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DESCRIÇÃO Apresentação da teoria marxista, sua evolução e contexto, assim como os debates gerados por ela. Principais conceitos, obras e contribuições de Karl Marx. PROPÓSITO Compreender os pontos centrais da teoria marxista, especialmente para a ciência econômica, a partir da apresentação do contexto vivido por seu autor: a Europa do século XIX. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever o contexto histórico, político e econômico de Karl Marx MÓDULO 2 Descrever a evolução da teoria marxista MÓDULO 3 Identificar o legado de Karl Marx INTRODUÇÃO A teoria marxista é um dos blocos mais importantes no desenvolvimento da ciência econômica. Vamos estudá-la a partir da vida e da obra de seu fundador, Karl Marx. Também conheceremos o debate que surgiu em torno dessa escola de pensamento econômico. No primeiro módulo, a partir do contexto e de eventos que marcaram a vida de Karl Marx, trataremos do nascimento da teoria marxista, com destaque para a famosa obra O Manifesto Comunista. No segundo, estudaremos a evolução e a consolidação da teoria econômica de Marx desde seus primeiros esboços até a grande obra de sua vida: O Capital. Por fim, no terceiro módulo, discutiremos o ativismo político de Karl Marx na fase final de sua vida, assim como seu legado e o debate revisionista que envolveu sua teoria após sua morte. MÓDULO 1 Descrever o contexto histórico, político e econômico de Karl Marx Fonte: Tupungato/Shutterstock PRIMEIROS PASSOS DA VIDA DE MARX A economia marxista foi fundada pelo economista e filósofo alemão Karl Marx. Nascido em 1818, na cidade de Tréveris, Alemanha, Marx foi considerado um revolucionário socialista. Em 1836, enquanto era estudante do curso de Direito da Universidade de Berlim, Marx sentiu- se particularmente atraído pelas palestras de filosofia de Bruno Bauer, responsável por liderar o grupo dos "jovens hegelianos". No ano seguinte, tornou-se membro desse grupo formado por seguidores de Georg W. F. Hegel, um falecido professor e filósofo de Berlim que defendia o “naturalismo”. Segundo essa corrente, as condições sociais eram as grandes responsáveis por determinar as ideias humanas. Nessa mesma época, os jovens hegelianos estavam voltando-se para a política. Como consideravam que a mudança na sociedade aconteceria por meio da mudança de ideias, muitos desses jovens achavam que a reforma na Prússia conservadora deveria ser realizada por eles, pessoas capazes de desafiar as ideias existentes sobre a ordem social, religiosa e política. Não à toa, os jovens hegelianos foram perseguidos pelas autoridades prussianas e tiveram seus jornais e revistas censurados, além de suas publicações acadêmicas e civis interrompidas. javascript:void(0) Fonte: Marzolino/Shutterstock PRÚSSIA A Prússia foi um dos principais estados germânicos desde sua fundação, em 1525, sendo o estado líder do Império Germânico de 1871 até o fim da monarquia, após a derrota na Primeira Guerra Mundial. Fonte: Oleg Golovnev/Shutterstock Após desistir da carreira acadêmica, Marx se voltou para o jornalismo e assumiu, em 1842, o cargo de editor-chefe de um novo jornal liberal de Colônia, antiga cidade alemã. Nessa época, suas convicções liberais clássicas influenciaram seus editoriais, principalmente aqueles em defesa da liberdade de imprensa e de outras liberdades civis. Suas fortes críticas e ataques ao que ele considerava um governo prussiano decepcionantemente conservador acabaram levando as autoridades a decretar o fechamento do jornal em 1843. A mudança de Marx para Paris foi uma fase – ainda que curta – importante de sua vida, já que esse período é considerado o marco inicial de sua conversão ao socialismo. Seu crescente interesse pela política tornou-o consciente de que precisava obter uma melhor compreensão de economia – e Paris era, provavelmente, o melhor lugar para isso. Curioso para explorar o movimento socialista emergente na França, Marx aproximou-se de diversos escritores radicais e líderes de movimentos políticos tanto alemães quanto franceses. Após planejar o lançamento de um novo jornal em alemão, o Deutsch-Französische Jahrbücher (DFJ), que seria publicado no exterior na tentativa de escapar da censura prussiana, sua primeira e única edição (fevereiro de 1844) foi lançada com dois artigos de autoria de Marx que já apontavam a direção futura que suas contribuições teriam. O INÍCIO DA TEORIA DE MARX Um dos artigos de Marx que constava na edição única do jornal DFJ apresentou uma introdução a um projeto maior de crítica à filosofia do direito de Hegel. Enquanto a filosofia política dele via o Estado determinando as ideias na sociedade, Marx argumentava que ela, na verdade, era a verdadeira responsável por criar o Estado e nele infundir suas ideias. Se, para Hegel, o serviço público estatal possuía um ponto de vista universal, acima dos conflitos particulares de diferentes grupos sociais, ele, para Marx, era apenas uma ferramenta para proteger os interesses das classes dominantes — aquelas que efetivamente comandavam a sociedade. Acreditando que uma reforma política na Prússia era impossível e que apenas uma revolução vinda de baixo traria mudanças, Marx identificou pela primeira vez a existência de uma nova classe social emergindo nos centros industriais que proliferavam pela França: a classe trabalhadora urbana, que foi chamada de proletariado. Para Marx, era justamente o fato de essa nova classe não possuir espaço na velha ordem social que faria do proletariado o canal para a mudança, já que o número de pessoas era cada vez maior e sua consciência social, cada vez mais nítida. Ele acreditava que o proletariado começaria a exigir mudanças que iriam além de uma reforma política, surgindo na forma de uma derrubada completa da ordem e das relações sociais existentes. Tentando explicar a teoria hegeliana da alienação em termos de relações econômicas, Marx argumentava que a alienação não era provocada por uma consciência inadequada, como Hegel dizia, e sim pela situação material. Especificamente, o autor alemão identificou que tanto o surgimento da propriedade privada quanto a divisão do trabalho trouxeram quatro dimensões de alienação: O afastamento do trabalhador de seu produto. Seu afastamento do processo de produção. Seu afastamento de sua humanidade. Seu afastamento da sociedade. Marx concluiu então que o proletariado seria a classe revolucionária não só por ter interesse evidente em derrubar a ordem existente, mas também porque seus membros eram os únicos sem nada a perder por conta de sua condição de completa alienação. Junto com outros exilados radicais em Paris, Marx continuou a dirigir ataques desenfreados ao governo prussiano e a chamar a atenção das autoridades. Em janeiro de 1845, devido à pressão da embaixada prussiana, a França emitiu uma ordem expulsando Marx do país. Ele e sua família mudaram-se então para Bruxelas, onde começou seu trabalho como ativista político ao lado de Friedrich Engels, com quem desenvolveria uma estreita amizade e colaboração para toda a vida. Engels era mais versado em economia, tendo, portanto, um conhecimento mais profundo do capitalismo industrial e dos movimentos dos trabalhadores. Juntos, ambos