelos ditadores e o ministro Luiz Gallotti, que era apoiador do regime e assumiu a presidência nesse momento. Ou seja, havia um Tribunal totalmente alinhado e amedrontado com a possibilidade de cassação. As denúncias de tortura não eram investigadas seriamente. [...] TORRES, Mateus Gamba. O Supremo Tribunal Federal durante a ditadura militar, segundo este historiador. Café História, 27 jul. 2020. Disponível em:https://www.cafehistoria.com.br/o-stf-durante-a-ditadura-militar/. Acesso em: 1 o abr. 2022. Resumindo As ditaduras na América Latina y Apoio e interferência dos Estados Unidos durante o contexto da Guerra Fria. y Principais características: fortalecimento da instituição militar, militarização da vida social e política, dissolução das instituições representativas, declarado anticomunismo; falência ou crise dos partidos políticos tradicionais. A ditadura civil-militar no Brasil y Governo de Castelo Branco (1964-1967): AI-1 (fortalecimento do Executivo), AI-2 (bipartidarismo e eleições presidenciais indi- retas) e AI-3 (eleições indiretas para os governos estaduais); Constituição de 1967. y Governo de Costa e Silva (1967-1969): ciclo de oposição e repressão; AI-5 (Executivo com plenos poderes e consolidação da montagem do aparelho de repressão). y Junta Militar (1969): início dos “anos de chumbo”, fortalecimento da luta armada e da repressão; reforma constitucional de 1969. y Governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1973): neutralização da luta armada; “milagre econômico”; primeira crise mundial do petróleo e início da crise econômica no Brasil. y Governo de Ernesto Geisel (1973-1979): promessa de abertura políticae revogação do AI-5. y Governo de João Figueiredo (1979-1985): Lei de Anistia; retomada do pluripartidarismo; “Diretas Já” e últimas eleições indiretas para Presidência. Quer saber mais? Podcasts Estação Brasil # – O golpe de 964: como morre uma democracia Nesse episódio são debatidos os acontecimentos que culminaram no golpe de . Estação Brasil #9 – Guerra Fria no Brasil Esse episódio destaca os fatores de maior repercussão da Guerra Fria no Brasil. Livro NAPOLITANO, Marcos.1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 04. O livro de Marcos Napolitano oferece uma síntese dos anos em que a ditadura militar vigorou no país. Documentário TAVARES, Camilo; TAVARES, Flávio. O dia que durou 21 anos.Brasil: Pequi Filmes(03). O documentário aborda a influência estadunidense no golpe que ocorreu em , entre outros aspectos da ditadura militar brasileira. 59 F R E N T E 1 1. Uema/Paes 2016 As décadas de e 7 na América Latina foram marcadas pela instauração de Regimes Militares, quando foram implementados so- fisticados mecanismos de repressão contra aqueles considerados “ameaças” aos Governos Ditatoriais. Exercícios complementares http://ujesjile.blogspot.com///golpe-militar-no-chile-o-mais-doloroso.html. Considerando as informações contidas na imagem acima, analise historicamente duas características do aparelho repressivo dos Regimes Militares nos diver- sos países da América Latina. 2. UEL-PR 2019 Leia o texto a seguir. Primeiro mataremos todos os subversivos; depois ma- taremos seus colaboradores; depois seus simpatizantes, depois os que permanecem indiferentes; e finalmente mataremos os tímidos. Declaração feita em 1976 pelo governador militar de Buenos Aires, General Ibérico Saint-Jean. In: JABINE, Thomas; CLAUDE, Richard (Org.). Direitos humanos e estatística: o arquivo posto a nu. São Paulo: EDUSP, 2007, p. 400. A última ditadura militar Argentina (7-3) foi o re- gime político mais violento e autoritário do Cone Sul. Durante os sete anos em que comandou o país, estima- -se que a Junta Militar e seus órgãos de repressão te- nham assassinado cerca de trinta mil opositores, entre militantes de esquerda e cidadãos críticos ao gover- no. Segundo o discurso das Forças Armadas e dos setores civis que as apoiavam, era preciso travar uma guerra contra a subversão, podendo até mesmo o ensino de matemática moderna ou gêneros musicais como Rock’n roll serem considerados ameaçadores à juventude. Os militares argentinos, assim como em várias outras ditaduras da região, procuravam justi car seus atos pela chamada Doutrina de Segurança Na- cional (DSN). Com base nos conhecimentos acerca da História da América Latina Contemporânea, responda aos itens a seguir. a) Indique quais países do Cone Sul viveram sob di- taduras militares nos anos de 1960-1980. b) Explique no que consistia a Doutrina de Seguran- ça Nacional e contextualize o ciclo de ditaduras latino-americanas desse período. 3. Fuvest-SP 2016 Leia este texto e responda ao que se pede. Em operação militar aeronaval, que se estendeu pela madrugada de quinta-feira e pela manhã de on- tem, fuzileiros navais e soldados do Exército argentino ocuparam as Ilhas Malvinas (Falkland para os ingleses), as Geórgias e Sandwich do Sul, pondo fim, de forma abrupta, a negociações diplomáticas que vinham sendo mantidas nos últimos dias entre os dois países. O presi- dente argentino, general Leopoldo Galtieri, justificou a invasão afirmando que o Reino Unido se havia apossado desses territórios “por meios predatórios”. E acrescentou que “a Argentina não se curvará diante de um desen- volvimento intimidador das Forças Armadas britânicas, que estão ameaçando com um uso indiscriminado da força”. Em meio ao clima de euforia que tomou conta do país, após o sucesso da operação de ocupação das Malvinas, Galtieri anunciou uma medida excepcional: foram postas em liberdade todas as 107 pessoas detidas durante um recente ato de protesto da Confederação Geral do Trabalho. O Estado de S. Paulo, 03/04/1982. Adaptado. a) Caracterize o regime político vigente na Argentina à época em que ocorreu o conflito com o Reino Unido (meses de abril a junho de 1982). b) Indique duas mudanças – uma de natureza polí- tica e uma de natureza econômica – provocadas pela derrota da Argentina nessa guerra. c) Levando em conta que, além de outras motiva- ções, a guerra a que se refere o texto implicou também aspectos geopolíticos, discorra sobre a importância estratégica das ilhas envolvidas nes- se conflito. 4. Uerj 2014 A história latino-americana na década de 7 foi marcada pela vigência de governos ditato- riais. As fotografias a seguir remetem ao golpe militar ocorrido no Chile em setembro de 73. Ataque ao Palácio de Governo La Moneda (setembro de 1973). 60 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina Ex-membros da guarda presidencial de Salvador Allende com fotos de colegas mortos durante o golpe, em frente ao Palácio de Governo La Moneda (setembro de 2011). Fonte: Augusto Bandeira, Correio da Manhã, 14/07/1963 (em cima) e Biganti, O Estado de S. Paulo, 09/02/1964 (embaixo). Imagens extraídas de: Rodrigo Patto Motta, Jango e golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 98 e 165. Cite duas características comuns aos governos dita- toriais latino-americanos. Em seguida, identifi que uma das principais reivindicações da sociedade chilena com relação às heranças do golpe de 1973. 5. UFPR 2019 Leia o seguinte trecho de um texto sobre as Comissões da Verdade na América Latina nos sé- culos XX e XXI: A América Latina é um rico cenário para exemplos de como o reconhecimento e a responsabilização podem se mostrar custosos. Leis de anistia feitas pelos próprios governos militares foram muito comuns. No Brasil, a lei foi aprovada em 1979 [...]. Em muitos países da América Central e do Sul, há uma tradição de impunidade e es- quecimento. Soldados e membros das forças de segurança torturaram e mataram centenas de pessoas sem medo de punição. Na Guatemala, Peru e Colômbia, as cortes milita- res se recusavam a condenar oficiais acusados de violações aos direitos humanos [...]. No entanto, devido à pressão de setores importantes da sociedade civil, a maioria dos governos democráticos tem revisto a opção pela amnésia e criado comissões de verdade para investigar as violações ocorridas. (PINTO, Simone Rodrigues. Direito à Memória e à Verdade: Comissões de Verdade na América Latina. Revista Debates, Porto Alegre, v. 4, n. 1, jan.-jun. 2010, p. 133-134.) A partir do excerto acima e dos conhecimentos so- bre a história política do Brasil nas décadas de 1960 a 1980, responda: a) O que foi a lei da anistia no Brasil em , a quem ela afetou e de que forma? Tendo em vista os trabalhos da Comissão Nacio- nal da Verdade no Brasil entre e , a lei da anistia foi revogada em nosso país após a divulgação dos resultados da Comissão? b) O que foi o processo da chamada “abertura” polí- tica, iniciada a partir de , quais foram as suas características e quem foram os atores sociais en- volvidos e com quais interesses? 6. Fuvest-SP Considere as seguintes charges. Essas charges foram publicadas durante a presidên- cia de João Goulart (1961-1964). a) Cada charge apresenta uma crítica a um determi- nado aspecto do governo de Goulart. Identifique esses dois aspectos. b) Analise como esses dois aspectos contribuíram para a justificativa do golpe militar de . 7. Uerj 2016 Meu país aumentará a ajuda ao Brasil, para cooperar com o novo governo. As mudanças registradas no Brasil foram feitas de acordo com a Constituição. Os militares, os governadores de Estados Democráticos e os que os apoiaram puseram fim a uma ameaça contra o sistema constitucional do Brasil. Derrubaram o presidente João Goulart para defender a Constituição. Dean Rusk, secretário de Estado dos E.U.A., abril de 1964. Peço ao Congresso a condenação do movimento mi- litar brasileiro.O Terceiro Mundo, o dos países que foram colonizados e lutam por sua grandeza, foi golpeado pela plutocracia mundial, o governo dos mais ricos e podero- sos. Isso é sentido pelos mexicanos em sua própria carne. Antonio Vargas MacDonald, deputado mexicano, abril de 1964. Adaptado de Nosso Século (1960-1980). São Paulo: Abril Cultural, 1980. 61 F R E N T E 1 Variadas foram as repercussões internacionais à deposição do Presidente João Goulart, em abril de , como expressam os depoimentos citados. Considerando a natureza do movimento que depôs o presidente brasileiro em , identique a principal diferença entre o posicionamento do secretário de Estado norte-americano e o do deputado mexicano. Em seguida, apresente um aspecto do contexto internacional da época que explique o posicio- namento dos E.U.A. 8. Unicamp-SP O Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) se destacaram na oposição ao governo de João Goulart (1961-1964) e no combate ao comunismo. Ambos financiavam dezenas de programas semanais de rádio, como o “Cadeia de Democracia”, opondo-se a emissoras de orientação legalista, como a Rádio Mayrink Veiga, fechada após o golpe militar de 1964. (Adaptado de René A. Dreifuss, 1964: A conquista do Estado. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 149 e de Lia Calabre, A era do rádio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004, p. 50). a) Por que o rádio era o meio de comunicação mais cobiçado pelos políticos no período apontado no texto? b) Por que instituições como as mencionadas no texto consideravam João Goulart um presidente comunista? c) Quais os significados da expressão “orientação legalista”, acima mencionada, no contexto do governo de João Goulart e no contexto do regime militar de 1964? 9. Uerj 2017 Desde as manifestações de junho de 2013, um coro voltou às ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. De fato, trata-se de uma verdade e, também de fato, de uma verdade dura. (...) A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História. O GLOBO, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e o Correio da Manhã. (...) Naquele contexto, o golpe, chamado de “Revolução”, termo adotado pelo GLOBO durante muito tempo, era visto pelo jornal como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia. Adaptado de O Globo, 31/08/2013. Passados anos, um importante veículo de comunicação do Brasil alterou seu entendimento sobre a deposição do presidente João Goulart, ressaltando que adotou na época a mesma postura de outros grandes jornais. Aponte um efeito da postura editorial assumida pelos grandes jornais que tenha contribuído para o desfecho da crise de . Em seguida, indique uma razão para a mudança de posicionamento do jornal, ocorrida em 3, que esteja relacionada às transformações políticas no país desde o m dos governos militares. 10. Fuvest-SP 2013 Leia os textos abaixo: Coube ao Gen. Mourão Filho, Cmt. da 4ª Região Militar, essa histórica iniciativa, a 31 de março, nas altaneiras monta- nhas de Minas. E a Revolução, sem que tivesse havido elaboradas articulações prévias entre os Chefes Militares, – não teria havido tempo para isto – empolga o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, para ter seu epílogo às 11h45min do dia 2 de abril, no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, com a partida do ex-Presidente João Goulart para o estrangeiro. M. P. Figueiredo. A Revolução de 1964. Um depoimento para a história pátria. Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 11-12. Adaptado. Capas de jornais publicadas em //. 62 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina Adaptado de bibliotecatolicasc.files.wordpress.com. Passeata dos Cem Mil, Rio de Janeiro, 26/06/1968 alerj.rj.gov.br Lembro-me bem do dia 31 de março de 1964. Era aluno do curso de Sociologia e Política da Faculdade de Ciências Econômicas da antiga Universidade de Minas Ge- rais e militava na Ação Popular, grupo de esquerda católica [...] No dia seguinte, 1º de abril, já não havia dúvida sobre a vitória do golpe. Saí em companhia de colegas a vagar pelas ruas de Belo Horizonte [...] Contemplávamos, perple- xos, a alegria dos que celebravam a vitória e assistíamos, assustados, ao início da violência contra os derrotados. J. M. de Carvalho. Forças Armadas e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 118. a) Que denominação cada autor utilizou para se re- ferir ao regime instaurado após 1 de março de 1964? A que se deve essa diferença de denomi- nação? b) Tal diferença se relaciona com a criação da Co- missão da Verdade em 2012? Justifique. 11. Unicamp-SP 2019 O cineasta Orlando Senna conta a experiência de ver a primeira exibição do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol de Glauber Rocha em 1964: “era uma plateia pequena e nós vimos pela primeira vez, pronto, o Deus e o Diabo na Terra do Sol, e foi aquele impacto pra vida inteira. Eu me lembro que quando o filme terminou de ser exibido, foi um silêncio enorme. Teve um silêncio, e depois de um tempo enorme, toda essa plateia chorando.” (Adaptado do filme O Guarani. Direção de Cláudio Marques e Marília Hughes. Salvador, 2008.) A partir do relato acima e de seus conhecimentos his- tóricos, responda às questões. a) O filme de Glauber Rocha trata da figura do sertane- jo, privilegiando o messianismo. Cite e explique dois elementos fundamentais do messianismo no Nor- deste brasileiro entre as décadas de 1890 e 190. b) O depoimento registra o impacto produzido pelo filme em sua primeira exibição, no dia 1 de março de 1964. Explique o significado cultural e político do Cinema Novo no Brasil dos anos 60. 12. Unesp 2016 Desde 1964, o novo regime exerceu forte pressão sobre cultura identificada com propostas de transforma- ção social, objetivando impedir a continuidade de uma experiência que ganhava corpo. Apesar do quadro ad- verso, a cultura de oposição não perdeu vigor, buscando novas estratégias e assumindo variados estilos, conforme o momento da ditadura e a feição própria dos debates entre os próprios cineastas que, solidários no impulso de resistência, tinham posições distintas no modo de con- ceber suas obras e encaminhar suas escolhas temáticas e opções estéticas. Ismail Xavier. “O momento do golpe, as primeiras reações e o percurso do cinema de oposição no período da ditadura”. In: Angela Alonso e Miriam Dolhnikoff (org.). 1964: do golpe à democracia, 2015. Dê um exemplo e uma característica da produção cinematográca brasileira mencionada no texto. Consi- derando outras manifestações culturais “de oposição” que tiveram grande impacto no mesmo período, indique uma ocorrida no campo da música e uma ocorrida no campo do teatro. 13. Uerj 2018 Publicado em 1977, A hora da estrela tornou-se também filme, dirigido por Suzana Amaral, em 1985. A personagem principal, Macabéa, é uma alagoana que migra para o Rio de Janeiro. Para Clarice Lispector, seu livro era “a história de uma moça tão pobre que só comia cachorro-quente, a história de uma inocência pisada, de uma miséria anônima”. Para a diretora do filme, Macabéa é o retrato do Brasil, pelo menos naquela época”. Adaptado de Panorama com Clarice Lispector, TV Cultura Digital, 1977. A história da personagem do romance de Clarice Lis- pector ilustra aspectos das migrações internas no Brasil. Apresente um fator econômico que tenha contribuí- do para a migração de populações nordestinas para o Sudeste durante os governos militares ( -). Em seguida, aponte uma característica das condições de vida desses migrantes em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, naquele momento. 14. Uerj 2015 63 F R E N T E 1 O ano de 1968 tornou-se sinônimo de uma rebelião estudantil mundial. Mas 1968 não existiu de uma forma isolada, ele foi o ponto culminante de uma década de movimentos que se espalharam por quase todo o plane- ta. No Brasil, na França, no México, nos EstadosUnidos, na Espanha, no Canadá, na Argentina, na Venezuela, na Polônia, na Tchecoslováquia, países com diferentes reali- dades políticas e diversas condições econômicas se viram enfrentando um mesmo fenômeno político: rebeliões de jovens estudantes universitários e secundaristas. Adaptado de ARAUJO, M. P. Memórias estudantis: da fundação da UNE aos nossos dias. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2007. Os movimentos de contestação política ocorridos na década de tiveram motivações variadas. No Brasil, a Passeata dos Cem Mil foi o episódio mais marcante nesse contexto. Aponte dois elementos do contexto político brasileiro da época associados diretamente à ocorrência dessa passeata. Em seguida, apresente um motivo que, em , contribuiu para a eclosão de revoltas em um dos outros países citados no texto. 15. UEL-PR 2015 Durante a Ditadura Militar, no Brasil, em especial após o AI- em , inicia-se um período de intensa censura às produções culturais, inclusive das músicas, quando vários cantores e compositores tiveram partes e mesmo canções inteiras vetadas à divulgação, discos banidos das lojas, e, como pu- nição, alguns foram condenados ao exílio. Pode-se afirmar que o cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda foi um dos alvos prediletos da censura, o que o levou a adotar o pseudônimo “Julinho da Ade- laide”, por um tempo. A canção Apesar de Você, de 7, foi um dos alvos dos censores. Leia parte de sua letra a seguir. Hoje você é quem manda Falou, tá falado / Não tem discussão, não. A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão. Viu? Você que inventou esse Estado / Inventou de inventar Toda escuridão / Você que inventou o pecado / Esque- ceu-se de inventar o perdão. Apesar de você / amanhã há de ser outro dia. / Eu pergunto a você onde vai se esconder Da enorme euforia? / Como vai proibir / Quando o galo insistir em cantar? Água nova brotando / E a gente se amando sem parar. Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, / Esse grito contido, / Esse samba no escuro. Você que inventou a tristeza / Ora tenha a fineza / de “desinventar”. Você vai pagar, e é dobrado, / Cada lágrima rolada / Nesse meu penar. Apesar de você / amanhã há de ser outro dia. / Eu pergunto a você onde vai se esconder Da enorme euforia? / Como vai proibir / Quando o galo insistir em cantar? Água nova brotando / E a gente se amando sem parar. Apesar de Você (compacto simples)/Álbum Chico Buarque – 1970. É possível perceber, por meio da canção de Chico Buarque, certas características da sociedade daquele período que o Regime Militar preferia que a grande maioria da população não viesse a conhecer. Disserte sobre pelo menos uma dessas características. 16. Unesp 2019 a) Identifique e explique o que é o “sr. ATO cinco”. b) Escolha dois dos quatro artigos do “pedido de divórcio” e justifique as afirmações neles apre- sentadas. 17. UFU-MG 2019 O AI- (Ato Institucional número ) é considerado por historiadores e por cientistas políti- cos como o mais duro golpe na democracia brasileira dos anos por ter dado poderes totalitários ao re- gime militar. Ele entrou em vigor em 3 de dezembro de , durante o governo do general-presidente Artur da Costa e Silva. Considerando-se as informações apresentadas, res- ponda às questões abaixo. a) Cite e explique cinco das determinações mais im- portantes do Ato Institucional número 5. b) No contexto posterior à publicação do AI-5, os aparelhos policiais e militares de repressão am- pliaram-se e se espalharam por várias cidades e estados brasileiros. Explique as principais fun- ções e características do Doi-codi e do Dops nos chamados “Anos de Chumbo”. (Henfil, Cartas da mãe, 1980.) 64 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina 18. UFU-MG 2016 Assim, era possível crescer apostando no consumo de bens duráveis dos segmentos mais endinheirados da classe média que perfaziam um mercado de cerca de vinte milhões de pessoas, pouco mais de 20% da população. O Estado, cujo caixa estava reforçado por novos impostos e pelos empréstimos internacionais, continuaria investindo em grandes obras, estimulando o mercado de construção civil, que passaria a crescer cerca de 15% ao ano até 1973. NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014, p.149 (Adaptado). O período de grande crescimento da economia sob o governo Médici alimentou as esperanças de um “mi- lagre” que pudesse conduzir o Brasil ao tão sonhado Primeiro Mundo. A respeito da economia brasileira neste período, a) caracterize o papel do fechamento do sistema político, especialmente pós AI-5, para a acelera- ção da economia durante o governo Médici. b) explique dois fatores que produziram a crise da economia brasileira, já no final do governo Médici, e o fim do “milagre econômico”. 19. PUC-SP 2017 “(...) A economia se aqueceu e a inflação, em vez de subir, passou a cair. Teve início um surto de crescimento que, no seu apogeu, superou qualquer período anterior, e o governo começou a falar em ‘milagre econômico bra- sileiro’. A performance de crescimento seria indiscutível, porém o milagre tinha explicação terrena. Misturava, com a repressão aos opositores, a censura aos jornais e demais meios de comunicação, de modo a impedir a veiculação de críticas à política econômica, e acrescentava os ingre- dientes da pauta dessa política: subsídio governamental e diversificação das exportações, desnacionalização da economia com a entrada crescente de empresas estrangei- ras no mercado, controle do reajuste de preços e fixação centralizada dos reajustes de salários. (...) SCHWARCZ, Lilia M. e STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia das Letras, 2015, pp. 452-453. O texto trata da economia brasileira durante o governo Médici (-7). De acordo com as autoras, o “milagre econômico” desse período pode ser explicado pela a) Negociação entre governo e setores da socie- dade civil, o que permitiu a incorporação dos projetos liberais nacionais de aumento da concor- rência e da produção ao programa do governo. b) eliminação das críticas de opositores ao progra- ma do governo, que era pautado no incentivo estatal às exportações, na abertura ao capital es- trangeiro e no controle de preços e salários. c) substituição do programa liberal pela planificação econômica, apoiada pelos setores produtivos nacionais e internacionais, o que revigorou o mer- cado interno por meio do aumento dos salários. d) implementação do controle de gastos do gover- no, exigido por grupos econômicos nacionais e internacionais como condição para realizarem os investimentos necessários nas indústrias de base. 20. Unesp 2015 ("Almanaque do Ziraldo", julho de 7. Nosso Século: 1960/1980, .) A imagem deriva de uma campanha governamental e a imagem é uma charge, ambas referentes ao Bra- sil dos anos 7. É correto dizer que cada uma delas trata o lema “Bra- sil: ame-o ou deixe-o” de forma diferente? Justique sua resposta, associando as imagens ao regime políti- co brasileiro do período. 