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1 Medicina Legal: Declaração de Óbito Definição É um documento médico-legal, portanto, uma simples afirmação, por escrito, de um fato médico e suas consequências. A declaração de óbito comprova a extinção da pessoa natural e o término da pessoa civil, o que representa sua finalidade legal. Dentre as finalidades médicas, destacam-se as sanitárias (permite a inumação do cadáver) e de vigilância epidemiológica-bioestatística. Atestado de óbito da declaração de óbito e certidão de óbito O atestado de óbito é um documento emitido por um médico, que atesta a morte de uma pessoa e indica a causa básica do falecimento; a declaração de óbito é preenchida por um médico, atestando a causa da morte e outras informações relevantes, como a identificação da pessoa falecida – documento essencial para iniciar o processo de registro do óbito no cartório civil. A certidão de óbito é o documento oficial emitido pela autoridade de registro civil (cartório), que confirma legalmente a morte de uma pessoa e fornece detalhes sobre o falecimento, incluindo a data, local e causa da morte. É um documento fundamental para questões legais, herança, seguros e outros processos relacionados ao falecimento de uma pessoa. Para que a certidão de óbito possa ser feita, é necessária uma declaração de óbito prévia. Em outras palavras, o atestado de óbito consiste somente nas 4 situações que levam a morte e mais 2 adicionais que podem ter contribuído para a morte de alguma forma. O atestado de óbito e declaração de óbito devem ser preenchidos somente pelo médico (obviamente pelo mesmo médico). O atestado de óbito possui responsabilidade ética (infrações no CRM), civil (processos pedindo dinheiro), criminal e trabalhista (o documento pode culpabilizar alguma empresa) no seu preenchimento e na emissão da declaração de óbito. Conceito de morte juridicamente Desaparecimento de todo sinal de vida em um momento qualquer depois do nascimento. Conceito de morte médico-legal Desaparecimento de todos os sinais de vida ou cessação das funções vitais sem a possibilidade de ressuscitar. Morte como um processo (tanatologia) Cessação do metabolismo de todas as células do organismo com sua consequente lise. Morte encefálica Para constatar a morte encefálica são necessários exames clínicos e complementares que variam de acordo com a faixa etária. Para aplicar o protocolo de avaliação, o processo deve ser irreversível e de causa conhecida. 2 ● Parâmetros clínicos Coma aperceptivo com ausência de atividade motora, supra-espinal e apnéia. ● Exames complementares Devem demonstrar, de forma inequívoca, uma das seguintes situações: ○ Ausência da atividade elétrica cerebral; ○ Ou ausência da atividade metabólica cerebral; ○ Ou ausência da perfusão sanguínea cerebral. Exclui-se: coma por hipotermia ou por depressores do SNC, crianças menores de 7 dias e prematuros. Fornecimento da Declaração de Óbito (DO) Deve ser feita em todos os óbitos, sejam de causa natural ou violenta (todas ações externas: homicídio, suicídio e acidentes). Crianças que nascem vivas e morrem logo depois, independentemente da duração da gestação, do peso do recém-nascido e do tempo que permanecem vivas, deverão receber certidão de nascimento e a DO. Se nasceu morto ou morreu ainda como feto, devemos fazer uma DO de óbito fetal se: ● A gestação é igual ou superior a 20 semanas ● Ou se o feto tem o peso igual ou superior a 500 gramas ● Ou se a estatura é igual ou superior a 25 centímetros. Nesses casos, a certidão de nascimento não deverá ser feita, apenas a DO – o natimorto é descartado como uma peça, como um braço que foi amputado. Como preencher o atestado de óbito (parte que contém só as doenças) Parte I Morbidades relacionadas diretamente com a morte, sendo preenchidas de “D”, a “A”, onde “A” é a última morbidade, que levou à morte logo em seguida. Nunca preencher a letra “A” com termos genéricos como “Parada Cardiorrespiratória” ou “Falência Múltipla de Órgãos”. Exemplo: A) Edema Agudo de Pulmão B) Insuficiência Cardíaca Congestiva C) Cardiopatia Hipertensiva D) Hipertensão Arterial Sistêmica Parte II Aquelas situações que não participaram diretamente da morte, mas contribuíram com o adoecimento de alguma forma. 