estabeleceram o Comitê de Correspondência Comunista em Bruxelas. Mesmo sendo voltado principalmente para a comunidade de artesãos e trabalhadores alemães imigrantes naquele país, a intenção do comitê era colocar em contato os líderes de vários movimentos da classe trabalhadora de diferentes nações europeias como um passo inicial para a formação de um movimento político amplo. A IDEOLOGIA ALEMÃ Durante esse período em Bruxelas, os dois produziram seu segundo trabalho colaborativo, A ideologia alemã, visto como um marco da transição de Marx de um jovem filósofo para um cientista social maduro. Nesta obra, ambos apresentaram, de forma mais geral, sua teoria do materialismo histórico e introduziram muitos dos tijolos do futuro pensamento marxista. CARACTERÍSTICAS DAOBRA A IDEOLOGIA ALEMÃ Na primeira parte da obra, eles defenderam que o ser humano só pode ser compreendido a partir de uma pesquisa séria e profunda dos fatos da história econômica. Com isso, seus autores criam o conceito de “homem histórico” em oposição ao ser humano idealizado da filosofia e às perspectivas puramente biológicas. Ainda assim, uma interpretação correta não seria o suficiente para trazer mudanças. Marx e Engels negavam a confiança que o movimento hegeliano tinha de que as ideias eram suficientes para realizar uma reforma. Na visão deles, apresentar novas interpretações, exigir mudanças na consciência das pessoas e combater ideias antigas com outras novas não teria efeito se não fosse levada em conta também a situação econômica implícita. Era necessário, além disso, engajar-se com aqueles realmente capazes de trazer mudanças, como, por exemplo, os movimentos proletários. Eles reservaram a segunda parte de A ideologia alemã para criticar as correntes contemporâneas do socialismo. Marx os acusava de não entenderem o significado dos movimentos da classe trabalhadora e de tratarem a literatura socialista somente como mais um exercício intelectual, longe da realidade. Fonte: SNeG17/Shutterstock Assim, esta obra também serviu para anunciar o novo projeto político de Marx e Engels, pois ela fornecia as bases "científicas" do Comitê de Correspondência de Bruxelas. Marx e Engels dedicaram boa parte do texto a traçar um esboço do desenvolvimento histórico do feudalismo e sua transição para o capitalismo, além de descreverem também o que imaginavam ser uma futura "revolução comunista". Marx reconheceria mais tarde que este livro foi uma espécie de “primeiro rascunho”, servindo mais como um exercício de "autoesclarecimento" do que de comunicação e disseminação de seu pensamento. Apesar disso, as ideias básicas do pensamento marxista já estavam lá — em particular, a dialética do materialismo histórico. Esse conceito trazia uma explicação de como as forças produtivas haviam se desenvolvido e sido capazes de determinar as relações na sociedade, assim como eventualmente acabavam entrando em contradição com as relações sociais originais. Essas contradições, por sua vez, poderiam ser eventualmente resolvidas por revoluções sociais. Em A ideologia alemã, o desenvolvimento das forças produtivas é medido em termos de divisão do trabalho, gerando como reflexo social diferentes formas históricas de relações de propriedade e, consequentemente, classes sociais díspares. De acordo com a obra, também eram definidos dessa forma os elementos "superestruturais", como o Estado e a ideologia. Marx e Engels concentraram-se na fase final do capitalismo burguês, explicando sua transição de estruturas corporativas para os sistemas de fábrica em grande escala, além de salientarem como esse processo criava as condições para uma revolução proletária que culminaria no "comunismo". Fonte: intueri/Shutterstock O comunismo seria, dessa forma, a fase de abolição da propriedade privada e, consequentemente, o fim da divisão do trabalho, das classes e do Estado. A conclusão do comunismo baseava-se na observação de que o proletariado criado pelo capitalismo burguês era a única classe criada na história sem propriedade para apoiar-se – e, por isso, ele seria a "última classe" na história. O MANIFESTO COMUNISTA Em janeiro de 1847, a Liga dos Justos (organização da classe trabalhadora alemã formada em 1836) convidou Marx e Engels para traçarem um novo programa. A Liga dos Justos e o Comitê Correspondente de Bruxelas foram, então, fundidos em uma nova organização. A chamada "Liga Comunista" adotou o agora famoso lema: "Trabalhadores de todos os países, uni-vos!". Fonte: oleschwander/Shutterstock Convidados a transformar o programa em um manifesto, Marx e Engels enfim lançaram O manifesto comunista no fim de fevereiro de 1848. O pequeno folheto popular, escrito em alemão, tinha como principal objetivo distinguir o socialismo marxista da Liga Comunista de outras vertentes do socialismo. Sendo uma das mais conhecidas e acessíveis obras do movimento, o Manifesto fornecia um esboço da teoria, abandonando grande parte da pesada bagagem hegeliana de Marx e colocando uma nova ênfase no conflito de classes. Explicando a história a partir da luta entre classes opressoras e oprimidas, a obra colocava o socialismo como uma consequência natural que emergiria com o fim do capitalismo após seu colapso inevitável. VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM O MANIFESTO COMUNISTA? O manifesto comunista surgiu no auge de uma revolução popular em Paris que também estourou em fevereiro de 1848, momento em que o governo francês prontamente revogou a velha ordem de expulsão e convidou Marx a retornar a Paris. Embora nem o Manifesto nem a Liga Comunista tenham contribuído diretamente para os eventos de Paris, Marx aproveitou a chance e chegou a Paris em 5 de março, seguido por Engels algumas semanas depois. O comitê central de Bruxelas da Liga Comunista mudava, desse modo, seu quartel-general para Paris, ainda que por pouco tempo. Em meados de março, os levantes revolucionários espalharam-se para cidades do leste, como Viena, Budapeste e Berlim. Ambos lutaram para lançar um manifesto pedindo o estabelecimento de um partido comunista dentro da Alemanha e correram para o leste, chegando à cidade de Colônia no início de abril de 1848. Pouco depois de chegar a Colônia, Marx e Engels começaram a lançar um jornal diário, o Neue rheinishe zeitung (NRZ). Embora não se tratasse, propriamente falando, de um jornal comunista, o NRZ foi estabelecido como um órgão do partido democrático na Alemanha: seus editoriais refletiam o apoio de Marx às reformas democráticas mais radicais da revolução alemã. ATENÇÃO Apesar disso, Marx não era o revolucionário mais extremo e recusou-se a apoiar os esquemas violentos mais selvagens defendidos pelo anarquista russo Michael Bakunin, um velho amigo dele da época de Paris que também havia chegado à Alemanha nessa época. Pode-se dizer, no entanto, que Marx foi radical o suficiente para apoiar o esforço autônomo das classes trabalhadoras parisienses para tomar o poder, além de encorajar a organização dos trabalhadores alemães e visitar as revoluções de Berlim e Viena na tentativa de apoiar os movimentos operários iniciantes nessas cidades. Em setembro de 1848, aproveitando o calor da agitação dos trabalhadores, Marx, Engels e a NRZ tentaram organizar uma revolução comunal em Colônia, mas acabaram fracassando e foram logo derrotados no final de outubro. MARX E SUA PERMANÊNCIA NA ALEMANHA Marx permaneceu na Alemanha enquanto via a contrarrevolução se instalar e as revoluções populares serem suprimidas em toda a Europa. As autoridades prussianas ordenaram sua expulsão em maio de 1849, enquanto um processo judicial foi instaurado contra Engels. A última edição do jornal NRZ foi publicada em maio de 1849. CHEGADA A LONDRES Marx desembarcou em Londres no final de junho de 1849, onde viveu pelo resto de sua vida, embora inicialmente esperasse que a situação na Alemanha pudesse ser recuperada e seu retorno fosse possível. O comitê central da Liga Comunista ficou para trás em Colônia, estando sob a liderança de um de seus primeiros discípulos, fazendo com que Marx imaginasse que ainda poderia administrar as coisas do exterior. A seu pedido, Engels deixou a Suíça em direção a Londres, onde eles rapidamente retomariam o antigo jornal NRZ. Em suas páginas, Marx publicou sua avaliação das lições que tinha aprendido com as revoluções de 1848, aplicando a própria teoria a esses eventos políticos. Como Marx caracterizou as revoluções de 1848? Para Marx, as revoluções de 1848 deveriam ser caracterizadas como um conflito de classes em vez de um de cunho político. Os desfechos sangrentos serviam, segundo sua interpretação, como uma evidência de que reformas democráticas modestas eram insuficientes para enfrentar a situação difícil dos trabalhadores. Apesar disso,ele reconhecia que as condições para uma revolução proletária ainda não estavam maduras. COMENTÁRIO O período entre 1849 e 1852 foi marcado por dias difíceis na vida de Marx. Somada à repressão que vivia com as revoluções e perseguições de seus companheiros, sua vida pessoal também estava em condições precárias. Embora Marx sempre tenha sido pobre, sua situação financeira estava particularmente complicada nessa fase. Sem conseguir encontrar emprego em Londres, ele também não era remunerado por suas contribuições para os jornais cartistas e pelas palestras no sindicato local dos trabalhadores alemães. No auge dessas dificuldades, em meados de 1850, Marx mergulhou seriamente no estudo da economia política, indo, desta vez, além de Smith e aprofundando-se nas obras de David Ricardo, John Stuart Mill e outros escritores clássicos. Por fim, em janeiro de 1851, ele escreveu para Engels suas primeiras críticas à teoria da renda ricardiana. Marx também revisou suas ideias sobre a direção futura da Liga Comunista, uma vez que membros do comitê central remanescente que permaneceram em Colônia foram presos pelas autoridades prussianas e levados a julgamento em outubro de 1852. Marx reconheceu as dificuldades em dar continuidade ao projeto, e a Liga Comunista foi dissolvida. Apesar disso, Marx recusou-se a apoiar os planos mais radicais promovidos por outros revolucionários alemães, com quem, aliás, tinha pouca paciência. Em sua visão, o movimento operário deveria ser aberto e de massa, o que necessitava de paciência e organização. Neste vídeo, abordaremos alguns dos primeiros elementos da teoria marxista. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. MARX E ENGELS DEFENDIAM QUE A REVOLUÇÃO PROLETÁRIA CULMINARIA NO “COMUNISMO”, FASE QUE PODE SER DEFINIDA: A) Pela manutenção da propriedade privada. B) Pela manutenção do Estado. C) Pela transição de estruturas corporativas para os sistemas de fábrica em grande escala. D) Pelo fim da propriedade privada e das divisões de trabalho e classes sociais. 2. OBRA DE MARX E ENGELS, O MANIFESTO COMUNISTA TINHA COMO OBJETIVO: A) Mostrar como o socialismo marxista era similar a outras vertentes do socialismo. B) Explicar como o fim do capitalismo poderia ser evitado. C) Demonstrar o papel do conflito de classes no colapso do capitalismo. D) Argumentar que classes opressoras e oprimidas eram inevitáveis. GABARITO 1. Marx e Engels defendiam que a revolução proletária culminaria no “comunismo”, fase que pode ser definida: A alternativa "D " está correta. Para Marx e Engels, a fase do "comunismo" seria marcada pela abolição da propriedade privada, que era mantida para o benefício apenas da classe dominante, a qual, de fato, possuía diversos bens, enquanto o proletariado permanecia em situação de pobreza. Como resultado dessa abolição, teríamos o fim da divisão do trabalho, das classes sociais e do próprio Estado. 2. Obra de Marx e Engels, O manifesto comunista tinha como objetivo: A alternativa "C " está correta. O Manifesto fornecia um esboço da teoria marxista, dando ênfase ao conflito de classes como motor da história e ao socialismo como uma consequência natural após o colapso inevitável do capitalismo. MÓDULO 2 Descrever a evolução da teoria marxista Fonte: Maxx-Studio/Shutterstock OS GRUNDRISSE No final do verão de 1857, quando a crise econômica mundial que acompanhou o Pânico de 1857 chegou às manchetes, Marx começou a escrever muito. Pelos seis meses seguintes ou mais, durante uma explosão gigantesca de energia, ele redigiu um conjunto de notas econômicas conhecido mais tarde como os Grundrisse (em português, esboços). PÂNICO DE 1857 Foi a primeira grande crise financeira internacional, sendo gerada por problemas em uma economia conectada e por um avanço recente das telecomunicações: o telégrafo. Em oito cadernos extensos com cerca de 800 páginas, Marx elaborou o essencial de sua nova teoria econômica, ou seja, as verdadeiras sementes de quase tudo que viria a aparecer anos javascript:void(0) javascript:void(0) depois nos três volumes de O capital, sua obra mais famosa. Tudo isso, porém, foi apenas um exercício de autoiluminação para a organização de suas ideias, e não um trabalho voltado para publicação. Os Grundrisse só viriam à tona em meados do século XX. Em maio de 1858, Marx deixou os cadernos do Grundrisse de lado e dedicou-se, durante o verão, a realmente escrever um rascunho publicável. Marx reescreveu, assim, suas notas sobre capital na forma de uma introdução a um futuro trabalho geral. Depois de alguns atrasos, essa introdução acabou sendo publicada na forma de um pequeno livro no início de 1859: Contribuição à crítica da economia política. Os Grundrisse marcaram uma importante transição na teoria da história de Marx, quando ele descarta a centralidade da divisão smithiana do trabalho e passa a identificar, então, o desenvolvimento da propriedade privada como o elemento crítico do progresso. Antes, Marx havia se deparado com o problema de explicar o aparente retrocesso na transição da Antiguidade escravista (com alta divisão do trabalho) para o feudalismo (com uma divisão menor). Nos Grundrisse, ele resolveu isso observando que o feudalismo havia sido, na verdade, um passo para aumentar a propriedade privada em relação à Antiguidade. De forma geral, nos Grundrisse, a narrativa de Marx é um pouco mais aberta e um ligeiramente menos determinística que a de seus escritos anteriores. Nesses escritos, ele se afasta da obsessão que havia apresentado em O manifesto comunista com o conflito de classes interno, reconhecendo que as transições e as revoluções sociais também poderiam ser – e muitas vezes o são – provocadas externamente. Ele