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HIS
ENSINO MÉDIO
PRÉ-VESTIBULAR
4
Poliedro Sistema de Ensino
T. 12 3924-1616
sistemapoliedro.com.br
COLEÇÃO PV
Copyright © Editora Poliedro, 2022.
Todos os direitos de edição reservados à Editora Poliedro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610
de 19 de fevereiro de 1998.
ISBN978-65-5613-341-6
Presidente: Nicolau Arbex Sarkis
Autoria: Daniel Gomes de Carvalho e Rafael Santesso
Verdasca
Edição de conteúdo: Ana Paula Enes, Juliana Grassmann
dos Santos, Amanda Beatriz Raimundo, Beatriz de
Almeida Francisco, Camila Caldas Petroni, Caroline
Bárbara Ferreira Castelo Branco Reis, Daniele Dionizio,
Luiza Delamare Quedinho e Luna Brum Nunes
Edição de arte: Christine Getschko, Nathalia Laia, Daniella
de Romero Pecora, Bruna H. Fava, Lourenzo Acunzo,
Jaime Xavier, Alexandre Bueno e Suellem Silva Machado
Design: Adilson Casarotti
Licenciamento e multimídia: Leticia Palaria de Castro
Rocha, Danielle Navarro Fernandes, Fernanda Bitencourt
e Jessica Clifton Riley
Revisão: Daniel de Febba Santos, Bianca da Silva Rocha,
Bruno Freitas, Eliana Marilia G. Cesar, Ellen Barros de Souza,
Ingrid Lourenço, Sara Santos, Sárvia Martins e Thiago
Marques
Impressão e acabamento: PierPrint
Crédito de capa: Avigator Fortuner/Shutterstock.com
A Editora Poliedro pesquisou junto às fontes apropriadas a existência de eventuais
detentores dos direitos de todos os textos e de todas as imagens presentes nesta
obra didática. Em caso de omissão, involuntária, de quaisquer créditos, colocamo-nos
à disposição para avaliação e consequentes correção e inserção nas futuras edições,
estando, ainda, reservados os direitos referidos no Art. 28 da Lei 9.610/98.
Frente 1
11 República Democrática (1946-1964).................................................................5
Redemocratização no Brasil, 6
Governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), 7
Governo de Getúlio Vargas (1951-1954), 9
Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), 11
Governo de Jânio Quadros (1961), 12
Governo de João Goulart (1961-1964), 13
Revisando, 16
Exercícios propostos, 18
Texto complementar, 24
Resumindo, 25
Quer saber mais?, 25
Exercícios complementares, 25
BNCC em foco, 30
12 As ditaduras no Brasil e na América Latina ................................................. 31
América Latina no contexto da Guerra Fria, 32
As ditaduras na América Latina, 33
Revisando, 47
Exercícios propostos, 49
Texto complementar, 57
Resumindo, 58
Quer saber mais?, 58
Exercícios complementares, 59
BNCC em foco, 65
13 A Nova República (de 1985 à atualidade).....................................................67
Governo de José Sarney (1985-1990), 68
Governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992), 70
Governo de Itamar Franco (1992-1994), 71
Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), 71
O governo de Lula (2003-2010), 74
O governo de Dilma Rousseff (2011-2016), 74
O governo de Michel Temer (2016-2018), 76
O governo de Jair Bolsonaro (2019-), 76
Revisando, 77
Exercícios propostos, 79
Texto complementar, 83
Resumindo, 84
Quer saber mais?, 84
Exercícios complementares, 84
BNCC em foco, 88
Sumário
Frente 2
12 O período entreguerras .......................................................................................89
A Crise de 1929, 90
O fascismo, 93
O nazismo na Alemanha, 96
A Guerra Civil Espanhola (1936-1939), 99
Revisando, 100
Exercícios propostos, 103
Texto complementar, 109
Resumindo, 109
Quer saber mais?, 110
Exercícios complementares, 110
BNCC em foco, 116
13 Segunda Guerra Mundial e mundo contemporâneo .................................... 117
Segunda Guerra Mundial, 118
A Guerra Fria, 122
O fim da Guerra Fria e a Nova Ordem Mundial, 137
Revisando, 140
Exercícios propostos, 142
Texto complementar, 152
Resumindo, 153
Quer saber mais?, 153
Exercícios complementares, 154
BNCC em foco, 165
Gabarito ......................................................................................................................167
República Democrática (1946-1964)
11
CAPÍTULO
FRENTE 1
O período que se estendeu de 1946 a 1964 constituiu a quarta experiência republicana
do Brasil e recebeu diferentes denominações, como “República Populista”, “República
Democrática” e “República Liberal”, que dão ênfase a diferentes aspectos desse mo-
mento histórico. O termo “República Populista” indica o caráter populista de algumas
das principais lideranças do país no período, enquanto “República Democrática” ou “Re-
pública Liberal” destacam a retomada do regime democrático após o término do Estado
Novo varguista.
Como veremos neste capítulo, um dos principais marcos desse período foi a grande
tensão que ocorreu entre os governos de Eurico Gaspar Dutra e João Goulart, cujo des-
fecho culminou em uma nova ditadura no país.
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6 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
Redemocratização no Brasil
O período da redemocratização no Brasil, após a di-
tadura do Estado Novo, foi intensamente marcado pelo
contexto da Guerra Fria. Findada a Segunda Guerra
Mundial, Estados Unidos e União Soviética disputavam a
hegemonia política em termos mundiais, lançando mão de
estratégias para ampliar suas influências sobre os demais
países. Nesse contexto, a polarização ideológica entre as
ideias capitalistas, sob a liderança dos Estados Unidos, e as
socialistas, lideradas pelos soviéticos, foi o ponto de tensão
de uma série de disputas políticas que afetaram não só o
Brasil, mas todo o mundo.
No Brasil, o desenvolvimento industrial contribuiu para
que houvesse aceleradas mudanças socioeconômicas,
incluindo um intenso processo de urbanização e de êxodo
rural. O debate político brasileiro foi marcado pelo choque
de dois diferentes modelos acerca da industrialização.
Por um lado, a política econômica do desenvolvimentismo
(ou nacional-desenvolvimentismo) buscava a manutenção
do modelo adotado durante a Era Vargas. Nesse senti-
do, defendia-se a ideia de que o Estado seria o principal
interventor e indutor do desenvolvimento econômico e
do advento da modernidade. Tratava-se, portanto, de um
modelo intervencionista que depositava no capital público
e nas empresas estatais a principal agência para a indus-
trialização. Em contrapartida, a era favorável à
ideia de que o setor privado deveria agir como o principal
incentivador do capital. Para isso, buscava o processo
de desenvolvimento econômico e da industrialização por
meio de uma soma de aplicações liberais e privatizações.
Eleições de 1945
Após a renúncia forçada de Vargas em 1945, foi mon-
tado um governo provisório chefiado por José Linhares
(1886-1957), então presidente do Supremo Tribunal Fe-
deral.
A função de Linhares era organizar as eleições presi-
denciais e da assembleia constituinte, que ocorreriam em
dezembro de 1945, além de garantir a posse do presiden-
te eleito. Durante seu breve governo, que durou de 29
de outubro de 1945 até 31 de janeiro de 1946, Linhares
extinguiu o Tribunal de Segurança Nacional, o que de-
monstrava arrefecimento nas práticas persecutórias do
governo e certo direcionamento à retomada democrática
no país.
Os principais partidos políticos que disputaram as elei-
ções em 1945 podiam ser divididos em dois grupos: os “de
dentro”, que representavam a ala situacionista e, de alguma
forma, buscavam dar continuidade às políticas promovidas
durante o Estado Novo, e os “de fora”, que compunham a
oposição, caracterizada pelo antigetulismo.
Entre os partidos “de dentro” havia o Partido Social De-
mocrático (PSD), formado por ex-integrantes da burocracia
do Estado Novo, e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),
também formado por antigos membros do governo varguis-
ta, embora fossem representantes das camadas populares
urbanas que defendiam políticas trabalhistas. Os partidos
“de fora” reuniam a União Democrática Nacional (UDN),
principal partido antigetulista, que representava a ortodo-
xia e as classes médias e industriaisurbanas, e o Partido
Comunista Brasileiro (PCB), que, apesar de ter apoiado o
movimento “queremista” em 1945, buscava romper com a
ideologia vigente.
Curiosamente, nas eleições à presidência que ocorre-
ram em 1945, todos os candidatos, tanto os da situação
quanto da oposição, eram oficiais de alta patente do exérci-
to. A única exceção era o candidato do PCB. O afastamento
de Vargas pelos militares trouxe a sensação de que o exér-
cito havia sido o responsável pela redemocratização.
Praça Ramos de Azevedo, na região central de São Paulo (SP), em . Nos
anos 0, o crescente número de edifícios e arranha-céus, assim como a
movimentação de veículos pela cidade, simbolizava o intenso processo de
urbanização no contexto brasileiro.
Depois de 2 anos sem votar, a população fez fila na cidade de São Paulo
para eleger seu candidato em 5.
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Outra questão importante que marcou a política brasi-
leira e a de outros países latino-americanos foi o populismo.
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 1
[...] Do quarteto de candidatos, dois duelavam com chances de vitória: o brigadeiro
Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional; e o general Eurico Gaspar Dutra [...].
A impressão dominante era da vitória, de antemão assegurada, do brigadeiro [...].
Mas o brigadeiro estava longe de ser uma figura com apelo entre os menos favorecidos.
Falava em tom monótono, carente de emoção [...].
Até que, em 20 de novembro, emissoras de rádio controladas pelo empresário Hugo
Borghi, vinculado à candidatura Dutra, detonaram uma bomba. Em discurso, alardearam,
o brigadeiro se jactara: “Não preciso do voto dos marmiteiros”. Ele teria empregado a
palavra com sentido de trabalhadores humildes, que carregam comida na marmita (mar-
miteiro era igualmente o funcionário de bares e restaurantes entregador de marmitas).
Era tudo mentira, ou “fake news”. [...]
Em suas rádios, [...] Borghi reverenciou Getúlio Vargas e mandou brasa na propaganda:
“Não vencerá aquele que disse não necessitar dos votos dos marmiteiros e da patuleia [...].
Getúlio mantinha-se discreto sobre o pleito, sem anunciar adesão a nenhum postulante. [..]
O brigadeiro não percebeu o estrago que a estória ameaçava provocar. No dia 21,
ele passava pela cidade paulista de Bauru quando o “Correio da Manhã” alcançou-o com
uma ligação telefônica. O repórter perguntou “se estava a par do caso dos marmiteiros”.
“Marmiteiros?”, indagou. Não entendera. [...]
Carlos Lacerda rememoraria lhe ter dito: “Brigadeiro, o senhor tem que fazer um discurso hoje, desmentindo isso, mas hoje”.
O oficial da Aeronáutica encaminhou-o a outro correligionário, o ex-deputado Prado Kelly, que teria minimizado: “Mas
isso, Carlos, não tem tanta importância! O povo não vai acreditar nisso. Imagina…”.
Já era tarde. Nos comícios da UDN, os palanques aclamavam Eduardo Gomes como um amigão dos trabalhadores.
“Mas não houve mais pobre no Brasil que se convencesse disso”, reconheceu Lacerda.
Saiba mais
Com o apoio de Getúlio Vargas e do PDT, o general
Eurico Gaspar Dutra, candidato pelo PSD, foi eleito presi-
dente em 1945. O vice, Nereu Ramos, também do PSD, foi
eleito pelo Congresso Nacional no ano seguinte. Apesar
de afastado da presidência, Getúlio Vargas ainda tinha um
peso importante para definir os rumos políticos do país. O
apoio de Vargas ao PSD foi fundamental para que o par-
tido contasse também com o apoio do PTB, ainda pouco
estruturado para lançar seu próprio candidato.
Constituição de 1946
A Constituição de 1946, a quinta da história do país,
estabeleceu que o Brasil fosse um regime republicano,
presidencialista e federalista.
A estrutura da divisão institucional dos três poderes
permaneceu. O Legislativo manteve-se bicameral, os de-
putados eram eleitos para mandatos de quatro anos, e
os senadores, para mandatos de oito anos; no entanto,
o número de representantes por estado passou a três.
O Judiciário foi formado por: Supremo Tribunal Federal,
Tribunal Federal de Recursos, Juízes e Tribunais Militares,
Juízes e Tribunais Eleitorais, Juízes e Tribunais do Trabalho.
O Executivo continuaria a ser exercido por um presidente da
República e um vice, ambos com mandatos de cinco anos.
O voto era direto, obrigatório e secreto. O direito de
voto das mulheres foi assegurado, mas mantiveram-se ex-
cluídos os analfabetos, os indivíduos privados de direitos
políticos e os militares .
O Estado permaneceu laico, e os direitos trabalhistas
foram mantidos (garantindo o direito à greve, ainda que re-
gulamentada pelo Estado e vetada para algumas categorias).
A nova Constituição derrubou as restrições aos direitos indi-
viduais promovidas pelo Estado Novo e, por isso, recebeu o
apelido de Constituição liberal. Promoveu a liberdade de
expressão, a inviolabilidade do sigilo de correspondência, a
liberdade de associação e a garantia de ampla defesa aos
judicialmente acusados. Sua defesa à propriedade privada
supunha o pagamento de indenizações para o caso de
desapropriações, o que, na prática, dificultava qualquer ten-
tativa de promover uma reforma agrária.
Governo de Eurico Gaspar Dutra
(1946-1951)
No início de seu mandato, em 1946, Dutra promoveu
um alinhamento político-econômico com os Estados Unidos
e, consequentemente, com o bloco capitalista. Rompeu as
relações diplomáticas com a União Soviética, colocou o
PCB na ilegalidade e cassou o mandato de políticos comu-
nistas que haviam sido eleitos no ano anterior. Em 1949,
inaugurou a Escola Superior de Guerra (ESG), que serviu
como centro de combate à disseminação de ideais comu-
nistas no Brasil. A ESG foi a responsável pela elaboração,
em 1950, da teoria da Segurança Nacional, doutrina base-
ada em preceitos de defesa das fronteiras contra “inimigos
externos” e, sobretudo, combate a “inimigos internos”, ou
seja, críticos do governo e comunistas.
8 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
Do ponto de vista econômico, o governo de Dutra foi
marcado por dois importantes fatores: uma política de aber-
tura às importações, para atrair multinacionais ao Brasil, e o
Plano Salte, que consistia em investimento nos setores de
saúde, alimentação, transporte e energia, por meio de em-
préstimos feitos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Tais esforços se concentraram nos setores de transporte e
energia. Foram construídas, por exemplo, diversas rodovias
e hidrelétricas.
Brasil: índices de valor real do salário
mínimo – 1940-1951
Fonte: Segundo Governo Vargas (-).
Índices de valor real do salário mínimo. Atlas histórico do Brasil.
FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/segundo-
governo-vargas--/mapas/indices-de-valor-real-do-salario-minimo.
Acesso em:  jan. .
O crescimento econômico no período, entretanto,
foi baseado no endividamento. A abertura ao capital
internacional contribuiu para que houvesse um esgota-
mento das reservas cambiais, o que acabou favorecendo
o crescimento do processo inflacionário. Com o objetivo
de manter o apoio dos industriais, ficou estipulado que o
salário mínimo não seria reajustado perante a inflação, o
que fez o poder de compra das camadas populares cair
significativamente. Observe, no gráfico a seguir, o índice
do salário mínimo entre 1946 e 1951 em comparação
com os anos anteriores.
Atenção
Para a construção do Maracanã, aconteceu uma
briga entre dois políticos famosos no Rio de Janeiro na
época, Carlos Lacerda e Mendes de Morais. Este era o
prefeito à época da construção do Maracanã, na segunda
metade da década de 40 [foi prefeito do Rio entre os anos
de 1947 e 1951] e o Carlos Lacerda era opositor e queria
ser o pai da construção do Maracanã. Lacerda fez de tudo
para que o estádio fosse construído sob a sua batuta,
ele queria que ele fosse feito em Jacarepaguá, longe do
centro. [...] Mendes de Morais tomou a frente da situação
e, como prefeito do Rio de Janeiro, definiu o local da
construção e foi o verdadeiro pai do Maracanã. Tantoque o nome oficial do Maracanã era estádio Mendes de
Morais, só depois mudou para o nome atual, Jornalista
Mário Filho [irmão de Nelson Rodrigues], na década de
1960. Então a construção do Maracanã mostra bem essa
guerra política para ver quem ficaria com os louros da
construção do estádio: o Mendes de Morais ou o Car-
los Lacerda, que depois veio até a se tornar governador
do estado da Guanabara. O Maracanã é um exemplo
específico de que a Copa de 1950 teve essa conotação
política bem clara.
Estabelecendo relações
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 1
Governo de Getúlio Vargas
(1951-1954)
Em 1951, quando Vargas assumiu a presidência, o
país estava em condições bastante distintas das quais
se encontrava em 1945. No início da década de 1950,
o elevado déficit público e a inflação crescente afetavam
diretamente as classes trabalhadoras, principal grupo de
apoio político de Getúlio Vargas. Além disso, o presidente
sofria forte oposição encabeçada pela UDN e por um de
seus principais representantes, o jornalista Carlos Lacerda,
que constantemente criticava a política desenvolvimentista
de Vargas. Lacerda também afirmava que a aproximação
do presidente com as organizações trabalhistas era uma
tentativa de montar, no Brasil, uma “República dos Sin-
dicatos”, analogia aos sovietes da União Soviética, que
constituíam conselhos ou órgãos deliberativos formados
por operários.
Mesmo diante das críticas, para tentar conter os pro-
blemas econômicos e sociais, Vargas manteve sua política
nacional-desenvolvimentista. A base dessa política foi o
Plano Lafer, responsável pela criação de estatais, como o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE),
a Eletrobras (que só foi fundada em 1962) e a Petrobras
(1953), lançada sob a campanha “O petróleo é nosso”. Com
a descoberta de reservas de petróleo na costa da Bahia,
Vargas pretendia que a recém-criada Petrobras tivesse o
monopólio na extração.
fizesse um acordo com os sindicatos. Jango, como João
Goulart era conhecido, era um importante aliado político
de Vargas e, com carta branca e aprovação do presidente,
acordou um reajuste de 100% no salário mínimo.
Esse conjunto de medidas promoveu um recrudescimento
na oposição. A campanha “O petróleo é nosso” contrariava
os interesses das grandes petrolíferas, em sua maioria esta-
dunidenses. A Lei dos Lucros Extraordinários foi interpretada,
ainda que de forma equivocada, como uma tentativa de esta-
tizar as multinacionais. No contexto da Guerra Fria, as ações
que não estavam alinhadas aos interesses políticos e eco-
nômicos dos Estados Unidos geralmente eram interpretadas
como comunistas. A medida tomada por Jango também gerou
descontentamento e levou 79 militares a assinar um docu-
mento chamado “Manifesto dos Coronéis” para expressar a
insatisfação com o aumento proposto e os salários do exército.
Cada vez mais crítico das ações de Vargas, Carlos
Lacerda passou a contar com membros das forças militares
para sua segurança pessoal. Nesse momento, sobretudo o
alto escalão da aeronáutica e do exército havia assumido
significativamente uma postura de oposição em relação
a Vargas.
No dia 5 de agosto de 1954, teve início uma série de
eventos que levou o mandato de Vargas a um desfecho
inesperado. Chegando em sua casa, Lacerda sofreu um
atentado a tiros que acabou matando Rubens Vaz, major
da aeronáutica e segurança pessoal do jornalista. Lacerda,
que foi atingido no pé durante o atentado, acusou publica-
mente Vargas de ter sido o mandante do crime, conhecido
como “atentado da Rua Tonelero”, endereço da residência
de Lacerda na cidade do Rio de Janeiro, onde ocorreu o
episódio. No jornal Tribuna da Imprensa, Lacerda escreveu
o seguinte sobre o atentado: “Perante Deus, acuso um só
homem como responsável por esse crime. É o protetor dos
ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como os
dessa noite. Este homem chama-se Getúlio Vargas [...] ele
está deposto moralmente pelo sangue que fez derramar”.
Selo comemorativo da criação da Petrobras em que Vargas é representado
com a mão suja de petróleo.
Um dos principais problemas de Vargas era lidar com
as multinacionais que chegaram ao país durante o governo
Dutra. O capital gerado por essas empresas em território
nacional saía do Brasil e era direcionado para o país de
origem das multinacionais. Como medida para manter os
lucros no Brasil, em 1953, Vargas tentou aprovar no Con-
gresso a Lei dos Lucros Extraordinários, cuja proposta era
impor um limite sobre o envio dos lucros das companhias
estrangeiras para o exterior. Caso desejassem expatriar
maiores quantidades de capital, essas empresas deveriam
promover investimentos no Brasil como contrapartida.
Para melhorar a condição dos trabalhadores, Vargas
permitiu que seu então ministro do Trabalho, João Goulart,
 Carlos Lacerda com o pé enfaixado, 5, Rio de Janeiro (RJ).
O atentado aumentou a pressão contra o governo,
e a situação tornou-se crítica quando as investigações
apontaram Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal
de Vargas, como o mandante do crime. Nesse momento,
a oposição começou a organizar de forma categórica a
derrubada do presidente.
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10 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
No dia 14 de agosto, 1500 oficiais se reuniram no Clube Militar, exigindo a renúncia de Vargas. Em 21 de agosto, o
vice-presidente João Café Filho propôs que ambos renunciassem. Na madrugada do dia 23 para 24 de agosto, Vargas
recebeu um ultimato dos militares para que abandonasse o cargo.
Vargas se reuniu com seus ministros, aliados e familiares, mas não conseguiram chegar a nenhum consenso. Na
manhã do dia 24 de agosto, Lutero Vargas, filho de Getúlio, encontrou o pai morto em seus aposentos. Getúlio Vargas se
suicidou com um tiro no peito, deixando uma carta-testamento que foi lida na rádio, provocando grande comoção nacio-
nal. Jornais que faziam oposição ao governo foram invadidos e depredados pela população que tomou as ruas durante
o cortejo fúnebre do presidente.
A pressão sobre Vargas, promovida tanto pelos militares como pela UDN, foi o início de uma série de tentativas de golpe
que assolaram o país ao longo da década seguinte.
As primeiras tentativas de golpe
Nesse delicado contexto, o vice-presidente João Café Filho (1899-1970) assumiu a presidência para terminar o man-
dato de Getúlio Vargas. As eleições presidenciais, em 1955, foram polarizadas por getulistas e antigetulistas. Entre os
apoiadores de Vargas, o PSD indicou o então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek (1902-1976), enquanto
o PTB lançou João Goulart para vice. A UDN, que liderava a oposição, indicou como candidato o ex-tenentista Juarez
Távora. Também concorreram Adhemar de Barros, pelo PSP, e Plínio Salgado, pelo PRP.
Juscelino Kubistchek e João Goulart foram eleitos, respectivamente, presidente e vice-presidente. Observe no mapa
a seguir a votação por estado para presidência da República em 1955.
A eleição Juscelino Kubistchek e Jango, sucessores diretos de Getúlio Vargas, causou revolta entre os setores da
oposição. Para eles, Jango estava alinhado a ideias comunistas. Um documento falso indicando uma possível articulação
de Jango com Perón, então presidente da Argentina, chegou a circular pelo país no intuito de denunciar a relação de Jango
com o comunismo, embora essa ideia fosse bastante contraditória, já que Perón liderou perseguições contra os comunistas
na Argentina. Além disso, a UDN e as principais lideranças atreladas à Escola Superior de Guerra estavam determinadas a
impedir a posse de Juscelino.
Brasil: eleição de Juscelino Kubitschek – 1955
Soma dos votos em todo o país
Equador
Trópico de Capricórnio
0°
OCEANO
ATLÂNTICO
50° O
Fonte: elaborado com base em A apertada eleição de JK. Governo Café Filho (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC.
Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-cafe-filho--/mapas/apertada-eleicao-de-jk. Acesso em:  jan. .
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No dia 1 de novembro de 1955, a fala de um oficial do exército contra a eleição de Juscelino foi interpretada pelo
então ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, como incitação ao golpe. Dois dias depois, Café Filho sofreu um ataque
cardíaco e foi afastado da presidência. Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, o sucedeu para finalizar o man-
dato, mas acabou se aliando aos golpistas que pretendiam impedir a posse de Juscelino.
Antes que o golpe fosse consumado, Teixeira Lott deu um golpe preventivo. Em 10 de novembro, colocou as tropas
sob seu comando nas ruas, depôs Carlos Luz e empossou o presidente do Senado, Nereu Ramos, para garantir a posse
de Juscelino em 31 de janeiro de 1956.
Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960)
Mesmo após enfrentar uma série de conflitos até assumir a presidência, Juscelino
não teve um mandato tranquilo. Em abril de 1956, o Congresso tentou aprovar uma
reforma política para substituir o regime presidencialista pelo parlamentarismo, com
o intuito de reduzir os poderes do Executivo. A proposta, no entanto, foi derrotada no
Legislativo. Durante sua gestão, quatro outras tentativas de golpe aconteceram.
No campo econômico, o período foi marcado por um acelerado crescimento
industrial. Uma das principais propostas de Juscelino era industrializar o Brasil o
equivalente a “50 anos em 5”. Para isso, foi traçado o Plano de Metas, que consistia
em uma estratégia de caráter desenvolvimentista com capital misto, ou seja, além
de empréstimos estrangeiros, destinados à infraestrutura, também seriam usados
capital público e privado para investir na indústria de bens de consumo duráveis.
As metas estavam divididas em cinco setores: alimentação, energia, indústria de
base, educação e transporte. No entanto, assim como ocorreu no governo Dutra,
energia e transporte receberam maior atenção. Foi durante o governo de Juscelino
que o Brasil consolidou sua estrutura para o transporte rodoviário, o que, por sua
vez, foi fundamental para atrair montadoras automobilísticas para o país. Observe
no mapa a seguir a expansão da malha rodoviária no Brasil entre 1957 e 1964 e os
dados relativos ao pessoal ocupado na indústria em 1957.
Brasil: expansão da malha rodoviária  1957-1964
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
PACÍFICO
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Trópico
de Capri
córnio
0°
50° O
Fonte: elaborado com base em Estradas de rodagem – a expansão de -. Governo Juscelino Kubitschek (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC.
Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-juscelino-kubitschek--/mapas/estradas-de-rodagem-expansao-de--. Acesso em:  jan. .
Juscelino Kubitschek, conhecido como
“presidente bossa nova”, em alusão ao estilo
musical que despontava naquele momento
sob influência do samba e do jazz.
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12 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
Em 1955, durante a breve presidência de Café Filho, o então ministro da fazenda Eugênio Gudin, em aliança com
o presidente da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), um embrião do que viria a ser o Banco Central,
montou uma política econômica pautada na abertura do país ao capital internacional. No governo JK essa política foi
mantida e ampliada ao garantir facilidades a empresas estrangeiras que importassem máquinas e equipamentos para
o Brasil. Essa medida facilitava uma possível remessa ilegal de lucros ao exterior por meio da compra de equipamentos
muitas vezes considerados obsoletos e tornava o Brasil um lugar interessante para os conglomerados multinacionais.
A construção de uma nova capital foi o grande marco do governo Juscelino. A ideia, no entanto, não surgiu no
governo JK. Ela já havia sido proposta na Constituição de 1891, com o argumento de que uma capital localizada no
interior do território seria menos vulnerável que uma capital localizada no litoral. Apesar disso, no contexto da década
de 1950, a mudança da capital para a região Centro-Oeste do país teve como objetivo principal impulsionar as demais
metas do plano econômico do governo. Para construir uma nova cidade, que seria planejada pelo urbanista Lúcio Costa
e cujas edificações seriam desenhadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer, era preciso construir estradas que conectassem
as diversas partes do país ao novo centro político administrativo do Brasil, além da infraestrutura para a futura cidade.
Outro projeto que buscou promover o desenvolvimento de regiões foi a Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene), criada em 1959, cuja estratégia de atuação ficou a cargo do economista Celso Furtado até 1964.
Apesar do amplo desenvolvimento industrial houve um significativo agravamento da situação econômica com a retoma-
da do processo inflacionário e o crescimento da dívida externa. A desvalorização da moeda fortaleceu a exportação de
insumos agrícolas, e o Brasil passou a sofrer com uma crise de abastecimento.
Ao final do mandato, a popularidade de Juscelino estava em queda e havia acusações de corrupção relacionada à
Sudene, embora não houvesse prova disso. Nesse contexto desfavorável, Juscelino não conseguiu eleger Henrique Lott,
seu candidato à presidência nas eleições de 1960, que acabou derrotado por Jânio Quadros.
Estabelecendo relações
Governo de Jânio Quadros (1961)
Dotado de uma retórica moralista, teatral e caricata, Jânio Quadros foi eleito com a promessa de salvar o Brasil da
corrupção. A vassoura foi o grande símbolo da campanha política de Jânio Quadros, que prometia “varrer” a corrupção
do Brasil. Um trecho de um dos jingles mais conhecidos de sua campanha eleitoral dizia “ Varre, varre, varre vassourinha!
/Varre, varre a bandalheira!”, e nos comícios eleitorais de Jânio Quadros, seus apoiadores costumavam erguer vassouras
para o alto.
Em seus discursos, usava um português bastante rebuscado para passar uma imagem intelectualizada. Também jogava
talco em seu cabelo e no paletó para simular que tinha “caspa” e ser visto como um homem próximo ao povo.
Na legislação da época o presidente e o vice-presidente eram eleitos separadamente, por isso, embora Jânio Quadros
tenha sido eleito com o apoio da UDN e vencido o candidato de Juscelino Kubistchek, quem conquistou a vaga de vice-pre-
sidente foi João Goulart, político aliado a Getúlio Vargas. Essa e outras contradições marcaram o período.
A retórica moralista transpareceu em uma série de medidas tomadas por Jânio Quadros: proibiu apostas em corridas
de cavalo durante os dias da semana, o uso de lança perfume, rinhas de galo e biquínis nas praias.
A política econômica foi pautada em um pacote de cortes de gastos públicos, de medidas recessivas e com aumento
de tributos. O FMI, satisfeito com a economia de contenção, concedeu dois novos empréstimos ao Brasil.
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Mas a condução das relações internacionais foi o que gerou maiores
controversas. Isso porque, em meio à Guerra Fria, Jânio optou por uma polí-
tica externa independente. Esse posicionamento adotado pelo presidente
levou o Brasil, alinhado com os Estados Unidos desde o governo Dutra, a
retomar as relações com o bloco oriental soviético. Além de enviar Jango
para a China a fim de estabelecer relações econômicas, Jânio recebeu, em
Brasília, o líder revolucionário argentino Ernesto Che Guevara.
Se por um lado a oposição a Jânio cresceu em virtude de sua política externa, que aproximou o país das ideias comu-
nistas, sua renúncia acarretou a posse de João Goulart, constantemente taxado de comunista pela mídia, pelas classes
conservadoras e por outros políticos.
No momento da renúncia de Jânio, João Goulart estava na China, e o cenário havia se tornado favorável ao golpe.
Ranieri Mazzilli, então presidente da Câmara dos Deputados, foi empossado como presidente, e parte do Congresso, com
o apoio de militares, estava determinada a impedir a volta de Jango ao Brasil.
Governo de João Goulart (1961-1964)
Em oposição aos que não queriam que Jango assumisse a presidência, Leonel
Brizolae Tancredo Neves organizaram uma campanha legalista em defesa do cum-
primento da Constituição. Contra a tentativa de golpe, sucederam-se passeatas e
comícios nos grandes centros urbanos, assim como uma greve nacional, apoiada pela
União Nacional dos Estudantes (UNE).
Brizola já estava determinado a dar início a uma guerra civil, quando Tancredo
Neves, que tinha bom trânsito entre os diversos agrupamentos políticos, conseguiu
um acordo para o retorno de João Goulart.
No dia 2 de setembro de 1961, como resultado do acordo obtido por Tancredo, foi
assinada uma Emenda Constitucional que instituiu o sistema parlamentar de governo.
Jango voltaria, mas com poderes limitados. Pela emenda, o presidente nomearia o
Presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro) que, por sua vez, nomearia os
demais ministros do Estado; no entanto, o primeiro-ministro e os ministros nomeados
precisavam ser aprovados pelo Congresso, o que conferia maior poder ao Legislati-
vo. Previa-se, ainda, a realização, em 1965, de um referendo para decidir acerca da
continuidade ou não do parlamentarismo.
Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os
interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado.
Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha
autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande
família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
Saiba mais
Em agosto de , Jânio condecorou Che Guevara
com a Ordem do Cruzeiro do Sul no intuito de
fortalecer vínculos com Cuba, que havia passado por
um processo revolucionário anos antes.
Para que a oposição aceitasse a posse de
João Goulart foi preciso um acordo que
limitasse seus poderes como presidente.
Fotografia de .
Carlos Lacerda e a UDN romperam com o presidente em retaliação à postura que aproximou o Brasil da China e de
Cuba, inimigos dos Estados Unidos. O presidente ficava cada vez mais isolado politicamente e com pouco apoio parla-
mentar no Congresso. Foi então que, de forma súbita, Jânio entregou uma carta ao Congresso anunciando sua renúncia.
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14 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
Parlamentarismo (1961-1963)
No período do governo parlamentar de João Goulart,
o contexto internacional foi marcado por um dos momen-
tos mais delicados de toda a Guerra Fria, em que ficou
iminente a eclosão de um conflito nuclear: a Crise dos
Mísseis. Em 1962, mísseis soviéticos foram trazidos para
Cuba, e a proximidade da ilha caribenha com os Estados
Unidos levou ao limite a tensão com a União Soviética,
afetando as relações políticas de quase todo o mundo.
Além da crise política, o Brasil enfrentava uma crise
econômica e social. O processo inflacionário se mantinha
crescente, impulsionando agitações populares em todo o
país. No campo, os movimentos rurais, por meio da atuação
das Ligas Camponesas, lideradas por Francisco Julião Arruda
de Paula (1915-1999), exigiam uma reforma agrária; nas
cidades, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) passou
a coordenar as greves, cada vez mais constantes no país.
Em pouco mais de 15 meses de parlamentarismo, o
Brasil teve três primeiros-ministros (Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima). No entanto, os problemas mais sérios
do país não foram combatidos, como o endividamento, o aumento da inflação e a instabilidade política. Com a aprovação do
Congresso, o referendo para decidir sobre o sistema de governo foi adiado para 1963, quando a população votou pelo fim
do parlamentarismo. Era a segunda vez que a população votava em João Goulart, a primeira quando o elegeu vice-presidente
e, agora, pelo retorno ao presidencialismo. Observe, a seguir, o resultado do plebiscito de 1963 em todo o território nacional.
Imagem utilizada pelas agências estadunidenses para justificar a existência
de mísseis soviéticos em Cuba, em 2. As cotas em inglês indicam a tenda
de mísseis, a posição de lançamento deles e o local de armazenamento do
combustível.
Brasil: plebiscito referente ao retorno ao presidencialismo – 1963
OCEANO
ATLÂNTICO
Equador
Trópico de Capricórnio
0°
50° O
Fonte: elaborado com
base em Governo João
Goulart (-).
Plebiscito de  der-
ruba o parlamentarismo.
Atlas histórico do Brasil.
FGV-CPDOC.
Disponível em: https://
atlas.fgv.br/marcos/
governo-joao-gou-
lart--/mapas/
plebiscito-de--der-
ruba-o-parlamentarismo.
Acesso em:  jan. .
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Presidencialismo (1963-1964)
Uma vez restaurado o presidencialismo, Jango ainda teria o mandato até 1965. Para lidar com a situação da economia
nacional, o presidente reuniu uma equipe de intelectuais, como o economista Celso Furtado, responsável pela criação da
Sudene no governo de Juscelino Kubitschek, para montar o Plano Trienal. A proposta era contornar a crise econômica
sem que houvesse prejuízos à perspectiva desenvolvimentista. Ao aumentar os impostos sobre os grupos mais ricos, um
dos pontos do Plano Trienal, o empresariado se sentiu prejudicado. Da insatisfação da classe patronal decorreu que, nos
primeiros seis meses de 1963, houve um decréscimo de 30% no volume de créditos bancários obtidos pelo setor privado.
O plano econômico de Jango não conseguiu apoio dos industriais nem dos trabalhadores, mostrando-se inviável. Ao final
de 1963, o PIB brasileiro havia sofrido intensa desaceleração, chegando a valores abaixo de 1%. Observe, no gráfico a
seguir, os índices econômicos durante o governo de João Goulart.
Brasil: índices econômicos no governo João Goulart – 1961-1964
Fonte: Governo João Goulart (-). Índices econômicos no governo Jango. Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC.
Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-joao-goulart--/mapas/indices-economicos-no-governo-jango. Acesso em:  jan. .
João Goulart manteve, então, a postura de não alinhamen-
to político e aproximação econômica com a União Soviética e
passou a trocar café por petróleo e helicópteros com a antiga
Tchecoslováquia.
As medidas não foram suficientes, e como era necessário ga-
rantir a governabilidade mesmo sem o apoio de parte do Legislativo,
Jango optou por uma nova estratégia: discutir as propostas políticas
e econômicas diretamente com o povo por meio de comícios. Ao
conquistar o apoio das massas, ele poderia governar por decretos,
atravessando o Legislativo. Caso houvesse algum tipo de ruído
por parte do Congresso, seria possível recorrer a plebiscitos para
demonstrar que tinha o apoio popular.
O primeiro comício ocorreu em 13 de março de 1964, na
estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse momento,
Jango apresentou para uma grande plateia suas Reformas de
Base, cujas propostas abarcavam reforma tributária para que as grandes fortunas fossem taxadas de maneira diferenciada,
reforma bancária para que houvesse maior controle sobre os juros, reforma política que inseria os analfabetos e as baixas
patentes militares no sistema de eleições, reforma educacional que expandiria as escolas públicas, reforma urbana para
conter a especulação imobiliária e, por fim, reforma agrária para distribuir terras aos camponeses.
Em São Paulo, em março de , foi organizada a “Marcha da família
com Deus pela liberdade”, cujo objetivo era manifestar uma reação
conservadora às reformas de Jango.
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16 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática(-)
Ao mesmo tempo que conquistava o apoio da po-
pulação, a oposição a Jango crescia em grande medida,
principalmente de latifundiários, da classe empresarial e
de parte da classe média. Esses setores, impulsionados
pelo contexto da Guerra Fria, entendiam as propostas
de reforma do presidente como medidas alinhadas ao
comunismo.
Em apoio às reformas propostas pelo presidente, houve
um motim de marinheiros. Como resposta, o alto escalão
do exército, da marinha e da aeronáutica se posicionava
cada vez mais contrário ao governo, acusando Jango de
incentivar rupturas hierárquicas.
O clima era de profunda tensão no país. No dia 30 de
março, Jango fez um discurso no Automóvel Clube para
obter apoio dos setores mais radicais do exército. O dis-
curso foi visto como uma ameaça à ordem, uma vez que o
presidente estaria passando por cima da autoridade dos
Revisando
1. Acafe-SC 2018 Após a saída de Getúlio Vargas do
poder em  o então Ministro da Guerra do Es-
tado Novo, General Eurico Gaspar Dutra, foi eleito
presidente do Brasil. Entre as características do seu
governo, pode-se destacar, exceto:
a) Uma nova constituição foi aprovada e o voto tornou-
-se obrigatório para todos os brasileiros alfabetizados,
maiores de 18 anos e de ambos os sexos.
b) Alinhamento com o bloco capitalista liderado pe-
los Estados Unidos e rompimento de relações
diplomáticas com a União Soviética.
c) Criação do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico (BNDE), fundação da Petrobras e iní-
cio da campanha nacional “O petróleo é nosso”.
d) Propôs o SALTE, um plano econômico desenvol-
vimentista que priorizava investimentos na Saúde,
Alimentação, Transporte e Energia.
2. Enem 2021 Quando Getúlio Vargas se suicidou, em
agosto de 1954, o país parecia à beira do caos. Acuado
por uma grave crise política, o velho líder preferiu uma
bala no peito à humilhação de aceitar uma nova deposi-
ção, como a que sofrera em outubro de 1945. Entretanto,
ao contrário do que imaginavam os inimigos, ao ruído do
estampido não se seguiu o silêncio que cerca a derrota.
REIS FILHO, D. A. O Estado à sombra de Vargas.
Revista Nossa História, n. 7, maio 2004.
O evento analisado no texto teve como repercussão
imediata na política nacional a:
a) reação popular
b) intervenção militar
c) abertura democrática
d) campanha anticomunista
e) radicalização oposicionista
3. Acafe-SC 2021 Passaram-se  anos da morte de
Getúlio Vargas, em . Para muitos, um excelen-
te presidente, para outros um ditador. Ainda hoje, a
trajetória política de Getúlio Vargas suscita o interesse
da historiografia brasileira, atestado pelas constantes
obras e teses que analisam seu governo. Acerca do
seu governo de  a  é correto afirmar:
a) Getúlio Vargas chegou a limitar a remessa para
o exterior de lucros de empresas estrangeiras.
Criou também o BNDE (Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico), para incentivar a área
industrial.
b) O conhecido atentado da rua Toneleros, contra a
vida de Getúlio Vargas, desencadeou uma grande
onda de protestos por todo o Brasil. Neste aten-
tado morreu o Major da Aeronáutica Rubens Vaz.
c) O suicídio de Getúlio Vargas ocorreu logo após a
sua destituição do cargo de presidente da repúbli-
ca e a nomeação de um interventor federal pelos
militares ligados ao Ministério da Aeronáutica.
d) Ao nomear Carlos Lacerda da UDN (União Demo-
crática Nacional), para o Ministério do Trabalho,
Vargas obteve apoio da oposição para a implan-
tação da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho).
4. Acafe-SC 2021 Chamado de presidente “Bossa-No-
va”, em uma alusão ao estilo musical que aparecia e
se destacava na década de  (XX), Juscelino Kubits-
chek foi eleito presidente da república, prometendo
um plano desenvolvimentista. Acerca do governo do
presidente Juscelino Kubitschek, todas as alternativas
estão corretas, exceto a alternativa:
a) Juscelino realizou a construção de uma nova ca-
pital para o Brasil: Brasília, no Planalto Central.
Brasília tornou-se símbolo de modernidade e
integração nacional. Foi inaugurada em abril de
1960.
b) Em seu “plano de metas – crescer 50 anos em 05
anos”, Juscelino promoveu grandes investimentos
nas indústrias de base e nas áreas de transporte e
produção de energia.
generais ao falar diretamente com seus subalternos. Em
reação direta, o general Olímpio Mourão Filho, em Juiz de
Fora, Minas Gerais, deu início à “Operação Popeye”, que
deslocou indivíduos da Quarta Região Militar e da Polícia
Militar de Minas Gerais para o Rio de Janeiro.
No dia 1 de abril, as tropas do exército chegaram ao
Rio de Janeiro e tomaram o Forte de Copacabana. João
Goulart, em reunião no Palácio das Laranjeiras, optou por
viajar para Porto Alegre. Alguns militares se opuseram ao
golpe e, juntamente com Leonel Brizola, aconselharam o
presidente a resistir à ofensiva do Exército, chegando a
mobilizar tropas no Rio Grande do Sul. Jango, temendo uma
guerra civil, negou qualquer tipo de resistência.
Em 2 de abril de 1964, o Congresso Nacional apro-
vou a declaração de vacância da Presidência da República,
consumando o golpe militar. No dia 4 de abril, João Goulart
deixou o Brasil e se exilou no Uruguai.
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c) Foi criada a Petrobras, possibilitando ao Brasil
uma autossuficiência na produção de combus-
tível. Isso foi determinante para e entrada, no
Brasil, das fábricas de automóveis.
d) O prometido crescimento econômico de Jusce-
lino, teve um preço: a inflação cresceu e a dívida
externa do Brasil cresceu. Esse crescimento não
beneficiou todas as camadas sociais, e muitas de-
sigualdades sociais permaneceram.
5. Enem 2013
Seu estilo político e personalidade entusiasta re-
forçam o tradicional senso de otimismo brasileiro, pois
enfatizava soluções ao invés de problemas. Ele irradiava
confiança no país e em sua capacidade de unir-se ao
mundo industrial.
SKIDMORE, T. Uma história do Brasil. São Paulo:
Paz e Terra, 1998, p. 204.
Essa visão especíca sobre os anos JK encontra res-
paldo em alguns episódios de época, como a(o)
a) inauguração do Cristo Redentor e a instalação da
Companhia Siderúrgica Nacional
b) emergência das chanchadas e do Plano SALTE
c) realização da Semana de Arte Moderna e a assi-
natura do Convênio de Taubaté
d) nascimento da Tropicália e a ocorrência do “mila-
gre econômico”
e) surgimento da bossa nova e a inauguração de
Brasília
7. Uece 2020 Quando, em agosto de , Ernesto ‘Che’
Guevara foi condecorado com a Ordem Nacional do
Cruzeiro do Sul, maior honraria que o Estado brasi-
leiro oferece a alguma personalidade estrangeira,
estava demonstrada a posição da política externa
independente do Brasil em relação às potências da
época. Esse episódio é considerado como um dos fa-
tores que contribuíram para
a) o governo de João Goulart sofrer, em 31 de mar-
ço de 1964, o golpe militar que instaurou os 21
anos de governos ditatoriais militares.
b) o desencadeamento da crise de apoio popular
que levou o governo de Getúlio Vargas a ser
destituído e à realização de eleições livres para
presidência da república.
c) o agravamento da crise política urdida por líderes
conservadores de direita, como Carlos Lacerda,
e para a renúncia do Presidente Jânio Quadros.
d) o aumento da popularidade de Juscelino Kubis-
tchek, que a utilizou para eleger seu candidato
como sucessor na presidência da república.
8. Uece 2018 Como outros governantes brasileiros do
século XX, Jânio Quadros também não concluiu seu
mandato presidencial. O fim precoce do governo de
Jânio Quadros deveu-se
a) ao golpe civil-militar que, em março de 1964,
derrubou o governo e estabeleceu 21 anos de
governo ditatorial conduzidos por militares.
b) ao seu suicídio, ocorrido ainda em agosto de
1961, em função da grave crise econômica e po-
lítica em seu governo.
c) à sua inesperada renúncia apresentada ao con-
gresso em uma carta na qual dizia ter forças
terríveis agindo contra ele.
d) ao processo de impeachment aberto contra ele a
partir das denúncias de corrupção feitas pelo seu
próprio irmão aos órgãos da mídia.JK — Você agora tem automóvel brasilei-
ro, para correr em estradas pavimentadas com
asfalto brasileiro, com gazolina brasileira. Quer mais quer?
 JECA — Um prato de feijão brasileiro, seu doutô!
THÉO. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através da caricatura
(1840-2001). Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2001.
A charge ironiza a política desenvolvimentista do go-
verno Juscelino Kubitschek, ao:
a) evidenciar que o incremento da malha viária dimi-
nuiu as desigualdades regionais do país.
b) destacar que a modernização dinamizou a produ-
ção de alimentos para o mercado interno.
c) enfatizar que o crescimento econômico implicou
aumento das contradições socioespaciais.
d) ressaltar que o investimento no setor de bens du-
ráveis incrementou os salários dos trabalhadores.
e) mostrar que a ocupação de regiões interioranas
abriu frente de trabalho para a população local.
6. FMP-RJ 2019 Estudando a situação do Brasil durante
o governo de Juscelino Kubitschek (-), o bra-
silianista Thomas Skidmore escreveu:
Além dos avanços econômicos diretos havia também
mais benefícios políticos indiretos gerados pela estratégia
econômica de Juscelino.
18 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
9. Acafe-SC 2021 Após a renúncia de Jânio Quadros à
presidência da República, criou-se um impasse pela
oposição em relação à posse do vice-presidente,
João Goulart (Jango). Dentro deste contexto todas as
alternativas estão corretas, exceto a alternativa:
a) Com o impasse criado para a posse de João Gou-
lart, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola iniciou uma campanha pela posse do vice-
-presidente, foi a Campanha da legalidade.
b) Para a posse de João Goulart, foi instaurado o par-
lamentarismo com o objetivo de enfraquecer sua
atuação, já que seus poderes estariam limitados.
c) Quando Jânio Quadros renunciou à presidência
da República, João Goulart estava em visita oficial
à China.
d) Apesar da resistência da oposição, os militares
asseguraram a imediata posse de João Goulart e
garantiram apoio ao seu governo.
10. UEPG-PR 2020 O chamado “período de redemocratiza-
ção”, ocorrido entre  e , está situado entre o fim
do Estado Novo e o início da ditadura civil-militar. A res-
peito desse período histórico, assinale o que for correto.