21. Unesp 2018 A Transamazônica inscrevia-se também nesse amál- gama Geopolítica-Segurança Nacional. No caso da Amazônia, o projeto da corrente nacionalista de direita do Exército era o de povoar, mas as contingências do tempo e do capital não seguiam mais as fórmulas pombalinas. Assim, na impossibilidade de povoar com gente – seria necessária a migração de toda a população brasileira para chegar-se a taxas de densidade razoáveis no vasto território amazônico – optou-se pelo povoamento com interesses: a Zona Franca de Manaus configura-se como uma modalidade de povoamento por meio de interesses constituídos. A própria Transamazônica era uma estratégia mista de povoamento populacional e de interesses. Francisco de Oliveira. “A reconquista da Amazônia”. Novos Estudos Cebrap, março de 1994. Adaptado. a) Em que período da história brasileira foi proposto e iniciado o projeto de construção da rodovia Trans-amazônica? Qual semelhança o texto estabelece entre o projeto de construção da Transamazônica e a constituição da Zona Franca de Manaus? b) Qual foi a justificativa dada pelo governo federal para a abertura da estrada? A que se refere a afirma- ção de que “A Transamazônica inscrevia-se também nesse amálgama Geopolítica-Segurança Nacional”? Nosso Século: 1960/1980, .) IMAGEM 1 IMAGEM 2 BNCC em foco 1. a) b) c) d) e) EM13CHS201 22. Unesp 2018 [...] a década de 1970 começou repressiva, sangui- nária e careta. [...] Os poucos heróis que tentavam fazer a guerrilha foram se isolando, sem respaldo, nem dos camponeses, nem do proletariado. O país estava triste e ufanista ao mesmo tempo. [...] Quando, em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi torturado até a morte e os militares tentaram fazer valer a versão de um suicídio, a oposição começou a pegar fogo outra vez. Maria Rita Kehl. “As duas décadas dos anos 70”. In: Anos 70: trajetórias, 2005. a) Explique a afirmação “O país estava triste e ufanis- ta ao mesmo tempo”. b) Caracterize e exemplifique a transformação que o texto sugere ocorrer no cenário interno brasileiro após 195. 23. Unesp 2014 A chamada “abertura política”, do final da década de 7 e início da década de , foi um fator importante, ao lado de outros, para o encerramento do regime militar e para a redemocratização brasileira. Caracterize essa “abertura”, citando dois exemplos de ocorrências relacionadas a ela. 24. PUC-Rio Sobre o processo de abertura política, inicia- do no governo do general Ernesto Geisel (7-7), ANALISE as afirmativas abaixo. I. O processo de abertura política foi marcado por avanços e recuos, sendo o chamado Pacote de Abril um conjunto de medidas que representou um “passo atrás” na liberalização do regime. II. A liberalização do regime militar ocorreu na prática de forma tranquila, sem que o governo enfrentasse a oposição de grupos que fossem contrários ao projeto de abertura política “lenta, gradual e segura”. III. O Congresso aprovou o fim do AI-5, o fim da censura prévia e o restabelecimento do habeas corpus para crimes políticos consolidando-se, deste modo, a liberalização do regime. IV. Ao longo do governo Geisel, os grupos de opo- sição voltaram a se mobilizar, destacando-se o movimento estudantil e o movimento operário, com a greve de São Bernardo. Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas I e II estão corretas b) Somente as afirmativas I e III estão corretas c) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas. d) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 25. Fuvest-SP 2015 Em de abril de , a Câmara dos Deputados do Brasil rejeitou a Emenda Constitucional que propunha o restabelecimento das eleições dire- tas para a presidência da República. Durante quase nove meses, situação e oposição realizaram articula- ções políticas, visando à escolha do novo presidente. Em de janeiro de , Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil por um Colégio Eleitoral. a) Explique em que consistia esse Colégio Eleitoral e como ele era composto. b) Identifique e caracterize a articulação política vito- riosa na eleição presidencial de 1985. 66 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina 2. a) b) c) d) e) 3. EM13CHS201 EM13CHS201 a) b) c) d) e) Ulysses Guimaraes, então presidente da Assembleia Constituinte, erguendo a Constituição promulgada em 1988. A Nova República (de 1985 à atualidade) 13 CAPÍTULO FRENTE 1 A história do Brasil republicano foi marcada por uma sequência de governos oligár- quicos, que perduraram por 40 anos, e duas ditaduras (a getulista e a civil-militar), que somadas se estenderam por mais de três décadas. Os períodos democráticos foram relativamente curtos e marcados por enormes exclusões, como a dos analfabetos, que não tinham direito ao voto. Não havia, nesse sentido, uma tradição democrática à qual se pudesse retornar. Neste capítulo, vamos estudar o período mais recente da República brasileira: do pós-ditadura aos dias atuais. A g e n ci a B ra si l 68 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) Governo de José Sarney (1985-1990) João Baptista Figueiredo, último presidente do governo militar, quebrou um antigo protocolo e não passou a faixa presidencial ao seu sucessor, José Sarney, que inicialmente apoiou a ditadura, mas tornou-se oposicionista nos últimos anos do regime militar. Ao assumir definitivamente a presi- dência após a morte de Tancredo Neves, em abril de 1985, Sarney tinha dois desafios de primeira ordem: revogar as leis da ditadura militar e criar uma nova Constituição. Em relação à organização dos poderes, adotou-se a tripartição, buscando abrandar a supremacia do Executivo, decisão que indicava uma direção contrária à do regime anterior. Ficou determinado que o Poder Legislativo seria bicameral, exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. A Câ- mara é composta de representantes do povo eleitos pelo voto direto, secreto e universal, e pelo sistema proporcional para mandatos de quatro anos. Já o Senado é composto por representantes dos estados e do Distrito Federal (to- talizando três senadores por unidade federativa), para um mandato de oito anos. O Poder Executivo seria exercido pelo presidente da República, eleito junto ao vice e auxiliado pelos ministros do Estado, e não seria permitida a reeleição. No entanto, a partir do governo Fernando Henrique Cardoso (1995- -2002), com a instituição da emenda constitucional número 16, em 1997, foi permitida uma única reeleição. O Poder Judiciário passou a ser exercido pelos seguin- tes órgãos: Conselho Nacional de Justiça, Superior Tribunal de Justiça, Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, Tribunais e Juízes Militares, Juízes e Tribunais do Trabalho, Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Ter- ritórios. A Constituição criou também o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), órgão de convergência da Justiça Comum, responsável pela uniformização da interpretação da lei fe- deral em todo o Brasil. No âmbito dos direitos, consolidaram-se no texto os princípios democráticos e a defesa dos direitos individuais e coletivos. Considerado obrigatório pela primeira vez, o voto tornou-se de fato universal, incluindo os analfabetos, embora até hoje eles sejam impedidos de se candidata- rem. Também de maneira inédita, o racismo e a tortura tornaram-se crimes, e a importância da defesa e da pre- servação do meio ambiente foi evidenciada. Os direitos dos trabalhadores foram ampliados: a jornada semanal não poderia ultrapassar 44 horas e a licença-maternidade seria de quatro meses. Manteve-se a estabilidade dos funcionários públicos concursados e a aposentadoria por idade, para qualquer profissão. O maranhense José Sarney foi o primeiro civil a assumir a presidência da República após 21 anos de ditadura militar. Foto de 2. Em fevereiro de 1987, os trabalhos legislativos foram iniciados no intuito de redigir uma nova Constituição para o Brasil. Os partidos PMDB, PFL, PDS e PTB, conhecidos como partidos do centrão, obtiveram o controle da Assem- bleia Nacional Constituinte, responsável pela elaboração da nova Constituição. Inspirada na Constituição portuguesa de 1976, a Carta Magna de 1988, conhecida como Cons- tituição Cidadã, é a mais democrática e republicana da história do Brasil. Ao ser promulgada, a Constituição de 1988 determi- nava que o país seria uma república presidencialista e que a duração do governo seria de quatro anos. A Constitui- ção anterior estipulava que o governo deveria permanecer no poder por seis anos. Alegando ser um governo de transição, Sarney manteve-se por cinco anos na presidên- cia, decisão que levou um setor do PMDB, liderado por Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso (FHC), a fundar o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) em junho de 1988. A forma de Estado escolhida foi a federação, que possi-bilitou uma sensível ampliação da autonomia administrativa e financeira dos estados. A capital federal foi mantida em Brasília. A inexistência de uma religião oficial também pas- sou a constar na Constituição, de acordo com a qual o Brasil é um país laico, embora no preâmbulo conste a expressão “sob a proteção de Deus”, que só não esteve presente nas constituições brasileiras de 1891 e 1937. Parlamentares comemorando o fim da Assembleia Nacional Constituinte. A elaboração da Carta Cidadã se estendeu de 1 o de fevereiro de 1987 a 5 de outubro de 1988. Foto de 1988. G a le ri a d o s P re s id e n te s /G o v e rn o d o B ra s il A g e n c ia B ra s il F R E N T E 1 69 O quadro econômico herdado da ditadura militar era grave. A inflação chegava a 500% ao ano. O Ministério da Fazenda ordenou cortes de gastos e o congelamento salarial como medidas para conter a inflação. O resultado foi o aumento do desemprego e a diminuição do poder aquisitivo da população, assim como o agravamento da desigualdade social no país. De acordo com a equipe econômica de Sarney, ocorria no Brasil a inflação inercial, assim chamada em virtude de seu caráter contínuo e de suas taxas crescentes, que levavam os preços a serem reajustados automaticamente com base na inflação anterior. Para combatê-la, o governo argumentava que seria necessário adotar uma medida mais drástica, como o congelamento de preços, que acabaria com a correção monetária, e o estabelecimento de uma moeda forte que substituísse o desmoralizado cruzeiro. Foi assim que, em 1986, Sarney anunciou o Plano Cruzado. O cruzeiro foi substituído pelo cruzado na proporção de 1000 para 1. Preços e salários foram congelados por prazos indeterminados e os aluguéis congelados por um ano. Reajustou-se o salário-mínimo pelo valor da inflação dos últimos meses e foi concedido um abono de 8%. Os reajustes posteriores ocorreriam automaticamente sempre que a inflação chegasse a 20%. Sarney convocou a população a colaborar na execução do Plano Cruzado e fiscalizar o congelamento dos preços. Passado o entusiasmo inicial, o plano mostrou-se um fracasso. Com os preços congelados, houve uma verdadei- ra corrida pelo consumo de carne, leite, automóveis e até viagens, ocasionando uma crise de desabastecimento. Além disso, o fortalecimento da moeda criou um súbito impulso nas importações, o que desequilibrou as contas no país. Diante desse cenário, o governo propôs o fim do cru- zado, elevou impostos diretos sobre produtos e liquidou o congelamento. A inflação disparou. Vários outros planos foram desenvolvidos, como o Plano Bresser e o Plano Ve- rão, que substituiu o cruzado pelo cruzado novo e impôs um novo congelamento, mas não houve sucesso. O Brasil enfrentava novamente uma estagnação com inflação, que projetava-se a 5 000%. Observe, no gráfico a seguir, a evo- lução da inflação no governo Sarney. Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organiza- ção social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. § 1o São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as im- prescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua re- produção física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. § 2o As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. § 3o O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. [...] Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo. Estabelecendo relações As pessoas que denunciavam estabelecimentos comerciais que não respeitassem o congelamento de preços eram chamadas de “fiscais do Sarney”. A Sunab, antigo órgão responsável pela política de abastecimento do país, interditava esses estabelecimentos. Na foto, fiscais da Sunab no Rio de Janeiro (RJ), 1986. F o lh a p re s s /F o lh a p re s s 70 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) Desde a eleição de Jânio Quadros, em 1960, a po- pulação brasileira não votava para eleger o presidente. A primeira oportunidade surgiu em 1989. Entre os 22 candi- datos que concorreram ao cargo, despontaram ex-arenistas, como Paulo Maluf e Aureliano Chaves, um herdeiro do varguismo, Leonel Brizola, um ex-guerrilheiro, Fernando Gabeira, além de nomes importantes da abertura política negociada, como Mário Covas e Ulysses Guimarães, e um sindicalista que obteve projeção nacional, Luiz Inácio Lula da Silva. A vitória, contudo, foi de Fernando Collor de Mello, que era desconhecido na maior parte do país, mas vinha de uma antiga família de políticos em Alagoas. Collor se tornou conhecido pelo discurso anticomunista, no qual costumava associar Lula à “bandeira vermelha", e anticorrupção, mar- cado pela promessa de “caça aos marajás” (funcionários públicos com salários altos) . Ele foi eleito aos 40 anos de idade com 35 milhões de votos, tornando-se o presidente mais jovem e mais votado da história do Brasil. J F A J J A S D J F A J J A S D J F A J J A S O D J F JA J J A S O D J F A J J A S O Cruzeiro Início do Plano Cruzado 2 Início do Plano Bresser Início do Plano Verão Cruzado Cruzado Novo Recorde histórico 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 % Gatilho salarial Posse de Sarney Posse de Collor Pereira 1985 1986 1987 1988 1989 1990 Deflação: -0,1 Início do Plano Cruzado Infl ação no Brasil – 1985 a março de 1990 Fonte: Governo José Sarney (-). A inflação do governo Sarney, mês a mês. Atlas Histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-jose-sarney--/mapas/inflacao-do-governo-sarney-mes-mes. Acesso em: jan. . Governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) No dia de sua posse, Collor apresentou o Plano Brasil Novo (ou Plano Collor), conduzido pela ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello. O plano era ancorado no congela- mento de preços e de salários e na mudança de moeda, que consistia em substituir o cruzado novo pela volta do cruzeiro. O Plano Collor incluía também aumento de impostos, corte de subsídios e abertura comercial do Brasil, o que acarretava na das importações. No entanto, a medida que causou maior controvérsia foi o bloqueio da conta-poupança dos brasileiros, cujo saque ficou limitado a 50 mil cruzeiros. O governo só liberaria a quantia acima do teto confiscada após 18 meses, em 12 parcelas mensais. F R E N T E 1 71 O plano foi um grande fracasso: em dezembro, a in- flação passava dos 1 000% e o PIB encolhia 5%. Como se não bastasse, muitos receberam seu dinheiro da poupan- ça décadas depois, outros nunca receberam. A poupança confiscada resultou em situações dramáticas para a maior parte das pessoas, muitas delas dependentes do dinheiro aplicado. Collor iniciou também um processo de abertura a importações. Cabe notar também que, em 1991, após longos anos de negociação, foi oficializado o Mercado Comum do Sul (Mercosul), bloco econômico sul-americano então formado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e outros países as- sociados ou observadores. No entanto, enfraquecido pelas dificuldades econômi- cas às quais a população foi submetida e por denúncias de corrupção que ganhavam destaque desde 1991, Collor perdeu de vez o apoio a partir de maio de 1992. Em uma entrevista, Pedro Collor, seuirmão, o acusou de encabeçar um esquema de corrupção operado por Paulo César Farias, tesoureiro de sua campanha. De acordo com a denúncia, PC Farias, como era conhecido, extorquia dinheiro de em- presas que dependiam de negócios com o governo federal por meio de chantagens e ameaças. Ainda segundo Pedro Collor, o presidente ficava com 70% das propinas recebidas. A grande quantidade de escândalos envolvendo o governo Collor mobilizou a União Nacional dos Estudan- tes (UNE) a organizar uma série de passeatas pelo país a favor do impeachment. A mobilização teve a adesão de milhares de estudantes, que ficaram conhecidos como caras-pintadas. Por iniciativa dos parlamentares do Partido dos Tra- balhadores, iniciou-se a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o presidente. Em 29 de setembro de 1992, o impeachment de Collor foi levado à votação no Congresso. Por 441 votos a favor, foi apro- vada a saída de Collor, que acabou renunciando antes do resultado da votação. Art. 1o.É considerado prejudicado o pedido de apli- cação da sanção de perda do cargo de Presidente da República, em virtude da renúncia ao mandato apresentada pelo Senhor Fernando Affonso Collor de Mello e formali- zada perante o Congresso Nacional, ficando o processo extinto nessa parte. Art. 2o.É julgada procedente a denúncia por crimes de responsabilidade, previstos nos arts. 85, incisos IV e V, da Constituição Federal, e arts. 8o, item 7, e 9o, item 7, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950. Art. 3o.Em consequência do disposto no artigo an- terior, é imposta ao Senhor Fernando Affonso Collor de Mello, nos termos do art. 52, parágrafo único, da Cons- tituição Federal, a sanção de inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das de- mais sanções judiciais cabíveis. Saiba mais Governo de Itamar Franco (1992-1994) Após a renúncia de Collor, Itamar Franco tomou posse em 2 de outubro de 1992. Entre as medidas de seu gover- no, estava o Plano Real, pacote de reformas lançado por seu Ministro da Fazenda, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), para conter os surtos inflacionários. Entre as medidas do Plano Real estavam redução e cor- te de gastos públicos, além do aumento dos impostos para controlar as contas do governo. Também teve relevância no plano o aumento das taxas de juros para reduzir o consumo e provocar a queda da inflação, embora as taxas de juros do Brasil tenham se tornado as mais elevadas do mundo. Houve também a redução dos impostos de importação para aumentar a concorrência com os produtos nacionais, o que provocou a redução dos preços. Além disso, uma das medidas mais importantes foi a criação de uma nova moeda, o real, que inicialmente teria paridade com o dólar. A emissão de moeda em real só poderia ocorrer se as reservas em dólar fossem igualmente ampliadas. Para ampliá-las, buscou-se privatizar as empresas brasileiras e atrair o capital estrangeiro. Por fim, o controle cambial manteve o real valorizado diante ao dólar. Com o êxito do Plano Real no combate à inflação, o PSDB, em aliança com o Partido da Frente Liberal (PFL), de origem arenista, lançou FHC para a presidência, nas eleições de 1994. Sua plataforma incluía privatização das estatais, livre-mercado e desregulamentações empresa- riais e trabalhistas. Com 54% dos votos, Fernando Henrique Cardoso derrotou Lula no primeiro turno. Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) Na segunda metade dos anos 1990 o mundo passava por grandes crises econômicas. Entre elas, destacou-se a cri- se envolvendo a China e os Tigres Asiáticos, grupo formado Manifestação dos caras-pintadas em frente ao Congresso Nacional. Brasília (DF), 1992. S é rg io L im a ( C C B Y 3 .0 )/ A g ê n c ia B ra s il 72 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) por Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura e Taiwan. Quando os chineses decidiram desvalorizar fortemente sua moeda, seus produtos invadiram o mundo com preços muito baixos. Com essa medida, a China ocupou o mercado de outros países, entre eles, o dos Tigres Asiáticos, que entraram em profunda crise em 1997. No ano seguinte, a crise atingiu a Rússia. Naquele momento, o país passava pela transição para o capitalismo, e declarou moratória para sua dívida externa. O Brasil também foi muito afetado pela onda de crises e, na tentativa de fazer a economia do país reagir, Fernando Henrique Cardoso aderiu às diretrizes do chamado Consenso de Washington, de 1989, que se tratava de um conjunto de recomendações propostas pelo economista John Williamson para promover o ajuste econômico de países em desenvolvimen- to. As medidas propostas pelo Consenso de Washington estipulavam privatizações, abertura comercial, e flexibilização do mercado de trabalho, que acarreta no corte de direitos trabalhistas com a justificativa de que as empresas podem gerar mais empregos ao se desobrigarem de pagar benefícios. Esse conjunto de medidas tornou-se o princípio norteador do Fundo Monetário Internacional (FMI), que impôs a con- dição de que o Brasil aderisse ao Consenso de Washington para liberar 40 bilhões de dólares. Além disso, foi exigida a adoção de uma política de austeridade, que levou ao corte de gastos, sobretudo na área social. O real foi desvalorizado para impulsionar as exportações e atrair capital estrangeiro. A gestão de Fernando Henrique Cardoso também foi marcada por medidas liberais de privatização de empresas estatais. Entre os exemplos dessa política, está a Vale S.A. (antiga Vale do Rio Doce), fundada em 1942, na Era Vargas. Metade das ações da Petrobras também passou para a inciativa privada. Observe, no mapa a seguir, dados sobre as privatizações que ocorreram durante o governo de Fernando Henrique. A venda de estatais rendeu mais de 90 bilhões ao governo. Fonte: elaborado com base em Governo Fernando Hen- rique Cardoso (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/ governo-fernando-henrique- cardoso--/mapas/ privatiza coes-de-fernando -henrique. Acesso em: jan. . OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO Privatizações no governo de Fernando Henrique Cardoso – 1995-2002 F R E N T E 1 73 Embora a estabilidade econômica tenha sido conquis- tada, muitas indústrias brasileiras faliram. Além disso, a concentração de renda manteve-se no mesmo patamar de períodos anteriores e o número de desempregados dobrou. Nesse contexto, ganhou força o Movimento dos Trabalha- dores Rurais Sem Terra (MST). Fundado em 1984, antes mesmo da Constituição Cidadã, o MST tornou-se um dos mais conhecidos movimentos sociais do país. Sua política de ocupação levou o movimento a confrontos com a polícia. Em 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores ligados ao mo- vimento dos sem-terra foram mortos pela Polícia Militar em Eldorado dos Carajás, no Pará. O episódio ficou conhecido na mídia como Massacre de Eldorado dos Carajás. O segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso não teve o mesmo êxito do anterior, sobretudo pelo alto índice de desemprego no período, que o tornou bastante impopular. Nas eleições de 2002, ele não conseguiu eleger seu sucessor, que perdeu para Lula. Atenção