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FUNDAMENTOS DE ELETROESTÉTICA Aline Andressa Matiello Microcorrentes Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer as características físicas das microcorrentes. � Descrever os efeitos fisiológicos e terapêuticos. � Identificar a aplicabilidade do procedimento na estética. Introdução O uso de eletroterapia nos tratamentos estéticos, sejam eles faciais, cor- porais ou capilares, é muito importante, uma vez que pode ser utilizada de maneira isolada ou combinada com outras terapias. Entre as técnicas de eletroterapia, tem-se o uso de microcorrentes, técnica não invasiva, segura e que proporciona inúmeros efeitos fisiológicos e terapêuticos nos tecidos humanos. Neste capítulo, você vai estudar a técnica de microcorrentes, conhe- cendo um pouco mais sobre ela no contexto histórico, de funcionamento, parâmetros, precauções, indicações, contraindicações, entre outros as- pectos. Além disso, entenderá como ela produz efeitos fisiológicos e terapêuticos sobre os tecidos humanos e de que maneira é possível fazer uso desse efeitos nos protocolos de tratamentos. Técnica de microcorrentes A técnica de microcorrentes é também chamada de MENS, em razão do termo em inglês Micro Electro Neuro Stimulation, ou MES, que se refere a Micro Estimulador Electro de microcorrentes. Pode ainda ser chamado de LIS, referente à estimulação de baixa intensidade (PRENTICE, 2014). Trata-se de uma das técnicas de eletroterapia que utiliza a corrente elétrica com finalidade terapêutica, usando uma corrente de intensidade baixa, a qual utiliza como unidade de medida a microamperagem. Essa técnica difere-se das demais por ser considerada mil vezes menos intensa. Outra característica que a difere das demais técnicas de eletroterapia é o limiar que ela atinge. Sua estimulação é considerada subsensorial, uma vez que não chega a atingir as fibras sensoriais subcutâneas. Dessa maneira, o cliente não terá sensações de formigamento, as quais geralmente estão associadas aos procedimentos de eletroterapia. A baixa frequência é uma das principais características da técnica de mi- crocorrentes. No seu funcionamento, a microcorrente atua em uma intensidade extremamente baixa, com menor quantidade de corrente elétrica chegando aos tecidos corporais. Por isso, ela praticamente se liga aos potenciais elétricos naturais existentes nas células do tecido, sendo uma corrente considerada compatível com o campo eletromagnético do corpo humano (MUNDO, 2015; BORGES, [200-?]). Os equipamentos de microcorrentes podem usar correntes contínuas, alternadas, em pulsos ou não, com uma gama de formas de onda. De acordo com o fabricante, a microcorrentes pode apresentar diferentes formatos de ondas, conforme mostrado no Quadro 1. Descrição das ondas Formatos possíveis das ondas de microcorrentes Formas de ondas individuais com características de pulsos monofásicos retangulares. Nesse caso, há reversão periódica de polaridade. Forma de pulso em rampa de amplitude automática para a série de pulsos distribuídos. Quadro 1. Formatos possíveis das ondas na técnica de microcorrentes (Continua) Microcorrentes2 Fonte: Adaptado de Borges [200-?], p. 58). Descrição das ondas Formatos possíveis das ondas de microcorrentes Formato de pulso retangular distribuído de forma monofásica. Corrente contínua em forma de trens de pulso, com intervalos entre eles. Quadro 1. Formatos possíveis das ondas na técnica de microcorrentes A intensidade da microcorrentes pode ser controlada na faixa de 10 a 1000 microampères, enquanto a frequência é controlada na faixa de 0,5 Hz a 900Hz. A duração de pulso da técnica de microcorrentes é maior quando comparada a outras modalidades de eletroterapia. O uso da técnica de microcorrentes é bastante antigo. Os primeiros relatos são de 1925, quando se utilizaram pela primeira vez folhas douradas carregadas eletricamente para prevenir cicatrizes decorrentes da varíola. Em 1977, verificou-se que a microcorrente era capaz de aumentar a velocidade de cicatrização de fraturas ósseas. Em 1982, iniciaram- -se os estudos que mais tarde elucidariam o mecanismo de ação das microcorrentes por meio do aumento na síntese de proteína e também do aumento no transporte através da membrana celular, além de outros efeitos intracelulares. Em 1983, estudos mostraram aumento na síntese de colágeno da derme e da epi- derme com uso de microcorrentes. Em 1993, surgiram os primeiros estudos mostrando efeitos positivos do uso das microcorrentes na terapêutica antitumoral, e no ano seguinte surgiram resultados efetivos na redução de massa tumoral em lesões cutâneas de melanoma humano, e provável diminuição de metástases (BORGES, [200-?]). (Continuação) 3Microcorrentes Mecanismo de ação A técnica de microcorrentes tem ação profunda nos tecidos, podendo chegar a atingir tecido cutâneo, subcutâneo e muscular (BORGES, [200-?]). O me- canismo de ação da microcorrentes ocorre por inúmeras maneiras, mas seu principal mecanismo de ação se dá pela atuação direta sobre as células do tecido, induzindo efeitos semelhante aos mecanismos naturais dos tecidos. Sua principal ação sobre os tecidos é a capacidade de aumentar a síntese de moléculas de ATP (adenosina trifosfato) em até 500% da síntese natural no local de aplicação. O ATP refere-se à molécula de adenosina trifosfato, considerada a principal forma de energia química das células, sendo uma molécula fundamental para o metabolismo celular, pois é responsável pelas atividades essenciais das células. As moléculas de ATP são ainda necessárias para realizar a manutenção da homeostase celular, permitindo assim a realização de diversos processos quí- micos celulares responsáveis pelo funcionamento celular (SANTOS, [201-?]). Na presença de uma lesão em algum tecido do corpo humano, a quantidade de ATP produzida no local é reduzida pela lesão celular que gera aumento da resistência elétrica