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Resenha crítica sobre o filme As sufragistas--

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Letícia Marli Fernandes
Professor: David Tiago Cardoso 
Estudos de gênero – 5°período 
Resenha crítica sobre o filme “As sufragistas”
As sufragistas, conta com a produção de Sarah Gravon, sendo um filme de drama que conta história das mulheres que reivindicaram o direito ao voto, na Inglaterra no início do século XX. O filme tem como protagonista uma personagem da classe trabalhadora, Maud Watts, que depois de alguma resistência, passa a se interessar pelo movimento sufragista, passando a participar de reuniões, comícios, arriscando a sua família, casamento, e até a proximidade com seu filho. O filme busca retratar o que hoje é conhecido como a primeira onda feminismo, que era uma luta por igualdade política e jurídica entre os sexos, como o direito a educação (Marcelino, 2018). Sarah Gravon trouxe para esse enredo personagens reais, como a líder Emmeline Pankhurst, com personagens de ficção que acabavam por representar a soma de várias militantes da época. O filme foi roteirizado por Abi Morgan, e dentre suas cenas se evidencia diversas formas de discriminação para com as mulheres, tais como não poder votar, não poder disputar a guarda dos filhos, não serem reconhecidas como capaz de administrar os próprios bens. Nesse sentido as mulheres não têm sua voz ativa em nenhum contexto da sociedade, desencadeando então uma série de manifestações, em sua maioria violentas, a fim de buscar o inicio da igualdade entre homens e mulheres, a começar pelo direito ao voto. 
A história retrata a vida, principalmente, de Maud que foi forçada desde os sete anos a trabalhar numa lavanderia. O inicio do contato de Maud com as sufragistas se deu durante uma entrega que a mesma estava fazendo a serviço, que por sua vez em seu caminho se deparou com mulheres quebrando vidros de estabelecimentos com slogan de “voto para as mulheres”. O filme traz um enredo interessante pelo fato de além de retratar a luta pelo voto, que é o foco principal, traz também desigualdades econômicas e sociais como ponto forte do filme, uma vez que com o surgimento da sociedade moderna, o sistema se configurou e começou a concentração da produção em fábricas, que além de gerar conflito entre as classes, passava a ter a mulher e as crianças como mão de obra barata (Marcelino, 2018), isso é explicito no filme uma vez que traz a protagonista como membro de classe trabalhadora, que como outras, foi obrigada desde a infância a trabalhar e a sofrer a exploração de seu empregador. 
Entretanto, o filme não tira a imagem das mulheres burguesas, sendo essas de fundamental importância para o movimento. Nesse sentido é necessário resgatar que a luta da primeira onda do feminismo, tinha diferentes sentidos para as diferentes classes presentes. As feministas burguesas tinham direito a propriedade, representado no filme por Alice Haugthon, mulher de elite e esposa de deputado, e podiam viver sua individualidade, não tendo sua dupla jornada com trabalho doméstico, sendo a principal luta o universo masculino de sua classe (Marcelino, 2018). Há também as feministas de classe média, representada no filme por Edith Ellyn, que sua luta se direcionava a busca da igualdade intelectual, uma vez que tinham que carregar esteriótipos de “mulheres são inferiormente capazes” ou “nasceram única e exclusivamente para reprodução.”Já as feministas da classe trabalhadora tinham que lutar contra a exploração do trabalho devido à mão de obra barata, sendo assim todos os dias submetidas à dupla opressão no trabalho e na família. Porém, o filme traz como narrativa principal, o que era comum a todas as mulheres independente de sua classe, - ainda que possuísse significado diferente para cada uma delas - o direito ao voto (Marcelino, 2018).
