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1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 dispepsia e refluxo – iesc DISPEPSIA - Conhecida popularmente como “má digestão”, a dispepsia é caracterizada por presença recorrente ou persistente de dor ou desconforto epigástrico e acompanhado, ou não, de empachamento, pós-prandial, sensação de saciedade precoce, náuseas, vômitos, pirose, regurgitação e excessiva eructação. A dispepsia é um sintoma comum, com um diagnóstico diferencial extenso e uma fisiopatologia heterogênea. - Cerca de 25% das dispepsias apresentam uma causa orgânica subjacente, entretanto 75% dos casos são decorrentes de dispepsia funcional (idiopática ou não ulcerosas). - De acordo com Consenso de Roma IV, a dispepsia funcional é definida como a presença de sintomas dispépticos crônicos na ausência de doença estrutural ou metabólica. As causas mais comuns de organicidade são ulcera péptica, refluxo gastroesofágico, medicamentos (sendo o agressor mais comum antiinflamatórios não estoroidais) e malignidade gástrica. Há evidências de que a erradicação do Helicobacter pylori (H. Pylori) aumenta a efetividade do tratamento para as principais causas de dispepsia. DISPEPSIA ORGÂNICA - Ocorre quando os sintomas são secundários a doenças orgânicas específicas. A dispepsia orgânica pode ser causada por uma série de doenças inclusive algumas que nem são do trato digestório. Úlcera péptica, DRGE, neoplasias, doenças biliopancreáticas, intolerância alimentar, medicamentos e outros processos inflamatórios ou infecciosos do trato digestivo superior. - Sendo que as principais etiologias orgânicas podem ser divididas em quatro grupos de etiologias: • Pépticas: Doença ulcerosa péptica, Doença do refluxo gastroesofágico. • Não-pépticas: Intolerância alimentar, doenças inflamatórias ou infiltrativas, neoplasia, infecção, síndrome do intestino irritável. • Biliopancreáticas: Pancreatite crônica, neoplasia pancreática, cólica biliar. • Sistêmicas: Insuficiência coronariana, doenças endócrinas, colagenoses. - A dispepsia pode ser causada tanto por transtornos orgânicos quanto por alterações funcionais (dispneia funcional). Cerca de 75% dos pacientes não se encontram com alterações orgânicas que justifiquem os sintomas sendo então classificados como portadores de quadros funcionais. - Os outros 25% apresentam causas orgânicas para os sintomas dispépticos, sendo a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e Doença Ulcerosa Péptica (DUP) as principais etiologias. Doença ulcerosa péptica (DUP) - A prevalência de DUP em pacientes com queixas dispépticas é de cerca de 10%. Os principais fatores de risco relacionados são infecção por H. pylori e o uso de AINEs. Estima-se que o H. pylori esteja relacionado a 90 a 95% das úlceras duodenais e 60 a 80% das úlceras gástricas. Em relação aos AINES, existem alguns fatores de risco que aumentam o risco de úlcera quando presentes: história prévia de úlcera, idade acima de 75 anos, uso por tempo prolongado e associado à corticoterapia ou anticoagulantes orais, por exemplo. Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) - A DRGE é uma doença que apresenta sintomas que podem causar dispepsia ou não, por isso é importante o diagnóstico diferencial dessa doença. Pacientes que cursavam com dor em queimação epigástrica, cerca de 50% apresentavam DRGE. Já pacientes com dispepsia funcional, cerca de 32% apresenta refluxo esofágico ácido patológico. - Os sintomas clássicos de DRGE são regurgitação e pirose, e podem ocorrer sintomas atípicos, como tosse crônica, otite e laringite de repetição. - A partir do Consenso Roma III foi excluída a sintomatologia de refluxo, como pirose, da classificação de dispepsia funcional, permitindo uma clareza para o tratamento desse sintoma como provável DRGE. Intolerância alimentar - Alguns alimentos têm sido implicados como responsáveis por quadros dispépticos, como café, alimentos muito condimentados, frutas cítricas, álcool e alimentos ricos em gorduras, apesar de não possuírem, ainda, fator de causalidade bem estabelecido com dispepsia. Neoplasias gástricas e esofágicas - O risco dessas neoplasias em pacientes com queixas dispépticas