 O presidente Juscelino Kubitschek construiu a ci-
dade de Brasília e transferiu a capital federal do
Rio de Janeiro para o Centro-Oeste brasileiro.
 Jânio Quadros, presidente eleito pelo voto direto,
renunciou ao cargo poucos meses após assumir
a presidência.
 Getúlio Vargas voltou ao poder por meio do voto
direto, mas acabou se suicidando após uma longa
crise política.
 Apoiado pelos militares, João Goulart fechou o
Congresso Nacional, mandou prender adver-
sários políticos e ampliou seus poderes após o
golpe de 1964.
Soma:
Exercícios propostos
1. FGV-SP 2019 Houve movimentos militares em 1945,
1954, 1964, uma tentativa frustrada em 1961 e um outro
movimento em 1955, que precipitou um contramovi-
mento em defesa das autoridades constitucionais. Os
anos de 1945 a 1964 assinalam o período da primeira
experiência do Brasil com uma política competitiva, de-
mocrática e aberta.
Stepan, A. Os militares na política. As mudanças de padrões na vida brasileira.
Rio de Janeiro: Artenova, 1975, p. 66.
Sobre os movimentos militares citados no texto é cor-
reto a rmar:
a) Foram movimentos anticomunistas impulsionados
pela polarização ideológica da Guerra Fria.
b) Em 1945 e 1964, os presidentes da República
foram destituídos, marcando o início de novos pe-
ríodos políticos.
c) A intervenção mais aguda ocorreu em 1961 com
a implementação do regime presidencialista.
d) Em seu conjunto, percebe-se a inexistência de
correntes políticas de opiniões distintas no seio
das Forças Armadas brasileiras.
e) Tais intervenções militares revelam a caracterís-
tica democrática e civil da história da República
brasileira.
2. FGV-SP A gestão do Presidente Eurico Gaspar Dutra
foi marcada pela adoção de medidas que visavam à
modernização das instituições político-administrati-
vas. Entre essas mudanças, pode ser destacada:
a) a aprovação de uma nova Constituição que, embora
seguisse princípios liberais e democráticos, manti-
nha a proibição ao direito de voto das mulheres.
b) a aproximação com a União Soviética, em função
do enorme prestígio dos parlamentares ligados
ao PCB.
c) a extinção do corporativismo, com a regulamen-
tação de centrais sindicais livres da tutela do
Estado.
d) a implantação de um plano de metas (Plano Salte)
que visava atender às necessidades da industria-
lização e do abastecimento doméstico.
e) a recusa de participação na Organização dos
Estados Americanos (OEA), por considerá-la um
instrumento de consolidação da hegemonia nor-
te-americana na América Latina.
3. Cefet-MG 2018 A industrialização realizada durante
os anos 50 trouxe consigo a modernização do Brasil.
Modernização dos homens, tornando-os cada vez mais
urbanos. Modernização de seus pensamentos e hábitos,
tornando-os consumistas. Modernização do modo de
vida, das cidades, da arquitetura, das artes, da técnica,
da ciência.
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas
desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo: Ática, 1992. p. 31.
Sobre a modernização do modo de vida brasileiro nos
anos , é INCORRETO a rmar que
a) atingiu de maneira uniforme todas as parcelas da
população, independentemente de classe social
e de localização geográfica.
b) teve como símbolo do progresso e da liberdade
o automóvel, indispensável para vencer as distân-
cias nas grandes cidades.
c) consolidou o poder homogeneizador da indústria
cultural, com o desenvolvimento da publicidade e
o avanço dos meios de comunicação de massa.
d) representou a criação de novos hábitos, como o
uso de roupas de tecidos sintéticos, o consumo
de alimentos enlatados e a aquisição de eletro-
domésticos.
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4. FICSAE-SP 2016 b) a tentativa de assassinato sofrida pelo jornalis-
ta Carlos Lacerda por apoiar os assessores do
presidente que discordavam de suas ideias e o
avanço dos conservadores foi intensificado pela
ação dos militares.
c) o presidente sentiu-se impotente para atender
a seus inimigos, como Carlos Lacerda, que o
pressionavam contra a ditadura e os aliados do
presidente teriam que aguardar mais uma década
para concretizar a democracia progressista.
d) o jornalista Carlos Lacerda foi responsável direto
pela morte do presidente e este fato veio impedir
definitivamente a ação de grupos conservadores.
e) o presidente cometeu o suicído para garantir uma
definitiva e dramática vitória contra seus acusado-
res e oferecendo a própria vida Vargas facilitou as
estratégias de regimes autoritários no país.
6. Unesp 2015 Examine a charge do cartunista Théo,
publicada na revista Careta em ...
Flavio de Campos e Miriam Dolhnikoff. Atlas História do Brasil. São Paulo:
Scipione, 1994, p.58.
“Você é que é feliz”...
Getúlio: – Ser pai dos pobres dá mais trabalho do que
ser Papai Noel! Você só se amofina no Natal: a mim eles
chateiam o ano inteiro!
Isabel Lustosa. Histórias de presidentes, 2008.
O apelido de “pai dos pobres”, dado a Getúlio Vargas,
pode ser associado:
a) ao autoritarismo do presidente diante dos mo-
vimentos sociais, manifesto na repressão às
associações de operários e camponeses.
b) aos esforços de negociação com a oposição, com
a decorrente distribuição de cargos administrati-
vos e funções políticas.
c) ao caráter popular do regime, originário de uma
revolução social e empenhado no combate à bur-
guesia industrial brasileira.
d) à política de concessões desenvolvida junto a sin-
dicatos, como contrapartida do apoio político dos
trabalhadores.
e) à supressão de legislação trabalhista no país,
que obrigava o governo a agir de forma assis-
tencialista.
Os grácos acima mostram os resultados das eleições
presidenciais brasileiras de ,  e . Eles
permitem constatar
a) o declínio da influência política dos estadosde
São Paulo e Minas Gerais, que não conseguiram
eleger seus candidatos à presidência.
b) a ausência de oposição clara ao projeto traba-
lhista, o que facilitou a vitória eleitoral de Getúlio
Vargas e dos candidatos apoiados por ele.
c) a lógica bipartidária, que impedia o surgimento de
uma terceira força política, capaz de enfrentar os
candidatos da aliança PTB e PSD.
d) a força do varguismo, expressa nos seguidos
sucessos eleitorais dos trabalhistas e que prosse-
guiu mesmo após a morte do seu líder.
5. Enem Zuenir Ventura, em seu livro “Minhas memó-
rias dos outros” (São Paulo: Planeta do Brasil, ),
referindo-se ao fim da “Era Vargas” e ao suicídio do
presidente em , comenta: Quase como castigo
do destino, dois anos depois eu iria trabalhar no jornal
de Carlos Lacerda, o inimigo mortal de Vargas (e nun-
ca esse adjetivo foi tão próprio).
Diante daquele contexto histórico, muitos estudiosos
acreditam que, com o suicídio, Getúlio Vargas atingiu não
apenas a si mesmo, mas o coração de seus aliados e a
mente de seus inimigos.
A armação que aparece “entre parênteses” no co-
mentário e uma consequência política que atingiu os
inimigos de Vargas aparecem, respectivamente, em:
a) a conspiração envolvendo o jornalista Carlos La-
cerda é um dos elementos do desfecho trágico e
o recuo da ação de políticos conservadores devi-
do ao impacto da reação popular.
20 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
7. UEM-PR 2017 No Brasil do final dos anos de  e
início da década de , vivia-se o período chamado
de liberal-democrático, no qual políticas voltadas para
o desenvolvimento nacional eram implementadas e o
apelo popular da figura política de Getúlio Vargas ain-
da era muito forte.
Sobre esse período, assinale a(s) alternativa(s)
correta(s).
 O texto da Constituição de 1946 previa uma
rotina democrática para as instituições republi-
canas, garantia a liberdade de imprensa e de
opinião, reconhecia a importância dos partidos
políticos e ampliava o escopo democrático da
República, incorporando, como eleitores, o
contingente populacional com idade a partir de
dezoito anos.
 A Constituição de 1946 estendeu vários direitos
sociais aos trabalhadores rurais, através de uma
legislação trabalhista moderna e eficiente.
 O governo do general Eurico Gaspar Dutra, apoia-
do pelo PSD-PTB, adotou uma política conflituosa
com os Estados Unidos e intensificou as relações
diplomáticas com a União Soviética.
 Durante esse período, a defesa do monopólio
da exploração do petróleo pelo Estado havia se
transformado em um dos maiores movimentos
de opinião pública da nação. A Campanha do
Petróleo abrigou grupos políticos heterogêneos,
a saber: militares, comunistas, católicos, traba-
lhistas. A União Nacional dos Estudantes (UNE)
lançou, inclusive, a palavra de ordem: “O petróleo
é nosso!”.
 Carlos Lacerda, da UDN, representou um dos prin-
cipais porta-vozes de apoio ao governo de Getúlio
Vargas, que regressava ao Palácio do Catete, sede
do governo federal, pelo voto direto popular.
Soma:
8. UEMG 2017 Os liberais-conservadores não se conforma-
vam com Vargas na presidência da República. Por duas
vezes derrotada com seu candidato, em 1945 e 1950,
a União Democrática Nacional escolheu a estratégia
de desqualificar Vargas. A opção pelo golpe vai sendo
amadurecida pelos grupos conservadores, tendo a UDN
à frente, até tornar-se uma decisão irreversível a partir de
1953.
FERREIRA, Jorge. Crises da República: 1954, 1955 e 1961. In: FERREIRA,
Jorge & DELGADO, Lucília de A. N. (Orgs.). O tempo da experiência
democrática: da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964.
4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011, p. 306-307 (Coleção
O Brasil Republicano, v. 3.
Nesse contexto, ocorreram fatos que foram decisi-
vos para o recuo dos defensores do golpe de Estado
e a sobrevivência da democracia, dentre os quais
destacam-se
a) a vitória de Carlos Lacerda e a instauração de
uma ditadura.
b) a eleição de Cristiano Machado e o fim do parla-
mentarismo.
c) o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe preventivo
do general Lott.
d) o impeachment de Juscelino Kubitschek e a pos-
se do deputado Carlos Luz.
9. Famerp 2019 Leia o texto para responder à(s)
questão(ões).
De 1889/1890, começo da República, até 1930-1940
mais ou menos, a indústria e as cidades apresentaram
determinadas características.
A atividade industrial, sempre crescente, era conduzi-
da fundamentalmente no interior de empresas de pequeno
e médio porte, ainda que as grandes fábricas existentes
concentrassem o maior número de operários e a maior
quantidade de capital, sendo responsáveis também pela
maior parte da produção industrial. [...] Apenas a partir
das décadas de 1940 e 1950 as indústrias de bens de
consumo duráveis e bens de capital desenvolveram-se de
modo significativo.
Maria Auxiliadora Guzzo de Decca. Indústria e trabalho no Brasil, 1991.
O segundo ciclo de industrialização mencionado no
texto é marcado
a) pelo ingresso, no país, de grande quantidade de
tecnologia e de capitais estrangeiros.
b) pela política nacional de controle do câmbio, o
que facilitava a exportação brasileira de produtos
industrializados.
c) pelo deslocamento do eixo industrial para a região
Norte, a partir da criação da Zona Franca de Manaus.
d) pela implantação de políticas públicas de apoio
às pequenas e médias empresas.
e) pelo processo de privatização das empresas
estatais, adquiridas por grandes empresários
nacionais.
10. FGV-RJ 2016 Leia o fragmento a seguir, extraído de
um artigo do jornalista Carlos Lacerda, publicado no
jornal A Tribuna da Imprensa, em de junho de .
O Sr. Getúlio Vargas senador, não deve ser candidato
à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não
deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revo-
lução para impedi-lo de governar.
A partir do fragmento, assinale a alternativa que apre-
senta a interpretação correta do discurso de Carlos
Lacerda.
a) Marca o rompimento público com o trabalhismo,
devido aos planos ditatoriais de Vargas.
b) Reflete a posição dos setores liberais contrários
à aproximação do Brasil com os países do Leste
europeu.
c) Denuncia Vargas, que pretendia modificar a
constituição para se candidatar à Presidência da
República.
d) Representa o posicionamento político de setores
contrários ao trabalhismo.
e) Mostra a defesa intransigente do processo eleito-
ral contra as ameaças ao sistema democrático.
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11. Unesp 2019 Os gráficos indicam a expansão das re-
des de transporte ferroviário e rodoviário no Brasil (em
km) em função do tempo (ano).
Considerando a composição do setor rural nacional e
o programa desenvolvimentista do governo JK, é cor-
reto armar que:
a) A “Marcha para o Oeste” obteve grande êxito
porque, além dos grandes ruralistas, conseguia
atender também aos interesses dos pequenos
posseiros, trabalhadores sem-terra e indígenas.
b) O desenvolvimentismo atendia às ambições da
oligarquia rural, em função das políticas de mo-
dernização da agricultura, permitindo que ela se
beneficiasse da expansão do mercado consumi-
dor, um dos desdobramentos da industrialização.
c) O Plano de Metas do governo JK fracassou por-
que os interesses do agronegócio se mostraram
posteriormente inconciliáveis com as demandas
da velha oligarquia rural das regiões Norte e Cen-
tro-Oeste.
d) Os interesses agrários e o projeto de industria-
lização do nacional-desenvolvimentismo eram
compatíveis porque o Partido Trabalhista Brasileiro
era composto principalmente pela oligarquia rural.
13. Uece 2017 Eleito com o slogan “cinquenta anos em
cinco”, o presidente Juscelino Kubitschek – JK – fez
de seu governo um período de grandes investimentos
em setores produtivos, mas também de gastos eleva-
díssimos. Apesar do inegável avanço e diversificação
do setor produtivo, o último ano de seu governo apre-
sentou um índice de inflação de ,%. O processo
inflacionário gerado nesse período corroeu a econo-
mia brasileira nos anos seguintes ao seu governo.Um dos aspectos de destaque do governo de JK foi
a) o investimento de capital nacional em indústrias
de base, com a criação da Petrobras e da CSN –
Companhia Siderúrgica Nacional.
b) o aumento da dívida externa em função dos vultu-
osos empréstimos tomados para realização de seu
Plano de Metas e para a construção de Brasília.
c) a promoção da importação de automóveis, pois
JK acreditava que era mais importante comprar
a preços vantajosos do que investir na produção
nacional.
d) sua política desenvolvimentista, voltada exclu-
sivamente para atender o desenvolvimento das
atividades agroexportadoras de que o Brasil
dependia.
14. Unesp 2017 A industrialização contemporânea requer
investimentos vultosos. No Brasil, esses investimen-
tos não podiam ser feitos pelo setor privado, devido à
escassez de capital que caracteriza as nações em desen-
volvimento. Além disso, o crescimento econômico do
Brasil, um recém-chegado ao processo de modernização,
processou-se em condições socioeconômicas diferentes.
Um efeito internacional de demonstração, na forma de
imitação de padrões de vida, entre países ricos e pobres,
e entre classes ricas e pobres dentro das nações, resultou
em pressões significativas sobre as taxas de crescimento
para diminuir a diferença entre nações desenvolvidas e
Dados extraídos de: Paul Singer. Interpretação do Brasil: uma experiência
histórica de desenvolvimento. In: Boris Fausto (Org). História geral da
civilização brasileira, tomo III, vol., .
As informações dos dois grácos estão traduzidas na
tabela:
a)
Rede ferroviária Rede rodoviária
b)
Rede ferroviária Rede rodoviária
c)
Rede ferroviária Rede rodoviária
d)
Rede ferroviária Rede rodoviária
e)
Rede ferroviária Rede rodoviária
12. Unicamp 2018 Vistas em conjunto, as aspirações
ruralistas não eram contraditórias ou incompatíveis
com o programa desenvolvimentista de Juscelino Ku-
bitschek. A ideia de incompatibilidade entre o projeto
nacional-desenvolvimentista e os interesses agrários
era uma ficção.
Adaptado de Vânia Moreira, “Os Anos JK: industrialização e modelo
oligárquico de desenvolvimento rural”, em Jorge Ferreira e Lucília Delgado
(Orgs.), O Brasil Republicano. v. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003, p. 169-170.
22 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
em desenvolvimento. Em vista das aspirações de melho-
res padrões de vida, o governo desempenhou um papel
importante no crescimento econômico recente do Brasil.
Carlos Manuel Peláez e Wilson Suzigan. História monetária
do Brasil, 1981. Adaptado.
Os impasses do desenvolvimento industrial brasileiro,
apontados pelo texto, foram enfrentados no governo
Juscelino Kubitschek (-) com o Plano de Metas,
cujo objetivo era promover a industrialização por meio
a) da associação de esforços econômicos entre o Es-
tado, o capital estrangeiro e as empresas nacionais.
b) da valorização da moeda nacional, da estatização
de fábricas falidas e da contenção de salários.
c) da criação de indústrias têxteis estatais e do au-
mento de impostos sobre o grande capital nacional.
d) do emprego de empresas multinacionais subme-
tidas à severa lei da remessa de lucros, juros e
dividendos para o exterior.
e) do combate à seca no Nordeste e do aumento do
salário mínimo, com controle da inflação.
15. UFJF-MG 2021 Em  de abril de , Brasília come-
morou  anos de sua fundação. A imagem e o texto
abaixo são dois registros da inauguração da cidade,
em .
A partir da imagem e do texto, marque a alternativa
CORRETA:
a) a fotografia distingue-se do discurso por ser re-
veladora de que o projeto de interiorização do
governo de Juscelino Kubitschek ampliou as
possibilidades para que as classes populares
pudessem participar mais diretamente da vida
política do país.
b) a fotografia e o discurso se assemelham pela
linguagem de exaltação ao projeto nacional-
-desenvolvimentista do governo Juscelino
Kubitschek, que foi acompanhado por uma po-
lítica de inclusão social e de enfrentamento das
desigualdades sociais do país.
c) apesar de se tratar de linguagens distintas, a
fotografia e o discurso se aproximam por de-
monstrarem que a inauguração de Brasília foi o
cumprimento de uma promessa de atender aos
anseios das classes populares de transferir a ca-
pital para o interior do país.
d) a fotografia distingue-se do discurso por expres-
sar as contradições entre um projeto de Brasil
moderno, simbolizado pela arquitetura ao fundo,
e as disparidades sociais e regionais que per-
sistiam no país, representadas pela imagem do
operário e de sua família.
e) a fotografia e o discurso do presidente se apro-
ximam, pois ambos simbolizam a defesa de um
projeto de interiorização do país ancorado em um
passado arcaico, que se contrapunha aos discur-
sos de desenvolvimento e de modernização em
voga no período.
16. Enem A moderna democracia brasileira foi cons-
truída entre saltos e sobressaltos. Em , a crise
culminou no suicídio do presidente Vargas. No ano
seguinte, outra crise quase impediu a posse do pre-
sidente eleito, Juscelino Kubitschek. Em , o Brasil
quase chegou à guerra civil depois da inesperada
renúncia do presidente Jânio Quadros. Três anos
mais tarde, um golpe militar depôs o presidente João
Goulart, e o país viveu durante vinte anos em regime
autoritário.
A partir dessas informações, relativas à história repu-
blicana brasileira, assinale a opção correta.
a) Ao término do governo João Goulart, Juscelino
Kubitschek foi eleito presidente da República.
b) A renúncia de Jânio Quadros representou a
primeira grande crise do regime republicano bra-
sileiro.
c) Após duas décadas de governos militares, Getúlio
Vargas foi eleito presidente em eleições diretas.
d) A trágica morte de Vargas determinou o fim da
carreira política de João Goulart.
e) No período republicano citado, sucessivamente,
um presidente morreu, um teve sua posse contes-
tada, um renunciou e outro foi deposto.
Fotografia de Rene Burri, 0. Operário leva a família para conhecer Brasília
no dia de sua inauguração. Brasília, DF, Magnum Photos.
FIGUEIREDO, L; MARTINS, A. História do Brasil em 100 fotografias.
Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2017, p. 171.
TEXTO
Dirigindo-me a todos os meus concidadãos, de todas
as condições sociais, de todos os graus de cultura, que, dos
mais longínquos rincões da Pátria, voltais os olhos para
a mais nova das cidades que o Governo vos entrega (...).
Não nos voltemos para o passado, que se ofusca ante esta
profusa radiação de luz que outra aurora derrama sobre
a nossa Pátria. (...) Viramos no dia de hoje uma página
da História do Brasil. (...) Olhai agora para a Capital da
Esperança do Brasil. (...) Esta cidade, recém-nascida, já se
enraizou na alma dos brasileiros já vem sendo apontada
como demonstração pujante da nossa vontade de pro-
gresso, como índice do alto grau de nossa civilização (...).
Discurso do presidente Juscelino Kubitschek na solenidade de inauguração
de Brasília. Fonte: BRASIL. Discursos selecionados do Presidente Juscelino
Kubitschek. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, pp.51-53.
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17. Mackenzie-SP 2020 O governo do presidente João
Goulart pretendeu realizar reformas de base a fim de
corrigir as distorções resultantes do processo de de-
senvolvimento do país de tal forma que crescimento
econômico não veio acompanhado de uma distribui-
ção equilibrada dos rendimentos junto à população
brasileira. A respeito dessas reformas de base, consi-
dere as assertivas abaixo.
I. No campo econômico sua proposta principal
foi a reforma agrária, com emenda do artigo da
Constituição, em que se previa a indenização aos
proprietários de terras.
II. Tais reformas previam, além da reforma agrária,
reformas administrativa, bancária e fiscal, em que
o governo buscava unir tanto às massas mobili-
zadas, quanto a opinião pública, em relação à
necessidade de mudanças institucionais para al-
cançar o desenvolvimento nacional.
III. A realização de reformas de base foi uma propos-
ta do seu antecessor,o presidente Jânio Quadros,
que durante sua campanha eleitoral e no seu
curto governo, esboçou e deu início a algumas
estratégias políticas com o intuito de corrigir as
distorções econômicas.
Assinale
a) se apenas a I estiver correta.
b) se apenas a II estiver correta.
c) se apenas a III estiver correta.
d) se apenas a I e II estiverem corretas.
e) se somente a I e III estiverem corretas.
18. Unesp 2017 Observe o cartaz, relativo ao plebiscito
realizado em janeiro de .
b) renúncia presidencial, debates sobre sistema de
governo e projetos de reforma social.
c) ascensão de governos conservadores, despoliti-
zação da sociedade e abolição de leis trabalhistas.
d) deposição do presidente da República, priva-
tizações de empresas estatais e adoção do
neoliberalismo.
e) autoritarismos governamentais, restrições à liber-
dade de expressão e cassações de mandatos de
parlamentares.
19. UEPG-PR 2018 De acordo com Guita Debert “o po-
pulismo constitui uma relação pessoal entre um líder e
um conglomerado de indivíduos, relação essa explicada
através do recurso à ideia de demagogia, nem sempre
claramente definida... o líder populista não aparece
como um verdadeiro político, mas sobretudo como um
aproveitador da ignorância popular, e as massas, na sua
irracionalidade, não constituem fundamento para qual-
quer tipo de política. O populismo, desse ponto vista,
seria, pois, um fenômeno pré-político ou parapolítico.”
DEBERT, Guita G. Ideologia e Populismo: Adhemar de Barros, Miguel
Arraes, Carlos Lacerda, Leonel Brizola. Rio de Janeiro: CEPS, 2008. p. 6.
Com base no exposto acima, e considerando que a
história política brasileira está marcada por governos
e políticos populistas, assinale o que for correto.
 Juscelino Kubitschek foi um líder populista que
se caracterizou por reforçar o sentimento de bra-
silidade. O projeto nacional-desenvolvimentista
de JK baseava-se no crescimento do país sem
vínculo com o capital internacional, pautado ex-
clusivamente nas potencialidades nacionais.
 Herdeiro político de Vargas, João Goulart caracteri-
zou-se como um dos principais líderes populistas da
história política brasileira. Uma das marcas do gover-
no Goulart foi o seu contato cotidiano com as massas
por meio dos veículos de comunicação. Foi ele o cria-
dor do programa radiofônico “Hora do Brasil”.
 Jânio Quadros, eleito presidente com grande apoio
popular, é um dos exemplos de governos populistas
brasileiros. Personalista, elegeu-se com um discurso
moralista baseado no combate à corrupção. Filiado ao
Partido Comunista, Jânio foi o maior exemplo de popu-
lismo de esquerda no Brasil.
 Conhecido como “pai dos pobres”, Getúlio Var-
gas é um dos grandes exemplos do populismo
brasileiro. Carismático, autoritário, criador de uma
ampla legislação social e trabalhista, Vargas foi
aprovado e venerado pelas massas no Brasil das
décadas de 1930, 40 e 50.
 O nacionalismo foi um dos valores centrais disse-
minados por líderes populistas brasileiros (como
Getúlio Vargas e João Goulart). O estímulo ao
sentimento de amor à pátria, à nação e aos valo-
res originários da brasilidade se fez presente em
discursos, peças publicitárias e rituais promovidos
por tais líderes.
Soma:
www.projetomemoria.art.br
O cartaz alude à situação histórica brasileira marcada
por
a) estabilidade política, crescimento da economia
agroindustrial e baixas taxas de inflação.
24 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (-)
20. PUC-SP 2014
Texto complementar
Leia a seguir a carta-testamento escrita por Getúlio Vargas em 1954. Direcionada ao povo brasileiro, a carta procura rebater as acusações dire-
cionadas a ele, relembrar sua trajetória política e explicar as razões que o levaram ao suicídio.
Carta-testamento
Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam;
não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue
a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me
chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo
nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia
do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.
Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação
se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros
das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de
mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta
foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esque-
cendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue.
Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater
à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força
para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal
na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo
de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não aba-
teram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho
da eternidade e saio da vida para entrar na História. (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)
BRASIL. Carta Testamento de Getúlio Vargas. Câmara dos Deputados, Brasília, s/d. Disponível em: https://www.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/
discursos/escrevendohistoria/getulio-vargas/carta-testamento-de-getulio-vargas. Acesso em:  jan. .
Augusto Bandeira. Correio do Amanhã, ... Apud: Rodrigo Patto Sá Motta. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, , p. .
É correto armar que a charge, publicada em setembro de :
a) celebra as reformas realizadas pelo presidente João Goulart e as interpreta como sendo resultado das mobiliza-
ções populares.
b) mostra que o golpe militar é iminente e que o presidente João Goulart defende a necessidade de reprimir os
movimentos sociais.
c) critica o presidente João Goulart e faz alusão a protestos, greves e forte crise política e social, que ocorriam
durante seu governo.
d) rejeita a autoridade do presidente João Goulart e defende a rebelião como única saída para superar as dificul-
dades políticas e econômicas.
e) destaca o uso político da mídia pelopresidente João Goulart e critica a influência do rádio e da televisão no
cotidiano dos brasileiros.
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1. Unifesp ... E a elevação do salário mínimo a nível que, nos grandes centros do país, quase atingirá o dos vencimentos má-
ximos de um [militar] graduado, resultará, por certo, se não corrigida de alguma forma, em aberrante subversão de todos
os valores profissionais, estancando qualquer possibilidade de recrutamento, para o Exército, de seus quadros inferiores.
Memorial dos Coronéis, de fevereiro de 1954.
Sobre o documento, é correto a rmar que expressava:
a) o ponto de vista de todos os coronéis, que estavam preocupados com os baixos salários pagos aos militares.
b) a posição dos coronéis contrários ao presidente Vargas e à sua política econômica, incluindo a elevação do
salário mínimo.
c) o mal-estar generalizado existente nas fileiras do Exército brasileiro com a política industrial do presidente Vargas.
d) o descontentamento dos coronéis nacionalistas pelo fato de o salário mínimo não contemplar os trabalhadores
rurais.
e) a luta surda que então existia entre coronéis, de um lado, inimigos de Vargas, e tenentes, de outro, que apoiavam
o presidente.
2. Fuvest-SP 2021 Em 1945, 1954 e 1964, datas de movimentos vitoriosos contra o presidente do país, a pressão civil no
sentido de intervenção militar no processo político cresceu e foi comunicada aos militares através de contatos pessoais, ma-
nifestos públicos e editoriais da imprensa. [...] Normalmente, os pedidos de intervenção afirmavam que o presidente estava
agindo de maneira ilegal e que, em face destas condições, a cláusula de ‘obediência dentro dos limites da lei’ os dispensava
do dever de obedecer ao chefe do executivo.
Stepan, A. Os militares na política. Rio de Janeiro: 1975, p. 73.
a) Identifique um partido político que atuou na oposição aos presidentes nos três momentos citados no texto.
b) Indique duas diferenças entre as crises políticas enfrentadas pelo presidente Vargas em 1945 e 1954.
c) Caracterize uma medida econômico-social que teria contribuído para as crises de 1954 e 1964.
Quer saber mais?
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História Pirata #28 – A História de Brasília e outras Brasílias com Cristiane Portela e Mateus Gamba
Neste episódio são debatidas as histórias relacionadas à criação de Brasília.
Estação Brasil 014 – Petrobras: do nacional desenvolvimentismo ao neoliberalismo
Este episódio é dedicado a tratar de diferentes momentos da Petrobras desde sua criação.
Exercícios complementares
Resumindo
Eleições de 94
Constituição de 946
 República presidencialista e federalista com eleições inde-
pendentes para vice-presidência
 Voto direto, universal e secreto, com exceção dos analfa-
betos
Governo de Eurico Gaspar Dutra (946-9)
 Plano Salte
 Abertura às importações
Governo de Getúlio Vargas (9-94)
 Medidas econômicas nacionalistas e nacionalizantes
 Forte oposição
 Suicídio (2 de agosto de )
Governo de Juscelino Kubitschek (96-96)
 Plano de metas
Governo de Jânio Quadros (96)
 Política externa independente
 Renúncia inesperada
Governo de João Goulart (96-964)
 Parlamentarismo
 Presidencialismo
Golpe militar ( de abril de 964)
2 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (96-96)
3. Uema 2015 O Segundo Governo Vargas (-)
foi marcado pela reorientação do eixo central da
política econômica brasileira. A chamada “vocação
agrícola do Brasil” foi intensamente questionada e a
industrialização consolidou-se como o principal cami-
nho para o desenvolvimento brasileiro.
Nesse processo, a campanha “O Petróleo é Nosso” assu-
me papel central na estratégia governamental e desencadeia
uma intensa polêmica entre os “nacionalistas”, favoráveis à
campanha, e os chamados “entreguistas”, opositores.
Fonte: VAINFAS, Ronaldo et al. História: o mundo por um fio: do século
XX ao XXI. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2010.
O ponto principal de nossa ação política consiste em
manter a linha de oposição e acentuar o propósito de luta
crescente contra as forças que há tantos anos dominam o
poder, na corrupção administrativa e comprometendo as
bases morais da vida política.
Convenção Nacional da UDN, 1957.
Citado em BENEVIDES, M. V. de M. A UDN e o udenismo. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1981.
Nos documentos acima podem ser reconhecidos po-
sicionamentos e atitudes que marcaram a atuação de
lideranças da União Democrática Nacional (UDN), par-
tido que existiu de  até .
A partir desses documentos, indique duas característi-
cas da atuação udenista em meio às disputas políticas
e partidárias do período. Cite, ainda, uma iniciativa ou
uma crise na qual o partido se envolveu.
5. FPP-PR 2020 Leia a estrofe a seguir.
Pode o pato não nadar
Pode o leão ser mofino
Pode o gato não miar
A galinha criar dente
Gente vai virar serpente
Mas Getúlio vai voltar.
LESSA, O. Getúlio na literatura de cordel. In: DORATIOTO, F.;
DANTAS FILHO, J. De Getúlio a Getúlio: o Brasil de Dutra a Vargas -
1945 a 1954. São Paulo: Atual, 1991.
A estrofe acima faz referência à campanha eleitoral de
0. A respeito desse momento histórico, é CORRETO
armar que
a) afinado em um discurso nacionalista com relação
ao desenvolvimento industrial, o programa político
de Getúlio Vargas apresentava uma contradição na
campanha presidencial de 195 ao defender uma
concepção menos centralizadora de Estado.
b) em virtude das condições em que se deu o fim do
primeiro governo Vargas em 1945, a campanha
presidencial de 195 não teve condições de utili-
zar feitos passados em sua composição. Assim, o
trabalhismo varguista não constituiu um elemento
essencial na elaboração da campanha que levou
Vargas novamente à presidência da República.
c) apesar da oposição da imprensa, as bases do ge-
tulismo estavam quase intactas em 195. A única
perda de apoio massiva que ocorreu fora a dos mi-
litares, que, descontentes com a política de controle
estatal do petróleo, abandonaram as bases do go-
verno Vargas logo depois da Revolução de 193.
d) em contraponto ao governo Dutra, que terminava
em 195 com uma política de incentivo à importa-
ção de bens de consumo, Getúlio Vargas prometia
a seus eleitores a valorização da indústria nacional,
porém sem o controle estatal sobre as importações.
e) a fim de garantir a vitória eleitoral em 195, Vargas
realizou uma série de promessas de campanha a
diferentes setores da sociedade. Do cumprimento
dessas promessas dependia a governabilidade, o
que acabava comprometendo toda a eficiência
administrativa do novo governo varguista.
Com base no cartaz, estabeleça a relação econômi-
ca entre “Bandeira Nacionalista” e “Independência do
Brasil” no contexto do Segundo Governo Vargas.
. Uerj 201 A Getúlio Vargas dirijo, de todo coração, um
apelo supremo; presidente da república: renuncia para
salvar a República. Getúlio Vargas: deixa o poder para
que o teu país, que é o nosso país, possa respirar nos dias
de paz que os teus lhe roubaram. Sai do poder, Getúlio
Vargas, se queres ainda merecer algum respeito como
criatura humana, já que perdeste o direito de ser acatado
como chefe do governo.
Carlos Lacerda
A Tribuna da Imprensa, 11/08/1954.
Pegou o Carlos Lacerda
Com a sua cara de frango
No cenário político
Querendo dançar o tango
Querendo com a Argentina
Sujar a carta de Jango
(...)
Agora dizem os golpistas
Que são loucos nos extremos
Os eleitos não tomam posse
Muita bala nós teremos
Isso caro leitor
É o que veremos
Cuíca de Santo Amaro, em A vitória de J. J. ou a vitória de um morto,
s/d. Citado em CURRAN, M. J. História do Brasil em cordel. São Paulo:
Edusp, 2001.
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. EsPCEx-SP 201 Entre  e , existiam no Brasil
dois projetos de Nação que disputavam a preferência
dos eleitores, o nacional estatismo, liderado por Getúlio
Vargas, e o liberalismo conservador, liderado por Carlos
Lacerda. Avalie as informações abaixo listadas.
I. O Estado devia intervir na economia.
II. Abertura total às empresas e aos capitais estran-
geiros.
III.O Brasil deveria alinhar-se com os EUA incondi-
cionalmente.
IV. Criação das empresas estatais em áreas estratégicas.
A alternativa que apresenta propostas do liberalismo
conservador é
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.
7. Uece 2015 Assinale a opção que apresenta somente
características do segundo Governo Vargas (-).
a) Apoio sistemático ao Partido Comunista Brasileiro –
PCB; controle da inflação; proibição da entrada de
capital estrangeiro no País.
b) Crescente instabilidade política; aumento do custo
de vida; sistemática oposição da União Democráti-
ca Nacional – UDN.
c) Defesa inconteste dos interesses populares; estabi-
lidade política; amplo desenvolvimento econômico.
d) Controle da inflação; apoio do Partido Comunista
Brasileiro – PCB; oposição sistemática do Partido
Trabalhista Brasileiro – PTB – ao governo.
8. FGV-SP 201 Em  de outubro de , o presidente
Getúlio Vargas sancionou a Lei n.º 2.00, que criava a
Petrobras. Sobre o processo de criação dessa empre-
sa, é correto afirmar que
a) as fortes rivalidades entre os principais partidos
brasileiros da etapa pós-Estado Novo, PSD, PTB
e UDN, não prevaleceram no debate de cons-
tituição de uma empresa nacional destinada à
exploração petrolífera, porque todos concorda-
vam com a necessidade de uma empresa estatal
e monopolizadora, ainda que a UDN não apoiasse
o endividamento externo para garantir as primei-
ras ações da nova empresa.
b) as suas origens remontam à década de 194,
com a campanha do petróleo, e avançou mui-
to com o envio, por Vargas, em janeiro de 1951,
de um projeto de lei para a criação da Petróleo
Brasileiro S.A., aprovada como uma empresa de
propriedade e controle totalmente nacionais, en-
carregada de explorar, em caráter monopolista,
todas as etapas da indústria petrolífera, exceto a
distribuição de derivados.
c) apesar de o Partido Comunista encontrar-se na
ilegalidade a partir de 1947, esse agrupamento
político foi decisivo na luta pela criação de uma
empresa que explorasse o petróleo nacional, em
contraposição aos partidos nacionalistas, como
a UDN, a qual defendia a criação de uma em-
presa pública, com a possiblidade da presença
de capitais estrangeiros e associada às grandes
empresas petrolíferas, principalmente as estaduni-
denses.
d) a Constituição de 1946 preconizava a criação de
uma empresa pública de capital nacional para a
exploração de todos os recursos naturais, inclu-
sive o petróleo, mas a ação do governo Dutra
protelou essa decisão, cabendo ao governo
Vargas, após forte pressão da UDN e do PSD,
decretar a criação de uma empresa estatal de
petróleo, mas com permissão para a presença do
capital estrangeiro nas atividades de maior risco.
e) a ideia de uma empresa estatal para a exploração
do subsolo brasileiro nasceu ainda durante o Estado
Novo, mas não pôde ser concretizada em virtude
da posição governamental de apoio ao desenvolvi-
mento agrícola, entretanto, no pós-Segunda Guerra,
com o importante apoio político e financeiro dos Es-
tados Unidos, foi criada uma empresa estatal com o
monopólio da exploração do petróleo, excetuando-
-se a pesquisa de novos campos.
. UFPR 2012 As duas figuras abaixo são propagandas
de carro publicadas na famosa revista O Cruzeiro, em
0 (O Cruzeiro, nº 2,  de abril de 0). Analise as
figuras, explicando o que foi o Plano de Metas e quais
suas consequências para a sociedade brasileira no
período do governo Juscelino Kubitschek (-0).
10. Fuvest-SP 201 O período do governo Juscelino
Kubitschek (-0) é uma referência positiva
no imaginário político brasileiro. Não por acaso ele
é denominado de “Anos Dourados”. As transfor-
mações implementadas nesse período suscitaram
desafios e impasses.
A partir destas considerações,
a) caracterize a política econômica adotada no refe-
rido período;
b) explique qual foi o papel do Estado e cite uma
diretriz implementada por aquele governo;
c) indique de que maneira as transformações im-
plementadas por esse governo repercutiram nas
migrações populacionais internas.
28 HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (96-96)
Fonte: http://bloghistoriacritica.bloghistoriacritica.blogspot.com.br.
Acessado em  jan. 20.
11. Unicamp-SP 201 A construção de Brasília liga-se à
questão regional do Brasil, que se colocou com inten-
sidade na década de 1950, indicando a necessidade de
se corrigirem desequilíbrios regionais. Mas, no Plano Pi-
loto, vive uma minoria da população total de Brasília.
O Plano Piloto não existiria sem as cidades-satélites,
onde reside a maior parte dos trabalhadores, um contin-
gente de pedreiros, motoristas, auxiliares de escritórios,
serventes, encarregados de segurança, balconistas, etc.
Brasília, dessa forma, é uma só cidade, do Plano Piloto às
cidades-satélites. Assim, torna-se difícil aceitar a ideia de
que Brasília foi projetada para antecipar um futuro mais
igualitário.
(Adaptado de José William Vesentini, A capital da geopolítica. São Paulo:
Ática, 1986, p. 116-117, 144-145 e 148.)
a) Quais os objetivos oficiais para a construção de
Brasília?
b) Segundo o texto, por que é “difícil aceitar a ideia
de que Brasília foi projetada para antecipar um fu-
turo mais igualitário” para a sociedade brasileira?
12. Fuvest-SP 2013 A construção de Brasília foi um mar-
co no governo de Juscelino Kubitschek (-).
a) Relacione a construção de Brasília com as metas
do governo JK.
b) Indique algumas decorrências da mudança da ca-
pital federal para o interior do país.
13. Unicamp-SP 2013  e  são os anos do
estabelecimento de Salvador e Rio de Janeiro, res-
pectivamente, como capitais da área que viria a ser o
Brasil. Em 0, a terceira capital foi inaugurada.
Em relação ao estabelecimento das capitais, responda:
a) Quais os objetivos políticos do estabelecimento
das duas primeiras capitais?
b) Por que a mudança da capital do Rio de Janeiro
para Brasília pode ser vista como uma mudança
política e estratégica?
1. Unicamp-SP 2013 Na foto abaixo reproduzida, o
presidente Jânio Quadros condecora o líder da Revo-
lução Cubana, Ernesto Che Guevara.
15. UFTM-MG 2012 Observe a imagem da primeira pági-
na do jornal Ultima Hora, de agosto de .
a) Indique o acontecimento que originou a manche-
te principal.
b) Na manchete principal, faz-se referência ao fato
de o país estar alarmado. De fato, instaurou-se
uma crise institucional. Em que consistiu essa cri-
se? Qual foi a saída política para a mesma?
1. FGV 2018 Observe a imagem a seguir:
(hhttp://sul2.com.br)
http://www.museuvirtualbrasil.com.br/museu_brasilia/modules/brttimeline/
index.php?pid=&ano= acesso em 20/0/20
a) Como essa condecoração pode ser explicada no
contexto das propostas do governo Jânio Qua-
dros para as relações externas do Brasil?
b) Quais grupos, no Brasil, criticaram esse aconte-
cimento?
a) Qual decisão os eleitores brasileiros foram convo-
cados a tomar no Plebiscito de 1963, no Brasil?
b) Explique o contexto político brasileiro no qual
ocorreu o Plebiscito.
c) Exponha os desdobramentos políticos do resul-
tado do Plebiscito de 1963.
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2
(Augusto Bandeira." Correio da Manhã", 08.0.2. In: Rodrigo Patto Sá Motta.
Jango e o golpe de 1964 na caricatura, 200. Adaptado).
Augusto Bandeira apud Rodrigo Patto Sá Motta. Jango e o golpe de 1964 na
caricatura, 200.
LAN, Jornal do Brasil,  jun, , IN: MOTTA, Rodrigo P. Sá. Jango e o golpe
de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 200, p. . (Adaptado).
A charge representa João Goulart e Juscelino Kubitschek.
A que episódio político a imagem se refere? Qual é o
contexto político interno em que tal episódio se insere?
Justique sua resposta.
18. UFMG 2012 Analise esta charge. Analise a charge, publicada originalmente em
.0., e identique como ela representa as di-
culdades enfrentadas pelo governo João Goulart em
seu projeto de reformas sociais.
20. PUC-RS 201 Em março de , um movimento mi-
litar derrubou o então presidente João Goulart (PTB),dando origem a uma nova fase da história brasileira,
na qual se estabeleceu uma Ditadura Militar, que du-
rou até meados dos anos 80. Sobre as causas que
deram origem ao Golpe Militar de , NÃO é possí-
vel incluir:
a) as reformas de base que Jango tentou implantar
no seu governo e que deveriam envolver a refor-
ma eleitoral e a reforma agrária, contrariando os
interesses das classes conservadoras.
b) a falta de apoio de Goulart à revolta dos sargen-
tos que defendiam o direito dos indivíduos desta
patente se candidatarem ao Poder Legislativo, o
que descontentou a cúpula militar.
c) as diretrizes da Política Externa Independente
(PEI) adotada pelo governo João Goulart, que pri-
vilegiava alianças diplomáticas com países fora da
zona de controle dos EUA, provocando temores
em Washington sobre os seus reais propósitos.
d) as características políticas de João Goulart, líder
sindicalista e populista, o que levava os setores
conservadores a suspeitar de suas intenções em
estabelecer um regime peronista no Brasil.
e) a visão oposicionista da grande imprensa bra-
sileira, que encetou forte campanha contra o
governo de Goulart, especialmente entre os
anos de 1963 e 1964, defendendo a sua saída
da Presidência da República.
No início da década de 0, o debate político sobre
a implementação das Reformas de Base gerou uma
forte mobilização e radicalização política no País. A
partir da análise dessa charge e considerando outros
conhecimentos sobre o assunto,
a) Explique em que consistia a proposta de Refor-
mas de Base do Governo João Goulart.
b) Explique o posicionamento de cada uma das lide-
ranças políticas representadas na charge.
c) Cite duas manifestações contrárias ao Governo
João Goulart que foram estimuladas pelas pro-
postas de Reformas de Base.
1. Unesp 2012
17. Unesp 2013
1.
a)
b)
c)
d)
e)
2.
EM13CHS1O1
EM13CHS1O1
a)
b)
c)
d)
e)
3.
a)
b)
c)
d)
e)
EM13CHS1O3
HISTÓRIA Capítulo  República Democrática (96-96)
BNCC em foco
As ditaduras no Brasil e na América Latina
12
CAPÍTULO
FRENTE 1
No contexto da Guerra Fria, a América Latina assistiu à queda de governos populistas e da
democracia. Países como Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Nicarágua
sofreram golpes e enfrentaram anos de ditadura. Na maior parte dos casos, houve apoio
dos Estados Unidos, que temiam a ascensão do comunismo após a revolução cubana.
Assim como o contexto mundial favoreceu a instauração dos governos ditatoriais, o fim da
Guerra Fria contribuiu para encerrar esse regime em quase todos os casos. Permanecia,
no entanto, uma herança autoritária, além de uma grave situação econômica na maior
parte dos países da América Latina.
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32 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
América Latina no contexto da
Guerra Fria
Em 1959, concretizou-se a Revolução Cubana, a qual
culminou, nos anos seguintes, na instauração do socialismo
e no rompimento com os Estados Unidos. A revolução em
Cuba marcou definitivamente a entrada da América Latina
na Guerra Fria. A partir da década de 1950, o marxismo ga-
nhou espaço no continente, principalmente entre artistas e
intelectuais de maneira geral. Além do pensamento marxista,
ideias nacionalistas e desenvolvimentistas constavam na
pauta dos governos populistas, como vimos anteriormente.
Nesse contexto, o brasileiro Glauber Rocha (1939-
-1981) capitaneou o movimento conhecido como Cinema
Novo, sobre o qual nos aprofundaremos mais adiante, e o
colombiano Gabriel García Márques (1927-2014) escreveu
Cem Anos de Solidão (1967), o romance latino-americano
mais conhecido do século XX, no qual denunciava o impe-
rialismo estadunidense no massacre a trabalhadores que
se rebelaram contra a multinacional United Fruit Company.
padre colombiano Camilo Torres (1929-1966), o peruano
Gustavo Gutiérrez, o salvadorenho Oscar Romero (1917-
-1980) e o brasileiro Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016),
muitos dos quais defendiam mudanças sociais profundas
como concretização da proposta cristã. O papa João Paulo II
(1920-2005), no final da década de 1970, se opôs feroz-
mente à Teologia da Libertação, postura que foi seguida por
diversos setores conservadores da Igreja Católica.
Política externa estadunidense
No contexto de Guerra Fria, os Estados Unidos aban-
donaram a política da boa vizinhança e redesenharam suas
diretrizes de relações externas. Enquanto na Segunda
Guerra Mundial o combate foi travado contra o nazismo e
o Eixo, que formavam a imagem do inimigo externo, durante
a Guerra Fria tornou-se imperativo extirpar internamente
o inimigo, o que consistia em combater o comunismo em
fábricas, bairros de camadas populares, universidades. Nos
Estados Unidos, essa postura foi impulsionada pelo macar-
thismo, termo inspirado no senador republicano Joseph
McCarthy (1908-1957), que presidiu o Comitê de Atividades
Antiamericanas. Na América Latina, esse papel coube às
forças armadas, que receberam treinamento estadunidense.
A pretensão estadunidense de proteger a América era
antiga. A Doutrina Monroe, instituída em 1823, incumbia os
Estados Unidos de “proteger” a América dos colonizadores
europeus. No contexto da Guerra Fria, passaram a “proteger”
a América da influência soviética, mesmo que para isso fosse
necessário intervir militarmente nesses países.