No que diz respeito à luta pelo direito aos votos, Maud a protagonista, depois do incidente em que vê mulheres sendo “violentas” e reivindicando ao voto, discute com seu marido se essa seria realmente a melhor opção. Ela se mostra resistente a ideia das sufragistas no inicio do filme, inclusive, demora para se reconhecer como uma mesmo após a sua primeira prisão. O seu contato inicial e direto com o movimento começa através de uma colega de trabalho, Violet, que a convida a participar das reuniões de mulheres que ela participava. Maud decide participar dessas reuniões e acaba em um dos momentos, discursando no parlamento, dando seu relato de como se sentia no trabalho e o porquê de querer o voto feminino, sendo então seu primeiro ato pela causa. Com a ideia que poderia viver uma vida diferente da que sempre foi apresentada, resposta que ela dá quando perguntam o significado que a conquista do voto teria para ela, Maud entra com mais força na luta das sufragistas, participando de manifestações e tendo como uma das conseqüências, a expulsão de casa e a perda de contato com o filho. 
Nesse sentido é interessante destacar como o conceito de família era visto na época, e como isso se tornou uma das pautas das militantes feministas, como bem elucidado em uma carta que Maud escreve: “[...] se a lei diz que não posso ver meu filho, eu vou lutar para mudar a lei. [...]”. A família é vista e considerada o fundamento da sociedade civil, sendo imperada pelo casamento monogâmico e homem na chefia, nessa perspectiva a esfera pública seria destinada ao homem, onde ocupariam o estado, a ciência e o trabalho, já a esfera privada que consistia no lar, e ao cuidado com os filhos e o marido, era responsabilidade da mulher (Vieira, 2017). Mesmo sendo a mulher a cuidadora do lar, do marido e dos filhos, o poder ainda é concentrado no modelo patriarcal, uma vez que as mulheres cuidavam, mas não detinham o poder, como bem explicito no filme, onde o marido diz: “Você é uma mãe. Você é uma esposa. Minha esposa. E é isso que você deve ser.” e ao momento que Maud discorda dessa fala, é expulsa de casa e não tem mais direito ao seu lar e a ver seu filho, sem a permissão de seu marido. 
A liberação dos votos das mulheres por direito, seria então a causa da separação entre o público e o privado, sendo o fim do poder político como um assunto de homens para homens (Vieira, 2017). Entretanto, para que a causa realmente acontecesse era necessário, segundo a Líder Pankhurst, fazer de alguns sacrifícios, sendo um deles se afastar totalmente da vida que levava antes. Ainda nessa perspectiva, o movimento sufragista era como bem destacado no filme, desvalorizado e ridicularizado, sendo necessário que as sufragistas partissem para medidas radicais, inspirando-se na desobediência civil. (Vieira, 2017). Tais são esses atos que aparecem durante todo o filme, como no início, onde jogam pedras nas vitrines, ou nas manifestações que sempre acabavam com teor de violência, justificado por uma fala bem pontuada de um diálogo da protagonista com o superintendente. 
“Maud Watts: O que dá a você o direito de ficar no meio das manifestações e não fazer nada?
Superintendente: Eu sou a lei
Maud Watts: A lei não significa nada para mim. Não participei de sua feitura. Nós quebramos vitrines. Nós quebramos coisas, porque guerra é a única linguagem que os homens compreendem. Porque vocês nos traíram e nos bateram até que não sobrasse nada.”
Nesse sentido ainda é necessário discutir, até que ponto deve se sacrificar pela causa, o marido de uma das sufragistas indaga até que ponto vale lutar e se arriscar, uma vez que elas se colocavam em perigo explodindo coisas, ou até mesmo nas várias prisões onde faziam greve de fome, e colocavam sua saúde em perigo. Por outro lado, a Líder Pankhurst traz como lema que “São atos, não palavras, que nos darão o voto.” E completando, Focault traz também que “o militante deve se manifestar diretamente, pela sua forma visível, pela sua prática constante e pela existência imediata, a possibilidade concreta e o valor evidente de uma vida outra, que é a vida verdadeira.” (apud Vieira, p.337, 2017). Na perspectiva do sacrifício pela causa, chegando a um dos atos finais, onde Maud e Emily foram ao grande evento de corrida de cavalos, onde estariao rei, e elas poderiam levantar sua bandeira na frente de todos diante de todas as câmeras, sem tempo de serem censuradas. Ao chegar no evento e verem que não conseguiram acesso por uma das entradas, Emilly está disposta a fazer de tudo para que a missão seja completa, e reproduz suas ultimas falas a Maud “Nunca se renda. Nunca desista da luta.” antes de se jogar na frente do cavalo do rei com sua bandeira, causando o acidente de sua morte. 