é de cerca de 1 a 2%. É muito importante nesses pacientes uma anamnese e exame físico mais detalhados. - Para neoplasia gástrica, abordar história prévia de cirurgia gástrica, história familiar de câncer gástrico e infecção por H. pylori. Quanto ao câncer esofágico, o risco é maior em homens, tabagistas e com história de etilismo significativa. Além disso, avaliar sinais e sintomas de alarme que predizem um maior risco de neoplasia. Doenças gastrointestinais não pépticas - Sintomas dispépticos são frequentes em infecções do trato gastrointestinal (parasitas como Giardia lamblia e Strongyloides stercoralis), afecções inflamatórias (doença celíaca e doença de Crohn) e infiltrativas (sarcoidose, amiloidose, linfoma), além de poder estar presente na síndrome do intestino irritável e isquemia mesentérica. Os sintomas de dispepsia são semelhantes ao de gastroparesia (idiopática, induzida por drogas, secundárias a distúrbios metabólicos, doenças sistêmicas e neurológicas). Doenças sistemáticas e medicamentos - Insuficiência coronariana é uma causa que deve ser descartada brevemente, devido a sua gravidade e alta mortalidade. Principalmente em idosos, diabéticos, mulheres e portadores de insuficiência adrenal que apresentam sintomatologia cardíaca atípica, se apresentando com dor abdominal, distensão, plenitude, náuseas e vômitos. DISPEPSIA FUNCIONAL - Pacientes com dispepsia funcional, geralmente, descrevem plenitude pós- prandial, saciedade precoce, inchaço e/ou dor/queimação epigástrica. 2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - A plenitude pós-prandial é o sintoma mais intenso em pacientes com sintomas induzidos pela alimentação. Os sintomas podem ser graves o suficiente para limitar as atividades habituais. - Para o diagnóstico de dispepsia funcional (idiopática ou não ulcerosa) necessita-se de, no mínimo, 3 meses da presença do critério diagnóstico, com sintomas presentes há 6 meses e sem evidências de doença orgânica. Além disso, presença de desconforto não aliviado por defecação, e sem alteração na frequência das fezes (o que pode indicar a síndrome do intestino irritável). - Pelo Consenso Roma IV é definida por: - Dois subtipos de dispepsia funcional foram determinados, a síndrome do desconforto pós-prandial, caracterizada por plenitude pós-prandial incômoda e/ou saciedade precoce, e síndrome da dor epigástrica, caracterizada por dor epigástrica incômoda ou queimação que não é exclusivamente pós-prandial, sendo possível distingui-los pelos critérios: - A fisiopatologia ainda não está bem definida, mas sabe-se que é uma doença mais comum em mulheres, tabagistas, usuários de ácido acetilsalicílico e naqueles com história prévia de gastroenterite aguda. . Dispepsia funcional, de acordo com os critérios de Roma IV, é definida como presença de um ou mais dos seguintes sintomas: saciedade precoce, plenitude pós-prandial, dor ou queimação epigástrica na ausência de doenças orgânicas sistêmicas ou metabólicas que possam explicar a sintomatologia. - Os sintomas devem ter início há pelo menos seis meses, com no mínimo três meses de duração. Conforme os critérios de Roma III, a dispepsia funcional é dividida em dois subgrupos: SÍNDROME DO DESCONFORTO PÓS-PRANDIAL - Caracterizada por saciedade precoce e plenitude pós-prandial; - Indigestão pós-prandial e saciedade precoce são as queixas. Indigestão náuseas, mal-estar e sensação de peso pós-prandial. Nessa síndrome, os sintomas devem ocorrer 3x na semana, nos últimos 3 meses e ter iniciado nos 6 meses anteriores. - OBS: Dor epigástrica pós-prandial ou queimação, empachamento, eructação excessiva e náuseas também podem estar presentes.- Dor ou queimação epigástrica pós-prandial, inchaço epigástrico, arrotos excessivos e náusea também podem estar presentes. SÍNDROME DA DOR EPIGÁSTRICA - Caracterizada por dor e queimação epigástrica. - Dor ou pirose epigástrica estão presentes. A epigastralgia ocorre em períodos interprandiais, com influência variável da alimentação (sem alteração, aumento ou redução da intensidade da dor). - OBS: A dor pode ser induzida pela ingestão de uma refeição, aliviada pela infestação ou pode ocorrer durante o jejum. A dor não cumpre os critérios de dor biliar. - A dor pode ser induzida pela ingestão de uma refeição, aliviada pela ingestão de uma refeição ou pode ocorrer em jejum. - Inchaço epigástrico pós-prandial, arrotos e náuseas também podem estar presentes. 