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Natalia Quintino Dias Tratamento cirúrgico da DRGE As indicações para cirurgia antirrefluxo restringem- se aos pacientes que são refratários ao tratamento clínico ou que evoluam com alguma complicação. Sinais de alarme: disfagia, hematêmese, perda de peso, melena → investigação com EDA (para afastar neoplasia maligna). Quadro clínico A sintomatologia é dividida didaticamente em manifestações típicas e atípicas. As manifestações clínicas típicas são pirose e regurgitação. Já as principais manifestações atípicas incluem: dor torácica (“não cardíaca”), tosse crônica (DRGE é a causa de 20% das tosses crônicas), broncoespasmo, pneumonia de repetição, rouquidão, desgaste do esmalte dentário, halitose e aftas orais. Diagnóstico O diagnóstico da DRGE é clínico, associado a uma prova terapêutica (medidas comportamentais e supressão ácida). Pode-se realizar endoscopia digestiva alta e pHmetria, na propedêutica do DRGEM. Num planejamento cirúrgico, a EDA tem papel de afastar possibilidade de câncer, sobretudo nos casos que apresentem algum sinal de alarme. As indicações para realizar EDA na abordagem inicial são: • idade > 45 anos; • disfagia; • hemorragia digestiva; • anemia; • emagrecimento; • ausência de resposta clínica ao tratamento com Inibidor da Bomba de Prótons (IBP) na presença de sintomas típicos ou atípicos. Os principais achados endoscópicos da esofagite erosiva incluem erosões lineares e esbranquiçadas. Outros achados que sugerem complicações são: úlceras, estenoses, lesões vegetantes e alterações macroscópicas da mucosa. Uma vez diagnosticada a esofagite/DRGE, iniciar o tratamento clínico e acompanhar o paciente. O exame padrão-ouro para o diagnóstico da DRGE é a pHmetria de 24 horas. No entanto, é um exame dispendioso e desconfortável, além de ter que descontinuar o tratamento medicamentoso 5 dias antes do exame. O exame é positivo para DRGE quando mais de 7% das medições do pH esofágico encontram-se maiores que 4 em 24 horas. Indicações de pHmetria: • Sintomas típicos refratários ao IBP com EDA normal ou duvidosa. • Sintomas atípicos (extraesofágicos) que não responderam ao IBP por 2 a 3 meses. • Confirmação do diagnóstico de DRGE antes da cirurgia antirrefluxo. • Reavaliação de pacientes que persistem com sintomas mesmo após a cirurgia. Classificação Esôfago de Barret Trata-se de alteração do epitélio da mucosa do esôfago distal que sofre metaplasia intestinal devido ao contato crônico com o refluxo ácido, passando de pavimentoso estratificado não queratinizado para glandular/colunar. Cerca de 10% dos pacientes portadores de DRGE evoluem com essa alteração. Essa metaplasia gera o risco de displasia, que pode causar o desenvolvimento de um adenocarcinoma (risco de 0,5% ao ano). Natalia Quintino Dias A conduta diante da presença da Metaplasia de Barrett é dividida em 3 grupos, de acordo com o grau de displasia: 1. Sem displasia: realizar nova EDA em 1 ano, e depois a cada 2 ou 3 anos. 2. Displasia de baixo grau: realizar 2 EDAs no 1º ano após o diagnóstico (com 6 e 12 meses) e depois anualmente. Acompanha com EDA, mas pode até considerar cirurgia ou ablação endoscópica, pois Esôfago de Barrett é condição pré-neoplásica. 3. Displasia de alto grau ou adenocarcinoma in situ: EDA com biópsia após 3 meses. Análise por outro patologista para uma segunda opinião. Se confirmar a presença de displasia de alto grau ou CA in situ, realizar estadiamento e seguir o protocolo de tratamento de adenocarcinoma de esôfago distal. A presença do Esôfago de Barret pesa a favor de medidas agressivas no tratamento do refluxo, como o tratamento cirúrgico, mas não é indicação absoluta. Tratamento Clínico Indicado para todos os pacientes. Inclui alterações comportamentais e tratamento medicamentoso. Medidas comportamentais: perda de peso, elevar cabeceira, evitar consumo de álcool, café, alimentos gordurosos, não deitar imediatamente após as refeições e fracionar refeições. Tratamento medicamentoso: deve ser feito com medicamentos que inibam a produção ácida e os sintomas para alívio imediato da pirose. A principal classe de drogas que é utilizada são os Inibidores da Bomba de Próton (IBP). Deve ser usado em dose plena (por exemplo, omeprazol 40 mg/dia) durante 4 a 8 semanas, como teste terapêutico. Se o paciente não responder, deve-se dobrar a dose e fazer mais 12 semanas de tratamento. Os efeitos adversos mais comuns são: diarreia e cefaleia. Nos pacientes com diagnóstico endoscópico inicial de Savary-Miller III a V ou de Los Angeles C/D, já se deve-se iniciar o tratamento com dose dobrada, e eles devem ser submetidos à EDA de controle após o tratamento. O uso de procinético não tem nível de evidência comprovada. Cirúrgico As indicações são: • Refratariedade. • Alternativa para pacientes jovens (com baixo risco cirúrgico) que necessitam de dose de manutenção por longos períodos. • Sintomas pulmonares recorrentes. • Impossibilidade do uso da terapia de manutenção. • Complicações da DRGE (estenose, sangramento, esofagite recorrente e úlcera esogagiana, Barret). Antes da realização da cirurgia deve-se confirmar o diagnóstico de DRGE e rever a adesão ao tratamento clínico comportamental. Preparatório para cirurgia Realizar EDA + pHmetria + esofagomanometria. A EDA é solicitada em todos os casos, para se garantir ausência de câncer antes de se operar o esôfago. A pHmetria é útil para documentar o caso, mas pode ser dispensada se houver EDA alterada com esofagite graus C e D. A manometria é ESSENCIAL: ela auxilia o planejamento cirúrgico. Manometria que demonstre esôfago hipocontrátil ou hipoperisáltico motiva alterações na cirurgia. Cirurgia A técnica cirúrgica mais utilizada é a Hiatoplastia com fundoplicatura à Nissen (válvula 360°). Casos com manometria alterada recebem fundoplicaturas parciais 180° a 270°. No paciente que evolui, no pós-operatório, com dor torácica, afagia e soluço intenso, deve-se investigar a possibilidade de migração da válvula antirrefluxo. Essa condição gera um risco considerável de isquemia (compressão vascular no Natalia Quintino Dias hiato esofagogástrico). Deve-se realizar investigação com imagem (tomografia). Uma vez diagnosticada, o tratamento é a correção cirúrgica de urgência. Pode-se realizar a prevenção do surgimento dessa complicação com antieméticos, não fazer VNI e não fazer esforço (tosse ou Manobra de Valsalva). Valvulas antirrefluxos apertadas ou torcidas e hiatoplastia apertadas podem promover disfagia, num quadro chamado de “pseudoacalásia”. O quadro clínico é disfágico baixo, como na acalásia. Seu diagnóstico é endoscópico e imaginológico (EED), com alguns achados sugestivos também à manometria esofágica. O tratamento pode ser endoscópico com dilatação, mas, via de regra, é cirúrgico, com revisão da hiatoplastia com fundoplicatura prévias. Hérnia hiatal Tipos: I (deslizamento)= é a mais comum, promove DRGE. O tratamento é o do refluxo. II, III, IV (paraesofágicas)= hérnias verdadeiras, podem encarcerar e estrangular. O tratamento é cirúrgico.
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