também abandona sua ideia de estágios lineares e uniformes dos modos de produção (tribal, escravo, feudal e capitalista), reconhecendo que havia feito generalizações baseadas apenas na experiência das civilizações mediterrâneas. Desta vez, Marx identificou que outras organizações de produção não escravistas poderiam surgir da fase tribal, apontando que elas não precisariam necessariamente continuar na feudal. Nesse contexto, os ex-revolucionários foram beneficiados por uma anistia geral! Com a morte do rei prussiano Frederico Guilherme IV em janeiro de 1861 e a ascensão de um novo rei da Prússia, Guilherme I, os ex-revolucionários foram beneficiados por uma anistia geral. Marx cogitou retornar à Alemanha e lançar um novo jornal em Berlim, mas seus planos fracassaram. Sua anistia não restaurou a cidadania prussiana perdida: o pedido de renaturalização dele foi rejeitado pelas autoridades prussianas. Fonte: AStudio-1/Shutterstock De volta a Londres, Marx mudou de ideia quanto ao seu projeto original de lançar Crítica de 1859 como o primeiro volume de uma obra mais geral sobre economia. Acreditando que seu estilo mais abstrato desanimaria os leitores, começou a reorganizar seu plano geral, o que resultaria mais tarde no livro O capital. Mesmo tendo sido essencialmente concluído no final de 1862, o primeiro volume levou ainda cinco anos para ser conhecido. Fonte: StunningArt/Shutterstock A PRIMEIRA INTERNACIONAL Interessado na guerra civil norte-americana, Marx envolveu-se, no final de 1862, na persuasão das organizações trabalhistas britânicas para organizar manifestações em apoio a Lincoln e à causa sindicalista, além de protestar contra os aparentes planos do governo liberal britânico. Depois do padrão das manifestações de Lincoln, ele estimulou o Conselho de Comércio de Londres a organizar um protesto público em apoio aos poloneses em abril de 1864. GUERRA CIVIL NORTE-AMERICANA Conflito entre estados norte-americanos ocorrido entre 1861 e 1865. A vitória dos estados do Norte ajudou a abolir a escravidão e a desenvolver a economia capitalista no país. Com a expansão de uma espécie de aliança trabalhista anglo-francesa durante o verão daquele ano, convites foram enviados a representantes de outros países, culminando em uma famosareunião em St. James Hall, Londres, em novembro de 1864, onde líderes trabalhistas de diversas nacionalidades fundaram a International Workingman's Association (IWA), também conhecida como Primeira Internacional. Quais foram os objetivos e realizações desse movimento? A Primeira Internacional reuniu diferentes grupos socialistas, comunistas, anarquistas e sindicalistas no Congresso. Seu objetivo imediato era fornecer assistência prática aos trabalhadores engajados em greves, manifestações e outras lutas em diferentes setores e países. O foco era evitar que a contratação de mão de obra de outros países interrompesse as greves. Em longo prazo, os objetivos da Internacional eram mais amplos e incluíam, ainda que de forma vaga, a "emancipação total da classe trabalhadora". REUNIÕES ORGANIZACIONAIS DO CONSELHO GERAL DA IWA Ao longo de 1865, as atenções de Marx concentraram-se nas reuniões organizacionais do conselho geral da IWA em Londres. Algumas brigas, principalmente entre socialistas radicais, javascript:void(0) como, por exemplo, Blanqui (que defendia greves de confronto), e anarquistas alinhados a Proudhon (que desejava um separatismo econômico por meio de cooperativas de trabalhadores fora do sistema capitalista), exigiram grandes esforços de Marx para manter as coisas juntas. ESTATUTOS PROPOSTOS Os estatutos propostos por Karl Marx só se tornaram permanentes no primeiro congresso anual da Primeira Internacional em Genebra, em setembro de 1866. Outros dois projetos de programas concorrentes (os de Mazzini e Bakunin) também foram apresentados, mas os de Marx foram, enfim, adotados. Marx não chegou a comparecer à segunda reunião, que foi realizada no ano seguinte, pois estava supervisionando a publicação do primeiro volume de sua obra O capital — que, apesar de concluído em 1862, via a luz do dia apenas neste momento, ou seja, anos depois. Após a entrega do manuscrito ter sido feita pessoalmente ao editor Otto Meissner, as primeiras cópias do volume impresso chegaram a Londres em setembro de 1867. Fonte: Sergey Korkin/Shutterstock O CAPITAL O primeiro volume de O capital, publicado em 1867, é considerado a grande obra de Karl Marx. Este primeiro livro começa com uma discussão complexa – e até um pouco obscura – a respeito da produção da mercadoria. Só depois dessa longa exposição, Marx finalmente passa para a principal contribuição teórica de sua obra: a teoria da mais-valia e da exploração do trabalho. Mas, afinal, o que aponta esse conceito? Ele define a essência do capitalismo como um sistema ("modo de produção") elaborado com a finalidade de acumular capital em vez do consumo. Marx identifica que, em sistemas mais primitivos observados no passado, agricultores e artesãos produziam mercadorias (M) com o objetivo de trocá-las por dinheiro (D) para, assim, comprar outras mercadorias que atendessem melhor às suas necessidades de consumo (M-D-M). Já no capitalismo, a produção de mercadorias para a troca era vista por Marx como apenas uma etapa intermediária em um processo iniciado pelos capitalistas com o propósito de ganhar mais dinheiro, o que ele chama de "circuito do capital" (D-M-D). Em outras palavras, os capitalistas usam dinheiro (D) para comprar a força de trabalho e as matérias-primas, que são então transformadas durante a produção em mercadorias (M), as quais, por fim, são vendidas por uma quantia maior de dinheiro (D). COMENTÁRIO O ponto fundamental para essa narrativa é o papel das máquinas e da mudança tecnológica. A transição de M-D-M para D-M-D teria sido provocada, de acordo com Marx, pela natureza competitiva do capitalismo. Para ele, a busca por lucros surgiu da necessidade urgente que os capitalistas tinham de acumular dinheiro para reinvestir em tecnologias mais recentes. Caso contrário, eles correriam o risco de serem prejudicados e eliminados por outros capitalistas no processo de competição típico do capitalismo. De acordo com sua interpretação, foi a competição acirrada – e não a mera ganância – que forçou os capitalistas a se esforçarem para obter lucros, direcionando toda a produção para a geração deles em detrimento da satisfação das necessidades. Apesar disso, Marx observava que tais ganhos seriam apenas temporários, já que uma nova peça de tecnologia que permitisse a redução de custos e de lucros extraordinários para um capitalista em particular logo também seria adotada por outros capitalistas. Assim, concluiu o autor alemão, a taxa de lucro acabaria sendo decrescente ao longo do tempo. Mesmo com a história central de O capital girando em torno da dinâmica do capitalismo, todo o pensamento da obra baseia-se na exploração dos trabalhadores. Ainda que o circuito do capital (D-M-D) pareça simples, Marx identifica nele um quebra-cabeça: como esse aumento no valor (de D para D) é de fato alcançado? Adepto da teoria do valor-trabalho de David Ricardo — que identifica o trabalho incorporado como a única fonte de valor —, ele