3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Do ponto de vista etiológico, pacientes com sintomas dispépticos podem ser subdivididos em 2 categorias principais: Aqueles com uma causa orgânica, sistêmica ou metabólica para os sintomas, que podem ser identificados por procedimentos diagnósticos. Em que, se a causa de base melhora ou é resolvida, os sintomas também melhoram ou se resolvem - por exemplo, úlcera péptica, doença pancreática, distúrbios endócrinos ou uso de medicamentos - e é descrito pelo termo dispepsia secundária. Aqueles em quem nenhuma explicação identificável para os sintomas pode ser identificada pelos procedimentos diagnósticos tradicionais, podem ser classificados como dispepsia funcional. FISIOPATOLOGIA - A fisiopatologia da dispepsia funcional é complexa, multifatorial e não completamente elucidada. No entanto, pode ser observado que alguns fatores estão relacionados, são eles: a disfunção gastroduodenal motora e sensitiva, bem como uma integridade da mucosa prejudicada, imunodepressão e a desregulação do eixo intestino-cérebro. - Dismotilidade: É o fator mais estudado. Estudos apontam que pacientes com dispepsia funcional podem apresentar alterações da atividade mioelétrica gástrica, redução da contratilidade do antro, incoordenação antro-piloro-duodeno e anormalidades da atividade motora duodenojejunal. Essas alterações em conjunto, resultam em retardo do esvaziamento gástrico, presente em 30% dos casos de dispepsia funcional. - Alterações psicológicas: Há indicativos de maior prevalência de antecedentes de problemas emocionais na infância, e quadros clínicos compatíveis com ansiedade, depressão, hipocondria e neuroses. Provavelmente existe uma relação bidirecional entre o intestino e a psique porque os pacientes com distúrbios gastrointestinais são mais propensos a desenvolver problemas psicológicos e vice-versa. Estudos de neuroimagem sugerem que a percepção dos sintomas pode ser influenciada pela cognição e emoção. - Hipersecreção gástrica: A presença de sintomas, muitas vezes similares aos da doença ulcerosa péptica levanta a possibilidade do papel da hipersecreção de ácido e da maior ativação da pepsina. - Helicobacter pylori: Essa bactéria Gram negativa está diretamente relacionada com o aparecimento de sintomas dispépticos. Recentemente a dispepsia associada a essa infecção tem sido considerada uma afecção orgânica. Desde o Consenso de Quioto, recomenda-se que o H. pylori seja pesquisado em todos os pacientes dispépticos, seja por métodos não invasivos (teste respiratório, pesquisa de antígeno fecal e sorologia) ou invasivos (urease e histologia). Uma vez presente, tal bactéria deve ser erradicada. Confirmada a erradicação e havendo melhora dos sintomas por período superior a 6-12 meses se observação, o paciente deve ser diagnosticado com dispepsia associada ao H. pylori. Caso o paciente não melhore ou haja recidiva dos sintomas nesses 6- 12 meses e os métodos de investigação não apontem doença orgânicas, o paciente pode ser diagnosticado com dispepsia funcional. - Eixo cérebro-intestino e disbiose: As doenças funcionais por Roma IV são afecções do eixo cérebro-intestino. Essa comunicação é realizada basicamente por via vagal, modificada pela presença de células inflamatórias da parede intestinal como mastócitos e eosinófilos, cuja degranulação leva a liberação de várias citocinas pró-inflamatórias. - Inflamação duodenal de baixo grau, permeabilidade mucosa e antígenos alimentares: A barreira mucosa serve como a primeira linha de defesa contra patógenos e substâncias nocivas no lúmen. Infecções, estresse, exposição ao ácido duodenal, tabagismo e alergia alimentar, estão todos implicados na patogênese da inflamação da mucosa duodenal e mudanças na sua permeabilidade. AVALIAÇÃO INICIAL - A avaliação inicial de pacientes com queixas dispépticas inclui: realizar a história, o exame físico e solicitação de exames laboratoriais. História - Tipo de queixas: queimação, regurgitação, dores na região epigástrica, sensação de inchaço, saciedade precoce, enjôo e vômito. - Sinais de alarme: o hematêmese, melena e dispepsia combinados com vômitos persistentes, problemas ou dor de passagem do alimento pelo esôfago, perda de peso, anemia, ou evidência de perfuração no exame físico; o mudança repentina de queixas gástricas em paciente portando cinta de estômago. • Gravidade, duração, curso dos sintomas, relação com o padrão de defecação e com o trabalho. • Paciente imigrante de país com alto risco de contaminação com a bactéria Helicobacter pylori (Hp). • Fatores que influenciam as queixas: uso de NSAIDs, ácido acetilsalicílico (AAS) ou outro medicamento relevante, problemas psicossociais, intoxicação (especialmente tabagismo e etilismo), intolerância alimentar. • Fatores de risco para carcinoma gástrico ou esofágico. • História de queixas estomacais. - O objetivo é identificar sinais de alarme para malignidade gastroesofágica e sinais que sugiram diagnósticos diferenciais à síndrome dispéptica, como problemas cardíacos ou biliares. Além disso, explorar a sintomatologia do paciente, a frequência que apresenta tais sintomas, a duração, a relação com hábitos, como comer demasiadamente, ingestão de alimentos específicos, principalmente cítricos, ingestão de bebida alcóolica, buscar por fatores como tabagismo e uso de medicações, como AINES, antagonistas de cálcio, bifosfonados, biguanidas, corticoides, nitratos e teofilina. - Presença de sintomas dominantes como azia e/ou regurgitação, como veremos mais à frente, é sugestiva de doença do refluxo gastroesofágico. Uso de AINES e aspirina aumentam possibilidade de dispepsia e doença ulcerosa péptica. Perda de peso significativa, anorexia, vômito, disfagia, odinofagia e história familiar de câncer gastrointestinal sugerem malignidade subjacente. Presença de dor intensa epigástrica ou abdominal em quadrante superior direito com duração de pelo menos 30 minutos é sugestiva de colelitíase sintomática. Exame físico - Quando houver suspeita de: o sangramento ou vômito excessivo: pressão arterial, pulso, enchimento capilar; o melena: exame de toque retal; o perfuração: dor à descompressão brusca, rigidez abdominal local ou generalizada, temperatura. - Em suspeita de outra patologia: exame do abdômen ou eventualmente outro exame. - Muitas vezes o exame físico de um paciente com dispepsia é normal, exceto pela sensibilidade em região epigástrica. Em alguns casos pode haver presença de massa abdominal, linfadenopatia, icterícia, palidez secundária a anemia, ascite, evidência de perda de peso, de massa muscular ou de gordura subcutânea. Assim, deve-se avaliar diagnósticos diferenciais, principalmente os que apontam para malignidade. Exame adicional • Na suspeita de anemia: Hb. • Diagnóstico de Hp (exame de fezes utilizando anticorpos monoclonais ou teste respiratório C13; preparação: 4 semanas sem ingestão de antibióticos, 4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 2 semanassem ingestão de IBPs e 1 dia sem uso de antagonista do receptor H2) o antes de iniciar IBP em pacientes provenientes de países com alto risco de Hp. o em sintomas persistentes ou recorrentes; o após cada tratamento de erradicação de Hp; o se houver indicação de NSAID e histórico de úlcera gastroduodenal e condição de Hp desconhecida. • Fazer pedido de gastroscopia nos seguintes casos: o em sintomas de alarme; o 8 semanas após o início do tratamento de úlcera gástrica comprovada; o em pacientes acima de 40 anos com parente de primeiro grau com câncer gástrico familial (ou 5 anos abaixo da idade em que foi diagnosticado em um parente de primeiro grau onde o diagnóstico foi efetuado abaixo de 40 anos). • Considere gastroscopia: o após um primeiro episódio de sintomas gástricos em idade acima 50 anos, especialmente em idade avançada, sexo masculino ou fatores de risco para o câncer gástrico ou esofágico; o necessidade de certeza do diagnóstico. • Seja cauteloso com o pedido de gastroscopia em pacientes abaixo de 50 anos sem sintomas alarme. Exames laboratoriais - O hemograma, testes de função hepática, lipase sérica e amilase devem ser realizados para identificar pacientes com sinais