Cenário político, social e econômico na América Latina Desde Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique foi o primeiro presidente eleito a passar a faixa de presidente a um sucessor oposicionista igualmente eleito, o que ocorreu em 1o de janeiro de 2003. Nesse sentido, a América Latina viveu uma conjuntura se- melhante. A maioria das ditaduras militares chegou ao fim entre a década de 1970 e os anos 1980. À crise internacional, princi- piada em 1973 com o choque do petróleo (visto anteriormente), somaram-se as dívidas colossais adquiridas pelas ditaduras e a hiperinflação decorrente de suas políticas econômicas. O resultado desse processo foi o sucateamento do par- que industrial estatal, o empobrecimento inédito de suas populações, uma taxa de desemprego crescente e a des- truição dos serviços públicos. No Chile, apósduas décadas da modernização pinochetista, 90% da pauta de exportação do país ainda era de produtos primários. A destruição de setores inteiros das economias da Bolívia e do Peru levou esses países a encontrar na exportação de drogas um seg- mento fundamental da economia. Para se ter uma ideia, na década de 1980, as exportações de estanho renderam à Bolívia 70 milhões de dólares anuais, enquanto o narcotráfico rendia 600 milhões. As intervenções militares e policiais dos Estados Unidos na região, fosse em nome do combate ao comunismo ou ao tráfico internacional de drogas, destruíram boa parte da soberania nacional latino-americana. Como no Brasil, a resposta dos demais governos la- tino-americanos para a situação de deterioração deixada pelas ditaduras e as sucessivas crises foi a adoção de medi- das neoliberais do Consenso de Washington de promoção do Estado mínimo. Além de FHC, no Brasil, Carlos Menem (1989-1999), na Argentina, Carlos Salinas (1988-1994) e Ernesto Zedillo (1994-2000), no México, foram responsá- veis por implantar o modelo neoliberal em seus países. Assim, esses governos privatizaram as empresas e os serviços públicos criados no período do populismo e da ditadura militar, reduziram drasticamente as tarifas sobre importações, desregulamentaram os fluxos de capitais, redu- ziram os subsídios, iniciaram medidas de combate à inflação e encorajaram a vinda de capitais para a América Latina. Na dé- cada de 1990, as tecnologias da Terceira Revolução Industrial adentraram na América. Em 1994, a criação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) foi o sustentáculo do neoliberalismo mexicano na década de 1990. O neoliberalismo teve o mérito de subjugar a crise da dé- cada de 1980 e equilibrar os orçamentos nacionais. O custo social, no entanto, foi alto. Embora as classes médias tenham se beneficiado enormemente com as novas tecnologias, a desigualdade social aprofundou-se e grande parte da popu- lação não obteve os benefícios advindos dessas mudanças. Os trabalhos informais, não regulamentados, passaram por uma imensa expansão. A concentração fundiária, da mesma forma, manteve-se, e a reforma agrária permaneceu como um tema em discussão. Movimentos sociais como o Zapatismo, no México, e o MST, no Brasil, ganharam força justamente nesse período, gerando oposição à estrutura neoliberal. Em grande medida, a dívida social deixada pela implan- tação do neoliberalismo explica as mudanças sociopolíticas que ocorreram na América Latina na virada do século XX para o século XXI. Na Venezuela, Hugo Chávez promoveu a chamada Revolução Bolivariana, que de acordo com ele seria o caminho para o socialismo do século XXI. No Chile, o sucateamento do ensino público levou, em 2011, a uma revolta do movimento estudantil de grandes proporções. No Brasil, as figuras de Lula e do PT passaram a ser sustentadas pelas classes populares a partir de programas de redistribuição de renda e diminuição da desigualdade. Alguns acontecimentos, por sua vez, marcam a persistên- cia de golpes políticos. Em Honduras, em 2009, a Suprema Corte ordenou ao Exército que detivesse o presidente Manuel Zelaya para evitar que fosse realizada uma con- sulta pública sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte para escrever uma nova Constituição do país. A forma pela qual será solucionada essa dívida social e histórica, capaz de aplacar desigualdades e de melhorar os serviços sociais, é uma questão fundamental para a América Latina do século XXI. Passeata de estudantes chilenos em Santiago, Chile, em 212, por melhorias na educação. M A R T IN B E R N E T T I / A F P 74 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) O governo de Lula (2003-2010) Ao assumir seu primeiro mandato como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva procurou manter as diretrizes econômicas de seu antecessor, incluindo a nomeação de uma equipe econômica que agradasse ao mercado financeiro. Luiz Inácio Lula da Silva, 27. Foram criadas também 11 universidades públicas federais até setembro de 2009, superando o marco de Juscelino Kubitschek. A educação básica, contudo, con- tinuou a ocupar posições desfavoráveis nos rankings da educação. Lula reduziu o processo de privatizações, que na sua gestão se concentrou mais em rodovias federais e usinas hidrelétricas. Com relação à política externa, o Brasil criou dezenas de novas representações diplomáticas no exterior e coordenou uma missão de paz noHaiti, entre 2004 e 2017. As políticas de transferência de renda e de inclusão social concederam a Lula uma alta popularidade (que chegou ao inédito patamar de 80%), o que garantiu sua reeleição em 2006, em disputa com Geraldo Alckmin, candidato do PSDB. Em 2005, o deputado petebista Roberto Jefferson denunciou um amplo esquema de compra de votos para garantir o apoio às políticas do presidente, que ficou conhe- cido como mensalão. Segundo o deputado, a coordenação do esquema era feita por membros do primeiro escalão do governo Lula. O episódio, no entanto, não impediu Lula de se reeleger em 2006. Outras denúncias de corrupção vieram à tona após o término de sua segunda gestão, como o do esquema de pagamento de propina a políticos do PT e de outros partidos por empresas fornecedoras da Petrobras, o que culminou com a prisão de Lula em 2018. O governo de Dilma Rousseff (2011-2016) Em 2010, a então ministra-chefe da Casa Civil do go- verno Lula, a economista Dilma Rousseff, venceu a eleição presidencial. Uma de suas plataformas de campanha era a coor- denação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que previa vultuosos investimentos estatais em infraestrutura. Dilma Rousseff foi a primeira mulher a se tornar presidente da República na história do Brasil. Fotografia de 211. Com o crescimento econômico acelerado da China, que se tornou o principal parceiro econômico do Brasil, e o cha- mado boom das commodities, que representou grande alta nos preços de diversas matérias-primas, o período Lula foi marcado pela criação de mais de 14 milhões de empregos formais, o aumento do IDH, que passou de 0,790 a 0,813, o aumento do salário mínimo, que foi de 200 reais, em 2002, para 510 reais, em 2010, e um crescimento médio do PIB de 4% ao ano entre 2003 e 2010. O mercado de consumo incorporou um contingente da ordem de 50 milhões de brasileiros.O ganho de renda dos brasileiros mais ricos, no entanto, foi inferior à média regis- trada nos demais integrantes do chamado Brics, o bloco que reúne as economias consideradas emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Já o crescimento da renda dos 20% mais pobres só perdeu, no mesmo período, para a China. Lula também criou diversos programas sociais. Um dos principais foi o Fome Zero, cujo objetivo era reduzir a fome no Brasil. A base de sustentação do Fome Zero era o Bolsa Família, programa de transferência direta de renda do governo para famílias pobres. Outra medida im- portante de inclusão social foi a criação do sistema de cotas nas universidades para estudantes de escolas públi- cas, que destinava metade dessas vagas a pretos, pardos e indígenas. R o b e rt o S tu ck e rt F ilh o /G a le ri a d e P re s id e n te s /G o v e rn o d o B ra s il R o b e rt o S tu ck e rt F ilh o /G a le ri a d e P re s id e n te s /G o v e rn o d o B ra s il F R E N T E 1 75 No entanto, o fim do boom das commodities e o processo de desindustrialização, iniciado nos anos 1990, viriam a cobrar seu preço. A situação econômica paulatinamente se degradou, apesar do desemprego manter-se na taxa de 5%, historicamente a menor taxa do país. Em junho de 2013, ocorreu no Brasil uma das maiores manifestações de sua história, e também uma das mais complexas de compreender, considerando a heterogeneidade das demandas e dos participantes, que não tinham pauta unificada ou liderança única. O estopim dessas mobilizações, que ficaram conhecidas como Jornadas de Junho, foi o aumento das tarifas do transporte público em SãoPaulo, que dificutaria ainda mais a situação da classe trabalhadora, já descontente com a degradação das condições de trabalho e da terceirização. Setores da esquerda viram as manifestações como oportunidade para cobrar mudanças estruturais em áreas im- portantes da sociedade. No entanto, pautas antipetistas e anticorrupção de setores da direita também entraram nas mobilizações. Como consequência houve a criação e o fortalecimento de movimentos de direita e de extrema-direita. Em 2014, apesar do fortalecimento da direita nas Jornadas de Junho, Dilma Rousseff foi reeleita, derrotando Aécio Neves, candidato do PSDB. Contudo, a base aliada do PT no Congresso, o PMDB, representado pelo vice-presidente, Michel Temer, afastou-se cada vez mais da presidente, que perdeu o apoio da maioria no Congresso. As políticas econômicas mal-recebidas pelo mercado e as novas denúncias de corrupção atreladas à Petrobras, sob investigação na Operação Lava Jato, criaram novas instabilidades políticas. Entre 2015 e 2016, os manifestantes voltaram às ruas com amplo apoio midiático, dessa vez especificamente contra o governo, enfraquecendo ainda mais a imagem de Dilma. Manifestação contra o aumento do valor da passagem de transporte público organizada pelo Movimento Passe Livre, em São Paulo (SP), 2013. Vestidos com a camiseta da Seleção Brasileira de Futebol, manifestantes foram às ruas entre 215 e 216 para exigir a saída de Dilma Rousseff do poder. Na imagem, passeata em São Paulo (SP), 215. M a rc e lo C a m a rg o /A g ê n c ia B ra s il G ia n lu c a R a m a lh o M is it i (C C B Y 2 .0 )/ W ik im e d ia C o m m o n s 76 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) Nesse contexto, o Tribunal de Contas da União (TCU) denunciou que a presidente havia recorrido às “pedaladas fiscais”, espécie de artifício contábil utilizado para ajustar as contas públicas, configurando . Em- bora outros presidentes já tivessem recorrido a essa prática sem qualquer punição, foi a justificativa dada para a abertura do processo de impeachment, aprovado pelo Congresso em agosto de 2016, quando Dilma teve de deixar o cargo. O governo de Michel Temer (2016-2018) A gestão de Michel Temer foi caracterizada pela ban- deira reformista. Nesse período, foram aprovadas a reforma que estipulava um teto para os gastos públicos, a reforma do Ensino Médio e uma reforma trabalhista que flexibilizou alguns direitos estabelecidos pela CLT. Seu governo, cuja aprovação foi inferior a 10%, tornou-se o mais impopular da história do Brasil (desde que a aprovação de um governante começou a ser mensurada). O jurista paulista Michel Temer, vice de Dilma, assumiu a presidência para concluir o mandato até 218. Fotografia de 217. Jair Bolsonaro, 219. Pessoas em busca de empregos durante a pandemia de covid-19, em Porto Alegre (RS), 222. como PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), PSC (Partido Social Cristão) e PSL (Partido Social Liberal). Durante a campanha realizada em 2018, Bolsonaro conquistou sobretudo o voto de empresários, da classe média antipetista, de neoliberais, ideólogos conservadores e líderes neopentecostais. Entre os principais pontos de sua campanha, estavam o combate à corrupção, a Reforma da Previdência e a reformulação do Estatuto do Desarmamento. O governo de Jair Bolsonaro (2019-) Em 2018, o então deputado federal Jair Bolsonaro ven- ceu as eleições contra o petista Fernando Haddad. Até então desconhecido por parte da população, Bolsonaro ingressou na carreira política como parlamentar na déca- da de 1990. Desde então, passou por diversos partidos, Em 2021, após uma crise econômica acelerada pela pandemia de covid-19, que também provocou uma crise sanitária, o Brasil convivia com altos níveis de desempre- go, um processo de desindustrialização e novas denúncias de corrupção. Is a c N ó b re g a /P R B e to B a ra ta /P R A g ê n c ia E n q u a d ra r/ F o lh a p re s s F R E N T E 1 77 1. Unesp 2022 O ano de 1985 foi um grande anúncio de ditadura finda, temperado pela exclusão de vozes que significaram alternativas no combate à ditadura, como se observou no silenciamento de importantes movimentos sociais [...], substituídos pelo olhar exclusivo para agen- tes da política institucional e da cena cultural dominante. (Marcos Silva. Ditadura relativa e negacionismos, 2021.) O excerto compreende o processo de redemocratiza- ção brasileiro nos anos como a) o despertar de uma consciência democrática ati- va na população, que foi liderada por partidos políticos e movimentos sociais ligados ao regime. b) o desfecho definitivo da experiência militar au- toritária, que perdeu a capacidade de resistir às pressões políticas dos partidos de oposição. c) o prevalecimento de um projeto de transição ne- gociada, que evitou confrontar diretamente os responsáveis pela ditadura. d) a conjugação, no projeto de uma nova república, dos anseios e das reivindicações dos diversos se- tores da sociedade brasileira. e) retomada, numa nova ordem constitucional, da tradição democrática brasileira, predominante desde o início da República. 2. FGV-SP Em janeiro de , Tancredo Neves foi elei- to Presidente da República pelo PMDB. A respeito da chamada Transição Democrática, é correto afirmar: a) O governo de Tancredo Neves foi marcado por uma grande instabilidade política que levou à renúncia do presidente e à posse de seu vice, José Sarney. b) Tancredo Neves foi eleito presidente de forma indireta pelo Colégio Eleitoral, tendo como vice José Sarney, ex-presidente do PDS, partido que apoiava o Regime Militar. c) Em torno de Tancredo Neves formou-se a Aliança Democrática, que reunia o PMDB e dis- sidentes do PDS, entre os quais José Sarney e Paulo Salim Maluf. d) A candidatura de Tancredo Neves contou com o apoio oficial de todos os partidos de oposição, isolando completamente os colaboradores do Regime Militar. e) Apesar de vitorioso nas eleições indiretas, Tancredo Neves foi impedido de assumir o governo pelas Forças Armadas, que fecharam questão em torno do nome de José Sarney. 3. Uerj 2019 Preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil () Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem pre- conceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. planalto.gov.br A Constituição brasileira vigente promoveu mudanças que visam a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, como menciona seu preâmbulo. A premissa de garantir e valorizar esses direitos está relacionada ao seguinte aspecto naquela conjuntura do país: a) atendimento de pressões externas pela abertura do regime b) aumento do extremismo ideológico pelos parti- dos políticos c) crise da economia nacional causada pela escala- da da inflação d) crítica da repressão política instituída pelos gover- nos autoritários 4. Acafe-SC 2021 Fernando Collor de Mello foi o primei- ro presidente da república eleito democraticamente pelo voto popular após o regime militar (-). Acerca do seu governo, todas as alternativas estão corretas, exceto: a) Denunciado por seu irmão Pedro Collor, o presi- dente e seus aliados viram-se acusados de um grande esquema de corrupção, que tinha como figura principal Paulo César Farias, tesoureiro de campanha e amigo pessoal do presidente. b) O plano econômico, lançado por Fernando Collor, congelou por determinado tempo os depósitos bancários, cadernetas de poupança e aplicações financeiras. c) A criação do Plano Real possibilitou uma retoma- da do crescimento econômico no iníciodo seu governo, chamado pela mídia de República de Alagoas. d) Fernando Collor sofreu um processo de impeachment (impedimento). Em dezembro de 1992 o presidente renunciou e o Congresso Nacional cassou seus direi- tos políticos por oito anos. 5. Mackenzie 2020 Revisando 78 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) O presidente Fernando Collor de Mello venceu as eleições de , após anos em que os brasilei- ros puderam, finalmente, voltar a eleger diretamente o presidente da República. Um fator importante para a vitória de Collor foi o intenso uso do marketing político junto à mídia, decisivo em sua campanha, como ironiza a charge anterior. Tal estratégia foi significativa, pois a) transmitiu a ideia de ser uma “pessoa do povo” que iniciando sua carreira como vereador em Ala- goas, pôde pelo esforço próprio alcançar o mais alto cargo político no país – o de presidente da República. b) a campanha do candidato baseava-se na luta contra a corrupção e apoio aos “descamisados”, grupo do qual fez parte no começo de sua carrei- ra, no interior carente do estado de Alagoas. c) construiu junto ao povo brasileiro a imagem de “caçador de marajás”, defensor do fim de rega- lias e contra a corrupção; pois, jovem, foi eleito por meio do voto popular, ao cargo de prefeito de Maceió. d) conseguiu transmitir aos eleitores a imagem de um candidato jovem, “moderno” e “moralizador” que se opunha aos representantes políticos cor- ruptos e conservadores. e) deu, efetivamente, início a um programa de aten- dimento às camadas mais pobres da população, ao se colocar ao lado dos “pés-descalços”, como protetor contra os “velhos políticos”. 6. FGV-SP 2012 Recentemente, em julho de , fale- ceu o ex-presidente Itamar Franco. A respeito da sua chegada ao poder e do seu governo, é correto afirmar: a) Venceu Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno das eleições disputadas em 1994, graças ao su- cesso do Plano Real, implementado no governo de Fernando Henrique Cardoso. b) Venceu Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 1989 e organizou um governo de coalizão nacio- nal, do qual participaram todos os demais partidos políticos brasileiros, inclusive o PT. c) Assumiu a presidência após o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello e, com seu ministro Fernando Henrique Cardoso, implementou o Plano Real. d) Foi eleito em janeiro de 1985, em eleição direta pelo colégio eleitoral, e organizou um governo de reformas políticas e econômicas que permitiram sua reeleição em 1994. e) Foi eleito em 1994 devido ao sucesso do Plano Real implementado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, do qual participou como ministro da Fazenda. 7. FGV-RJ 2016 O Brasil contemporâneo é o resultado de vários processos políticos e sociais. As opções a seguir apresentam marcos significativos desses pro- cessos, à exceção de uma. Assinale-a. a) A estabilização econômica, devido à aplicação do Plano Real a partir de 1994. b) A abertura da economia e a redução das tarifas externas, a partir dos anos 1990. c) A adoção na última década, entre outras políticas distributivas, do aumento persistente do salário mínimo. d) A redução do papel do Estado na economia, gra- ças à política de privatização e à instalação das agências reguladoras na década de 1990. e) A valorização dos setores industriais ligados à tecnologia da informação, por meio da política de substituição de importações a partir de 1980. 8. FGV-RJ 2015 Leia atentamente as seguintes afir- mações sobre as eleições presidenciais brasileiras ocorridas após . I. As eleições de 1989 foram marcadas por uma acirrada polarização ideológica, sobretudo no se- gundo turno, disputado por Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva. II. As eleições de 1994 ocorreram sob o impacto do sucesso do Plano Cruzado, que permitiu a elei- ção, em primeiro turno, do candidato do PMDB José Sarney. III. Nas eleições de 1998, as principais forças oposi- cionistas articularam-se em torno da chapa Lula e Brizola, mas foram derrotadas, ainda no primeiro turno, por Fernando Henrique Cardoso. IV. Nas eleições de 2002, todas as forças oposicio- nistas de esquerda participaram da coligação que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno, contra a candidatura do tucano José Serra. V. Nas eleições de 2006, PT, PMDB e PSDB firmaram uma vitoriosa coligação, que permitiu a reeleição de Lula e a articulação da mais ampla maioria par- lamentar da história política do Brasil. Está correto apenas o que se afirma em a) I, II, III e IV. b) I e III. c) II, III e V. d) III e IV. e) I. 9. FGV-RJ Assinale a alternativa que apresente apenas presidentes eleitos pelo voto direto dos cidadãos brasileiros. a) Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. b) José Sarney, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. c) Tancredo Neves, Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva. d) Ulysses Guimarães, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. e) José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. F R E N T E 1 79 10. UFRGS Considere o enunciado a seguir e as três pro- postas para completá-lo. Nos anos , o Neoliberalismo disseminou-se pela América Latina através de diversos governos que de- sencadearam políticas de privatização da economia, abertura do mercado interno, desregulamentação e diminuição das funções do Estado. No início do sé- culo XXI, constata-se . que os últimos resultados eleitorais, em países como o Brasil, Uruguai e Argentina, indicaram que os eleitores optaram por propostas que geravam expectativas de mudança em relação às políticas neoliberais. . que, diante do abandono dos programas neoli- berais precedentes, a pressão dos movimentos sociais refluiu, mostrando efetiva consolidação da estabilidade social e política em países como Bolívia, Equador e Paraguai. . que os EUA têm mostrado indiferença pela região na medida em que consideram que seus inte- resses estão resguardados e que não existem condições para o surgimento de posições radi- cais ou anti-estadunidenses. Quais propostas estão corretas? a) Apenas 1. b) Apenas 2. c) Apenas 3. d) Apenas 1 e 2. e) 1, 2 e 3. Exercícios propostos 1. Uece 2021 Em 15 de março de 1985, José Sarney, vi- ce-presidente eleito na chapa encabeçada por Tancredo Neves, assumiu interinamente a presidência, pois o presi- dente eleito havia sido operado na noite anterior à posse. Após várias cirurgias, Tancredo veio a falecer em 21 de abril de 1985 e Sarney assumiu oficialmente o cargo como primeiro presidente civil desde o golpe militar de 1964, governando o país até 15 de março de 1990. Em seu governo, o Estado brasileiro viveu cinco anos em que, a) tanto a economia quanto a política avançaram a passos largos devido à ótima condição em que os governos militares entregaram o país. b) a inflação herdada do período militar continuou alta, apesar dos vários planos econômicos imple- mentados no período. c) foram feitas várias tentativas de cumprir a promessa de Tancredo Neves de convocar uma assembleia constituinte, contudo a promulgação da nova cons- tituição só ocorreu no governo seguinte. d) as eleições continuaram a ser realizadas de for- ma indireta, por meio do colégio eleitoral, mesmo com o fim da ditadura militar. 