acreditava que o processo de troca não seria capaz de aumentar o valor. Marx passou então a examinar o processo de produção, identificando a "força de trabalho" (que é diferente do trabalho) como o único insumo com a capacidade de criar valor maior que o custo de contratação pago pelo capitalista. Seria essa a diferença, frisava o autor, responsável por criar o excedente e, portanto, os lucros. ATENÇÃO A parte central da história da exploração do trabalho baseia-se no fato de que os trabalhadores recebem salários totalmente competitivos, mas trabalham mais horas que o necessário para cobrir o custo de seus salários. pathdoc/shutterstock O capitalista poderia ainda elevar tal taxa de exploração aumentando a mais-valia absoluta (estendendo a jornada de trabalho, por exemplo) ou a mais-valia relativa (implementando, por exemplo, melhoras tecnológicas). Um exemplo do primeiro caso: se a jornada de trabalho é aumentada de 10 para 11 horas, isso faz a taxa de exploração subir para 1,75 = 7/4 = novo número de horas excedentes/mesmo número de horas necessárias. No segundo caso, a mais-valia relativa pode ser ampliada a partir de uma inovação tecnológica, como a introdução de um novo maquinário ("capital constante") que permita reduzir o tempo de trabalho necessário para produzir o salário diário. Suponha, por exemplo, que a duração da jornada de trabalho permaneça inalterada em 10 horas, ainda que melhorias tecnológicas permitam que uma maior quantidade seja produzida a cada hora. Desse modo, o custo do salário diário pode ser agora coberto com apenas três horas de trabalho em vez de quatro horas. A taxa de exploração, portanto, aumentaria ainda mais: 2,33 = 7/3 = novo número de horas excedentes/novo número de horas necessárias. De acordo a teoria de Marx, nos estágios iniciais do capitalismo, o aumento da mais-valia absoluta foi o mecanismo mais intensamente utilizado pelos capitalistas, tendo sido acompanhado por lutas no local de trabalho contra a extensão de sua jornada. Nos últimos estágios do capitalismo, porém, foi a mais-valia relativa que se tornou o fator mais importante. A discussão de Karl Marx sobre os salários vai muito além do pensamento malthusiano/ricardiano, apontando a possibilidade de que salários competitivos e padrões de vida absolutos aumentem ao longo do tempo desde que a produtividade do trabalho seja elevada mais rapidamente que o salário e que, portanto, a taxa de exploração esteja subindo. Mesmo que, tomada em conjunto (inovação tecnológica e aumento de salários), sua análise insinue que eles podem realmente melhorar suas condições de vida em consequência da exploração capitalista, Marx acreditava que os trabalhadores consideravam (ou deveriam considerar) o aumento da mais-valia relativa e a crescente desigualdade um verdadeiro absurdo. COMENTÁRIO Outro ponto delicado de sua obra trata do que acontece com o lucro ao longo do tempo a partir do esquema de reprodução ampliada, questão que foi mais elaborada no volumeII de O capital. Enquanto a teoria ricardiana apontava que a limitação da terra causaria uma taxa decrescente de lucro ao longo do tempo, Marx rejeitava esse tipo de limitação, pois acreditava que o capitalismo era capaz de superar essas barreiras naturais. O que Marx pensava sobre a taxa de lucro decrescente ao longo do tempo? Ele concordava com a ideia de uma taxa de lucro decrescente ao longo do tempo, mas atribuía isso ao aumento do investimento em maquinário e matérias-primas por trabalhador. Sendo a taxa de lucro, por definição, o excedente em relação ao capital investido, mesmo que o capitalista consiga extrair uma mais-valia maior por trabalhador, sua taxa de lucro geral ainda pode cair, pois ela requer um investimento em capital cada vez maior. Por conta dessa tendência, o autor alemão acreditava que o capitalista se via forçado a buscar formas inovadoras de elevar a taxa de lucro sem simplesmente aumentar o capital por trabalhador. Isso explicaria as fusões entre empresas, levando a uma maior concentração industrial, assim como a reduções salariais. Embora a última alternativa (a de apoiar-se na força de trabalho) seja difícil em um ambiente competitivo, cujos salários tendem a ser mais estáveis, Marx apontava que a existência de uma espécie de "exército de reserva de trabalho", formado por trabalhadores dispostos a aceitar condições profissionais ruins e salários baixos para obter emprego, frequentemente reduzia a competição dos mercados de trabalho. Esse exército de reserva incluiria não só as legiões de desempregados urbanos deslocados pela mecanização, como também – e de forma ainda mais crítica – a população pobre rural, que vivia na margem entre a sociedade agrária e a industrial. Para Marx, essas pessoas eram capazes de migrar entre o emprego e o desemprego por uma questão de centavos. O volume I de O capital termina de uma forma considerada um tanto atípica (por conta da ordem em que aparece na obra) com uma discussão sobre a "acumulação primitiva". Marx discute nesse trecho o papel crítico da propriedade privada na transição para o capitalismo. Mesmo com os meios de produção existindo em tempos pré-capitalistas, eles não eram necessariamente uma propriedade privada transferível que podia ser convertida em capital. Marx acreditava que os eventos políticos e militares tiveram um papel histórico decisivo na expansão do conceito legal de propriedade privada. Para ele, esses eventos também explicariam a tomada do controle legal e a direção da atividade produtiva por uma classe capitalista emergente. Fonte: Everett Collection/Shutterstock Embora o volume I de O capital tenha passado despercebido na imprensa ocidental e mesmo em círculos socialistas, Marx logo começou a trabalhar no segundo volume, dedicando-lhe grandes esforços entre 1868 e 1869. Ele, no entanto, não chegou a ver a publicação do segundo e do terceiro volume do livro durante sua vida. Neste vídeo, faremos uma reflexão sobre a contribuição teórica de Marx. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. NO CONJUNTO DE NOTAS ECONÔMICAS CONHECIDO COMO GRUNDRISSE (EM PORTUGUÊS, ESBOÇOS), MARX: A) Identifica que o feudalismo diminuiu a propriedade privada em relação à Antiguidade. B) Reconhece que revoluções sociais também podem ser provocadas externamente. C) Descarta o desenvolvimento da propriedade privada como o elemento crítico em progresso. D) Reforça a centralidade da divisão smithiana do trabalho. 2. NA FAMOSA OBRA O CAPITAL, MARX IDENTIFICA QUE: A) A natureza não competitiva do capitalismo faz com que os capitalistas não precisem investir em novas tecnologias. B) A competição acirrada entre os capitalistas direcionou a produção para a satisfação das necessidades. C) A busca por lucros reflete a necessidade dos capitalistas de acumular dinheiro para reinvestir e para não serem eliminados pelos concorrentes. D) A competição capitalista torna a taxa de lucro crescente ao longo do tempo. GABARITO 1. No conjunto de notas econômicas conhecido como Grundrisse (em português, esboços), Marx: A alternativa "B " está correta. Nos Grundrisse, Marx afastou-se da obsessão apresentada em O manifesto comunista com o conflito de classes interno, identificando que os fatores externos também são relevantes. 