de alarme (anemia por deficiência de ferro) e doenças metabólicas subjacentes que podem causar dispepsia, como diabetes e hipercalcemia, EXAMES COMPLEMENTARES - Os exames complementares mais comumente relacionados à investigação de dispepsia são a endoscopia digestiva alta (EDA) e os testes para detecção de H. pylori. A estratégia inicial na dispepsia não investigada é o tratamento empírico com IBPs, que apresentou melhor resposta e custo-efetividade quando comparada aos antagonistas H2 e antiácidos. Testar e tratar a infecção por H. pylori, apresenta-se mais efetivo que realização do EDA e reduz riscos e custos. Entretanto, alguns casos como veremos abaixo, a EDA é indicada. - EDA- É o padrão-ouro para o diagnóstico de lesões estruturais e consequentemente de causas específicas da dispepsia. Entretanto, a EDA não é um exame indicado para qualquer paciente com queixa dispéptica devido a sua discreta redução de recidivas de sintomas. Além de um custo elevado, é um método invasivo e que pode apresentar complicações, como dor abdominal, dor torácica e pneumonia. Assim, não é indicado realizar a EDA antes da realização de um teste terapêutico apropriado e nos pacientes que não apresentem sintomas de alarme. Assim, está indicada para: - Já as contraindicações para uma EDA são: - Teste de H. pylori- Em pacientes que não necessitam de EDA ou nas quais não foram realizadas biópsias no momento da EDA, opta-se pelo teste de H. pylori. Pode ser feito por meio do teste respiratório da ureia ou teste de antígeno fecal. O teste sorológico não deve ser utilizado pelo seu baixo valor preditivo positivo. Pacientes com resultado positivo para a infecção por H. pylori, devem ser tratados com terapia de erradicação. A maioria dos pacientes com sintomas dispépticos positivos para H. pylori e tratados com antibiótico terapia adequada persiste com sintomas dispépticos, sendo o número estimado necessário para aliviar com sucesso os sintomas, 1 a cada 7 pacientes. - O procedimento de escolha para avaliação da dispepsia é a endoscopia. Se um radiologista com treinamento especial em radiologia gastrointestinal estiver disponível, os estudos gastrointestinais superiores de bário multifásicos são uma alternativa aceitável. - Quando um paciente apresenta dispepsia, o médico deve estar alerta para "características de alarme" que podem sinalizar a presença de uma doença subjacente que requer avaliação endoscópica e tratamento urgente. O ICSI sugere a realização de endoscopia dentro de um dia se um paciente com dispepsia tiver melena, hematêmese ou disfagia de início agudo, e dentro de sete a 10 dias se o paciente tiver anemia, vômito persistente ou perda involuntária de mais de 5 por cento do corpo peso. - O ICSI observa que o encaminhamento a um gastroenterologista é apropriado quando o paciente tem uma história documentada de úlcera. Quando um paciente apresenta dispepsia e uma história documentada de úlcera (endoscopia ou estudos gastrointestinais superiores de bário), mas não tem características de alarme ou sintomas de refluxo, o gerenciamento de caso começa com testes sorológicos paraHelicobacter pylori. O ICSI comenta que o teste respiratório da ureia para H. pylori é tão sensível e mais específico do que o teste sorológico. O teste respiratório está disponível e tem custo semelhante, sendo preferível ao teste sorológico. - Se o teste for positivo, o ICSI recomenda a terapia erradicativa. Se o teste for negativo, o paciente deve receber uma dose completa histamina-H2 agonista do receptor (H2AR) terapia; além disso, deve considerar a possibilidade de parar de fumar, se indicado, e, se possível, interromper o uso de antiinflamatórios não esteroidais (AINEs). - Se o paciente com dispepsia não tem úlcera documentada, a probabilidade de DRGE é extremamente alta quando o sintoma primário é azia (probabilidade de 89 por cento) ou regurgitação ácida. - Se um paciente com dispepsia, mas sem DRGE ou úlcera documentada, tiver 50 anos ou mais, o ICSI observa que é apropriado realizar esofagogastroduodenoscopia não urgente (dentro de quatro a oito semanas) para descartar câncer gástrico. Pacientes com menos de 50 anos devem ser testados paraH. pylori. Se