2. Fuvest-SP A partir da redemocratização do Brasil (), é possível observar mudanças econômicas significativas no país. Entre elas, a a) exclusão de produtos agrícolas do rol das princi- pais exportações brasileiras. b) privatização de empresas estatais em diversos se- tores como os de comunicação e de mineração. c) ampliação das tarifas alfandegárias de importa- ção, protegendo a indústria nacional. d) implementação da reforma agrária sem pagamen- to de indenização aos proprietários. e) continuidade do comércio internacional voltado prioritariamente aos mercados africanos e asiáticos. 3. Fatec-SP 2019 Leia o texto e considere a charge do cartunista Henfil. Em outubro de ,a Constituição brasileira comple- tou trinta anos. Promulgado após quase dois anos de trabalho, o texto que lançava as bases para a nova legislação máxima do país foi resultado do grande envolvimento da sociedade – que enviou cartas, organizou-se em movimentos sociais e realizou eventos – e dos par- lamentares eleitos após o término do regime militar. As demandas da população foram consideradas para a construção de uma Constituição que ampliou direi- tos e liberdades, o que contribuiu para que ela fosse chamada de “Cidadã”. <https://tinyurl.com/yaxtrr> Acesso em: .. A Assembleia Nacional Constituinte de -, que elaborou as novas leis do Brasil, foi representada por Hen l, na charge, como a) a retomada da consciência de proteção ambien- tal, que existia nas Constituições anteriores e que foi deixada de lado durante o regime militar. b) a reelaboração dos símbolos nacionais, como a bandeira, cujas cores foram alteradas para reme- ter às riquezas naturais. c) o ressurgimento dos estados, que voltaram a ter governadores e não interventores federais esco- lhidos pelo presidente. d) a reconstrução do país por sua população, após um período autoritário que deixou marcas negativas. e) o resultado do trabalho científico e racional, re- presentado pelos intelectuais que elaboraram o novo texto. 80 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) 4. Mackenzie 2018 Como o Brasil e como a própria democracia, a Constituição de 1988 também é imper- feita. Envolveu movimentos contraditórios e embates formidáveis entre forças políticas desiguais, e inúmeras vezes errou de alvo. (...). Mas a Constituição de 1988 é a melhor expressão de que o Brasil tinha um olho no passado e outro no futuro e estava firmando um sólido compromisso democrático. Lilia M. Schwarcz e Heloísa M. Starling. Brasil: Uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 488-489 Dentre as contradições da Constituição de , aponta-se a) a conservação do tempo de mandato de cin- co anos, com direito à reeleição, de um lado, e a criação de mecanismos mais democráticos e imparciais em processos de afastamento de pre- sidentes acusados de crime de responsabilidade, de outro lado. b) a manutenção da inelegibilidade e a ausência do direto de voto direto aos analfabetos, de um lado, e o estabelecimento da demarcação de terras indígenas e o amplo projeto de reforma agrária radical, aos mais necessitados, de outro lado. c) a manutenção do voto obrigatório e a idade mí- nima de dezoito anos para participação política, de um lado, e a concessão do direito de elegibili- dade e o voto aos analfabetos maiores de idade, residentes no Brasil, de outro lado. d) a conservação da estrutura agrária e a manu- tenção da inelegibilidade de analfabetos, de um lado, e o reconhecimento de direitos de minorias e o empenho em prever meios e os instrumentos constitucionais legais para a participação popular direta, de outro lado. e) a manutenção da autonomia das Forças Arma- das para definir assuntos de seu interesse, de um lado, e o aprofundamento de mecanismos de in- vestigação e a punição aos envolvidos em atos de tortura e o cerceamento de liberdades durante a ditadura civil-militar, de outro lado. 5. Uece 2017 Leia atentamente os seguintes excertos: [...] uma das principais causas da dizimação dos ín- dios, afora as doenças trazidas pelos europeus, foram os massacres e a eliminação deliberada dos nativos pelos portugueses. Isso resultou no fato de que apenas apro- ximadamente 300.000 índios, cerca de 5 por cento dos 6 milhões que compunham a população indígena em 1500, sobreviveriam para as “comemorações” dos qui- nhentos anos da chegada de Cabral a suas terra. JANCSÓ, István (Coord.) Rebeldes brasileiros – homens e mulheres que desafiam o poder. São Paulo: Casa Amarela, [s.d.]. fasc. 9. p. 261 (Caros amigos) Entre os dias 26 de março e 22 de abril [de 2016], os indígenas Aponuyre, Genésio, Isaías e Assis Guajajara, todos da Terra Indígena (TI) Arariboia, no Maranhão, fo- ram assassinados. Com pouca fiscalização e sem sinal de investigação dos culpados, os indígenas Guajajara que vivem na área – já demarcada e habitada também por índios Awá isolados – sofrem com a constante pressão de madeireiros e temem por sua segurança. COMISSÃO PASTORAL DA TERRA - CPT. Em um mês, quatro indígenas Guajajara foram assassinados no Maranhão. Publicado em 27 de abril de 2016. Acessado em 11 de maio de 2017. Disponível em: https:// www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes/noticias/ conflitos-no-campo/3191-em-um-mes-quatroindigenas-guajajara-foram- assassinados-no-maranhao Considerando os excertos acima, é correto afirmar que a) os conflitos que ainda ocorrem entre indígenas e população não indígena se dão exclusivamente pela ação predatória, promovida pelos índios, so- bre os recursos naturais protegidos por lei. b) as tensões geradoras dos massacres e a dizima- ção da população nativa brasileira ainda perduram nos tempos atuais, apesar da atual proteção do Estado sobre as populações indígenas. c) o interesse dos capitalistas em obter maiores lu- cros com a exploração da terra dos índios e de seus recursos nunca foi motivação para os confli- tos que dizimaram e ainda diminuem a população indígena. d) os eventos de violência contra a população indíge- na, em diversas áreas do país, se dão porque essa população não é aceita pelo Estado quando tenta integrar-se ao modelo social, justo e inclusivo, do mundo civilizado. 6. UFPR 2021 A Manchete do Jornal do Brasil de 17 de março de 1990, um dia após o anúncio do Plano de Estabilização Econômica, popularmente conhecido como Plano Collor, foi: “Reforma de Collor faz ter- remoto na economia”. A medida desse plano, bem como sua consequência econômica, que causou esse “terremoto”, foi: a) a aplicação de pesada taxação das fortunas, per- dendo apoio da elite em suas reformas. b) a reestatização de companhias privatizadas no governo Sarney, afugentando investidores es- trangeiros. c) o descongelamento de preços e salários indexa- dos desde o governo Figueiredo, derrubando as bolsas de valores. d) o confisco da poupança e das contas correntes com mais de 50 mil cruzeiros, fragilizando a maior parte da população. e) a realização da paridade da moeda brasileira cruzeiro com o valor do dólar, prejudicando as importações. 7. FGV-SP As recorrentes crises econômicas que atin- giram o Brasil nos últimos anos foram respondidas de formas diversas, como por meio do Plano Cruzado () e do Plano Collor (), que decretaram as se- guintes medidas, respectivamente: a) estabelecimento de uma meta inflacionária de 10% ao ano e congelamento dos tributos e das tarifas públicas; a moeda volta a se chamar cru- zeiro e todos os investimentos de curto e médio prazos foram bloqueados por 2 anos. F R E N T E 1 81 b) congelamento dos preços por 2 meses, aumento das tarifas públicas e a criação do gatilho sala- rial; criação do cruzado novo, congelamento dos gêneros de primeira necessidade e bloqueio de todos os depósitos em caderneta de poupança. c) congelamento geral de preços e a criação de um gatilho salarial a ser ativado quando a inflação atingisse 20%; congelamento de preços e salários pela média dos últimos 12 meses e o aumento da remuneração da caderneta de poupança. d) congelamento dos preços por um ano, além de um abono salarial de 8% para todas as categorias profissionais; retenção, por 18 meses, de todos os valores acima de 50 mil cruzados novos nas contas correntes e nas cadernetas de poupança. e) aumento tributário para automóveis, bebidas e ci- garros e congelamento do preço de alimentos e tarifas públicas; extinção dos investimentos finan- ceiros de curto prazo e adoção de dois índices inflacionários: um para o setor público, outro para o privado. 8. ESPM 2019 É até possível que os brasileiros não quises- sem perceber, mas Collor parecia-se excessivamente com Jânio Quadros – só que mais moço. Ambos com- partilhavam o mesmo senso de espetáculo da política,o desprezo pelos políticos, o desdém pelo Congresso, a visão moralista e o perfil autoritário. Collor falava de maneira postiça e, na presidência, assumiu uma postura imperial: contrariava interesses, desdenhava a luta política, desconsiderava a precariedade de sua equipe e agia como se nada fosse atingi-lo. (Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Starling. Brasil: uma biografia) O texto enumera argumentos para o declínio do go- verno Collor. No entanto, o governo caiu: a) em consequência do fracasso do Plano Cruzado implantado em seu mandato; b) por conta da impopularidade crescente derivada da repressão contra as greves de trabalhadores; c) em consequência de um golpe promovido pelos militares; d) em decorrência do fracasso do programa de pri- vatizações por ele desencadeado; e) por corrupção, quando a imprensa descobriu que Paulo Cesar Farias, ex-tesoureiro de campanha, operava negócios obscuros. 9. Uece 2019 Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Pla- no Bresser e Plano Verão foram planos econômicos que adotaram medidas para tentar retirar o Brasil do quadro de inflação alta e que marcaram uma etapa significativa da história republicana brasileira. Considerando esse período e o contexto histórico, as- sinale a afirmação verdadeira. a) Governos militares pós 1964 tentaram reduzir o crescente ritmo de investimentos estatais em setores da economia brasileira originados nos governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart. b) Na tentativa de conter o avanço inflacionário sobre os salários, Fernando Henrique Cardoso aplicou, sem sucesso, vários planos econômicos até acertar com o Plano Real. c) Os governos Lula utilizaram esses planos econômicos como forma de conter a alta infla- cionária resultante das medidas adotadas por Fernando Henrique Cardoso no final de seu se- gundo governo. d) O governo de José Sarney, que herdou uma infla- ção crescente no fim dos governos militares e, na tentativa de contê-la, lançou mão de planos eco- nômicos variados sem obter sucesso. 10. UFJF-MG 2020 Analise o texto abaixo. Texto O Plano Real, único programa heterodoxo de com- bate à inflação que deu certo no Brasil, teria fracassado se não fossem os seus pilares ortodoxos, como a âncora cambial e os arrochos monetário e fiscal. Sua ambição ia além de estabilizar o poder de compra da moeda: preten- dia consolidar um novo modelo de desenvolvimento no país, com cores claramente liberais. https://www.valor.com.br/cultura/6131109/plano-real-completa- 25-anos-em-meio-criticas-politica-economica-do-periodo O Plano Real foi um programa econômico com o ob- jetivo de estabilização financeira através de reformas econômicas. Foi iniciado há anos, em , no go- verno Itamar Franco – Fernando Henrique Cardoso (FHC) era Ministro da Fazenda e foi eleito posterior- mente presidente do Brasil. Sobre os anos iniciais do plano, assinale a alternativa CORRETA: a) O governo FHC buscou cumprir o propósito de liquidar os elementos do Nacional-desenvol- vimentismo, pautando-se por um ideário que tinha no liberalismo econômico sua caracterís- tica mais forte. b) O processo de implantação da agenda interven- cionista teve seu marco inicial no governo de Fernando Collor de Mello, que controlou a infla- ção, consolidando o discurso de que esse foi o único caminho para a resolução dos problemas. c) O Plano Real foi definido por influência externa e pelo Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), processo precursor do que se ten- taria estabelecer como Área de Livre Comércio para as Américas (ALCA). d) No início da década de 1990 foram eleitos pre- sidentes com agendas desenvolvimentistas na maior parte dos países latino-americanos, sem o compromisso de ajustar as contas públicas e con- trolar a inflação. e) O sucesso do Plano Real e o processo de esta- tização da economia provocaram significativas melhorias sociais, principalmente entre as ca- madas mais baixas que tiveram as poupanças confiscadas. 82 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) 11. Unicamp-SP 2021 O SUS (Sistema Único de Saúde) foi definido a partir de princípios universalistas e igualitá- rios, quer dizer, para todos e de forma igual, embasado na concepção de saúde como direito de todos e dever do Estado. Essa construção do SUS rompeu com o cará- ter meritocrático que caracterizava a assistência à saúde no Brasil até a Constituição de 1988. Os seus princípios, presentes no artigo 196 da Constituição de 1988, foram implementados gradualmente. Um de seus marcos é a Lei Orgânica da Saúde (nº 8.080) de 19 de setembro de 1990, que fundou e operacionalizou o SUS. (Adaptado de Telma Menicucci, História da reforma sanitária brasileira e do Sistema Único de Saúde: mudanças, continuidades e a agenda atual. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v. 21, n.1, jan-mar. 2014, p.77-92.) Com base no excerto e em seus conhecimentos sobre a história do Brasil, assinale a alternativa correta. a) Os princípios universais e inclusivos do SUS fo- ram desmantelados durante década de 1990 em razão da crise inflacionária que assolou o país e das reformas neoliberais que aumentaram os gas- tos do Estado com a saúde e o saneamento. b) A criação do SUS aconteceu no contexto de rea- bertura política e da expansão democrática que sucedeu ao regime militar. O seu funcionamento mostra as dificuldades de financiamento da saúde pública entre as décadas de 1990 e 2000. c) O modelo que inspirou os princípios do SUS foi o sistema universal de saúde de Cuba, cujos profis- sionais prestaram consultoria ao Estado brasileiro durante a formulação dos artigos referentes à saúde da Constituição de 1988. d) Durante o governo do presidente Fernando Collor (1990-1992), houve a suspensão do SUS e a expansão dos sistemas de saúde baseados em planos privados oferecidos por instituições estrangeiras que passaram a atuar no país. 12. Uece 2018 Leia atentamente os seguintes excertos: A imprensa nacional pôde conhecer melhor o go- vernador de Alagoas a partir dos ataques violentos que ele começou a fazer contra Sarney. A imagem do homem público ‘moderno’, campeão de luta contra a corrupção e ‘caçador de marajás’ passou a ser amplamente divulgada pelos meios de comunicação. O político rico, bem vestido, bronzeado, esportista e que dominava o inglês e o francês fez sucesso no Brasil. (...) MOTA, Miriam B., BRAICK, Patrícia R. História: das cavernas ao terceiro milênio. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2005, p.191. (...) Milhões de dólares captados durante a cam- panha foram desviados por PC, que arcava até com as despesas particulares do presidente e sua esposa. Todos os dias circulavam notícias sobre desvio de dinheiro, uso de verbas públicas com fins particulares, superfaturamento de obras, propinas cobradas por empreiteiras e concor- rências fraudulentas. Ministros deixaram seus cargos e a primeira-dama, afastada da presidência de honra da Legião Brasileira de Assistência (LBA), foi acusada de corrupção. BARBEIRO, Heródoto; CANTELE, Bruna R.; SCHNEEBERGER, Carlos Alberto. História: volume único para o ensino médio. São Paulo: Scipione, 2004, p. 465 Apesar de abordarem temas bem atuais, os trechos citados foram publicados em e , respecti- vamente, e fazem menção a) à condição de extrema popularidade do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva que apesar de todas as acusações, foi reeleito para um segundo man- dato em 2006. b) ao apoio da mídia e da classe média ao gover- no de José Sarney, em 1985, após a morte de Tancredo Neves e depois a crise devido à situa- ção econômica e ao escândalo das concessões públicas sem licitação. c) ao governo de Itamar Franco que, apesar de ser vice de Collor, rompeu com o presidente anga- riando apoio popular, mas que depois o perdeu em função da crise econômica. d) ao apoio da grande mídia a Fernando Collor de Mello que, depois de eleito presidente em 1989, renunciou devido um processo de impeachment, em meio a acusações feitas pela mídia e por seu próprio irmão. 13. Enem 2020 É difícil imaginar que nos anos 1990,num país com setores da população na pobreza absoluta e sem uma rede de benefícios sociais em que se apoiar, um governo possa abandonar o papel de promotor de programas de geração de emprego, de assistência social, de desenvolvimento da infraestrutura e de pro- moção de regiões excluídas, na expectativa de que o mercado venha algum dia a dar uma resposta adequada a tudo isso. SORJ, B. A nova sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000 (adaptado). Nesse contexto, a criticada postura dos governos frente à situação social do país coincidiu com a priorização de que medidas? a) Expansão dos investimentos nas empresas públi- cas e nos bancos estatais. b) Democratização do crédito habitacional e da aquisição de moradias populares. c) Enxugamento da carga fiscal individual e da con- tribuição tributária empresarial. d) Reformulação do acesso ao ensino superior e do financiamento científico nacional. e) Reforma das políticas macroeconômicas e dos mecanismos de controle inflacionário. 14. UPF-RS Após três tentativas fracassadas (, e ), Luiz Inácio Lula da Silva, retirante nordestino, me- talúrgico e sindicalista, do Partido dos Trabalhadores (PT), venceu as eleições à presidência da República, em . Sobre o contexto que levou à vitória de Lula, leia as seguintes afirmações: I. A fórmula adotada na campanha foi “Lulinha paz e amor”, que indicava um candidato mais mode- rado e pragmático em detrimento do radicalismo anterior, inclinado a reformar o sistema econômico- -social e não a fazer uma revolução. F R E N T E 1 83 II. O apoio dos Estados Unidos foi decisivo para a vitória, visto que Lula estava comprometido em estancar a exportação de comodities, principal- mente minérios, à China. III. A Carta aos Brasileiros, de junho de 2002, com- provou o programa moderado de Lula, firmando compromisso com a estabilidade econômica e respeito aos contratos nacionais e internacionais. IV. O esgotamento do projeto de governo de Fernando Henrique Cardoso e do Plano Real, incapaz de continuar mantendo a inflação baixa e a moeda valorizada, contribuíram para a vitória de Lula. V. A promessa de estancar os negócios com o Mer- cosul e implantar uma zona de livre comércio com a África entusiasmou os microempresários, que passaram a se engajar nessa luta. Está correto apenas o que se afirma em: a) I, II e IV. b) II, III e IV. c) II, IV e V. d) I, II e V. e) I, III e IV. 15. Uece 2020 Durante a Nova República, estabelecida após o período dos governos militares encerrado em , o Brasil só teve sua primeira eleição presiden- cial em . Desde então, registraram-se oito pleitos e muitos percalços no caminho da jovem democracia. Sobre a política presidencial no Brasil da Nova Repú- blica, é correto afirmar que a) apenas Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello conseguiram concluir seus dois manda- tos presidenciais. b) o governo de Dilma Vana Rousseff foi o único a não ser concluído, pelo fato de a mandatária ter sofrido processo de impeachment pelo Congres- so Nacional. c) Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Vana Rousseff foram os únicos a ser reeleitos presidentes do Brasil na Nova República. d) José Sarney, Itamar Franco, José Alencar e Michel Temer são exemplos de vice-presidentes que as- sumiram definitivamente o mandato presidencial. Texto complementar A rua e o poder Leia a seguir o trecho de um artigo de Maria Glória Gohn, cientista política e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que fala sobre os manifestantes das Jornadas de Junho. Em Junho de 2013, ocorreu, em 12 capitais brasileiras e em várias outras cidades de médio porte, uma onda de manifestações populares que reuniu mais de um milhão de pessoas, com similares em apenas três momentos da história do país: em 1992, no impeachment do ex-presidente Collor de Melo; em 1984, no movimento Diretas Já, no período do regime militar, na luta pelo retorno à democracia; e nos anos de 1960, nas greves e paralizações pré-golpe militar de 1964 e nas passeatas estudantis de 68. Os protestos rapidamente se espalharam e se transformaram em revolta popular de massa. Os movimentos foram denominados pela mídia e outros como “manifestações”. De fato, eles foram, na maioria das vezes, manifestações que expressam estados de indignação face à conjuntura política nacional. As mobilizações adquiriram, nesses eventos, um caráter de movimento de massa, de protesto, de revolta coletiva, aglutinando a indignação de diferentes classes e camadas sociais, predo- minando a classe média propriamente dita, e diferentes faixas etárias, destacando-se os jovens. Sabe-se que elas foram desencadeadas em São Paulo por coletivos organizados, com o predomínio do Movimento Passe Livre (MPL), a partir de uma demanda pontual – contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos. Quando o ‘povo’ viu, na TV e jornais, jovens sendo espancados por lutarem por bandeiras que eram também suas, como a mobilidade urbana, ele também saiu às ruas. O crescimento das manifestações levou à ampliação das demandas com um foco central: a má qualidade dos serviços públicos, especialmente transportes, saúde, educação e segurança pública. As manifestações fazem parte de uma nova forma de movimento social, que se caracteriza por participação de uma maioria de jovens escolarizados, predominância de camadas médias, conexão por e em redes digitais, organização horizontal e de forma autônoma e crítica às formas tradicionais da política da atualidade – especialmente os partidos e os sindicatos. As convocações para os atos foram feitas através das redes sociais, e a grande mídia contribuiu para a adesão da população ao noticiar a agenda, os locais e a hora das manifestações. Há uma estética particular nas manifestações: em cima da demanda-foco, sem carros de som, o batuque ou as palmas são utilizados no percurso das marchas. Os jovens organizadores das chamadas para as manifestações atuam em coletivos organizados na última década. Muitos dos jovens que respondem às convocações e vão às manifestações estão em fase de batismo na política. Os coletivos inspiram-se em variadas fontes, segundo o grupo de pertencimento de cada um. Como rejeitam lideranças verticalizadas, centralizadoras, também não há hegemonia de apenas uma ideologia ou utopia. O que os motiva é um sentimento de descontentamento, desencantamento e indignação contra a conjuntura ético-política de dirigentes e representantes civis eleitos nas estruturas de poder estatal, assim como as prioridades nas obras e ações selecionadas e seus efeitos na sociedade. O movimento acontece “em se fazendo” e não via grandes planos de organizações com coordenações verticalizadas. Há processos de subjetivação na construção dos sujeitos em ação. Cada um leva seu cartaz em cartolina; uma nova mensagem pode gerar uma decisão tomada no calor da hora, em cima da demanda-foco; sem carros de som, o batuque ou as palmas são utilizados no percurso das marchas, como já mencionado. [...] Os ativistas dos movimentos sociais deste novo século foram e continuam a ser alvos de ações violentas por parte da repressão policial. Conectam-se às redes de apoio internacional, e a solidariedade entre eles é um valor e um princípio. São laboratórios de experimentações de novas formas de operar a política. Dirigem suas reivindicações a personagens específicos da cena público-política de cada país. Para compreender essa onda de mobilizações, além de identificar as especificidades e diferenças dos jovens em ação, há uma questão significativa. Por que uma grande massa da população aderiu aos protestos? Ou seja: que sentido e significado esses jovens atribuíram aos acontecimentos para transformá-los em movimento de massa com ampla legitimidade? Quais as fontes de motivação desses movimentos? Que ideologias os inspiram? Inspiram-se em variadas fontes, segundo o grupo de pertencimento de cada um. Como rejeitam lideranças verticalizadas, centralizadoras, não há hegemonia de apenas uma ideologia,utopia ou 84 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) esperança que os motive. Alguns retiram, da esquerda, ensinamentos sobre a luta contra o capital e as formas de controle e dominação do capitalismo contemporâneo, na busca da emancipação. Do anarquismo e do socialismo libertário, grupos ressuscitam e renovam leituras sobre a solidariedade, a liberdade dos indivíduos, a autogestão, e a esquecida fraternidade, retomada nas ações de enfrentamento à repressão policial. Há também um novo humanismo na ação de alguns, expresso em visões holísticas e comunitaristas, que critica a sociedade de consumo, o egoísmo, a violência cotidiana – real ou monitorada pelo medo nas manchetes diárias sobre assaltos, roubos, mortes etc., a destruição que o consumo de drogas está causando na juventude e outros. Busca-se reumanizar os indivíduos, promover a paz, combater a violência. Muitos não têm formação alguma, estão aprendendo na luta do dia a dia, formatando seus valores conforme o calor da hora. D. Cohn-Bendit (2013) observou, a respeito das manifestações no Brasil: “Nos anos 60 prevalecia a defesa dos ideais, socialismo, anarquismo, alguns lutavam em nome de Cuba, da China. Hoje não há a questão ideológica. Isso é bom: lutar por escola melhor, transporte melhor”. [...] GOHN, Maria da Glória. A sociedade brasileira em movimento: vozes das ruas e seus ecos políticos e sociais. Caderno CRH. v. , n. , jun.