tecidual, interferindo de maneira negativa no funcio- namento celular. Além disso, na presença de uma lesão, o nosso organismo necessita de um grande aporte de energia, na forma de ATP, para gerar o mais rapidamente possível o processo de reparação tecidual, melhorando o aporte sanguíneo e possibilitando a movimentação de moléculas de sódio, potássio, magnésio e cálcio para o interior e o exterior celular, o que garante uma cicatrização tecidual. A aplicação da corrente elétrica no tecido lesado restabelece a eletricidade normal das células, normalizando o transporte de íons e o seu potencial elétrico, e permitindo que o tecido lesado tenha condições de restabelecer a produção de ATP a níveis normais. A partir do momento que as células possuem maior aporte de ATP dis- ponível, elas desempenham suas funções de maneira mais rápida e efetiva. Uma das consequências do maior aporte de ATP é o aumento no transporte de moléculas de aminoácidos, pois estes necessitam de ATP para o transporte, pois são moléculas consideradas grandes e sua movimentação ocorre por meio do transporte ativo, que consegue uma quantidade de ATP. Os aminoácidos são a matéria-prima utilizada para síntese de proteínas como o colágeno e a elastina, por isso sua grande importância. Dessa maneira, a técnica de microcorrentes, quando aplicada aos tecidos com algum tipo de lesão, gera como efeito inicial um aumento na produção de Microcorrentes4 ATP e desencadeia uma série de efeitos fisiológicos e terapêuticos secundários ao maior aporte de ATP nas células. Técnica de aplicação A técnica de aplicação da microcorrentes pode ser realizada de duas maneiras principais, automática ou manual, também chamada de dinâmica, de acordo com as características do cliente e também com os objetivos de tratamento. Na utilização da aplicação automática, ocorre a colocação de eletrodos fixos aderidos à pele em pontos específicos de acordo com os objetivos de tratamento. Para essa modalidade de tratamento, utilizam-seeletrodos convencionais da eletroterapia, de borracha, silicone ou autoadesivos A técnica de aplicação manual consiste em uma aplicação dinâmica, na qual o profissional realiza a movimentação dos eletrodos na pele do cliente. Nesse caso, utilizam-se eletrodos que não serão fixados na pele do cliente, mas, sim, aqueles tipo sonda, chamados de bastonetes ou cotonetes. Nos eletrodos tipo sonda, utilizados na modalidade manual, a movimen- tação deles pode ocorrer de três maneiras de acordo com os objetivos de tratamento. Para tratamentos que objetivem aumento da circulação sanguínea, as manobras com os eletrodos tipo sonda devem ser suaves, lentas e com pressão leve. Em tratamentos que objetivem redução de edema, as manobras também são realizadas com pressão leve, mas ligeiramente mais rápidas do que na técnica anterior e sempre no sentido do fluxo linfático pelo organismo, de distal para proximal. Por fim, nos tratamentos em que se objetive aumento da síntese de elastina e colágeno, os movimentos dos eletrodos devem ser de vaivém, afastando sem pressão e aproximando com uma pressão média, como se objetivasse "beliscar" a pele de modo a gerar hiperemia no local e estímulo mais intenso quando comparado à primeira técnica de aplicação desses eletrodos tipo sonda. Como nessa modalidade de aplicação os eletrodos não são fixos e precisam ser movimentados pelo profissional, a técnica de movimentação deles deve ocorrer no formato de “X”. Nesse caso, um eletrodo é posicionado em uma extremidade da área alvo enquanto o outro é colocado na outra extremidade; no segundo pulso do equipamento, os eletrodos se invertem até o final do tratamento, de modo que os eletrodos tipo sonda vão sendo posicionados ao redor da região de tratamento de maneira alternada (BORGES, [200-?]). Além desses dois tipos de eletrodos encontrados mais comumente, ainda é possível encontrar no mercado empresas que disponibilizam equipamentos com eletrodos específicos, com outros formatos e objetivos de tratamento. 5Microcorrentes Alguns equipamentos de microcorrentes permitem o uso de outras opções de eletrodos além dos fixos e dos tipo sonda, possibilitando o uso de eletrodos tipo luvas, máscaras, pregadores auriculares, entre outros, de acordo com os objetivos de tratamento. Na preparação do cliente, é importante que o cliente esteja hidratado para a aplicação da corrente, para tanto, o profissional pode solicitar ao cliente que ingira bastante água, principalmente 1 hora antes da aplicação. Além disso, o profissional deverá higienizar a pele do cliente antes da aplicação para retirar quaisquer sujeiras da pele e resíduos de poluição ou de cosméticos. Além disso, quanto mais hidratado estiver o tecido, menor é a resistência à passagem da corrente; para tanto, é importante tratar a pele seca do cliente antes da aplicação da corrente. Pode-se fazer uso de técnicas de esfoliação antes da aplicação da corrente de modo a reduzir a impedância dessa (RO- DRIGUES, [2015?]). Parâmetros Os parâmetros da utilização da técnica de microcorrentes variam de acordo com o objetivo, local e método de aplicação. O tempo de aplicação da técnica de microcorrentes pode variar de 1 a 30 minutos, dependendo dos objetivos almejados e da área de aplicação. Podem ser objetivados efeitos de normali- zação da pele, nutrição ou estimulação, sendo que cada um desses objetivos vai necessitar de parâmetros específicos de aplicação. Algumas disfunções se beneficiam dos três efeitos, enquanto em outras se realiza apenas a nor- malização da pele. A frequência a ser utilizada varia de 0,3 Hz a 500 Hz. Utilizam-se fre- quências consideradas baixas, se forem menores que 1 Hz para tratamentos que visem à penetração mais profunda, como para tratamento de cicatrizes. Frequências médias, entre 10 e 900 Hz, são utilizadas em tratamentos que visem a efeitos analgésicos e bactericidas, enquanto frequências mais baixas são indicadas para tratamentos com