A partir da década de 1960, os Estados Unidos esta-
beleceram alianças com forças conservadoras de países
latino-americanos para que governos militares, ditatoriais,
anticomunistas e alinhados aos Estados Unidos tomassem
o poder. A justificativa dessa política externa era de que a
democracia seria incapaz de conter o comunismo. No Chile,
por exemplo, a CIA (sigla em inglês para Agência Central
de Inteligência) forneceu cinco milhões de dólares para
que os caminhoneiros entrassem em greve, sabotando o
abastecimento no país e causando fome no governo de
esquerda de Salvador Allende.
Cena de Terra em transe, uma das produções de Glauber Rocha que
abordam a desigualdade social.
O poeta Pablo Neruda (1904-1973), eleito senador
no Chile em 1945 pelo Partido Comunista, escolheu a
“América” como um de seus principais temas e o uruguaio
Eduardo Galeano (1940-2015), em 1971, denunciou o co-
lonialismo e o imperialismo no clássico As Veias Abertas
da América Latina.
Na educação, a partir de 1963, o pedagogo e intelec-
tual Paulo Freire (1921-1997), amplamente reconhecido
em todo o mundo, passou a formular um programa de
alfabetização das massas. Com base no conceito de edu-
cação libertária, sua proposta era respeitar a autonomia
e a liberdade do educando. Cabe notar que além de
ensinar a ler e escrever, a alfabetização tornava essas
pessoas aptas ao voto – aspecto especialmente relevan-
te quando consideramos que essas iniciativas estavam
ligadas ao movimento do pós-colonialismo e do terceiro
mundismo, críticos do colonialismo e do imperialismo,
que serão abordados na frente 2.
Na Igreja Católica, a Teologia da Libertação, corrente
teológica cristã desenvolvida na América Latina na década
de 1960, era representada, entre outras pessoas, pelo
John Kennedy (1917-1963), presidente estadunidense, em discurso no
aniversário da Aliança para o Progresso, 1962. O programa dava assistência
econômica à América Latina para explicitar a eficiência do capitalismo e a
influência dos Estados Unidos em países latino-americanos.
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Dois gabinetes estratégicos anticomunistas, ligados
à CIA, foram instalados no Brasil: o Instituto Brasileiro de
Ação Democrática (Ibad) e o Instituto de Pesquisa e Estudos
Sociais. Ambos contribuíram para que a opinião pública se
posicionasse contra o governo de João Goulart e ajudaram
na organização de manifestações contrárias às reformas
de base.
Embora o apoio dos Estados Unidos tenha favorecido
a instauração dos regimes ditatoriais na América Latina, os
golpes de Estadoforam organizados dentro dos países lati-
no-americanos, encabeçados pelos militares anticomunistas
e sustentados pela classe média, pela grande mídia, pelo
empresariado, por grandes proprietários rurais e por parte da
Igreja Católica. Esse apoio de setores da sociedade civil levou
os historiadores a usarem a expressão golpe civil-militar.
Vale lembrar que quase todos os governos que sofre-
ram golpe de Estado na América Latina não eram comunistas
ou socialistas, mas reformistas e nacionalistas. João Goulart,
no Brasil, Jacobo Arbenz Guzmán (1913-1971), na Guate-
mala, e até mesmo Salvador Allende (1908-1973), o único
declaradamente socialista, buscaram, no primeiro momento,
não romper relações com os Estados Unidos. Além disso,
os soviéticos pouco ajudaram os revolucionários latino-
-americanos, mantendo a política de respeito às áreas sob
a influência político-econômica dos Estados Unidos.
Nós estamos tomando medidas complementares
com os patrocínios disponíveis, visando colaborar com
o fortalecimento das forças de resistência. Elas incluem
suporte sigiloso para comícios pró-democracia (a próxima
grande manifestação será no dia 2 de abril no Rio, e outras
estão sendo programadas), discreta referência ao fato de
o USG [United States Government] estar profundamente
interessado nos eventos, e encorajamento [do] sentimento
democrático e anticomunista no Congresso, nas Forças
Armadas, nos grupos de estudantes e líderes sindicais sim-
páticos à política norte-americana, na Igreja e no mundo
dos negócios. Num futuro próximo, poderemos requisitar
modestos fundos suplementares para outros programas
sigilosos de ação.
Saiba mais
[...] O golpe de Estado não é um golpe no Estado ou
contra o Estado. Seu protagonista se encontra no interior
do próprio Estado, podendo ser, inclusive, o próprio go-
vernante. Osmeiossão excepcionais, ou seja, não são
característicos do funcionamento regular das instituições
políticas. Tais meios se caracterizam pela excepcionalida-
de dos procedimentos e dos recursos mobilizados. Ofimé
a mudança institucional, uma alteração radical na distri-
buição de poder entre as instituições políticas, podendo
ou não haver a troca dos governantes. Sinteticamente,
golpe de estado é uma mudança institucional promovida
sob a direção de uma fração do aparelho de Estado que
utiliza para tal de medidas e recursos excepcionais que
não fazem parte das regras usuais do jogo político.
Atenção
As ditaduras na América Latina
Os golpes que ocorreram no Irã, em 1953, e na
Guatemala, em 1954, definiram padrões da política externa
dos Estados Unidos na Guerra Fria que se repetiram na
fracassada invasão da Baía dos Porcos (1961), em Cuba,
no Brasil (1964), na República Dominicana (1965), no
Peru e na Bolívia (1968), no Chile (1973), no Uruguai
(1973), no Paraguai e na Argentina (1976). De acordo
com o historiador Oswaldo Coggiola, todos os regimes
militares latino-americanos tiveram os seguintes pontos em
comum: fortalecimento da instituição militar, o que inclui a
militarização da vida social e política (por exemplo, aulas de
educação cívica nas escolas); dissolução das instituições
representativas; anticomunismo declarado; falência ou crise
dos partidos políticos tradicionais.
Há ainda outra semelhança entre todos eles: o terroris-
mo de Estado, empregado com a justificativa de combater
as forças de esquerda, materializado no aumento dos
gastos militares. Para se ter uma ideia, os gastos com ar-
mas compradas de empresas estadunidenses durante os
períodos ditatoriais cresceram 96,3% na Argentina e 199%
no Peru. Entre 1976 e 1983, funcionaram na Argentina
362 campos de concentração e extermínio, por onde pas-
saram militantes políticos, ativistas sociais e opositores em
geral do governo. No Chile, nas primeiras semanas após
o golpe, iniciou-se a chamada “caravana da morte”, que
34 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
consistia na detenção sistemática de ativistas políticos e no envio deles aos campos de concentração. Esse terrorismo
estatal incluiu ainda a difusão das práticas de tortura física e psicológica, como choques elétricos, estupros e ameaças
contra familiares.
Cabe notar que havia uma articulação entre as várias ditaduras latino-americanas e os Estados Unidos. Em 1970, entrou
em ação a Operação Condor, uma cooperação entre as ditaduras de Brasil, Bolívia, Chile, Uruguai, Paraguai e Argentina,
coordenadas pela CIA para prender e executar a oposição em seus respectivos países, trocando informações, pessoas,
técnicas de perseguição e de tortura. O Paraguai, onde a ditadura foi comandada por Alfredo Stroessner (1912-2006)
durante 35 anos, foi o centro dessas operações.
Observe, no mapa a seguir, informações sobre as ditaduras militares na América Latina, as quais trataremos em linhas
gerais mais adiante.
América Latina: ditaduras militares – 1960-1990
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
ATLÂNTICO
Golfo do
México
ESTADOS
UNIDOS
BRASIL
PERU
COLÔMBIA
A
BOLÍVIA
ARGEN
GUATEMALA
EL SALVADOR
TA RICA
A
720 km
N
0°
80°
Trópico
de Capr
icórnio
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Equador
Experiência socialista
Tortura
ural
Guerrilha
Ditatorial
Constitucional
Socialista
Colônia, outros
Regime
pico do
militarismo
(1973)
Trajetória por país
ano a ano (1961-1990)
1961 1970 1980 1990
Fonte: elaborado com base em
Golpe Militar de . Ditaduras
militares na América Latina dos
anos -. Atlas histórico do
Brasil. FGV-CPDOC. Disponível
em: https://atlas.fgv.br/marcos/
revolucao-de-/mapas/dita-
duras-militares-na-america-latina-
dos-anos--. Acesso em:
 jan. .
A ditadura na Guatemala (1954-1996)
O primeiro golpe militar na América Latina ocorreu na Guatemala. Entre 1944 e 1954, duas eleições democráticas
levaram ao poder dois presidentes nacionalistas. O primeiro deles, Juan José Arévalo (1904-1990), professor universitário,
instalou um novo código trabalhista, uma nova constituição e a previdência social. O segundo, o militar Jacobo Arbenz
Guzmán (1913-1971), levou a cabo um programa de reforma agrária, confiscando terras da empresa estadunidense United
Fruit Company (a mesma do massacre dos trabalhadores colombianos retratado no livro de García Márquez), a qual tinha
ligações com o chefe da CIA naquele período.
Internamente, o país estava dividido. Setores do exército, da Igreja Católica e das classes médias acusavam o governo
de comunista. Em contrapartida, setores marxistas do governo providenciavam armas da Tchecoslováquia, país que integrava
o bloco soviético. Essa relação foi o estopim para um golpe militar, em 1954, em aliança com os Estados Unidos, que tirou
Arbenz do poder e instaurou uma ditadura no país.
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A ditadura no Uruguai (1973-1985)
O Uruguai gozava relativa tranquilidade política e pros-
peridade econômica desde a Segunda Guerra Mundial. O
país chegou a experimentar, entre 1951 e 1966, a possibi-
lidade de substituir o presidente por um comitê executivo,
com o objetivo de evitar o . Em 1964, um
grupo guerrilheiro de base ideológica marxista-leninista
conhecido como Tupamaros, sob inspiração cubana, rea-
lizou ousadas operações para tomar o poder no Uruguai.
Em 1967, o presidente uruguaio declarou lei marcial,
isto é, um regime que suspende garantias civis previstas
na Constituição, para combater os Tupamaros, ao que se-
guiu uma gradual tomada de poder, concluída em 1973 e
justificada para combater o “perigo” comunista. A ditadura
se institucionalizou e o Uruguai passou a ser o país com o
maior número de prisioneiros políticos per capita do mundo,
com 1% da população presa.
Nesse contexto de mudanças, em 1964, as Forças Ar-
madas, encabeçadas pelos comandantes René Barrientos
(1919-1969) e Alfredo Ovando Candía (1918-1982),
derrubaram o governo do MRN, acusando-o de comunista.
José Pepe Mujica, presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, também foi um
dos guerilheiros dos Tupamaros. Na fotografia, Mujica em 2017.
A ditadura na Bolívia (1964-1982)
A Bolívia detém o recorde mundial de golpes militares–
no período aqui estudado, foram três golpes. No início do
século XX, o país era governado pela oligarquia agrária e do
estanho, que não investia em infraestrutura ou em projetos
de diversificação econômica. Uma insurreição camponesa
e mineira ocorrida em 9 de abril de 1952 derrubou essa
aristocracia do poder e destruiu o antigo exército. O novo
governo, composto pelo Movimento Nacionalista Revolucio-
nário (MRN), cujo líder era Victor Paz Estenssoro (1907-2001),
reconstruiu as Forças Armadas com a ajuda de missões mi-
litares e créditos estadunidenses.
Apoiado pelos sindicatos de mineiros e suas milícias,
o MRN também instaurou o voto universal, nacionalizou as
minas de estanho, concedeu melhorias salariais e outras
garantias aos mineiros e promoveu uma reforma agrária
que beneficiou 60 mil famílias.
René Barrientos, 1967.
Porém, diante das dificuldades econômicas decorren-
tes da política de Barrientos, em 1968, o general Ovando
Candía comandou um “golpe dentro do golpe” que desti-
tuiu o então governo e instaurou uma política nacionalista
de estatização de petrolíferas estadunidenses. Contra sua
política de nacionalização, Candía também foi derrubado
e eleições foram convocadas.
Em 1970, foi eleito Juan José Torres (1920-1976) com
a proposta de governar com a participação de assembleias
populares, criando uma república socialista democrática.
Antes de completar um ano de mandato, foi derrubado por
um golpe militar, liderado pelo general Hugo Banzer Suárez
(1962-2002). Torres fugiu para Buenos Aires, mas foi assas-
sinado em ação coordenada pela Operação Condor. Banzer
assumiu como ditador e proibiu as atividades políticas. Em
seu governo, houve aumento das exportações de estanho.
Capa do livro Si me permiten hablar (Se me permitem falar), biografia da
mineira Domitila Barrios de Chungara (1937-2012), que se tornou uma líder da
resistência das mulheres bolivianas contra a ditadura em seu país.
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36 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
Em 1980, o general Luis García Meza (1929-2018)
liderou um novo golpe de Estado na Bolívia, conhecido
como “Golpe da Cocaína”, que teve apoio de mercenários
argentinos, italianos e nazistas.
Na década de 1980, a economia da Bolívia girou em
torno do narcotráfico, que também era administrado por
militares. Nesse contexto, a inflação estava fora do controle
e o governo se misturava aos cartéis do tráfico. Meza foi
obrigado a renunciar em agosto de 1981, quando fugiu
para o Brasil. O ditador, entretanto, foi levado de volta ao
país, onde foi julgado. O primeiro presidente a assumir o
cargo após o fim da ditadura foi Victor Paz Estenssoro, que
cumpriu o mandato de 1985 a 1989 e lutou, sem sucesso,
para estabilizar o país.
A ditadura na Argentina (1966-1973
e 1976-1983)
Como vimos anteriormente, após a derrubada de Juan
Domingo Perón, em 1955, a Argentina passou por uma sé-
rie de governos civis instáveis que estiveram em constante
conflito com os setores militares e católicos da sociedade.
No dia 28 de junho de 1966, o exército Argentino, sob o
comando de Juan Carlos Onganía (1914-1955), destituiu o
governo peronista da União Cívica Radical, partido político
argentino de orientação social-democrata.
Onganía pôs fim à autonomia das universidades, re-
primiu a oposição e deu o controle da educação à Igreja
Católica. No entanto, durante a ditadura militar argentina
a economia foi um fracasso, houve baixos investimentos
estrangeiros e a dívida externa ultrapassou cinco bilhões
de dólares.
o general Roberto Levingston (1920-2015) depôs Onganía.
Sem conseguir conter a crise, Levingston também foi de-
posto, agora pelo general Alejandro Lanusse (1918-1996) .
Em novembro de 1970, Juan Perón, que estava exilado
na Espanha, articulou com empresários e partidos argen-
tinos uma coalizão política que recebeu o nome de Hora
dos Povos. Como Perón estava impedido de candidatar-se,
Héctor Cámpora (1909-1980), um peronista incondicional,
venceu as eleições em junho de 1973. Perón, por sua vez,
deu um golpe de Estado, substituiu Cámpora e tornou-se
presidente da Argentina. No entanto, morreu pouco tempo
depois, em julho de 1974. María Estela Martínez de Perón,
esposa de Perón e conhecida como Isabelita, assumiu a
presidência e, com ela, a ultradireita peronista.
Em um contexto de ampla instabilidade, em março de
1976, sob a justificativa de acabar com a guerrilha fabril,
uma junta militar destituiu Isabelita e tomou o poder. Na-
quele momento, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru,
Brasil, Paraguai e Equador estavam controlados por dita-
duras militares.
A ditadura conduziu a Argentina a uma intensa crise
econômica, marcada pela saída de capital estrangeiro, além
de queda na produção industrial, falência de pequenas e
grandes empresas, desemprego e diminuição da condição
de vida dos assalariados. Em 1980, uma nova junta militar
tomou o poder, mas foi derrubada menos de um ano depois
por outra junta.
Em 1982, o cenário argentino tornou-se ainda mais
complexo quando os militares declararam guerra ao Reino
Unido pela posse das Ilhas Malvinas, também conhecidas
como Ilhas Falkland, no Atlântico Sul, colonizadas pelos
ingleses desde o século XIX.
No dia 2 de abril de 1982, a Argentina ocupou as ilhas,
dando início ao confronto com o Reino Unido, que tinha
apoio internacional, incluindo dos Estados Unidos, e o su-
porte logístico do Brasil e do Chile.
Repressão policial na Universidade de Buenos Aires, Argentina, em 29 de
julho de 1966. Por ordem de Onganía, militares interviram nas universidades
contra professores e estudantes.
O período entre 1969 e 1976 ficou conhecido como
os anos de fogo na Argentina. A expressão se deve aos
assassinatos dos Montoneros, grupo guerrilheiro compos-
to por marxistas e peronistas, pelos esquadrões de morte
após interrogatório e tortura.
Em maio de 1969, na cidade de Córdoba, centro indus-
trial do país à época, ocorreu o Cordobazo, levante liderado
por trabalhadores e estudantes que entraram em greve e,
armados com projéteis fabricados por eles, derrotaram as
forças armadas. O povo controlou cerca de 150 quarteirões
em Córdoba. Nesse cenário de crise, em meados de 1970,
Militares argentinos capturados em Port Stanley, capital das Ilhas Malvinas,
em 1982.
Em 16 de junho de 1982, os argentinos foram derrota-
dos. O conflito acabou com o que restava do prestígio da
ditadura e dos militares argentinos. As eleições foram então
convocadas para outubro de 1983 e vencidas por Raúl
Alfonsín (1927-2009), candidato da União Cívica Radical.
Chegava ao fim a ditadura militar na Argentina.
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A ditadura no Chile (1973-1990)
Durante quase um século, entre 1830 e 1920, gover-
nos conservadores e liberais alternaram-se no poder no
Chile, embora houvesse poucas diferenças ideológicas
entre eles. Nesse período, ocorreram regimes presiden-
cialistas e parlamentaristas, sempre restritos à participação
da elite econômica chilena.
Após a Guerra do Pacífico (1879-1884), o Chile anexou
ao seu território o sul do Peru, que possuía minas de cobre
e de salitre, e parte da Bolívia, que perdeu sua saída para
o mar. Desse modo, o Chile consolidava sua economia mi-
neradora e adquiria seus contornos atuais. O crescimento
da economia mineradora, sobretudo de cobre, foi respon-
sável por diversificar a sociedade, multiplicando os setores
urbanos e iniciando a formação de uma classe operária
mineradora forte, responsável pela criação de sindicatos
e partidos de esquerda no início do século XX.
No entanto, o Chile não conseguiu se manter imperme-
ável à Guerra Fria. Na década de 1960, as promessas de
uma reforma agrária, que criaria um quadro de pequenos
proprietários e de investimentos em industrialização, não
foram cumpridas, gerando levas de migrantes ruraispara a
cidade. Em 1965, foi fundado o Movimento de Esquerda
Revolucionária (MIR), o principal grupo marxista armado do
Chile. Em 1969, jovens da esquerda cristã se organizaram
no Movimento de Ação Popular Unificado, o Mapu.
Nesse contexto, Salvador Allende, candidato da Uni-
dade Popular (UP), coalizão de partidos políticos formada
em 1969, venceu as eleições presidenciais de 1970. O
Partido Socialista, do qual Salvador Allende era membro,
e o Partido Comunista Chileno encabeçavam a Unidade
Popular, que contava também com o Mapu e uma ampla
base de apoio popular.
O programa da UP previa transformações de caráter
socialista considerando as estruturas políticas vigentes, por-
tanto, não haveria uma revolução armada. Nesse sentido,
Allende se comprometia a realizar apenas as reformas que
estivessem de acordo com a legislação. Além disso, ao
assumir o poder, em 1970, ele assinou um estatuto de ga-
rantias prometendo respeitar as estruturas estatais e manter
intactos o sistema educacional, a Igreja Católica, os meios
de comunicação em massa e as Forças Armadas.
Assim, Salvador Allende avançou na estatização de
setores-chave da economia, como o sistema bancário,
as empresas de seguro, a indústria têxtil, a indústria de
borracha e o petróleo. O elemento central do pacote da
UP, entretanto, foi nacionalizar sem indenização as minas
de cobre de propriedade estadunidense, o que deu ao
governo Allende o controle sobre a principal indústria de
exportação do Chile. Com o aumento de salários e o con-
trole de preços, Allende pretendia aumentar o consumo e
conter a inflação. No campo, o presidente deu continuida-
de ao projeto de reforma agrária herdado da década de
1960, garantindo as indenizações aos proprietários rurais
e o direito de manter o uso dos melhores acres de terra e
do melhor maquinário agrícola.
Saiba mais
Salvador Allende, 1973.
Apesar de as reformas de Allende serem limitadas, os
Estados Unidos, a classe média conservadora e o empresa-
riado chileno as consideraram uma ameaça, sobretudo pelo
contexto histórico em que eram implantadas. Em oposição,
a classe empresarial recusou-se a fazer investimentos, di-
minuiu a produção e concentrou suas vendas no mercado
paralelo. Em 1972, após receber cinco milhões de dólares
da CIA, os donos das frotas de caminhões entraram em gre-
ve. O Congresso, dominado pela oposição, bloqueou todas
as iniciativas do governo. Nas Forças Armadas, crescia a
mobilização a favor de um golpe, com ações terroristas de
grupos paramilitares fascistas. O braço militar do golpe,
constituído pelo grupo fascista Pátria e Liberdade, aumen-
tava o nível de ações terroristas no país.
Essa desestabilização em larga escala promovida pela
oposição impôs uma situação caótica ao Chile. A classe
trabalhadora reagiu fortemente à sabotagem econômica
do empresariado, tomando o controle de diversas ruas e
fábricas. Dessa luta conjunta emergiu o famoso cordón in-
dustrial, um modelo de organização operária no qual os
trabalhadores, reunidos em uma assembleia, controlavam
a produção de diversas fábricas. Nas ruas, integrantes do
movimento MIR e da organização Pátria e Liberdade entra-
ram em confrontos que resultaram em centenas de mortos.
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38 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
Allende havia programado para o dia 11 de setembro
de 1973 um discurso de renúncia que seria transmitido via
rádio e televisão. A ideia era passar o poder para Eduardo
Frei, da Democracia Cristã, tentando, assim, uma solução
institucional para evitar um possível golpe de Estado. No
entanto, no dia em que Allende faria o pronunciamento,
uma junta militar golpista cercou o Palácio da Moneda, resi-
dência oficial do governo chileno, e o obrigou a abandonar
o palácio até as 11h da manhã, momento em que aviões
estadunidenses começaram a bombardear as instalações
do edifício. Allende recusou-se a se entregar e foi morto
pelos militares.
Em 27 de junho de 1974, o general Augusto Pinochet
(1915-2006) assumiu o título de Chefe Supremo da Nação,
impondo uma ditadura no Chile que durou mais de 15 anos.
Após o golpe de 11 de setembro de 1973, sucederam-se
inúmeras perseguições que lotaram as cadeias e fizeram
com que outros espaços fossem usados para manter os
presos políticos, como o Estádio Nacional.
O Congresso foi fechado e o vigorou
por 10 anos. Esse contexto possibilitou que os militares
dobrassem seus salários. Em 1974, foi criada a Dirección
de Inteligencia Nacional (Dina), substituída pela CNI em
1977, a polícia política de Pinochet, cujos agentes eram
treinados por oficiais de inteligência estadunidenses. A cen-
sura da imprensa, o estado de sítio, o toque de recolher,
a suspensão de partidos, o fechamento do Congresso, o
uso da tortura e a perseguição a grupos marxistas defini-
ram o terrorismo do Estado chileno promovido pelo ditador
Augusto Pinochet.
Constituição de 1981, Pinochet continuou governando com
amplos poderes, o que o permitiu legislar mediante decre-
tos, dissolver a Câmara e nomear senadores sem qualquer
consulta ao Parlamento.
A partir de abril de 1975, a ditadura chilena delegou a
responsabilidade econômica do país aos economistas da
Escola de Chicago, discípulos do economista neoliberal
Milton Friedman (1912-2006). Os Chicago Boys, como eram
chamados, afirmavam que todos os problemas econômicos
do Chile eram decorrentes da intervenção do Estado, que
reduzia a concorrência, aumentava os salários artificial-
mente e produzia inflação. As políticas neoliberais, então,
ganharam uma nova escala com a experiência chilena.
O governo deixou de ser um agente promotor do de-
senvolvimento e assumiu a função de regulamentar a vida
econômica. Os gastos sociais do governo foram drastica-
mente reduzidos com a privatização nas áreas de saúde,
educação e previdência social. Essa diminuição do papel do
Estado, no entanto, não ocorreu em suas funções militares
e repressivas.
O governo chileno diminuiu os entraves para importa-
ção e conseguiu conter a inflação, reduzindo-a de 500%
para 10% ao ano. Além disso, atingiu um crescimento mé-
dio de 7,5% entre 1976 e 1982. Ao mesmo tempo, o país
retrocedeu: deixou de ter uma estrutura industrial média e
passou à condição de exportador de matérias-primas, o que
comprometeu seu futuro com uma crescente dívida externa.
Em 1982, após longo período de crescimento, o PIB
chileno diminuiu 19,4%, e 90% da pauta de exportação do
país ainda era de produtos primários. Em 1972, 27% da po-
pulação vivia em habitações precárias, enquanto em 1988,
esse número se elevou para 40%. A crise econômica logo
se tornou uma crise sociopolítica, e, a partir das jornadas
de protesto de 1983, o regime ditatorial de Pinochet entrou
definitivamente em crise.
Em 1988, a população chilena votou em um plebiscito
pela realização de novas eleições. Era o fim do regime
ditatorial de Pinochet, que entregou a presidência ao de-
mocrata-cristão Patricio Aylwin (1918-2016), vencedor das
eleições em 11 de março de 1990.
A ditadura na Nicarágua (1934-1979)
No início da década de 1970, a Nicarágua tinha 2,5
milhões de habitantes, dos quais 75% eram analfabetos.
Além disso, a expectativa de vida no país era de 53 anos,
a mais baixa da América Central, e o total de escolas de
ensino fundamental chegava a apenas cem. Entre as déca-
das de 1930 e 1970, a Nicarágua foi governada por uma
única família, os Somozas, que assumiu o poder após o
assassinato de Augusto César Sandino, em 1934. Aliada
dos Estados Unidos, a família Somoza auxiliou barcos e
aviões estadunidenses que invadiram Cuba pela Baía dos
Porcos, em 1961, e contribuiu com o golpe em El Salvador,
em 1972.
A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN),
movimento revolucionário de nicaraguenses, formou-se
em Havana inspirada em táticas e ideias das guerrilhas
cubana e argelina. Entre as razões que mobilizavam a luta
dos sandinistas estavam a reforma agrária, a nacionalização
Augusto Pinochet, 1986.
Cerca de 20 mil pessoas foram mortas pelo regime
de Pinochet. Além disso,30 mil viraram prisioneiras, 25
mil estudantes foram expulsos de suas escolas e 200 mil
operários foram demitidos. Mesmo após a promulgação da
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das empresas estrangeiras, a reforma urbana, o fim do anal-
fabetismo, os direitos dos trabalhadores, a expropriação
das propriedades dos Somoza, a criação de uma milícia
popular e o fim da dominação estadunidense. Clamavam
também pelo fim da discriminação contra os indígenas das
etnias Miskito e Sumo e contra os negros. Sandino, herói
nacionalista morto pela ditadura, deu o nome e tornou-se
símbolo do movimento. Do total de integrantes da FSLN,
25% eram compostos por mulheres. Setores da Igreja Ca-
tólica também participaram da Frente.
Nacional Opositora (UNO), composta por 14 partidos e com
ajuda financeira estadunidense. Em 2007, contudo, Daniel
Ortega voltou à presidência da Nicarágua no contexto da
ascensão do chavismo na América Latina.
Selo cubano da década de 1980 que homenageia Augusto César Sandino e
a Frente Sandinista de Libertação Nacional.
Por duas décadas os sandinistas lutaram contra os
Somozas, compondo guerrilhas nas montanhas e ataques
à Guarda Nacional, até conseguirem derrubar a ditadura
em 19 de julho de 1979, quando se formou um governo
provisório constituído por três sandinistas – Daniel Ortega,
Moisés Hassan e Sergio Ramírez –, um industrial milionário
– Alfonso Robelo – e Violeta Chamorro. Em 1984, ocorre-
ram as primeiras eleições nacionais.
O novo governo nacionalizou os bancos e assumiu o
controle da exportação de algodão, café e açúcar. As pro-
priedades de Somoza, um quarto das terras aráveis do país,
tornaram-se fazendas estatais. No entanto, parte da produ-
ção industrial e algumas atividades agrícolas continuaram
nas mãos de empresas privadas e receberam empréstimos
governamentais. O governo afirmava que queria construir
uma economia mista, com elementos socialistas e capita-
listas combinados.
O presidente dos Estados Unidos à época, Ronald
Reagan (1911-2004), que governou entre 1981 e 1989,
promoveu boicote ao país, fornecendo armas e treinamen-
to para os contrarrevolucionários. Ao mesmo tempo que
promovia uma guerra militar, os Estados Unidos impuse-
ram à Nicarágua um embargo comercial total, minando a
economia nicaraguense. Em 1988, a inflação na Nicarágua
chegou a cinco dígitos.
Em 1987, o Diretório Nacional da FSLN decidiu, por
unanimidade, afastar-se do socialismo e confiar nos meca-
nismos de mercado. Em 1990, os sandinistas, novamente
representados por Daniel Ortega e Sergio Ramírez, perde-
ram as eleições para Violeta Chamorro, da coalizão União
Violeta Chamorro recebendo a faixa presidencial; à direita, Daniel Ortega.
Rivas, Nicarágua, 1990.
A ditadura no Brasil (1964-1985)
As terminologias “ditadura envergonhada”, “ditadura
escancarada”, “ditadura derrotada”, “ditadura encurralada”
e “ditadura acabada”, aqui usadas para demarcar os dife-
rentes momentos da ditadura militar no Brasil, correspondem
à coleção de livros escritos pelo jornalista Elio Gaspari e
publicados entre 2002 e 2016. Os títulos representam um
aspecto importante das mudanças ocorridas no regime dita-
torial brasileiro ao longo dos anos. No entanto, deve-se levar
em conta que essas terminologias não são consensuais, uma
vez que para alguns historiadores a obra de Gaspari promove
um revisionismo conservador da ditadura no Brasil. Ainda
assim, essa divisão reflete a percepção de que não havia,
de antemão, um projeto específico de ditadura. Ou então de
que se tratava de uma série de projetos em disputa.
A “ditadura envergonhada” (1964-1967)
O golpe foi apoiado por civis liberais, incluindo os políti-
cos ligados à UDN, por uma parcela da Igreja Católica, pelo
empresariado atrelado ao capital nacional e multinacional,
além dos militares associados ao ideal da Doutrina de Segu-
rança Nacional. Apesar disso, nem todos os que apoiaram
o golpe mantiveram seu apoio ao longo da ditadura. Carlos
Lacerda, em 1966, juntou-se aos antigos rivais políticos
Juscelino Kubitschek e João Goulart para formar a Frente
Ampla em oposição à ditadura. Da Igreja Católica, como
vimos anteriormente, membros do clero, entre eles Dom
Paulo Evaristo Arns, e adeptos da Teologia da Libertação
também criaram uma forte resistência ao regime.
A ditadura não foi unanimidade nem sequer entre os
militares, que inclusive representaram um dos grupos mais
perseguidos durante todo o período. Mesmo entre os que
apoiaram a ditadura, havia diferentes projetos que divergiam
sobre o período de vigência do regime, como o da ala cas-
telista, que defendia um regime breve, e o da linha dura,
favorável a um regime prolongado. As diferenças, porém,
limitavam-se à duração da ditadura, uma vez que ambos
defendiam as mesmas práticas de coerção e autoritarismo.
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40 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
Como veremos adiante, a ditadura no Brasil foi construída conforme o desenrolar da conjuntura nacional, a qual incluía
conflitos internos e o contexto internacional da Guerra Fria.
GENERAL CASTELO BRANCO 
Logo após o golpe de 1964, o general Humberto Castelo Branco (1897-1967), um dos articuladores da derrubada
de João Goulart, foi nomeado para a presidência do novo regime.
Um dos principais marcos do período da ditadura foi a formulação dos chamados Atos Institucionais, que visavam
promover alterações na Constituição de 1946.
O Ato Institucional número  (AI-1), estabelecido ainda em 1964, fortaleceu o Poder Executivo, garantindo-lhe per-
missão para declarar estado de sítio, aprovar projetos de lei que não fossem discutidos no Congresso em um intervalo de
30 dias, além de conferir ao Estado o poder de aposentar, de maneira compulsória, civis e militares, suspender direitos
políticos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais.
O Serviço Nacional de Informações (SNI) também foi implantado com caráter coercitivo, já que atuava como central de
inteligência para investigar os possíveis opositores do regime. O SNI foi o responsável pela invasão da União Nacional dos
Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro, pela extinção da Comando Geral dos Trabalhadores e por colocar as Ligas Campone-
sas na ilegalidade. A perseguição política aos opositores do regime, portanto, esteve presente desde o início da ditadura.
No âmbito econômico, foram estabelecidas medidas recessivas, tais como o corte de subsídios ao trigo e ao petró-
leo, como havia proposto o Plano Trienal, e o aumento de impostos sobre energia elétrica e telefonia. Os salários foram
reajustados anualmente para valores inferiores à inflação vigente e, para evitar manifestações por parte dos trabalhadores,
os sindicatos eram rigidamente controlados pelo governo.
Outro aspecto importante que favoreceu o plano econômico foi o alinhamento com os Estados Unidos, o que garantiu
ao Brasil um prolongamento dos prazos para o pagamento da dívida externa com o FMI.
Em 1965 o governo ditatorial sofreu seu primeiro grande teste: as eleições estaduais. Os partidos de oposição ven-
ceram em oito estados, denotando que a ditadura não contava com o apoio que julgava necessário. Observe, no mapa a
seguir, os partidos que participaram da eleição e como alguns estados votaram.
Brasil: eleições estaduais – 1965
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
PACÍFICO
Equador
Trópico
de Capri
córnio
0°
50° O
RORAIMA
AMAZONAS
RONDÔNIA
ACRE
ARÁ
AMAPÁ
UÍ
CEARÁ
GOIÁS
MINAS
GERAIS
O
NTO
RIO GRANDE
TE
ARAÍBA
SGO
ULO
SANTA
CATARINA
MATO GROSSO DISTRITO
51 4
166169
69 30121
582 80442
59 44
67164
110
7181
938 793
459519
328 305
360 km
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Derrota do regime militar
na eleição de 1965
(oposição)
(situação)
Outros
de votos
Área do PSD
(oposição)
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Área da UDN
(situação)
Intervenção
Estado onde não houve
Coligação vitoriosa
Fonte: elaborado com base
em Castelo Branco a Médici
(-).Atlas histórico do
Brasil. FGV-CPDOC. Disponível
em: https://atlas.fgv.br/marcos/
de-castelo-branco-medici-
-/mapas/derrota-do-
regime-militar-na-eleicao-de-
. Acesso em:  jan. .
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A resposta veio ainda em 1965 com o Ato Institucional número  (AI-2), que extinguiu os partidos políticos e instalou
o bipartidarismo com a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que representaria a situação, e o Movimento Demo-
crático Brasileiro (MDB), que reuniria a oposição. Vale destacar que era uma oposição consentida, já que o AI-1 permitia
que o governo cassasse os mandatos de políticos considerados subversivos. Tendo em vista evitar o mesmo desfecho
que o das eleições de 1965 para os governos dos estados, as eleições presidenciais, previstas para aquele mesmo ano,
foram adiadas e passariam a ser indiretas, realizadas pelo Congresso Nacional.
Em 1966, o Ato Institucional número  (AI-3) estabeleceu que as eleições para governadores e vice-governadores
também seriam indiretas, feitas pelas Assembleias Estaduais. Os governadores eleitos poderiam, então, nomear os pre-
feitos das capitais de seus respectivos estados.
Eleições diretas aconteceriam somente para o Legislativo, com a eleição de senadores, deputados e vereadores, e
para as prefeituras das cidades que não fossem capitais de seus estados.
CONSTITUIÇÃO DE 
Após os três primeiros Atos Institucionais, uma nova constituição foi elaborada em 1967. Legitimada pelo Ato Institu-
cional número  (AI-4), e não por uma constituinte representativa, como ocorre nas democracias, a Constituição de 1967
incorporou os atos institucionais estabelecidos até aquele momento. A partir de então, o Congresso manteve a imunidade
parlamentar e ficou determinado que os cargos políticos só poderiam ser cassados por militares.
No texto constitucional, o Brasil se manteve como República presidencialista e federalista, embora na prática os
estados não tivessem a autonomia que era garantida pela Constituição anterior. O Estado permaneceu laico e a divisão
clássica dos três poderes foi mantida, apesar da preponderância do Executivo sobre os demais. O presidente da República
permaneceu sendo eleito por voto indireto, mas o mandato passou a ser de quatro anos.
A “ditadura escancarada” (1967-1974)
Como veremos, a partir de 1967, a ditadura escancarou seus métodos e propósitos. Gradualmente, os resquícios de
democracia, que até então contribuíram para caracterizar a ditadura como “envergonhada”, deram lugar a uma apare-
lhagem cada vez mais coercitiva. Por isso, o período que se estende de 1967 até 1974 pode ser entendido como o da
“ditadura escancarada”.
Esse processo foi fruto de dois aspectos relacionados entre si: o fortalecimento da oposição e da repressão. Quanto
mais crescia a oposição ao governo, mais a ditadura lançava mão de novos mecanismos repressivos.
Entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, o cenário nacional foi marcado por agitações sociais e
por uma efervescência artística protagonizada pela juventude. Crescidos em meio à Guerra Fria, muitos jovens questiona-
vam as motivações da polarização mundial imposta pelo contexto político. É importante notar que, em 1970, os jovens na
faixa dos 20 anos, diferentemente de seus pais e avós, não haviam vivenciado a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial.
Assim, sentiam-se distantes das justificativas usadas nos ditames ideológicos das guerras. Rejeitavam a disciplina e a
hierarquia – valores comumente atrelados ao exército – e valorizavam a liberdade.
Como vimos anteriormente, fora do Brasil, o período foi caracterizado pelo Movimento dos Direitos Civis e pela con-
tracultura hippie nos Estados Unidos, pela Primavera de Praga, na antiga Tchecoslováquia, e pelo movimento que ficou
conhecido como Maio de 1968, em Paris.
No Brasil, a música e a arte foram largamente utilizadas como forma de protesto durante o período ditatorial. Os
festivais da canção, a Tropicália e o Teatro de Arena são alguns exemplos da expressão artística de protesto da época.
GENERAL COSTA E SILVA 
O Congresso Nacional escolheu o General Costa e Silva (1899-1969), então ministro da Guerra, para a presidência,
e o deputado Pedro Aleixo para a vice-presidência. Costa e Silva era um representante da chamada linha dura.
Ao longo de 1968, uma série de eventos favoreceu o endurecimento da ditadura no Brasil. Greves operárias eclodiram
em Contagem (MG) e em Osasco (SP). No Rio de Janeiro, o assassinato do estudante Edson Luís pela polícia militar provocou
intensa repercussão. Tanto no enterro de Edson como na missa de sétimo dia, a capital fluminense foi palco de conflitos
entre estudantes e a força policial. Em 26 de junho, a Passeata dos Cem Mil reuniu milhares de pessoas contra a ditadura.
Saiba mais
42 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
Em agosto de 1968, a Universidade de Brasília (UnB) foi
invadida pela polícia com a justificativa de fazer uma busca
por lideranças da UNE. Em outubro, estudantes da Univer-
sidade Presbiteriana Mackenzie que eram favoráveis ao
regime enfrentaram estudantes da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da USP que eram críticos da dita-
dura. O conflito ocorreu na Rua Maria Antônia, na cidade de
São Paulo. Além disso, estudantes da UNE organizaram um
congresso secreto na cidade de Ibiúna, no interior de São
Paulo, contra a crescente onda de repressão, mas acabaram
delatados e presos.
Ao final de 1968, no dia 13 de dezembro, foi decre-
tado o Ato Institucional número 5 (AI-5), que determinou
o fechamento do Congresso Nacional até o ano seguinte
e conferiu plenos poderes ao Executivo. O novo ato tam-
bém fez profundas modificações na Constituição de 1967
e proibiu qualquer tipo de atividade ou manifestação so-
bre assuntos de natureza política. Caso a regra não fosse
cumprida, o aparelho repressor do regime poderia impor
a liberdade vigiada, que incluía a proibição de frequentar
determinados lugares.
Além disso, envolvidos em ações que fossem consi-
deradas subversivas poderiam ter seus direitos políticos
cassados por um período de até dez anos. O habeas cor-
pus foi suspenso para casos de crimes políticos, contra a
segurança nacional, a ordem econômica e social e a eco-
nomia popular.
Em agosto de 1969, Costa e Silva foi afastado da
presidência por questões médicas e substituído por uma
junta militar.
JUNTA MILITAR (AGOSTO A OUTUBRO DE 969)
Após o AI-5, houve uma radicalização da oposição ao
adotar a luta armada, o que levou à eclosão de guerrilhas.
Nas cidades, era comum a realização de assaltos a bancos,
chamados empréstimos compulsórios, para financiar a luta
armada. Uma das ações que ganhou maior repercussão
foi o sequestro do embaixador estadunidense no Brasil,
Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, realizado
em conjunto pela Ação Libertadora Nacional (ALN) e pelo
Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8). Como res-
gate, exigiram a libertação de presos políticos.
Atrizes participando da Passeata dos Cem Mil na cidade do Rio de Janeiro RJ,
em 18.
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Assim como a oposição recrudescia, o Estado aumen-
tava o uso da violência contra seus opositores, marcando
o início do período que ficou conhecido como anos de
chumbo. A censura foi institucionalizada, incluindo os meios
de comunicação que apoiaram o golpe, e o AI-14 autori-
zou a aplicação da pena de morte e prisão perpétua nos
chamados casos de guerra psicológica adversa e guerra
revolucionária ou subversiva.
Ainda em 1969, uma emenda constitucional promoveu
outras modificações na Constituição de 1967. Costa e Silva
ainda estava afastado e o AI-16 declarou vagos o cargo
de presidente, cujo mandato foi alterado para cinco anos,
e o de vice-presidente.
GENERAL EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI (969-974)
Durante o mandato do general Emilio Garrastazu Médi-
ci, escolhido pelo Congresso em 1969, houve um intenso
e violentocombate à luta armada, que foi praticamen-
te neutralizada. Nesse cenário de violência, foi criado o
Destacamento de Operações de Informação – Centro de
Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) para centralizar os
aparatos repressivos do governo, como o Departamento de
Ordem Política e Social (Dops) e o Centro de Informações
do Exército (CIE). A tortura, ainda que não institucionaliza-
da formalmente, tornou-se prática comum nos porões dos
órgãos de repressão.
A morte de duas das principais lideranças da luta ar-
mada, Carlos Marighella, da Ação Libertadora Nacional
(ALN), em 1969, e Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR), em 1971, representou o enfraqueci-
mento da guerrilha armada. Também contribuiu para esse
enfraquecimento o assassinato de guerrilheiros na região
do Rio Araguaia, em 1972, que se organizavam para um
levante contra o regime. Observe, no gráfico a seguir, a
quantidade de mortos pela ditadura e de desaparecidos
até 1976.
Com relação à economia, o período foi marcado por
um extraordinário crescimento econômico, que chegou
a quase 14% em 1973, e ficou conhecido como milagre
econômico.
Emílio Garrastazu Médici 105185.
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 1
O encarecimento da mão de obra nos países mais de-
senvolvidos, resultado atribuído também à consolidação do
modelo de , tornou o Brasil atra-
tivo às multinacionais que buscavam mão de obra barata.
O governo contou com apoio internacional, principalmente
dos Estados Unidos, que concedeu novos empréstimos. Em
troca, o governo brasileiro garantiu o arrocho salarial, polí-
tica de reajuste salarial que não acompanhava a inflação e
defasava o poder de compra dos salários. Com o incremento
de crédito, a classe média conseguiu ampliar seu consumo.
Nesse cenário, no entanto, a desigualdade social foi ressal-
tada, considerando o empobrecimento das classes baixas
e a prosperidade de setores da classe média.
A sensação de estabilidade econômica era reforçada
pela propaganda nacionalista e ufanista. Slogans como “Brasil:
ame-o ou deixe-o” ou “ninguém segura esse país” eram fre-
quentemente encontrados nos jornais e nas ruas. A construção
Brasil: desaparecidos e mortos pela ditadura – 1964-1976
1964 1965 1966 1967 1968 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976
15
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10
Outros
Governo
Castelo
Governo
Costa e
Silva
Governo
Ernesto
Geisel
Fonte: Castelo Branco a Médici (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em:
https://atlas.fgv.br/marcos/de-castelo-branco-medici--/mapas/mortos-pela-ditadura-ano-ano. Acesso em:  jan. .
de obras monumentais, como a Transamazônica, em 1972, a
Ponte Rio-Niterói, em 1974, e a Usina Hidrelétrica de Itaipu,
concluída em 1982, além da criação de empresas como a Em-
braer, em 1969, contribuíram para a imagem de um país forte.
Trecho da BR-230, conhecida como rodovia Transamazônica, 1981. Com o
intuito de integrar a região Norte ao restante do país, cerca de quatro mil
pessoas trabalharam na construção da rodovia. Ao longo do tempo, muitas
áreas da floresta próximas à rodovia tornaram-se alvo de disputas agrárias e
desmatamento.
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44 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
A mídia representou um importante apoio ao governo.
Em entrevista concedida na década de 1970 e publicada
no livro Muito além do Jardim Botânico, de Carlos Eduardo
Lins da Silva, Médici declarou: “Sinto-me feliz todas as
noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal.
Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações,
atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil
marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se
eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho”
(1985, p. 89).
Ainda em 1973 ficou claro que o crescimento eco-
nômico do país não era um milagre, mas fruto de uma
dependência cada vez maior do capital internacional. Essa
dependência ficou evidenciada, por exemplo, durante a
crise petrolífera que ocorreu também em 1973 e gerou
uma reviravolta na economia internacional, afetando dire-
tamente o Brasil. O fim do governo Médici marcou o início
de uma profunda crise econômica que se alastrou no país
até meados da década de 1990.
A “ditadura derrotada e encurralada” (1974-1985)
Diante da crise econômica, as contradições internas da
ditadura se deflagraram pouco a pouco. As disputas entre a
ala castelista e a linha dura se acentuaram para determinar
os rumos que o regime tomaria a partir de então. A vitória
de Ernesto Geisel (1907-1996) como sucessor de Médici
representou o retorno dos castelistas ao poder.
Entre 1974 e 1979 a crise econômica internacional
afetou o apoio político à ditadura e caracterizou o período
no qual o regime militar foi colocado contra a parede e
acabou derrotado.
GENERAL ERNESTO GEISEL (974-979)
Ernesto Geisel assumiu a presidência com dois objeti-
vos principais: retomar o crescimento econômico e oferecer
perspectivas para o retorno à democracia. Para garantir o
processo de abertura política, no entanto, era necessário
enfrentar a ala do governo que desejava manter o regime
repressor e, ao mesmo tempo, seguir com a perseguição
aos agentes considerados subversivos para não perder
todo o apoio dos militares.
A promessa de abertura política incluía programas de
incentivo à cultura nacional e um abrandamento da censura.
O governo também não abria mão de conduzir o processo
de redemocratização para que não houvesse prejuízo para
seus agentes. No entanto, a oposição do MDB crescia e,
em 1974, o partido passou a ocupar quase a metade dos
cargos no Congresso. Simultaneamente, a repressão resul-
tava em escândalos de violência que colocavam a opinião
pública contra o governo.
Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi torturado até
a morte nos porões do DOI-Codi. Herzog foi prestar escla-
recimentos após acusações feitas pela polícia ao jornal que
comandava. Para evitar repercussões negativas ao regime
militar, uma foto do jornalista enforcado em uma cela da
prisão foi divulgada com a informação de que Herzog havia
se suicidado. A versão oficial, porém, não convenceu parte
significativa da população.
Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) e parte significativa do clero, como as Comunida-
des Eclesiais de Base, que atuavam nos segmentos mais
carentes da sociedade, começaram a agir em defesa dos
presos políticos e da democracia; o movimento estudantil
voltou a se organizar.
Economicamente, o projeto de retomar o crescimento
também não obteve sucesso. Apesar disso, um novo Plano
Nacional de Desenvolvimento, o segundo, almejava que o
país conquistasse maior autonomia sobre a extração de
petróleo e a produção de aço, alumínio, fertilizantes e bens
de capital (máquinas e ferramentas). Buscou-se a ampliação
de parceiros comerciais e foram instituídos programas para
a diversificação energética como o Proálcool e a construção
da Usina Nuclear de Angra I e da Hidrelétrica de Itaipu.