-ago. , p. - . Universidade Federal da Bahia. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf//.pdf. Acesso em: mar. . Resumindo Redemocratização do Brasil Constituição de 1988. Governo de José Sarney (1985-1990) Mudança de moeda – tentativa de combate à inflação por via monetária. Governo de Fernando Collor de Melo (1990-1992) Escândalo de corrupção, movimento dos caras-pintadas e renúncia. Governo de Itamar Franco (1992-1994) Plano Real. Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) Consolidação da liberal-democracia, privatizações e con- trole inflacionário. Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) Programas de distribuição de renda e de inclusão social; Escândalo de pagamento de propinas para deputados. Governo de Dilma Rousseff (2011-2016) Crise econômica e política e polarização: progressismo x conservadorismo. Governo de Michel Temer (2016-2018) Reformas no limite dos gastos públicos, no Ensino Médio e nas leis trabalhistas. Governo de Jair Bolsonaro (2019-) Apoio de empresários, classe média conservadora, líderes neopentecostais etc. Quer saber mais? Podcasts Estação Brasil # – Redemocratização brasileira: pelo povo ou para o povo? O historiador Ricardo Dowe fala sobre a luta pela democracia no Brasil durante as décadas de 0 e 0, a transição política marcada pela Constituição de e os desafios atuais da democracia no país. História Pirata # – Fernando Henrique Cardoso e a redemocratização com Ricardo Duwe Episódio que aborda a carreira acadêmica e política de Fernando Henrique Cardoso, considerando o contexto de redemocra- tização do Brasil pós-0. Estação Brasil # – Lulismo: ascensão, queda e perspectivas para o futuro Discussão acerca da teoria de André Singer, cientista político que estudou o “lulismo” como um fenômeno social perpassado por contradições. 1. Unicamp-SP 2018 No Brasil pós-ditadura, a disputa pela memória foi marcada pela publicação do projeto Brasil: Nunca Mais (BNM), em 1985. Pode-se dizer que se trata de um ato fundacional na construção da memória social sobre os crimes da ditadura, o qual favoreceu a constituição de uma consciência coletiva acerca da política repressiva do período e do status dos sobreviventes. (Adaptado de Janaina de Almeida Teles, A constituição das memórias sobre a repressão da ditadura: o projeto Brasil: Nunca Mais e a abertura da vala de Perus. Anos 90, Porto Alegre, v. 19, n. 35, p. 265, jul. 2012). a) Explique dois objetivos do projeto Brasil: Nunca Mais. b) Por quais razões a autora considera o projeto Brasil Nunca Mais um ato fundacional? 2. Uerj 2019 Tenho pois mostrado pela razão, e pela experiencia, que a pezar de serem os Índios bravos huma raça de homens in- conciderada, preguiçosa, e em grande parte desagradecida e deshumana para com nosco, que reputão seus inimigos, são Exercícios complementares F R E N T E 1 85 afastar o medo e não aceita colher o ódio. A Nação in- teira comunga desse ato de esperança. Reencontramos, depois de ilusões perdidas e pesados sacrifícios, o bom e velho caminho democrático. (...) A primeira tarefa de meu governo é promover a organização institucional do Estado. (...) Faz algumas semanas eu anunciava a cons- trução de uma Nova República. Vejo nessa fase da vida nacional a grande oportunidade histórica de nosso povo. (Discurso de Tancredo Neves em 15 de janeiro de 1985, após ser eleito pelo Colégio Eleitoral) Comício das Diretas em frente à igreja da Candelária no Rio de Janeiro, em 1 de abril de 198. No alvorecer dos anos oitenta, na sociedade brasi- leira, uma série de manifestações políticas e sociais criticaram o governo vigente sob a bandeira do retor- no dos direitos e prerrogativas democráticas. A partir dessas informações e dos documentos anteriores: a) explique o movimento “Diretas Já”; b) identifique uma medida implementada pelo governo da Nova República favorável ao restabelecimento dos direitos democráticos. 5. Udesc 2018 A Constituição de , conhecida como “Constituição Cidadã”, foi elaborada por meio de uma assembleia nacional constituinte e marca o período que se convencionou chamar “Nova República”. Analise as proposições, segundo este Texto Consti- tucional. com tudo capazes de civilisação, logo que se adoptão meios proprios, e que há constancia e zelo verdadeiro na sua execução. Nas actuaes circunstancias do Brasil e da Politica Européa, a civilisação dos Índios bravos he objecto de summo interesse e importancia para nós. Com as novas Aldêas que se forem formando, a Agricultura dos Generos comestiveis, e a criação dos gados devem augmentar, e pelo menos equilibrar nas Provincias a cultura e fabrico do açucar. Apontamentos para a civilisação dos Índios bravos do Império do Brasil (1823), de José Bonifácio de Andrada e Silva. Disponível em: objdigital.bn.br. CAPÍTULO VIII – Dos Índios Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respei- tar todos os seus bens. – 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua repro- dução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. (...) Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Mi- nistério Público em todos os atos do processo. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Disponível em: www2.senado.leg.br. Os documentos transcritos apresentam visões distintas sobre os indígenas e seus direitos. Os apon- tamentos expostos por José Bonifácio à Assembleia Geral Constituinte do Império do Brasil, em , não foram incorporados ao texto da Constituição outorgada em ; já os artigos do Capítulo VIII da Constituição Brasileira de até hoje vigoram. A partir da comparação entre os documentos, identi- que duas características, uma de e outra de , que evidenciam as formas de considerar os direitos dos indígenas no Brasil em cada momento histórico. Em seguida, apresente um fator que explique a pre- sença de tais direitos na Constituição de . 3. Unesp 2014 Nos primeiros anos da década de 1980, a Argentina e o Brasil trilharam, finalmente, o caminho da democracia. Naquele período, em um e outro país,as manifestações da sociedade vieram à tona, em vários níveis. (Boris Fausto e Fernando Devoto. Brasil e Argentina: um ensaio de história comparada (1850-2002), 2004.) Compare os processos de democratização ocorridos no Brasil e na Argentina nos anos , a partir de dois aspectos: situação econômica interna; punição aos responsáveis por violências praticadas durante os respectivos regimes militares. 4. FGV-RJ Nesse momento alto da história orgulhamo- -nos de pertencer a um povo que não se abate, que sabe 86 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) I. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas ou manter com eles, ou com seus repre- sentantes, relações de dependência ou aliança. II. São reconhecidos quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador. III. Homens e mulheres são iguais, em direitos e obrigações. IV. Ninguém será submetido à tortura, ao tratamento desumano ou degradante. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. b) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras. c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. d) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras. e) Somente a afirmativa I é verdadeira. 6. Unesp 2017 A campanha pela Constituinte foi extremamente im- portante para despertar a consciência cívica dos brasileiros e estimular a organização da sociedade, criando ambiente propício à manifestação objetiva e clara da vontade do povo quanto a pontos essenciais da organização política e social. [...] A alegação de que ela [a Constituição] é demasiado longa e minuciosa esconde, na realidade, a resistência dos que não querem perder privilégios tradicionais e dos que desejam eliminar da Constituição os direitos econômicos, sociais e culturais, pois tais direitos exigem do Estado um papel positivo, de planejador e realizador, deixando para trás o Estado-Polícia, mero garantidor de privilégios, antes protegidos como direitos. Dalmo Dallari apud Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação, 2008. A partir do depoimento do jurista Dalmo Dallari, cite duas características do momento histórico em que a Assembleia Constituinte de foi convocada e duas características da Carta que ela elaborou. 7. Unicamp-SP Vinte anos depois da promulgação da Constituição de 1988, é difícil imaginar como um país com graves problemas econômicos e recém-saído de uma longa ditadura militar foi capaz de escrever seu futu- ro numa Constituição que foi chamada de “Constituição Cidadã”. (Adaptado de Ricardo Amaral, “Memórias da última batalha ideológica”. http://revistaepoca.globo.com/ Revista/Epoca/1,,EMI12361-15273,00.html. Acesso em 18/11/2010.) a) Por quais razões a Constituição de 1988 foi apeli- dada “Constituição Cidadã”? b) Quais eram os “graves problemas econômicos” que afetavam o Brasil no contexto de transição da ditadura militar para o regime democrático? 8. Fuvest-SP Basta dizer que, desde Juscelino Kubits- chek, em 1 de janeiro de 2003, será a primeira vez que um presidente eleito [diretamente pelo povo] passará a faixa para outro presidente também eleito diretamente pelo povo. Artigo de Fernando Henrique Cardoso, publicado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, 6/10/2002. a) Com base no texto, é correta a afirmação de FHC? Justifique sua resposta. b) Indique as características do sistema eleitoral no Brasil desde a Constituição de 1946 até hoje. 9. Fuvest-SP A crise política que o Brasil vem enfrentan- do desde junho deste ano não teria ocorrido nos tempos da ditadura militar. Só a democracia permite o debate público. De um observador, em setembro de 2005. Essa frase remete às diferenças nas relações entre Estado e sociedade no período da ditadura militar e na democracia presente. Discorra sobre algumas dessas diferenças no que se refere a) ao poder legislativo e aos partidos políticos. b) à imprensa. 10. Unicamp-SP É interessante notar que o Brasil “padece” de quase todas as “patologias” institucionais identifica- das como fatores responsáveis pela elevação do custo de governar: tem um sistema presidencialista; é uma federa- ção; possui regras eleitorais que combinam um sistema de lista aberta com representação proporcional; tem um sistema multipartidário com partidos políticos considera- dos débeis na arena eleitoral; e tem sido governado por uma ampla coalizão no Congresso. (Adaptado de Carlos Pereira e Bernardo Mueller, “Comportamento estratégico em presidencialismo de coalizão: as relações entre o Executivo e Legislativo na elaboração do orçamento brasileiro”. Dados – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, 2002, v. 45, n. 2, p. 2.) a) O Congresso Nacional no Brasil é formado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, exercendo as funções de legislar e fiscalizar. Qual a diferença básica, no sistema bicameral, entre o Senado Federal e a Câmara de Deputados? b) Qual a diferença entre Estado e governo? 11. Unicamp-SP 2014 (...) o desencanto com a Nova Re- pública era provocado principalmente pelo fracasso dos vários planos econômicos que não conseguiram domar o dragão da inflação. Depois do breve sucesso do Pla- no Cruzado, de 1986, a arrancada dos preços disparou, esmagando o poder de compra dos brasileiros, especial- mente dos mais pobres. (Marly Motta, “Rumo ao planalto”. Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/ especial-nova-republicarumo- ao-planalto. Acessado em 09/08/2013.) a) Explique o que é inflação. b) Quais os efeitos do congelamento de preços, base do Plano Cruzado, para a economia brasi- leira do período? F R E N T E 1 87 12. Unicamp-SP A crise que levou ao “impeachment” de Collor tem características e significados inteiramente di- versos dos da crise de 1968. Na crise do “impeachment” os militares não foram protagonistas, nem se colocou em questão nenhuma norma do regime político em vigor. Fato inédito em nossa história republicana, essa cri- se reafirmou o ordenamento jurídico estabelecido pela Constituição de 1988, através de dispositivos como a Comissão Parlamentar de Inquérito e o “impeachment”. (Adaptado de Sebastião Velasco e Cruz, “O impeachment: uma crise singular”. O presente como história: economia e política no Brasil pós-64. Campinas: Unicamp-SP, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1997, p. 402-403.) a) De acordo com o texto, que características da crise política do “impeachment” de Collor a dife- renciam das crises anteriores? b) Quais os resultados políticos da crise de 1968? c) O que é “impeachment”? 13. UFPR 2020 Leia o excerto abaixo: Foi a partir dos anos 1990, com a vitória do neoli- beralismo no Brasil [que] o parque produtivo brasileiro, sobretudo o industrial, foi alterado de modo significativo pela privatização do setor produtivo estatal, afetando di- retamente a siderurgia, as telecomunicações, a energia elétrica, áreas com forte presença estatal anterior e que passaram para o capital privado, tanto transnacional quan- to nacional. (ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019. p. 118.) A partir das considerações acima e dos conhecimentos sobre os temas da globalização e do neoliberalismo: a) Relacione a abertura do mercado externo ocorrida no Brasil, em inícios da década de 1990, com a glo- balização e o aumento dos níveis de desemprego. b) Os preceitos neoliberais defendem a privatização das empresas públicas por considerá-las deficitá- rias e pouco competitivas. Aponte uma crítica a esse posicionamento manifestado pelos defen- sores do neoliberalismo e discuta brevemente o contexto de privatizações de empresas públicas no Brasil. 14. Fuvest-SP 2018 Desde 1930, somente cinco pre- sidentes eleitos pelo voto popular, excluídos os vices, completaram seus mandatos: Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), Juscelino Kubitschek (1956-1961), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio Lulada Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011- -2014). Quatro não completaram: Getúlio Vargas (1951-1954), Jânio Quadros (1961), Fernando Collor (1990-1992) e Dilma Rousseff (2015-2016). Além dis- so, sete não foram eleitos pelo voto direto: Getúlio Vargas (1930-1945), Castelo Branco (1964-1967), Costa e Silva (1967-1969), Garrastazu Médici (1969- -1974), Ernesto Geisel (1974-1979), João Figueiredo (1979-1985) e José Sarney (1985-1990). J. M. de Carvalho. Brasil não soube assimilar entrada do povo na vida política, diz historiador. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima. Acessada em 10/09/2017. A partir do recorte temporal estabelecido pelo autor, indique o período mais extenso de a) ininterrupta estabilidade democrática, apontando duas de suas características político-institucionais; b) contínua ruptura democrática, apontando duas de suas características político-institucionais. 15. UEL-PR 2019 Leia os textos e a imagem, a seguir, que correspondem a três momentos históricos distintos. Texto Segundo o jornalista Valdeci Verdelho, falando da década de 70 do século passado: “Depois do golpe mili- tar de 64, o movimento grevista operário foi contido por meio da força. Através do Ato Institucional no 5 e da Lei da Segurança Nacional, as lideranças grevistas podiam pegar de 10 a 20 anos de cadeia. Resultado? Em 1970, ocorrem apenas 12 greves em todo o país. Em 1971, ne- nhuma! Ativistas operários, como Manoel Fiel Filho, são assassinados pela repressão”. Adaptado de VERDELHO, V. Sinal dos Tempos: O Renascer do Movimento Sindical. In: Retrato do Brasil! Rio de Janeiro: Ed. Política, 1984, p. 205-209. Texto Lei promulgada pelo Presidente Sarney: “O Presidente da República, faço saber que o Congresso Nacional de- creta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. Parágrafo único. O direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta Lei. Art. 2o Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, tem- porária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador. Art. 3o Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho”. LEI Nº 7.783, DE 28 DE JUNHO DE 1989. planalto.gov.br. Manifestação de caminhoneiros em de maio de no Brasil. google.com.br Com base nos textos, na imagem e nos conhecimen- tos sobre o Brasil Contemporâneo, responda aos itens a seguir. a) Situe o momento histórico correspondente a cada texto e à imagem. b) Relacione os dois textos e a imagem considerando o momento histórico em que foram criados, aponte se há contradições ou não e justifique sua reposta. 88 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade) BNCC em foco EM13CHS201, EM13CHS601 1. Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demar- cá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. a) b) c) d) e) EM13CHS103 2. Batizado por Tancredo Neves de “Nova Re- pública”, o período que marca o reencontro do Brasil com os governos civis e a democracia ainda não comple- tou seu quinto ano e já viveu dias de grande comoção. Começou com a tragédia de Tancredo, seguiu pela eu- foria do Plano Cruzado, conheceu as depressões da inflação e das ameaças da hiperinflação e desembocou na movimentação que antecede as primeiras eleições di- retas para presidente em 29 anos. a) b) c) d) e) EM13CHS101 3. a) b) c) d) e) O período entreguerras 12 CAPÍTULO FRENTE 2 O massacre de Guernica ocorreu em 26 de abril de 1937, quando aviões nazistas bombardearam a cidade espanhola localizada na região do País Basco. No episódio, a Alemanha testou novos armamentos aéreos, deixando 126 mortos e grande parte da área urbana de Guernica devastada. O sofrimento gerado por esse ataque é uma das marcas do século XX, outras, além dessa, também serão estudadas neste capítulo. Como a Crise de 1929, uma das maiores da história do capitalismo, e a ascensão do fas- cismo e do nazismo, com destaque para os casos da Alemanha, da Itália e da Espanha. 90 HISTÓRIA Capítulo O período entreguerras A Crise de 1929 Em 1929 irrompeu uma das maiores crises da história do capitalismo, a qual deixou milhões de desempregados, propiciou a ascensão de movimentos radicais de extrema- -direita, como o fascismo e o nazismo, abriu espaço para o fortalecimento de um modelo keynesiano de economia – de acordo com o qual o Estado deve intervir de forma ativa em períodos de crise e desemprego – e ajudou a impulsionar a Segunda Guerra Mundial. Em 1932, cerca de 40 milhões de pessoas estavam sem emprego no mundo. Os Estados Unidos na década de 1920 Anos antes da crise que eclodiu em 1929, poucos con- seguiram prever o que aconteceria. Após a Primeira Guerra Mundial, o mundo foi tomado por uma onda de otimismo, marcada pela crença de que as guerras tinham ficado para trás. Nesse cenário, os Estados Unidos assumiram a po- sição de maior potência do mundo, e passaram de país devedor a país credor. Na década de 1920, o território es- tadunidense concentrava 44,8% da produção industrial do mundo. O país, além de fornecer produtos para as nações europeias destruídas pela guerra, também detinha o controle dos mercados latino-americano e asiático e importava 40% das matérias-primas produzidas no mundo, entre as quais estavam trigo, algodão, açúcar, borracha, seda, cobre, estanho e café. No período pós-guerra, a produção industrial estaduniden- se cresceu 60%, o desemprego caiu para 5% e a Bolsa de Valores de Nova York estava no centro do mundo. A partir de 1924, com a implementação do Plano Dawes, os Estados Unidos passaram a emprestar dinheiro para a reconstrução da Europa, sobretudo da Alemanha. É interessante notar, no entanto, que embora economicamente os Estados Unidos estivessem integrados aos mercados mundiais, adotavam uma política isolacionista. Exemplo disso foi a rejeição do Congresso à entrada do país na Liga das Nações. O crescimento econômico dos Estados Unidos ge- rou uma euforia de enriquecimento sem precedentes e a ideia de que a prosperidade seria permanente. Por isso, os anos 1920 ficaram conhecidos como anos dourados. O consumismo ampliou-se em grande escala. Altas tarifas alfandegárias protegiam o mercado interno estadunidense, ao passo que o crédito facilitado alimentava a continuidade da produção e permitia que muitas pessoas adquirissem um carro ou uma casa. O empresário Henry Ford, de Detroit, fabricava veículos baratos em série, o que fez sua produção saltar de 8 milhões em 1920 para 23 milhões em 1930. Assim era o American way of life (estilo de vida es- tadunidense, em tradução livre), sobretudo para a classe média, que, além de ter automóvel na garagem de casa, comprava todo tipo de aparelho doméstico e se divertia assistindo a filmes no cinema, além de lutas de boxe e jogos de beisebol. Nesse contexto, Hollywood começou a ganhar o status de capital mundial do cinema e a música negra, sobretudo ojazze oblues, que surgiram no final do século XIX, conquistaram espaço no mercado fonográfico. Lançado em 5, o modelo Ford T rapidamente conquistou o mercado estadunidense e tornou-se um símbolo da prosperidade do país nos anos seguintes. O trompetista Louis Armstrong foi dos um pioneiros do jazz estadunidense e sua música contribuiu para que o estilo se popularizasse. Fotografia de 4. Contudo, nesse período havia também um cenário de miséria, desigualdade, intolerância e racismo. Quase metade da população estadunidense vivia com menos de mil dólares por ano. No campo, o crescimento do agronegócio e a concentração de terras tornavam a pe- quena fazenda familiar uma relíquia histórica. Na cidade, ao adotarem o chamado Plano Americano, que intimi- davae demitia líderes sindicais, as empresas diminuíram consideravelmente o poder dos sindicatos, baixando de cinco milhões para três milhões o número de trabalha- dores sindicalizados. O período foi marcado também pela