finalidade de atuação em tecido muscular e reparação de fraturas. O Quadro 2 mostra a aplicação de diferentes frequências de acordo com o plano de atuação. Microcorrentes6 Fonte: Adaptado de Rodrigues ([2015?]). Frequência Plano de atuação 0,1 Hz Reparação óssea 0,5–50 Hz Muscular 100–150 Hz Tecido subcutâneo 200–250 Hz Derme reticular 300 Hz Derma papilar 500 Hz Epiderme Quadro 2. Parâmetros de frequência de microcorrentes Quanto menor a frequência utilizada, maior é a penetração da corrente nos tecidos. A intensidade da corrente a ser utilizada pode variar de 10 a 990 mi- croampères (µA) de acordo com o objetivo da aplicação. Para normalizar a bioeletricidade tecidual, usam-se intensidades de 0,3 a 0,6 Hz e 500 µA; para tonificação, utiliza-se 100 Hz e 300 µA; para tratamentos que visem incrementar a nutrição tecidual, a intensidade deve ser entre 150 Hz e 200 µA; para finalidade de analgesia, em torno de 180 µA; para aumentar o reparo tecidual, usam-se intensidades na faixa de 75 a 100 µA; para tratamento de feridas dérmicas, indica-se a intensidade média de 50 µA; para tratamentos que busquem intensificar o processo de cicatrização, utiliza-se 80 µA; apli- cações com finalidade anti-inflamatória, 500 a 600 µA e 80 a 100 Hz, e para relaxamento muscular, intensidade de 100 a 500 µA. O Quadro 3 traz as faixas de intensidade aplicadas a diferentes objetivos. No uso de correntes contínuas, quando a polaridade aplicada ao tecido é fixa, faz-se o uso de dois eletrodos tendo uma diferenciação de efeitos de acordo 7Microcorrentes com o polo do eletrodo ativo, positivo ou negativo. Nesse caso, o profissional pode selecionar a polaridade de acordo com o objetivo de tratamento. No geral, a polaridade negativa é usada para aumento da circulação sanguínea local, elevando a quantidade de células locais e promovendo efeitos antimicrobianos, enquanto o polo positivo possibilita vasoconstrição local e analgesia, atuando nos quadros de dor (PRENTICE, 2014). No uso de correntes alternadas, os polos oscilam, mudando a cada intervalo de tempo, gerando efeitos positivos e negativos no local de aplicação, sendo que seu uso parece reiniciar o processo de reparo de lesões nos tecidos. Além disso, os equipamentos que utilizam correntes alternadas, em que a troca de polaridade acontece a cada 2 ou 4 segundos, parecem gerar uma estimulação mais eficaz, uma vez que, dessa maneira, as células selecionam a polaridade desejada (CARDOSO, 2012). Nas situações de processo inflamatório, pós- -operatório de cirurgias plásticas, feridas, pós-peeling e para rejuvenescimento, indica-se o uso de correntes alternadas com inversão automática da polaridade (GUIDI, [2016?]). No que se refere a frequência utilizada na microcorrentes é possível encontrar divergência na literatura. Agne (2009) cita que existem diversos protocolos não embasados que utilizam frequências na faixa de 150 Hz, entretanto, por se tratar de uma corrente que deve agir na mesma frequência que a corrente endógena, a frequência ideal seria de aproximadamente 5 Hz. Por outro lado, Borges (2010) explica que os modelos de aparelhos fabricados apresentam frequências que variam de 0.5 Hz até 1000 Hz e que existem resultados positivos utilizando frequências superiores à 5 Hz. Para o tratamento de desordens cutâneas recomenda-se, segundo as informações disponíveis no manual do equipamento Stimulus Face da HTM Eletrônica (acesso em fevereiro de 2020), frequências que variam de 100 Hz (para reparação tecidual superficial) até 600 Hz (para reparação tecidual profunda). Em outra fonte, o autor cita que para a melhora do tecido inflamado deve ser empregada uma frequência de no máximo 100 Hz (BORGES, 2010). Já para o tratamento de adiposidade localizada, Garcia, Garcia e Borges (2006) demonstraram efeitos lipolíticos da microcorrentes ao utilizarem, com agulhas, uma frequência de 30 Hz e intensidade variável (não ultrapassando 900 μA). Vale ressaltar que, em uma mesma sessão de tratamento, pode-se:norma- lizar a pele e posteriormente estimular. Além disso, pode-se ainda realizar apenas uma das ações de acordo com a disfunção que se trata. Microcorrentes8 9Microcorrentes Conforme apontam os dados de Naclerio e colaboradores (2019), a aplicação de microcorrentes diariamente por 3h promove efeitos positivos na musculatura, quando utilizados em uma frequência de 1.0309 kHz e intensidade que variava de 50 até 400 μA. Por outro lado, o trabalho de Curtis et al. (2010) apresentou efeitos positivos na musculatura após treino com frequências mais baixas (de 62 Hz até 191 Hz). Outro estudou demonstrou que dores originadas por desordens temporomandibulares apresentaram uma redução estatisticamente significativa após a aplicação de microcorrentes com frequência de 0.5 Hz e intensidade de 1000 μA (SARANYA et al., 2019). Por fim, Borges (2010) explica em sua obra que para a microcorrentes atuar sobre a estrutura óssea são necessárias frequências superiores à 600 Hz para minimizar a impedância tecidual e permitir a entrega da corrente na região de interesse. Com base nas informações encontradas na literatura, é possível observar que existe uma grande variedade de frequências que podem ser empregadas, cabendo ao profissional (1) avaliar corrente o local que pretende aplicar a técnica e (2) conhecer o equipamento que irá manusear. Precauções no uso de microcorrentes Alguns cuidados são essenciais no uso da técnica de microcorrentes de modo a garantir a efetividade do tratamento e também segurança para o profissional e o cliente. Entre as precauções, a higiene dos eletrodos é um item importante e deve ser realizada com uso de álcool 70% sempre que for utilizá-los de um cliente para outro. A limpeza da pele do cliente também deve ser realizada antes da aplicação, removendo quaisquer sujeiras ou resíduos de cosméticos. Quanto aos movimentos dos eletrodos, é importante que o profissional evite retirá-los da pele do cliente