2. Na famosa obra O capital, Marx identifica que: A alternativa "C " está correta. Em O capital, Marx argumenta que a necessidade de acumular recursos para o reinvestimento gera a busca por lucros pelo capitalista, que procura, dessa forma, sobreviver à competição do mercado. MÓDULO 3 Identificar o legado de Karl Marx O ATIVISMO POLÍTICO E O LEGADO DE MARX ATIVIDADES POLÍTICAS DE MARX Nos anos seguintes à publicação do primeiro volume de O capital, Karl Marx dedicou grande parte de seu tempo às atividades políticas relacionadas com a Primeira Internacional. Durante a ausência de Marx, o congresso da IWA acabou sendo dominado por seguidores franceses de Proudhon, que aprovaram uma série de resoluções voltadas para as cooperativas e o crédito ao trabalhador. O autor alemão, porém, teve seus ideais bem representados por Kugelman, Eccarius e Lessner, que aprovaram resoluções fazendo a conexão entre os direitos dos trabalhadores e a revolução política. Muitos delegados da IWA também se tornaram membros da Liga da Paz de Genebra, organizada por liberais burgueses, como, por exemplo, J. S. Mill, além de contar com a presença do nacionalista italiano Giuseppe Garibaldi e do anarquista Mikhail Bakunin, que, como vimos, era um antigo rival de Marx. Fonte: Ksanawo/shutterstock Discordando dessas associações, Marx reforçava a importância de se permanecer distante dos partidos políticos já estabelecidos. No congresso seguinte, em 1868, o IWA desassociou-se formalmente da Liga da Paz de Genebra, embora não proibisse alianças informais com grupos antimilitaristas. Porém, na conferência paralela da Liga da Paz em Berna, em 1868, Bakunin e seus seguidores renunciaram furiosamente e formaram a própria organização: a Alliance de la démocratie socialiste (ADS), baseada em Genebra. Em seguida, eles solicitaram ao IWA o status de afiliados. Marx acreditava que o programa da ADS entrava em conflito com o da IWA e que o escopo de uma "organização dentro de uma organização" apenas causaria problemas. Por insistência sua, o pedido de filiação foi rejeitado pelo conselho geral da IWA em Londres. Foi no Congresso da IWA da Basileia, em 1869, que a vitória de Marx sobre Proudhon pareceu, enfim, consolidada. Os marxistas conseguiram persuadir o congresso de que a abordagem proudhoniana limitava a luta do trabalhador a uma mera questão de "salários e horas" em vez de uma verdadeira liberdade. A presença do próprio Mikhail Bakunin como delegado no congresso fez com que Marx, temendo possíveis jogadas do adversário, se antecipasse, apresentando uma proposta sobre a abolição da lei da herança, causa, aliás, apreciada por Bakunin, com uma redação que ele não teria escolha a não ser apoiar. Mesmo assim, ele criticou Marx por exagerar o potencial revolucionário dos trabalhadores e ainda encorajou a IWA a promover a separação do Estado em vez de assumi-lo. Ainda em 1869, os marxistas iniciaram seu envolvimento político dentro da Alemanha. Sob a influência de Marx, um novo partido operário foi lançado no país. O Partido dos Trabalhadores Social-Democratas (SDAP) contava até com um jornal próprio: Der Vokstaat. Nos anos de 1870 e 1871, a guerra franco-prussiana impediu a realização dos congressos da IWA. Tanto Marx quanto a IWA apoiaram intensamente a Comuna de Paris criada após a guerra. Não sendo uma criação socialista, a Comuna de Paris foi originalmente formada pela aliança de republicanos e nacionalistas burgueses para resistir ao que eles consideravam tentativas reacionária de impor novamente uma monarquia na França. GUERRA FRANCO-PRUSSIANA Conflito entre a França e diversos estados germânicos liderados pela Prússia. Um dos motivos do conflito foi a atuação dochanceler da Prússia, Otto von Bismarck, que buscava a unificação da Alemanha. Apesar disso, à medida que o cerco era realizado em Paris e a burguesia vacilava, os socialistas expandiram sua influência. A Comuna de Paris foi destruída em maio com um grande derramamento de sangue, tornando a repressão e as execuções em massa traumáticas para o movimento operário. Vista como a força organizadora por trás da Comuna, a IWA foi acusada de excessos revolucionários e condenada pela imprensa e pelos políticos, com filiais sendo dissolvidas em vários países europeus. Nessa época, sindicatos britânicos também se retiraram do IWA por acreditar que qualquer conexão com ele ou com Marx seria prejudicial. javascript:void(0) Além desses eventos externos, a Primeira Internacional foi ainda mais enfraquecida por novos conflitos internos. Após aposentar-se, Engels se mudou para Londres e estreitou ainda mais seus laços com o autor alemão. Outros líderes socialistas ficaram amargurados ao sentir que seus conselhos eram ignorados por Karl Marx, que parecia agora ouvir apenas aqueles oferecidos por seu amigo. Lutando ainda para terminar o volume II de O capital, Marx tinha muito de seu tempo e de sua mente ocupados com assuntos organizacionais da Internacional. Em setembro de 1871, durante a reunião do conselho geral em Londres, Marx introduziu revisões nos estatutos da IWA, estabelecendo explicitamente o objetivo de transformar o movimento operário em um partido político. Essas propostas enfrentaram uma forte oposição dos anarquistas. Enquanto Marx enfatizava que o fim sangrento da Comuna de Paris devia ser um aprendizado sobre a necessidade urgente de tomar o poder político, os líderes anarquistas Mikhail Bakunin e James Guillaume defendiam que a verdadeira lição era rejeitar a política e o Estado, buscando o separatismo e forjando alianças entre trabalhadores e camponeses. Os anarquistas ainda acusaram Marx de inclinação para o estatismo autoritário, deixando claro para o congresso que Marx e Engels não eram trabalhadores, e sim "intelectuais burgueses" fora de contato com as necessidades ou os desejos dos trabalhadores. Após cinco dias de lutas amargas, o conselho geral da IWA votou pela expulsão de Bakunin e de seus seguidores, que se retiraram e formaram o próprio congresso, tornando a divisão socialista-anarquista permanente. No meio dessas lutas estressantes, a saúde de Marx piorou consideravelmente, e o fim da IWA foi um golpe em suas aspirações originais. A essa altura, porém, ele já sabia que tinha mais a ganhar apoiando o estabelecimento e o crescimento de organizações operárias e partidos políticos separados em nível nacional do que insistindo em uma organização internacional única e estável. Marx sentiu algum conforto com os rápidos ganhos eleitorais que os socialistas continuavam a ter na Alemanha, especialmente durante as eleições de 1874 para o Reichstag. Essa rápida ascensão deles nas eleições locais, porém, logo alarmou o governo bismarckiano, em especial os partidos liberais burgueses alemães. REICHSTAG javascript:void(0) Parlamento alemão. Apresentando-se como o salvador da Alemanha da "ameaça vermelha" do comunismo, Bismarck tentou, sem sucesso, assassinar o Kaiser a fim de derrubar o Partido Social- Democrata em 1878. Ao mesmo tempo, no entanto, ele reorientava a política econômica alemã para uma direção mais protecionista e socialista de Estado, com uma série de reformas que introduziriam o estado de bem-estar no país. BISMARCK