defesa em grande escala dos valores tradicionais estaduniden- ses, sintetizados pela sigla Wasp ( junção das palavras branco, anglo-saxão e protestante). Em 1915, a seita de supremacistas brancos conhecida como Ku Klux Klan, que havia sido dissolvida pelo governo em 1870, ganhou novo fôlego e espalhou sua mensa- gem de ódio e violência contra a população negra. Além disso, no intuito de moralizar a sociedade, o mo- vimento puritano antialcoólico defendia a proibição da produção e comercialização de bebidas alcoó- licas. Decretada pelo governo federal em 27 de outubro de 1919, a Lei Seca foi instituída com a justificativa de que o consumo de álcool representava um obstáculo para o progresso do país. A lei, no entanto, teve efei- to inverso e levou o crime organizado a fazer fortuna comercializando bebidas alcoólicas ilicitamente. Treze anos depois, a Lei Seca foi revogada em decorrência de seu insucesso. G la s s h o u s e I m a g e s /S h u tt e rs to ck S ta te L ib ra ry V ic to ri a , S id in e y, A u s tr a lia 91 F R E N T E 2 A crise A crença de que a economia dos Estados Unidos cres- ceria ininterruptamente estimulou em grande medida a compra de , ocasionando uma onda de especulação na . Eventualmente, quando há especula- ção acerca de um possível aumento no preço de uma ação, ela pode valer mais que seu preço “real”. Quando a procura por uma ação é grande, seu preço aumenta, do mesmo modo, quando há pouca procura, o preço diminui. Algumas pessoas obtêm lucros com essa variação, pois compram ações por preços baixos e esperam que seus preços aumentem para vendê-las. Na década de 1920, durante a euforia estadu- nidense, muitas ações foram vendidas, pois acreditava-se que as empresas iriam crescer permanentemente. Para se ter uma ideia, entre 1924 e 1929, a venda de ações aumentou em torno de 300%. Os bancos, por sua vez, emprestavam dinheiro aos compradores de ações, concedendo créditos e criando endividamentos de dimensões até então nunca vistas. No entanto, as ações perderam relação com o cresci- mento real das empresas. Isso porque as empresas vendiam cada vez menos, principalmente após a reestruturação industrial da Europa, sobretudo do Reino Unido e da Fran- ça, que voltaram ao comércio internacional, aumentando a competitividade com os produtos estadunidenses. Apesar disso, para manter a confiança dos acionistas, as indústrias continuavam produzindo como na época da Primeira Guer- ra Mundial. A grande concentração de renda e a pobreza nos Estados Unidos, contudo, impossibilitavam o mercado interno de substituir os compradores internacionais. Esse descompasso entre superprodução e subconsumo formava uma grande bolha de especulação. A crise estadunidense repercutiu no mundo inteiro. Isso porque o país suspendeu suas importações, interrompeu a concessão de empréstimos e paralisou seus investimentos. A produção industrial mundial caiu 33%, enquanto o comér- cio internacional reduziu 25% de suas transações. Além disso, a retirada dos capitais estadunidenses da Europa levou alguns bancos europeus a falir. Nos países capita- listas, havia cerca de 30 milhões de desempregados. Em países como Cuba, que exportava açúcar para os Estados Unidos, e Brasil, que exportava café, as receitas foram dras- ticamente reduzidas. Nesse contexto, muitas pessoas na Alemanha passaram a defender a ideia de que só um regime ditatorial pode- ria acabar com a crise, aumentando o apoio ao nazismo. Apenas a União Soviética, país de economia socialista e planificada que não mantinha relações econômicas com os Estados Unidos, escapou da crise, o que abalou a confiança no sistema capitalista e contribuiu para disseminar a ideia de superioridade do sistema soviético. Multidão aglomerada em Wall Street no dia da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, Estados Unidos, . Com o passar do tempo, as empresas reduziram o ritmo de produção, levando as pessoas a venderem as ações, com medo de que desvalorizassem. Porém, como ninguém que- ria comprá-las, houve uma enorme queda nos preços. Essa desvalorização foi tão intensa que no dia 24 de outubro de 1929 a Bolsa de Valores de Nova York quebrou, isto é, não havia compradores para mais de 16 milhões de ações que estavam no mercado. Muitas ações passaram a ter um valor quase nulo, e vários investidores perderam suas fortunas. Até 1932, 5 mil bancos e 85 mil empresas faliram. Além disso, a produção industrial caiu 46% e o PIB diminuiu um terço. Nesse cenário, mais de 15 milhões de estaduniden- ses ficaram desempregados, número que correspondia a 25% da população economicamente ativa. A Ford, que era um símbolo do capitalismo nos Estados Unidos e emprega- va 128 mil trabalhadores em 1929, passou a contar com apenas 37 mil funcionários em 1931. No campo, a renda familiar caiu 60% e um terço dos proprietários rurais perdeu suas terras. Milhares de pessoas migravam para as cidades, onde trabalhavam por salários baixos. U S -g o v 92 HISTÓRIA Capítulo O período entreguerras O New Deal de Roosevelt O candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, Franklin Delano Roosevelt, ganhou as eleições de 1932 com a promessa de adotar medidas pro- fundas para solucionar a crise iniciada em 1929. Entre 1933 e 1934, Roosevelt lançou o primeiro New Deal, um pacote de reformas caracterizado por uma grande intervenção do Estado na economia. O objetivo era promover a recupe- ração industrial e agrícola, regular o sistema financeiro, ampliar a assistência social e o número de obras públicas que pudessem gerar empregos. O New Deal preconizou maior controle, incentivo e fiscalização estatal da economia para que o gover- no conseguisse cumprir a tarefa de reerguer o país. Os empréstimos passaram a ser regulados pelo Sistema de Reserva Federal, que autorizava a expansão do crédito ou regulava a diminuição conforme a necessidade. Além disso, a Bolsa de Valores passou a ser supervisionada e regulada por leis estatais, assim como a concessão de crédito. Nesse sentido, o governo proibia os bancos de utilizar o dinheiro de seus clientes para fazer investimentos considerados arriscados. Por meio de acordos com empresários, trabalhadores e o governo, a Lei de Recuperação da Indústria Nacional, parte integrante do New Deal, estabeleceu limites para preços e salários. A Lei de Ajustamento Agrícola, por sua vez, facilitou o crédito aos fazendeiros para reestruturarem sua produção e exigiu, em troca da subvenção estatal, a diminuição nos preços dos alimentos. O governo também construiu usinas hidrelétricas para produzir energia barata e abundante, e passou a controlar o segmento. O Estado assumiu a tarefa de gerar empregos por meio de obras públicas ou outros tipos de programas, voltando a criar um mercado interno de consumo. Ao todo, foram gastos cerca de 3 bilhões de dólares em obras de infraestrutura para absorver a mão de obra ociosa, resultando na contratação de 6 milhões de pessoas. Entre 1922 e 1941, o governo contratou 2,7 milhões de jovens entre 18 e 25 anos para plantar árvores, controlar o fogo e a erosão nas florestas, melhorar praias e parques nacionais e estaduais, combater mosquitos, entre outros trabalhos. Cerca de 2 milhões de jovens tornaram-se pesquisadores ou ajudantes de pesquisa e, assim como os artistas e os escritores, foram pagos pelo Estado para exercerem seu ofício. Cerca de 2,7 mil peças foram exibidas sob financia- mento do Plano Federal de Teatro. Além disso, o governo fixou um salário mínimo para operários, auxiliou os estados a criarem um seguro-desemprego, aboliu o trabalho infantil e legalizou, pela primeira vez na história dos Estados Uni- dos, as organizações sindicais. Em 1935, Roosevelt lançou a segunda versão do New Deal como resposta aos protestos que reivindicavam novas Estabelecendo relaçõesRoosevelt tornou-se um dos presidentes mais populares da história dos Estados Unidos, reeleito em , 40 e 44. Fotografia de 44. Atenção F D R P re s id e n ti a l L ib ra ry & M u s e u m 93 F R E N T E 2 medidas de ajuda. Naquele ano, foi aprovada a Lei da Seguridade Social, que criou os sistemas previdenciários, fundamentais no mundo contemporâneo. Outras medidas foram garantidas, como assistência social emergencial; cobrança de impostos sobre fortunas privadas; pagamento de seguro para desempregados, pessoas com deficiência e aposentados; construção de habitações públicas; fixação de um salário mínimo e limites da jornada de trabalho. Esse contexto caracterizou o surgimento do que ficou conhecido como Estado de bem-estar social. Roosevelt conseguiu captar a aliança de sindicalistas, intelectuais e empresários, criando um programa político que duraria duas gerações. Características gerais De acordo com Benito Mussolini, líder do fascismo na Itália, o Estado fascista integra, potencializa e desenvolve a totalidade da vida do povo, sintetizando os valores da so- ciedade. Por essa razão, nada teria valor e nenhum aspecto humano ou espiritual existiria fora do Estado, ao qual não caberia apenas ordenar e tutelar, mas “refazer” o caráter e a fé das pessoas. Nesse sentido, o cinema, a música, o teatro e os esportes foram mantidos sob controle, de modo que a cultura tornou-se intrínseca ao Estado fascista. Por crer que o Estado pode violar a Constituição e os direitos básicos – como liberdade, igualdade e direito à propriedade –, o fascismo se caracteriza como uma ideologia profundamente antiliberal, opondo-se aos valores funda- mentais da Revolução Francesa. Nas palavras de Mussolini, “a liberdade é um cadáver putrefato”. As obras de infraestrutura lançadas pelo governo de Franklin Roosevelt foram fundamentais para gerar empregos após a Crise de . Na fotografia, obras no Bronx, Nova York, . No Estado fascista, o controle sobre a população e a difusão dos valores defendidos pelo fascismo começam na infância. Na fotografia, crianças em cerimônia fascista em Roma, Itália, 4. É importante ressaltar que o New Deal não conseguiu recuperar totalmente a economia dos Estados Unidos, embora o pacote de reformas tenha obtido resultados posi- tivos. O número de desempregados caiu de 14 milhões, em 1933, para 7,5 milhões, em 1937. A renda nacional subiu 70% e as exportações, 30%. Outro destaque do Estado de Bem-Estar Social era a imagem positiva vinculada a ele. O programa foi usado como propaganda do capitalismo diante do avanço socialista e um aliado da democracia diante do avanço nazista – lembrando que os Estados Unidos, so- bretudo no sul do país, mantinham práticas de segregação racial e eugenia que serviram de inspiração ao nazismo. O fascismo A ascensão dos regimes fascistas na Europa ocorreu em um cenário marcado pela depressão econômica decor- rente da Crise de 1929 e pelo crescimento da esquerda no cenário político mundial propiciado pela Revolução Russa. Nesse sentido, os regimes fascistas eram vistos por alguns grupos da sociedade – principalmente por parte da classe média e da burguesia, que queriam evitar o avanço do socialismo – como uma alternativa ao bolchevismo e ao liberalismo. Na Europa, apenas Grã-Bretanha, Finlândia, Estado Livre Irlandês, Suécia e Suíça não tiveram alguma forma de governo fascista ou algum tipo de regime socia- lista. Em 1938 contavam-se 17 governos constitucionais no mundo. Agora, vamos expor características gerais do movimento e, em seguida, discutir os casos específicos de Itália, Alemanha e Espanha. O Estado fascista também é antidemocrático, uma vez que, segundo seus ideólogos, não deve oscilar de acordo com a vontade do povo. Nesse sentido, a democracia gera- ria apenas desordem. Por isso, todos deveriam se submeter aos interesses da nação, a qual, por sua vez, deveria ser coesa ideologicamente, mostrando força e unidade. Além disso, o fascismo preconiza que haja harmonia entre capital e trabalho, família, comunidade profissional e nação. Para os fascistas, as instituições liberais, como a im- prensa livre, o parlamentarismo e a separação de poderes, seriam responsáveis por gerar a crise contemporânea. Outro ponto fundamental do fascismo é seu caráter an- ticomunista e antissocialista. O fascismo repudia elementos do pensamento marxista, como a luta de classes, a busca pela igualdade econômica e o internacionalismo, embora o fascismo tenha se tornado um movimento internacional. De acordo com o Manifesto do Bloco Nacional de Espanha, de 1934, a era ruinosa da luta de classes estaria chegando ao fim. Além disso, em sua obra Mein Kampf (Minha luta, em português), de 1934, Hitler afirmou que “o bolchevismo russo é fruto do pensamento judeu”. G ra n g e r, N Y C ./ A la m y / F o to a re n a L e e m a g e v ia A F P 94 HISTÓRIA Capítulo O período entreguerras O corporativismo fascista consistia na ideia de que a população não deveria se organizar em partidos, sindicatos independentes ou quaisquer divisões políticas ou ideo- lógicas, já que isso atrapalharia a coesão ideológica do Estado. Hitler falava em “fim das classes” no sentido fascista, de acordo com a ideia de que o interesse de patrões e operários seria o mesmo, e não no sentido comunista, que defendia de fato o fim das classes sociais. A sociedade seria tal qual um corpo, no qual cada um tem seu lugar estabelecido hierarquicamente, daí a radical oposição à igualdade da esquerda e à ideia de luta de classes. No discurso fascista, toda a sociedade tem o mesmo interesse, de modo que ideias como “interesses antagônicos entre patrões e operários” seriam invenções despidas de fun- damento. A ideia de “igualdade” fascista, portanto, seria aquela que afirma não haver conflitos inerentes aos grupos. Uma igualdade que paradoxalmente conviveria com uma hierarquia profunda e autoritária. O militarismo exacerbado seria uma forma de fortale- cer o Estado fascista. O objetivo primordial de militarizar a sociedade era impor, por meio da educação, os padrões de hierarquia e comportamento dos quartéis. Desse modo, costumes adquiridos por uma geração de europeus que passou quatro anos em guerra foram transpostos para a vida civil. Nesse ponto, é interessante lembrar que algumas lideranças fascistas, mesmo em tempos de paz, continua- vam usando uniforme e celebrando a vida de soldados. O militarismo, o controle dos meios de comunicação, a defesa do partido único e a espetacularização da figura do líder afastam o fascismo, por exemplo, do absolutismo, o qual dependia das mediações entre o rei e a nobreza e esperava do súdito uma submissão exterior, mas preser- vando diversas instâncias. Cartaz de propaganda anticomunista do Partido Fascista Italiano, 4, em que os fascistas são retratados como patriotas, e os comunistas como defensores da “bandeira vermelha”. Capa do jornal fascista italiano A tribuna ilustrada, de , mostrando um passeio de moto organizado pelo ditador Benito Mussolini. O nacionalismo é outra característica importante que está alinhada aos princípios anteriores. Nesse sentido, a nação seria uma criação do Estado e daria ao povo unidade moral e vontade coletiva. Tudo o que é nacional é visto como bom, ao contrário do perigo do não nacio- nal, representado pelas figuras do comunista, do cigano, do negro, do judeu, do homossexual e da pessoa com deficiência. Cada organização fascista tinha seu símbolo, sua cor e seu líder absoluto, a quem seus seguidores devotavam idolatria, considerando-o uma espécie de salvador da pátria. O culto à personalidade do grande líder, chamado de egocrata por alguns críticos, foi um traço marcante do fascismo. Para tanto, os regimes com base no ideal fascista foram os primeiros a perceber com clareza o poder dos meios de comunicação e a necessidade de monopolizá-los. Em 1919, o jornal O Povo da Itália publicava um texto no qual afirmava que “o fascismo é re- volucionário porque é antidogmático e antidemagógico,fortemente inovador e carece de preconceitos. Nós nos colocamos em defesa da guerra revolucionária acima de tudo e de todos”. Atenção C o le ç ã o p a rt ic u la r C o le ç ã o p a rt ic u la r 95 F R E N T E 2 Em resumo, há cinco características fundamentais do fascismo: antiliberalismo, antimarxismo, organicismo social, liderança carismática e negação da diferença. Apesar des- sas características em comum, é importante enfatizar que os tipos de fascismo apresentam especificidades relacionadas aos movimentos e às realidades locais. Além disso, há uma diferença entre regimes como os de Hitler (Alemanha) e Mussolini (Itália), que chegaram ao poder e foram der- rotados na Guerra, ou entre Franco (Espanha) e Salazar (Portugal), que chegaram ao poder apoiados por fascis- tas, mas buscaram afastar ou disfarçar suas características fascistas após a guerra, e a União Britânica Fascista e a Guarda de Ferro da Romênia, que nunca tomaram o poder e existiram apenas como movimentos. O fascismo na Itália Desde a unificação da Itália, no final do século XIX, a monarquia parlamentar foi instaurada, embora esse regime político fosse considerado fraco por uma grande parcela da população. Nesse contexto, a Revolução Russa teve forte impacto no país: os movimentos socialistas, liderados pelo Partido Socialista Italiano (PSI), ganhavam força e apoio popular. Entre 1919 e 1920, o chamado “biênio verme- lho”, a Itália foi tomada de assalto por greves, ocupações e rebeliões bolchevistas. Em 1920, os trabalhadores das indústrias metalúrgica e automobilística ocuparam fábricas, totalizando 2 milhões de grevistas. Na Semana Vermelha, 600 mil metalúrgicos do norte do país ocuparam fábricas e criaram mecanismos de autogestão. Os grupos conservadores ficaram preocupados com a disseminação do bolchevismo na Itália. Nesse sentido, o fascismo liderado por Benito Mussolini emergia como uma alternativa antiliberal e antissocialista para as elites italianas. Após lutar na guerra, Mussolini se opôs tanto aos so- cialistas quanto aos liberais. Em março de 1919, Mussolini fundou, em Milão, a organização paramilitar Fasci Italiani di Combattimenti, embrião do futuro partido fascista, unificado em 1921 sob o nome de Partido Nacional Fascista. O par- tido, que era altamente militarizado, logo passou a contar com 300 mil membros e conseguiu eleger 35 cadeiras no Parlamento. Os esquadrões fascistas, chamados de “Cami- sas Negras”, dedicaram-se aos ataques contra sindicalistas e socialistas, saqueando e incendiando jornais e sedes de partidos progressistas. Em 1922, momento em que a Itália se encontrava di- vidida, a esquerda planejou uma greve geral para mostrar sua força. Em resposta, o então deputado Benito Mussolini organizou a Marcha sobre Roma, um grande espetáculo de demonstração da força do Partido Fascista que consistiu na ocupação da cidade por 50 mil camisas-negras. Na ocasião, não foi preciso disparar tiros ou enfrentar a oposição da polícia, do exército ou do governo. O rei Vitor Emanuel III, então, ofereceu a Mussolini o título de primeiro-ministro e a responsabilidade de compor um ministério. Mussolini ficou conhecido como Il Duce (“o condutor”, em tradução livre) e passou a ter mais poder que o monarca. Marcha sobre Roma, Itália, em outubro de . Logotipo do Partido Nacional Fascista. Ao centro, o fascio littorio, instrumento etrusco de punição e de representação do poder, feito de tiras de madeira, muito usado no Império Romano. Do termo fascio littorio originou-se a palavra “fascismo”. Nas eleições de 1924, após fraudes e intimidações, 65% do Parlamento italiano passou a ser fascista, e com maioria parlamentar, Mussolini conseguiu alterar a legis- lação e adquiriu o poder de emitir decretos-lei. Em 1925, ele implantou as Leis Fascistíssimas, que o levaram a as- cender como único responsável pelo Estado diante do rei e tornaram a Itália oficialmente uma ditadura fascista. Entre outras medidas, essas leis estipularam a perda de todos os poderes do Parlamento e a expulsão e prisão dos membros de outros partidos, fazendo da Itália um país de partido único. Além disso, as instituições representativas foram eliminadas, e os governos locais substituídos por governos pró-fascistas. Surgia uma milícia em forma de po- lícia secreta, a Organização pela Vigilância e Repressão do Fascismo (Ovra). Ao dispor de plenos poderes, o Duce determinou o controle estatal sobre os principais meios de comunica- ção, que transmitiam somente conteúdos aprovados por seus supervisores. A imprensa de oposição desapareceu, acusada de dividir o país, e Mussolini adotou a estratégia de transmitir seus discuros pelo rádio com o propósito de levá-los ao maior número de pessoas possível, sobretudo aos mais pobres. As imagens cinematográficas chegavam aos italianos por meio de filmes educativos, propagandas e cinejornais do Instituto Nacional Luce, criado em 1924 como a “Hollywood fascista”. No campo econômico, o princípio do livre mercado foi abandonado, em uma espécie de reforma do capita- lismo. Diante da Crise de 1929, Mussolini criou o Instituto de Reconstrução Industrial, que reforçou a intervenção do Estado na economia. Na agricultura, os incentivos e as polí- ticas do governo favoreceram o agronegócio e o latifúndio. C o le ç ã o p a rt ic u la r N s M n /W ik im e d ia C o m m o n s 96 HISTÓRIA Capítulo O período entreguerras Foram construídas estradas, pontes, ferrovias e portos. Em 1927, Mussolini estabeleceu a Carta do Trabalho, que misturava concessões trabalhistas, relações favoráveis aos patrões e medidas de controle social, entre elas o controle do Estado sobre os sindicatos. O Tratado de Latrão, instituído em 1929 e considerado uma das grandes estratégias políticas de Mussolini, deu ao papa a soberania sobre a Cidade do Vaticano e pagou in- denizações à Igreja Católica pela perda de antigos Estados no período da unificação. Assim, o catolicismo tornou-se a religião oficial do país, o ensino religioso passou a ser obrigatório nas escolas, foi instituída a proibição do divór- cio, entre outras questões de cunho moralista. De acordo com uma concepção hierárquica de sociedade, os fascistas acreditavam que a mulher não poderia integrar o mercado de trabalho e, portanto, deveria ser excluída dos serviços públicos. Em 1938, por exemplo, fixou-se uma cota de 10% para todo o emprego feminino, salvo o caso de trabalhos considerados “femininos”. O governo fascista também foi marcado pela tentativa de expansão imperialista na África. Em 1936, a Etiópia foi conquistada; em 1939, a Itália dominou a Albânia. Outros domínios italianos sob a liderança de Mussolini incluíam a Líbia, a Eritreia e a Somália. Após a derrota do Eixo na Se- gunda Guerra Mundial, Mussolini foi capturado e executado no dia 28 de abril de 1945. O nazismo na Alemanha Entre as experiências fascistas que marcaram o mun- do entreguerras (1918-1939), os eventos na Alemanha são os mais conhecidos. O nazismo, uma forma de ideologia fascista, compunha um projeto totalitário de sociedade, ar- ranjado em torno da ideia de um corpo único, homogêneo e indivisível, no qual se projetava a existência de apenas um partido, uma ideologia e um líder no comando das grandes massas. O nazismo foi também um projeto estético, que vi- sava “embelezar” a sociedade – com uma ideia perversa de “belo”. Aquele apresentado como diferente sofria todo tipo de discriminação e, em última instância, era exterminado. Hoje, a grande maioria condena abertamente o nazismo. Mas como esse projeto de sociedade conseguiu ganhar tanta força em sua época? Vale lembrar que o nazismo conquistou simpatizantes em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. A República de Weimar (1919-1932) e a ascensão do nazismo Para compreender o contexto de ascensão do nazismo, primeiro vamos relembrar que, na passagem do século XIX para o XX, o racismo não ocorria apenas na Alemanha. A segregação racial foi vigente até a década de 1960 nos Estados Unidos, e em países da Europa haviapráticas eu- genistas e