3 Consequências de uma DO mal feita ● Falsidade ideológica (Artigo 299 do Código de Processo Penal) Quando alguém omite uma informação relevante em um documento público (DO é pública)/particular, ou descreve informações falsas ou diferentes das que deveriam estar lá, com o objetivo de prejudicar os direitos de alguém, criar obrigações falsas ou mudar a verdade sobre algo relevante legalmente, isso é chamado de "falsidade ideológica". A punição Se o documento for público (como a Declaração de Óbito), a pessoa pode ser condenada a ficar na prisão por 1 a 5 anos e pagar uma multa. Se o documento for particular, a pessoa pode ser condenada a ficar na prisão por 1 a 3 anos e pagar uma multa. Caso o autor (médico) seja um funcionário público: se a pessoa que cometeu esse crime for um funcionário público e usou seu cargo para fazer isso, ou se a falsificação ou alteração for relacionada a um registro civil (como nascimento ou casamento), a pena pode ser aumentada em um sexto. ● Falsificação de atestado médico Quando um médico, enquanto está exercendo a sua profissão, emite um atestado falso, isso é chamado de "falsificação de atestado médico". A punição Se o médico cometer esse crime, ele pode ser detido por um período de um mês a um ano. Em caso de intenção de lucro: se o médico cometeu esse crime com o objetivo de ganhar dinheiro, também pode ser multado. A declaração de óbito pode ser feita nas seguintes situações ● Morte natural 1. O paciente morreu no hospital sob os cuidados de um médico específico (chamado médico assistente). Esse médico assistente do falecido é responsável por preencher sua declaração de óbito. 2. Se o paciente decidiu descontinuar um tratamento e morrer em casa, o médico assistente que cuidava dele previamente é responsável pela sua declaração de óbito quando a morte acontecer, pois esse médico conhecia toda a evolução desse paciente. 3. Na ausência do médico assistente, o médico substituto ou plantonista será responsável por preencher a declaração de óbito caso um paciente que não era dele morrer, desde que haja documentação elucidando claramente a evolução desse paciente. A primeira função desse médico substituto é sempre deixar o paciente nu (na verdade, sempre que for emitir uma DO devemos deixar o paciente nu) e buscar por sinais de ação externa – devemos buscar por qualquer tipo de trauma, contusão, machucados que possam indicar a causa da morte. Se for comprovado que não há sinais de ação externa, isto é, se trata de morte natural, e houver 4 documentação descrevendo claramente a evolução do paciente, o médico substituto deverá preencher sua declaração de óbito. 4. Em contrapartida, se o médico substituto não possui nenhuma informação sobre um paciente: em primeiro lugar, deixar o paciente nu e examinar toda a superfície do corpo em busca de sinais de ação externa; se constatar que for morte natural e não há história prévia desse paciente, isto é, o médico substituto não tem capacidade de descobrir qual foi a causa de morte, deve-se encaminhar o corpo para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), pois os profissionais desse local são capacitados para diagnosticar e declarar o óbito de causas naturais. 5. Quando um paciente ambulatorial morre, isto é, um paciente que não tinha assistência médica. A prefeitura designará um médico dessa instituição; se o médico verificar que não há sinais de ação externa, ou seja, é causa natural, e consegue diagnosticar a causa da morte através de prontuários prévios, deve preencher a DO. Se não sabe do que se trata, encaminhar para o SVO. 6. Se um médico qualquer trabalha em um local que não possui SVO: o médico constata que se trata de morte natural, mas não sabe o que é. Deve preencher a DO e deixar explícito que “não há lesõesou sinais de traumas externos”, e preencher a causa da morte como “indeterminado”, pois não conseguiu fazer o diagnóstico e não existe SVO na região. 