para trocar de posição, preferindo apenas passar para outro local mantendo o contato com a pele. Essa informação é importante, pois, ao retirar um eletrodo de microcorrentes do contato com a pele, ele demora em média 11 segundos para retomar seu funcionamento, o que não ocorre ao deslizar o eletrodo sobre a pele. No caso de clientes com peles muito espessas ou desidratadas, a resistência à passagem de corrente elétrica é aumentada de modo que menos corrente chega até os tecidos profundos. Nessas situações, faz-se necessário realizar uma hidratação prévia dessa pele para melhorar a condução da corrente por esses tecidos (MUNDO, 2015). Além dessas precauções, é importante salientar outras informações acerca do uso da técnica de microcorrentes, já que ela não faz permeação de ativos cosméticos na pele. Clientes que apresentem tendência à cicatrização inestética, como queloides ou cicatrizes hipertróficas, não devem ser submetidos à técnica de microcor- rentes com fins de estimulação sobre a cicatriz, pois nesse caso pode haver aumento do tecido cicatricial na região de maneira irregular. Além disso, o cliente não deve sentir desconforto ou formigamento; na presença desses sintomas, reduza a intensidade da corrente, pois a ação deve ser apenas subsen- sorial. Vale ressaltar que a microcorrentes não promove contração muscular, mesmo que seus efeitos atinjam o tecido muscular, já que o objetivo dela não é gerar contração do músculo MUNDO, 2015). A aplicação da microcorrentes é associada a inúmeros tratamentos faciais e corporais, entretanto, deve-se evitar associar esse tratamento com toxina botulínica, uma vez que, enquanto o Botox relaxa a musculatura, a microcor- rentes tem efeito contrário, não devendo ser aplicada em regiões submetidas a tratamentos com toxina botulínica (IFOULD; FORSYTHE-CONROY; WHITTAKER, 2015). Contraindicações ao uso de microcorrentes Existem algumas situações em que o uso de microcorrentes deve ser evitado, como clientes com irritação à corrente elétrica, gestantes, aplicação sobre área cardíaca, clientes portadores de marca-passo cardíaco, clientes com diagnóstico de neoplasia, disfunções da tireoide descompensadas, cardiopatas, clientes em tratamento com medicamentos anticoagulantes, presença de próteses metálicas no local de aplicação e clientes que apresentem disfunções de sensibilidade (MUNDO, 2015; BORGES, [200-?]). Efeitos fisiológicos e terapêuticos da técnica de microcorrentes A aplicação da técnica de microcorrentes promove alterações nos tecidos corporais, as quais podem ser utilizadas com finalidade terapêutica, no trata- mento ou na prevenção de disfunções estéticas faciais, corporais ou capilares. Microcorrentes10 Efeitos fisiológicos Os efeitos fisiológicos da microcorrentes são descritos como: restabelecimento da bioeletricidade dos tecidos corporais após lesão tecidual, síntese de ATP, transporte ativo de aminoácidos, síntese de proteínas, aumento do transporte de membranas e ação sobre o sistema linfático (BORGES, [200-?]). Restabelecimento da bioeletricidade dos tecidos corporais após lesão tecidual — Sabe-se que, quando um tecido corporal sofre algum dano em suas estruturas causando um trauma, há uma alteração local no potencial elétrico das células desse tecido, fazendo com que haja maior resistência na região lesada e ao seu redor, de modo que se formam cargas carregadas positivamente que elevam a diferença de potencial elétrico existente naturalmente no tecido prévio à lesão. Essa alteração faz com que as membranas tornem-se menos permeáveis a íons e a área fique mais isolada eletricamente, uma vez que a bioeletricidade sempre busca caminhos alternativos de menor resistência. Desse modo, isso resulta na diminuição da condutância elétrica na área da lesão, pois a corrente elétrica evita passar por ela. Isso faz com que a menor circulação sobre o tecido lesado reduza a velocidade de cicatrização da lesão. Além disso, esse efeito faz com que os vasos sanguíneos menores das artérias, 11Microcorrentes chamadas de arteríolas, sofram constrição, reduzindo ainda mais a circulação local. Dessa maneira, resumidamente, a lesão no tecido altera a polaridade do potencial elétrico, fazendo com que os vasos capilares fiquem menos perme-áveis e reduzam o fluxo de células e íons carregados, os quais são essenciais no local da lesão para acelerar o processo de cicatrização. Com a aplicação da técnica de microcorrentes, ocorre uma reação elétrica local que desencadeia alterações químicas, fazendo com que a resistência do tecido lesionado seja reduzida e a diferença de potencial local normalizada de modo que o tecido seja capaz de recuperar seu funcionamento natural, atuando diretamente no auxílio ao processo de cicatrização local. A técnica de microcorrentes é projetada para similar e ampliar os sinais elétricos existentes nos tecidos corporais, de modo que criam uma corrente elétrica artificial para compensar a diminuição da corrente elétrica existente num tecido lesionado, a qual se encontra reduzida, fazendo com que o corpo possua maior capacidade de transportar nutrientes para a área afetada e consiga restaurar a homeostase do tecido. Homeostase é a condição relativa de equilíbrio da qual o organismo necessita para realizar suas funções de maneira adequada para o bom funcionamento do organismo. Síntese de ATP — Como visto anteriormente, a síntese de ATP é o que garante energia para a célula manter suas atividades biológicas. Quando se aplicam microcorrentes a uma célula, essa formação de ATP é aumentada, uma vez que a microcorrentes age sobre elas, induzindo maior produção. Esse processo ocorre da seguinte maneira: com a eletroestimulação elétrica, os elétrons reagem com as moléculas de água pelo lado catódico para produzir íons hidróxilos (-OH), enquanto, no lado anódico, prótons (H+) são formados, o que ocorre por diferenças no gradiente de concentração. Assim, entre a interface anódica