teorias de darwinismo social. O Reino Unido, por exemplo, condenava homossexuais à castração química na mesma época em que Hitler os exterminava em campos de concentração. Além disso, é preciso pontuar que as puni- ções impostas à Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, no Tratado de Versalhes, trouxeram à tona um sentimento nacionalista muito forte. Após a Primeira Guerra Mundial, o imperador Guilherme II foi deposto e a República foi proclamada. Como a nova Constituição foi redigida na cidade de Weimar, em 1919, o novo regime estabelecido no país recebeu o apelido de República de Weimar e vigorou até 1933. Essa recém-cria- da República era legislada por um Parlamento, eleito por voto universal, e governada por um presidente assessorado por um primeiro-ministro, o chanceler. A Alemanha, nesse momento, reunia grupos comunis- tas bastante engajados. Ente 1918 e 1923, os militantes comunistas alemães empreenderam várias tentativas para tomar o poder. Além disso, conselhos operários, semelhan- tes aos sovietes russos, formaram-se pelo país. Entre esses conselhos, destacou-se a Liga Espartaquista, liderada por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, que deu origem ao Partido Comunista Alemão no final de 1918. Adolf Hitler (à esquerda, de perfil) e Joseph Goebbels (ao centro, de frente), responsável pela propaganda nazista, entre e 45. A filósofa e militante comunista Rosa Luxemburgo, uma das referências mundiais em teoria marxista, foi torturada e executada em após a tentativa dos espartaquistas de insurreição contra o governo alemão em 8. Fotografia de c. 85-05. Nesse contexto, em 1919, em Munique, foi funda- do o Partido Nacional-Socialista, inspirado nas ideias de Mussolini. Em 1920, já com Hitler à frente, o nome foi al- terado para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (abreviado como Partido Nazista), com amplo apoio da alta burguesia do país. F ra n k lin D . R o o s e v e lt L ib ra ry P u b lic D o m a in P h o to g ra p h s /N a ti o n a l A rc h iv e s a n d R e c o rd s A d m in is tr a ti o n C o le ç ã o p a rt ic u la r 97 F R E N T E 2 Desde o início, o Partido Nazista organizou grupos pa- ramilitares que faziam ataques terroristas a comunistas e judeus. Inspirando-se na Marcha sobre Roma, Hitler liderou, em novembro de 1923, um golpe na cidade de Munique para derrubar o governo da região da Baviera: o Putsch (ou “Golpe da Cervejaria”). O golpe foi frustrado, e Hitler, condenado a cinco anos de prisão, foi solto poucos meses depois. Na prisão, começou a escrever seu livro Minha luta (Mein K síntese de sua doutrina da superioridade ra- cial e do pensamento nazista. Em 1926, surgia a Juventude Hitlerista, que atuava nas universidades e cujos integrantes faziam caminhadas, praticavam esportes e organizavam campanhas contra o alcoolismo. Surgiram também ligas nazistas de médicos (grupo que apoiou expressivamente o novo partido), juristas, professores e mulheres. Entre 1924 e 1929, a República de Weimar conhe- ceu um período de relativa recuperação decorrente da criação de uma moeda estável e dos recursos enviados pelos Estados Unidos. Porém, com a eclosão da Crise de 1929, a economia alemã, dependente de recursos externos, entrou em colapso, e o índice de desemprego chegou a 45%. Nas eleições de 1932, o partido nazista foi o mais vo- tado para o Parlamento, embora Hitler tenha perdido as eleições presidenciais. Pressionado pelos grandes empre- sários, e com medo da ascensão do comunismo, o marechal von Hindenburg, eleito presidente, nomeou Hitler como chanceler (primeiro-ministro) em janeiro de 1933. Hitler tomou medidas drásticas contra socialistas e co- munistas, persuadindo o presidente Hindeburg a dissolver o Parlamento e convocar novas eleições. Em 27 de fevereiro de 1933, houve um incêndio no Parlamento, pelo qual os comunistas foram responsabilizados. A sede do Partido Co- munista foi invadida, e quase toda a bancada de esquerda do Parlamento foi presa ou morta. Cerca de quatro mil co- munistas foram presos na Alemanha. Nesse momento, o presidente implantou a pena de morte e concedeu poderes extraordinários ao chanceler sob pretexto de combater a esquerda. Hermann Göring, braço direito de Hitler, começou o processo de substituição da política pelas milícias nazistas. Em março de 1933, ocorreu nova eleição, na qual os nazistas conseguiram 288 cadeiras contra 120 dos social- -democratas e 89 dos comunistas. Porém, é um erro dizer que Hitler chegou ao poder por vias “democráticas” mesmo obtendo a maioria das cadeiras, pois foi sistematicamente solapado pelos nazistas o respeito à Constituição, à se- paração de poderes e aos direitos humanos, elementos fundamentais de uma democracia. Após a morte de Hindenburg em 1934, Hitler tornou- -se presidente da Alemanha. No poder, o líder nazista suprimiu as garantias de liberdade, dissolveu os sindicatos e partidos políticos e reativou o Exército, a Marinha e as indústrias armamentistas. O regime nazista tornou-se o Terceiro Reich (ou Terceiro Império, sucedendo o Segun- do, inaugurado por Bismarck em 1871, e o primeiro, que representa o Sacro Império Romano-Germânico, surgido em 962). A bandeira da República de Weimar foi então substituída pela suástica nazista. O governo nazista O Partido Nacional-Socialista tornou-se, assim, o único partido político legalizado, cujo poder era mantido por meio do terror. Os operários eram obrigados a se inscrever na Frente de Trabalho Alemã e os camponeses, por sua vez, obrigados a se inscrever no Estatuto Alimentar do Reich. As crianças deveriam entrar na Juventude do Povo, e os adolescentes, na Juventude Hitlerista ou na Liga das Moças Alemãs. Livros considerados contrários à nação alemã eram queimados em grandes cerimônias, e obras de arte vistas como degeneradas eram destruídas. Veículos de comuni- cação passaram a ser controlados e aqueles considerados inimigos pararam de circular. No plano econômico, o Estado assumiu o papel de regular a economia e reduziu a taxa de desemprego para quase zero. De acordo com a historiografia recente, Hitler recuperou a economia alemã com base no endividamento e no investimento na indústria bélica, de forma que o colapso a médio prazo só seria evitado no caso da vitória em uma possível guerra. Em 1938, pouco antes do início da Segun- da Guerra Mundial, a economia nacional já demonstrava sinais de decadência vertiginosa.Membros do Partido Nazista da Alemanha, em Munique, Alemanha, 0. Atenção C o le ç ã o p a rt ic u la r 98 HISTÓRIA Capítulo O período entreguerras Os principais órgãos repressivos do regime foram a Polícia Secreta do Estado (Gestapo), a Tropa de Assalto ou Seção Tempestade (SA), o Serviço de Segurança (SD) e a Tropa de Proteção (SS). Dentro do ideal corporativista, cada setor da sociedade tinha um papel bem definido no regime. A família tinha um papel central nesse contexto. O papel da mulher, fora de qualquer trabalho, era a reprodu- ção da raça, por isso deveria ser educada para procriar, cuidar dos filhos e da família. Já as mães judias, ciganas e negras, vistas pelos nazistas como de “raça inferior”, sofriam aborto e esterilização compulsórios. Nas escolas, desde os 3 ou 4 anos de idade, as crianças eram vistoriadas para verificar se estavam sendo educadas para serem bons na- zistas. Para matricular os filhos na escola, os pais tinham que apresentar sua árvore genealógica, comprovando que eram arianos puros. Assim como na Itália, o nazismo estimulava a ginástica entre as crianças, que aprendiam sobre soldados esparta- nos e guerreiros nórdicos, “honrados e heroicos”, que foram leais e serviram a seus líderes. Dos 10 aos 14 anos, os jovens preparavam-se para integrar a Juventude Hitlerista, cujo objetivo era ensiná-los a ideologia nazista para que se tornassem soldados do Führer (Líder) munidos de técnicas de combate e de fabricação de explosivos. Como para Hitler a arquitetura era a mãe de todas as ar- tes, AlbertSpeer, arquiteto do Terceiro Reich, projetou uma “Nova Berlim”, inspirada no Império Romano, que deveria ser a “futura capital do mundo”, com edifícios monumentais, materiais duráveis e um arco do triunfo maior que o francês. Além de um ideal político, o nazismo era carregado de um ideal estético sintetizado na ideia de “embelezamento” da sociedade. Hitler afirmava que a humanidade estava cor- rompida geneticamente, e o único povo que não havia se misturado com outras “raças” era o germânico, o que fazia dele puro e superior. A beleza humana, portanto, seria al- cançada com a destruição de outros povos. À mulher alemã, segundo o ideal nazista, cabia o papel de reproduzir essa pureza racial, por isso, deveria ser educada para procriar, cuidar dos filhos e da família. Os Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, foram muito emblemáticos nesse sentido: era a chance de demonstrar ao mundo o vigor da raça ariana e o reerguimento da Alemanha sob o governo nazista. O antissemitismo, ou seja, a intolerância e o ódio aos ju- deus, já era forte na Europa muito antes do nazismo alemão. O historiador Eric Hobsbawm assim explica a perseguição contra os judeus pelos nazistas: Eles podiam servir como símbolos do odiado capitalista financista; do agitado revolucionário; da corrosiva influência dos intelectuais, dos jornalistas e dos meios de comunicação; da competição que lhes dava uma fatia desproporcional dos empregos; e do estrangeiro e forasteiro como tal. Para não falar da visão aceita entre os cristãos antiquados de que eles mataram Jesus. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, p. 180. Ciganos e homossexuais também foram perseguidos e exterminados durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1941, cerca de 70 mil doentes mentais foram queimados pelo regime nazista. Os campos de concentração e de extermínio constituíam uma imagem do projeto fascista totalitário. Nesses campos, nazistas prendiam e matavam judeus, homossexuais, ciganos e combatentes de tropas inimigas durante a Segunda Guerra Mundial. Na imagem, campo de concentração em Ebensee, Áustria, 45. Cena do filme O triunfo da vontade, de 5, da cineasta oficial de Hitler, Leni Riefenstahl. O cinema, com seu grande poder de alcance, foi o setor que mais recebeu atenção e investimentos do regime nazista. G e rm a n F e d e ra l A rc h iv e s L t. A rn o ld E . S a m u e ls o n /N a ti o n a l A rc h iv e s a n d R e c o rd s A d m in is tr a ti o n 99 F R E N T E 2 No próximo capítulo, veremos como o regime de Hitler, em seu aspecto expansionista, contribuiu para levar o mundo à Segunda Guerra Mundial e colocou em prática o extermínio de quase 6 milhões de judeus. A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) A Guerra Civil Espanhola é um exemplo de que, em- bora os regimes fascistas tenham elementos em comum, eles também estão relacionados às especificidades de cada lugar, o que é fundamental para entender seu de- senvolvimento. As origens do fascismo na Espanha Ao longo do século XIX, emergiram movimentos sepa- ratistas na Espanha. Sobretudo a partir de 1874, quando o golpe que restaurou a Dinastia Bourbon reforçou o poder monárquico, diversas regiões da Espanha se revoltaram diante do autoritarismo da Coroa e, sob a égide do fe- deralismo, passaram a exigir mais autonomia regional. A repressão e as guerras por essa autonomia levaram ao surgimento do nacionalismo catalão, que reivindicava a independência da região. Mais tarde, o País Basco e a Galícia também formularam amplos programas de auto- nomia regional. Observe, no mapa a seguir, a localização dessas regiões separatistas da Espanha. de Rivera, um admirador de Benito Mussolini, o governo militar reprimiu a revolta de Abd-el-Krim no Marrocos (1920- -1927) contra as ocupações espanhola e francesa, fechou o Parlamento e suprimiu os partidos políticos. Em meio à desestabilização política, o país mergulhou em uma crise financeira em 1929, com o aumento da dívida pública e a fuga do capital estrangeiro. Isolado politicamente, o general Rivera renunciou em 1930. Com ele, caiu a monarquia: na tarde de 13 de abril de 1931, as ruas de Barcelona, Madri, Valencia e Saragoça foram invadidas pela multidão que comemorava a vitória republicana nas eleições municipais. Espanha: movimentos separatistas (País Basco e Catalunha) – século XX OCEANO ATLÂNTICO 40° N M e ri d ia n o d e G re e n w ic h 0° Fonte: elaborado com base em Instituto Geográfico Nacional. Asociación Española de Geografia. La organización territorial de España. Disponível em: https://www.ign.es/espmap/spain_bach.htm. Acesso em: mar. . Diante da vitória de candidatos republicanos nas principais cidades espanholas, o rei Alfonso XIII deixou o trono e se exilou na Itália fascista. Foto de c. . Somou-se a esse contexto de exigência por autonomias regionais o crescimento de uma camada de operários que, influenciados pelo anarquismo e pelo socialismo, passaram a se organizar em sindicatos e partidos, como a União Geral de Trabalhadores (UGT), a Confederação Nacional do Traba- lho (CNT) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), realizando protestos e greves gerais pelo país. No período entreguerras, em 1923, e com o consen- timento do rei Alfonso XIII, os militares deram um golpe e ficaram no poder até 1930. Liderado pelo general Primo Dessa forma, o governo republicano convocou eleições para a Assembleia Constituinte, na qual saíram vitoriosos políticos republicanos de esquerda. O novo presidente Niceto Alcalá-Zamora se viu diante de inúmeras questões internas: arcaísmo agrário, desigualdade regional, separa- tismo, problemas no campo, atraso tecnológico, domínio da Igreja Católica, poder dos fazendeiros, entre outras. Ideologicamente, a Espanha estava dividida em diversos grupos: socialistas de diferentes tendências, anarquistas, monarquistas, liberais, republicanos e fascistas. Essa frag- mentação ideológica dificultava a possibilidade de reformas. Nesse contexto, em 1933, José Antonio de Rivera (filho do general Primo de Rivera) fundou a Falange Espanhola, o principal partido de cunho fascista da Espanha. Nas elei- ções presidenciais de 1936, com uma diferença de apenas 200 mil votos, venceu o candidato da Frente Popular, uma coalizão de partidos de esquerda. Manuel Azaña Díaz, o presidente eleito, afirmou que “não viera presidir uma guerra civil, mas evitá-la”. A história, no entanto, foi diferente. Com o novo governo progressista, o País Basco e a Catalunha conquistaram sua autonomia, e o projeto de reforma agrária voltou a ser debatido. Insatisfeitos com os rumos da política, em julho de 1936, sob a coordenação do general Francisco Franco, um grupo de oficiais militares decidiu realizar um levante armado para derrubar o governo. Nas regiões da Espanha que ainda permaneciam fiéis ao governo republi- cano, o povo recebeu armas para que pudesse defender seu país dos militares golpistas. Começava a guerra civil. C h ri s ti a n F ra n ze n 100 HISTÓRIA Capítulo O período entreguerras A guerra Os militares contaram com a ajuda de Portugal, na épo- ca governado pelo ditador Antonio Oliveira Salazar, que entre 1933 e 1968 instaurou uma ditadura de traços fas- cistas no país. As tropas de Hitler e Mussolini, por sua vez, forneceram aviões, armas, tanques blindados e soldados ao general Franco. Comunista Espanhol, de caráter stalinista, e do Partido Ope- rário de Unificação Marxistas, de cunho trotskista, travaram um intenso confronto, deixando mais de 2 mil mortos. Além disso, cerca de sete mil padres foram fuzilados pelos re- publicanos sob a justificativa de ser a “causa do atraso do país”, fato considerado decisivo para que a Igreja Católica apoiasse a “cruzada franquista”. Revisando No plano internacional, a União Soviética garantiu apoio aos republicanos por meio do envio de aviões e tanques. A Liga das Nações, por iniciativa da França e do Reino Unido, optou pela não intervenção dos países europeusno conflito, a fim de evitar que a guerra espanhola se tornasse um confronto internacional. Além disso, organizou-se uma força revolucionária voluntária capaz de abrigar militantes do mundo inteiro: as Brigadas Internacionais, criadas em outubro de 1936, contavam com 60 mil soldados oriundos de 54 países. Após um longo confronto, no dia 1o de abril de 1939, Francisco Franco anunciou a vitória de suas tropas e o fim da guerra. A ditadura franquista governou a Espanha até novembro de 1975, quando o regime monárquico parla- mentar foi restaurado. Membros da Legião Condor, a força aérea nazista enviada por Hitler para ajudar o general Franco na Guerra Civil da Espanha. Fotografia de c. de . Mulheres da Federação Anarquista Ibérica, Barcelona, Espanha, . Os republicanos, por sua vez, não possuíam forças re- gulares. Os defensores de Madri conseguiram derrotar 20 mil soldados bem treinados e munidos de equipamentos alemães apenas com coquetéis molotov. Filiados da CNT e da UGT tomaram diversas cidades, fazendo com que proliferassem juntas, comitês e conselhos pela Espanha. A Catalunha chegou a ser governada por um Comitê Central das Milícias Antifascistas, que tomou fábricas e escritórios. Os empresários que se recusaram a colaborar com os republicanos foram fuzilados. Em Aragão, a maior parte das fazendas era coletivizada. No entanto, o lado republi- cano estava dividido, pois havia constantes atritos entre anarquistas e comunistas. Em 1937, integrantes do Partido 1. UFRGS 2020 Sobre a crise econômica de , que iniciou com a quebra da bolsa de valores de Nova Ior- que, considere as seguintes afirmações. I. A causa principal da crise foi o alto endividamento dos Estados Unidos, após o fim da Primeira Guer- ra Mundial. II. A economia mundial foi rapidamente afetada pela crise, devido à redução das importações dos Estados Unidos e ao repatriamento de capitais norte-americanos que estavam em outros países. III. A economia brasileira manteve-se estável, graças à valorização do café no mercado mundial. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 2. USF-SP 2017 Vários foram os fatores geradores da crise norte-americana de que, em pouco tempo, atingiu o mundo capitalista. O Brasil também não es- capou dos efeitos desse desastre econômico. Dentre os fatores que contribuíram para a eclosão dessa crise nos Estados Unidos, destaca-se a) a superprodução agrícola aliada à diminuição das im- portações europeias após a Primeira Guerra Mundial. b) o aumento do consumo interno, devido à política governamental norte-americana de incremento dos salários, e pelo fato de as indústrias não con- seguirem abastecer o mercado. c) a Primeira Guerra Mundial, que dificultou as exportações e importações de produtos indus- trializados e de matéria-prima, prejudicando o mercado norte-americano. G e rm a n F e d e ra l A rc h iv e s C o le ç ã o p a rt ic u la r 101 F R E N T E 2 d) a Revolução Russa, que despertou na classe ope- rária o desejo pela busca de direitos, provocando greves na maioria das indústrias norte-america- nas, comprometendo a produção. e) o incremento das importações pelos norte- -americanos, desestabilizando a economia e desvalorizando os produtos nacionais, que deixa- ram de ser competitivos. 3. FCL-SP 2019 A respeito do período entre as duas grandes Guerras Mundiais, -, é correto afir- mar que o mundo europeu ficou marcado pela(o): a) coexistência pacífica entre os blocos americano e soviético e surgimento do capitalismo monopolista. b) sucesso do capitalismo, do liberalismo e da de- mocracia, e coexistência fraterna entre fascismo e comunismo. c) crise do capitalismo, do liberalismo e da demo- cracia, e polarização ideológica entre fascismo e comunismo. d) estagnação das economias socialistas e capitalis- tas e aliança entre os Estados Unidos e a União Soviética para deter o avanço fascista da Europa. e) prosperidade das economias capitalistas e so- cialistas, e início da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. 4. FCL-SP 2015 Fotojornalismo é uma modalidade ico- nográfica que narra, por meio da imagem, uma situação ou fato. A foto a seguir mostra o contexto de Florence Thompson, uma agricultora, durante a Grande Depressão nos Estados Unidos. A foto foi tirada por Dorothea Lang, em 1936. Blog Foto na história. A interpretação da imagem de Florence leva-nos a concluir que d) uma das medidas para conter a crise econômica foi o amparo à infância e à juventude. e) a superprodução ocorrida nos EUA levou as fa- mílias dos centros urbanos ao enriquecimento, como expressa a imagem. Texto para a próxima questão: Leia o texto a seguir. A história dos vinte anos após 1973 é a de um mundo que perdeu suas referências e resvalou para a instabilidade e a crise. Só no início da década de 1990 encontramos o reconhecimento de que os problemas econômicos eram de fato piores que os da década de 1930. Em muitos aspectos, isso era intrigante. Por que deveria a economia mundial ter-se tornado menos estável? Eric Hobsbawm. Era dos extremos, 1995. Adaptado. 5. Unesp Os problemas econômicos da década de , citados no texto, derivaram, entre outros fatores, a) dos fortes movimentos sociais e mobilizações re- volucionárias na América Latina, em especial no México, que impediram a exportação de produtos industrializados norte-americanos para a região. b) do conjunto de reformas financeiras e sociais realizadas na União Soviética após a Revolução de 1917, que fechou os mercados do bloco so- cialista aos países capitalistas do Ocidente. c) da ascensão do nazismo alemão e dos regimes fascistas na Itália, Espanha e Portugal, que provo- caram a Segunda Guerra Mundial e paralisaram a produção industrial europeia. d) de uma ampla crise do liberalismo, que ganhou contornos mais nítidos após a Primeira Guerra Mundial e desembocou na quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. e) do forte crescimento econômico da Alemanha na passagem do século XIX para o XX e da acirrada competição comercial e naval deste país com a Grã-Bretanha e a França. 6. UFRGS 2020 Considere as seguintes afirmações sobre as condições históricas para a ascensão do na- zismo na Alemanha. I. Um nacionalismo radical ocasionado pelo clima de revanche, após a derrota alemã na Primeira Guer- ra, e pelas sanções a que foi submetido o país. II. Uma profunda crise social e econômica, intensifica- da após 1929, com a redução da atividade industrial e o aumento no número de desempregados. III. Um disseminado sentimento anticomunista, apoia- do por grupos de extrema-direita e por setores das camadas conservadoras da sociedade. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III. a) ela oculta o rosto das crianças em razão da legis- lação que protege a infância. b) a crise de 1929 teve como consequência o em- pobrecimento de parte da população americana. c) os EUA viviam, no período em que a foto foi feita, uma euforia desenvolvimentista. 102 HISTÓRIA Capítulo 12 O período entreguerras 7. FGV-RJ 2020 As eleições de setembro de 1930 mostrariam que o eleitorado inclinava-se para o voto radical: os nazistas subiam de doze para 107 cadeiras; os comunistas, de 54 para 77 cadeiras. Os sociais-de- mocratas e a direita nacionalista começaram a perder votos. A propaganda eleitoral nazista insistia no na- cionalismo revanchista, mas não se descuidava de oferecer trabalho aos desempregados, financiamento aos agricultores, isenções fiscais aos industriais. As intenções moralistas de proteção à família, respeito à religião e defesa da propriedade privada também se achavam presentes. LENHARO, A., Nazismo: “O triunfo da vontade”. São Paulo: Ática, 1998, p. 25. Sobre o nazismo, é correto armar: a) A propaganda nazista procurava enfrentar a profunda crise alemã, combinando medidas socioeconômicas com propostas de ordem comportamental. b) Os nazistas chegaram ao poder por meio deum golpe de Estado que destituiu o presidente ale- mão vinculado aos socialdemocratas. c) A aliança entre os comunistas e o partido nazista permitiu estabelecer a maioria parlamentar que consagrou Hitler como chanceler. d) O enfrentamento aos banqueiros, latifundiários e grandes empresários foi a principal característica do governo nazista. e) A ascensão do nazismo coincidiu com o forta- lecimento eleitoral da esquerda, sobretudo dos comunistas e dos socialdemocratas. 