7. Se um médico qualquer trabalha em um local que não possui SVO, mas essa cidade possui convênio com uma outra cidade vizinha que possui SVO: ao constatar que se trata de morte natural e não for capaz de determinar o diagnóstico, encaminhar para o SVO da cidade vizinha. Nunca preencher a DO para “agilizar” ou “ajudar”. ● Morte violenta Suicídio, homicídio, acidentes e mortes suspeitas são casos que devem ser encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML). Se o médico encontrar sinais de ação externa ao despir o paciente, sempre encaminhar para o IML. Morte suspeita é aquela situação em que o médico encontra alguma lesão em um paciente que disseram ser “morte natural”, tornando essa afirmação duvidosa: sempre encaminhar para o IML. Outra situação que sempre vai para o IML: pacientes sem identificação, mesmo que seja causa natural, afinal o IML precisa fazer o reconhecimento de quem se trata essa pessoa, através de análises de DNA. Também serão encaminhados para o IML corpos em estado avançado de decomposição. Locais sem IML: um médico qualquer pode ser nomeado pelo delegado ou juiz como perito ad hoc para fornecer a declaração de óbito de um corpo, afinal a DO é necessária para a inumação. Nesse caso, o médico, mesmo que inexperiente, deve fazê-lo: deixar o corpo nu, procurar por sinais de ação externa. Se houver facadas, tiros, etc, sempre descrever onde esse ferimento foi feito. 5 Locais com IML: feito pelo perito legista, independentemente do tempo decorrido entre o evento lesivo e o óbito. Às vezes, o perito deve avaliar um corpo que já se decompôs completamente e sobraram só os ossos, ou mesmo um corpo mais recente, em estado de putrefação. Peças anatômicas retiradas por ato cirúrgico Deve ser feita uma declaração para serem incineradas ou descartadas pelo hospital. Pequenas peças podem ser incineradas no próprio hospital, ou entregues à coleta municipal. O mesmo se dá com restos placentários. Peças anatômicas retiradas por ato cirúrgico que serão sepultadas Fazer um relatório em papel timbrado com descrição do procedimento realizado, que será apresentado ao departamento administrativo do cemitério. Para recém-nascido com 450g que morreu minutos após o nascimento, deve-se ou não emitir a DO? Considera-se óbito fetal? Deve ser emitida a declaração de óbito sempre que há nascimento com vida, mesmo que seja por 1 minuto. Não considera-se óbito fetal, afinal, houve nascimento. O hospital também deve fornecer a Declaração de Nascido Vivo, para que a família promova o registro civil do nascimento e do óbito. Como proceder em casos de preenchimento incorreto da DO? Nunca rasurar. Riscar a folha inteira, escrever “ANULADA”. Nunca rasgar ou jogar na lixeira, pois é necessário devolver para a secretaria da saúde – trata-se de um documento numerado. O médico deve preencher outro documento desde o início. Se a declaração de óbito feita de forma errada já foi registrada em cartório, isto é, já foi feita a certidão de óbito, o médico responsável deve contratar um advogado para que ele compareça ao departamento ou órgão governamental que lida com os registros públicos e peça judicialmente ao juiz retificar a certidão de óbito. Nota: A "vara de registros públicos" é o local onde os registros oficiais, como nascimentos, casamentos e óbitos, são mantidos e atualizados. 6 Exemplo de atestado de óbito ● Nunca escrever a doença abreviada ● Sempre colocar o tempo aproximado entre o início da doença e morte ● Se há apenas duas doenças associadas a morte, começar pela letra B e terminar na letra A O médico pode cobrar honorários para emitir a DO? Não. Pode cobrar para avaliar o caso de um paciente que não era dele: “O ato médico de examinar e constatar o óbito, sim, poderá ser cobrado, desde que se trate de paciente particular, a quem o médico não vinha prestando assistência.”, porém não é recomendado. Que corpos vão para o SVO e quais vão para o IML? SVO: casos que o médico não sabe determinar a morte e são de causa natural. IML: causas externas como acidente, homicídio, suicídio, morte suspeita ou pessoa sem documentos. Quem decide se o corpo irá para o SVO ou para o IML? O médico assistente. Como se faz em locais em que não existe o SVO? O corpo vai para o IML? O médico avalia o corpo nu; ao constatar que se trata de morte natural, tenta esclarecer a causa do óbito. Se não conseguir, escrever “indeterminado” e “sem sinais de lesões ou trauma externo”. 