e catódica, um gradiente de prótons e um gradientepotencial atravessam o tecido e o meio é criado. Em decorrência disso, os prótons, como estão sobre a influência do campo elétrico, movem-se do anodo para o catodo até atingirem a membrana Microcorrentes12 mitocondrial, onde entram na mitocôndria e as moléculas de ATP são formadas, sendo que a técnica de microcorrentes pode levar a um aumento na produção de ATP na célula de até 500%. Veja no link uma animação que mostra como ocorre a produção de ATP dentro de uma mitocôndria, uma das organelas celulares (SÍNTESE, 2011): https://goo.gl/HvUv2F Dessa maneira, a microcorrentes atua aumentando a velocidade de movi- mentação desses íons, agilizando o processo de formação de ATP dentro da célula. A presença de maior quantidade de adenosina trifosfato (ATP) é um fator essencial no processo de cura, uma vez que, quanto maior a concentração de ATP, maior a energia celular disponível para desempenhar as funções fisiológicas. Vale ressaltar que a produção de ATP é reduzida quando o tecido encontra-se lesado, caso em que a aplicação da microcorrentes terá por objetivo restaurar a produção de ATP necessária para a cicatrização tecidual, uma vez que os nutrientes poderão fluir novamente para a área lesada. Como com a aplicação da microcorrentes ocorre o restabelecimento na produção de ATP, os nutrientes podem novamente fluir para dentro das célu- las lesionadas e os resíduos dos produtos metabólicos podem fluir para fora das células. Isso é primordial para o desenvolvimento da saúde dos tecidos humanos (BORGES, [200-?]). Transporte ativo de aminoácidos — Os aminoácidos são moléculas neces- sárias ao metabolismo dos tecidos e possuem estruturas maiores, fazendo com que não sofram difusão através dos tecidos na maioria das vezes. Dessa maneira, eles necessitam de outro meio de transporte, o transporte ativo. Esse mecanismo de transporte celular depende diretamente da quantidade de ATP disponível, e, à medida que a concentração de ATP aumenta, a velocidade do transporte de aminoácidos para as células aumenta gradativamente. 13Microcorrentes Nesse caso, a microcorrentes aumenta a síntese de ATP nos tecidos e, como consequência, aumenta o aporte de ATP para o transporte ativo das moléculas de aminoácidos, essenciais para o metabolismo celular na produção de proteínas. Síntese de proteínas — A síntese de proteínas é aumentada nos tecidos cor- porais com a aplicação da microcorrentes. Isso ocorre por causa do aumento na produção de ATP e consequentemente aumento no transporte de aminoá- cidos que servem de matéria-prima para a produção de proteínas. Com maior disponibilidade de aminoácidos, as células melhoram seu funcionamento e produzem maior quantidade de proteínas. Não obstante, a aplicação da micro- correntes ainda aumenta o transporte de íons para os tecidos, e esses efeitos combinados são essenciais para a produção de proteínas e tecidos saudáveis. Aumento do transporte de membranas — Assim como o aumento na dispo- nibilidade de ATP para as células gera aumento do transporte de aminoácidos e síntese de proteínas, ela gera ainda aumento no transporte entre membranas celulares, pois, além dos aminoácidos, outras moléculas do organismo necessi- tam de ATP para serem beneficiadas com o transporte ativo. À medida que se dispõe de quantidades aumentadas de ATP, esse mecanismo é incrementado e cria condições de melhor nutrição das células, garantindo um ambiente celular com condições ótimas de funcionamento. Ação sobre o sistema linfático — A ação da microcorrentes sobre o sistema linfático auxilia na redução do edema dos tecidos, uma vez que induz a movi- mentação das proteínas que se encontram nos tecidos corporais lesionados em direção ao interior dos vasos linfáticos. Conforme há aumento na concentração de proteínas plasmáticas no interior dos vasos linfáticos, há redução dos líquidos nos espaços intersticiais, uma vez que esses líquidos tendem a entrar nos vasos linfáticos pela presença das proteínas e assim retornar ao sistema sanguíneo. Os efeitos sobre os sistemas linfáticos podem ser obtidos com a aplicação de micro- correntes por meio de correntes contínuas ou alternadas; mesmo acreditando-se que a primeira modalidade é a que produz efeitos maiores, existem protocolos utilizando a modalidade alternada. Microcorrentes14 Efeitos terapêuticos Os efeitos esperados em âmbito terapêutico da aplicação da alta frequência são: analgesia, aceleração do processo de reparo tecidual, aumento da osteogênese, efeitos anti-inflamatórios e bactericidas e redução de casos de edema. Analgesia — A microcorrentes, quando aplicada aos tecidos corporais, equi- libra e restaura a eletrofisiologia dos tecidos e de células traumatizadas, e age sobre os receptores de dor existentes nos tecidos, chamados de nociceptores, reduzindo a mensagem nociceptiva (mensagem de dor) enviada ao sistema ner- voso central, consequentemente, quadros de dor (ALVES NETO et al., 2009). Aceleração do processo de reparo tecidual — O processo de cicatrização ou reparo tecidual é aumentando com a aplicação da técnica de microcor- rentes. Isso se deve a inúmeros fatores nos quais a microcorrentes é capaz de atuar de modo a propiciar o efeito de cicatrização aumentado. Um dos motivos pelos quais esse efeito ocorre é o aumento na produção de células do tecido conjuntivo de modo que, com maior número de células, a produção de colágeno é aumentada, sendo essencial para o processo de cicatrização, uma vez que o colágeno é parte essencial na formação de tecidos novos em locais de lesão, por exemplo. Além desse motivo, a microcorrentes age com efeitos antibacterianos, reduzindo assim riscos de infecções que poderiam retardar o processo cicatricial. Por último, a estimulação com uso de microcorrentes aumenta a quantidade de receptores de fator de crescimento nas células do local de lesão, aumentando ainda mais as condições favoráveis