8. Uerj 2019 O cartaz acima, divulgado no aeroporto, nas ruas e nos ônibus de Yerevan, capital da Armênia, faz alusão ao líder otomano Talaat Pasha e a Adolf Hitler. A imagem é uma das muitas espalhadas pela cidade para lembrar o centenário do massacre de até 1,5 milhão de armênios nas mãos dos turcos-otomanos, cujo império estava se desintegrando em meio à Primeira Guerra Mundial (1914- -1918). Muitos eram civis deportados a regiões desérticas, onde morreram de fome e sede. Outros milhares foram massacrados. No centro da cidade, muitos pontos de ôni- bus exibem fotos de sobreviventes. Adaptado de bbc.com, 24/04/2015. Através da lembrança do massacre dos armênios, em 1915, é possível comparar experiências históricas com o objetivo de fomentar, na atualidade, práticas sociais de reconhecimento de: a) atos de genocídio e reparação das famílias vitimadas b) ações de expansionismo e continuidade das dis- putas territoriais c) projetos do totalitarismo e permanência de regi- mes autocráticos d) estratégias de conquista e convocação de tribu- nais internacionais 9. UEPG-PR 2019 Regime que chegou ao poder em 1933, quando Adolf Hitler foi escolhido como chance- ler da Alemanha, o nazismo marcou o século XX por seus atos e princípios, pela II Guerra Mundial e pelas consequências desta ao longo da segunda metade nos Novecentos. A respeito desse tema, assinale o que for correto. A concepção de que a guerra é uma forma legí- tima de promoção do desenvolvimento nacional, o preconceito étnico-racial contra minorias, o an- tissemitismo (ódio aos judeus) e o nacionalismo exacerbado são alguns dos princípios contidos na ideologia nazista desde sua origem. O nazismo ganhou força após a I Guerra Mundial. As deliberações do Tratado de Versalhes, a crise econô- mica profunda e baixa autoestima do povo alemão naquele momento foram absorvidos pelo discurso ultranacionalista contido na ideologia nazista. 4 A década de 20 foi o momento em que os na- zistas ganharam força na Alemanha. Organizados em grupos militares, uniformizados, realizavam passeatas e manifestações, nas quais juravam obediência ao chefe do partido e atacavam com palavras de ordem os adversários políticos. Na origem, o nazismo se inspirou no Partido Co- munista Soviético. Apesar da ruptura ocorrida na II Guerra, foram os princípios do comunismo que serviram de base aos nazistas germânicos. 6 “Mein Kampf” (“Minha Luta”), livro de autor des- conhecido que defendia a superioridade racial ariana diante de todas as outras existentes no mundo, foi a leitura que inspirou Adolf Hitler no seu projeto de limpeza étnica e racial promovida a partir de sua chegada ao poder. Soma: Texto para a próxima questão. […] em nenhum dos dois Estados fascistas o fascismo “conquistou o poder”, embora na Itália e na Alemanha se explorasse muito a retórica de se “tomar as ruas” e “marchar sobre Roma”. Nos dois casos o fascismo chegou ao poder pela conivência com, e na verdade (como na Itália) por iniciativa do velho regime, ou seja, de uma forma “constitucional”. A novidade do fascismo era que, uma vez no poder, ele se recusava a jogar segundo as regras dos velhos jogos 103 F R E N T E 2 políticos, e tomava posse completamente onde podia. A transferência total de poder, ou a eliminação de todos os rivais, demorou mais na Itália que na Alemanha (1933-4), mas, uma vez realizada, não havia mais limites políti- cos internos para o que se tornava, caracteristicamente, a desenfreada ditadura de um supremo “líder” populista (Duce; Führer). HOBSBAWM, E. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995. pg. 130. 10. UEL-PR Com base no texto e nos conhecimentos sobre os fascismos na Itália e na Alemanha, é correto afirmar. a) Nos fascismos alemão e italiano, o centro da ação política deslocava-se das aristocracias econômicas e/ou políticas para o partido único, mobilizador de massas. b) Os fascismos originaram-se do socialismo e, por este motivo, as experiências históricas fascistas na Alemanha e na Itália tiveram violenta oposição das suas burguesias industriais e financeiras. c) O nazismo, devido ao seu caráter nacionalista, não reivindicava territórios de outros países, ele- gendo a Alemanha como a única pátria e território dos alemães. d) Os fascismos italiano e alemão estimulavam a luta de classes e os conflitos industriais entre o capital (burguesia) e o trabalho (proletariado). e) Depois de chegarem ao governo, os partidos fascistas perderam poder. As organizações pa- ramilitares do nazismo (tropas de assalto) e do fascismo italiano (squadristi) nasceram para subs- tituir os partidos fascistas enfraquecidos. Exercícios propostos 1. Enem PPL 2017 Mas a Primeira Guerra Mundial foi se- guida por um tipo de colapso verdadeiramente mundial, sentido pelo menos em todos os lugares em que homens e mulheres se envolviam ou faziam uso de transações im- pessoais de mercado. Na verdade, mesmo os orgulhosos EUA, longe de serem um porto seguro das convulsões de continentes menos afortunados, se tornaram o epicentro deste que foi o maior terremoto global medido na escala Richter dos historiadores econômicos – a Grande De- pressão do entreguerras. HOBSBAWM, E. J. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Cia. das Letras, 1995. A Grande Depressão econômica que se abateu nos EUA e se alastrou pelo mundo capitalista deveu-se ao(à) a) produção industrial norte-americana, ocasionada por uma falsa perspectiva de crescimento econô- mico pós-Primeira Guerra Mundial. b) vitória alemã na Primeira Grande Guerra e, con- sequentemente, sua capacidade de competição econômica com os empresários norte-americanos. c) desencadeamento da Revolução Russa de 7 e a formação de um novo bloco econômico, ca- paz de competir com a economia capitalista. d) Guerra Fria, que caracterizou o período de en- treguerras, provocando insegurança e crises econômicas no mundo. e) tomada de medidas econômicas pelo presidente norte-americano Roosevelt, conhecidas como New Deal, que levaram à crise econômica no mundo. 2. Enem 2017 O New Deal visa restabelecer o equilíbrio entre o custo de produção e o preço, entre a cidade e o campo, entre os preços agrícolas e os preços industriais, reativar o mercado interno – o único que é importante – pelo controle de preços e da produção, pela revalorização dos salários e do poder aquisitivo das massas, isto é, dos lavradores e ope- rários, e pela regulamentação das condições de emprego. CROUZET, M. Os Estados perante a crise. In: História geral das civilizações. São Paulo: Difel, 1977 (adaptado). Tendo como referência os condicionantes históricos do entreguerras, as medidas governamentais descri- tas objetivavam a) flexibilizar as regras do mercado financeiro. b) fortalecer o sistema de tributação regressiva. c) introduzir os dispositivos de contenção creditícia. d) racionalizar os custos da automação industrial mediante negociação sindical. e) recompor os mecanismos de acumulação econô- mica por meio da intervenção estatal. 3. UCPel-RS 2015 O programa de recuperação econômica para a crise de 199, nos EUA, proposto pelo presidente Roosevelt, entre 1933 e 1945, foi denominado a) New Deal e defendia ação do Estado, seguindo as ideias de Keynes. b) Plano Marshall e propunha o liberalismo de Adam Smith. c) Plano Monroe que determinava o imperialismo na América Latina. d) Way of Life, modelo liberal proposto por Adam Smith. e) NEP, Nova Política Econômica, inspirada na fisiocracia. . FGV-SP 2015 Esses anos [pós-guerra]também foram notáveis sob outro aspecto, pois à medida que o tempo passava, tornava-se evidente que aquela prosperidade não duraria. Dentro dela estavam contidas as sementes de sua própria destruição. J. K. Galbraith, Dias de boom e de desastre. In J. M. Roberts (org), História do século XX, 1974, p. 1331. Segundo Galbraith, a) a crise do capitalismo norte-americano em 2 não abalou os seus fundamentos porque foi ge- rada por ele mesmo, isto é, o funcionamento da economia provocou a superprodução agrícola e industrial, a especulação na bolsa de valores, e a 10 HISTÓRIA Capítulo 12 O período entreguerras expansão do crédito, o que garantiu os lucros aos empresários, diminuindo a desigual distribuição de renda com o recuo do desemprego. b) a época referida no texto diz respeito à crise dos anos 0, pós-Segunda Guerra, portanto externa ao capitalismo dos Estados Unidos, uma vez que os Estados europeus, endividados e destruídos, continuaram a contrair empréstimos e a comprar produtos norte-americanos, e os empresários, in- ternamente, especularam na bolsa de valores, para minimizar os efeitos do desemprego. c) nos fins dos anos 20, com a economia de- sorganizada pela Primeira Guerra Mundial, o capitalismo norte-americano cresceu rumo à su- perprodução, com investimentos na indústria, à restrição ao crédito e ao controle da especula- ção na bolsa de valores, pois a crise foi motivada apenas por motivos internos, o que facilitou a in- tervenção do Estado. d) a crise de 2 foi gerada pelo próprio funcio- namento do capitalismo nos Estados Unidos dos anos 20, em um clima de euforia com o au- mento da produção, a especulação na bolsa de valores, a concentração de renda e o crédito fácil, sem intervenção do Estado, apesar da diminuição das importações europeias e dos crescentes índi- ces de desemprego. e) a crise dos anos pós-Segunda Guerra Mundial mostrou a importância da ação do Estado, na medida em que a intervenção reduziu os dese- quilíbrios causados pelo próprio funcionamento da economia norte-americana, isto é, preservou o lucro dos empresários, baixou os índices da pro- dução agrícola e industrial, e controlou os altos níveis do desemprego. 5. FGV-SP 201 O New Deal caracterizou-se por um conjunto de medidas econômicas que visavam a) superar a crise econômica da década de 20 com medidas liberais que dessem maior autono- mia à dinâmica dos mercados internacionais. b) estabelecer acordos entre patrões e operários com o objetivo de redistribuir rendas e permitir experiências de cogestão administrativa. c) garantir mais empregos através da intervenção do Estado na economia, sobretudo através do fi- nanciamento de obras públicas. d) reformar a economia soviética planificada dura- mente afetada pela crise econômica registrada a partir de 2. e) diminuir o consumo e estimular a recessão eco- nômica como forma de diminuir os altos índices de inflação registrados na década de 20. . UEPB 2013 Em 1933, Franklin Delano Roosevelt tomou posse para cumprir mandato como o 3o presidente dos Estados Unidos da América. Os EUA experimentavam a mais aguda de todas as suas crises, em consequência do “Crack da Bolsa de Nova York de 199”. Para se ter ideia da extensão dos danos, um quarto da força de trabalho norte-americana estava desempregado, sem contar os trabalhadores subempregados e os que ti- nham desistido de procurar emprego. Assinale a única alternativa INCORRETA. a) Roosevelt foi eleito uma vez e reeleito mais três vezes seguidas — caso único na história america- na. Mas isso só foi possível pelas circunstâncias da época. A grande depressão e a 2a Guerra Mundial criaram as condições para que ele obtivesse até mesmo um quarto mandato, encerrado precoce- mente devido à sua morte, em abril de . b) Roosevelt recebeu apoio total para governar. O Congresso americano e o Judiciário foram funda- mentais para que o “New Deal” fosse um sucesso. A Suprema Corte dos EUA julgou o plano constitu- cional e deu plenos e absolutos poderes para que Roosevelt governasse, de tal forma que ele tomava decisões sem ter que consultar os outros poderes. c) Roosevelt foi eleito presidente dos EUA não aceitando a visão de que crises são movimen- tos normais da economia. Ele defendia que a economia americana vivia um estado patológico incomum e que nenhuma teoria econômica pode- ria justificar o sofrimento da população. d) Roosevelt teve como marca maior de seus go- vernos o chamado “New Deal” (novo contrato), que não defendia um conjunto de medidas pré- -estabelecidas, mas que o governo deveria se comprometer a assumir a responsabilidade de agir pela prosperidade da economia e pela me- lhoria do bem-estar da população. e) Roosevelt foi eleito por ter oferecido ao povo americano um projeto pelo qual o governo intervi- ria na economia com os instrumentos necessários para que se pudesse combater a grande depres- são. Em sua posse ele pronunciou a frase, que se tornaria o lema de seu governo: “ Não há o que temer, senão o próprio medo.” 7. UFSJ-MG Na política, ele aplicou o princípio do Nunca mais. Com tantos pobres, com tantos famintos nos Estados Unidos, nunca mais o mercado como fator exclusivo de obtenção de recursos. Por isso, decidiu realizar sua política do pleno emprego. E desse modo não somente atenuou os efeitos sociais da crise como seus eventuais efeitos políti- cos de fascistização com base no medo massivo. O sistema de pleno emprego não modificou a raiz da sociedade, mas funcionou durante décadas. Funcionou razoavelmente bem nos Estados Unidos, funcionou na França, produziu a inclusão social de muita gente, baseou-se no bem-estar combinado com uma economia mista que teve resultados muito razoáveis [...]. Alguns Estados foram mais sistemáti- cos, como a França, que implantou o capitalismo dirigido, mas em geral as economias eram mistas e o Estado estava presente de um modo ou de outro.” Fonte: Entrevista do historiador Eric Hobsbawm, argentino, p. 12. Disponível em: www.vermelho.org.br/base.asp?texto=53413. 105 F R E N T E 2 O texto faz referência às iniciativas do presidente nor- te-americano Franklin Roosevelt e remete a) à política protecionista implantada em quase to- dos os países industrializados em resposta ao crescimento da rivalidade internacional e à crise econômica das décadas de 870 e 880, quando apenas a Grã-Bretanha, na ocasião a maior potên- cia mundial, insistiu na política de livre comércio. b) ao conjunto de medidas liberais tomadas na Euro- pa e nos Estados Unidos durante as décadas de 80 e 0, que visavam a diminuir o papel do Estado na economia, a desregulamentar a circu- lação do capital financeiro e a diminuir os direitos sociais dos trabalhadores. c) ao New Deal implantado nos Estados Unidos na década de 0, um conjunto de políticas públi- cas que visavam a responder à crise econômica iniciada em 2 e que influenciou a política de bem-estar social verificável em alguns países da Europa após a Segunda Guerra Mundial. d) às medidas de recuperação da economia euro- peia implantadas logo após a Primeira Guerra Mundial, recuperação impulsionada pelo vertigi- noso crescimento da economia norte-americana até a crise global de 2. 8. Enem A crise de 1929 e dos anos subsequentes teve sua origem no grande aumento da produção industrial e agrícola, nos EUA, ocorrido durante a 1a Guerra Mun- dial, quando o mercado consumidor, principalmente o externo, conheceu ampliação significativa. O rápido crescimento da produção e das empresas valorizou as ações e estimulou a especulação, responsável pela “pe- quena crise” de 1920-21. Em outubro de 1929, a venda cresceu nas Bolsas de Valores, criando uma tendência de baixa no preço das ações, o que fez com que muitos in- vestidores ou especuladores vendessem seus papéis. De 24 a 29 de outubro, a Bolsa de Nova York teve um pre- juízo de US$ 40 bilhões. A redução da receita tributária que atingiu o Estado fez com que os empréstimos ao ex- terior fossem suspensos e as dívidas, cobradas; e que se criassemtambém altas tarifas sobre produtos importados, tornando a crise internacional. RECCO, C. História: a crise de 29 e a depressão do capitalismo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u11504.shtml. Acesso em: 26 out. 2008. (com adaptações). Os fatos apresentados permitem inferir que a) as despesas e prejuízos decorrentes da a Guer- ra Mundial levaram à crise de 2, devido à falta de capital para investimentos. b) o significativo incremento da produção industrial e agrícola norte-americana durante a a Guerra Mundial consistiu num dos fatores originários da crise de 2. c) a queda dos índices nas Bolsas de Valores pode ser apontada como causa do aumento dos pre- ços de ações nos EUA em outubro de 2. d) a crise de 2 eclodiu nos EUA a partir da inter- rupção de empréstimos ao exterior e da criação de altas tarifas sobre produtos de origem importada. e) a crise de 2 gerou uma ampliação do merca- do consumidor externo e, consequentemente, um crescimento industrial e agrícola nos EUA. 9. Unesp 2022 Um dos motivos que contribuíram para a crise econômico-financeira do final da década de 19 foi o a) descompasso entre a alta do valor real e a queda do valor nominal das ações de empresas euro- peias e norte-americanas comercializadas na Bolsa de Nova York. b) contraste entre a expansão da oferta de merca- dorias norte-americanas desde a Primeira Guerra Mundial e a gradual retração do mercado euro- peu de importação. c) deslocamento de capitais do setor industrial para o agrícola, gerando um desequilíbrio na econo- mia norte-americana e a redução dos empregos nas áreas urbanas. d) declínio da produção de produtos primários na América Latina, que provocou a falta de forne- cedores de insumos e a queda da capacidade produtiva da indústria norte-americana. e) intervencionismo do Estado na economia nor- te-americana, em contraposição à defesa da livre-iniciativa e ao autogerenciamento do mer- cado. 10. UFV-MG Depois das duras experiências da Primeira Guerra Mundial, observa-se a criação e a expansão de partidos nacionalistas de extrema direita em vários países europeus. Podemos considerar como razões para o crescimento destes partidos, EXCETO: a) o temor da expansão do comunismo, especial- mente após o sucesso da Revolução Russa de 7, que repercutiu intensamente na Europa, influenciando os movimentos operários. b) o empobrecimento das classes médias, especial- mente naqueles países que sofreram intensos processos inflacionários, durante os anos 20, como a Alemanha e a Itália. c) a ingerência norte-americana na economia eu- ropeia, em decorrência da política do New Deal, ocasionando uma forte crise no final da década de 20. d) a imposição de pesadas reparações de guerra e perdas territoriais aos derrotados na Primei- ra Guerra Mundial, insuflando os movimentos nacionalistas. e) o impasse político enfrentado pelos regimes par- lamentares democráticos recém-instalados, como a República de Weimar, diante da radicalização dos conflitos entre a direita e a esquerda. 10 HISTÓRIA Capítulo 12 O período entreguerras nos fez ricos, de homens angustiados, desencorajados e hesitantes que éramos, fez de nós homens corajosos e va- lentes, aos homens errantes que éramos, nos deu a visão e nos reuniu a todos. Adolf Hitler, discurso de 1936. Apud Alcir Lenharo. Nazismo: “o triunfo da vontade”, 1986. Podemos dizer que Hitler se apresenta, no fragmento de discurso acima, como a) o guia da comunhão nacional que permitira a su- peração de um período crítico na economia e na política. b) o herdeiro da tradição política imperial alemã, que levou o país ao sucesso na Primeira Guerra Mundial. c) o representante dos alemães no processo de for- mação e consolidação do Estado nacional. d) um líder que se sacrifica em nome dos interesses nacionais, mas reconhece a importância da ajuda divina. e) um alemão igual aos outros, que prega a união para a reconstrução nacional em meio a uma pro- funda crise econômica. 13. Unesp 2019 – Então, todos os alemães dessa época são culpados? – Esta pergunta surgiu depois da guerra e permanece até hoje. Nenhum povo é coletivamente culpado. Os ale- mães contrários ao nazismo foram perseguidos, presos em campos de concentração, forçados ao exílio. A Alemanha estava, como muitos outros países da Europa, impregnada de antissemitismo, ainda que os antissemitas ativos, as- sassinos, fossem apenas uma minoria. Estima-se hoje que cerca de 100 000 alemães participaram de forma ativa do genocídio. Mas o que dizer dos outros, os que viram seus vizinhos judeus serem presos ou os que os levaram para os trens de deportação? Annette Wieviorka. Auschwitz explicado à minha filha, 2000. Adaptado. Ao tratar da atitude dos alemães frente à perseguição nazista aos judeus, o texto defende a ideia de que a) os alemães comportaram-se de forma diversa perante o genocídio, mas muitos mostraram-se tolerantes diante do que acontecia no país. b) esse tema continua presente no debate político alemão, pois inexistem fontes documentais que comprovem a ocorrência do genocídio. c) esse tema foi bastante discutido no período do pós-guerra, mas é inadequado abordá-lo hoje, pois acentua as divergências políticas no país. d) os alemães foram coletivamente responsáveis pelo genocídio judaico, pois a maioria da popula- ção teve participação direta na ação. e) os alemães defendem hoje a participação de seus ancestrais no genocídio, pois consideram que tal atitude foi uma estratégia de sobrevivência. 1. Udesc 2019 Ao contrário do historiador contemporâneo ao fascismo (…) não podemos tratar o fascismo como um movimento morto, pertencente a história e sem qualquer papel político contemporâneo. Encontramo-nos, desta 11. UFSC 2019 Não foi o fim da humanidade, embora houvesse momentos, no curso dos 31 anos de conflito mundial, entre a declaração de guerra austríaca à Sér- via, a 28 de julho de 1914, e a rendição incondicional do Japão, a 14 de agosto de 1945 – quatro dias após a explosão da primeira bomba nuclear –, em que o fim de considerável proporção da raça humana não pareceu muito distante. [...] A humanidade sobreviveu. Contudo, o grande edifício da civilização do século XX desmoro- nou nas chamas da guerra mundial, quando suas colunas ruíram. Não há como compreender o Breve Século XX sem ela. Ele foi marcado pela guerra. Viveu e pensou em termos de guerra mundial, mesmo quando os canhões se calavam e as bombas não explodiam, sua história e, mais especificamente, a história de sua era inicial de colapso e catástrofe devem começar com a da guerra mundial de 31 anos. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 30. [Adaptado]. Com base no texto acima e sobre o processo que le- vou à eclosão das duas grandes guerras mundiais, é correto armar que: os impactos da Primeira Guerra (-8) de- terminaram importantes mudanças no cenário político, desencadeando uma nova ordem mun- dial que desassocia seus resultados das razões para a eclosão da Segunda Guerra (-). a vitória dos republicanos na Guerra Civil Espa- nhola (6-), apoiados pela URSS, garantiu o domínio da Península Ibérica às forças militares dos países aliados durante a Segunda Guerra Mundial. 4 a ascensão do nazismo na Alemanha foi facilita- da pela estabilidade econômica vivenciada pelo país, que, ao contrário de potências como Esta- dos Unidos, França e Inglaterra, não foi afetado pela crise de 2. as origens do fascismo italiano estão relacionadas à fundação de um grupo nacionalista de extrema direita conhecido como Fascio de Combattimento, criado na Itália após a Primeira Guerra sob a lide- rança de Benito Mussolini. 6 durante sua ditadura fascista, Benito Mussolini es- tabeleceu a Carta del Lavoro (Carta de Trabalho), na qual concessões aos trabalhadores mistura- vam-se com medidas de controle policial. a Grande Depressão dos anos 0 atingiu du- ramente a economia da União Soviética, onde a política