7 Posso fornecer a Declaração de Óbito para paciente que sofreu acidente ou outra violência e morreu meses depois em decorrência de complicações? Exemplo: um indivíduo é atropelado e fica internado no hospital por meses, até que tem uma infecção hospitalar e morre. Não pode ser feita a DO nesses casos, pois a causa que iniciou o que levou a morte foi de ação externa, portanto é responsabilidade do IML. Quem fornece a Declaração de Óbito de Paciente internado, desconhecido, que morreu por causas naturais? O IML. Quando sou obrigado a fornecer a Declaração de Óbito? Quando você é o médico assistente e a morte for natural. E no caso do médico plantonista? Caso o médico assistente esteja ausente, o médico plantonista pode fornecer a DO se constatar que é uma morte natural e souber fazer o diagnóstico com base no exame do paciente nu e prontuários prévios. Quando sou obrigado a fornecer a Declaração de Óbito? Não. Quando sou obrigado a fornecer a Declaração de Óbito? Não. Médico do serviço público emite a DO para um paciente que morreu sem assistência médica. Posteriormente, por denúncia, surge suspeita de que se tratava de envenenamento. Quais as consequências legais e éticas para esse médico caso o envenenamento seja confirmado? Não há consequências, afinal o exame feito cuidadosamente por esse médico é da parte externa do corpo, com o corpo nu, constatando que se tratava de “causa indeterminada”. Como o médico não acompanhou o paciente e não recebeu informações sobre esta suspeita, não tendo, portanto, certeza da causa básica do óbito, deverá anotar, na variável causa, "óbito sem assistência médica". Mesmo se houver exumação e a denúncia de envenenamento vier a ser comprovada, o médico estará isento de responsabilidade perante a justiça se tiver anotado, na DO, no campo apropriado, "não há sinais externos de violência" (campo 59 da Declaração de Óbito vigente). Paciente chega ao pronto-socorro (PS) e, em seguida, tem parada cardíaca. Iniciadas manobras de ressuscitação, estas não tiveram sucesso. O médico é obrigado a fornecer DO? Como proceder com relação à causa da morte? Deve-se despir o paciente inicialmente e fazer um exame físico externo cuidadoso procurando por sinais de ação externa. Caso não haja sinais de violência, trata-se de morte natural. O próximo passo é tentar identificar qual a causa da morte. Se não conseguir, mandar para o SVO. Se há sinais de violência → IML. Se não há SVO → “causa indeterminada” e “sem sinais de violência”. 8 Feto, natimorto e recém-nascido: em que casos não é obrigatório o fornecimento da DO a esses pacientes? Apenas fetos ou nascidos mortos com menos de 20 semanas, menores que 25 cm e com menos de 500g. Diagnóstico de nascido vivo – se um desses é constatado, é considerado como ter nascido vivo: ● Movimentos respiratórios ● Movimentos musculares voluntários ● Batimentos cardíacos ● Pulsação de cordão umbilical Código de ética médica É vedado ao médico: Art. 11. Receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível, sem a devida identificação de seu número de registro no Conselho Regional de Medicina da sua jurisdição, bem como assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos médicos. É vedado ao médico: Art. 80. Expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade.Art. 81. Atestar como forma de obter vantagens. Art. 91. Deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente ou por seu representante legal. Sobre o artigo 91: se o médico não preencher a declaração que deveria preencher, isto é, nos casos que ele é o médico assistente e a morte for natural, há punição pelo CFM. É vedado ao médico: Art. 43. Participar do processo de diagnóstico da morte ou da decisão de suspender meios artificiais para prolongar a vida do possível doador, quando pertencente à equipe de transplante. Se o médico pertence à equipe de transplante, não pode participar do processo de constatação de morte encefálica. Art. 77. Prestar informações a empresas seguradoras sobre as circunstâncias da morte do paciente sob seus cuidados, além das contidas na declaração de óbito, salvo por expresso consentimento do seu representante legal. O médico assistente não pode fazer papel de médico perito ou auditor e não pode preencher papéis de seguradoras. 9 Art. 83. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer como plantonista, médico substituto ou em caso de necropsia e verificação médico-legal. Art. 84. Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta. LEMBRETE - CEM: É vedado ao Médico Art. 8º Afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus pacientes internados ou em estado grave. O médico só pode sair de férias se deixar um médico substituto por meio de um documento escrito e assinado, assim como informar a família do paciente sob seus cuidados.
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