para formação do colágeno (BORGES, [200-?]). Aumento da osteogênese — A osteogênese refere-se ao processo de formação de tecido ósseo. Esse processo é aumentado com a aplicação da microcorrentes, pois, assim como esta é capaz de estimular alguns tipos celulares e aumentar a produção de substâncias essenciais, ela age também sobre as células ósseas, chamadas de osteoblastos, aumentando a síntese de matriz óssea e auxiliando no reparo de fraturas. Efeitos anti-inflamatórios e bactericidas — O uso de microcorrentes é valido para reduzir efeitos anti-inflamatórios locais e também atuar na morte e no controle de crescimento de bactérias. Para tanto, quando se objetivam efeitos bactericidas, utilizam-se microcorrentes com corrente contínua, e aplica-se o polo negativo sobre o tecido infectado. Já quando se objetivam 15Microcorrentes efeitos apenas anti-inflamatórios, de modo a acelerar a cicatrização e o reparo tecidual, aplica-se o polo positivo sobre o tecido. Pode-se, ainda, utilizar microcorrentes com correntes alternadas, visando aos dois efeitos em uma aplicação (BORGES, [200-?]). Redução de casos de edema — A redução nos casos de edema com a aplicação da microcorrentes se dá pela ação sobre o sistema linfático, estimulando-o. À medida que ela estimula esse sistema, ela pode auxiliar de maneira positiva em tratamentos que visem reduzir edemas nos tecidos (BORGES, [200-?]). Indicações do uso de microcorrentes As indicações do uso dessa técnica se baseiam nos efeitos fisiológicos e te- rapêuticos que a corrente é capaz de produzir nos tecidos corporais, sendo indicada para uma variedade de disfunções estéticas. Citam-se, por exemplo: tratamento de acne, tratamentos de revitalização cutânea, tratamento e pre- venção de casos de edema, pré e pós-operatório de cirurgias plásticas, estrias, fibroedema geloide (celulite), cicatrizes, feridas, síndromes dolorosas, após tratamento com peeling, tratamento de hipercromia periorbitária e tratamento de alopecias (BORGES, [200-?]). Aplicabilidade da técnica de microcorrentes na áreada estética Considerando os inúmeros benefícios em âmbitos fisiológico e terapêutico que a microcorrentes é capaz de produzir no organismo, inúmeras disfunções podem ser beneficiadas de maneira conjunta com outros tratamentos ou até mesmo em tratamentos únicos com uso da microcorrentes. Tratamento de acne A acne é uma disfunção dermatológica que afeta a unidade pilossebácea da pele, principalmente na região da face e das costas, e se caracteriza pelo acúmulo de sebo e células mortas, gerando obstruções na pele que podem estar associadas a processo inflamatório ou infeccioso (FASSHEBER, 2018). A aplicação da microcorrentes aos casos de acne visa produzir efeitos anti-- inflamatórios, cicatrizantes, bactericidas e antiedematosos na pele do cliente. Para tanto, pode-se utilizar a técnica a fim de normalizar o potencial elétrico Microcorrentes16 das células e tonificar o tecido (BORGES, [200-?]). Os parâmetros utilizados na aplicação da microcorrentes no tratamento da acne podem ser visualizados no Quadro 3, incluindo o objetivo, a frequência da corrente, a intensidade e tempo médio de aplicação. No uso de microcorrentes com correntes contínuas, indica-se o uso da polaridade negativa no tratamento da acne, uma vez que ela possui ação bac-tericida e cicatrizante, atuando diretamente na acne (ACNE , [201-?]). Quanto aos parâmetros no tratamento de acne, pode-se fazer uso de frequência de 150 Hz e uma intensidade de 150 Hz. No uso de correntes contínuas, usa-se a polaridade negativa com finalidade antimicrobiana. polaridade negativa no tratamento da acne, uma vez que ela possui ação bac- tericida e cicatrizante, atuando diretamente na acne (ACNE , [201-?]). Quanto aos parâmetros no tratamento de acne, pode-se fazer uso de frequência de 150 Hz e uma intensidade de 150 Hz. No uso de correntes contínuas, usa-se a polaridade negativa com finalidade antimicrobiana. Tratamentos de revitalização cutânea e antienvelhecimento Os tratamentos para revitalização cutânea e na prevenção dos efeitos do envelhecimento podem ser empregados com objetivos de prevenir sinais decorrentes do processo de envelhecimento e também no tratamento desses sinais. Os efeitos esperados nos tecidos com a aplicação da microcorrentes são: o aumento do número de fibroblastos, células responsáveis pela síntese de colágeno, realinhamento das fibras colágenas, potencialização da circulação linfática e auxílio na redução do edema. Isso ocorre por causa da eliminação de metabolitos celulares, melhorando o transporte de aminoácidos e outras substâncias, e aumentando a síntese de colágeno e o restabelecimento da eletricidade tecidual. Além disso, outro efeito decorrente do envelhecimento é a flacidez exis- tente na face, decorrente da degradação fisiológica dos fibroblastos, que são responsáveis pela formação de colágeno. Nesse caso, a microcorrentes pode e deve ser aplicada, uma vez que se buscam tratamentos que incentivem a síntese de colágeno, a renovação celular e a redução da flacidez (LOPES et al., 2017). Dessa maneira, a aplicação da microcorrentes promove uma revitalização tecidual, pois garante uma fonte extra de energia às células, disponível para os processos metabólicos celulares, por isso se torna uma das modalidades de tratamento contra o envelhecimento. Quanto ao momento de se usar a microcorrentes associada a tratamentos para revitalização cutânea, pode-se seguir os passos: inicialmente se realiza a limpeza de pele com uso de agentes específicos, seguidos de uma esfoliação para remoção de células mortas e, em seguida, a aplicação da técnica de microcorrentes. Indica-se finalizar o procedimento com uso de filtro solar (COLTRO; CORDEIRO, 2017). 