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Resenha Crítica II
Jessé Santos Araújo
O propósito desta resenha é discutir elementos-chaves no filme “E agora, aonde vamos?”, produzido em 2011 e dirigido por Nadine Labaki. A discussão partirá de três momentos trazidos pelo filme, que são: a cena inicial do enterro, a integração daquela comunidade e as posições que os personagens tomam em determinados momentos do filme.
O filme inicia evidenciando um grupo de mulheres, que estavam em movimento, ambas se dirigindo a um pequeno cemitério sob uma temperatura muito quente, naquele dia todas as mulheres estavam vestidas de preto e traziam algo em comum: o luto. Apesar de estarem unidas por um mesmo sentimento de angústia e tristeza, percebe-se uma diferença muito sutil naquela primeira cena. 
Havia mulheres que cobriam as suas cabeças com um véu negro e havia mulheres que traziam consigo cruzes de madeira. Porém, as mulheres cobertas com o véu não carregavam as cruzes de madeira, tampouco as mulheres que traziam as cruzes de madeira usavam o véu na sua cabeça. Esta pequena diferença na Antropologia pode ser classificada como identidade. 
Buscando relacionar a leitura do texto de Roberto Efrem Filho “Os meninos de Rosa: sobre vítimas e algozes, crime e violência”, o filme “E agora, aonde vamos?”, somados ao debate da aula síncrona realizada no dia 16 de março de 2022, constata-se que a perspectiva de identidade é um pouco complexa nesta obra cinematográfica, pois essa localização de identidades que são trazidas por Labaki é dinâmica, ou seja, não é fixa ou algo estabelecido.
Consegue-se provar tal afirmação, quando se observa no filme que aquelas mulheres que residiam naquela aldeia, apesar de ser muito territorializadas, ou seja, ligadas a terra, assumiam novos papéis ao decorrer da trama para que a paz reinasse naquele lugar, pois os homens que ali viviam sempre estavam brigando devido ao conflito religioso que existira entre cristãos e muçulmanos. Vale lembrar também, que havia uma guerra acontecendo fora da aldeia, à ponte da aldeia que ligava ao mundo exterior estava quebrada e eles estavam impossibilitados de saírem da comunidade e incomunicáveis pela tecnologia aumentando toda esta tensão.
Ao condicionar o meu olhar para o filme a partir do fenômeno da globalização, e suas consequências imediatas – compreensão espaço-temporal, aceleração dos processos globais, encurtamento das distâncias -, as identidades culturais e/ou nacionais daquela comunidade sofrem um processo de deslocamento e fragmentação. O autor Hall já nos alertava,
“[...] quanto mais à vida se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem ‘flutuar livremente’. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha. (HALL, 2006, p. 75)
Pode-se destacar também que aquela sociedade de cristãos e muçulmanos vivia de forma integrada. Havia ali um sistema político que funcionava. Havia o Senhor Prefeito, o imã que era o líder religioso dos muçulmanos, o padre que era o líder dos cristãos e havia também um grupo de mulheres fortes e unidas das duas religiões que lutavam pela harmonia e a paz daquela aldeia. 
Tão logo, quando eventos que ameaçavam essa integridade aconteciam, como, por exemplo, quando aquelas duas comunidades se reuniram para assistir televisão e a reportagem anunciava a guerra entre muçulmanos e cristãos, aquelas mulheres sabiamente criaram um pouco de tumulto gritando entre si para que os homens não ficassem sabendo da guerra religiosa fora da aleia, pois aquela guerra não era uma guerra deles e se acreditassem que era poderia gerar uma desintegração da comunidade e até mesmo a morte. 
Para concluir, o terceiro elemento muito forte que o filme destaca diz respeito a mudanças de posições que aqueles personagens vão tomando durante a trama. Quando o conflito religioso mais uma vez tenta acabar com a união da vila, aquelas mulheres religiosas contratam mulheres ucranianas para acalmá-los, usando uma posição de objetificação do corpo feminino para produzir a paz da comunidade.
Outro ponto foi fazer com que os homens ingerissem haxixe, para ficarem imobilizados e, enquanto isso, as mulheres se unem novamente para esconder as armas do vilarejo e trocarem de posição. Ao acordarem, e saberem que um dos seus havia sido morto vitima de bala perdida eles encontram as suas mulheres assumindo uma nova identidade: quem era muçulmana foi batizada como católica e quem era católica havia se convertido ao islã.
 Dessa forma, os homens se sentem perdidos sem saber o que fazer devido a estas novas identidades de suas mulheres que funcionou bastante para operar um novo posicionamento político ali. Daí no enterro do jovem baleado, os homens carregando o esquife já não sabiam mais onde enterrá-lo, virando-se para as mulheres de preto perguntando: “E agora, aonde vamos”?

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