A promessa de abertura política, por sua vez, deu
lugar a normas que visavam neutralizar a oposição. Em
1976, a Lei Falcão promoveu restrições sobre a propa-
ganda eleitoral e determinou que os candidatos poderiam
apresentar nome, número, currículo e fotografia, mas não
haveria liberdade para apontar os problemas do governo.
Em 1977, foi apresentado o Pacote de Abril, que instituiu
o mandato presidencial de seis anos e os
. Além disso, foi reduzido o número de deputados de
São Paulo e Rio de Janeiro, lugares em que a oposição
se fazia mais presente.
Um ano antes de sair do governo, em 1978, Geisel
de fato deu o primeiro passo para a redemocratização ao
assinar a 11a emenda constitucional, que revogou o AI-5.
GENERAL JOÃO BAPTISTA FIGUEIREDO (979-985)
O governo de João Baptista Figueiredo (1918-1999)
enfrentou o pior momento da crise econômica de toda a di-
tadura. Em 1979, com a deflagração da Revolução Iraniana,
ocorreua diminuição da produção de petróleo, que levou à
segunda grande crise petrolífera mundial, conhecida como
segundo choque do petróleo.
O final da década de 1970 e o começo da década de
1980 foram marcados pelo fato de a Guerra Fria estar cada
vez mais enfraquecida mediante o domínio estaduniden-
se e por uma reformulação do capitalismo. É interessante
notar que assim como o início da Guerra Fria e o apogeu
do Estado de bem-estar social geraram ecos no Brasil, os
desdobramentos internacionais das décadas seguintes
também impactaram o contexto nacional. No país, os anos
1980 ficaram conhecidos como a “década perdida” em
virtude da chamada crise da dívida. Nesse período, o Brasil
viveu um processo de estagflação, isto é, uma estagnação
econômica que é acompanhada de uma crescente inflação.
Um novo Plano Nacional de Desenvolvimento cortou os
investimentos em empresas estatais e aumentou os juros
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Vladimir foi morto no dia 25 de outubro de 1975, no DOI-CODI do II
Exército. Nessa data havia comparecido voluntariamente ao órgão para prestar
esclarecimentos sobre seu envolvimento com o PCB. Em nota, o Comando
do II Exé rcito declarou que [...] Vladimir teria admitido seu vínculo com o
PCB desde 1971 ou 1972. A comunicação sustenta ainda que às 16 horas,
quando foi novamente procurado, Vladimir foi encontrado morto, enforcado
com uma tira de pano e portando um pedaço de papel rasgado, no qual teria
descrito sua participação no partido. Dessa forma, era montada a falsa versão
de suicídio. [...]. Em novembro de 2012, a Comissão Interamericana de Direi-
tos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) admitiu petição
sobre o caso Vladimir Herzog, com o objetivo de investigar a responsabilidade
internacional do Estado brasileiro por sua detenção arbitrária, tortura e morte.
Como resultado do encaminhamento pela CNV de requerimento da família
Herzog ao poder judiciário de São Paulo, a família de Vladimir Herzog re-
cebeu, no ano de 2013, uma nova certidão de óbito, que estabeleceu que a
morte do jornalista se deu em função de “lesões e maus-tratos sofridos durante
os interrogatórios em dependência do II Exército (DOI-CODI)”.
Saiba mais
Brasil: dívida externa – 1972-1984
105
100
95
90
85
80
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45
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1972 1973
Governo Médici
1974 1975 1976 1977
Governo Geisel
1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984
Carta de intenções do
governo brasileiro ao Fundo
Dívida externa total
Taxa de juros nos EUA
(em %)
Serviços anuais da dívida
Empréstimos do FMI
Missão do FMI no Brasil
Fonte: Governo Figueiredo (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/
governo-figueiredo--/mapas/crise-da-divida-brasileira. Acesso em:  jan. .
internos com o objetivo de conter a inflação ao encarecer o crédito e desestimular o consumo. Observe, no gráfico a seguir,
o aumento da dívida externa brasileira, sobretudo no começo dos anos 1980, e a intervenção do FMI no país.
46 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
Mesmo diante da grave situação econômica, a abertura política se manteve. Em 1979, a Lei de Anistia libertou parte
dos presos políticos e permitiu que os exilados retornassem ao Brasil.
A promulgação da Lei da Anistia também resultou da pressão popular. Na foto,
ato a favor da anistia na Praça da Sé, região central de São Paulo (SP), 1979.
Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de
1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos
e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes
Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institu-
cionais e Complementares [...].
§ 1º Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos
ou praticados por motivação política.
§ 2º Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto,
sequestro e atentado pessoal.
[...]
Saiba mais
O pluripartidarismo foi restaurado. Da Arena, formou-se
o Partido Democrático Social (PDS), com a liderança de Paulo
Maluf e de José Sarney. O MDB, por sua vez, fragmentou-
-se inicialmente em três partidos: o Partido do Movimento
Democrático (PMDB) encabeçado por Ulysses Guimarães
(1916-1992) e Tancredo Neves (1910-1985); o Partido De-
mocrático Trabalhista (PDT) de Leonel Brizola (1922-2004); e
o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), refundado por Ivete Var-
gas (1927-1984), sobrinha de Getúlio Vargas. Durante o final
da década de 1970, um novo modelo sindical, que rompia
com o sindicalismo pelego varguista, organizou importantes
greves metalúrgicas no ABC paulista e foi a base, juntamente
com apoio de intelectuais da USP, para a fundação do Partido
dos Trabalhadores (PT). Em 1980, Tancredo Neves rompeu
com o PMDB e fundou o Partido Popular (PP), mas retornou
ao antigo partido em 1982.
A redemocratização contava com mobilização política,
eleitoral e cívica a seu favor. Todavia, uma ala do governo
que ainda rejeitava o fim da ditadura cometeu uma série de
atentados a fim de responsabilizar os grupos de oposição.
O caso mais notório foi o atentado no Riocentro em 30 de
abril de 1981.
Ao conceder anistia aos que cometeram crimes políticos ou conexo com estes, a lei garantiu o perdão àqueles que
se levantaram contra o regime ditatorial, mas também aos responsáveis pelos crimes de tortura. O regime alegou que
os crimes de tortura foram conexos aos crimes políticos e, por isso, seus responsáveis não poderiam ser penalizados.
Greve de metalúrgicos em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, 1979.
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Após a retomada das eleições diretas para o governo dos estados em 1982, cresceu a pressão por eleições diretas
para a Presidência da República. Em 1984, o senador Dante de Oliveira (1952-2006) propôs uma emenda constitucional, a
Emenda Dante de Oliveira, para que as eleições para presidente em 1985 fossem diretas. Com o objetivo de pressionar o
Congresso e obter dois terços de votos favoráveis, necessários para a aprovação de uma Emenda Constitucional, a população
tomou as ruas do Brasil na Campanha das “Diretas Já!”.
Comício das “Diretas Já!” no Largo da Prefeitura de Porto Alegre (RS), 1984.
1. UPF-RS 2018 Em 3 de março de , ocorreu um Golpe Militar, com a derrubada do presidente constitucional João
Goulart. Sobre esse golpe, analise as seguintes afirmativas:
I. Foi o resultado de uma conspiração civil-militar alarmada com os rumos nacionalistas que o governo João Goulart
estava tomando.
II. Foi a forma encontrada pelo Alto comando militar para garantir a posse do novo presidente recém-eleito, que
a União Democrática Nacional (UDN) estava tentando impedir.
III. Representou a repulsa de setores da sociedade brasileira diante da tentativa de João Goulart de aumentar
a presença do capital estrangeiro no país.
IV. Evitou que o Partido Comunista Brasileiro, os sindicatos de trabalhadores e setores do Partido Trabalhista Brasi-
leiro continuassem a exigir do presidente a implementação imediata das “reformas de base”.
Está correto apenas o que se a rma em:
a) I e IV.
b) II e IV.
c) I e III.
d) II e III.
e) I, II e III.
2. Enem 2017 No período anterior ao golpe militar de 1964, os documentos episcopais indicavam para os bispos que o
desenvolvimento econômico, e claramente o desenvolvimento capitalista, orientando-se no sentido da justa distribuição
da riqueza, resolveria o problema da miséria rural e, consequentemente, suprimiria a possibilidade do proselitismo e da
expansão comunista entre os camponeses. Foi nesse sentido que o golpe de Estado, de 31 de março de 1964, foi acolhido
pela Igreja.
MARTINS, J. S. A política doBrasil: lúmpen e místico. São Paulo: Contexto, 2011 (adaptado).
Em que pesem as divergências no interior do clero após a instalação da ditadura civil-militar, o posicionamento men-
cionado no texto fundamentou-se no entendimento da hierarquia católica de que o (a):
a) luta de classes é estimulada pelo livre mercado.
b) poder oligárquico é limitado pela ação do Exército.
c) doutrina cristã é beneficiada pelo atraso do interior.
d) espaço político é dominado pelo interesse empresarial.
e) manipulação ideológica é favorecida pela privação material.
Revisando
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A emenda foi reprovada no Congresso. Desse modo, a eleição presidencial de 1985 seria a última eleição indireta.
Tancredo Neves, do PMDB, foi eleito, mas teve de ser hospitalizado na véspera de sua posse. Temendo que houvesse
alguma tentativa de retardar a redemocratização, José Sarney, seu vice, foi empossado em 15 de março de 1985 como
o primeiro presidente civil após 21 anos de domínio militar. Em abril, Tancredo Neves faleceu, e Sarney governou o país
até a retomada das eleições diretas, em 1989.
48 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
3. Fuvest-SP 2019 Examine a tabela:
Porcentagem da variação do desempenho econômico
do Brasil
FISHLOW, A. Uma história de dois presidentes: a economia política da gestão
da crise. STEPHAN, A. (org.), Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e
Terra: , p. .
Os dados da tabela referem-se a anos transcorridos
durante a Ditadura Militar no Brasil. O desempenho
econômico nesse período entrelaçou-se ao panora-
ma político do país. Nesse sentido, é correto armar:
a) Os sinais de esgotamento do “milagre brasileiro”,
associados à crise internacional do petróleo entre
19 e 194, foram os responsáveis pelo recru-
descimento da política repressiva dos governos
militares.
b) As eleições pluripartidárias de 1982 ocorreram
em meio à recessão de 1981 e 198, no governo
de João Baptista Figueiredo, e caracterizaram-se
como um passo importante no processo de de-
mocratização do país.
c) A crise internacional do petróleo de 199 e seus
efeitos na economia brasileira provocaram uma
queda abrupta no PIB nacional e o fim imediato
do regime, por falta de sustentação política.
d) As oscilações do PIB brasileiro, registradas na ta-
bela, correspondem igualmente às variações das
taxas de crescimento e retração na indústria e na
agricultura e aos processos de intensificação da
repressão política e da censura.
e) A crise internacional do petróleo de 199 não afetou
a agricultura brasileira, mas coincidiu com as primei-
ras eleições pluripartidárias desde 1966, marcadas
pela estrondosa vitória dos partidos de oposição.
4. Udesc 2016 A Marcha da família com Deus pela li-
berdade:
“Movimento surgido em março de 1964 e que con-
sistiu em uma série de manifestações, ou “marchas”,
organizadas principalmente por setores do clero e por
entidades femininas em resposta ao comício realizado
no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, durante o
qual o presidente João Goulart anunciou seu programa de
reformas de base.”
Adap. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/
AConjunturaRadicalizacao/A_marcha_da_familia_co m_Deus
acessado em: 12/08/2015.
Assinale a alternativa correta sobre a Marcha da famí-
lia com Deus pela liberdade.
a) Mostrou o protagonismo do movimento feminista
e da contracultura, em especial a Campanha da
Mulher pela Democracia (Camde), a União Cívica
Feminina e a Fraterna Amizade Urbana e Rural.
b) Congregou segmentos das classes populares,
em especial sem tetos e operários da indústria,
em parceria com a Federação do Centro das In-
dústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
c) Tinha como meta propagar a ideia de liberdade
religiosa e de liberdade sexual.
d) Contou com a aliança, de setores de esquerda
da igreja católica e da juventude estudantil de
classe média, contra o conservadorismo da so-
ciedade brasileira.
e) Era favorável à deposição do presidente eleito
João Goulart e teve papel importante no Golpe
Militar de 1964.
5. Enem 2020 A Divisão Internacional do Trabalho sig-
nifica que alguns países se especializam em ganhar e
outros, em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje
chamamos América Latina, foi precoce: especializou-se
em perder desde os remotos tempos em que os europeus
do Renascimento se aventuraram pelos mares e lhe cra-
varam os dentes na garganta. Passaram-se os séculos e a
América Latina aprimorou suas funções.
GALENO, E. As veias abertas da América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 1978.
Escrito na década de 7, o texto considera a parti-
cipação da América Latina na Divisão Internacional do
Trabalho marcada pela
a) produção inovadora de padrões de tecnologia.
b) superação paulatina do caráter agroexportador.
c) apropriação imperialista dos recursos territoriais.
d) valorização econômica dos saberes tradicionais.
e) dependência externa do suprimento de alimentos.
6. UFJF/Pism-MG 2020 Nas décadas de  a 7,
a América Latina foi caracterizada por ditaduras. Em-
bora esses regimes mantivessem diferenças entre si,
também possuíam semelhanças. No que se refere aos
elementos em comum, é CORRETO afirmar:
a) Os regimes ditatoriais foram conduzidos pelos mi-
litares sem o apoio de setores da sociedade civil,
mas com a participação de todos os partidos polí-
ticos e dos proletários.
b) O envolvimento dos Estados Unidos na Guerra
Fria fez com que este governo não tenha apoiado
as ditaduras na América Latina.
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c) Elegeram como inimigos em comum os sindica-
tos, os partidos políticos, os grupos de esquerda,
recorrendo a métodos violentos.
d) Não houve cooperação entre as ditaduras na
América Latina, de maneira que cada um dos regi-
mes decidia suas ações de combate aos inimigos.
e) As instituições democráticas não foram abaladas
em função da militarização da vida e apoio total
da população aos regimes ditatoriais.
7. FGV-SP Tendo como estopim a recusa do Congresso
Nacional, na sessão de 12 de dezembro de 1968, em
conceder licença para que o deputado Márcio Morei-
ra Alves fosse processado por ofender os militares num
discurso na Câmara, no qual os responsabilizou pela
violência contra os estudantes, o governo editou o mais
repressor de todos os Atos Institucionais: o AI-5.
Marcos Napolitano, O regime militar brasileiro: 1964-1985.
Entre outras medidas, o AI- permitia ao presidente
da República
a) legislar por meio de medidas provisórias e indicar
senadores e deputados federais.
b) intervir em Estados e municípios, cassar manda-
tos e suspender direitos políticos.
c) cassar mandatos políticos apenas com a permis-
são da Câmara dos Deputados.
d) decretar a pena de morte para quem atentasse
contra a segurança nacional.
e) criar uma nova moeda, censurar a imprensa escri-
ta e torturar presos políticos.
8. Famerp-SP 2017 O chamado “milagre brasileiro”, ocor-
rido durante o regime militar (-), foi marcado
a) pela implantação da indústria de base, impul-
sionada pelo ingresso de fortes investimentos
norte-americanos e europeus.
b) pelo crescimento econômico acelerado, asso-
ciado ao aumento da desigualdade social e ao
endividamento externo.
c) pela superação da hiperinflação, que corroía os
salários dos trabalhadores e inviabilizava novos
investimentos.
d) pela queda das atividades industriais, que provo-
cou uma retração na produção e no consumo de
bens duráveis.
e) pelo apoio à produção de café voltada à expor-
tação, estimulada pela ampliação dos mercados
consumidores na Europa.
9. Enem 2014 A Comissão Nacional da Verdade (CNV)
reuniu representantes de comissões estaduais e de várias
instituições para apresentar um balanço dos trabalhos
feitos e assinar termos de cooperação com quatro or-
ganizações. O coordenador da CNV estima que, até o
momento, a comissão examinou, “por baixo”, cerca de
30 milhões de páginas de documentos e fez centenas de
entrevistas.
Disponível em: www.jb.com.br. Acesso em:2 mar. 2013 (adaptado).
A notícia descreve uma iniciativa do Estado que resul-
tou da ação de diversos movimentos sociais no Brasil
diante de eventos ocorridos entre  e . O ob-
jetivo dessa iniciativa é
a) anular a anistia concedida aos chefes militares.
b) rever as condenações judiciais aos presos políticos.
c) perdoar os crimes atribuídos aos militantes es-
querdistas.
d) comprovar o apoio da sociedade aos golpistas
anticomunistas.
e) esclarecer as circunstâncias de violações aos di-
reitos humanos.
10. Unifesp Nos últimos anos do regime militar (-
-), a gradual abertura política implicou iniciativas
do governo e de movimentos sociais e políticos. Um
dos marcos dessa abertura foi:
a) A reforma partidária, que suprimiu os partidos
políticos então existentes e implantou um regime
bipartidário.
b) O chamado “milagre econômico”, que permitiu
crescimento acentuado da economia brasileira e
aumentou a dívida externa.
c) A campanha pelo “impeachment” de Fernando
Collor, que fora acusado de diversos atos ilícitos
no exercício da Presidência.
d) O estabelecimento de novas regras eleitorais,
que determinaram eleições diretas imediatas para
presidente.
e) A lei da anistia, que permitia a volta de exilados
políticos e isentava militares que haviam atuado
na repressão política.
Exercícios propostos
1. Mackenzie-SP 2018 O excerto abaixo aponta para uma dimensão de análise a respeito das ditaduras implantadas
na América Latina. Leia-o.
“Esse plano [de análise], por mais difuso, é de mais difícil apreensão. Ficou patente nos boicotes que industriais e comer-
ciantes realizaram no Chile para desgastar a presidência de Salvador Allende; na conhecida ‘Marcha da Família com Deus
pela Liberdade’, realizada em São Paulo em protesto contra João Goulart pouco antes de sua deposição; na lealdade de parte
das camadas médias e altas chilenas para com a figura incensada do general Augusto Pinochet; nas redes de cumplicidade
com o sistema repressivo durante o regime militar na Argentina”.
Maria Lígia Prado e Gabriela Pellegrino. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2016, p.168.
50 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
No contexto considerado, o texto aponta para uma cul-
tura política autoritária que, nas sociedades em questão:
a) se limitava à atuação repressiva das autoridades
militares, em consonância com setores populares,
em busca de melhores perspectivas políticas e
econômicas.
b) ultrapassava o domínio das Forças Armadas e
do Estado e se disseminava por meio de postu-
ras autoritárias de extensos setores sociais que
apoiaram os golpes.
c) ultrapassava a articulação política interna e criava
condições para uma aliança de amplos setores
sociais com grandes potências imperialistas do
continente europeu.
d) criava condições para o surgimento de grupos
sociais opositores, com destacada atuação par-
lamentar e guerrilheira contra os regimes de
exceção no continente.
e) impossibilitava qualquer organização de grupos
civis, pois concentrava todo e qualquer poder em
grupos das Forças Armadas articulados com os
governos nacionais.
 2. Fac. Albert Einstein 2017 O quadro apresenta fatos
ocorridos em alguns países da América entre as dé-
cadas de 1950 e 1980.
1954
1962
1964
1968
1973
1978
1979
1982
Adaptado de: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/
ditaturas-da-america-latina/. Acesso em 07/05/17, 15hs05.
A partir dos dados fornecidos, é possível armar que
a) os países sul-americanos passaram por um pro-
cesso de estabilização política resultante da
interferência norte-americana, que garantiu o
auxílio econômico necessário aos governos mili-
tares para promover o desenvolvimento nacional.
b) os países da América Central vivenciaram a es-
tabilidade democrática, enquanto toda a América
do Sul passou por ditaduras pessoais de civis
vinculados ao caudilhismo e aos EUA, que lhes
fornecia o apoio político e econômico.
c) os EUA lideraram o processo de redemocratiza-
ção dos países latino-americanos, apoiando as
campanhas de candidatos liberais contra os que
eram subsidiados pela URSS, no contexto da
Guerra Fria.
d) os países latino-americanos vivenciaram um
período de instabilidade caracterizado pela pre-
sença dos militares na política, pela substituição
de regimes democráticos por ditaduras, e pela
interferência norte americana, tanto nos golpes
quanto nos processos de redemocratização.
 3. Uema 2015 Antes do jogo amistoso contra a seleção
da Eslovênia, preparatório para a Copa do Mundo no
Brasil, os jogadores argentinos fizeram um protesto,
retratado na imagem abaixo.
Fonte: Disponível em: http://online.wsj.com/articles/the-fackland-dispute-
here-we-go-again-1402274673. Acesso em: 11 jun. 2014.
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A faixa exibida faz referência a um conito armado en-
tre Argentina e
a) Uruguai, pelo domínio da região do Rio da Prata.
b) Reino Unido, por territórios na América do Sul.
c) Chile, pela delimitação de fronteiras.
d) Paraguai, pelo território do Chaco.
e) França, pelo controle sobre o porto de Buenos Aires.
 4. UPE 2013 O Regime Militar Brasileiro (1964-1988)
foi marcado por uma bipolarização no âmbito da
política e da arte, entre os que apoiavam e os que
criticavam o regime. Dentro do segundo grupo, des-
tacaram-se os músicos que produziram canções de
protesto, algumas das quais vinham envoltas em
metáforas, além de outros recursos estilísticos, no
intuito de ocultar à Censura sua mensagem subli-
minar. Dentre essas músicas, pode-se identificar a
“Canção da despedida”, de Geraldo Vandré no se-
guinte trecho:
“Já vou embora, mas sei que vou voltar/ Amor não
chora, se eu volto é pra ficar/ Amor não chora, que a hora
é de deixar/ O amor de agora, pra sempre ele ficar.// Eu
quis ficar aqui, mas não podia/ O meu caminho a ti, não
conduzia/ Um rei mal coroado,/ Não queria/ O amor em
seu reinado/ Pois sabia/ Não ia ser amado… ”
Com base na crítica retratada pela letra da música, é
CORRETO armar que:
a) no âmbito da arte, a crítica a esse Regime se res-
tringiu à esfera musical.
b) aquele período parecia um conto de fadas, com
estórias de reis e amores impossíveis.
c) a difícil experiência do exílio forçado foi vivencia-
da durante o período.
d) Geraldo Vandré costumava musicar suas desilu-
sões amorosas.
e) a tranquilidade vivenciada pela sociedade permi-
tia a composição de canções de amor.
 5. Uece 2017 Atente ao seguinte excerto:
[...]. Várias figuras importantes tiveram seus direitos
políticos cassados. Muitas prisões, apreensões e queima
de livros considerados subversivos foram feitos pelos ór-
gãos repressivos. Reformas na máquina administrativa e
mudanças nas leis trabalhistas foram promovidas logo
no início do governo Castelo Branco: as greves foram
praticamente proibidas e os salários arrochados, isto é,
mantidos em níveis bastante baixos.
Antônio Pedro e Lizânias de Souza Lima. História sempre presente. v. 3.
1ª ed. São Paulo, FTD, 2010. p. 280.
O momento da História Republicana do Brasil a que o
excerto acima se refere é
a) a implantação do Estado Novo, em 37, quando
o regime ditatorial se fez notar com todas as suas
características.
b) o início do período da Nova República, em 5,
marcado pela liberdade de mercado e pelo forte
controle social por parte do Estado.
c) o início do período dos Governos Militares ins-
talados após o golpe de  que depôs o
Presidente João Goulart e que durou até 5.
d) o período posterior à morte do Presidente Getúlio
Vargas, em 5, quando as forças opositoras al-
cançaram o poder e impuseram sua política.
 6. UEM-PR 2016 Sobre o golpe militar de 1964, no Brasil,
assinale a(s) alternativa(s) correta(s):
) Houve participação dos Estados Unidos na articu-
lação do golpe, através da operação conhecida
como Brother Sam.
) O regime militar extinguiu os partidos políticos
e instituiu o bipartidarismo, com a formação da
Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movi-
mento DemocráticoBrasileiro (MDB).
) Instaurou os Inquéritos Policiais Militares (IPMs)
para processar e punir os cidadãos que eram con-
trários à ditadura militar.
8) A “marcha da família com Deus pela liberdade”,
realizada em  de março de , em São Pau-
lo, composta por integrantes das classes média
e alta, com o apoio da Fiesp e da Igreja Católica,
tinha como objetivo protestar contra as reformas
de base e solicitar a deposição de João Goulart,
identificado pelos participantes como simpatizante
do comunismo.
) Os governadores Adhemar de Barros (São Paulo),
Ney Braga (Paraná), Carlos Lacerda (Rio de Janeiro)
e José Magalhães Pinto (Minas Gerais) apoiavam o
presidente João Goulart e, por isso, resistiram ao
golpe militar.
Soma:
 7. Unisc-RS 2014 Em 2014 completará 0 anos do Gol-
pe que depôs o governo de João Goulart e instalou
o Regime Militar no Brasil. A Ditadura permaneceu
por mais de vinte anos não permitindo eleições li-
vres para presidente e controlando muito de perto os
sindicatos, movimentos sociais e outros grupos que
questionavam a falta de democracia e a truculência
do Regime por meio dos aparatos de repressão.
Sobre esse período é INCORRETO armar que
a) o pluripartidarismo foi extinto no Ato Institucional
n.  que permitiu apenas dois partidos – ARENA
e MDB.
b) o Ato Institucional n. 5 limitou ainda mais os
direitos políticos no Brasil cassando políticos con-
siderados pelo Regime como subversivos.
c) a censura foi imposta logo após o Golpe Militar
e teve como o Serviço Nacional de Informações
(SNI) seu órgão mais atuante.
d) a propaganda pró-regime militar usou slogans
como Brasil – ame-o ou deixe-o.
e) o último presidente militar, Costa e Silva, prome-
teu uma abertura política para a democracia de
forma lenta e gradual.
52 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
 8. UFPR 2015 Considere a charge abaixo, publicada na re-
vista humorística brasileira Pif-Paf, em 27 de julho de 1964:
A partir dos elementos da charge e dos conhecimen-
tos sobre o período da ditadura civil-militar no Brasil
(1964-1985), identique as seguintes armativas como
verdadeiras (V) ou falsas (F):
A charge faz referência ao símbolo da suástica
nazista, pois iguala a cassação de direitos civis e
políticos que ocorreu após o golpe militar brasi-
leiro com a cassação de direitos civis dos judeus
alemães no regime nazista.
A direita na América Latina, durante o período da
Guerra Fria (-), recebeu apoio da União
Soviética para instituir governos autoritários que
afirmavam proteger o bem maior da população
contra inimigos comunistas.
A charge faz referência ao caráter do governo ins-
tituído ser de direita, para proteger o país de uma
alegada “ameaça comunista”, que foi associada
pelos militares e seus apoiadores ao presidente
deposto João Goulart e demais grupos de es-
querda.
Eventos como a Revolução Cubana () não
somente inspiraram diversos movimentos de
esquerda antes e depois do golpe militar, como
impulsionaram os Estados Unidos para o estreita-
mento de laços com a direita na América Latina.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor-
reta, de cima para baixo.
a) V – F – V – V.
b) V – V – V – V.
c) F – V – F – F.
d) F – V – V – F.
e) V – F – F – V.
 9. UCS-RS 2014 A ditadura militar no Brasil foi implanta-
da com o golpe de 31 de março de 1964. Esse golpe
tem início com
a) o decreto do Ato Institucional nº , suspendendo as
garantias constitucionais da população brasileira.
b) a derrubada do governo do presidente João
Goulart e rompeu com o regime democrático.
CARDOSO, Oldimar. Tudo é história (9º ano). S. Paulo, 2006, p. 231.
c) a instauração do bipartidarismo, autorizando o
funcionamento apenas do MDB, que concentrou
a oposição, e da UDN, governista.
d) a implantação do modelo do milagre econômico,
evitando que as reformas de base permitissem o
ingresso de capital estrangeiro na economia bra-
sileira.
e) o decreto de eleições indiretas para presidente e
a nomeação de senadores “biônicos”.
10. FGV-SP 2013 Observe o gráfico.
A partir dos dados apresentados, é correto considerar
que
a) o endividamento público, a partir de meados dos
anos , deve ser atribuído aos investimentos
realizados na prospecção de petróleo, pois os
governos ditatoriais objetivavam a autossuficiên-
cia nessa área.
b) durante o governo Geisel, mesmo diante de um
contexto de crise econômica internacional, optou-
-se pelo endividamento externo para financiar o
II Plano Nacional de Desenvolvimento.
c) O progressivo aumento da dívida externa durante
a ditadura foi compensado pelas altas taxas do
PIB, que atingiram os seus melhores níveis duran-
te os governos Geisel e Figueiredo.
d) O governo Médici impôs um modelo econômico
baseado na industrialização dos bens de consu-
mo não duráveis, objetivando a universalização do
consumo nacional, mas que gerou a dívida externa.
e) a dívida externa brasileira não trouxe maiores preo-
cupações dos economistas durante a ditadura,
porque o seu crescimento garantiu uma melhora
importante na distribuição das riquezas nacionais.
 11. FGV-SP
No fundo, chegamos à conclusão de que fizemos a
revolução contra nós mesmos. Essa lamentosa frase de Ade-
mar de Barros sintetizava o ânimo de alguns conspiradores
civis com os rumos do governo militar. Após duras críticas
ao regime, Ademar chegou a exigir a renúncia do presidente
Castelo Branco em um manifesto à nação. Em junho de
1966 teve seus direitos políticos cassados por dez anos.
Flávio Campos, Oficina de História: história do Brasil.
Fonte: Maria Helena M. Alves, Estado e oposição no Brasil (1964 – 1984),
p. 332. (Apud Flavio de Campos, Oficina de História do Brasil)
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Carlos Lacerda, outro importante civil articulador do
golpe de , reagiu contra o regime por meio
a) da criação, no Rio de Janeiro, do Comitê pela
Anistia, em 1968, com o apoio de militares e civis
cassados pelo regime de exceção.
b) da defesa de eleições diretas para a presidência
da República e governos estaduais e apoiou, em
1968, contraditoriamente, o AI-5.
c) de um mandado de segurança apresentado, em
1969, ao Supremo Tribunal Federal, reivindican-
do o afastamento de Costa e Silva.
d) de uma representação ao Congresso Nacional, exi-
gindo a imediata reconsideração acerca do AI-2,
que criou a ARENA e o MDB.
e) da organização da Frente Ampla, em 196, que
contou com a participação dos ex-presidentes
Juscelino Kubitschek e João Goulart.
 12. Unesp 2021
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Cantar uma sabiá
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De uma palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor
Talvez possa espantar
As noites que eu não queria
E anunciar o dia
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer
(www.chicobuarque.com.br)
A canção “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim, foi
apresentada no III Festival Internacional da canção,
em setembro de , durante o regime militar brasi-
leiro. Sua letra
a) recorre à relação intertextual, para criticar a re-
pressão e as perseguições políticas no país.
b) explora a metáfora do voo do pássaro, para
propor ação e mobilização popular contra as per-
seguições políticas.
c) Valoriza a esfera íntima e pessoal, para rebater o
engajamento político-social de intelectuais e ar-
tistas.
d) adota o recurso da repetição e do paralelismo,
para defender a continuidade do regime militar.
e) menciona aves e plantas, para defender a adoção
de política ambiental sustentável pelo governo.
 13. ESPM-SP 2019 Em //, há exatos  anos, nos
chamados anos de chumbo, o jornal Folha de São
Paulo estampava em manchete de primeira página:
Com trombose cerebral, Costa e Silva se afasta
O jornal acrescentava: Pouco antes das 22horas deste
domingo 31/8, a Agência Nacional informou o país, em
cadeia de rádio e televisão que o presidente Arthur da
Costa e Silva, acometido de trombose cerebral, está tem-
porariamente impedido de chefiar o governo.
Reunido no Rio de Janeiro, o Alto Comando das For-
ças Armadas editou o Ato Institucional No. , que
teve por efeito:
a) o vice-presidente Pedro Aleixo, civil e voz solitária,
que havia se erguido contra o AI-5, foi imediata-
mente empossado na Presidência da República;
b) o Alto Comando das Forças Armadas assumiu a
presidência do Brasil e a exerceu até o término
do mandato de Costa e Silva, rompendo a institu-
cionalidade garantida pela Constituição de 196
então em vigência;
c) foi empossado na presidência o General Ernesto
Geisel, que revogou o AI-5 assim que assumiu;
d) foi formada uma junta militar que assumiu interina-
mente, rompeu a constitucionalidade do próprio
regime e impediu a posse do vice-presidente
Pedro Aleixo, tendo em 0/10/1969 transferido
a presidência para o General Garrastazu Médici;
e) a revogação de todos os atos discricionários e a
instituição de uma lei de anistia ampla geral e ir-
restrita, deflagrando a abertura política.
 14. UEMG 2019
Em 7, cresciam em todo o país movimentos de
oposição ao regime militar, fazendo o governo decre-
tar a Lei de Segurança Nacional, que previa
a) aprovar o projeto elaborado da nova constituição
de 196.
b) penas elevadas para qualquer cidadão que se
opusesse ao regime.
c) punição para policiais militares que descumpris-
sem a lei.
d) punições para jornalistas que fizessem críticas e
ataques ao regime.
15. Fuvest-SP 2012
No início de 1969, a situação política se modifica.
A repressão endurece e leva à retração do movimento de
massas. As primeiras greves, de Osasco e Contagem, têm
seus dirigentes perseguidos e são suspensas. O movimento
54 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
estudantil reflui. A oposição liberal está amordaçada pela
censura à imprensa e pela cassação de mandatos.
Apolônio de Carvalho. Vale a pena sonhar. Rio de Janeiro: Rocco,
1997, p. 202.
O testemunho, dado por um participante da resistência
à ditadura militar brasileira, sintetiza o panorama políti-
co dos últimos anos da década de , marcados
a) pela adesão total dos grupos oposicionistas à luta
armada e pela subordinação dos sindicatos e cen-
trais operárias aos partidos de extrema esquerda.
b) pelo bipartidarismo implantado por meio do Ato
Institucional nº 2, que eliminou toda forma de
oposição institucional ao regime militar.
c) pela desmobilização do movimento estudantil,
que foi bastante combativo nos anos imediata-
mente posteriores ao golpe de 64, mas depois
passou a defender o regime.
d) pelo apoio da maioria das organizações da so-
ciedade civil ao governo militar, empenhadas em
combater a subversão e afastar, do Brasil, o peri-
go comunista.
e) pela decretação do Ato Institucional nº 5, que li-
mitou drasticamente a liberdade de expressão e
instituiu medidas que ampliaram a repressão aos
opositores do regime.
 16. Unicamp-SP 2018
“ODORICO
Eu sei. É um movimento subversivo procurando me
intrigar com a opinião pública e criar problemas à minha
administração. Sei, sim. É uma conspiração. Eles não que-
riam o cemitério. Desde o princípio foram contra. E agora
que o cemitério está pronto caem de pau em cima de mim,
me chamam de demagogo, de tudo...”
(...)
“ODORICO
Pois eu quero que depois o senhor soletre esta gazeta
de ponta a ponta. Neco Pedreira o senhor conhece?
ZECA
Conheço não sinhô.
ODORICO
É o dono do jornal. Elemento perigoso. Sua primeira
missão como delegado é dar uma batida na redação dessa
gazeta subversiva e sacudir a marreta em nome da lei e
da democracia...”
Dias Gomes, O bem-amado. 12.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2014, p. 40 e 68.
A peça de Dias Gomes é uma crítica a um momento
histórico e político da sociedade brasileira. Odorico
Paraguassu tornou-se um personagem emblemático
desse período porque por meio dele
a) simbolizou-se a defesa da democracia a qual-
quer custo. Essa defesa resultou em uma
sociedade cindida entre o respeito à lei e o seu
uso particular, temas políticos comuns aos países
latino-americanos nos anos de 190.
b) representaram-se o atropelo da lei constitucio-
nal, a relativização da liberdade de imprensa e a
construção de um inimigo interno que justificasse
o arbítrio das decisões do executivo, próprios aos
Anos de Chumbo.
c) explicitaram-se as leis que regiam a vida política e
social de uma nação subdesenvolvida da América
Latina na década de 190, marcada pela inércia e
pela cumplicidade dos cidadãos com a corrupção
sistêmica do país.
d) fez-se a defesa da democracia e do respeito irres-
trito à lei constitucional para um projeto de nação
brasileira da década 190, que enfrentava o espí-
rito demagógico dos políticos latino-americanos.
 17. Unesp 2021 Leia a letra da canção “Bom conselho”,
de Chico Buarque, composta em 7.
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado:
Quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
www.chicobuarque.com.br
Considerando-se o contexto histórico-social em
que a canção foi composta, o verso “Vou pra rua e
bebo a tempestade” (3ª estrofe) sugere a ideia de
manifestações populares que ocorreram no Brasil
por ocasião
a) do Regime Civil-Militar.
b) do fim do Estado Novo.
c) da deposição de João Goulart.
d) do Movimento Diretas Já.
e) do Movimento Grevista dos Metalúrgicos do ABC.
18. UFRGS 2016 Considere as afirmações abaixo, sobre
a Operação Condor, estabelecida clandestinamente
e em conjunto pelas ditaduras do Cone Sul, a partir
de 7.
I. Os Estados Unidos assumiram apoio e suporte à
operação, ainda na década de 190.
II. A meta da operação era a eliminação dos prin-
cipais opositores das ditaduras do Cone Sul.
III. O sequestro de militantes de esquerda uruguaios,
em 198, na cidade de Porto Alegre, foi uma de
suas ações mais famosas.
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Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
 19. Fuvest-SP 2020
Documentos da Agência Central de Inteligência Ame-
ricana (CIA) mostram que o Brasil quis liderar a Operação
Condor e só não conseguiu porque enfrentou resistência
dos outros países membros – Argentina, Chile, Uruguai,
Paraguai e Bolívia. (...) Os documentos da CIA fazem parte
do Projeto de Desclassificação Argentina (The Dirty War,
1976-1983), do governo americano, e incluem mais de
40 mil páginas. Duas dezenas delas fazem menções ao
Brasil (...).
Marcelo Godoy, O Estado de São Paulo.
Abril/2019.
A respeito da Operação Condor, é correto armar:
a) Ainda que tivesse um alvo comum de repressão
política, ela não implicava o alinhamento automá-
tico dos regimes ditatoriais de cada país.
b) Ao encontrar resistência dos demais países que
dela participavam, o Brasil passou a criticar publi-
camente suas ações.
c) Em vista da oposição norte-americana à iniciativa,
a cooperação entre os países membros não foi
implantada.
d) O governo ditatorial paraguaio assumiu a posição
de liderança no acordo firmado entre seus países
fundadores.
e) Limitou-se à troca de informações sobre os opo-
sitores políticos que buscaram exílio em cada um
desses países.
 20. Unesp 2012
A situação de harmonia no Congresso entraria em
crise nas eleições de 1974, marco importante do avanço
pela retomada do Estado de Direito.
Edgard Leite Ferreira Neto. Os partidos políticos no Brasil, 1988.
O texto menciona as eleições parlamentares de 7,
ocorridas durante o regime militar. Pode-se dizer que
essas eleições
a) representaram uma vitória significativa do partido
da situação e eliminaram os esforços reformistasde deputados e senadores.
b) revelaram a ampla hegemonia de que o gover-
no desfrutava nos estados economicamente mais
fortes do Sudeste e sua fragilidade no Centro-
-Norte do país.
c) reforçaram a convicção de que o bipartidarismo
era o modelo político-partidário adequado para a
consolidação da República brasileira.
d) demonstraram insatisfação de parte expressi-
va da sociedade brasileira e provocaram forte
reação do governo, que alterou as leis eleitorais
para assegurar a manutenção do controle sobre o
Congresso Nacional.
e) expressaram a popularidade dos candidatos do par-
tido de oposição e o desejo dos oposicionistas de
manterem a ordem política então predominante.
 21. Enem 2018
São Paulo, 10 de janeiro de 1979.
Exmo. Sr. Presidente Ernesto Geisel.
Considerando as instruções dadas por V. S. de que
sejam negados os passaportes aos senhores Francisco
Julião, Miguel Arraes, Leonel Brizola, Luis Prestes, Pau-
lo Schilling, Gregório Bezerra, Márcio Moreira Alves e
Paulo Freire.
Considerando que, desde que nasci, me identifico
plenamente com a pele, a cor dos cabelos, a cultura, o
sorriso, as aspirações, a história e o sangue destes oito se-
nhores. Considerando tudo isto, por imperativo de minha
consciência, venho por meio desta devolver o passaporte
que, negado a eles, me foi concedido pelos órgãos com-
petentes de seu governo.
Carta do cartunista Henrique de Souza Filho, conhecido como Henfil. In:
HENFIL, Cartas da mãe. Rio de Janeiro: Codecri, 1981 (adaptado).
No referido contexto histórico, a manifestação do car-
tunista Henl expressava uma crítica ao (à):
a) censura moral das produções culturais.
b) limite do processo de distensão política.
c) interferência militar de países estrangeiros.
d) representação social das agremiações partidárias.
e) impedimento de eleição das assembleias estaduais.
 22. Unesp
Embora a crise já estivesse se manifestando quando
o general Geisel tomou posse, o seu plano econômico
[II Plano Nacional de Desenvolvimento] continuava
mantendo as mesmas expectativas dos anos anteriores:
altas taxas de crescimento econômico e controle da
inflação.
Nadine Habert, A década de 70 – Apogeu e crise da ditadura militar
brasileira.
A adoção do II Plano Nacional de Desenvolvimento
gerou, ao nal do governo Geisel,
a) uma estagnação econômica, associada a um pro-
cesso de deflação das mercadorias importadas.
b) uma mudança acessória no modelo econômico,
que passou a privilegiar o mercado interno e a
distribuição de renda.
c) um aumento da participação do Estado na eco-
nomia e um crescimento considerável da dívida
externa brasileira.
d) um crescimento econômico acima do planejado,
porém com as maiores taxas de desemprego du-
rante o regime militar.
e) a intervenção direta do Fundo Monetário Interna-
cional (FMI), exigindo o pagamento de parcelas
atrasadas da dívida externa.
56 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
 23. FGV-SP
O general Ernesto Geisel, candidato da Arena, venceu facilmente o representante da oposição em janeiro de 1974. (...)
o novo presidente iniciou o processo de flexibilização do regime através da sua política de distensão, que previa uma série
de alterações parciais (abrandamento da censura e de medidas repressivas, e negociações com setores oposicionistas). Seu
objetivo era atenuar as tensões decorrentes do exercício do poder sob regras tão autoritárias e alargar a base de sustentação
do governo através da cooperação de setores da oposição.
Flavio de Campos, Oficina de História - História do Brasil.
Apesar do anúncio de distensão política, durante esse governo ocorreram retrocessos nesse processo, repre-
sentados
a) pela imposição do AI-5 e pela organização da OBAN.
b) pela criação da Escola Superior de Guerra e pela proibição da Frente Ampla.
c) pelo decreto da Lei de Segurança Nacional e pela outorga da ARENA e do MDB.
d) pelo adiamento das eleições de 198 e pela criação do SNI.
e) pela imposição do Pacote de Abril e pela Lei Falcão.
 24. Fuvest-SP 2017
Não nos esqueçamos de que este é um tempo de abertura. Vivemos sob o signo da anistia que é esquecimento, ou
devia ser. Tempo que pede contenção e paciência. Sofremos todo ímpeto agressivo. Adocemos os gestos. O tempo é de
perdão. (...) Esqueçamos tudo isto, mas cuidado! Não nos esqueçamos de enfrentar, agora, a tarefa em que fracassamos
ontem e que deu lugar a tudo isto. Não nos esqueçamos de organizar a defesa das instituições democráticas contra novos
golpistas militares e civis para que em tempo algum do futuro ninguém tenha outra vez de enfrentar e sofrer, e depois
esquecer os conspiradores, os torturadores, os censores e todos os culpados e coniventes que beberam nosso sangue e
pedem nosso esquecimento.
Darcy Ribeiro. “Réquiem”, Ensaios insólitos. Porto Alegre: L&PM, 1979.
O texto remete à anistia e à reexão sobre os impasses da abertura política no Brasil, no período nal do regime mi-
litar, implantado com o golpe de . Com base nessas referências, escolha a alternativa correta.
a) A presença de censores na redação dos jornais somente foi extinta em 1988, quando promulgada a nova
Constituição.
b) O projeto de lei pela anistia ampla, geral e irrestrita foi uma proposta defendida pelos militares como forma de apazi-
guar os atos de exceção.
c) Durante a transição democrática, foram conquistados o bipartidarismo, as eleições livres e gerais e a convocação da
Assembleia Constituinte.
d) A lei de anistia aprovada pelo Congresso beneficiou presos políticos e exilados, e também agentes da repressão.
e) O esquecimento e o perdão mencionados integravam a pauta da Teologia da Libertação, uma importante diretriz da
Igreja Católica.
 25. Unesp 2013
Eu acho que a anistia foi a solução, mas ela não foi completa. Quer dizer, não podiam ser anistiados aqueles que
mataram torturando, porque esse é um crime inafiançável. Quem mata calmamente, friamente, tem de sofrer um processo
e tem de sofrer também as consequências do seu ato. Isso nunca foi executado no Brasil como foi executado na Argentina
com todos os generais. O Brasil fez uma anistia pela metade, mas nós ficamos contentes porque não houve derramamento
de sangue.
D. Paulo Evaristo Arns. Cult, março de 2004.
Segundo a declaração de D. Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 7 e , a Lei da Anistia no Brasil,
de 7,
a) perdoou opositores e defensores do regime militar e, a despeito de suas imperfeições, impediu confrontos e
mortes entre setores políticos rivais.
b) inspirou-se na lei de anistia argentina, que julgou e condenou militares que mataram e torturaram durante o re-
gime militar.
c) foi inútil, uma vez que não puniu aqueles que atuaram, durante o regime militar, nos órgãos de repressão política
e policial.
d) foi equivocada, pois determinou o posterior levantamento, análise e julgamento dos crimes cometidos durante o
período do regime militar.
e) beneficiou os opositores do regime militar e condenou aqueles que os reprimiram por meio da violência e
da tortura.
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Texto complementar
Entrevista com o historiador Mateus Gamba Torres
Na entrevista feita com o professor do Departamento de História da Universidade de Brasília são abordadas questões relacionadas ao Supremo
Tribunal Federal e à atuação da mais alta instância do poder judiciário brasileiro durante a ditadura militar.
[...]
A resistência dos ministros do STF frente aos sucessivos arroubos autoritários do governo Bolsonaro tem levado a um maior interesse social
pela história da mais alta corte do país, sobretudo a sua atuação durante a ditadura militar (1964-1985). Como teriam atuado os ministros no
período? Foram cooptados ou fizeram um contraponto altivo aos ditadores?
Para conversar sobre o tema, entrevistei (por orres, professor do Departamento de História
da Universidade de Brasília. Torres é especialista em ditadura militar e defendeu, em 2014, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
uma tese intitulada “Política, discurso e ditadura: o Supremo Tribunal Federalnos julgamentos dos Recursos Ordinários Criminais (1964-1970)”.
Professor, vamos começar do básico: o que é o Supremo Tribunal Federal? Qual a sua função social e atribuições jurídicas?
O Supremo Tribunal Federal brasileiro é um órgão do poder judiciário. Ele é formado por 11 ministros, indicados pelo Presidente da República
e com seus nomes aprovados pelo Senado Federal. [...] O STF tem as funções de Corte Constitucional: decidir toda e qualquer questão jurídica
que tenha a ver com a Constituição. Além disso, ele serve como última instância do poder judiciário brasileiro em processos da chamada justiça
comum (não especializada, como a eleitoral, trabalhista ou Militar).
A função social e política desta corte se insere no chamado sistema de freios e contrapesos de Montesquieu, onde o Supremo Tribunal
Federal, na qualidade de Corte Constitucional, quando provocado através de alguma ação judicial, estabelece limites (dentro da Constituição)
para a atuação de outros poderes. [...]
As atribuições jurídicas do Supremo Tribunal Federal estão especificadas no artigo 102 da Constituição Federal de 1988, mas o mais importante
é que esse artigo o coloca como uma salvaguarda da constituição: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda
da Constituição”. Após tal artigo, especifica-se as ações e medidas que o Tribunal pode tomar caso seja provocado.
Como o STF de 1964 se diferencia do STF dos dias atuais, especialmente em termos de funcionamento?