Conhecido como o chanceler de ferro, Otto von Bismarck foi o estadista conservador mais importante da Alemanha do século XIX e o primeiro chanceler do Império Alemão. Lançou as bases do Segundo Império ou 2º Reich (1871-1918), que levou os países germânicos a conhecerem, pela primeira vez na sua história, a existência de um Estado nacional único. KAISER Imperador da Alemanha. Sem grandes avanços na Alemanha, Karl Marx voltou-se para a França. As organizações de trabalhadores franceses, que tinham sido maltratadas e empurradas para a clandestinidade após os episódios da Comuna de Paris, começaram a se reconstruir lentamente. Com algum relaxamento da repressão, vários sindicatos, cooperativas e grupos de estudantes desconectados reuniram-se, em 1878, na Federação dos Trabalhadores Socialistas da França (FTSF). javascript:void(0) javascript:void(0) SURGIMENTO DO POF Em 1880, com a finalidade de ocupar a ala política da FTSF, foi fundado o Partido dos Trabalhadores Francês (POF), o primeiro partido socialista daquele país a competir de forma independente nas eleições. Com Marx sendo o grande responsável pelo programa do POF, diversos protestos de revolucionários sindicalistas passaram a emergir. POF NAS ELEIÇÕES GERAIS FRANCESAS DE 1881 A péssima aparição do POF nas eleições gerais francesas de 1881 trouxe ainda mais divisões, com acusações de que o programa marxista tinha custado assentos eleitorais aos trabalhadores e adiado as reformas tão necessárias que eles queriam. Mesmo atuando como conselheiro de vários partidos socialistas, a péssima saúde e as tragédias pessoais marcaram os últimos anos de Marx. Com o agravamento de sua condição, ele percebeu que não sobreviveria por muito tempo e tentou, como último esforço, terminar os volumes restantes de O capital no verão de 1881. Ele, no entanto, não teve sucesso. Doente e sobrecarregado de trabalho, Karl Marx morreu em 14 de março de 1883. Adapatado de: Ruwan Muhandiramge/shutterstock O LEGADO DE MARX O legado de Marx ainda era incerto na época de sua morte. Mesmo tendo tido alguma fama em vida, a chance de ser esquecido era considerada grande. As aspirações de Marx como ativista revolucionário, por exemplo, podem ser consideradas insuficientes. Além disso, o fiasco da Primeira Internacional levou à sua dissolução, os socialistas alemães seguiram uma direção diferente e os marxistas foram expulsos dos principais movimentos trabalhistas. O impacto intelectual das obras de Marx também não era tão claro. À exceção de O manifesto comunista, publicado em 1848, a maioria dos livros publicados de Karl Marx não foi lida ou estava fora de catálogo e esquecida em 1883. Friedrich Engels foi o responsável por limpar a bagunça de manuscritos, popularizar as obras de Marx e reacender o movimento socialista. Para Engels, O capital era a obra principal de Marx e merecia mais atenção do que tinha recebido até então. Desse modo, sua tarefa principal foi completar os volumes restantes, nos quais Marx tinha trabalhando esporadicamente nos últimos 12 anos de sua vida. Uma versão traduzida para o inglês só apareceria em 1887, bem depois da morte de Marx. Em 1890, na tentativa de manter o volume I impresso e circulando, Engels lançou uma quarta edição. Mesmo assim, poucos chegaram a ler diretamente a obra, tendo a grande maioria acessado apenas sinopses populares redigidas por Engels e outros autores. Sobre a obra O capital, é importante entender os seguintes fatos: FATO 1 Sob a direção de Engels, o segundo volume de O capital foi publicado no início de 1885 com o título O processo de circulação do capital. Menos ambicioso em sua visão, o volume II carregava pouca história, mas muita economia. É neste volume que Marx elabora uma crítica mais detalhada da Lei de Say e uma teoria da crise, além de apresentar o complexo esquema multissetorial de reprodução simples e expandida. FATO 2 Ainda no prefácio do volume II, Engels anunciou que Karl Marx já havia "resolvido" o problema da transformação nas notas do volume III e desafiou qualquer pessoa que duvidasse da capacidade de Marx a propor as próprias soluções rapidamente antes que o volume III fosse publicado. Acontece que tal volume não estava tão próximo de ser lançado. O volume II havia sido publicado por Engels em apenas um ano, mas os manuscritos estavam em pior estado e levariam ainda uma década para serem organizados. FATO 3 Engels acabou deixando os manuscritos de lado por um tempopara concentrar-se em outros projetos. Além das próprias obras, ele lançou mais uma edição do volume I em 1890 e reimprimiu algumas das obras menores de Marx. O volume III foi finalmente publicado em 1894 sob o título O processo global da produção capitalista. Outras obras de Marx só começaram a aparecer aos poucos, tendo em vista que os socialistas alemães foram banidos em 1890. Entre as notas de Marx, Engels ignorou os Grundrisse, cuja existência permaneceu desconhecida por décadas. Trechos seus lentamente vieram a público graças a diferentes estudiosos, mas a edição completa dos Grundrisse teve de esperar até 1953 para ser finalmente publicada. Adapatado de: Ksanawo/Shutterstock O DESTINO DA ESCOLA MARXISTA Assim que Karl Marx morreu, em 1883, uma escola marxista de economia surgiu, tendo como líderes companheiros de seu círculo íntimo, principalmente os alemães Friedrich Engels e Karl Kautsky. Contudo, não demorou muito para que a escola marxista fosse envolvida em um debate "revisionista". O que aponta o movimento revisionista? Um dos destaques desse movimento foi Eduard Bernstein, que desafiou a noção marxista de que o colapso econômico do capitalismo era mesmo "inevitável". Em sua visão, a implementação do socialismo deveria ser uma escolha consciente feita a partir de um sistema educacional para fins políticos, e não uma forma de preparação para a revolução "inevitável". A mensagem política de Bernstein foi direcionada para um debate econômico que envolveu os primeiros marxistas na teoria da crise e do colapso. No segundo volume de O capital, Karl Marx havia sugerido que o número de condições necessárias para um crescimento estável do capitalismo sem o famoso colapso era muito grande. Assim como Bernstein, Mikhail Tugan-Baranovsky contestou essa ideia e sugeriu que era possível para o capitalismo alcançar um crescimento estável. Dessa maneira, o colapso dele não era tão inevitável como dizia Marx. Além disso, a experiência prática apontava em outra direção, já que o capitalismo entrava em uma fase de melhoria no início do século XX. Bernstein e outros revisionistas receberam fortes críticas de grandes nomes da escola marxista ortodoxa, como Karl Kautsky, Rosa Luxemburgo e Georgy Plekhanov. Essa reação ortodoxa, contudo, não foi uniforme e acabou se transformando em uma discussão que se alongou por bastante tempo. Karl Kautsky, por exemplo, defendeu, em um primeiro momento, que não havia uma teoria de colapso na obra de Marx. Anos depois, porém, ele reconheceu nas linhas do autor alemão uma teoria sobre a "depressão crônica", um evento diferente do colapso geral sugerido. Mais teóricos surgiram se posicionando em relação a esse movimento! POSICIONAMENTO DE ROSA LUXEMBURGO Outra reviravolta foi dada com Rosa Luxemburgo, que