A pergunta enfim havia se respondido, se realmente valia a pena o sacrifício em prol de uma causa. Eis a resposta que o movimento sufragista obteve depois da morte da sufragista Emilly, o sacrifício não tinha sido em vão. A morte foi registrada por toda a imprensa, e todos os que estavam presente tiveram acesso ao movimento sufragista. Tendo o funeral de Emilly se tornado uma passeata com um grande número de pessoas envolvidas, defendendo a conquista do direito ao voto, sendo esse conquistado em 1918 para mulheres com mais de 30 anos e em 1928 com o sufrágio Universal. (Vieira, 2017). 
Por fim, concluo que, a luta das mulheres é ainda tema de bastante debate e também de desvalorização, é necessário que pensemos no passado para que consigamos moldar nosso futuro. Mulheres continuam atualmente buscando pela mudança na sociedade e nos valores que nos são atribuídos. Hoje, talvez não seja incorporada a mesma luta de antigamente, há em nossa sociedade a vantagem de novos métodos de propagação das lutas das mulheres, entretanto, infelizmente, ainda temos que bater na mesma tecla, onde lutamos por condições de vidas mais dignas, igualdade diante de contextos sociais e econômicos, lutando para quebrar estereótipos, contra a dupla jornada, contra os papéis sociais que a nós são atribuídos. Lutas essas que também é bastante presente no filme, ainda que de forma um pouco mais precária, e explorada. Deixo aqui, frases que me marcaram durante o filme, onde a líder do movimento diz que “se devemos ser presas para conseguirmos o voto deixe que sejam as janelas do governo e não nossos corpos que quebrem.” E por último uma das frases marcantes de Maud, em uma carta para o superintendente. 
“Você me disse que ninguém ouve garotas como eu. Bem, eu não posso aceitar mais isso. Toda a minha vida eu fui
uma pessoa respeitável. Fiz o que os homens disseram.
Eu compreendo as coisas de outro jeito agora. Eu não
valho mais, nem menos que você. A senhora Pankhurst
disse uma vez que se os homens têm o direito de lutar
pela sua liberdade então é direito das mulheres lutarem
também. Se a lei diz que não posso ver meu filho, eu vou
lutar para mudar a lei. Nós dois somos soldados de frente
de uma forma ou de outra. Ambos lutando por uma
causa. Eu não vou trair a minha causa. Você trairia a sua?
Se você pensou que eu o faria, está enganado sobre
mim.”
Que o filme das Sufragistas sirva de exemplo e inspiração e que frases como essas acima, sirvam para que possamos olhar nosso passado com atenção e para que assim consigamos atuar no presente e mudar o futuro, tendo em mente que os milhares de sacrifícios já feitos para que chegássemos onde estamos. “Me levanto sobre o sacrifício de um milhão de mulheres que vieram antes e penso: O que é que eu faço para tornar esta montanha mais alta para que as mulheres que vierem depois de mim possam ver além?” (Rupi Kaur)
Referências
Giovanna Marcelino; REVISTA MOVIMENTO: As Sufragistas e a Primeira onda do feminismo. São Paulo: Independente, 9 fev. 2018. 
Priscila Piazantini Vieira; HISTÓRIA: Questões e Debates. Curitiba: Independente, v. 65, jul-dez, 2017.

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