Analisando a Constituição de 1946 percebe-se que não estava tão explícito essa “guarda da Constituição”. Talvez os agentes daquele tempo
considerassem que isso estava implícito, ou talvez não quisessem deixar tão explícito. Teríamos que pesquisar o processo de elaboração da
Constituição de 1946 para saber. Com relação ao funcionamento da corte, não havia a divisão em Turmas, como ocorre atualmente, tudo, naquela
época, era decidido em Plenário (com votos de todos os Ministros). Hoje, há duas turmas de 5 ministros, ambas presididas pelos mais antigos.
Caso o autor da ação ou o réu não concorde com o resultado de uma turma, ele pode recorrer ao Plenário do Tribunal para ter sua questão
dirimida. O Plenário é formado pelos 11 Ministros, que podem decidir a questão em definitivo.
No geral, comparando as Constituições de 1946 e 1988, as atribuições do STF são bem parecidas, especialmente como última instância em
alguns determinados processos: julgamento de Presidente da República, julgamento de Presidentes de outros Tribunais superiores (Eleitoral,
trabalhista, Militar), etc.
O que o STF poderia fazer diante do Golpe de 1964 e o que efetivamente ele fez naquela ocasião?
Bom, o judiciário sempre se coloca numa posição de “inércia”. Isso significa que ele somente pode agir quando “provocado”: em geral,
quando alguém entra com alguma ação. No momento do golpe, percebe-se que houve uma quebra institucional e constitucional gravíssima. Os
militares depuseram um presidente eleito, e isso contrariou artigos e procedimentos determinados na Constituição da República para uma pos-
sível destituição. Além disso, na continuação do golpe, no dia 2 de abril de 1964, entre 3 e 4 da manhã, o Presidente do Senado Federal, Auro de
Moura Andrade, declarou vaga a presidência da república, mesmo com o Presidente da República estando ainda em Porto Alegre pensando na
resistência. Todos os parlamentares e militares apoiadores do golpe se dirigiram a pé ao Palácio do Planalto para dar “posse” para o Presidente
da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli. Para dar um “verniz” de legalidade, eles literalmente acordaram e chamaram o Presidente do Supremo
Tribunal Federal Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa para também dar “posse” ao Presidente da Câmara dos Deputados.
Eu digo que seria nesse momento que o Supremo Tribunal Federal poderia se insurgir. Por exemplo: o presidente do STF poderia ter negado
a posse, não comparecer a ela ou, ainda, não considerar ela legal. A coisa foi tão estranha que um assessor da embaixada estadunidense que
estava no local, assistindo ao evento, foi perguntado posteriormente por seus chefes nos EUA: a insurgência militar e deposição do Presidente
foram legais? E ele respondeu que sim, afinal, o Presidente da Suprema Corte brasileira estava lá dando seu aval na “posse” do Presidente da
Câmara dos Deputados (essa informação está descrita no documentário “O dia que durou 21 anos”).
Nenhum dos 11 ministros fez qualquer declaração contra o golpe de 1964, nem aqueles que eram mais alinhados com João Goulart. Na
minha tese de doutorado, eu mostro que o grande medo dos ministros mais alinhados com o governo João Goulart era serem cassados, como,
de fato, o foram diversos políticos ligados ao ex-presidente. Ou seja, o STF foi mantido aberto pelos golpistas, e isso bastava para os membros
de poder ficarem calados. E em um primeiro momento, os ministros conseguiram o seu intento: não foram cassados no momento do golpe; isso
só aconteceria em 1969.
Hoje, diferentemente, eu noto os Ministros do STF se insurgindo contra esses tipos de declarações autoritárias, tanto quando se fala em
fechamento do Congresso, e ainda mais quando se fala em possível fechamento do STF.
[...]
58 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
No final dos anos 1960, sobretudo depois do AI-5, as denúncias de tortura e outras violações dos direitos humanos se tornaram
mais intensas. O STF enquanto instituição ou os seus ministros, individualmente, se pronunciaram a respeito? Mesmo cooptada, a
corte conseguiu agir por alguma brecha?
O que eu consegui notar na pesquisa que fiz em jornais da época é que desde 1964 a imprensa denunciava episódios de maus-tratos e
torturas. Porém, até onde eu li, em nenhum momento o STF se pronunciou sobre o assunto. Isso demandaria uma pesquisa mais aprofundada,
mas nem mesmo no site do STF existe qualquer menção a tortura. Não vi isso nem após o AI-5.
Um mês depois do AI-5, três Ministros foram cassados (aposentados compulsoriamente): Hermes Lima, Evandro Lins e Silva e Victor Nunes
Leal. Mais dois ministros pediram aposentadoria em solidariedade aos cassados: Antônio Gonçalves de Oliveira, na época presidente do tribunal,
e aquele que seria seu sucessor, Antônio Carlos Lafayette de Andrade. O tribunal, assim, voltou a configuração original de 11 ministros, sendo
10 nomeados pelos ditadores e o ministro Luiz Gallotti, que era apoiador do regime e assumiu a presidência nesse momento. Ou seja, havia
um Tribunal totalmente alinhado e amedrontado com a possibilidade de cassação. As denúncias de tortura não eram investigadas seriamente.
[...]
TORRES, Mateus Gamba. O Supremo Tribunal Federal durante a ditadura militar, segundo este historiador. Café História, 27 jul. 2020.
Disponível em:https://www.cafehistoria.com.br/o-stf-durante-a-ditadura-militar/. Acesso em: 1
o
 abr. 2022.
Resumindo
 As ditaduras na América Latina
y Apoio e interferência dos Estados Unidos durante o contexto da Guerra Fria.
y Principais características: fortalecimento da instituição militar, militarização da vida social e política, dissolução das instituições
representativas, declarado anticomunismo; falência ou crise dos partidos políticos tradicionais.
A ditadura civil-militar no Brasil
y Governo de Castelo Branco (1964-1967): AI-1 (fortalecimento do Executivo), AI-2 (bipartidarismo e eleições presidenciais indi-
retas) e AI-3 (eleições indiretas para os governos estaduais); Constituição de 1967.
y Governo de Costa e Silva (1967-1969): ciclo de oposição e repressão; AI-5 (Executivo com plenos poderes e consolidação da
montagem do aparelho de repressão).
y Junta Militar (1969): início dos “anos de chumbo”, fortalecimento da luta armada e da repressão; reforma constitucional de 1969.
y Governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1973): neutralização da luta armada; “milagre econômico”; primeira crise mundial
do petróleo e início da crise econômica no Brasil.
y Governo de Ernesto Geisel (1973-1979): promessa de abertura políticae revogação do AI-5.
y Governo de João Figueiredo (1979-1985): Lei de Anistia; retomada do pluripartidarismo; “Diretas Já” e últimas eleições indiretas
para Presidência.
Quer saber mais?
Podcasts
Estação Brasil # – O golpe de 964: como morre uma democracia
Nesse episódio são debatidos os acontecimentos que culminaram no golpe de .
Estação Brasil #9 – Guerra Fria no Brasil
Esse episódio destaca os fatores de maior repercussão da Guerra Fria no Brasil.
Livro
NAPOLITANO, Marcos.1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 04.
O livro de Marcos Napolitano oferece uma síntese dos  anos em que a ditadura militar vigorou no país.
Documentário
TAVARES, Camilo; TAVARES, Flávio. O dia que durou 21 anos.Brasil: Pequi Filmes(03).
O documentário aborda a influência estadunidense no golpe que ocorreu em , entre outros aspectos da ditadura
militar brasileira.
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1. Uema/Paes 2016 As décadas de  e 7 na
América Latina foram marcadas pela instauração de
Regimes Militares, quando foram implementados so-
fisticados mecanismos de repressão contra aqueles
considerados “ameaças” aos Governos Ditatoriais.
Exercícios complementares
http://ujesjile.blogspot.com///golpe-militar-no-chile-o-mais-doloroso.html.
Considerando as informações contidas na imagem
acima, analise historicamente duas características do
aparelho repressivo dos Regimes Militares nos diver-
sos países da América Latina.
2. UEL-PR 2019 Leia o texto a seguir.
Primeiro mataremos todos os subversivos; depois ma-
taremos seus colaboradores; depois seus simpatizantes,
depois os que permanecem indiferentes; e finalmente
mataremos os tímidos.
Declaração feita em 1976 pelo governador militar de Buenos Aires, General
Ibérico Saint-Jean. In: JABINE, Thomas; CLAUDE, Richard (Org.). Direitos
humanos e estatística: o arquivo posto a nu. São Paulo: EDUSP, 2007, p. 400.
A última ditadura militar Argentina (7-3) foi o re-
gime político mais violento e autoritário do Cone Sul.
Durante os sete anos em que comandou o país, estima-
-se que a Junta Militar e seus órgãos de repressão te-
nham assassinado cerca de trinta mil opositores, entre
militantes de esquerda e cidadãos críticos ao gover-
no. Segundo o discurso das Forças Armadas e dos
setores civis que as apoiavam, era preciso travar uma
guerra contra a subversão, podendo até mesmo o
ensino de matemática moderna ou gêneros musicais
como Rock’n roll serem considerados ameaçadores
à juventude. Os militares argentinos, assim como em
várias outras ditaduras da região, procuravam justi car
seus atos pela chamada Doutrina de Segurança Na-
cional (DSN). Com base nos conhecimentos acerca da
História da América Latina Contemporânea, responda
aos itens a seguir.
a) Indique quais países do Cone Sul viveram sob di-
taduras militares nos anos de 1960-1980.
b) Explique no que consistia a Doutrina de Seguran-
ça Nacional e contextualize o ciclo de ditaduras
latino-americanas desse período.
3. Fuvest-SP 2016 Leia este texto e responda ao que
se pede.
Em operação militar aeronaval, que se estendeu
pela madrugada de quinta-feira e pela manhã de on-
tem, fuzileiros navais e soldados do Exército argentino
ocuparam as Ilhas Malvinas (Falkland para os ingleses),
as Geórgias e Sandwich do Sul, pondo fim, de forma
abrupta, a negociações diplomáticas que vinham sendo
mantidas nos últimos dias entre os dois países. O presi-
dente argentino, general Leopoldo Galtieri, justificou a
invasão afirmando que o Reino Unido se havia apossado
desses territórios “por meios predatórios”. E acrescentou
que “a Argentina não se curvará diante de um desen-
volvimento intimidador das Forças Armadas britânicas,
que estão ameaçando com um uso indiscriminado da
força”. Em meio ao clima de euforia que tomou conta
do país, após o sucesso da operação de ocupação das
Malvinas, Galtieri anunciou uma medida excepcional:
foram postas em liberdade todas as 107 pessoas detidas
durante um recente ato de protesto da Confederação
Geral do Trabalho.
O Estado de S. Paulo, 03/04/1982. Adaptado.
a) Caracterize o regime político vigente na Argentina
à época em que ocorreu o conflito com o Reino
Unido (meses de abril a junho de 1982).
b) Indique duas mudanças – uma de natureza polí-
tica e uma de natureza econômica – provocadas
pela derrota da Argentina nessa guerra.
c) Levando em conta que, além de outras motiva-
ções, a guerra a que se refere o texto implicou
também aspectos geopolíticos, discorra sobre a
importância estratégica das ilhas envolvidas nes-
se conflito.
4. Uerj 2014 A história latino-americana na década de
7 foi marcada pela vigência de governos ditato-
riais. As fotografias a seguir remetem ao golpe militar
ocorrido no Chile em setembro de 73.
Ataque ao Palácio de Governo La Moneda (setembro de 1973).
60 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
Ex-membros da guarda presidencial de Salvador Allende com fotos de
colegas mortos durante o golpe, em frente ao Palácio de Governo La
Moneda (setembro de 2011).
Fonte: Augusto Bandeira, Correio da Manhã, 14/07/1963 (em cima) e Biganti,
O Estado de S. Paulo, 09/02/1964 (embaixo). Imagens extraídas de: Rodrigo
Patto Motta, Jango e golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006, p. 98 e 165.
Cite duas características comuns aos governos dita-
toriais latino-americanos. Em seguida, identifi que uma
das principais reivindicações da sociedade chilena
com relação às heranças do golpe de 1973.
5. UFPR 2019 Leia o seguinte trecho de um texto sobre
as Comissões da Verdade na América Latina nos sé-
culos XX e XXI:
A América Latina é um rico cenário para exemplos
de como o reconhecimento e a responsabilização podem
se mostrar custosos. Leis de anistia feitas pelos próprios
governos militares foram muito comuns. No Brasil, a lei
foi aprovada em 1979 [...]. Em muitos países da América
Central e do Sul, há uma tradição de impunidade e es-
quecimento. Soldados e membros das forças de segurança
torturaram e mataram centenas de pessoas sem medo de
punição. Na Guatemala, Peru e Colômbia, as cortes milita-
res se recusavam a condenar oficiais acusados de violações
aos direitos humanos [...]. No entanto, devido à pressão
de setores importantes da sociedade civil, a maioria dos
governos democráticos tem revisto a opção pela amnésia
e criado comissões de verdade para investigar as violações
ocorridas.
(PINTO, Simone Rodrigues. Direito à Memória e à Verdade: Comissões de
Verdade na América Latina. Revista Debates, Porto Alegre, v. 4, n. 1, jan.-jun.
2010, p. 133-134.)
A partir do excerto acima e dos conhecimentos so-
bre a história política do Brasil nas décadas de 1960 a
1980, responda:
a) O que foi a lei da anistia no Brasil em , a
quem ela afetou e de que forma?
Tendo em vista os trabalhos da Comissão Nacio-
nal da Verdade no Brasil entre  e , a
lei da anistia foi revogada em nosso país após a
divulgação dos resultados da Comissão?
b) O que foi o processo da chamada “abertura” polí-
tica, iniciada a partir de , quais foram as suas
características e quem foram os atores sociais en-
volvidos e com quais interesses?
6. Fuvest-SP Considere as seguintes charges.
Essas charges foram publicadas durante a presidên-
cia de João Goulart (1961-1964).
a) Cada charge apresenta uma crítica a um determi-
nado aspecto do governo de Goulart. Identifique
esses dois aspectos.
b) Analise como esses dois aspectos contribuíram
para a justificativa do golpe militar de .
7. Uerj 2016
Meu país aumentará a ajuda ao Brasil, para cooperar
com o novo governo. As mudanças registradas no Brasil
foram feitas de acordo com a Constituição. Os militares,
os governadores de Estados Democráticos e os que os
apoiaram puseram fim a uma ameaça contra o sistema
constitucional do Brasil. Derrubaram o presidente João
Goulart para defender a Constituição.
Dean Rusk, secretário de Estado dos E.U.A., abril de 1964.
Peço ao Congresso a condenação do movimento mi-
litar brasileiro.O Terceiro Mundo, o dos países que foram
colonizados e lutam por sua grandeza, foi golpeado pela
plutocracia mundial, o governo dos mais ricos e podero-
sos. Isso é sentido pelos mexicanos em sua própria carne.
Antonio Vargas MacDonald, deputado mexicano, abril de 1964. Adaptado de
Nosso Século (1960-1980). São Paulo: Abril Cultural, 1980.
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Variadas foram as repercussões internacionais à deposição do Presidente João Goulart, em abril de , como
expressam os depoimentos citados. Considerando a natureza do movimento que depôs o presidente brasileiro
em , identique a principal diferença entre o posicionamento do secretário de Estado norte-americano e o do
deputado mexicano. Em seguida, apresente um aspecto do contexto internacional da época que explique o posicio-
namento dos E.U.A.
8. Unicamp-SP
O Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) se destacaram na
oposição ao governo de João Goulart (1961-1964) e no combate ao comunismo. Ambos financiavam dezenas de programas
semanais de rádio, como o “Cadeia de Democracia”, opondo-se a emissoras de orientação legalista, como a Rádio Mayrink
Veiga, fechada após o golpe militar de 1964.
(Adaptado de René A. Dreifuss, 1964: A conquista do Estado. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 149 e de Lia Calabre, A era do rádio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004, p. 50).
a) Por que o rádio era o meio de comunicação mais cobiçado pelos políticos no período apontado no texto?
b) Por que instituições como as mencionadas no texto consideravam João Goulart um presidente comunista?
c) Quais os significados da expressão “orientação legalista”, acima mencionada, no contexto do governo de João
Goulart e no contexto do regime militar de 1964?
9. Uerj 2017
Desde as manifestações de junho de 2013, um coro voltou às ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. De
fato, trata-se de uma verdade e, também de fato, de uma verdade dura. (...)
A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História. O GLOBO, de fato, à época,
concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo,
Jornal do Brasil e o Correio da Manhã. (...)
Naquele contexto, o golpe, chamado de “Revolução”, termo adotado pelo GLOBO durante muito tempo, era visto pelo
jornal como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia.
Adaptado de O Globo, 31/08/2013.
Passados  anos, um importante veículo de comunicação do Brasil alterou seu entendimento sobre a deposição do
presidente João Goulart, ressaltando que adotou na época a mesma postura de outros grandes jornais.
Aponte um efeito da postura editorial assumida pelos grandes jornais que tenha contribuído para o desfecho da crise
de . Em seguida, indique uma razão para a mudança de posicionamento do jornal, ocorrida em 3, que esteja
relacionada às transformações políticas no país desde o m dos governos militares.
10. Fuvest-SP 2013 Leia os textos abaixo:
Coube ao Gen. Mourão Filho, Cmt. da 4ª Região Militar, essa histórica iniciativa, a 31 de março, nas altaneiras monta-
nhas de Minas. E a Revolução, sem que tivesse havido elaboradas articulações prévias entre os Chefes Militares, – não teria
havido tempo para isto – empolga o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, para ter seu epílogo às 11h45min do dia 2 de abril,
no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, com a partida do ex-Presidente João Goulart para o estrangeiro.
M. P. Figueiredo. A Revolução de 1964. Um depoimento para a história pátria. Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 11-12. Adaptado.
Capas de jornais publicadas em //.
62 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
Adaptado de bibliotecatolicasc.files.wordpress.com.
Passeata dos Cem Mil, Rio de Janeiro, 26/06/1968
alerj.rj.gov.br
Lembro-me bem do dia 31 de março de 1964. Era
aluno do curso de Sociologia e Política da Faculdade de
Ciências Econômicas da antiga Universidade de Minas Ge-
rais e militava na Ação Popular, grupo de esquerda católica
[...] No dia seguinte, 1º de abril, já não havia dúvida sobre
a vitória do golpe. Saí em companhia de colegas a vagar
pelas ruas de Belo Horizonte [...] Contemplávamos, perple-
xos, a alegria dos que celebravam a vitória e assistíamos,
assustados, ao início da violência contra os derrotados.
J. M. de Carvalho. Forças Armadas e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2005, p. 118.
a) Que denominação cada autor utilizou para se re-
ferir ao regime instaurado após 1 de março de
1964? A que se deve essa diferença de denomi-
nação?
b) Tal diferença se relaciona com a criação da Co-
missão da Verdade em 2012? Justifique.
11. Unicamp-SP 2019
O cineasta Orlando Senna conta a experiência de ver
a primeira exibição do filme Deus e o Diabo na Terra do
Sol de Glauber Rocha em 1964: “era uma plateia pequena
e nós vimos pela primeira vez, pronto, o Deus e o Diabo
na Terra do Sol, e foi aquele impacto pra vida inteira. Eu
me lembro que quando o filme terminou de ser exibido,
foi um silêncio enorme. Teve um silêncio, e depois de um
tempo enorme, toda essa plateia chorando.”
(Adaptado do filme O Guarani. Direção de Cláudio Marques e Marília
Hughes. Salvador, 2008.)
A partir do relato acima e de seus conhecimentos his-
tóricos, responda às questões.
a) O filme de Glauber Rocha trata da figura do sertane-
jo, privilegiando o messianismo. Cite e explique dois
elementos fundamentais do messianismo no Nor-
deste brasileiro entre as décadas de 1890 e 190.
b) O depoimento registra o impacto produzido pelo
filme em sua primeira exibição, no dia 1 de
março de 1964. Explique o significado cultural e
político do Cinema Novo no Brasil dos anos 60.
12. Unesp 2016
Desde 1964, o novo regime exerceu forte pressão
sobre cultura identificada com propostas de transforma-
ção social, objetivando impedir a continuidade de uma
experiência que ganhava corpo. Apesar do quadro ad-
verso, a cultura de oposição não perdeu vigor, buscando
novas estratégias e assumindo variados estilos, conforme
o momento da ditadura e a feição própria dos debates
entre os próprios cineastas que, solidários no impulso de
resistência, tinham posições distintas no modo de con-
ceber suas obras e encaminhar suas escolhas temáticas
e opções estéticas.
Ismail Xavier. “O momento do golpe, as primeiras reações e o percurso do
cinema de oposição no período da ditadura”. In: Angela Alonso e Miriam
Dolhnikoff (org.). 1964: do golpe à democracia, 2015.
Dê um exemplo e uma característica da produção
cinematográca brasileira mencionada no texto. Consi-
derando outras manifestações culturais “de oposição”
que tiveram grande impacto no mesmo período,
indique uma ocorrida no campo da música e uma
ocorrida no campo do teatro.
13. Uerj 2018
Publicado em 1977, A hora da estrela tornou-se
também filme, dirigido por Suzana Amaral, em 1985. A
personagem principal, Macabéa, é uma alagoana que
migra para o Rio de Janeiro. Para Clarice Lispector, seu
livro era “a história de uma moça tão pobre que só comia
cachorro-quente, a história de uma inocência pisada, de
uma miséria anônima”. Para a diretora do filme, Macabéa
é o retrato do Brasil, pelo menos naquela época”.
Adaptado de Panorama com Clarice Lispector, TV Cultura Digital, 1977.
A história da personagem do romance de Clarice Lis-
pector ilustra aspectos das migrações internas no Brasil.
Apresente um fator econômico que tenha contribuí-
do para a migração de populações nordestinas para
o Sudeste durante os governos militares ( -).
Em seguida, aponte uma característica das condições
de vida desses migrantes em cidades como Rio de
Janeiro e São Paulo, naquele momento.
14. Uerj 2015
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O ano de 1968 tornou-se sinônimo de uma rebelião
estudantil mundial. Mas 1968 não existiu de uma forma
isolada, ele foi o ponto culminante de uma década de
movimentos que se espalharam por quase todo o plane-
ta. No Brasil, na França, no México, nos EstadosUnidos,
na Espanha, no Canadá, na Argentina, na Venezuela, na
Polônia, na Tchecoslováquia, países com diferentes reali-
dades políticas e diversas condições econômicas se viram
enfrentando um mesmo fenômeno político: rebeliões de
jovens estudantes universitários e secundaristas.
Adaptado de ARAUJO, M. P. Memórias estudantis: da fundação da UNE
aos nossos dias. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2007.
Os movimentos de contestação política ocorridos
na década de  tiveram motivações variadas. No
Brasil, a Passeata dos Cem Mil foi o episódio mais
marcante nesse contexto.
Aponte dois elementos do contexto político brasileiro
da época associados diretamente à ocorrência dessa
passeata. Em seguida, apresente um motivo que, em
, contribuiu para a eclosão de revoltas em um dos
outros países citados no texto.
15. UEL-PR 2015 Durante a Ditadura Militar, no Brasil, em
especial após o AI- em , inicia-se um período
de intensa censura às produções culturais, inclusive
das músicas, quando vários cantores e compositores
tiveram partes e mesmo canções inteiras vetadas à
divulgação, discos banidos das lojas, e, como pu-
nição, alguns foram condenados ao exílio. Pode-se
afirmar que o cantor e compositor Chico Buarque de
Hollanda foi um dos alvos prediletos da censura, o
que o levou a adotar o pseudônimo “Julinho da Ade-
laide”, por um tempo. A canção Apesar de Você, de
7, foi um dos alvos dos censores. Leia parte de
sua letra a seguir.
Hoje você é quem manda Falou, tá falado / Não tem
discussão, não.
A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando
pro chão. Viu?
Você que inventou esse Estado / Inventou de inventar
Toda escuridão / Você que inventou o pecado / Esque-
ceu-se de inventar o perdão.
Apesar de você / amanhã há de ser outro dia. / Eu
pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia? / Como vai proibir / Quando o
galo insistir em cantar?
Água nova brotando / E a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento /
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido, / Esse grito contido, / Esse
samba no escuro.
Você que inventou a tristeza / Ora tenha a fineza /
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado, / Cada lágrima rolada /
Nesse meu penar.
Apesar de você / amanhã há de ser outro dia. / Eu
pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia? / Como vai proibir / Quando o
galo insistir em cantar?
Água nova brotando / E a gente se amando sem parar.
Apesar de Você (compacto simples)/Álbum Chico Buarque – 1970.
É possível perceber, por meio da canção de Chico
Buarque, certas características da sociedade daquele
período que o Regime Militar preferia que a grande
maioria da população não viesse a conhecer. Disserte
sobre pelo menos uma dessas características.
16. Unesp 2019
a) Identifique e explique o que é o “sr. ATO cinco”.
b) Escolha dois dos quatro artigos do “pedido de
divórcio” e justifique as afirmações neles apre-
sentadas.
17. UFU-MG 2019 O AI- (Ato Institucional número ) é
considerado por historiadores e por cientistas políti-
cos como o mais duro golpe na democracia brasileira
dos anos  por ter dado poderes totalitários ao re-
gime militar. Ele entrou em vigor em 3 de dezembro
de , durante o governo do general-presidente
Artur da Costa e Silva.
Considerando-se as informações apresentadas, res-
ponda às questões abaixo.
a) Cite e explique cinco das determinações mais im-
portantes do Ato Institucional número 5.
b) No contexto posterior à publicação do AI-5, os
aparelhos policiais e militares de repressão am-
pliaram-se e se espalharam por várias cidades
e estados brasileiros. Explique as principais fun-
ções e características do Doi-codi e do Dops nos
chamados “Anos de Chumbo”.
(Henfil, Cartas da mãe, 1980.)
64 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
18. UFU-MG 2016
Assim, era possível crescer apostando no consumo
de bens duráveis dos segmentos mais endinheirados da
classe média que perfaziam um mercado de cerca de vinte
milhões de pessoas, pouco mais de 20% da população. O
Estado, cujo caixa estava reforçado por novos impostos e
pelos empréstimos internacionais, continuaria investindo
em grandes obras, estimulando o mercado de construção
civil, que passaria a crescer cerca de 15% ao ano até 1973.
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro.
São Paulo: Contexto, 2014, p.149 (Adaptado).
O período de grande crescimento da economia sob o
governo Médici alimentou as esperanças de um “mi-
lagre” que pudesse conduzir o Brasil ao tão sonhado
Primeiro Mundo. A respeito da economia brasileira
neste período,
a) caracterize o papel do fechamento do sistema
político, especialmente pós AI-5, para a acelera-
ção da economia durante o governo Médici.
b) explique dois fatores que produziram a crise da
economia brasileira, já no final do governo Médici,
e o fim do “milagre econômico”.
19. PUC-SP 2017
“(...) A economia se aqueceu e a inflação, em vez de
subir, passou a cair. Teve início um surto de crescimento
que, no seu apogeu, superou qualquer período anterior,
e o governo começou a falar em ‘milagre econômico bra-
sileiro’. A performance de crescimento seria indiscutível,
porém o milagre tinha explicação terrena. Misturava, com
a repressão aos opositores, a censura aos jornais e demais
meios de comunicação, de modo a impedir a veiculação
de críticas à política econômica, e acrescentava os ingre-
dientes da pauta dessa política: subsídio governamental
e diversificação das exportações, desnacionalização da
economia com a entrada crescente de empresas estrangei-
ras no mercado, controle do reajuste de preços e fixação
centralizada dos reajustes de salários. (...)
SCHWARCZ, Lilia M. e STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São
Paulo: Cia das Letras, 2015, pp. 452-453.
O texto trata da economia brasileira durante o governo
Médici (-7). De acordo com as autoras, o “milagre
econômico” desse período pode ser explicado pela
a) Negociação entre governo e setores da socie-
dade civil, o que permitiu a incorporação dos
projetos liberais nacionais de aumento da concor-
rência e da produção ao programa do governo.
b) eliminação das críticas de opositores ao progra-
ma do governo, que era pautado no incentivo
estatal às exportações, na abertura ao capital es-
trangeiro e no controle de preços e salários.
c) substituição do programa liberal pela planificação
econômica, apoiada pelos setores produtivos
nacionais e internacionais, o que revigorou o mer-
cado interno por meio do aumento dos salários.
d) implementação do controle de gastos do gover-
no, exigido por grupos econômicos nacionais e
internacionais como condição para realizarem os
investimentos necessários nas indústrias de base.
20. Unesp 2015
("Almanaque do Ziraldo", julho de 7. Nosso Século: 1960/1980, .)
A imagem  deriva de uma campanha governamental
e a imagem  é uma charge, ambas referentes ao Bra-
sil dos anos 7.
É correto dizer que cada uma delas trata o lema “Bra-
sil: ame-o ou deixe-o” de forma diferente? Justique
sua resposta, associando as imagens ao regime políti-
co brasileiro do período.
21. Unesp 2018
A Transamazônica inscrevia-se também nesse amál-
gama Geopolítica-Segurança Nacional. No caso da
Amazônia, o projeto da corrente nacionalista de direita do
Exército era o de povoar, mas as contingências do tempo
e do capital não seguiam mais as fórmulas pombalinas.
Assim, na impossibilidade de povoar com gente – seria
necessária a migração de toda a população brasileira
para chegar-se a taxas de densidade razoáveis no vasto
território amazônico – optou-se pelo povoamento com
interesses: a Zona Franca de Manaus configura-se como
uma modalidade de povoamento por meio de interesses
constituídos. A própria Transamazônica era uma estratégia
mista de povoamento populacional e de interesses.
Francisco de Oliveira. “A reconquista da Amazônia”.
Novos Estudos Cebrap, março de 1994. Adaptado.
a) Em que período da história brasileira foi proposto e
iniciado o projeto de construção da rodovia Trans-amazônica? Qual semelhança o texto estabelece
entre o projeto de construção da Transamazônica
e a constituição da Zona Franca de Manaus?
b) Qual foi a justificativa dada pelo governo federal
para a abertura da estrada? A que se refere a afirma-
ção de que “A Transamazônica inscrevia-se também
nesse amálgama Geopolítica-Segurança Nacional”?
Nosso Século:
1960/1980, .)
IMAGEM 1
IMAGEM 2
BNCC em foco
1.
a)
b)
c)
d)
e)
EM13CHS201
22. Unesp 2018
[...] a década de 1970 começou repressiva, sangui-
nária e careta. [...] Os poucos heróis que tentavam fazer
a guerrilha foram se isolando, sem respaldo, nem dos
camponeses, nem do proletariado. O país estava triste e
ufanista ao mesmo tempo. [...]
Quando, em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi
torturado até a morte e os militares tentaram fazer valer a
versão de um suicídio, a oposição começou a pegar fogo
outra vez.
Maria Rita Kehl. “As duas décadas dos anos 70”. In: Anos 70:
trajetórias, 2005.
a) Explique a afirmação “O país estava triste e ufanis-
ta ao mesmo tempo”.
b) Caracterize e exemplifique a transformação que o
texto sugere ocorrer no cenário interno brasileiro
após 195.
23. Unesp 2014 A chamada “abertura política”, do final da
década de 7 e início da década de , foi um fator
importante, ao lado de outros, para o encerramento do
regime militar e para a redemocratização brasileira.
Caracterize essa “abertura”, citando dois exemplos de
ocorrências relacionadas a ela.
24. PUC-Rio Sobre o processo de abertura política, inicia-
do no governo do general Ernesto Geisel (7-7),
ANALISE as afirmativas abaixo.
I. O processo de abertura política foi marcado por
avanços e recuos, sendo o chamado Pacote de
Abril um conjunto de medidas que representou
um “passo atrás” na liberalização do regime.
II. A liberalização do regime militar ocorreu na
prática de forma tranquila, sem que o governo
enfrentasse a oposição de grupos que fossem
contrários ao projeto de abertura política “lenta,
gradual e segura”.
III. O Congresso aprovou o fim do AI-5, o fim da
censura prévia e o restabelecimento do habeas
corpus para crimes políticos consolidando-se,
deste modo, a liberalização do regime.
IV. Ao longo do governo Geisel, os grupos de opo-
sição voltaram a se mobilizar, destacando-se o
movimento estudantil e o movimento operário,
com a greve de São Bernardo.
Assinale a alternativa correta:
a) Somente as afirmativas I e II estão corretas
b) Somente as afirmativas I e III estão corretas
c) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
25. Fuvest-SP 2015 Em  de abril de , a Câmara dos
Deputados do Brasil rejeitou a Emenda Constitucional
que propunha o restabelecimento das eleições dire-
tas para a presidência da República. Durante quase
nove meses, situação e oposição realizaram articula-
ções políticas, visando à escolha do novo presidente.
Em  de janeiro de , Tancredo Neves foi eleito
presidente do Brasil por um Colégio Eleitoral.
a) Explique em que consistia esse Colégio Eleitoral
e como ele era composto.
b) Identifique e caracterize a articulação política vito-
riosa na eleição presidencial de 1985.
66 HISTÓRIA Capítulo 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina
2.
a)
b)
c)
d)
e)
3.
EM13CHS201
EM13CHS201
a)
b)
c)
d)
e)
Ulysses Guimaraes,
então presidente
da Assembleia
Constituinte, erguendo
a Constituição
promulgada em 1988.
A Nova República (de 1985 à atualidade)
13
CAPÍTULO
FRENTE 1
A história do Brasil republicano foi marcada por uma sequência de governos oligár-
quicos, que perduraram por 40 anos, e duas ditaduras (a getulista e a civil-militar), que
somadas se estenderam por mais de três décadas. Os períodos democráticos foram
relativamente curtos e marcados por enormes exclusões, como a dos analfabetos, que
não tinham direito ao voto. Não havia, nesse sentido, uma tradição democrática à qual
se pudesse retornar. Neste capítulo, vamos estudar o período mais recente da República
brasileira: do pós-ditadura aos dias atuais.
A
g
e
n
ci
a B
ra
si
l
68 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
Governo de José Sarney (1985-1990)
João Baptista Figueiredo, último presidente do governo
militar, quebrou um antigo protocolo e não passou a faixa
presidencial ao seu sucessor, José Sarney, que inicialmente
apoiou a ditadura, mas tornou-se oposicionista nos últimos
anos do regime militar. Ao assumir definitivamente a presi-
dência após a morte de Tancredo Neves, em abril de 1985,
Sarney tinha dois desafios de primeira ordem: revogar as
leis da ditadura militar e criar uma nova Constituição.
Em relação à organização dos poderes, adotou-se a
tripartição, buscando abrandar a supremacia do Executivo,
decisão que indicava uma direção contrária à do regime
anterior. Ficou determinado que o Poder Legislativo seria
bicameral, exercido pelo Congresso Nacional, composto
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. A Câ-
mara é composta de representantes do povo eleitos pelo
voto direto, secreto e universal, e pelo sistema proporcional
para mandatos de quatro anos. Já o Senado é composto
por representantes dos estados e do Distrito Federal (to-
talizando três senadores por unidade federativa), para um
mandato de oito anos.
O Poder Executivo seria exercido pelo presidente da
República, eleito junto ao vice e auxiliado pelos ministros
do Estado, e não seria permitida a reeleição. No entanto,
a partir do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-
-2002), com a instituição da emenda constitucional número
16, em 1997, foi permitida uma única reeleição.
O Poder Judiciário passou a ser exercido pelos seguin-
tes órgãos: Conselho Nacional de Justiça, Superior Tribunal
de Justiça, Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais,
Tribunais e Juízes Militares, Juízes e Tribunais do Trabalho,
Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Ter-
ritórios. A Constituição criou também o Supremo Tribunal
de Justiça (STJ), órgão de convergência da Justiça Comum,
responsável pela uniformização da interpretação da lei fe-
deral em todo o Brasil.
No âmbito dos direitos, consolidaram-se no texto os
princípios democráticos e a defesa dos direitos individuais
e coletivos. Considerado obrigatório pela primeira vez, o
voto tornou-se de fato universal, incluindo os analfabetos,
embora até hoje eles sejam impedidos de se candidata-
rem. Também de maneira inédita, o racismo e a tortura
tornaram-se crimes, e a importância da defesa e da pre-
servação do meio ambiente foi evidenciada. Os direitos
dos trabalhadores foram ampliados: a jornada semanal
não poderia ultrapassar 44 horas e a licença-maternidade
seria de quatro meses. Manteve-se a estabilidade dos
funcionários públicos concursados e a aposentadoria por
idade, para qualquer profissão.
O maranhense José Sarney foi o primeiro civil a assumir a presidência da
República após 21 anos de ditadura militar. Foto de 2.
Em fevereiro de 1987, os trabalhos legislativos foram
iniciados no intuito de redigir uma nova Constituição para
o Brasil. Os partidos PMDB, PFL, PDS e PTB, conhecidos
como partidos do centrão, obtiveram o controle da Assem-
bleia Nacional Constituinte, responsável pela elaboração
da nova Constituição. Inspirada na Constituição portuguesa
de 1976, a Carta Magna de 1988, conhecida como Cons-
tituição Cidadã, é a mais democrática e republicana da
história do Brasil.
Ao ser promulgada, a Constituição de 1988 determi-
nava que o país seria uma república presidencialista e que
a duração do governo seria de quatro anos. A Constitui-
ção anterior estipulava que o governo deveria permanecer
no poder por seis anos. Alegando ser um governo de
transição, Sarney manteve-se por cinco anos na presidên-
cia, decisão que levou um setor do PMDB, liderado por
Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique
Cardoso (FHC), a fundar o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB) em junho de 1988.
A forma de Estado escolhida foi a federação, que possi-bilitou uma sensível ampliação da autonomia administrativa
e financeira dos estados. A capital federal foi mantida em
Brasília. A inexistência de uma religião oficial também pas-
sou a constar na Constituição, de acordo com a qual o Brasil
é um país laico, embora no preâmbulo conste a expressão
“sob a proteção de Deus”, que só não esteve presente nas
constituições brasileiras de 1891 e 1937.
Parlamentares comemorando o fim da Assembleia Nacional Constituinte.
A elaboração da Carta Cidadã se estendeu de 1
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 de fevereiro de 1987 a
5 de outubro de 1988. Foto de 1988.
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O quadro econômico herdado da ditadura militar era grave. A inflação chegava a 500% ao ano. O Ministério da Fazenda
ordenou cortes de gastos e o congelamento salarial como medidas para conter a inflação. O resultado foi o aumento do
desemprego e a diminuição do poder aquisitivo da população, assim como o agravamento da desigualdade social no país.
De acordo com a equipe econômica de Sarney, ocorria no Brasil a inflação inercial, assim chamada em virtude de
seu caráter contínuo e de suas taxas crescentes, que levavam os preços a serem reajustados automaticamente com base
na inflação anterior. Para combatê-la, o governo argumentava que seria necessário adotar uma medida mais drástica,
como o congelamento de preços, que acabaria com a correção monetária, e o estabelecimento de uma moeda forte que
substituísse o desmoralizado cruzeiro. Foi assim que, em 1986, Sarney anunciou o Plano Cruzado.
O cruzeiro foi substituído pelo cruzado na proporção de 1000 para 1. Preços e salários foram congelados por prazos
indeterminados e os aluguéis congelados por um ano. Reajustou-se o salário-mínimo pelo valor da inflação dos últimos
meses e foi concedido um abono de 8%. Os reajustes posteriores ocorreriam automaticamente sempre que a inflação
chegasse a 20%. Sarney convocou a população a colaborar na execução do Plano Cruzado e fiscalizar o congelamento
dos preços.
Passado o entusiasmo inicial, o plano mostrou-se um
fracasso. Com os preços congelados, houve uma verdadei-
ra corrida pelo consumo de carne, leite, automóveis e até
viagens, ocasionando uma crise de desabastecimento. Além
disso, o fortalecimento da moeda criou um súbito impulso nas
importações, o que desequilibrou as contas no país.
Diante desse cenário, o governo propôs o fim do cru-
zado, elevou impostos diretos sobre produtos e liquidou
o congelamento. A inflação disparou. Vários outros planos
foram desenvolvidos, como o Plano Bresser e o Plano Ve-
rão, que substituiu o cruzado pelo cruzado novo e impôs
um novo congelamento, mas não houve sucesso. O Brasil
enfrentava novamente uma estagnação com inflação, que
projetava-se a 5 000%. Observe, no gráfico a seguir, a evo-
lução da inflação no governo Sarney.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organiza-
ção social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1o São terras tradicionalmente ocupadas pelos
índios as por eles habitadas em caráter permanente,
as utilizadas para suas atividades produtivas, as im-
prescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua re-
produção física e cultural, segundo seus usos, costumes
e tradições.
§ 2o As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3o O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas
minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades
afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
[...]
 Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus
direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.
Estabelecendo relações
As pessoas que denunciavam estabelecimentos comerciais que não
respeitassem o congelamento de preços eram chamadas de “fiscais do
Sarney”. A Sunab, antigo órgão responsável pela política de abastecimento
do país, interditava esses estabelecimentos. Na foto, fiscais da Sunab no Rio
de Janeiro (RJ), 1986.
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70 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
Desde a eleição de Jânio Quadros, em 1960, a po-
pulação brasileira não votava para eleger o presidente. A
primeira oportunidade surgiu em 1989. Entre os 22 candi-
datos que concorreram ao cargo, despontaram ex-arenistas,
como Paulo Maluf e Aureliano Chaves, um herdeiro do
varguismo, Leonel Brizola, um ex-guerrilheiro, Fernando
Gabeira, além de nomes importantes da abertura política
negociada, como Mário Covas e Ulysses Guimarães, e um
sindicalista que obteve projeção nacional, Luiz Inácio Lula
da Silva. A vitória, contudo, foi de Fernando Collor de Mello,
que era desconhecido na maior parte do país, mas vinha de
uma antiga família de políticos em Alagoas. Collor se tornou
conhecido pelo discurso anticomunista, no qual costumava
associar Lula à “bandeira vermelha", e anticorrupção, mar-
cado pela promessa de “caça aos marajás” (funcionários
públicos com salários altos) . Ele foi eleito aos 40 anos de
idade com 35 milhões de votos, tornando-se o presidente
mais jovem e mais votado da história do Brasil.
J F A J J A S D J F A J J A S D J F A J J A S O D J F JA J J A S O D J F A J J A S O
Cruzeiro
Início do Plano
Cruzado 2
Início do
Plano Bresser
Início do
Plano Verão
Cruzado Cruzado Novo
Recorde histórico
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30
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20
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10
5
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%
Gatilho
salarial
Posse de
Sarney
Posse de
Collor
Pereira
1985 1986 1987 1988 1989 1990
Deflação: -0,1
Início do
Plano Cruzado
Infl ação no Brasil – 1985 a março de 1990
Fonte: Governo José Sarney (-). A inflação do governo Sarney, mês a mês. Atlas Histórico do Brasil. FGV-CPDOC.
Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-jose-sarney--/mapas/inflacao-do-governo-sarney-mes-mes. Acesso em:  jan. .
Governo de Fernando Collor de Mello
(1990-1992)
No dia de sua posse, Collor apresentou o Plano Brasil
Novo (ou Plano Collor), conduzido pela ministra da Economia
Zélia Cardoso de Mello. O plano era ancorado no congela-
mento de preços e de salários e na mudança de moeda, que
consistia em substituir o cruzado novo pela volta do cruzeiro.
O Plano Collor incluía também aumento de impostos,
corte de subsídios e abertura comercial do Brasil, o que
acarretava na das importações. No entanto,
a medida que causou maior controvérsia foi o bloqueio da
conta-poupança dos brasileiros, cujo saque ficou limitado a
50 mil cruzeiros. O governo só liberaria a quantia acima do
teto confiscada após 18 meses, em 12 parcelas mensais.
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O plano foi um grande fracasso: em dezembro, a in-
flação passava dos 1 000% e o PIB encolhia 5%. Como se
não bastasse, muitos receberam seu dinheiro da poupan-
ça décadas depois, outros nunca receberam. A poupança
confiscada resultou em situações dramáticas para a maior
parte das pessoas, muitas delas dependentes do dinheiro
aplicado. Collor iniciou também um processo de abertura
a importações.
Cabe notar também que, em 1991, após longos anos
de negociação, foi oficializado o Mercado Comum do Sul
(Mercosul), bloco econômico sul-americano então formado
por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e outros países as-
sociados ou observadores.
No entanto, enfraquecido pelas dificuldades econômi-
cas às quais a população foi submetida e por denúncias
de corrupção que ganhavam destaque desde 1991, Collor
perdeu de vez o apoio a partir de maio de 1992. Em uma
entrevista, Pedro Collor, seuirmão, o acusou de encabeçar
um esquema de corrupção operado por Paulo César Farias,
tesoureiro de sua campanha. De acordo com a denúncia,
PC Farias, como era conhecido, extorquia dinheiro de em-
presas que dependiam de negócios com o governo federal
por meio de chantagens e ameaças. Ainda segundo Pedro
Collor, o presidente ficava com 70% das propinas recebidas.
A grande quantidade de escândalos envolvendo o
governo Collor mobilizou a União Nacional dos Estudan-
tes (UNE) a organizar uma série de passeatas pelo país a
favor do impeachment. A mobilização teve a adesão de
milhares de estudantes, que ficaram conhecidos como
caras-pintadas.
Por iniciativa dos parlamentares do Partido dos Tra-
balhadores, iniciou-se a instalação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o presidente. Em 29
de setembro de 1992, o impeachment de Collor foi levado
à votação no Congresso. Por 441 votos a favor, foi apro-
vada a saída de Collor, que acabou renunciando antes do
resultado da votação.
Art. 1o.É considerado prejudicado o pedido de apli-
cação da sanção de perda do cargo de Presidente da
República, em virtude da renúncia ao mandato apresentada
pelo Senhor Fernando Affonso Collor de Mello e formali-
zada perante o Congresso Nacional, ficando o processo
extinto nessa parte.
Art. 2o.É julgada procedente a denúncia por crimes
de responsabilidade, previstos nos arts. 85, incisos IV e V,
da Constituição Federal, e arts. 8o, item 7, e 9o, item 7, da
Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.
Art. 3o.Em consequência do disposto no artigo an-
terior, é imposta ao Senhor Fernando Affonso Collor de
Mello, nos termos do art. 52, parágrafo único, da Cons-
tituição Federal, a sanção de inabilitação, por oito anos,
para o exercício de função pública, sem prejuízo das de-
mais sanções judiciais cabíveis.
Saiba mais
Governo de Itamar Franco
(1992-1994)
Após a renúncia de Collor, Itamar Franco tomou posse
em 2 de outubro de 1992. Entre as medidas de seu gover-
no, estava o Plano Real, pacote de reformas lançado por
seu Ministro da Fazenda, o sociólogo Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), para conter os surtos inflacionários.
Entre as medidas do Plano Real estavam redução e cor-
te de gastos públicos, além do aumento dos impostos para
controlar as contas do governo. Também teve relevância no
plano o aumento das taxas de juros para reduzir o consumo
e provocar a queda da inflação, embora as taxas de juros do
Brasil tenham se tornado as mais elevadas do mundo. Houve
também a redução dos impostos de importação para aumentar
a concorrência com os produtos nacionais, o que provocou
a redução dos preços. Além disso, uma das medidas mais
importantes foi a criação de uma nova moeda, o real, que
inicialmente teria paridade com o dólar. A emissão de moeda
em real só poderia ocorrer se as reservas em dólar fossem
igualmente ampliadas. Para ampliá-las, buscou-se privatizar
as empresas brasileiras e atrair o capital estrangeiro. Por fim,
o controle cambial manteve o real valorizado diante ao dólar.
Com o êxito do Plano Real no combate à inflação, o
PSDB, em aliança com o Partido da Frente Liberal (PFL),
de origem arenista, lançou FHC para a presidência, nas
eleições de 1994. Sua plataforma incluía privatização das
estatais, livre-mercado e desregulamentações empresa-
riais e trabalhistas. Com 54% dos votos, Fernando Henrique
Cardoso derrotou Lula no primeiro turno.
Governo de Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002)
Na segunda metade dos anos 1990 o mundo passava
por grandes crises econômicas. Entre elas, destacou-se a cri-
se envolvendo a China e os Tigres Asiáticos, grupo formado
Manifestação dos caras-pintadas em frente ao Congresso Nacional. Brasília
(DF), 1992.
