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1 História da Língua Portuguesa Origem da língua portuguesa Profª. Dra. Juliana Fogaça Sanches Simm • Unidade de Ensino: 02 • Competência da Unidade: Conhecer os processos que culminaram na origem da língua portuguesa, considerando as relações do idioma com outras línguas. • Resumo: Estudo da difusão do latim na península ibérica; das diferenças entre o latim clássico e o latim vulgar; e dos fatores dialetais que agiram sobre a constituição do latim vulgar até a formação da língua portuguesa. • Palavras-chave: Latim clássico. Latim vulgar. Línguas românicas. Formação da língua portuguesa. • Título da teleaula: Origem da língua portuguesa • Teleaula n.º: 02 Contextualização • Como o latim se espalhou, contribuindo para a constituição de tantas outras línguas? • Como foi o processo de constituição das línguas? Quanto tempo durou? • Qual a língua que originou a língua portuguesa? • Quais os reflexos que temos, das mudanças ocorridas, em nossa língua atual? Latinização da Roma Antiga Cidade do Lácio - Itália Localização estratégica > domínio territorial ↓ Domínio de toda a Itália, pelos romanos (séc. III a.C.) Os exércitos romanos se espalharam, subjugaram povos por séculos e impuseram seus costumes e, evidentemente, sua língua: o latim vulgar. Fonte: ShutterStock Latinização da Roma Antiga Latim > língua falada na Itália antiga Enfraquecimento de todas as demais línguas do país. Fonte: ShutterStockOs romanos adotavam uma política bastante aberta para a época, pois impunham as leis romanas e exploravam economicamente os povos vencidos, por meio de impostos, mas permitiam que eles mantivessem suas tradições religiosas e sua língua materna, ao menos entre si. 1 2 3 4 5 6 2 Principal ator da latinização Exército romano Composto por soldados provenientes de diferentes províncias do Império, todos falantes do latim corrompido. Fonte: ShutterStock Ao mesmo tempo em que ensinava a sua língua e a sua pronúncia, o soldado romano aprendia a prosódia e a língua de seus companheiros, dando origem a um latim mesclado de dialetos afins. As línguas com as quais o latim entrou em contato por efeito das conquistas pertenciam a diferentes famílias linguísticas e, por isso, eram bastante diferentes entre si. Daí se explica a diferenciação entre elas, pois o latim falado pelos soldados misturou-se a esses idiomas e adquiriu, em diversas regiões, características diferentes. Latinização da Península Ibérica Península Ibérica Presença de diferentes grupos étnicos, de diferentes línguas ↓ mosaico linguístico ↓ origem do processo de formação das línguas atuais Fonte: ShutterStock Colonização da Península Ibérica Desenvolvimento de rede viária > mobilidade e integração (Galécia e Hispania) + Criação e o crescimento das cidades + Concessão de direitos e de cidadania romana + Influência do exército nos falares das classes baixas + Reorganização político administrativa Situação de diglossia Assimilação linguística ↓ Extinção de línguas locais As línguas faladas nesses territórios deixaram sua marca na língua dos dominadores. O povo local, ao adotar o latim, não o pronunciava tal como os romanos que o tinham como língua materna. Fonte: ShutterStock 7 8 9 10 11 12 3 Latinização da Península Ibérica Dois séculos foram necessários para a ocupação da chamada Ibéria, o que se deu em duas direções: Hispânia CiteriorHispânia Ulterior Resultou da invasão pelo norte, e foi onde surgiram o catalão e o espanhol. Resultou da invasão pelo sul e deu origem, mais tarde, ao galego e ao português. Latim clássico Caracterização do latim clássico Latim clássico ↓ Língua artificial, rígida (apuro do vocabulário, correção gramatical, elegância do estilo) Era de Ouro Era de Prata século I a.C. > século I d.C. século II d.C. Escrita do latim clássico Escrita latina > posterior ao uso da língua falada ↓ depreensão de fenômenos gramaticais a partir de escritos (discursos de Cícero e obras clássicas) Se os romanos detinham o poder de conquistar o mundo, deveriam possuir também um poder linguístico e uma literatura grandiosa e exemplar. Fonte: ShutterStock Caracterização do latim clássico Escrita posterior ao uso da língua falada. Textos literários + fenômenos gramaticais + padrão. Pessoas da elite escolarizada, poetas, filósofos e políticos. Latim vulgar 13 14 15 16 17 18 4 Caracterização do latim vulgar Latim vulgar ↓ língua falada pelas camadas populares, sem acesso à educação (do latim vulgus - povo) Enquanto o latim clássico se baseava na utilização de palavras em desuso, o latim popular refletia as transformações decorrentes de seu uso cotidiano. Escrita do latim vulgar Inscrições parietais Escritos feitos por populares em paredes, muros, monumentos e demais edifícios da época antiga. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pompeia-ViaAbundancia-propagandaElectoral-5445.jpg. Escrita do latim vulgar Tabuinhas execratórias Pequenas placas de chumbo, bronze, estanho, mármore, nas quais eram escritas fórmulas “mágicas” de encantamento ou de maldição. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pellatab.jpg. Caracterização do latim vulgar Falado pelo maioria da população – povo. Escrita rudimentar, sem acesso à educação formal. Refletia as transformações/variações ligadas ao uso. Exercício Exercício Material complementar (AVA) (Fonte: Castilho, 2010, p. 171) A partir do esquema apresentado por Castilho (2010), que compara as variedades do latim, estabeleça uma comparação entre as variedades do português. 19 20 21 22 23 24 5 Atividade de interação 1 Atividade de interação 1 Observe a imagem a seguir, que representa a bandeira do estado brasileiro de Minas Gerais: Você conhece outros exemplos atuais de uso de inscrições em latim? Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bandeira_de_Minas_Gerais.svg. Formação das línguas românicas Formação das línguas românicas • Ação dos substratos, isto é, das línguas nativas dos povos dominados pelos romanos. • À fase embrionária das línguas neolatinas ou românicas, dá-se o nome de romance. Cada uma das variedades surgidas da evolução do latim vulgar, falado pelas populações que ocupavam as diversas regiões da România. Substrato, superstrato, adstrato Substrato Língua de um povo que é abandonada em proveito de outra que a ela se impõe. Superstrato Língua de um povo conquistador, que a abandona para adotar a língua do povo vencido. Adstrato Toda língua que vigora ao lado de outra (bilinguismo), e que nela interfere. Bilinguismo Bilinguismo ↓ “Convivência” entre línguas Ilari (2004, p. 139) explica que é comum o superstrato conviver com a língua dos dominados, sendo por ela influenciada. Isso se deu, no latim, de três maneiras... Fonte: ShutterStock 25 26 27 28 29 30 6 1 2 3 Recebimento de alguns elementos das línguas dos vencidos que foram incorporados à estrutura do latim e difundidos em todo o mundo romano. Permanência dos substratos nos nomes de lugares (topônimos) e no vocabulário relativo à fauna, à flora e à cultura material. Aplicação ao latim dos hábitos linguísticos relativos à pronúncia, preferências vocabulares e sintáticas próprias de seus idiomas. Fatores de dialetação do latim vulgar Contato linguístico Primeiro Adoção, pelos povos bárbaros, das línguas dos dialetos falados nas regiões invadidas. Segundo Formações distintas dos dialetos modificados pelo substrato e pelo superstrato. Origem das diferentes línguas românicas Regiões em que já se falava o latim modificado Fatores de dialetação do latim vulgar Diferenciação cronológica Diversidade do substrato Quebra da unidade política Melo (1981) e outros estudiosos do romance e das línguas românicas apontam três fatores como fundamentais na dialetação do latim vulgar: Diversidade linguística Segundo Bassetto (2005), a diversidade dos falareslatinos vulgares pode ser explicada pela época em que a região foi latinizada, pelas distâncias em relação ao centro de disseminação e pela dificuldade de acesso e de comunicação. Assim, as regiões de colonização mais antigas apresentariam um latim mais arcaico, e as mais recentes, uma língua mais evoluída. Registros escritos Latim vulgar + novas variedades (romances) ↓ escassez de fontes escritas Os escritos da época eram em um latim eclesiástico, ou dos diplomas, das chancelarias, notarial, dos tabeliães etc., e mesmo nestes documentos podiam já ser encontrados muitos termos do romance, ainda mais numerosos que os do latim vulgar em textos literários. Fonte: ShutterStock 31 32 33 34 35 36 7 Criação do Reino de Portugal Invasões • No século V, bárbaros de origem germânica invadiram a Península Ibérica. • Em 711, um exército de árabes desembarcou em Gibraltar após conquistar o norte de África. Fonte: ShutterStock Permanência das populações locais mediante pagamento; tolerância a hábitos e à língua de cristãos e judeus, porém o árabe era a língua oficial. Palavras portuguesas de origem árabe Guerras Agricultura Comércio alcaide, alfanje, alferes, etc. alface, alfafa, algodão, etc. aduana, armazém, arroba, quilate, etc. Ofícios Instrumentos Ciências alfaiate, almoxarife, algibebe, etc. adufe, alaúde, arrabil, etc. álgebra, algoritmo, nadir, zênite, etc. Fonte: ShutterStock Criação do reino de Portugal • Em 1093, o rei de Leão e Castela entrega o governo da região do Porto a Henrique de Borgonha. • Após a morte do marido, Teresa tenta alargar os seus domínios e conseguir autonomia, aliando-se à alta nobreza galega contra Leão e Castela. • A oposição de seu filho, Afonso Henriques, originou uma revolta que foi vencida por ele em 1128. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Flag_of_Portugal_(1830).svg. Criação do reino de Portugal • Em 1139, após importante vitória contra um contingente mouro, Afonso Henriques conquista a cidade de Lisboa e, com o apoio das suas tropas, é aclamado rei de Portugal. • Em 1143, Leão e Castela reconhecem a independência portuguesa e, em 1147, Afonso I de Portugal conquista Lisboa. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Flag_of_Portugal_(1830).svg. Periodização do português 37 38 39 40 41 42 8 Periodização do português Português arcaico Português clássico Português moderno Português arcaico - 1100-1350/1385 Primeira fase: o Galego-Português • Primeiros documentos escritos: o Testamento de Afonso II (de 1214), a Notícia de Torto (datada entre 1211 e 1216) e a Notícia de Fiadores (de 1175). • A lírica trovadoresca galego-portuguesa. • Cantiga da Ribeirinha, datada de 1198, escrita por Paio Sores de Taveirós, é o primeiro texto literário. Português arcaico - 1350/1385-1540 Segunda fase: Português arcaico • A mudança da capital do Porto para Lisboa. • Mudanças linguísticas e diferenciação entre o galego- português e a língua portuguesa. • O fim desse período de consolidação da língua é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende, em 1516. Português clássico • O século XVI foi um século de preocupação com o estabelecimento da língua portuguesa. • Foi nesse século que as primeiras gramáticas do português foram escritas. Grammatica da Lingoagem Portugueza (Fernão de Oliveira, 1536) Grammatica da Lingua Portugueza (João de Barros, 1540) Português moderno • Publicação de Os Lusíadas (Camões, 1572). • Século XVI: as primeiras gramáticas definem a morfologia e a sintaxe da língua portuguesa. • De 1580 a 1640: Portugal foi governado pelo trono espanhol, a língua portuguesa sofre influência do castelhano. • Século XVIII: a influência francesa faz o português da metrópole afastar- se do falado nas colônias. Fonte: https://commons.wikimedia.org/ wiki/File:Os_Lus%C3%ADadas.jpg. Situação-problema 43 44 45 46 47 48 9 Situação-problema Para solucionar esse problema, como será sua abordagem? Você é professor de Literatura no Ensino Médio e, em uma aula baseada na leitura da obra Os Lusíadas, a partir de uma versão original, um aluno comenta: “Que português esquisito! Parece latim!” Outros alunos concordam, e a confusão é instaurada. Você, considerando a necessidade de esclarecer a questão, decide pausar o processo de leitura para realizar uma abordagem adequada do tema. Problematizando a Situação-Problema • A versão original de Os Lusíadas, epopeia nacional de Portugal, escrita por Luís de Camões, foi publicada em 1572. • Considerando a evolução da língua portuguesa, há distinções sensíveis entre o estado da língua no momento da produção da obra e o modo como ela se apresenta hoje, no momento de uma aula, por exemplo. • Diferentes espaços e tempos são fatores condicionantes para determinar o modo como uma língua se manifesta. Resolvendo a Situação-Problema Estratégias gerais para a resolução: • resgate da história da língua portuguesa; • discussão sobre as relações entre português e latim; • reflexões sobre aspectos estéticos do uso da língua... É fundamental destacar que as escolhas lexicais na composição de um texto sofrem influências espaço-temporais. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cam%C3%B5es_Os_Lus%C3%ADadas_Page158_79v.jpg. Entrava neste tempo o eterno lume, No animal Nemeio truculento, E o mundo que com tempo se consume Na sexta idade andava enfermo e lento. Nela vê, como tinha por costume Cursos do Sol quatorze vezes cento, Com mais noventa e sete, em que corria, Quando no mar a armada se estendia. Atividade de interação 2 Atividade de interação 2 Por que, hoje, o termo “vulgar”, utilizado para caracterizar uma variante popular do latim, tem conotação tão negativa? vulgus 49 50 51 52 53 54 10 Revisão final Revisão final • A latinização diz respeito à expansão da cultura e da língua latina, e de todas as outras culturas e línguas que derivaram desse processo. • O latim clássico é exemplificado pela literatura, a variedade culta da língua latina. • O latim vulgar manifestou-se, principal e fundamentalmente, por meio da expressão oral. • O romance diz respeito a cada uma das variedades surgidas da evolução do latim vulgar. Referências BASSETTO, B. F. Elementos de filologia românica: história externa das línguas. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2005. CASTILHO, A. T. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010. ILARI, R. Linguística românica. 3. ed. São Paulo: Ática, 2004. MELO, G. C. Iniciação à filologia e à linguística portuguesa. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1981. SALCES, C. D. História da língua portuguesa. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016. 55 56 57
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