argumentou não ser óbvio o destino da "acumulação de excedente", ainda mais se não houvesse ninguém para comprar os bens produzidos pela produção expandida e, assim, concretizar a existência do excedente. A pergunta que repetiu diversas vezes — "Onde está a demanda pelas mercadorias?" — revelava sua grande crítica ao sistema marxista. Para ela, a crise do capitalismo é inevitável em um sistema fechado, mas não em um aberto (ou seja, com consumo externo). A partir da demanda gerada pelo consumo de novos compradores em países não capitalistas, Luxemburgo acreditava que as crises podiam ser evitadas. O imperialismo, em sua visão, era exatamente o resultado da competição das nações capitalistas por esses consumidores. POSICIONAMENTO DE VLADIMIR I. LENIN E NIKOLAI BUKHARIN Vladimir I. Lenin e Nikolai Bukharin discordavam dessa teoria de Luxemburgo e forneceram a própria visão do imperialismo. Para ambos, ele era o resultado da competição capitalista por lucros, e não necessariamente uma solução para evitar crises. Os dois consideravam a Primeira Guerra Mundial um desdobramento dessa versão acirrada do capitalismo competitivo. POSICIONAMENTO DOS AUSTRO-MARXISTAS O debate revisionista estimulou ainda um grupo de advogados e acadêmicos de Viena conhecido como austro-marxistas. Diferentemente dos alemães, os austríacos estavam menos preocupados com a questão da estratégia revolucionária, concentrando-se, em vez disso, em uma análise teórica do marxismo. Na visão austro-marxista, o sistema marxista seria, na verdade, um de investigação sociológica. Em outras palavras, ele era um sistema de teoria econômica embutido em uma teoria social mais ampla, que, por sua vez, deu grande destaque às relações econômicas. Nessa mesma época, a então importante escola austríaca neoclássica forçou os austro- marxistas a ouvirem as críticas neoclássicas com mais atenção e a levarem mais a sério aspectos teóricos e econômicos de Marx. A principal crítica feita pelos economistas neoclássicos referia-se a inconsistências encontradas na "teoria do valor-trabalho" de Marx. Em particular, eles apontavam a existência de um "problema de transformação" na conversão de valores de trabalho em preços de produção. ATENÇÃO A defesa da teoria marxista contra tais críticas foi amplamente conduzida pelos austro- marxistas. Ladislaus von Bortkiewicz mostrou que a solução "quantitativa" do próprio Marx para o problema da transformação era incompleta, acabando por fornecer a própria solução. Em outra obra pouco conhecida, Vladimir Dmitriev ainda propôs mais uma. Essa questão permaneceu latente até o renascimento marxista da década de 1940. Dois grandes desafios em 1918 (o impacto da Primeira Guerra Mundial na Alemanha e na Áustria e o sucesso da revolução bolchevique na Rússia) foram enfrentados pela escola marxista. Quando a guerra terminou, os sistemas econômico e político da Alemanha e da Áustria estavam caóticos. Os sociais-democratas dos dois países foram, de repente, empurrados para o poder – e, entre eles, estavam vários marxistas. Os marxistas – e, em especial, os austro-marxistas – desempenharam um papel importante na política da Europa Central até o surgimento do fascismo na década de 1930. Além de problemas, como, por exemplo, a desmobilização no pós-guerra, a hiperinflação e as dificuldades de reconstrução, as economias desses países ainda enfrentavam o desemprego em massa com a crise de 1929. O SUCESSO DA REVOLUÇÃO RUSSA O sucesso da revolução russa deu margem ao imaginário político. Os partidos ficaram divididos entre aqueles que defendiam diretamente o socialismo pleno e os que preferiam uma abordagem mais incremental e prática para a reforma social. O FRACASSO DA REVOLUÇÃO ALEMÃ Com o fracasso da revolução alemã de 1918, os marxistas, em geral, optaram pela última abordagem. Na tentativa de justificar a derrota pós-revolução e acalmar os medos das classes médias, eles recuaram em sua defesa da teoria do colapso e abraçaram a ideia revisionista de que o socialismo é uma "escolha consciente" do proletariado – e não um resultado inevitável. Neste vídeo, analisaremos o legado de Marx. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE AS ATIVIDADES POLÍTICAS QUE MARX EXERCEU APÓS A PUBLICAÇÃO DO PRIMEIRO VOLUME DE O CAPITAL, É POSSÍVEL DIZER QUE: A) Ele abandonou as atividades políticas relacionadas com a Primeira Internacional para dedicar-se aos próximos volumes de O capital. B) Ele defendia a aproximação e a associação com partidos políticos já estabelecidos. C) Ele nunca manifestou explicitamente a intenção de transformar o movimento operário em um partido político. D) Ele via o trágico fim da Comuna de Paris como uma lição sobre a necessidade urgente de tomar o poder político em vez de rejeitar a política. 2. SOBRE O LEGADO MARX, É POSSÍVEL DIZER QUE: A) Marx conquistou muita fama em vida e nunca correu o risco de cair em esquecimento. B) Na época de sua morte, as obras de Marx eram muito populares. C) Após os socialistas alemães terem sido banidos em 1890, algumas obras de Marx demoraram a vir a público, como foi o caso dos Grundrisse. D) Apesar de o impacto intelectual de Marx ser incerto na época desua morte, todas as suas obras já haviam sido publicadas. GABARITO 1. Sobre as atividades políticas que Marx exerceu após a publicação do primeiro volume de O capital, é possível dizer que: A alternativa "D " está correta. Marx via a derrota da Comuna de Paris como a prova de que era necessário tomar o poder político, enquanto líderes anarquistas (Mikhail Bakunin e James Guillaume) defendiam a necessidade de rejeitar a política e o Estado. 2. Sobre o legado Marx, é possível dizer que: A alternativa "C " está correta. Os socialistas alemães foram banidos em 1890; por isso, as obras de Marx, incluindo os Grundrisse, demoraram a aparecer. A exceção é O capital. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos neste tema que o capitalismo é um sistema econômico amplamente adotado no mundo, mas está longe de ser perfeito, tendo recebido diversas críticas ao longo do tempo. Uma das mais importantes foi feita por Karl Marx, filósofo e economista alemão do século XIX. Conhecemos ainda o contexto em que Marx desenvolveu suas ideias e estudou a evolução da teoria marxista, indo de O manifesto comunista até O capital (suas obras mais importantes). Observamos também a atuação política de Marx, parte indissociável de seu desenvolvimento teórico, e o legado que deixou. A teoria marxista constitui ainda hoje uma referência inescapável da análise econômica. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS HOBSBAWN, E. História do marxismo. São Paulo: Paz e Terra, 1985. MARX, K.; ENGELS, XX. Marx & Engels collected works. v. 3. London: Lawrence and Wishart, 1987. EXPLORE+ Para se aprofundar sobre os tópicos abordados neste tema, leia A história do marxismo, de Eric Hobsbawn. Para saber mais sobre o pensamento socialista à época de Marx, consulte o texto Do socialismo utópico à economia solidária, de Jonas de Oliveira Bertucci, que faz ainda uma ponte com os movimentos modernos de economia solidária. CONTEUDISTA Juliana Damasceno de Sousa CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); javascript:void(0);