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72 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
por Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura e Taiwan. Quando os chineses decidiram desvalorizar fortemente sua moeda, seus
produtos invadiram o mundo com preços muito baixos. Com essa medida, a China ocupou o mercado de outros países, entre
eles, o dos Tigres Asiáticos, que entraram em profunda crise em 1997. No ano seguinte, a crise atingiu a Rússia. Naquele
momento, o país passava pela transição para o capitalismo, e declarou moratória para sua dívida externa.
O Brasil também foi muito afetado pela onda de crises e, na tentativa de fazer a economia do país reagir, Fernando
Henrique Cardoso aderiu às diretrizes do chamado Consenso de Washington, de 1989, que se tratava de um conjunto de
recomendações propostas pelo economista John Williamson para promover o ajuste econômico de países em desenvolvimen-
to. As medidas propostas pelo Consenso de Washington estipulavam privatizações, abertura comercial,
 e flexibilização do mercado de trabalho, que acarreta no corte de direitos trabalhistas com a justificativa de que as
empresas podem gerar mais empregos ao se desobrigarem de pagar benefícios.
Esse conjunto de medidas tornou-se o princípio norteador do Fundo Monetário Internacional (FMI), que impôs a con-
dição de que o Brasil aderisse ao Consenso de Washington para liberar 40 bilhões de dólares. Além disso, foi exigida a
adoção de uma política de austeridade, que levou ao corte de gastos, sobretudo na área social. O real foi desvalorizado
para impulsionar as exportações e atrair capital estrangeiro.
A gestão de Fernando Henrique Cardoso também foi marcada por medidas liberais de privatização de empresas estatais.
Entre os exemplos dessa política, está a Vale S.A. (antiga Vale do Rio Doce), fundada em 1942, na Era Vargas. Metade das
ações da Petrobras também passou para a inciativa privada. Observe, no mapa a seguir, dados sobre as privatizações que
ocorreram durante o governo de Fernando Henrique. A venda de estatais rendeu mais de 90 bilhões ao governo.
Fonte: elaborado com base
em Governo Fernando Hen-
rique Cardoso (-).
Atlas histórico do Brasil.
FGV-CPDOC. Disponível em:
https://atlas.fgv.br/marcos/
governo-fernando-henrique-
cardoso--/mapas/
privatiza coes-de-fernando
-henrique. Acesso em:
 jan. .
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Privatizações no governo de Fernando Henrique Cardoso – 1995-2002
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Embora a estabilidade econômica tenha sido conquis-
tada, muitas indústrias brasileiras faliram. Além disso, a
concentração de renda manteve-se no mesmo patamar de
períodos anteriores e o número de desempregados dobrou.
Nesse contexto, ganhou força o Movimento dos Trabalha-
dores Rurais Sem Terra (MST). Fundado em 1984, antes
mesmo da Constituição Cidadã, o MST tornou-se um dos
mais conhecidos movimentos sociais do país. Sua política
de ocupação levou o movimento a confrontos com a polícia.
Em 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores ligados ao mo-
vimento dos sem-terra foram mortos pela Polícia Militar em
Eldorado dos Carajás, no Pará. O episódio ficou conhecido
na mídia como Massacre de Eldorado dos Carajás.
O segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso
não teve o mesmo êxito do anterior, sobretudo pelo alto
índice de desemprego no período, que o tornou bastante
impopular. Nas eleições de 2002, ele não conseguiu eleger
seu sucessor, que perdeu para Lula.
Atenção
Cenário político, social e econômico na
América Latina
Desde Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique foi o
primeiro presidente eleito a passar a faixa de presidente a
um sucessor oposicionista igualmente eleito, o que ocorreu
em 1o de janeiro de 2003.
Nesse sentido, a América Latina viveu uma conjuntura se-
melhante. A maioria das ditaduras militares chegou ao fim entre
a década de 1970 e os anos 1980. À crise internacional, princi-
piada em 1973 com o choque do petróleo (visto anteriormente),
somaram-se as dívidas colossais adquiridas pelas ditaduras e a
hiperinflação decorrente de suas políticas econômicas.
O resultado desse processo foi o sucateamento do par-
que industrial estatal, o empobrecimento inédito de suas
populações, uma taxa de desemprego crescente e a des-
truição dos serviços públicos. No Chile, apósduas décadas
da modernização pinochetista, 90% da pauta de exportação
do país ainda era de produtos primários. A destruição de
setores inteiros das economias da Bolívia e do Peru levou
esses países a encontrar na exportação de drogas um seg-
mento fundamental da economia. Para se ter uma ideia, na
década de 1980, as exportações de estanho renderam à
Bolívia 70 milhões de dólares anuais, enquanto o narcotráfico
rendia 600 milhões. As intervenções militares e policiais dos
Estados Unidos na região, fosse em nome do combate ao
comunismo ou ao tráfico internacional de drogas, destruíram
boa parte da soberania nacional latino-americana.
Como no Brasil, a resposta dos demais governos la-
tino-americanos para a situação de deterioração deixada
pelas ditaduras e as sucessivas crises foi a adoção de medi-
das neoliberais do Consenso de Washington de promoção
do Estado mínimo. Além de FHC, no Brasil, Carlos Menem
(1989-1999), na Argentina, Carlos Salinas (1988-1994) e
Ernesto Zedillo (1994-2000), no México, foram responsá-
veis por implantar o modelo neoliberal em seus países.
Assim, esses governos privatizaram as empresas e os
serviços públicos criados no período do populismo e da
ditadura militar, reduziram drasticamente as tarifas sobre
importações, desregulamentaram os fluxos de capitais, redu-
ziram os subsídios, iniciaram medidas de combate à inflação e
encorajaram a vinda de capitais para a América Latina. Na dé-
cada de 1990, as tecnologias da Terceira Revolução Industrial
adentraram na América. Em 1994, a criação do Acordo de
Livre Comércio da América do Norte (Nafta) foi o sustentáculo
do neoliberalismo mexicano na década de 1990.
O neoliberalismo teve o mérito de subjugar a crise da dé-
cada de 1980 e equilibrar os orçamentos nacionais. O custo
social, no entanto, foi alto. Embora as classes médias tenham
se beneficiado enormemente com as novas tecnologias, a
desigualdade social aprofundou-se e grande parte da popu-
lação não obteve os benefícios advindos dessas mudanças.
Os trabalhos informais, não regulamentados, passaram por
uma imensa expansão. A concentração fundiária, da mesma
forma, manteve-se, e a reforma agrária permaneceu como um
tema em discussão. Movimentos sociais como o Zapatismo,
no México, e o MST, no Brasil, ganharam força justamente
nesse período, gerando oposição à estrutura neoliberal.
Em grande medida, a dívida social deixada pela implan-
tação do neoliberalismo explica as mudanças sociopolíticas
que ocorreram na América Latina na virada do século XX
para o século XXI. Na Venezuela, Hugo Chávez promoveu
a chamada Revolução Bolivariana, que de acordo com ele
seria o caminho para o socialismo do século XXI. No Chile,
o sucateamento do ensino público levou, em 2011, a uma
revolta do movimento estudantil de grandes proporções.
No Brasil, as figuras de Lula e do PT passaram a ser
sustentadas pelas classes populares a partir de programas
de redistribuição de renda e diminuição da desigualdade.
Alguns acontecimentos, por sua vez, marcam a persistên-
cia de golpes políticos. Em Honduras, em 2009, a Suprema
Corte ordenou ao Exército que detivesse o presidente
Manuel Zelaya para evitar que fosse realizada uma con-
sulta pública sobre a convocação de uma Assembleia
Constituinte para escrever uma nova Constituição do país.
A forma pela qual será solucionada essa dívida social e
histórica, capaz de aplacar desigualdades e de melhorar os
serviços sociais, é uma questão fundamental para a América
Latina do século XXI.
Passeata de estudantes chilenos em Santiago, Chile, em 212, por melhorias
na educação.
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74 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
O governo de Lula (2003-2010)
Ao assumir seu primeiro mandato como presidente
da República, Luiz Inácio Lula da Silva procurou manter
as diretrizes econômicas de seu antecessor, incluindo a
nomeação de uma equipe econômica que agradasse ao
mercado financeiro.
Luiz Inácio Lula da Silva, 27.
Foram criadas também 11 universidades públicas
federais até setembro de 2009, superando o marco de
Juscelino Kubitschek. A educação básica, contudo, con-
tinuou a ocupar posições desfavoráveis nos rankings
da educação.
Lula reduziu o processo de privatizações, que na sua
gestão se concentrou mais em rodovias federais e usinas
hidrelétricas. Com relação à política externa, o Brasil criou
dezenas de novas representações diplomáticas no exterior e
coordenou uma missão de paz noHaiti, entre 2004 e 2017.
As políticas de transferência de renda e de inclusão social
concederam a Lula uma alta popularidade (que chegou ao
inédito patamar de 80%), o que garantiu sua reeleição em
2006, em disputa com Geraldo Alckmin, candidato do PSDB.
Em 2005, o deputado petebista Roberto Jefferson
denunciou um amplo esquema de compra de votos para
garantir o apoio às políticas do presidente, que ficou conhe-
cido como mensalão. Segundo o deputado, a coordenação
do esquema era feita por membros do primeiro escalão do
governo Lula. O episódio, no entanto, não impediu Lula
de se reeleger em 2006. Outras denúncias de corrupção
vieram à tona após o término de sua segunda gestão, como
o do esquema de pagamento de propina a políticos do
PT e de outros partidos por empresas fornecedoras da
Petrobras, o que culminou com a prisão de Lula em 2018.
O governo de Dilma Rousseff
(2011-2016)
Em 2010, a então ministra-chefe da Casa Civil do go-
verno Lula, a economista Dilma Rousseff, venceu a eleição
presidencial. Uma de suas plataformas de campanha era a coor-
denação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
que previa vultuosos investimentos estatais em infraestrutura.
Dilma Rousseff foi a primeira mulher a se tornar presidente da República na
história do Brasil. Fotografia de 211.
Com o crescimento econômico acelerado da China, que
se tornou o principal parceiro econômico do Brasil, e o cha-
mado boom das commodities, que representou grande alta
nos preços de diversas matérias-primas, o período Lula foi
marcado pela criação de mais de 14 milhões de empregos
formais, o aumento do IDH, que passou de 0,790 a 0,813, o
aumento do salário mínimo, que foi de 200 reais, em 2002,
para 510 reais, em 2010, e um crescimento médio do PIB
de 4% ao ano entre 2003 e 2010.
O mercado de consumo incorporou um contingente da
ordem de 50 milhões de brasileiros.O ganho de renda dos
brasileiros mais ricos, no entanto, foi inferior à média regis-
trada nos demais integrantes do chamado Brics, o bloco
que reúne as economias consideradas emergentes – Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul. Já o crescimento da
renda dos 20% mais pobres só perdeu, no mesmo período,
para a China.
Lula também criou diversos programas sociais. Um
dos principais foi o Fome Zero, cujo objetivo era reduzir
a fome no Brasil. A base de sustentação do Fome Zero
era o Bolsa Família, programa de transferência direta de
renda do governo para famílias pobres. Outra medida im-
portante de inclusão social foi a criação do sistema de
cotas nas universidades para estudantes de escolas públi-
cas, que destinava metade dessas vagas a pretos, pardos
e indígenas.
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No entanto, o fim do boom das commodities e o processo de desindustrialização, iniciado nos anos 1990, viriam a
cobrar seu preço. A situação econômica paulatinamente se degradou, apesar do desemprego manter-se na taxa de 5%,
historicamente a menor taxa do país.
Em junho de 2013, ocorreu no Brasil uma das maiores manifestações de sua história, e também uma das mais complexas
de compreender, considerando a heterogeneidade das demandas e dos participantes, que não tinham pauta unificada
ou liderança única. O estopim dessas mobilizações, que ficaram conhecidas como Jornadas de Junho, foi o aumento das
tarifas do transporte público em SãoPaulo, que dificutaria ainda mais a situação da classe trabalhadora, já descontente
com a degradação das condições de trabalho e da terceirização.
Setores da esquerda viram as manifestações como oportunidade para cobrar mudanças estruturais em áreas im-
portantes da sociedade. No entanto, pautas antipetistas e anticorrupção de setores da direita também entraram nas
mobilizações. Como consequência houve a criação e o fortalecimento de movimentos de direita e de extrema-direita.
Em 2014, apesar do fortalecimento da direita nas Jornadas de Junho, Dilma Rousseff foi reeleita, derrotando Aécio
Neves, candidato do PSDB. Contudo, a base aliada do PT no Congresso, o PMDB, representado pelo vice-presidente, Michel
Temer, afastou-se cada vez mais da presidente, que perdeu o apoio da maioria no Congresso. As políticas econômicas
mal-recebidas pelo mercado e as novas denúncias de corrupção atreladas à Petrobras, sob investigação na Operação
Lava Jato, criaram novas instabilidades políticas. Entre 2015 e 2016, os manifestantes voltaram às ruas com amplo apoio
midiático, dessa vez especificamente contra o governo, enfraquecendo ainda mais a imagem de Dilma.
Manifestação contra o aumento do valor da passagem de transporte público organizada pelo Movimento Passe Livre, em São Paulo (SP), 2013.
Vestidos com a camiseta da Seleção Brasileira de Futebol, manifestantes foram às ruas entre 215 e 216 para exigir a saída de Dilma Rousseff do poder.
Na imagem, passeata em São Paulo (SP), 215.
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76 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
Nesse contexto, o Tribunal de Contas da União (TCU)
denunciou que a presidente havia recorrido às “pedaladas
fiscais”, espécie de artifício contábil utilizado para ajustar as
contas públicas, configurando . Em-
bora outros presidentes já tivessem recorrido a essa prática
sem qualquer punição, foi a justificativa dada para a abertura
do processo de impeachment, aprovado pelo Congresso em
agosto de 2016, quando Dilma teve de deixar o cargo.
O governo de Michel Temer
(2016-2018)
A gestão de Michel Temer foi caracterizada pela ban-
deira reformista. Nesse período, foram aprovadas a reforma
que estipulava um teto para os gastos públicos, a reforma
do Ensino Médio e uma reforma trabalhista que flexibilizou
alguns direitos estabelecidos pela CLT. Seu governo, cuja
aprovação foi inferior a 10%, tornou-se o mais impopular da
história do Brasil (desde que a aprovação de um governante
começou a ser mensurada).
O jurista paulista Michel Temer, vice de Dilma, assumiu a presidência para
concluir o mandato até 218. Fotografia de 217.
Jair Bolsonaro, 219.
Pessoas em busca de empregos durante a pandemia de covid-19, em Porto
Alegre (RS), 222.
como PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), PSC (Partido Social
Cristão) e PSL (Partido Social Liberal). Durante a campanha
realizada em 2018, Bolsonaro conquistou sobretudo o voto
de empresários, da classe média antipetista, de neoliberais,
ideólogos conservadores e líderes neopentecostais. Entre
os principais pontos de sua campanha, estavam o combate
à corrupção, a Reforma da Previdência e a reformulação do
Estatuto do Desarmamento.
O governo de Jair Bolsonaro (2019-)
Em 2018, o então deputado federal Jair Bolsonaro ven-
ceu as eleições contra o petista Fernando Haddad. Até
então desconhecido por parte da população, Bolsonaro
ingressou na carreira política como parlamentar na déca-
da de 1990. Desde então, passou por diversos partidos,
Em 2021, após uma crise econômica acelerada pela
pandemia de covid-19, que também provocou uma crise
sanitária, o Brasil convivia com altos níveis de desempre-
go, um processo de desindustrialização e novas denúncias
de corrupção.
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1. Unesp 2022 O ano de 1985 foi um grande anúncio de
ditadura finda, temperado pela exclusão de vozes que
significaram alternativas no combate à ditadura, como se
observou no silenciamento de importantes movimentos
sociais [...], substituídos pelo olhar exclusivo para agen-
tes da política institucional e da cena cultural dominante.
(Marcos Silva. Ditadura relativa e negacionismos, 2021.)
O excerto compreende o processo de redemocratiza-
ção brasileiro nos anos  como
a) o despertar de uma consciência democrática ati-
va na população, que foi liderada por partidos
políticos e movimentos sociais ligados ao regime.
b) o desfecho definitivo da experiência militar au-
toritária, que perdeu a capacidade de resistir às
pressões políticas dos partidos de oposição.
c) o prevalecimento de um projeto de transição ne-
gociada, que evitou confrontar diretamente os
responsáveis pela ditadura.
d) a conjugação, no projeto de uma nova república,
dos anseios e das reivindicações dos diversos se-
tores da sociedade brasileira.
e) retomada, numa nova ordem constitucional, da
tradição democrática brasileira, predominante
desde o início da República.
2. FGV-SP Em janeiro de , Tancredo Neves foi elei-
to Presidente da República pelo PMDB. A respeito da
chamada Transição Democrática, é correto afirmar:
a) O governo de Tancredo Neves foi marcado por uma
grande instabilidade política que levou à renúncia
do presidente e à posse de seu vice, José Sarney.
b) Tancredo Neves foi eleito presidente de forma
indireta pelo Colégio Eleitoral, tendo como vice
José Sarney, ex-presidente do PDS, partido que
apoiava o Regime Militar.
c) Em torno de Tancredo Neves formou-se a
Aliança Democrática, que reunia o PMDB e dis-
sidentes do PDS, entre os quais José Sarney e
Paulo Salim Maluf.
d) A candidatura de Tancredo Neves contou com o
apoio oficial de todos os partidos de oposição,
isolando completamente os colaboradores do
Regime Militar.
e) Apesar de vitorioso nas eleições indiretas, Tancredo
Neves foi impedido de assumir o governo pelas
Forças Armadas, que fecharam questão em torno
do nome de José Sarney.
3. Uerj 2019 Preâmbulo da Constituição da República
Federativa do Brasil ()
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em
Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem pre-
conceitos, fundada na harmonia social e comprometida,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.
planalto.gov.br
A Constituição brasileira vigente promoveu mudanças
que visam a assegurar o exercício dos direitos sociais
e individuais, como menciona seu preâmbulo.
A premissa de garantir e valorizar esses direitos está
relacionada ao seguinte aspecto naquela conjuntura
do país:
a) atendimento de pressões externas pela abertura
do regime
b) aumento do extremismo ideológico pelos parti-
dos políticos
c) crise da economia nacional causada pela escala-
da da inflação
d) crítica da repressão política instituída pelos gover-
nos autoritários
4. Acafe-SC 2021 Fernando Collor de Mello foi o primei-
ro presidente da república eleito democraticamente
pelo voto popular após o regime militar (-).
Acerca do seu governo, todas as alternativas estão
corretas, exceto:
a) Denunciado por seu irmão Pedro Collor, o presi-
dente e seus aliados viram-se acusados de um
grande esquema de corrupção, que tinha como
figura principal Paulo César Farias, tesoureiro de
campanha e amigo pessoal do presidente.
b) O plano econômico, lançado por Fernando Collor,
congelou por determinado tempo os depósitos
bancários, cadernetas de poupança e aplicações
financeiras.
c) A criação do Plano Real possibilitou uma retoma-
da do crescimento econômico no iníciodo seu
governo, chamado pela mídia de República de
Alagoas.
d) Fernando Collor sofreu um processo de impeachment
(impedimento). Em dezembro de 1992 o presidente
renunciou e o Congresso Nacional cassou seus direi-
tos políticos por oito anos.
5. Mackenzie 2020
Revisando
78 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
O presidente Fernando Collor de Mello venceu as
eleições de , após  anos em que os brasilei-
ros puderam, finalmente, voltar a eleger diretamente
o presidente da República. Um fator importante para a
vitória de Collor foi o intenso uso do marketing político
junto à mídia, decisivo em sua campanha, como ironiza
a charge anterior. Tal estratégia foi significativa, pois
a) transmitiu a ideia de ser uma “pessoa do povo”
que iniciando sua carreira como vereador em Ala-
goas, pôde pelo esforço próprio alcançar o mais
alto cargo político no país – o de presidente da
República.
b) a campanha do candidato baseava-se na luta
contra a corrupção e apoio aos “descamisados”,
grupo do qual fez parte no começo de sua carrei-
ra, no interior carente do estado de Alagoas.
c) construiu junto ao povo brasileiro a imagem de
“caçador de marajás”, defensor do fim de rega-
lias e contra a corrupção; pois, jovem, foi eleito
por meio do voto popular, ao cargo de prefeito
de Maceió.
d) conseguiu transmitir aos eleitores a imagem de
um candidato jovem, “moderno” e “moralizador”
que se opunha aos representantes políticos cor-
ruptos e conservadores.
e) deu, efetivamente, início a um programa de aten-
dimento às camadas mais pobres da população,
ao se colocar ao lado dos “pés-descalços”, como
protetor contra os “velhos políticos”.
6. FGV-SP 2012 Recentemente, em julho de , fale-
ceu o ex-presidente Itamar Franco. A respeito da sua
chegada ao poder e do seu governo, é correto afirmar:
a) Venceu Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno
das eleições disputadas em 1994, graças ao su-
cesso do Plano Real, implementado no governo
de Fernando Henrique Cardoso.
b) Venceu Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de
1989 e organizou um governo de coalizão nacio-
nal, do qual participaram todos os demais partidos
políticos brasileiros, inclusive o PT.
c) Assumiu a presidência após o processo de
impeachment do presidente Fernando Collor de
Mello e, com seu ministro Fernando Henrique
Cardoso, implementou o Plano Real.
d) Foi eleito em janeiro de 1985, em eleição direta
pelo colégio eleitoral, e organizou um governo de
reformas políticas e econômicas que permitiram
sua reeleição em 1994.
e) Foi eleito em 1994 devido ao sucesso do Plano
Real implementado no governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso, do qual participou
como ministro da Fazenda.
7. FGV-RJ 2016 O Brasil contemporâneo é o resultado
de vários processos políticos e sociais. As opções a
seguir apresentam marcos significativos desses pro-
cessos, à exceção de uma. Assinale-a.
a) A estabilização econômica, devido à aplicação do
Plano Real a partir de 1994.
b) A abertura da economia e a redução das tarifas
externas, a partir dos anos 1990.
c) A adoção na última década, entre outras políticas
distributivas, do aumento persistente do salário
mínimo.
d) A redução do papel do Estado na economia, gra-
ças à política de privatização e à instalação das
agências reguladoras na década de 1990.
e) A valorização dos setores industriais ligados à
tecnologia da informação, por meio da política de
substituição de importações a partir de 1980.
8. FGV-RJ 2015 Leia atentamente as seguintes afir-
mações sobre as eleições presidenciais brasileiras
ocorridas após .
I. As eleições de 1989 foram marcadas por uma
acirrada polarização ideológica, sobretudo no se-
gundo turno, disputado por Fernando Collor de
Mello e Luiz Inácio Lula da Silva.
II. As eleições de 1994 ocorreram sob o impacto do
sucesso do Plano Cruzado, que permitiu a elei-
ção, em primeiro turno, do candidato do PMDB
José Sarney.
III. Nas eleições de 1998, as principais forças oposi-
cionistas articularam-se em torno da chapa Lula e
Brizola, mas foram derrotadas, ainda no primeiro
turno, por Fernando Henrique Cardoso.
IV. Nas eleições de 2002, todas as forças oposicio-
nistas de esquerda participaram da coligação que
elegeu Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno,
contra a candidatura do tucano José Serra.
V. Nas eleições de 2006, PT, PMDB e PSDB firmaram
uma vitoriosa coligação, que permitiu a reeleição
de Lula e a articulação da mais ampla maioria par-
lamentar da história política do Brasil.
Está correto apenas o que se afirma em
a) I, II, III e IV.
b) I e III.
c) II, III e V.
d) III e IV.
e) I.
9. FGV-RJ Assinale a alternativa que apresente apenas
presidentes eleitos pelo voto direto dos cidadãos
brasileiros.
a) Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique
Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
b) José Sarney, Fernando Collor de Mello e Fernando
Henrique Cardoso.
c) Tancredo Neves, Itamar Franco e Luiz Inácio Lula
da Silva.
d) Ulysses Guimarães, Fernando Collor de Mello e
Fernando Henrique Cardoso.
e) José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz
Inácio Lula da Silva.
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10. UFRGS Considere o enunciado a seguir e as três pro-
postas para completá-lo.
Nos anos , o Neoliberalismo disseminou-se pela
América Latina através de diversos governos que de-
sencadearam políticas de privatização da economia,
abertura do mercado interno, desregulamentação e
diminuição das funções do Estado. No início do sé-
culo XXI, constata-se
. que os últimos resultados eleitorais, em países
como o Brasil, Uruguai e Argentina, indicaram que
os eleitores optaram por propostas que geravam
expectativas de mudança em relação às políticas
neoliberais.
. que, diante do abandono dos programas neoli-
berais precedentes, a pressão dos movimentos
sociais refluiu, mostrando efetiva consolidação
da estabilidade social e política em países como
Bolívia, Equador e Paraguai.
. que os EUA têm mostrado indiferença pela região
na medida em que consideram que seus inte-
resses estão resguardados e que não existem
condições para o surgimento de posições radi-
cais ou anti-estadunidenses.
Quais propostas estão corretas?
a) Apenas 1.
b) Apenas 2.
c) Apenas 3.
d) Apenas 1 e 2.
e) 1, 2 e 3.
Exercícios propostos
1. Uece 2021 Em 15 de março de 1985, José Sarney, vi-
ce-presidente eleito na chapa encabeçada por Tancredo
Neves, assumiu interinamente a presidência, pois o presi-
dente eleito havia sido operado na noite anterior à posse.
Após várias cirurgias, Tancredo veio a falecer em 21 de
abril de 1985 e Sarney assumiu oficialmente o cargo
como primeiro presidente civil desde o golpe militar de
1964, governando o país até 15 de março de 1990. Em
seu governo, o Estado brasileiro viveu cinco anos em que,
a) tanto a economia quanto a política avançaram a
passos largos devido à ótima condição em que os
governos militares entregaram o país.
b) a inflação herdada do período militar continuou
alta, apesar dos vários planos econômicos imple-
mentados no período.
c) foram feitas várias tentativas de cumprir a promessa
de Tancredo Neves de convocar uma assembleia
constituinte, contudo a promulgação da nova cons-
tituição só ocorreu no governo seguinte.
d) as eleições continuaram a ser realizadas de for-
ma indireta, por meio do colégio eleitoral, mesmo
com o fim da ditadura militar.
2. Fuvest-SP A partir da redemocratização do Brasil
(), é possível observar mudanças econômicas
significativas no país. Entre elas, a
a) exclusão de produtos agrícolas do rol das princi-
pais exportações brasileiras.
b) privatização de empresas estatais em diversos se-
tores como os de comunicação e de mineração.
c) ampliação das tarifas alfandegárias de importa-
ção, protegendo a indústria nacional.
d) implementação da reforma agrária sem pagamen-
to de indenização aos proprietários.
e) continuidade do comércio internacional voltado
prioritariamente aos mercados africanos e asiáticos.
3. Fatec-SP 2019 Leia o texto e considere a charge do
cartunista Henfil.
Em outubro de ,a Constituição brasileira comple-
tou trinta anos.
Promulgado após quase dois anos de trabalho, o
texto que lançava as bases para a nova legislação
máxima do país foi resultado do grande envolvimento
da sociedade – que enviou cartas, organizou-se em
movimentos sociais e realizou eventos – e dos par-
lamentares eleitos após o término do regime militar.
As demandas da população foram consideradas para
a construção de uma Constituição que ampliou direi-
tos e liberdades, o que contribuiu para que ela fosse
chamada de “Cidadã”.
<https://tinyurl.com/yaxtrr> Acesso em: ..
A Assembleia Nacional Constituinte de -,
que elaborou as novas leis do Brasil, foi representada
por Hen l, na charge, como
a) a retomada da consciência de proteção ambien-
tal, que existia nas Constituições anteriores e que
foi deixada de lado durante o regime militar.
b) a reelaboração dos símbolos nacionais, como a
bandeira, cujas cores foram alteradas para reme-
ter às riquezas naturais.
c) o ressurgimento dos estados, que voltaram a ter
governadores e não interventores federais esco-
lhidos pelo presidente.
d) a reconstrução do país por sua população, após um
período autoritário que deixou marcas negativas.
e) o resultado do trabalho científico e racional, re-
presentado pelos intelectuais que elaboraram o
novo texto.
80 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
4. Mackenzie 2018 Como o Brasil e como a própria
democracia, a Constituição de 1988 também é imper-
feita. Envolveu movimentos contraditórios e embates
formidáveis entre forças políticas desiguais, e inúmeras
vezes errou de alvo. (...). Mas a Constituição de 1988
é a melhor expressão de que o Brasil tinha um olho no
passado e outro no futuro e estava firmando um sólido
compromisso democrático.
Lilia M. Schwarcz e Heloísa M. Starling. Brasil: Uma biografia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015, p. 488-489
Dentre as contradições da Constituição de ,
aponta-se
a) a conservação do tempo de mandato de cin-
co anos, com direito à reeleição, de um lado, e
a criação de mecanismos mais democráticos e
imparciais em processos de afastamento de pre-
sidentes acusados de crime de responsabilidade,
de outro lado.
b) a manutenção da inelegibilidade e a ausência do
direto de voto direto aos analfabetos, de um lado,
e o estabelecimento da demarcação de terras
indígenas e o amplo projeto de reforma agrária
radical, aos mais necessitados, de outro lado.
c) a manutenção do voto obrigatório e a idade mí-
nima de dezoito anos para participação política,
de um lado, e a concessão do direito de elegibili-
dade e o voto aos analfabetos maiores de idade,
residentes no Brasil, de outro lado.
d) a conservação da estrutura agrária e a manu-
tenção da inelegibilidade de analfabetos, de um
lado, e o reconhecimento de direitos de minorias
e o empenho em prever meios e os instrumentos
constitucionais legais para a participação popular
direta, de outro lado.
e) a manutenção da autonomia das Forças Arma-
das para definir assuntos de seu interesse, de um
lado, e o aprofundamento de mecanismos de in-
vestigação e a punição aos envolvidos em atos
de tortura e o cerceamento de liberdades durante
a ditadura civil-militar, de outro lado.
5. Uece 2017 Leia atentamente os seguintes excertos:
[...] uma das principais causas da dizimação dos ín-
dios, afora as doenças trazidas pelos europeus, foram os
massacres e a eliminação deliberada dos nativos pelos
portugueses. Isso resultou no fato de que apenas apro-
ximadamente 300.000 índios, cerca de 5 por cento dos
6 milhões que compunham a população indígena em
1500, sobreviveriam para as “comemorações” dos qui-
nhentos anos da chegada de Cabral a suas terra.
JANCSÓ, István (Coord.) Rebeldes brasileiros – homens e mulheres
que desafiam o poder. São Paulo: Casa Amarela, [s.d.].
fasc. 9. p. 261 (Caros amigos)
Entre os dias 26 de março e 22 de abril [de 2016],
os indígenas Aponuyre, Genésio, Isaías e Assis Guajajara,
todos da Terra Indígena (TI) Arariboia, no Maranhão, fo-
ram assassinados. Com pouca fiscalização e sem sinal de
investigação dos culpados, os indígenas Guajajara que
vivem na área – já demarcada e habitada também por
índios Awá isolados – sofrem com a constante pressão de
madeireiros e temem por sua segurança.
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA - CPT. Em um mês, quatro indígenas
Guajajara foram assassinados no Maranhão. Publicado em 27 de abril de
2016. Acessado em 11 de maio de 2017. Disponível em: https://
www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes/noticias/
conflitos-no-campo/3191-em-um-mes-quatroindigenas-guajajara-foram-
assassinados-no-maranhao
Considerando os excertos acima, é correto afirmar que
a) os conflitos que ainda ocorrem entre indígenas e
população não indígena se dão exclusivamente
pela ação predatória, promovida pelos índios, so-
bre os recursos naturais protegidos por lei.
b) as tensões geradoras dos massacres e a dizima-
ção da população nativa brasileira ainda perduram
nos tempos atuais, apesar da atual proteção do
Estado sobre as populações indígenas.
c) o interesse dos capitalistas em obter maiores lu-
cros com a exploração da terra dos índios e de
seus recursos nunca foi motivação para os confli-
tos que dizimaram e ainda diminuem a população
indígena.
d) os eventos de violência contra a população indíge-
na, em diversas áreas do país, se dão porque essa
população não é aceita pelo Estado quando tenta
integrar-se ao modelo social, justo e inclusivo, do
mundo civilizado.
6. UFPR 2021 A Manchete do Jornal do Brasil de 17 de
março de 1990, um dia após o anúncio do Plano de
Estabilização Econômica, popularmente conhecido
como Plano Collor, foi: “Reforma de Collor faz ter-
remoto na economia”. A medida desse plano, bem
como sua consequência econômica, que causou esse
“terremoto”, foi:
a) a aplicação de pesada taxação das fortunas, per-
dendo apoio da elite em suas reformas.
b) a reestatização de companhias privatizadas no
governo Sarney, afugentando investidores es-
trangeiros.
c) o descongelamento de preços e salários indexa-
dos desde o governo Figueiredo, derrubando as
bolsas de valores.
d) o confisco da poupança e das contas correntes
com mais de 50 mil cruzeiros, fragilizando a maior
parte da população.
e) a realização da paridade da moeda brasileira
cruzeiro com o valor do dólar, prejudicando as
importações.
7. FGV-SP As recorrentes crises econômicas que atin-
giram o Brasil nos últimos  anos foram respondidas
de formas diversas, como por meio do Plano Cruzado
() e do Plano Collor (), que decretaram as se-
guintes medidas, respectivamente:
a) estabelecimento de uma meta inflacionária de
10% ao ano e congelamento dos tributos e das
tarifas públicas; a moeda volta a se chamar cru-
zeiro e todos os investimentos de curto e médio
prazos foram bloqueados por 2 anos.
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b) congelamento dos preços por 2 meses, aumento
das tarifas públicas e a criação do gatilho sala-
rial; criação do cruzado novo, congelamento dos
gêneros de primeira necessidade e bloqueio de
todos os depósitos em caderneta de poupança.
c) congelamento geral de preços e a criação de um
gatilho salarial a ser ativado quando a inflação
atingisse 20%; congelamento de preços e salários
pela média dos últimos 12 meses e o aumento da
remuneração da caderneta de poupança.
d) congelamento dos preços por um ano, além de
um abono salarial de 8% para todas as categorias
profissionais; retenção, por 18 meses, de todos
os valores acima de 50 mil cruzados novos nas
contas correntes e nas cadernetas de poupança.
e) aumento tributário para automóveis, bebidas e ci-
garros e congelamento do preço de alimentos e
tarifas públicas; extinção dos investimentos finan-
ceiros de curto prazo e adoção de dois índices
inflacionários: um para o setor público, outro para
o privado.
8. ESPM 2019 É até possível que os brasileiros não quises-
sem perceber, mas Collor parecia-se excessivamente
com Jânio Quadros – só que mais moço. Ambos com-
partilhavam o mesmo senso de espetáculo da política,o desprezo pelos políticos, o desdém pelo Congresso,
a visão moralista e o perfil autoritário. Collor falava
de maneira postiça e, na presidência, assumiu uma
postura imperial: contrariava interesses, desdenhava
a luta política, desconsiderava a precariedade de sua
equipe e agia como se nada fosse atingi-lo.
(Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Starling. Brasil: uma biografia)
O texto enumera argumentos para o declínio do go-
verno Collor. No entanto, o governo caiu:
a) em consequência do fracasso do Plano Cruzado
implantado em seu mandato;
b) por conta da impopularidade crescente derivada
da repressão contra as greves de trabalhadores;
c) em consequência de um golpe promovido pelos
militares;
d) em decorrência do fracasso do programa de pri-
vatizações por ele desencadeado;
e) por corrupção, quando a imprensa descobriu que
Paulo Cesar Farias, ex-tesoureiro de campanha,
operava negócios obscuros.
9. Uece 2019 Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Pla-
no Bresser e Plano Verão foram planos econômicos
que adotaram medidas para tentar retirar o Brasil do
quadro de inflação alta e que marcaram uma etapa
significativa da história republicana brasileira.
Considerando esse período e o contexto histórico, as-
sinale a afirmação verdadeira.
a) Governos militares pós 1964 tentaram reduzir
o crescente ritmo de investimentos estatais em
setores da economia brasileira originados nos
governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart.
b) Na tentativa de conter o avanço inflacionário
sobre os salários, Fernando Henrique Cardoso
aplicou, sem sucesso, vários planos econômicos
até acertar com o Plano Real.
c) Os governos Lula utilizaram esses planos
econômicos como forma de conter a alta infla-
cionária resultante das medidas adotadas por
Fernando Henrique Cardoso no final de seu se-
gundo governo.
d) O governo de José Sarney, que herdou uma infla-
ção crescente no fim dos governos militares e, na
tentativa de contê-la, lançou mão de planos eco-
nômicos variados sem obter sucesso.
10. UFJF-MG 2020 Analise o texto abaixo.
Texto 
O Plano Real, único programa heterodoxo de com-
bate à inflação que deu certo no Brasil, teria fracassado
se não fossem os seus pilares ortodoxos, como a âncora
cambial e os arrochos monetário e fiscal. Sua ambição ia
além de estabilizar o poder de compra da moeda: preten-
dia consolidar um novo modelo de desenvolvimento no
país, com cores claramente liberais.
https://www.valor.com.br/cultura/6131109/plano-real-completa-
25-anos-em-meio-criticas-politica-economica-do-periodo
O Plano Real foi um programa econômico com o ob-
jetivo de estabilização financeira através de reformas
econômicas. Foi iniciado há  anos, em , no go-
verno Itamar Franco – Fernando Henrique Cardoso
(FHC) era Ministro da Fazenda e foi eleito posterior-
mente presidente do Brasil. Sobre os anos iniciais do
plano, assinale a alternativa CORRETA:
a) O governo FHC buscou cumprir o propósito de
liquidar os elementos do Nacional-desenvol-
vimentismo, pautando-se por um ideário que
tinha no liberalismo econômico sua caracterís-
tica mais forte.
b) O processo de implantação da agenda interven-
cionista teve seu marco inicial no governo de
Fernando Collor de Mello, que controlou a infla-
ção, consolidando o discurso de que esse foi o
único caminho para a resolução dos problemas.
c) O Plano Real foi definido por influência externa
e pelo Tratado de Livre Comércio da América do
Norte (Nafta), processo precursor do que se ten-
taria estabelecer como Área de Livre Comércio
para as Américas (ALCA).
d) No início da década de 1990 foram eleitos pre-
sidentes com agendas desenvolvimentistas na
maior parte dos países latino-americanos, sem o
compromisso de ajustar as contas públicas e con-
trolar a inflação.
e) O sucesso do Plano Real e o processo de esta-
tização da economia provocaram significativas
melhorias sociais, principalmente entre as ca-
madas mais baixas que tiveram as poupanças
confiscadas.
82 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
11. Unicamp-SP 2021 O SUS (Sistema Único de Saúde) foi
definido a partir de princípios universalistas e igualitá-
rios, quer dizer, para todos e de forma igual, embasado
na concepção de saúde como direito de todos e dever
do Estado. Essa construção do SUS rompeu com o cará-
ter meritocrático que caracterizava a assistência à saúde
no Brasil até a Constituição de 1988. Os seus princípios,
presentes no artigo 196 da Constituição de 1988, foram
implementados gradualmente. Um de seus marcos é a
Lei Orgânica da Saúde (nº 8.080) de 19 de setembro de
1990, que fundou e operacionalizou o SUS.
(Adaptado de Telma Menicucci, História da reforma sanitária brasileira
e do Sistema Único de Saúde: mudanças, continuidades e a agenda atual.
História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v. 21,
n.1, jan-mar. 2014, p.77-92.)
Com base no excerto e em seus conhecimentos sobre
a história do Brasil, assinale a alternativa correta.
a) Os princípios universais e inclusivos do SUS fo-
ram desmantelados durante década de 1990 em
razão da crise inflacionária que assolou o país e
das reformas neoliberais que aumentaram os gas-
tos do Estado com a saúde e o saneamento.
b) A criação do SUS aconteceu no contexto de rea-
bertura política e da expansão democrática que
sucedeu ao regime militar. O seu funcionamento
mostra as dificuldades de financiamento da saúde
pública entre as décadas de 1990 e 2000.
c) O modelo que inspirou os princípios do SUS foi o
sistema universal de saúde de Cuba, cujos profis-
sionais prestaram consultoria ao Estado brasileiro
durante a formulação dos artigos referentes à
saúde da Constituição de 1988.
d) Durante o governo do presidente Fernando
Collor (1990-1992), houve a suspensão do SUS
e a expansão dos sistemas de saúde baseados
em planos privados oferecidos por instituições
estrangeiras que passaram a atuar no país.
12. Uece 2018 Leia atentamente os seguintes excertos:
A imprensa nacional pôde conhecer melhor o go-
vernador de Alagoas a partir dos ataques violentos que
ele começou a fazer contra Sarney. A imagem do homem
público ‘moderno’, campeão de luta contra a corrupção e
‘caçador de marajás’ passou a ser amplamente divulgada
pelos meios de comunicação. O político rico, bem vestido,
bronzeado, esportista e que dominava o inglês e o francês
fez sucesso no Brasil. (...)
MOTA, Miriam B., BRAICK, Patrícia R. História: das cavernas ao terceiro
milênio. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2005, p.191.
(...) Milhões de dólares captados durante a cam-
panha foram desviados por PC, que arcava até com as
despesas particulares do presidente e sua esposa. Todos
os dias circulavam notícias sobre desvio de dinheiro, uso
de verbas públicas com fins particulares, superfaturamento
de obras, propinas cobradas por empreiteiras e concor-
rências fraudulentas. Ministros deixaram seus cargos e a
primeira-dama, afastada da presidência de honra da Legião
Brasileira de Assistência (LBA), foi acusada de corrupção.
BARBEIRO, Heródoto; CANTELE, Bruna R.; SCHNEEBERGER, Carlos Alberto.
História: volume único para o ensino médio. São Paulo: Scipione, 2004, p. 465
Apesar de abordarem temas bem atuais, os trechos
citados foram publicados em  e , respecti-
vamente, e fazem menção
a) à condição de extrema popularidade do mandato
de Luiz Inácio Lula da Silva que apesar de todas
as acusações, foi reeleito para um segundo man-
dato em 2006.
b) ao apoio da mídia e da classe média ao gover-
no de José Sarney, em 1985, após a morte de
Tancredo Neves e depois a crise devido à situa-
ção econômica e ao escândalo das concessões
públicas sem licitação.
c) ao governo de Itamar Franco que, apesar de ser
vice de Collor, rompeu com o presidente anga-
riando apoio popular, mas que depois o perdeu
em função da crise econômica.
d) ao apoio da grande mídia a Fernando Collor de
Mello que, depois de eleito presidente em 1989,
renunciou devido um processo de impeachment,
em meio a acusações feitas pela mídia e por seu
próprio irmão.
13. Enem 2020 É difícil imaginar que nos anos 1990,num
país com setores da população na pobreza absoluta e
sem uma rede de benefícios sociais em que se apoiar,
um governo possa abandonar o papel de promotor
de programas de geração de emprego, de assistência
social, de desenvolvimento da infraestrutura e de pro-
moção de regiões excluídas, na expectativa de que o
mercado venha algum dia a dar uma resposta adequada
a tudo isso.
SORJ, B. A nova sociedade brasileira. Rio de Janeiro:
 Jorge Zahar, 2000 (adaptado).
Nesse contexto, a criticada postura dos governos frente
à situação social do país coincidiu com a priorização
de que medidas?
a) Expansão dos investimentos nas empresas públi-
cas e nos bancos estatais.
b) Democratização do crédito habitacional e da
aquisição de moradias populares.
c) Enxugamento da carga fiscal individual e da con-
tribuição tributária empresarial.
d) Reformulação do acesso ao ensino superior e do
financiamento científico nacional.
e) Reforma das políticas macroeconômicas e dos
mecanismos de controle inflacionário.
14. UPF-RS Após três tentativas fracassadas (,  e
), Luiz Inácio Lula da Silva, retirante nordestino, me-
talúrgico e sindicalista, do Partido dos Trabalhadores
(PT), venceu as eleições à presidência da República,
em . Sobre o contexto que levou à vitória de Lula,
leia as seguintes afirmações:
I. A fórmula adotada na campanha foi “Lulinha paz
e amor”, que indicava um candidato mais mode-
rado e pragmático em detrimento do radicalismo
anterior, inclinado a reformar o sistema econômico-
-social e não a fazer uma revolução.
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II. O apoio dos Estados Unidos foi decisivo para a
vitória, visto que Lula estava comprometido em
estancar a exportação de comodities, principal-
mente minérios, à China.
III. A Carta aos Brasileiros, de junho de 2002, com-
provou o programa moderado de Lula, firmando
compromisso com a estabilidade econômica e
respeito aos contratos nacionais e internacionais.
IV. O esgotamento do projeto de governo de Fernando
Henrique Cardoso e do Plano Real, incapaz de
continuar mantendo a inflação baixa e a moeda
valorizada, contribuíram para a vitória de Lula.
V. A promessa de estancar os negócios com o Mer-
cosul e implantar uma zona de livre comércio com
a África entusiasmou os microempresários, que
passaram a se engajar nessa luta.
Está correto apenas o que se afirma em:
a) I, II e IV.
b) II, III e IV.
c) II, IV e V.
d) I, II e V.
e) I, III e IV.
15. Uece 2020 Durante a Nova República, estabelecida
após o período dos governos militares encerrado em
, o Brasil só teve sua primeira eleição presiden-
cial em . Desde então, registraram-se oito pleitos
e muitos percalços no caminho da jovem democracia.
Sobre a política presidencial no Brasil da Nova Repú-
blica, é correto afirmar que
a) apenas Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor
de Mello conseguiram concluir seus dois manda-
tos presidenciais.
b) o governo de Dilma Vana Rousseff foi o único a
não ser concluído, pelo fato de a mandatária ter
sofrido processo de impeachment pelo Congres-
so Nacional.
c) Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da
Silva e Dilma Vana Rousseff foram os únicos a ser
reeleitos presidentes do Brasil na Nova República.
d) José Sarney, Itamar Franco, José Alencar e Michel
Temer são exemplos de vice-presidentes que as-
sumiram definitivamente o mandato presidencial.
Texto complementar
A rua e o poder
Leia a seguir o trecho de um artigo de Maria Glória Gohn, cientista política e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que
fala sobre os manifestantes das Jornadas de Junho.
Em Junho de 2013, ocorreu, em 12 capitais brasileiras e em várias outras cidades de médio porte, uma onda de manifestações populares que
reuniu mais de um milhão de pessoas, com similares em apenas três momentos da história do país: em 1992, no impeachment do ex-presidente
Collor de Melo; em 1984, no movimento Diretas Já, no período do regime militar, na luta pelo retorno à democracia; e nos anos de 1960, nas
greves e paralizações pré-golpe militar de 1964 e nas passeatas estudantis de 68. Os protestos rapidamente se espalharam e se transformaram
em revolta popular de massa. Os movimentos foram denominados pela mídia e outros como “manifestações”. De fato, eles foram, na maioria
das vezes, manifestações que expressam estados de indignação face à conjuntura política nacional. As mobilizações adquiriram, nesses eventos,
um caráter de movimento de massa, de protesto, de revolta coletiva, aglutinando a indignação de diferentes classes e camadas sociais, predo-
minando a classe média propriamente dita, e diferentes faixas etárias, destacando-se os jovens. Sabe-se que elas foram desencadeadas em
São Paulo por coletivos organizados, com o predomínio do Movimento Passe Livre (MPL), a partir de uma demanda pontual – contra o aumento
da tarifa dos transportes coletivos.
Quando o ‘povo’ viu, na TV e jornais, jovens sendo espancados por lutarem por bandeiras que eram também suas, como a mobilidade
urbana, ele também saiu às ruas. O crescimento das manifestações levou à ampliação das demandas com um foco central: a má qualidade
dos serviços públicos, especialmente transportes, saúde, educação e segurança pública. As manifestações fazem parte de uma nova forma de
movimento social, que se caracteriza por participação de uma maioria de jovens escolarizados, predominância de camadas médias, conexão
por e em redes digitais, organização horizontal e de forma autônoma e crítica às formas tradicionais da política da atualidade – especialmente
os partidos e os sindicatos. As convocações para os atos foram feitas através das redes sociais, e a grande mídia contribuiu para a adesão da
população ao noticiar a agenda, os locais e a hora das manifestações. Há uma estética particular nas manifestações: em cima da demanda-foco,
sem carros de som, o batuque ou as palmas são utilizados no percurso das marchas.