17Microcorrentes Uma queixa comum dos clientes que buscam tratamentos faciais para envelhecimento é o edema infrapalpebral. Nesses casos, a microcorrentes também pode ser aplicada, pois garante melhora na hidratação da pele na região, atenuando as linhas ocasionadas pela desidratação. Nesse caso, pode- -se fazer a aplicação na região com uso de eletrodos tipo sonda, por meio da técnica manual, realizando movimentos suaves com o eletrodo de deslizamento da área interna da pálpebra para o canto externo, no sentido dos linfonodos, com duração de aproximadamente 7 segundos e repetindo o movimento por aproximadamente 80 vezes (STOLF, 2017). Protocolo aplicado a peles desvitalizadas com intuito de melhorar a hidratação e a nutrição tecidual (GUIDI, [2016?]): Passo 1: higienização da pele com loção de limpeza. Passo 2: aplicação de alta frequência por 5 minutos. Passo 3: aplicação de loção tônica. Passo 4: aplicação de microcorrentes, com eletrodos tipo sonda, por 15 a 20 minutos com frequência de 100 Hz e intensidade de 500 μA com uso de gel condutor. Os movimentos dos eletrodos devem ser de deslizamento, do centro da face para a lateral e sempre contra a gravidade e no sentido do sistema linfático. Passo 5: aplicar máscara nutritiva. Passo 6: aplicar filtro solar. Tratamento de casos de edema A aplicação da técnica de microcorrentes destina-se a estimular o sistema linfático, auxiliando-o na redução de líquidos do espaço intersticial, reduzindo quadros de edema. Os edemas são disfunções estéticas que podem acometer diferentes áreas corporais e tornarem-se disfunções estéticas importantes. Além disso, algumas disfunções desencadeiam condições de edema por di- ferentes motivos, como repouso prolongado, procedimento cirúrgicos que lesam o sistema linfático, traumas e algumas doenças como o fibroedema geloide, na qual o sistema linfático encontra-se com redução das funções em alguns locais. Nos casos de edema, a técnica de microcorrentes tem atuação na bioeletricidade tecidual, sendo que, em relação às frequências, os melhores resultados estão em torno de 150 Hz, e a intensidade usual de até 500 µA. Microcorrentes18 Pré e pós-operatório de cirurgias plásticas A aplicação de microcorrentes em pós-operatório de cirurgias plásticas tem por finalidade ação cicatrizante, anti-inflamatória e antiedematosa (CAVAL- CANTE, [2016]), podendo ser aplicada com o objetivo de tratar o edema e a inflamação local decorrente do procedimento cirúrgico ou atuar no tratamento da cicatriz cirúrgica, acelerando a cicatrização, prevenindo e tratando a for- mação de cicatrizes inestéticas, como queloides e cicatrizes hipertróficas. No que se refere ao tratamento da cicatriz cirúrgica, pode-se fazer uso de frequência de 200 a 500 Hz para efeitos na derme e epiderme, respectivamente. Muitas vezes, algumas cirurgias plásticas podem cursar com formação de feridas dérmicas decorrentes de processo cicatricial incorreto; dessa maneira, pode-se fazer uso de frequências que atinjam a epiderme (500 Hz) com in- tensidade de 50 µA. Outra aplicabilidade da microcorrentes é no pós-operatório de abdomi- noplastias, procedimento cirúrgico que se destina à remoção de gordura localizada no abdômen, assim como pele flácida. Nesses casos, a micro- correntes atuará na aceleração da cicatriz devido a sua ação de reabaste- cimento do ATP, fator essencial no processo de cicatrização, agindo na capacitância elétrica da membrana celular e ainda reduzindo o edema local (CAVALCANTE, [2016]). Além disso, pode ser aplicada no pós-operatório com objetivos de redução de dor. Para tanto, utiliza-se sempre após 24 horas de pós-operatório no mínimo, com intensidade de 180 µA e frequência baixa de modo a atingir tecidos mais profundos e promover a analgesia local. No pré-operatório, o uso de microcorrentes pode ser indicado com o objetivo de melhorar a elasticidade e a nutrição da pele, bem como a cicatrização, e estimular a produção de colágeno. Para a aplicação com objetivo de normalização, faz-se uso de eletrodos de borracha. Usa-se a 100 Hz de frequência com 500 µA de intensidade por 30 minutos. O resultado esperado é a normalização da pele pós-cirúrgica e redução do edema. Na sequência, pode-se fazer a aplicação mudando-se a intensidadee a frequência de modo a atuar estimulando os tecidos, aumentando a síntese de colágeno; para tanto, utiliza-se a frequência 1 Hz e intensidade de 50 µA por 30 minutos (GUIDI, [2016?]). 19Microcorrentes Tratamento de estrias As estrias, disfunções estéticas que podem acometer diferentes regiões cor- porais, são caracterizadas por lesões lineares associadas à depressão da pele no local de acometimento. A aplicação da microcorrentes nas estrias objetiva o rearranjo das fibras colágenas e elastina e a produção de novas fibras destas, de modo a preencher os espaços que se encontram-se hipodesenvolvidos, formando nesse local um tecido novo, de modo a reduzir o aspecto inestético da estria. Sua aplicação visa à nutrição tecidual de modo a melhorar os as- pectos celulares, podendo ser realizada também associada ao eletrolifting no tratamento das estrias (LOPES et al., 2017). Utiliza-se frequência na faixa de 150 Hz, pois objetiva-se atingir a derme (local onde se encontram as fibras de colágeno e elastina), e com intensidade de aproximadamente 500 µA, pois o objetivo nesse caso é estimulação tecidual. Tratamento de fibroedema geloide (celulite) O fibroedema geloide é definido como uma disfunção estética que cursa com alterações no tecido conjuntivo, de natureza não inflamatória e com presença de infiltrados edematosos, podendo haver nódulos em alguns casos, o que gera um aspecto de casca de laranja na pele. As principais características dessa disfunção são o edema e o baixo metabolismo local, com presença de metabólicos aumentada na região. As áreas mais acometidas por essa disfunção localizam-se, em geral, na região de glúteos e pernas. No fibroedema geloide, a microcorrentes terá efeitos principalmente sobre o sistema linfático, atuando na redução do edema local e auxiliando na remoção dos metabolitos e na melhora da nutrição celular (MUNDO, 2015). Quanto aos parâmetros para uso da microcorrentes nos casos de FEG, pode- -se utilizar inicialmente com o objetivo de normalização da pele uma frequência de 0,3 a 0,6 Hz e intensidade de 500 µA por um período de 5 minutos. A seguir, pode-se fazer a tonificação dos tecidos com uso de frequências que variam de 10 a 50 Hz e intensidades de 80 a 100 µA por 10 minutos de aplicação. Tratamento de cicatrizes O processo de cicatrização é essencial para o fechamento de uma ferida, seja ela cirúrgica ou não. Vários fatores contribuem para que esse processo ocorra de maneira efetiva. O resultado de um processo de cicatrização que Microcorrentes20 ocorreu de maneira efetiva é a formação de uma cicatriz com características semelhantes ao tecido existente na região, com coloração e aspecto mais semelhantes possível. Entretanto, em algumas situações, o processo de cicatrização pode ocorrer de maneira irregular e gerar a formação de cicatrizes inestéticas, caso em que ocorre a deposição de colágeno de maneira irregular, formando cicatri- zes que possuem coloração e aspecto muito diferente do tecido natural de origem. Surgem então as cicatrizes chamadas de queloides ou as cicatrizes hipertróficas. A aplicação da microcorrentes no caso de cicatrizes hipertróficas e que- loides cria um estímulo que auxilia na oxigenação dos tecidos e nutrição, ativando os fibroblastos, além de aumentar a elasticidade do colágeno, de modo que sua síntese ocorra de maneira regular (FERES, 2013). No caso de utilização para tratamento de queloide e cicatriz hipertrófica, a intensidade indicada da terapia é de 750 µA e a frequência alta, 500 Hz, uma vez que deve atingir a epiderme. Tratamento de feridas cutâneas O tratamento de feridas vem sendo associado ao uso de microcorrentes decor- rentes de seus efeitos. Sabe-se que uma ferida possui um fluxo sanguíneo local reduzido. A aplicação de microcorrentes possibilita aumento na proliferação celular, migração de substâncias, motilidade e síntese de proteínas, que são essenciais para o fechamento de uma ferida. Além disso, atua sobre os recep- tores de fatores de crescimento, aumentando em número esses receptores e incrementando a síntese de colágeno, responsável pela formação de um tecido novo que vai “fechar a ferida”. Quanto aos parâmetros utilizados em feridas cutâneas, utiliza-se uma intensidade de 200 a 400 µA. Normalmente se indica o uso de corrente con- tínua, mas as alternadas também promovem efeitos. O tempo de tratamento nesse caso é maior que em outras modalidades, podendo chegar a duas horas, sendo necessário um intervalo mínimo de 4 horas após a aplicação. Pode-se fazer uso de duas a três aplicações diárias. No uso de correntes contínuas, o eletrodo negativo deve ser posicionado na área da ferida pelos primeiros três dias, enquanto o eletrodo positivo pode permanecer a 25 cm de distância da lesão (PRENTICE, 2014). 21Microcorrentes Síndromes dolorosas Condições dolorosas podem ser resultados de procedimentos cirúrgicos ou de outras lesões aos tecidos corporais. O uso de microcorrentes nesse caso tem por objetivo reduzir o quadro de dor. Para tanto, faz-se uso de uma intensidade de aproximadamente 180 µA, e a frequência a ser utilizada dependerá das características da dor do cliente, utilizando frequências mais elevadas para dores de origem mais superficial e de frequências mais profundas quando as dores forem de origem muscular ou ósseas. Pós-tratamento com peeling O tratamento com peeling objetiva remover a camada externa da epiderme, chamada de camada córnea, e possibilitar regeneração tecidual. Entretanto, a retirada dessa camada da pele predispõe ao aparecimento de lesões infla- matórias locais, pois trata-se basicamente de um trauma induzido na pele. A microcorrentes pode ser associada a tratamentos no pós-peeling, buscando efeitos cicatrizantes, anti-inflamatórios e o restabelecimento da bioeletricidade tecidual. Para tanto, os parâmetros indicados com finalidade anti-inflamatória são: intensidade de 500 a 600 µA e frequência de 250 a 500 Hz, pois busca atingir derme e epiderme (RODRIGUES, [2015?]). Tratamento de hiperpigmentação periorbitária A hiperpigmentação periorbital, conhecida como “olheira”, é uma hipercromia da região periocular, observada mais em mulheres, sendo ocasionada por fatores fisiológicos e hereditários. A presença dessa hipercromia periorbitária causa um aspecto envelhecido precoce na região, associado à aparência de cansaço facial, constituindo uma queixa comum na área da estética. Nesses casos, pode-se fazer uso da microcorrentes com correntes con- tínuas, numa intensidade de 80 a 100 µA e frequência entre 100 e 200 Hz, objetivando aumentar a quantidade e a qualidade do colágeno sintetizado e também mobilizar a linfa, reduzindo quadros de edemas e consequente- mente atuando como coadjuvante no tratamento da hipercromia periorbitária (SILVA, 2017). Microcorrentes22 Tratamento de alopecias Existem inúmeros problemas que afetam o couro cabeludo e a haste capilar e causam disfunções capilares. Uma delas é a alopecia, que se caracteriza pela redução na quantidade de fios de cabelos, podendo apresentar inúmeras causas e tipologias. Essa redução significativa no número e na qualidade dos fios gera efeitos inestéticos, constituindo normalmente queixas dos clientes em estéticas. A microcorrentes pode ser utilizada em tratamento coadjuvante nas alo- pecias, pois age sobre o folículo capilar aumentando o metabolismo local e regenerando o folículo piloso. Nesse caso é indicado o uso de frequências aproximadas de 150 Hz e intensidade até 500 µA (ANDRADE, 2018). ACNE. Buona Vita, [201-?]. Disponível em: <https://buonavita.vteximg.com.br/arquivos/ Acne_Protocolo_de_tratamento_de_peles_acneicas_e_seborreicas.pdf>. Acesso em: 4 out. 2018. ANDRADE, G. et al. Métodos e técnicas de avaliação estética. Porto Alegre: SAGAH, 2018. 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