Os jovens organizadores das chamadas para as manifestações atuam em coletivos organizados na última década. Muitos dos jovens que
respondem às convocações e vão às manifestações estão em fase de batismo na política. Os coletivos inspiram-se em variadas fontes, segundo
o grupo de pertencimento de cada um. Como rejeitam lideranças verticalizadas, centralizadoras, também não há hegemonia de apenas uma
ideologia ou utopia. O que os motiva é um sentimento de descontentamento, desencantamento e indignação contra a conjuntura ético-política
de dirigentes e representantes civis eleitos nas estruturas de poder estatal, assim como as prioridades nas obras e ações selecionadas e seus
efeitos na sociedade. O movimento acontece “em se fazendo” e não via grandes planos de organizações com coordenações verticalizadas.
Há processos de subjetivação na construção dos sujeitos em ação. Cada um leva seu cartaz em cartolina; uma nova mensagem pode gerar
uma decisão tomada no calor da hora, em cima da demanda-foco; sem carros de som, o batuque ou as palmas são utilizados no percurso das
marchas, como já mencionado. [...]
Os ativistas dos movimentos sociais deste novo século foram e continuam a ser alvos de ações violentas por parte da repressão policial.
Conectam-se às redes de apoio internacional, e a solidariedade entre eles é um valor e um princípio. São laboratórios de experimentações de
novas formas de operar a política. Dirigem suas reivindicações a personagens específicos da cena público-política de cada país.
Para compreender essa onda de mobilizações, além de identificar as especificidades e diferenças dos jovens em ação, há uma questão
significativa. Por que uma grande massa da população aderiu aos protestos? Ou seja: que sentido e significado esses jovens atribuíram aos
acontecimentos para transformá-los em movimento de massa com ampla legitimidade?
Quais as fontes de motivação desses movimentos? Que ideologias os inspiram? Inspiram-se em variadas fontes, segundo o grupo de
pertencimento de cada um. Como rejeitam lideranças verticalizadas, centralizadoras, não há hegemonia de apenas uma ideologia,utopia ou
84 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
esperança que os motive. Alguns retiram, da esquerda, ensinamentos sobre a luta contra o capital e as formas de controle e dominação do
capitalismo contemporâneo, na busca da emancipação. Do anarquismo e do socialismo libertário, grupos ressuscitam e renovam leituras sobre a
solidariedade, a liberdade dos indivíduos, a autogestão, e a esquecida fraternidade, retomada nas ações de enfrentamento à repressão policial. Há
também um novo humanismo na ação de alguns, expresso em visões holísticas e comunitaristas, que critica a sociedade de consumo, o egoísmo,
a violência cotidiana – real ou monitorada pelo medo nas manchetes diárias sobre assaltos, roubos, mortes etc., a destruição que o consumo de
drogas está causando na juventude e outros. Busca-se reumanizar os indivíduos, promover a paz, combater a violência. Muitos não têm formação
alguma, estão aprendendo na luta do dia a dia, formatando seus valores conforme o calor da hora. D. Cohn-Bendit (2013) observou, a respeito das
manifestações no Brasil: “Nos anos 60 prevalecia a defesa dos ideais, socialismo, anarquismo, alguns lutavam em nome de Cuba, da China. Hoje
não há a questão ideológica. Isso é bom: lutar por escola melhor, transporte melhor”. [...]
GOHN, Maria da Glória. A sociedade brasileira em movimento: vozes das ruas e seus ecos políticos e sociais. Caderno CRH. v. , n. , jun.-ago. , p. -
. Universidade Federal da Bahia. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf//.pdf. Acesso em:  mar. .
Resumindo
 Redemocratização do Brasil
Constituição de 1988.
 Governo de José Sarney (1985-1990)
Mudança de moeda – tentativa de combate à inflação por
via monetária.
 Governo de Fernando Collor de Melo (1990-1992)
Escândalo de corrupção, movimento dos caras-pintadas
e renúncia.
 Governo de Itamar Franco (1992-1994)
Plano Real.
 Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)
Consolidação da liberal-democracia, privatizações e con-
trole inflacionário.
 Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010)
Programas de distribuição de renda e de inclusão social;
Escândalo de pagamento de propinas para deputados.
 Governo de Dilma Rousseff (2011-2016)
Crise econômica e política e polarização: progressismo x
conservadorismo.
 Governo de Michel Temer (2016-2018)
Reformas no limite dos gastos públicos, no Ensino Médio
e nas leis trabalhistas.
 Governo de Jair Bolsonaro (2019-)
Apoio de empresários, classe média conservadora, líderes
neopentecostais etc.
Quer saber mais?
Podcasts
Estação Brasil # – Redemocratização brasileira: pelo povo ou para o povo?
O historiador Ricardo Dowe fala sobre a luta pela democracia no Brasil durante as décadas de 0 e 0, a transição política
marcada pela Constituição de  e os desafios atuais da democracia no país.
História Pirata # – Fernando Henrique Cardoso e a redemocratização com Ricardo Duwe
Episódio que aborda a carreira acadêmica e política de Fernando Henrique Cardoso, considerando o contexto de redemocra-
tização do Brasil pós-0.
Estação Brasil # – Lulismo: ascensão, queda e perspectivas para o futuro
Discussão acerca da teoria de André Singer, cientista político que estudou o “lulismo” como um fenômeno social perpassado
por contradições.
1. Unicamp-SP 2018 No Brasil pós-ditadura, a disputa pela memória foi marcada pela publicação do projeto Brasil: Nunca
Mais (BNM), em 1985. Pode-se dizer que se trata de um ato fundacional na construção da memória social sobre os crimes
da ditadura, o qual favoreceu a constituição de uma consciência coletiva acerca da política repressiva do período e do status
dos sobreviventes.
(Adaptado de Janaina de Almeida Teles, A constituição das memórias sobre a repressão da ditadura: o projeto Brasil:
Nunca Mais e a abertura da vala de Perus. Anos 90, Porto Alegre, v. 19, n. 35, p. 265, jul. 2012).
a) Explique dois objetivos do projeto Brasil: Nunca Mais.
b) Por quais razões a autora considera o projeto Brasil Nunca Mais um ato fundacional?
2. Uerj 2019
Tenho pois mostrado pela razão, e pela experiencia, que a pezar de serem os Índios bravos huma raça de homens in-
conciderada, preguiçosa, e em grande parte desagradecida e deshumana para com nosco, que reputão seus inimigos, são
Exercícios complementares
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afastar o medo e não aceita colher o ódio. A Nação in-
teira comunga desse ato de esperança. Reencontramos,
depois de ilusões perdidas e pesados sacrifícios, o bom
e velho caminho democrático. (...) A primeira tarefa de
meu governo é promover a organização institucional do
Estado. (...) Faz algumas semanas eu anunciava a cons-
trução de uma Nova República. Vejo nessa fase da vida
nacional a grande oportunidade histórica de nosso povo.
(Discurso de Tancredo Neves em 15 de janeiro de 1985, após ser eleito pelo
Colégio Eleitoral)
Comício das Diretas em frente à igreja da Candelária no Rio de Janeiro, em
1 de abril de 198.
No alvorecer dos anos oitenta, na sociedade brasi-
leira, uma série de manifestações políticas e sociais
criticaram o governo vigente sob a bandeira do retor-
no dos direitos e prerrogativas democráticas. A partir
dessas informações e dos documentos anteriores:
a) explique o movimento “Diretas Já”;
b) identifique uma medida implementada pelo governo
da Nova República favorável ao restabelecimento
dos direitos democráticos.
5. Udesc 2018 A Constituição de , conhecida como
“Constituição Cidadã”, foi elaborada por meio de uma
assembleia nacional constituinte e marca o período
que se convencionou chamar “Nova República”.
Analise as proposições, segundo este Texto Consti-
tucional.
com tudo capazes de civilisação, logo que se adoptão
meios proprios, e que há constancia e zelo verdadeiro na
sua execução. Nas actuaes circunstancias do Brasil e da
Politica Européa, a civilisação dos Índios bravos he objecto
de summo interesse e importancia para nós. Com as novas
Aldêas que se forem formando, a Agricultura dos Generos
comestiveis, e a criação dos gados devem augmentar, e
pelo menos equilibrar nas Provincias a cultura e fabrico
do açucar.
Apontamentos para a civilisação dos Índios bravos do
Império do Brasil (1823), de José Bonifácio de Andrada e Silva.
Disponível em: objdigital.bn.br.
CAPÍTULO VIII – Dos Índios
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização
social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respei-
tar todos os seus bens. – 1º São terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas,
as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua repro-
dução física e cultural, segundo seus usos, costumes e
tradições. (...) Art. 232. Os índios, suas comunidades e
organizações são partes legítimas para ingressar em juízo
em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Mi-
nistério Público em todos os atos do processo.
Constituição da República Federativa do Brasil (1988).
Disponível em: www2.senado.leg.br.
Os documentos transcritos apresentam visões
distintas sobre os indígenas e seus direitos. Os apon-
tamentos expostos por José Bonifácio à Assembleia
Geral Constituinte do Império do Brasil, em ,
não foram incorporados ao texto da Constituição
outorgada em ; já os artigos do Capítulo VIII da
Constituição Brasileira de  até hoje vigoram. A
partir da comparação entre os documentos, identi-
que duas características, uma de  e outra de ,
que evidenciam as formas de considerar os direitos
dos indígenas no Brasil em cada momento histórico.
Em seguida, apresente um fator que explique a pre-
sença de tais direitos na Constituição de .
3. Unesp 2014 Nos primeiros anos da década de 1980,
a Argentina e o Brasil trilharam, finalmente, o caminho
da democracia. Naquele período, em um e outro país,as manifestações da sociedade vieram à tona, em vários
níveis.
(Boris Fausto e Fernando Devoto. Brasil e Argentina: um ensaio de história
comparada (1850-2002), 2004.)
Compare os processos de democratização ocorridos
no Brasil e na Argentina nos anos , a partir de
dois aspectos: situação econômica interna; punição
aos responsáveis por violências praticadas durante
os respectivos regimes militares.
4. FGV-RJ Nesse momento alto da história orgulhamo-
-nos de pertencer a um povo que não se abate, que sabe
86 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
I. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou
igrejas ou manter com eles, ou com seus repre-
sentantes, relações de dependência ou aliança.
II. São reconhecidos quatro poderes: Executivo,
Legislativo, Judiciário e Moderador.
III. Homens e mulheres são iguais, em direitos e
obrigações.
IV. Ninguém será submetido à tortura, ao tratamento
desumano ou degradante.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
e) Somente a afirmativa I é verdadeira.
6. Unesp 2017
A campanha pela Constituinte foi extremamente im-
portante para despertar a consciência cívica dos brasileiros
e estimular a organização da sociedade, criando ambiente
propício à manifestação objetiva e clara da vontade do
povo quanto a pontos essenciais da organização política
e social.
[...]
A alegação de que ela [a Constituição] é demasiado
longa e minuciosa esconde, na realidade, a resistência dos
que não querem perder privilégios tradicionais e dos que
desejam eliminar da Constituição os direitos econômicos,
sociais e culturais, pois tais direitos exigem do Estado um
papel positivo, de planejador e realizador, deixando para
trás o Estado-Polícia, mero garantidor de privilégios, antes
protegidos como direitos.
Dalmo Dallari apud Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota.
História do Brasil: uma interpretação, 2008.
A partir do depoimento do jurista Dalmo Dallari, cite
duas características do momento histórico em que
a Assembleia Constituinte de  foi convocada e
duas características da Carta que ela elaborou.
7. Unicamp-SP Vinte anos depois da promulgação da
Constituição de 1988, é difícil imaginar como um país
com graves problemas econômicos e recém-saído de
uma longa ditadura militar foi capaz de escrever seu futu-
ro numa Constituição que foi chamada de “Constituição
Cidadã”.
(Adaptado de Ricardo Amaral, “Memórias da última
batalha ideológica”. http://revistaepoca.globo.com/
Revista/Epoca/1,,EMI12361-15273,00.html.
Acesso em 18/11/2010.)
a) Por quais razões a Constituição de 1988 foi apeli-
dada “Constituição Cidadã”?
b) Quais eram os “graves problemas econômicos”
que afetavam o Brasil no contexto de transição da
ditadura militar para o regime democrático?
8. Fuvest-SP Basta dizer que, desde Juscelino Kubits-
chek, em 1 de janeiro de 2003, será a primeira vez
que um presidente eleito [diretamente pelo povo]
passará a faixa para outro presidente também eleito
diretamente pelo povo.
Artigo de Fernando Henrique Cardoso, publicado pelo jornal
“O Estado de S. Paulo”, 6/10/2002.
a) Com base no texto, é correta a afirmação de FHC?
Justifique sua resposta.
b) Indique as características do sistema eleitoral no
Brasil desde a Constituição de 1946 até hoje.
9. Fuvest-SP A crise política que o Brasil vem enfrentan-
do desde junho deste ano não teria ocorrido nos tempos
da ditadura militar. Só a democracia permite o debate
público.
De um observador, em setembro de 2005.
Essa frase remete às diferenças nas relações entre
Estado e sociedade no período da ditadura militar e
na democracia presente.
Discorra sobre algumas dessas diferenças no que se
refere
a) ao poder legislativo e aos partidos políticos.
b) à imprensa.
10. Unicamp-SP É interessante notar que o Brasil “padece”
de quase todas as “patologias” institucionais identifica-
das como fatores responsáveis pela elevação do custo de
governar: tem um sistema presidencialista; é uma federa-
ção; possui regras eleitorais que combinam um sistema
de lista aberta com representação proporcional; tem um
sistema multipartidário com partidos políticos considera-
dos débeis na arena eleitoral; e tem sido governado por
uma ampla coalizão no Congresso.
(Adaptado de Carlos Pereira e Bernardo Mueller, “Comportamento
estratégico em presidencialismo de coalizão: as relações
entre o Executivo e Legislativo na elaboração do
orçamento brasileiro”. Dados – Revista de Ciências Sociais.
Rio de Janeiro, 2002, v. 45, n. 2, p. 2.)
a) O Congresso Nacional no Brasil é formado pelo
Senado Federal e pela Câmara dos Deputados,
exercendo as funções de legislar e fiscalizar. Qual
a diferença básica, no sistema bicameral, entre o
Senado Federal e a Câmara de Deputados?
b) Qual a diferença entre Estado e governo?
11. Unicamp-SP 2014 (...) o desencanto com a Nova Re-
pública era provocado principalmente pelo fracasso dos
vários planos econômicos que não conseguiram domar
o dragão da inflação. Depois do breve sucesso do Pla-
no Cruzado, de 1986, a arrancada dos preços disparou,
esmagando o poder de compra dos brasileiros, especial-
mente dos mais pobres.
(Marly Motta, “Rumo ao planalto”.
Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/
especial-nova-republicarumo- ao-planalto.
Acessado em 09/08/2013.)
a) Explique o que é inflação.
b) Quais os efeitos do congelamento de preços,
base do Plano Cruzado, para a economia brasi-
leira do período?
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12. Unicamp-SP A crise que levou ao “impeachment” de
Collor tem características e significados inteiramente di-
versos dos da crise de 1968. Na crise do “impeachment”
os militares não foram protagonistas, nem se colocou em
questão nenhuma norma do regime político em vigor.
Fato inédito em nossa história republicana, essa cri-
se reafirmou o ordenamento jurídico estabelecido pela
Constituição de 1988, através de dispositivos como a
Comissão Parlamentar de Inquérito e o “impeachment”.
(Adaptado de Sebastião Velasco e Cruz, “O impeachment: uma crise singular”.
O presente como história: economia e política no Brasil pós-64. Campinas:
Unicamp-SP, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1997, p. 402-403.)
a) De acordo com o texto, que características da
crise política do “impeachment” de Collor a dife-
renciam das crises anteriores?
b) Quais os resultados políticos da crise de 1968?
c) O que é “impeachment”?
13. UFPR 2020 Leia o excerto abaixo:
Foi a partir dos anos 1990, com a vitória do neoli-
beralismo no Brasil [que] o parque produtivo brasileiro,
sobretudo o industrial, foi alterado de modo significativo
pela privatização do setor produtivo estatal, afetando di-
retamente a siderurgia, as telecomunicações, a energia
elétrica, áreas com forte presença estatal anterior e que
passaram para o capital privado, tanto transnacional quan-
to nacional.
(ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços
na era digital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019. p. 118.)
A partir das considerações acima e dos conhecimentos
sobre os temas da globalização e do neoliberalismo:
a) Relacione a abertura do mercado externo ocorrida
no Brasil, em inícios da década de 1990, com a glo-
balização e o aumento dos níveis de desemprego.
b) Os preceitos neoliberais defendem a privatização
das empresas públicas por considerá-las deficitá-
rias e pouco competitivas. Aponte uma crítica a
esse posicionamento manifestado pelos defen-
sores do neoliberalismo e discuta brevemente o
contexto de privatizações de empresas públicas
no Brasil.
14. Fuvest-SP 2018 Desde 1930, somente cinco pre-
sidentes eleitos pelo voto popular, excluídos os
vices, completaram seus mandatos: Eurico Gaspar
Dutra (1946-1951), Juscelino Kubitschek (1956-1961),
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio
Lulada Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-
-2014). Quatro não completaram: Getúlio Vargas
(1951-1954), Jânio Quadros (1961), Fernando Collor
(1990-1992) e Dilma Rousseff (2015-2016). Além dis-
so, sete não foram eleitos pelo voto direto: Getúlio
Vargas (1930-1945), Castelo Branco (1964-1967),
Costa e Silva (1967-1969), Garrastazu Médici (1969-
-1974), Ernesto Geisel (1974-1979), João Figueiredo
(1979-1985) e José Sarney (1985-1990).
J. M. de Carvalho. Brasil não soube assimilar entrada do povo na vida
política, diz historiador. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima.
Acessada em 10/09/2017.
A partir do recorte temporal estabelecido pelo autor,
indique o período mais extenso de
a) ininterrupta estabilidade democrática, apontando
duas de suas características político-institucionais;
b) contínua ruptura democrática, apontando duas de
suas características político-institucionais.
15. UEL-PR 2019 Leia os textos e a imagem, a seguir, que
correspondem a três momentos históricos distintos.
Texto 
Segundo o jornalista Valdeci Verdelho, falando da
década de 70 do século passado: “Depois do golpe mili-
tar de 64, o movimento grevista operário foi contido por
meio da força. Através do Ato Institucional no 5 e da Lei
da Segurança Nacional, as lideranças grevistas podiam
pegar de 10 a 20 anos de cadeia. Resultado? Em 1970,
ocorrem apenas 12 greves em todo o país. Em 1971, ne-
nhuma! Ativistas operários, como Manoel Fiel Filho, são
assassinados pela repressão”.
Adaptado de VERDELHO, V. Sinal dos Tempos: O Renascer do Movimento
Sindical. In: Retrato do Brasil! Rio de Janeiro: Ed. Política, 1984, p. 205-209.
Texto 
Lei promulgada pelo Presidente Sarney: “O Presidente
da República, faço saber que o Congresso Nacional de-
creta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o É assegurado
o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir
sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses
que devam por meio dele defender. Parágrafo único. O
direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta
Lei. Art. 2o Para os fins desta Lei, considera-se legítimo
exercício do direito de greve a suspensão coletiva, tem-
porária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal
de serviços a empregador. Art. 3o Frustrada a negociação
ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é
facultada a cessação coletiva do trabalho”.
LEI Nº 7.783, DE 28 DE JUNHO DE 1989. planalto.gov.br.
Manifestação de caminhoneiros em  de maio de  no Brasil.
google.com.br
Com base nos textos, na imagem e nos conhecimen-
tos sobre o Brasil Contemporâneo, responda aos
itens a seguir.
a) Situe o momento histórico correspondente a cada
texto e à imagem.
b) Relacione os dois textos e a imagem considerando
o momento histórico em que foram criados, aponte
se há contradições ou não e justifique sua reposta.
88 HISTÓRIA Capítulo 13 A Nova República (de 1985 à atualidade)
BNCC em foco
 EM13CHS201, EM13CHS601
1. Art. 231. São reconhecidos aos índios
sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demar-
cá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
a)
b)
c)
d)
e)
 EM13CHS103
2. Batizado por Tancredo Neves de “Nova Re-
pública”, o período que marca o reencontro do Brasil
com os governos civis e a democracia ainda não comple-
tou seu quinto ano e já viveu dias de grande comoção.
Começou com a tragédia de Tancredo, seguiu pela eu-
foria do Plano Cruzado, conheceu as depressões da
inflação e das ameaças da hiperinflação e desembocou
na movimentação que antecede as primeiras eleições di-
retas para presidente em 29 anos.
a)
b)
c)
d)
e)
 EM13CHS101
3.
a)
b)
c)
d)
e)
O período entreguerras
12
CAPÍTULO
FRENTE 2
O massacre de Guernica ocorreu em 26 de abril de 1937, quando aviões nazistas
bombardearam a cidade espanhola localizada na região do País Basco. No episódio,
a Alemanha testou novos armamentos aéreos, deixando 126 mortos e grande parte
da área urbana de Guernica devastada. O sofrimento gerado por esse ataque é uma
das marcas do século XX, outras, além dessa, também serão estudadas neste capítulo.
Como a Crise de 1929, uma das maiores da história do capitalismo, e a ascensão do fas-
cismo e do nazismo, com destaque para os casos da Alemanha, da Itália e da Espanha.
90 HISTÓRIA Capítulo  O período entreguerras
A Crise de 1929
Em 1929 irrompeu uma das maiores crises da história
do capitalismo, a qual deixou milhões de desempregados,
propiciou a ascensão de movimentos radicais de extrema-
-direita, como o fascismo e o nazismo, abriu espaço para o
fortalecimento de um modelo keynesiano de economia – de
acordo com o qual o Estado deve intervir de forma ativa em
períodos de crise e desemprego – e ajudou a impulsionar
a Segunda Guerra Mundial. Em 1932, cerca de 40 milhões
de pessoas estavam sem emprego no mundo.
Os Estados Unidos na década de 1920
Anos antes da crise que eclodiu em 1929, poucos con-
seguiram prever o que aconteceria. Após a Primeira Guerra
Mundial, o mundo foi tomado por uma onda de otimismo,
marcada pela crença de que as guerras tinham ficado para
trás. Nesse cenário, os Estados Unidos assumiram a po-
sição de maior potência do mundo, e passaram de país
devedor a país credor. Na década de 1920, o território es-
tadunidense concentrava 44,8% da produção industrial do
mundo. O país, além de fornecer produtos para as nações
europeias destruídas pela guerra, também detinha o controle
dos mercados latino-americano e asiático e importava 40% das
matérias-primas produzidas no mundo, entre as quais estavam
trigo, algodão, açúcar, borracha, seda, cobre, estanho e café.
No período pós-guerra, a produção industrial estaduniden-
se cresceu 60%, o desemprego caiu para 5% e a Bolsa de
Valores de Nova York estava no centro do mundo. A partir
de 1924, com a implementação do Plano Dawes, os Estados
Unidos passaram a emprestar dinheiro para a reconstrução
da Europa, sobretudo da Alemanha. É interessante notar, no
entanto, que embora economicamente os Estados Unidos
estivessem integrados aos mercados mundiais, adotavam
uma política isolacionista. Exemplo disso foi a rejeição do
Congresso à entrada do país na Liga das Nações.
O crescimento econômico dos Estados Unidos ge-
rou uma euforia de enriquecimento sem precedentes e a
ideia de que a prosperidade seria permanente. Por isso,
os anos 1920 ficaram conhecidos como anos dourados.
O consumismo ampliou-se em grande escala. Altas tarifas
alfandegárias protegiam o mercado interno estadunidense,
ao passo que o crédito facilitado alimentava a continuidade
da produção e permitia que muitas pessoas adquirissem um
carro ou uma casa. O empresário Henry Ford, de Detroit,
fabricava veículos baratos em série, o que fez sua produção
saltar de 8 milhões em 1920 para 23 milhões em 1930.
Assim era o American way of life (estilo de vida es-
tadunidense, em tradução livre), sobretudo para a classe
média, que, além de ter automóvel na garagem de casa,
comprava todo tipo de aparelho doméstico e se divertia
assistindo a filmes no cinema, além de lutas de boxe e
jogos de beisebol. Nesse contexto, Hollywood começou a
ganhar o status de capital mundial do cinema e a música
negra, sobretudo ojazze oblues, que surgiram no final do
século XIX, conquistaram espaço no mercado fonográfico.
Lançado em 5, o modelo Ford T rapidamente conquistou o mercado
estadunidense e tornou-se um símbolo da prosperidade do país nos anos
seguintes.
O trompetista Louis Armstrong foi dos um pioneiros do jazz estadunidense e sua
música contribuiu para que o estilo se popularizasse. Fotografia de 4.
Contudo, nesse período havia também um cenário
de miséria, desigualdade, intolerância e racismo. Quase
metade da população estadunidense vivia com menos
de mil dólares por ano. No campo, o crescimento do
agronegócio e a concentração de terras tornavam a pe-
quena fazenda familiar uma relíquia histórica. Na cidade,
ao adotarem o chamado Plano Americano, que intimi-
davae demitia líderes sindicais, as empresas diminuíram
consideravelmente o poder dos sindicatos, baixando de
cinco milhões para três milhões o número de trabalha-
dores sindicalizados.
O período foi marcado também pela defesa em
grande escala dos valores tradicionais estaduniden-
ses, sintetizados pela sigla Wasp ( junção das palavras
branco, anglo-saxão e protestante). Em 1915, a seita
de supremacistas brancos conhecida como Ku Klux
Klan, que havia sido dissolvida pelo governo em
1870, ganhou novo fôlego e espalhou sua mensa-
gem de ódio e violência contra a população negra.
Além disso, no intuito de moralizar a sociedade, o mo-
vimento puritano antialcoólico defendia a proibição
da produção e comercialização de bebidas alcoó-
licas. Decretada pelo governo federal em 27 de outubro
de 1919, a Lei Seca foi instituída com a justificativa de
que o consumo de álcool representava um obstáculo
para o progresso do país. A lei, no entanto, teve efei-
to inverso e levou o crime organizado a fazer fortuna
comercializando bebidas alcoólicas ilicitamente. Treze
anos depois, a Lei Seca foi revogada em decorrência
de seu insucesso.
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A crise
A crença de que a economia dos Estados Unidos cres-
ceria ininterruptamente estimulou em grande medida a
compra de , ocasionando uma onda de especulação
na . Eventualmente, quando há especula-
ção acerca de um possível aumento no preço de uma ação,
ela pode valer mais que seu preço “real”. Quando a procura
por uma ação é grande, seu preço aumenta, do mesmo modo,
quando há pouca procura, o preço diminui. Algumas pessoas
obtêm lucros com essa variação, pois compram ações por
preços baixos e esperam que seus preços aumentem para
vendê-las. Na década de 1920, durante a euforia estadu-
nidense, muitas ações foram vendidas, pois acreditava-se
que as empresas iriam crescer permanentemente. Para se ter
uma ideia, entre 1924 e 1929, a venda de ações aumentou
em torno de 300%. Os bancos, por sua vez, emprestavam
dinheiro aos compradores de ações, concedendo créditos e
criando endividamentos de dimensões até então nunca vistas.
No entanto, as ações perderam relação com o cresci-
mento real das empresas. Isso porque as empresas vendiam
cada vez menos, principalmente após a reestruturação
industrial da Europa, sobretudo do Reino Unido e da Fran-
ça, que voltaram ao comércio internacional, aumentando a
competitividade com os produtos estadunidenses. Apesar
disso, para manter a confiança dos acionistas, as indústrias
continuavam produzindo como na época da Primeira Guer-
ra Mundial. A grande concentração de renda e a pobreza
nos Estados Unidos, contudo, impossibilitavam o mercado
interno de substituir os compradores internacionais. Esse
descompasso entre superprodução e subconsumo formava
uma grande bolha de especulação.
A crise estadunidense repercutiu no mundo inteiro. Isso
porque o país suspendeu suas importações, interrompeu a
concessão de empréstimos e paralisou seus investimentos.
A produção industrial mundial caiu 33%, enquanto o comér-
cio internacional reduziu 25% de suas transações. Além
disso, a retirada dos capitais estadunidenses da Europa
levou alguns bancos europeus a falir. Nos países capita-
listas, havia cerca de 30 milhões de desempregados. Em
países como Cuba, que exportava açúcar para os Estados
Unidos, e Brasil, que exportava café, as receitas foram dras-
ticamente reduzidas.
Nesse contexto, muitas pessoas na Alemanha passaram
a defender a ideia de que só um regime ditatorial pode-
ria acabar com a crise, aumentando o apoio ao nazismo.
Apenas a União Soviética, país de economia socialista e
planificada que não mantinha relações econômicas com os
Estados Unidos, escapou da crise, o que abalou a confiança
no sistema capitalista e contribuiu para disseminar a ideia
de superioridade do sistema soviético.
Multidão aglomerada em Wall Street no dia da quebra da Bolsa de Valores de
Nova York, Estados Unidos, .
Com o passar do tempo, as empresas reduziram o ritmo
de produção, levando as pessoas a venderem as ações, com
medo de que desvalorizassem. Porém, como ninguém que-
ria comprá-las, houve uma enorme queda nos preços. Essa
desvalorização foi tão intensa que no dia 24 de outubro de
1929 a Bolsa de Valores de Nova York quebrou, isto é, não
havia compradores para mais de 16 milhões de ações que
estavam no mercado. Muitas ações passaram a ter um valor
quase nulo, e vários investidores perderam suas fortunas.
Até 1932, 5 mil bancos e 85 mil empresas faliram. Além
disso, a produção industrial caiu 46% e o PIB diminuiu um
terço. Nesse cenário, mais de 15 milhões de estaduniden-
ses ficaram desempregados, número que correspondia a
25% da população economicamente ativa. A Ford, que era
um símbolo do capitalismo nos Estados Unidos e emprega-
va 128 mil trabalhadores em 1929, passou a contar com
apenas 37 mil funcionários em 1931. No campo, a renda
familiar caiu 60% e um terço dos proprietários rurais perdeu
suas terras. Milhares de pessoas migravam para as cidades,
onde trabalhavam por salários baixos.
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92 HISTÓRIA Capítulo  O período entreguerras
O New Deal de Roosevelt
O candidato à presidência dos Estados Unidos pelo
Partido Democrata, Franklin Delano Roosevelt, ganhou as
eleições de 1932 com a promessa de adotar medidas pro-
fundas para solucionar a crise iniciada em 1929. Entre 1933
e 1934, Roosevelt lançou o primeiro New Deal, um pacote
de reformas caracterizado por uma grande intervenção do
Estado na economia. O objetivo era promover a recupe-
ração industrial e agrícola, regular o sistema financeiro,
ampliar a assistência social e o número de obras públicas
que pudessem gerar empregos.
O New Deal preconizou maior controle, incentivo
e fiscalização estatal da economia para que o gover-
no conseguisse cumprir a tarefa de reerguer o país. Os
empréstimos passaram a ser regulados pelo Sistema de
Reserva Federal, que autorizava a expansão do crédito
ou regulava a diminuição conforme a necessidade. Além
disso, a Bolsa de Valores passou a ser supervisionada e
regulada por leis estatais, assim como a concessão de
crédito. Nesse sentido, o governo proibia os bancos de
utilizar o dinheiro de seus clientes para fazer investimentos
considerados arriscados.
Por meio de acordos com empresários, trabalhadores
e o governo, a Lei de Recuperação da Indústria Nacional,
parte integrante do New Deal, estabeleceu limites para
preços e salários. A Lei de Ajustamento Agrícola, por sua
vez, facilitou o crédito aos fazendeiros para reestruturarem
sua produção e exigiu, em troca da subvenção estatal, a
diminuição nos preços dos alimentos. O governo também
construiu usinas hidrelétricas para produzir energia barata
e abundante, e passou a controlar o segmento. O Estado
assumiu a tarefa de gerar empregos por meio de obras
públicas ou outros tipos de programas, voltando a criar um
mercado interno de consumo.
Ao todo, foram gastos cerca de 3 bilhões de dólares em
obras de infraestrutura para absorver a mão de obra ociosa,
resultando na contratação de 6 milhões de pessoas. Entre
1922 e 1941, o governo contratou 2,7 milhões de jovens
entre 18 e 25 anos para plantar árvores, controlar o fogo e
a erosão nas florestas, melhorar praias e parques nacionais
e estaduais, combater mosquitos, entre outros trabalhos.
Cerca de 2 milhões de jovens tornaram-se pesquisadores
ou ajudantes de pesquisa e, assim como os artistas e os
escritores, foram pagos pelo Estado para exercerem seu
ofício. Cerca de 2,7 mil peças foram exibidas sob financia-
mento do Plano Federal de Teatro. Além disso, o governo
fixou um salário mínimo para operários, auxiliou os estados
a criarem um seguro-desemprego, aboliu o trabalho infantil
e legalizou, pela primeira vez na história dos Estados Uni-
dos, as organizações sindicais.
Em 1935, Roosevelt lançou a segunda versão do New
Deal como resposta aos protestos que reivindicavam novas
Estabelecendo relaçõesRoosevelt tornou-se um dos presidentes mais populares da história dos
Estados Unidos, reeleito em , 40 e 44. Fotografia de 44.
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medidas de ajuda. Naquele ano, foi aprovada a Lei da
Seguridade Social, que criou os sistemas previdenciários,
fundamentais no mundo contemporâneo. Outras medidas
foram garantidas, como assistência social emergencial;
cobrança de impostos sobre fortunas privadas; pagamento
de seguro para desempregados, pessoas com deficiência
e aposentados; construção de habitações públicas; fixação
de um salário mínimo e limites da jornada de trabalho.
Esse contexto caracterizou o surgimento do que ficou
conhecido como Estado de bem-estar social. Roosevelt
conseguiu captar a aliança de sindicalistas, intelectuais e
empresários, criando um programa político que duraria
duas gerações.
Características gerais
De acordo com Benito Mussolini, líder do fascismo na
Itália, o Estado fascista integra, potencializa e desenvolve a
totalidade da vida do povo, sintetizando os valores da so-
ciedade. Por essa razão, nada teria valor e nenhum aspecto
humano ou espiritual existiria fora do Estado, ao qual não
caberia apenas ordenar e tutelar, mas “refazer” o caráter e a
fé das pessoas. Nesse sentido, o cinema, a música, o teatro
e os esportes foram mantidos sob controle, de modo que
a cultura tornou-se intrínseca ao Estado fascista.
Por crer que o Estado pode violar a Constituição e os
direitos básicos – como liberdade, igualdade e direito à
propriedade –, o fascismo se caracteriza como uma ideologia
profundamente antiliberal, opondo-se aos valores funda-
mentais da Revolução Francesa. Nas palavras de Mussolini,
“a liberdade é um cadáver putrefato”.
As obras de infraestrutura lançadas pelo governo de Franklin Roosevelt
foram fundamentais para gerar empregos após a Crise de . Na
fotografia, obras no Bronx, Nova York, .
No Estado fascista, o controle sobre a população e a difusão dos valores
defendidos pelo fascismo começam na infância. Na fotografia, crianças em
cerimônia fascista em Roma, Itália, 4.
É importante ressaltar que o New Deal não conseguiu
recuperar totalmente a economia dos Estados Unidos,
embora o pacote de reformas tenha obtido resultados posi-
tivos. O número de desempregados caiu de 14 milhões, em
1933, para 7,5 milhões, em 1937. A renda nacional subiu
70% e as exportações, 30%. Outro destaque do Estado de
Bem-Estar Social era a imagem positiva vinculada a ele. O
programa foi usado como propaganda do capitalismo diante
do avanço socialista e um aliado da democracia diante do
avanço nazista – lembrando que os Estados Unidos, so-
bretudo no sul do país, mantinham práticas de segregação
racial e eugenia que serviram de inspiração ao nazismo.
O fascismo
A ascensão dos regimes fascistas na Europa ocorreu
em um cenário marcado pela depressão econômica decor-
rente da Crise de 1929 e pelo crescimento da esquerda
no cenário político mundial propiciado pela Revolução
Russa. Nesse sentido, os regimes fascistas eram vistos por
alguns grupos da sociedade – principalmente por parte da
classe média e da burguesia, que queriam evitar o avanço
do socialismo – como uma alternativa ao bolchevismo e
ao liberalismo. Na Europa, apenas Grã-Bretanha, Finlândia,
Estado Livre Irlandês, Suécia e Suíça não tiveram alguma
forma de governo fascista ou algum tipo de regime socia-
lista. Em 1938 contavam-se 17 governos constitucionais
no mundo. Agora, vamos expor características gerais do
movimento e, em seguida, discutir os casos específicos
de Itália, Alemanha e Espanha.
O Estado fascista também é antidemocrático, uma vez
que, segundo seus ideólogos, não deve oscilar de acordo
com a vontade do povo. Nesse sentido, a democracia gera-
ria apenas desordem. Por isso, todos deveriam se submeter
aos interesses da nação, a qual, por sua vez, deveria ser
coesa ideologicamente, mostrando força e unidade. Além
disso, o fascismo preconiza que haja harmonia entre capital
e trabalho, família, comunidade profissional e nação.
Para os fascistas, as instituições liberais, como a im-
prensa livre, o parlamentarismo e a separação de poderes,
seriam responsáveis por gerar a crise contemporânea.
Outro ponto fundamental do fascismo é seu caráter an-
ticomunista e antissocialista. O fascismo repudia elementos
do pensamento marxista, como a luta de classes, a busca
pela igualdade econômica e o internacionalismo, embora
o fascismo tenha se tornado um movimento internacional.
De acordo com o Manifesto do Bloco Nacional de Espanha,
de 1934, a era ruinosa da luta de classes estaria chegando
ao fim. Além disso, em sua obra Mein Kampf (Minha luta,
em português), de 1934, Hitler afirmou que “o bolchevismo
russo é fruto do pensamento judeu”.
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94 HISTÓRIA Capítulo  O período entreguerras
O corporativismo fascista consistia na ideia de que a
população não deveria se organizar em partidos, sindicatos
independentes ou quaisquer divisões políticas ou ideo-
lógicas, já que isso atrapalharia a coesão ideológica do
Estado. Hitler falava em “fim das classes” no sentido fascista,
de acordo com a ideia de que o interesse de patrões e
operários seria o mesmo, e não no sentido comunista, que
defendia de fato o fim das classes sociais. A sociedade
seria tal qual um corpo, no qual cada um tem seu lugar
estabelecido hierarquicamente, daí a radical oposição à
igualdade da esquerda e à ideia de luta de classes. No
discurso fascista, toda a sociedade tem o mesmo interesse,
de modo que ideias como “interesses antagônicos entre
patrões e operários” seriam invenções despidas de fun-
damento. A ideia de “igualdade” fascista, portanto, seria
aquela que afirma não haver conflitos inerentes aos grupos.
Uma igualdade que paradoxalmente conviveria com uma
hierarquia profunda e autoritária.
O militarismo exacerbado seria uma forma de fortale-
cer o Estado fascista. O objetivo primordial de militarizar a
sociedade era impor, por meio da educação, os padrões
de hierarquia e comportamento dos quartéis. Desse modo,
costumes adquiridos por uma geração de europeus que
passou quatro anos em guerra foram transpostos para a
vida civil. Nesse ponto, é interessante lembrar que algumas
lideranças fascistas, mesmo em tempos de paz, continua-
vam usando uniforme e celebrando a vida de soldados.
O militarismo, o controle dos meios de comunicação,
a defesa do partido único e a espetacularização da figura
do líder afastam o fascismo, por exemplo, do absolutismo,
o qual dependia das mediações entre o rei e a nobreza e
esperava do súdito uma submissão exterior, mas preser-
vando diversas instâncias.
Cartaz de propaganda anticomunista do Partido Fascista Italiano, 4,
em que os fascistas são retratados como patriotas, e os comunistas como
defensores da “bandeira vermelha”.
Capa do jornal fascista italiano A tribuna ilustrada, de , mostrando um
passeio de moto organizado pelo ditador Benito Mussolini.
O nacionalismo é outra característica importante que
está alinhada aos princípios anteriores. Nesse sentido,
a nação seria uma criação do Estado e daria ao povo
unidade moral e vontade coletiva. Tudo o que é nacional
é visto como bom, ao contrário do perigo do não nacio-
nal, representado pelas figuras do comunista, do cigano,
do negro, do judeu, do homossexual e da pessoa com
deficiência.
Cada organização fascista tinha seu símbolo, sua cor
e seu líder absoluto, a quem seus seguidores devotavam
idolatria, considerando-o uma espécie de salvador da
pátria. O culto à personalidade do grande líder, chamado
de egocrata por alguns críticos, foi um traço marcante
do fascismo. Para tanto, os regimes com base no ideal
fascista foram os primeiros a perceber com clareza o
poder dos meios de comunicação e a necessidade
de monopolizá-los. Em 1919, o jornal O Povo da Itália
publicava um texto no qual afirmava que “o fascismo é re-
volucionário porque é antidogmático e antidemagógico,fortemente inovador e carece de preconceitos. Nós nos
colocamos em defesa da guerra revolucionária acima
de tudo e de todos”.
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Em resumo, há cinco características fundamentais do
fascismo: antiliberalismo, antimarxismo, organicismo social,
liderança carismática e negação da diferença. Apesar des-
sas características em comum, é importante enfatizar que os
tipos de fascismo apresentam especificidades relacionadas
aos movimentos e às realidades locais. Além disso, há uma
diferença entre regimes como os de Hitler (Alemanha) e
Mussolini (Itália), que chegaram ao poder e foram der-
rotados na Guerra, ou entre Franco (Espanha) e Salazar
(Portugal), que chegaram ao poder apoiados por fascis-
tas, mas buscaram afastar ou disfarçar suas características
fascistas após a guerra, e a União Britânica Fascista e a
Guarda de Ferro da Romênia, que nunca tomaram o poder
e existiram apenas como movimentos.
O fascismo na Itália
Desde a unificação da Itália, no final do século XIX, a
monarquia parlamentar foi instaurada, embora esse regime
político fosse considerado fraco por uma grande parcela
da população. Nesse contexto, a Revolução Russa teve
forte impacto no país: os movimentos socialistas, liderados
pelo Partido Socialista Italiano (PSI), ganhavam força e apoio
popular. Entre 1919 e 1920, o chamado “biênio verme-
lho”, a Itália foi tomada de assalto por greves, ocupações
e rebeliões bolchevistas. Em 1920, os trabalhadores das
indústrias metalúrgica e automobilística ocuparam fábricas,
totalizando 2 milhões de grevistas. Na Semana Vermelha,
600 mil metalúrgicos do norte do país ocuparam fábricas
e criaram mecanismos de autogestão.
Os grupos conservadores ficaram preocupados com
a disseminação do bolchevismo na Itália. Nesse sentido, o
fascismo liderado por Benito Mussolini emergia como uma
alternativa antiliberal e antissocialista para as elites italianas.
Após lutar na guerra, Mussolini se opôs tanto aos so-
cialistas quanto aos liberais. Em março de 1919, Mussolini
fundou, em Milão, a organização paramilitar Fasci Italiani di
Combattimenti, embrião do futuro partido fascista, unificado
em 1921 sob o nome de Partido Nacional Fascista. O par-
tido, que era altamente militarizado, logo passou a contar
com 300 mil membros e conseguiu eleger 35 cadeiras no
Parlamento. Os esquadrões fascistas, chamados de “Cami-
sas Negras”, dedicaram-se aos ataques contra sindicalistas
e socialistas, saqueando e incendiando jornais e sedes de
partidos progressistas.
Em 1922, momento em que a Itália se encontrava di-
vidida, a esquerda planejou uma greve geral para mostrar
sua força. Em resposta, o então deputado Benito Mussolini
organizou a Marcha sobre Roma, um grande espetáculo de
demonstração da força do Partido Fascista que consistiu na
ocupação da cidade por 50 mil camisas-negras. Na ocasião,
não foi preciso disparar tiros ou enfrentar a oposição da
polícia, do exército ou do governo. O rei Vitor Emanuel III,
então, ofereceu a Mussolini o título de primeiro-ministro e a
responsabilidade de compor um ministério. Mussolini ficou
conhecido como Il Duce (“o condutor”, em tradução livre) e
passou a ter mais poder que o monarca.
Marcha sobre Roma, Itália, em outubro de .
Logotipo do Partido Nacional
Fascista. Ao centro, o fascio
littorio, instrumento etrusco de
punição e de representação do
poder, feito de tiras de madeira,
muito usado no Império Romano.
Do termo fascio littorio originou-se
a palavra “fascismo”.
Nas eleições de 1924, após fraudes e intimidações,
65% do Parlamento italiano passou a ser fascista, e com
maioria parlamentar, Mussolini conseguiu alterar a legis-
lação e adquiriu o poder de emitir decretos-lei. Em 1925,
ele implantou as Leis Fascistíssimas, que o levaram a as-
cender como único responsável pelo Estado diante do
rei e tornaram a Itália oficialmente uma ditadura fascista.
Entre outras medidas, essas leis estipularam a perda de
todos os poderes do Parlamento e a expulsão e prisão dos
membros de outros partidos, fazendo da Itália um país de
partido único. Além disso, as instituições representativas
foram eliminadas, e os governos locais substituídos por
governos pró-fascistas. Surgia uma milícia em forma de po-
lícia secreta, a Organização pela Vigilância e Repressão do
Fascismo (Ovra).
Ao dispor de plenos poderes, o Duce determinou o
controle estatal sobre os principais meios de comunica-
ção, que transmitiam somente conteúdos aprovados por
seus supervisores. A imprensa de oposição desapareceu,
acusada de dividir o país, e Mussolini adotou a estratégia
de transmitir seus discuros pelo rádio com o propósito de
levá-los ao maior número de pessoas possível, sobretudo
aos mais pobres. As imagens cinematográficas chegavam
aos italianos por meio de filmes educativos, propagandas
e cinejornais do Instituto Nacional Luce, criado em 1924
como a “Hollywood fascista”.
No campo econômico, o princípio do livre mercado
foi abandonado, em uma espécie de reforma do capita-
lismo. Diante da Crise de 1929, Mussolini criou o Instituto
de Reconstrução Industrial, que reforçou a intervenção do
Estado na economia. Na agricultura, os incentivos e as polí-
ticas do governo favoreceram o agronegócio e o latifúndio.
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96 HISTÓRIA Capítulo  O período entreguerras
Foram construídas estradas, pontes, ferrovias e portos.
Em 1927, Mussolini estabeleceu a Carta do Trabalho, que
misturava concessões trabalhistas, relações favoráveis aos
patrões e medidas de controle social, entre elas o controle
do Estado sobre os sindicatos.
O Tratado de Latrão, instituído em 1929 e considerado
uma das grandes estratégias políticas de Mussolini, deu ao
papa a soberania sobre a Cidade do Vaticano e pagou in-
denizações à Igreja Católica pela perda de antigos Estados
no período da unificação. Assim, o catolicismo tornou-se
a religião oficial do país, o ensino religioso passou a ser
obrigatório nas escolas, foi instituída a proibição do divór-
cio, entre outras questões de cunho moralista. De acordo
com uma concepção hierárquica de sociedade, os fascistas
acreditavam que a mulher não poderia integrar o mercado
de trabalho e, portanto, deveria ser excluída dos serviços
públicos. Em 1938, por exemplo, fixou-se uma cota de 10%
para todo o emprego feminino, salvo o caso de trabalhos
considerados “femininos”.
O governo fascista também foi marcado pela tentativa
de expansão imperialista na África. Em 1936, a Etiópia foi
conquistada; em 1939, a Itália dominou a Albânia. Outros
domínios italianos sob a liderança de Mussolini incluíam a
Líbia, a Eritreia e a Somália. Após a derrota do Eixo na Se-
gunda Guerra Mundial, Mussolini foi capturado e executado
no dia 28 de abril de 1945.
O nazismo na Alemanha
Entre as experiências fascistas que marcaram o mun-
do entreguerras (1918-1939), os eventos na Alemanha são
os mais conhecidos. O nazismo, uma forma de ideologia
fascista, compunha um projeto totalitário de sociedade, ar-
ranjado em torno da ideia de um corpo único, homogêneo
e indivisível, no qual se projetava a existência de apenas um
partido, uma ideologia e um líder no comando das grandes
massas. O nazismo foi também um projeto estético, que vi-
sava “embelezar” a sociedade – com uma ideia perversa de
“belo”. Aquele apresentado como diferente sofria todo tipo
de discriminação e, em última instância, era exterminado.
Hoje, a grande maioria condena abertamente o nazismo. Mas
como esse projeto de sociedade conseguiu ganhar tanta
força em sua época? Vale lembrar que o nazismo conquistou
simpatizantes em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.
A República de Weimar (1919-1932) e a
ascensão do nazismo
Para compreender o contexto de ascensão do nazismo,
primeiro vamos relembrar que, na passagem do século XIX
para o XX, o racismo não ocorria apenas na Alemanha. A
segregação racial foi vigente até a década de 1960 nos
Estados Unidos, e em países da Europa haviapráticas eu-
genistas e teorias de darwinismo social. O Reino Unido, por
exemplo, condenava homossexuais à castração química na
mesma época em que Hitler os exterminava em campos de
concentração. Além disso, é preciso pontuar que as puni-
ções impostas à Alemanha após a Primeira Guerra Mundial,
no Tratado de Versalhes, trouxeram à tona um sentimento
nacionalista muito forte.
Após a Primeira Guerra Mundial, o imperador Guilherme II
foi deposto e a República foi proclamada. Como a nova
Constituição foi redigida na cidade de Weimar, em 1919,
o novo regime estabelecido no país recebeu o apelido de
República de Weimar e vigorou até 1933. Essa recém-cria-
da República era legislada por um Parlamento, eleito por
voto universal, e governada por um presidente assessorado
por um primeiro-ministro, o chanceler.
A Alemanha, nesse momento, reunia grupos comunis-
tas bastante engajados. Ente 1918 e 1923, os militantes
comunistas alemães empreenderam várias tentativas para
tomar o poder. Além disso, conselhos operários, semelhan-
tes aos sovietes russos, formaram-se pelo país. Entre esses
conselhos, destacou-se a Liga Espartaquista, liderada por
Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, que deu origem ao
Partido Comunista Alemão no final de 1918.
Adolf Hitler (à esquerda, de perfil) e Joseph Goebbels (ao centro, de frente),
responsável pela propaganda nazista, entre  e 45.
A filósofa e militante comunista Rosa Luxemburgo, uma das referências
mundiais em teoria marxista, foi torturada e executada em  após a
tentativa dos espartaquistas de insurreição contra o governo alemão em 8.
Fotografia de c. 85-05.
Nesse contexto, em 1919, em Munique, foi funda-
do o Partido Nacional-Socialista, inspirado nas ideias de
Mussolini. Em 1920, já com Hitler à frente, o nome foi al-
terado para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães (abreviado como Partido Nazista), com amplo
apoio da alta burguesia do país.
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Desde o início, o Partido Nazista organizou grupos pa-
ramilitares que faziam ataques terroristas a comunistas e
judeus. Inspirando-se na Marcha sobre Roma, Hitler liderou,
em novembro de 1923, um golpe na cidade de Munique
para derrubar o governo da região da Baviera: o Putsch
(ou “Golpe da Cervejaria”). O golpe foi frustrado, e Hitler,
condenado a cinco anos de prisão, foi solto poucos meses
depois. Na prisão, começou a escrever seu livro Minha luta
(Mein K síntese de sua doutrina da superioridade ra-
cial e do pensamento nazista. Em 1926, surgia a Juventude
Hitlerista, que atuava nas universidades e cujos integrantes
faziam caminhadas, praticavam esportes e organizavam
campanhas contra o alcoolismo. Surgiram também ligas
nazistas de médicos (grupo que apoiou expressivamente
o novo partido), juristas, professores e mulheres.
Entre 1924 e 1929, a República de Weimar conhe-
ceu um período de relativa recuperação decorrente da
criação de uma moeda estável e dos recursos enviados
pelos Estados Unidos. Porém, com a eclosão da Crise
de 1929, a economia alemã, dependente de recursos
externos, entrou em colapso, e o índice de desemprego
chegou a 45%.
Nas eleições de 1932, o partido nazista foi o mais vo-
tado para o Parlamento, embora Hitler tenha perdido as
eleições presidenciais. Pressionado pelos grandes empre-
sários, e com medo da ascensão do comunismo, o marechal
von Hindenburg, eleito presidente, nomeou Hitler como
chanceler (primeiro-ministro) em janeiro de 1933.
Hitler tomou medidas drásticas contra socialistas e co-
munistas, persuadindo o presidente Hindeburg a dissolver o
Parlamento e convocar novas eleições. Em 27 de fevereiro
de 1933, houve um incêndio no Parlamento, pelo qual os
comunistas foram responsabilizados. A sede do Partido Co-
munista foi invadida, e quase toda a bancada de esquerda
do Parlamento foi presa ou morta. Cerca de quatro mil co-
munistas foram presos na Alemanha. Nesse momento, o
presidente implantou a pena de morte e concedeu poderes
extraordinários ao chanceler sob pretexto de combater a
esquerda. Hermann Göring, braço direito de Hitler, começou
o processo de substituição da política pelas milícias nazistas.
Em março de 1933, ocorreu nova eleição, na qual os
nazistas conseguiram 288 cadeiras contra 120 dos social-
-democratas e 89 dos comunistas. Porém, é um erro dizer
que Hitler chegou ao poder por vias “democráticas” mesmo
obtendo a maioria das cadeiras, pois foi sistematicamente
solapado pelos nazistas o respeito à Constituição, à se-
paração de poderes e aos direitos humanos, elementos
fundamentais de uma democracia.
Após a morte de Hindenburg em 1934, Hitler tornou-
-se presidente da Alemanha. No poder, o líder nazista
suprimiu as garantias de liberdade, dissolveu os sindicatos
e partidos políticos e reativou o Exército, a Marinha e as
indústrias armamentistas. O regime nazista tornou-se o
Terceiro Reich (ou Terceiro Império, sucedendo o Segun-
do, inaugurado por Bismarck em 1871, e o primeiro, que
representa o Sacro Império Romano-Germânico, surgido
em 962). A bandeira da República de Weimar foi então
substituída pela suástica nazista.
O governo nazista
O Partido Nacional-Socialista tornou-se, assim, o único
partido político legalizado, cujo poder era mantido por meio
do terror. Os operários eram obrigados a se inscrever na
Frente de Trabalho Alemã e os camponeses, por sua vez,
obrigados a se inscrever no Estatuto Alimentar do Reich.
As crianças deveriam entrar na Juventude do Povo, e os
adolescentes, na Juventude Hitlerista ou na Liga das Moças
Alemãs. Livros considerados contrários à nação alemã eram
queimados em grandes cerimônias, e obras de arte vistas
como degeneradas eram destruídas. Veículos de comuni-
cação passaram a ser controlados e aqueles considerados
inimigos pararam de circular.
No plano econômico, o Estado assumiu o papel de
regular a economia e reduziu a taxa de desemprego para
quase zero. De acordo com a historiografia recente, Hitler
recuperou a economia alemã com base no endividamento e
no investimento na indústria bélica, de forma que o colapso
a médio prazo só seria evitado no caso da vitória em uma
possível guerra. Em 1938, pouco antes do início da Segun-
da Guerra Mundial, a economia nacional já demonstrava
sinais de decadência vertiginosa.Membros do Partido Nazista da Alemanha, em Munique, Alemanha, 0.
Atenção
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98 HISTÓRIA Capítulo  O período entreguerras
Os principais órgãos repressivos do regime foram a
Polícia Secreta do Estado (Gestapo), a Tropa de Assalto
ou Seção Tempestade (SA), o Serviço de Segurança (SD)
e a Tropa de Proteção (SS). Dentro do ideal corporativista,
cada setor da sociedade tinha um papel bem definido no
regime. A família tinha um papel central nesse contexto. O
papel da mulher, fora de qualquer trabalho, era a reprodu-
ção da raça, por isso deveria ser educada para procriar,
cuidar dos filhos e da família. Já as mães judias, ciganas e
negras, vistas pelos nazistas como de “raça inferior”, sofriam
aborto e esterilização compulsórios. Nas escolas, desde
os 3 ou 4 anos de idade, as crianças eram vistoriadas para
verificar se estavam sendo educadas para serem bons na-
zistas. Para matricular os filhos na escola, os pais tinham
que apresentar sua árvore genealógica, comprovando que
eram arianos puros.
Assim como na Itália, o nazismo estimulava a ginástica
entre as crianças, que aprendiam sobre soldados esparta-
nos e guerreiros nórdicos, “honrados e heroicos”, que foram
leais e serviram a seus líderes. Dos 10 aos 14 anos, os
jovens preparavam-se para integrar a Juventude Hitlerista,
cujo objetivo era ensiná-los a ideologia nazista para que se
tornassem soldados do Führer (Líder) munidos de técnicas
de combate e de fabricação de explosivos.
Como para Hitler a arquitetura era a mãe de todas as ar-
tes, AlbertSpeer, arquiteto do Terceiro Reich, projetou uma
“Nova Berlim”, inspirada no Império Romano, que deveria
ser a “futura capital do mundo”, com edifícios monumentais,
materiais duráveis e um arco do triunfo maior que o francês.
Além de um ideal político, o nazismo era carregado de
um ideal estético sintetizado na ideia de “embelezamento”
da sociedade. Hitler afirmava que a humanidade estava cor-
rompida geneticamente, e o único povo que não havia se
misturado com outras “raças” era o germânico, o que fazia
dele puro e superior. A beleza humana, portanto, seria al-
cançada com a destruição de outros povos. À mulher alemã,
segundo o ideal nazista, cabia o papel de reproduzir essa
pureza racial, por isso, deveria ser educada para procriar,
cuidar dos filhos e da família. Os Jogos Olímpicos de 1936,
em Berlim, foram muito emblemáticos nesse sentido: era a
chance de demonstrar ao mundo o vigor da raça ariana e
o reerguimento da Alemanha sob o governo nazista.
O antissemitismo, ou seja, a intolerância e o ódio aos ju-
deus, já era forte na Europa muito antes do nazismo alemão.
O historiador Eric Hobsbawm assim explica a perseguição
contra os judeus pelos nazistas:
Eles podiam servir como símbolos do odiado capitalista
financista; do agitado revolucionário; da corrosiva influência
dos intelectuais, dos jornalistas e dos meios de comunicação;
da competição que lhes dava uma fatia desproporcional dos
empregos; e do estrangeiro e forasteiro como tal. Para não
falar da visão aceita entre os cristãos antiquados de que eles
mataram Jesus.
 HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).
São Paulo: Companhia das Letras, p. 180.
Ciganos e homossexuais também foram perseguidos
e exterminados durante a Segunda Guerra Mundial. Em
1941, cerca de 70 mil doentes mentais foram queimados
pelo regime nazista.
Os campos de concentração e de extermínio constituíam uma imagem do
projeto fascista totalitário. Nesses campos, nazistas prendiam e matavam
judeus, homossexuais, ciganos e combatentes de tropas inimigas durante a
Segunda Guerra Mundial. Na imagem, campo de concentração em Ebensee,
Áustria, 45.
Cena do filme O triunfo da vontade, de 5, da cineasta oficial de Hitler,
Leni Riefenstahl. O cinema, com seu grande poder de alcance, foi o setor
que mais recebeu atenção e investimentos do regime nazista.
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No próximo capítulo, veremos como o regime de
Hitler, em seu aspecto expansionista, contribuiu para levar o
mundo à Segunda Guerra Mundial e colocou em prática
o extermínio de quase 6 milhões de judeus.
A Guerra Civil Espanhola
(1936-1939)
A Guerra Civil Espanhola é um exemplo de que, em-
bora os regimes fascistas tenham elementos em comum,
eles também estão relacionados às especificidades de
cada lugar, o que é fundamental para entender seu de-
senvolvimento.
As origens do fascismo na Espanha
Ao longo do século XIX, emergiram movimentos sepa-
ratistas na Espanha. Sobretudo a partir de 1874, quando o
golpe que restaurou a Dinastia Bourbon reforçou o poder
monárquico, diversas regiões da Espanha se revoltaram
diante do autoritarismo da Coroa e, sob a égide do fe-
deralismo, passaram a exigir mais autonomia regional. A
repressão e as guerras por essa autonomia levaram ao
surgimento do nacionalismo catalão, que reivindicava a
independência da região. Mais tarde, o País Basco e a
Galícia também formularam amplos programas de auto-
nomia regional. Observe, no mapa a seguir, a localização
dessas regiões separatistas da Espanha.
de Rivera, um admirador de Benito Mussolini, o governo
militar reprimiu a revolta de Abd-el-Krim no Marrocos (1920-
-1927) contra as ocupações espanhola e francesa, fechou
o Parlamento e suprimiu os partidos políticos. Em meio à
desestabilização política, o país mergulhou em uma crise
financeira em 1929, com o aumento da dívida pública e a
fuga do capital estrangeiro. Isolado politicamente, o general
Rivera renunciou em 1930. Com ele, caiu a monarquia: na
tarde de 13 de abril de 1931, as ruas de Barcelona, Madri,
Valencia e Saragoça foram invadidas pela multidão que
comemorava a vitória republicana nas eleições municipais.
Espanha: movimentos separatistas
(País Basco e Catalunha) – século XX
OCEANO
ATLÂNTICO
40° N
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0°
Fonte: elaborado com base em Instituto Geográfico Nacional. Asociación
Española de Geografia. La organización territorial de España. Disponível
em: https://www.ign.es/espmap/spain_bach.htm. Acesso em:  mar. .
Diante da vitória de candidatos republicanos nas principais cidades
espanholas, o rei Alfonso XIII deixou o trono e se exilou na Itália fascista.
Foto de c. .
Somou-se a esse contexto de exigência por autonomias
regionais o crescimento de uma camada de operários que,
influenciados pelo anarquismo e pelo socialismo, passaram
a se organizar em sindicatos e partidos, como a União Geral
de Trabalhadores (UGT), a Confederação Nacional do Traba-
lho (CNT) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE),
realizando protestos e greves gerais pelo país.
No período entreguerras, em 1923, e com o consen-
timento do rei Alfonso XIII, os militares deram um golpe e
ficaram no poder até 1930. Liderado pelo general Primo
Dessa forma, o governo republicano convocou eleições
para a Assembleia Constituinte, na qual saíram vitoriosos
políticos republicanos de esquerda. O novo presidente
Niceto Alcalá-Zamora se viu diante de inúmeras questões
internas: arcaísmo agrário, desigualdade regional, separa-
tismo, problemas no campo, atraso tecnológico, domínio
da Igreja Católica, poder dos fazendeiros, entre outras.
Ideologicamente, a Espanha estava dividida em diversos
grupos: socialistas de diferentes tendências, anarquistas,
monarquistas, liberais, republicanos e fascistas. Essa frag-
mentação ideológica dificultava a possibilidade de reformas.
Nesse contexto, em 1933, José Antonio de Rivera (filho
do general Primo de Rivera) fundou a Falange Espanhola,
o principal partido de cunho fascista da Espanha. Nas elei-
ções presidenciais de 1936, com uma diferença de apenas
200 mil votos, venceu o candidato da Frente Popular, uma
coalizão de partidos de esquerda. Manuel Azaña Díaz, o
presidente eleito, afirmou que “não viera presidir uma guerra
civil, mas evitá-la”. A história, no entanto, foi diferente. Com
o novo governo progressista, o País Basco e a Catalunha
conquistaram sua autonomia, e o projeto de reforma agrária
voltou a ser debatido. Insatisfeitos com os rumos da política,
em julho de 1936, sob a coordenação do general Francisco
Franco, um grupo de oficiais militares decidiu realizar um
levante armado para derrubar o governo. Nas regiões da
Espanha que ainda permaneciam fiéis ao governo republi-
cano, o povo recebeu armas para que pudesse defender
seu país dos militares golpistas. Começava a guerra civil.
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100 HISTÓRIA Capítulo  O período entreguerras
A guerra
Os militares contaram com a ajuda de Portugal, na épo-
ca governado pelo ditador Antonio Oliveira Salazar, que
entre 1933 e 1968 instaurou uma ditadura de traços fas-
cistas no país. As tropas de Hitler e Mussolini, por sua vez,
forneceram aviões, armas, tanques blindados e soldados
ao general Franco.
Comunista Espanhol, de caráter stalinista, e do Partido Ope-
rário de Unificação Marxistas, de cunho trotskista, travaram
um intenso confronto, deixando mais de 2 mil mortos. Além
disso, cerca de sete mil padres foram fuzilados pelos re-
publicanos sob a justificativa de ser a “causa do atraso do
país”, fato considerado decisivo para que a Igreja Católica
apoiasse a “cruzada franquista”.
Revisando
No plano internacional, a União Soviética garantiu apoio
aos republicanos por meio do envio de aviões e tanques.
A Liga das Nações, por iniciativa da França e do Reino
Unido, optou pela não intervenção dos países europeusno
conflito, a fim de evitar que a guerra espanhola se tornasse
um confronto internacional. Além disso, organizou-se uma
força revolucionária voluntária capaz de abrigar militantes
do mundo inteiro: as Brigadas Internacionais, criadas em
outubro de 1936, contavam com 60 mil soldados oriundos
de 54 países.
Após um longo confronto, no dia 1o de abril de 1939,
Francisco Franco anunciou a vitória de suas tropas e o fim
da guerra. A ditadura franquista governou a Espanha até
novembro de 1975, quando o regime monárquico parla-
mentar foi restaurado.
Membros da Legião Condor, a força aérea nazista enviada por Hitler para
ajudar o general Franco na Guerra Civil da Espanha. Fotografia de c. de .
Mulheres da Federação Anarquista Ibérica, Barcelona, Espanha, .
Os republicanos, por sua vez, não possuíam forças re-
gulares. Os defensores de Madri conseguiram derrotar 20
mil soldados bem treinados e munidos de equipamentos
alemães apenas com coquetéis molotov. Filiados da CNT
e da UGT tomaram diversas cidades, fazendo com que
proliferassem juntas, comitês e conselhos pela Espanha. A
Catalunha chegou a ser governada por um Comitê Central
das Milícias Antifascistas, que tomou fábricas e escritórios.
Os empresários que se recusaram a colaborar com
os republicanos foram fuzilados. Em Aragão, a maior parte
das fazendas era coletivizada. No entanto, o lado republi-
cano estava dividido, pois havia constantes atritos entre
anarquistas e comunistas. Em 1937, integrantes do Partido
1. UFRGS 2020 Sobre a crise econômica de , que
iniciou com a quebra da bolsa de valores de Nova Ior-
que, considere as seguintes afirmações.
I. A causa principal da crise foi o alto endividamento
dos Estados Unidos, após o fim da Primeira Guer-
ra Mundial.
II. A economia mundial foi rapidamente afetada pela
crise, devido à redução das importações dos
Estados Unidos e ao repatriamento de capitais
norte-americanos que estavam em outros países.
III. A economia brasileira manteve-se estável, graças
à valorização do café no mercado mundial.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
2. USF-SP 2017 Vários foram os fatores geradores da
crise norte-americana de  que, em pouco tempo,
atingiu o mundo capitalista. O Brasil também não es-
capou dos efeitos desse desastre econômico.
Dentre os fatores que contribuíram para a eclosão
dessa crise nos Estados Unidos, destaca-se
a) a superprodução agrícola aliada à diminuição das im-
portações europeias após a Primeira Guerra Mundial.
b) o aumento do consumo interno, devido à política
governamental norte-americana de incremento
dos salários, e pelo fato de as indústrias não con-
seguirem abastecer o mercado.
c) a Primeira Guerra Mundial, que dificultou as
exportações e importações de produtos indus-
trializados e de matéria-prima, prejudicando o
mercado norte-americano.
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101
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R
E
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 2
d) a Revolução Russa, que despertou na classe ope-
rária o desejo pela busca de direitos, provocando
greves na maioria das indústrias norte-america-
nas, comprometendo a produção.
e) o incremento das importações pelos norte-
-americanos, desestabilizando a economia e
desvalorizando os produtos nacionais, que deixa-
ram de ser competitivos.
3. FCL-SP 2019 A respeito do período entre as duas
grandes Guerras Mundiais, -, é correto afir-
mar que o mundo europeu ficou marcado pela(o):
a) coexistência pacífica entre os blocos americano e
soviético e surgimento do capitalismo monopolista.
b) sucesso do capitalismo, do liberalismo e da de-
mocracia, e coexistência fraterna entre fascismo
e comunismo.
c) crise do capitalismo, do liberalismo e da demo-
cracia, e polarização ideológica entre fascismo e
comunismo.
d) estagnação das economias socialistas e capitalis-
tas e aliança entre os Estados Unidos e a União
Soviética para deter o avanço fascista da Europa.
e) prosperidade das economias capitalistas e so-
cialistas, e início da Guerra Fria entre os Estados
Unidos e a União Soviética.
4. FCL-SP 2015 Fotojornalismo é uma modalidade ico-
nográfica que narra, por meio da imagem, uma situação
ou fato. A foto a seguir mostra o contexto de Florence
Thompson, uma agricultora, durante a Grande Depressão
nos Estados Unidos. A foto foi tirada por Dorothea Lang,
em 1936.
Blog Foto na história.
A interpretação da imagem de Florence leva-nos a
concluir que
d) uma das medidas para conter a crise econômica
foi o amparo à infância e à juventude.
e) a superprodução ocorrida nos EUA levou as fa-
mílias dos centros urbanos ao enriquecimento,
como expressa a imagem.
Texto para a próxima questão:
Leia o texto a seguir.
A história dos vinte anos após 1973 é a de um mundo
que perdeu suas referências e resvalou para a instabilidade
e a crise. Só no início da década de 1990 encontramos o
reconhecimento de que os problemas econômicos eram de
fato piores que os da década de 1930. Em muitos aspectos,
isso era intrigante. Por que deveria a economia mundial
ter-se tornado menos estável?
Eric Hobsbawm. Era dos extremos, 1995. Adaptado.
5. Unesp Os problemas econômicos da década de
, citados no texto, derivaram, entre outros fatores,
a) dos fortes movimentos sociais e mobilizações re-
volucionárias na América Latina, em especial no
México, que impediram a exportação de produtos
industrializados norte-americanos para a região.
b) do conjunto de reformas financeiras e sociais
realizadas na União Soviética após a Revolução
de 1917, que fechou os mercados do bloco so-
cialista aos países capitalistas do Ocidente.
c) da ascensão do nazismo alemão e dos regimes
fascistas na Itália, Espanha e Portugal, que provo-
caram a Segunda Guerra Mundial e paralisaram a
produção industrial europeia.
d) de uma ampla crise do liberalismo, que ganhou
contornos mais nítidos após a Primeira Guerra
Mundial e desembocou na quebra da Bolsa de
Valores de Nova York, em 1929.
e) do forte crescimento econômico da Alemanha na
passagem do século XIX para o XX e da acirrada
competição comercial e naval deste país com a
Grã-Bretanha e a França.
6. UFRGS 2020 Considere as seguintes afirmações
sobre as condições históricas para a ascensão do na-
zismo na Alemanha.
I. Um nacionalismo radical ocasionado pelo clima de
revanche, após a derrota alemã na Primeira Guer-
ra, e pelas sanções a que foi submetido o país.
II. Uma profunda crise social e econômica, intensifica-
da após 1929, com a redução da atividade industrial
e o aumento no número de desempregados.
III. Um disseminado sentimento anticomunista, apoia-
do por grupos de extrema-direita e por setores das
camadas conservadoras da sociedade.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III.
e) I, II e III.
a) ela oculta o rosto das crianças em razão da legis-
lação que protege a infância.
b) a crise de 1929 teve como consequência o em-
pobrecimento de parte da população americana.
c) os EUA viviam, no período em que a foto foi feita,
uma euforia desenvolvimentista.
102 HISTÓRIA Capítulo 12 O período entreguerras
7. FGV-RJ 2020 As eleições de setembro de 1930
mostrariam que o eleitorado inclinava-se para o voto
radical: os nazistas subiam de doze para 107 cadeiras;
os comunistas, de 54 para 77 cadeiras. Os sociais-de-
mocratas e a direita nacionalista começaram a perder
votos. A propaganda eleitoral nazista insistia no na-
cionalismo revanchista, mas não se descuidava de
oferecer trabalho aos desempregados, financiamento
aos agricultores, isenções fiscais aos industriais. As
intenções moralistas de proteção à família, respeito à
religião e defesa da propriedade privada também se
achavam presentes.
LENHARO, A., Nazismo: “O triunfo da vontade”. São Paulo: Ática,
1998, p. 25.
Sobre o nazismo, é correto armar:
a) A propaganda nazista procurava enfrentar a
profunda crise alemã, combinando medidas
socioeconômicas com propostas de ordem
comportamental.
b) Os nazistas chegaram ao poder por meio deum
golpe de Estado que destituiu o presidente ale-
mão vinculado aos socialdemocratas.
c) A aliança entre os comunistas e o partido nazista
permitiu estabelecer a maioria parlamentar que
consagrou Hitler como chanceler.
d) O enfrentamento aos banqueiros, latifundiários e
grandes empresários foi a principal característica
do governo nazista.
e) A ascensão do nazismo coincidiu com o forta-
lecimento eleitoral da esquerda, sobretudo dos
comunistas e dos socialdemocratas.
8. Uerj 2019
O cartaz acima, divulgado no aeroporto, nas ruas e
nos ônibus de Yerevan, capital da Armênia, faz alusão ao
líder otomano Talaat Pasha e a Adolf Hitler. A imagem é
uma das muitas espalhadas pela cidade para lembrar o
centenário do massacre de até 1,5 milhão de armênios
nas mãos dos turcos-otomanos, cujo império estava se
desintegrando em meio à Primeira Guerra Mundial (1914-
-1918). Muitos eram civis deportados a regiões desérticas,
onde morreram de fome e sede. Outros milhares foram
massacrados. No centro da cidade, muitos pontos de ôni-
bus exibem fotos de sobreviventes.
Adaptado de bbc.com, 24/04/2015.
Através da lembrança do massacre dos armênios, em
1915, é possível comparar experiências históricas com
o objetivo de fomentar, na atualidade, práticas sociais
de reconhecimento de:
a) atos de genocídio e reparação das famílias
vitimadas
b) ações de expansionismo e continuidade das dis-
putas territoriais
c) projetos do totalitarismo e permanência de regi-
mes autocráticos
d) estratégias de conquista e convocação de tribu-
nais internacionais
9. UEPG-PR 2019 Regime que chegou ao poder em
1933, quando Adolf Hitler foi escolhido como chance-
ler da Alemanha, o nazismo marcou o século XX por
seus atos e princípios, pela II Guerra Mundial e pelas
consequências desta ao longo da segunda metade
nos Novecentos.
A respeito desse tema, assinale o que for correto.
 A concepção de que a guerra é uma forma legí-
tima de promoção do desenvolvimento nacional,
o preconceito étnico-racial contra minorias, o an-
tissemitismo (ódio aos judeus) e o nacionalismo
exacerbado são alguns dos princípios contidos na
ideologia nazista desde sua origem.
 O nazismo ganhou força após a I Guerra Mundial. As
deliberações do Tratado de Versalhes, a crise econô-
mica profunda e baixa autoestima do povo alemão
naquele momento foram absorvidos pelo discurso
ultranacionalista contido na ideologia nazista.
4 A década de 20 foi o momento em que os na-
zistas ganharam força na Alemanha. Organizados
em grupos militares, uniformizados, realizavam
passeatas e manifestações, nas quais juravam
obediência ao chefe do partido e atacavam com
palavras de ordem os adversários políticos.
 Na origem, o nazismo se inspirou no Partido Co-
munista Soviético. Apesar da ruptura ocorrida na
II Guerra, foram os princípios do comunismo que
serviram de base aos nazistas germânicos.
6 “Mein Kampf” (“Minha Luta”), livro de autor des-
conhecido que defendia a superioridade racial
ariana diante de todas as outras existentes no
mundo, foi a leitura que inspirou Adolf Hitler no seu
projeto de limpeza étnica e racial promovida a
partir de sua chegada ao poder.
Soma:
Texto para a próxima questão.
[…] em nenhum dos dois Estados fascistas o fascismo
“conquistou o poder”, embora na Itália e na Alemanha se
explorasse muito a retórica de se “tomar as ruas” e “marchar
sobre Roma”. Nos dois casos o fascismo chegou ao poder pela
conivência com, e na verdade (como na Itália) por iniciativa
do velho regime, ou seja, de uma forma “constitucional”.
A novidade do fascismo era que, uma vez no poder,
ele se recusava a jogar segundo as regras dos velhos jogos
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políticos, e tomava posse completamente onde podia. A
transferência total de poder, ou a eliminação de todos os
rivais, demorou mais na Itália que na Alemanha (1933-4),
mas, uma vez realizada, não havia mais limites políti-
cos internos para o que se tornava, caracteristicamente,
a desenfreada ditadura de um supremo “líder” populista
(Duce; Führer).
HOBSBAWM, E. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991).
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. pg. 130.
10. UEL-PR Com base no texto e nos conhecimentos sobre
os fascismos na Itália e na Alemanha, é correto afirmar.
a) Nos fascismos alemão e italiano, o centro da
ação política deslocava-se das aristocracias
econômicas e/ou políticas para o partido único,
mobilizador de massas.
b) Os fascismos originaram-se do socialismo e, por
este motivo, as experiências históricas fascistas
na Alemanha e na Itália tiveram violenta oposição
das suas burguesias industriais e financeiras.
c) O nazismo, devido ao seu caráter nacionalista,
não reivindicava territórios de outros países, ele-
gendo a Alemanha como a única pátria e território
dos alemães.
d) Os fascismos italiano e alemão estimulavam a luta
de classes e os conflitos industriais entre o capital
(burguesia) e o trabalho (proletariado).
e) Depois de chegarem ao governo, os partidos
fascistas perderam poder. As organizações pa-
ramilitares do nazismo (tropas de assalto) e do
fascismo italiano (squadristi) nasceram para subs-
tituir os partidos fascistas enfraquecidos.
Exercícios propostos
1. Enem PPL 2017 Mas a Primeira Guerra Mundial foi se-
guida por um tipo de colapso verdadeiramente mundial,
sentido pelo menos em todos os lugares em que homens
e mulheres se envolviam ou faziam uso de transações im-
pessoais de mercado. Na verdade, mesmo os orgulhosos
EUA, longe de serem um porto seguro das convulsões de
continentes menos afortunados, se tornaram o epicentro
deste que foi o maior terremoto global medido na escala
Richter dos historiadores econômicos – a Grande De-
pressão do entreguerras.
HOBSBAWM, E. J. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São
Paulo: Cia. das Letras, 1995.
A Grande Depressão econômica que se abateu nos
EUA e se alastrou pelo mundo capitalista deveu-se ao(à)
a) produção industrial norte-americana, ocasionada
por uma falsa perspectiva de crescimento econô-
mico pós-Primeira Guerra Mundial.
b) vitória alemã na Primeira Grande Guerra e, con-
sequentemente, sua capacidade de competição
econômica com os empresários norte-americanos.
c) desencadeamento da Revolução Russa de 7
e a formação de um novo bloco econômico, ca-
paz de competir com a economia capitalista.
d) Guerra Fria, que caracterizou o período de en-
treguerras, provocando insegurança e crises
econômicas no mundo.
e) tomada de medidas econômicas pelo presidente
norte-americano Roosevelt, conhecidas como New
Deal, que levaram à crise econômica no mundo.
2. Enem 2017 O New Deal visa restabelecer o equilíbrio entre
o custo de produção e o preço, entre a cidade e o campo,
entre os preços agrícolas e os preços industriais, reativar o
mercado interno – o único que é importante – pelo controle
de preços e da produção, pela revalorização dos salários e
do poder aquisitivo das massas, isto é, dos lavradores e ope-
rários, e pela regulamentação das condições de emprego.
CROUZET, M. Os Estados perante a crise. In: História geral das civilizações.
São Paulo: Difel, 1977 (adaptado).
Tendo como referência os condicionantes históricos
do entreguerras, as medidas governamentais descri-
tas objetivavam
a) flexibilizar as regras do mercado financeiro.
b) fortalecer o sistema de tributação regressiva.
c) introduzir os dispositivos de contenção creditícia.
d) racionalizar os custos da automação industrial
mediante negociação sindical.
e) recompor os mecanismos de acumulação econô-
mica por meio da intervenção estatal.
3. UCPel-RS 2015 O programa de recuperação econômica
para a crise de 199, nos EUA, proposto pelo presidente
Roosevelt, entre 1933 e 1945, foi denominado
a) New Deal e defendia ação do Estado, seguindo
as ideias de Keynes.
b) Plano Marshall e propunha o liberalismo de Adam
Smith.
c) Plano Monroe que determinava o imperialismo na
América Latina.
d) Way of Life, modelo liberal proposto por Adam
Smith.
e) NEP, Nova Política Econômica, inspirada na
fisiocracia.
. FGV-SP 2015 Esses anos [pós-guerra]também foram
notáveis sob outro aspecto, pois à medida que o tempo
passava, tornava-se evidente que aquela prosperidade
não duraria. Dentro dela estavam contidas as sementes
de sua própria destruição.
J. K. Galbraith, Dias de boom e de desastre. In J. M. Roberts (org),
História do século XX, 1974, p. 1331.
Segundo Galbraith,
a) a crise do capitalismo norte-americano em 2
não abalou os seus fundamentos porque foi ge-
rada por ele mesmo, isto é, o funcionamento da
economia provocou a superprodução agrícola e
industrial, a especulação na bolsa de valores, e a
10 HISTÓRIA Capítulo 12 O período entreguerras
expansão do crédito, o que garantiu os lucros aos
empresários, diminuindo a desigual distribuição
de renda com o recuo do desemprego.
b) a época referida no texto diz respeito à crise dos
anos 0, pós-Segunda Guerra, portanto externa
ao capitalismo dos Estados Unidos, uma vez que
os Estados europeus, endividados e destruídos,
continuaram a contrair empréstimos e a comprar
produtos norte-americanos, e os empresários, in-
ternamente, especularam na bolsa de valores, para
minimizar os efeitos do desemprego.
c) nos fins dos anos 20, com a economia de-
sorganizada pela Primeira Guerra Mundial, o
capitalismo norte-americano cresceu rumo à su-
perprodução, com investimentos na indústria, à
restrição ao crédito e ao controle da especula-
ção na bolsa de valores, pois a crise foi motivada
apenas por motivos internos, o que facilitou a in-
tervenção do Estado.
d) a crise de 2 foi gerada pelo próprio funcio-
namento do capitalismo nos Estados Unidos dos
anos 20, em um clima de euforia com o au-
mento da produção, a especulação na bolsa de
valores, a concentração de renda e o crédito fácil,
sem intervenção do Estado, apesar da diminuição
das importações europeias e dos crescentes índi-
ces de desemprego.
e) a crise dos anos pós-Segunda Guerra Mundial
mostrou a importância da ação do Estado, na
medida em que a intervenção reduziu os dese-
quilíbrios causados pelo próprio funcionamento
da economia norte-americana, isto é, preservou o
lucro dos empresários, baixou os índices da pro-
dução agrícola e industrial, e controlou os altos
níveis do desemprego.
5. FGV-SP 201 O New Deal caracterizou-se por um
conjunto de medidas econômicas que visavam
a) superar a crise econômica da década de 20
com medidas liberais que dessem maior autono-
mia à dinâmica dos mercados internacionais.
b) estabelecer acordos entre patrões e operários
com o objetivo de redistribuir rendas e permitir
experiências de cogestão administrativa.
c) garantir mais empregos através da intervenção
do Estado na economia, sobretudo através do fi-
nanciamento de obras públicas.
d) reformar a economia soviética planificada dura-
mente afetada pela crise econômica registrada a
partir de 2.
e) diminuir o consumo e estimular a recessão eco-
nômica como forma de diminuir os altos índices
de inflação registrados na década de 20.
. UEPB 2013 Em 1933, Franklin Delano Roosevelt tomou
posse para cumprir mandato como o 3o presidente dos
Estados Unidos da América. Os EUA experimentavam a
mais aguda de todas as suas crises, em consequência
do “Crack da Bolsa de Nova York de 199”. Para se ter
ideia da extensão dos danos, um quarto da força de
trabalho norte-americana estava desempregado, sem
contar os trabalhadores subempregados e os que ti-
nham desistido de procurar emprego.
Assinale a única alternativa INCORRETA.
a) Roosevelt foi eleito uma vez e reeleito mais três
vezes seguidas — caso único na história america-
na. Mas isso só foi possível pelas circunstâncias da
época. A grande depressão e a 2a Guerra Mundial
criaram as condições para que ele obtivesse até
mesmo um quarto mandato, encerrado precoce-
mente devido à sua morte, em abril de .
b) Roosevelt recebeu apoio total para governar. O
Congresso americano e o Judiciário foram funda-
mentais para que o “New Deal” fosse um sucesso.
A Suprema Corte dos EUA julgou o plano constitu-
cional e deu plenos e absolutos poderes para que
Roosevelt governasse, de tal forma que ele tomava
decisões sem ter que consultar os outros poderes.
c) Roosevelt foi eleito presidente dos EUA não
aceitando a visão de que crises são movimen-
tos normais da economia. Ele defendia que a
economia americana vivia um estado patológico
incomum e que nenhuma teoria econômica pode-
ria justificar o sofrimento da população.
d) Roosevelt teve como marca maior de seus go-
vernos o chamado “New Deal” (novo contrato),
que não defendia um conjunto de medidas pré-
-estabelecidas, mas que o governo deveria se
comprometer a assumir a responsabilidade de
agir pela prosperidade da economia e pela me-
lhoria do bem-estar da população.
e) Roosevelt foi eleito por ter oferecido ao povo
americano um projeto pelo qual o governo intervi-
ria na economia com os instrumentos necessários
para que se pudesse combater a grande depres-
são. Em sua posse ele pronunciou a frase, que se
tornaria o lema de seu governo: “ Não há o que
temer, senão o próprio medo.”
7. UFSJ-MG Na política, ele aplicou o princípio do Nunca
mais. Com tantos pobres, com tantos famintos nos Estados
Unidos, nunca mais o mercado como fator exclusivo de
obtenção de recursos. Por isso, decidiu realizar sua política
do pleno emprego. E desse modo não somente atenuou os
efeitos sociais da crise como seus eventuais efeitos políti-
cos de fascistização com base no medo massivo. O sistema
de pleno emprego não modificou a raiz da sociedade, mas
funcionou durante décadas. Funcionou razoavelmente
bem nos Estados Unidos, funcionou na França, produziu
a inclusão social de muita gente, baseou-se no bem-estar
combinado com uma economia mista que teve resultados
muito razoáveis [...]. Alguns Estados foram mais sistemáti-
cos, como a França, que implantou o capitalismo dirigido,
mas em geral as economias eram mistas e o Estado estava
presente de um modo ou de outro.”
Fonte: Entrevista do historiador Eric Hobsbawm, argentino, p. 12. Disponível
em: www.vermelho.org.br/base.asp?texto=53413.
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O texto faz referência às iniciativas do presidente nor-
te-americano Franklin Roosevelt e remete
a) à política protecionista implantada em quase to-
dos os países industrializados em resposta ao
crescimento da rivalidade internacional e à crise
econômica das décadas de 870 e 880, quando
apenas a Grã-Bretanha, na ocasião a maior potên-
cia mundial, insistiu na política de livre comércio.
b) ao conjunto de medidas liberais tomadas na Euro-
pa e nos Estados Unidos durante as décadas de
80 e 0, que visavam a diminuir o papel do
Estado na economia, a desregulamentar a circu-
lação do capital financeiro e a diminuir os direitos
sociais dos trabalhadores.
c) ao New Deal implantado nos Estados Unidos na
década de 0, um conjunto de políticas públi-
cas que visavam a responder à crise econômica
iniciada em 2 e que influenciou a política de
bem-estar social verificável em alguns países da
Europa após a Segunda Guerra Mundial.
d) às medidas de recuperação da economia euro-
peia implantadas logo após a Primeira Guerra
Mundial, recuperação impulsionada pelo vertigi-
noso crescimento da economia norte-americana
até a crise global de 2.
8. Enem A crise de 1929 e dos anos subsequentes teve
sua origem no grande aumento da produção industrial
e agrícola, nos EUA, ocorrido durante a 1a Guerra Mun-
dial, quando o mercado consumidor, principalmente o
externo, conheceu ampliação significativa. O rápido
crescimento da produção e das empresas valorizou as
ações e estimulou a especulação, responsável pela “pe-
quena crise” de 1920-21. Em outubro de 1929, a venda
cresceu nas Bolsas de Valores, criando uma tendência de
baixa no preço das ações, o que fez com que muitos in-
vestidores ou especuladores vendessem seus papéis. De
24 a 29 de outubro, a Bolsa de Nova York teve um pre-
juízo de US$ 40 bilhões. A redução da receita tributária
que atingiu o Estado fez com que os empréstimos ao ex-
terior fossem suspensos e as dívidas, cobradas; e que se
criassemtambém altas tarifas sobre produtos importados,
tornando a crise internacional.
RECCO, C. História: a crise de 29 e a depressão do capitalismo. Disponível
em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u11504.shtml.
Acesso em: 26 out. 2008. (com adaptações).
Os fatos apresentados permitem inferir que
a) as despesas e prejuízos decorrentes da a Guer-
ra Mundial levaram à crise de 2, devido à falta
de capital para investimentos.
b) o significativo incremento da produção industrial
e agrícola norte-americana durante a a Guerra
Mundial consistiu num dos fatores originários da
crise de 2.
c) a queda dos índices nas Bolsas de Valores pode
ser apontada como causa do aumento dos pre-
ços de ações nos EUA em outubro de 2.
d) a crise de 2 eclodiu nos EUA a partir da inter-
rupção de empréstimos ao exterior e da criação de
altas tarifas sobre produtos de origem importada.
e) a crise de 2 gerou uma ampliação do merca-
do consumidor externo e, consequentemente, um
crescimento industrial e agrícola nos EUA.
9. Unesp 2022 Um dos motivos que contribuíram para
a crise econômico-financeira do final da década de
19 foi o
a) descompasso entre a alta do valor real e a queda
do valor nominal das ações de empresas euro-
peias e norte-americanas comercializadas na
Bolsa de Nova York.
b) contraste entre a expansão da oferta de merca-
dorias norte-americanas desde a Primeira Guerra
Mundial e a gradual retração do mercado euro-
peu de importação.
c) deslocamento de capitais do setor industrial para
o agrícola, gerando um desequilíbrio na econo-
mia norte-americana e a redução dos empregos
nas áreas urbanas.
d) declínio da produção de produtos primários na
América Latina, que provocou a falta de forne-
cedores de insumos e a queda da capacidade
produtiva da indústria norte-americana.
e) intervencionismo do Estado na economia nor-
te-americana, em contraposição à defesa da
livre-iniciativa e ao autogerenciamento do mer-
cado.
10. UFV-MG Depois das duras experiências da Primeira
Guerra Mundial, observa-se a criação e a expansão
de partidos nacionalistas de extrema direita em vários
países europeus. Podemos considerar como razões
para o crescimento destes partidos, EXCETO:
a) o temor da expansão do comunismo, especial-
mente após o sucesso da Revolução Russa de
7, que repercutiu intensamente na Europa,
influenciando os movimentos operários.
b) o empobrecimento das classes médias, especial-
mente naqueles países que sofreram intensos
processos inflacionários, durante os anos 20,
como a Alemanha e a Itália.
c) a ingerência norte-americana na economia eu-
ropeia, em decorrência da política do New Deal,
ocasionando uma forte crise no final da década
de 20.
d) a imposição de pesadas reparações de guerra
e perdas territoriais aos derrotados na Primei-
ra Guerra Mundial, insuflando os movimentos
nacionalistas.
e) o impasse político enfrentado pelos regimes par-
lamentares democráticos recém-instalados, como
a República de Weimar, diante da radicalização
dos conflitos entre a direita e a esquerda.
10 HISTÓRIA Capítulo 12 O período entreguerras
nos fez ricos, de homens angustiados, desencorajados e
hesitantes que éramos, fez de nós homens corajosos e va-
lentes, aos homens errantes que éramos, nos deu a visão
e nos reuniu a todos.
Adolf Hitler, discurso de 1936. Apud Alcir Lenharo. Nazismo:
“o triunfo da vontade”, 1986.
Podemos dizer que Hitler se apresenta, no fragmento
de discurso acima, como
a) o guia da comunhão nacional que permitira a su-
peração de um período crítico na economia e na
política.
b) o herdeiro da tradição política imperial alemã, que
levou o país ao sucesso na Primeira Guerra Mundial.
c) o representante dos alemães no processo de for-
mação e consolidação do Estado nacional.
d) um líder que se sacrifica em nome dos interesses
nacionais, mas reconhece a importância da ajuda
divina.
e) um alemão igual aos outros, que prega a união
para a reconstrução nacional em meio a uma pro-
funda crise econômica.
13. Unesp 2019
– Então, todos os alemães dessa época são culpados?
– Esta pergunta surgiu depois da guerra e permanece
até hoje. Nenhum povo é coletivamente culpado. Os ale-
mães contrários ao nazismo foram perseguidos, presos em
campos de concentração, forçados ao exílio. A Alemanha
estava, como muitos outros países da Europa, impregnada
de antissemitismo, ainda que os antissemitas ativos, as-
sassinos, fossem apenas uma minoria. Estima-se hoje que
cerca de 100 000 alemães participaram de forma ativa do
genocídio. Mas o que dizer dos outros, os que viram seus
vizinhos judeus serem presos ou os que os levaram para
os trens de deportação?
Annette Wieviorka. Auschwitz explicado à minha filha, 2000. Adaptado.
Ao tratar da atitude dos alemães frente à perseguição
nazista aos judeus, o texto defende a ideia de que
a) os alemães comportaram-se de forma diversa
perante o genocídio, mas muitos mostraram-se
tolerantes diante do que acontecia no país.
b) esse tema continua presente no debate político
alemão, pois inexistem fontes documentais que
comprovem a ocorrência do genocídio.
c) esse tema foi bastante discutido no período do
pós-guerra, mas é inadequado abordá-lo hoje,
pois acentua as divergências políticas no país.
d) os alemães foram coletivamente responsáveis
pelo genocídio judaico, pois a maioria da popula-
ção teve participação direta na ação.
e) os alemães defendem hoje a participação de seus
ancestrais no genocídio, pois consideram que tal
atitude foi uma estratégia de sobrevivência.
1. Udesc 2019 Ao contrário do historiador contemporâneo
ao fascismo (…) não podemos tratar o fascismo como um
movimento morto, pertencente a história e sem qualquer
papel político contemporâneo. Encontramo-nos, desta
11. UFSC 2019 Não foi o fim da humanidade, embora
houvesse momentos, no curso dos 31 anos de conflito
mundial, entre a declaração de guerra austríaca à Sér-
via, a 28 de julho de 1914, e a rendição incondicional
do Japão, a 14 de agosto de 1945 – quatro dias após a
explosão da primeira bomba nuclear –, em que o fim de
considerável proporção da raça humana não pareceu
muito distante. [...] A humanidade sobreviveu. Contudo,
o grande edifício da civilização do século XX desmoro-
nou nas chamas da guerra mundial, quando suas colunas
ruíram. Não há como compreender o Breve Século XX
sem ela. Ele foi marcado pela guerra. Viveu e pensou em
termos de guerra mundial, mesmo quando os canhões se
calavam e as bombas não explodiam, sua história e, mais
especificamente, a história de sua era inicial de colapso
e catástrofe devem começar com a da guerra mundial de
31 anos.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).
São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 30. [Adaptado].
Com base no texto acima e sobre o processo que le-
vou à eclosão das duas grandes guerras mundiais, é
correto armar que:
 os impactos da Primeira Guerra (-8) de-
terminaram importantes mudanças no cenário
político, desencadeando uma nova ordem mun-
dial que desassocia seus resultados das razões
para a eclosão da Segunda Guerra (-).
 a vitória dos republicanos na Guerra Civil Espa-
nhola (6-), apoiados pela URSS, garantiu
o domínio da Península Ibérica às forças militares
dos países aliados durante a Segunda Guerra
Mundial.
4 a ascensão do nazismo na Alemanha foi facilita-
da pela estabilidade econômica vivenciada pelo
país, que, ao contrário de potências como Esta-
dos Unidos, França e Inglaterra, não foi afetado
pela crise de 2.
 as origens do fascismo italiano estão relacionadas
à fundação de um grupo nacionalista de extrema
direita conhecido como Fascio de Combattimento,
criado na Itália após a Primeira Guerra sob a lide-
rança de Benito Mussolini.
6 durante sua ditadura fascista, Benito Mussolini es-
tabeleceu a Carta del Lavoro (Carta de Trabalho),
na qual concessões aos trabalhadores mistura-
vam-se com medidas de controle policial.
 a Grande Depressão dos anos 0 atingiu du-
ramente a economia da União Soviética, onde
a política

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