o teste sorológico for positivo, a terapia erradicativa deve ser administrada. Se o teste for negativo, o ICSI recomenda empírico em H2Terapia de AR; além disso, a cessação do tabagismo e a interrupção do uso de AINEs devem ser consideradas. Se o uso de AINEs não puder ser interrompido, uma duração de 12 semanas de terapia é recomendada. - Com o tratamento, os sintomas de úlceras gástricas e duodenais geralmente melhoram após quatro semanas. Os dados sugerem que o tratamento antiúlcera deve ser continuou por oito semanas. Na maioria dos pacientes, H2A terapia de AR é mais eficaz. H2A terapia com AR deve ser continuada por um total de 12 semanas no paciente que precisa de terapia com AINE para o tratamento de úlceras pépticas, especialmente úlceras gástricas. - Se o paciente não apresentar recaída em 12 meses, o a dispepsia foi resolvida. Se ocorrer recidiva, a endoscopia deve ser realizada. Se os sintomas não melhorarem após quatro semanas, apesar do tratamento, o 5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 ICSI recomenda endoscopia. Se o exame endoscópico revelar uma úlcera, biópsia para H. pylori ou um teste respiratório com ureia deve ser realizado. Se o teste for positivo, o gerenciamento do caso inclui terapia erradicativa. Se o paciente foi tratado anteriormente para H. pylori infecção, um medicamento diferente deve ser usado e o tratamento deve ser continuado por 14 dias. Se o teste for negativo, o tabagismo e o uso de AINEs devem ser revisados. - Se a endoscopia não revelar uma úlcera, o diagnóstico é não úlcera ou dispepsia funcional. Embora o ICSI relate que nenhum tratamento demonstrou ser claramente eficaz, o benefício pode ser derivado da eliminação de certos medicamentos (por exemplo, AINEs) ou alimentos (por exemplo, álcool, cafeína, gorduras); erradicação deH. pylori (se não tiver sido feito anteriormente); inibidor da bomba de prótons (PPI) ou terapia com antidepressivo tricíclico; ou psicoterapia. AVALIAÇÃO - Distinção de tipos, quando sintomas de alarme forem ausentes (ver anamnese): • dispepsia induzida pelo uso de NSAIDs ou outra medicação relevante; • primeiro episódio de dispepsia: a duração dos sintomas abaixo de 2 a 3 meses; • sintomas dispépticos persistentes ou recorrentes (sintomas com duração > 2 a 3 meses ou recorrência < 1 ano após o primeiro episódio) ou uso prolongado deIBPs (> 2 a 3 meses); • desordem em outra estrutura ou órgão que o esôfago distal, estômago ou duodeno. CONDUTA - Os sintomas de alarme • Perfuração ou instabilidade circulatória em hematêmese ou melena: encaminhamento urgente. • Em hematêmese ou melena sem instabilidade circulatória, em vômitos persistentes e dor no estômago com início repentino grave ou com agravamento rápido da dor em paciente com banda gástrica: consultar diretamente um especialista e referência dentro de uma ou algumas horas. • Em desordem ou dor de passagem do alimento, perda de peso não intencional ou anemia: encaminhamento a curto prazo. Primeiro episódio de dispepsia Informação e tratamento não medicamentoso • Evite alimentos que causem sintomas; se for o caso, discutir parar de fumar e perda peso. • Discutir aspectos psicossociais. • Discutir dormir com a cabeça posicionada mais alta em relação ao torso. Tratamento medicamentoso • Aconselhar um antiácido. Substituir este em caso de efeito insuficiente após 2 a 4 semanas por um antagonista do receptor H2, por exemplo ranitidina, 1 vez ao dia 300 mg (antes de deitar) ou 2 vezes 150 mg. • Se o efeito não for satisfatório após 2 a 4 semanas substituir o medicamento por um IBP em dose padrão, como o omeprazol 1 vez ao dia e 20 mg, 30 minutos antes da refeição. Em efeito insuficiente após 2 a 4 semanas aumentar para 2 vezes 20 mg. Dobrar a dose em efeito insuficiente após 2 a 4 semanas para 2 doses de 40 mg. • Nos controles: avaliar o efeito, sinalizar uma mudança no padrão de sintomas, reconsiderar o diagnóstico; tentar diminuir medicação (principalmente IBPs) em caso de efeito satisfatório. Dispepsia recorrente ou persistente/uso de IBPs (>2-3 meses) - Na ausência de sintomas de alarme ou o uso de NSAIDs e manutenção do diagnóstico: realizar exame complementar de Hp. - Se Hp positivo: • IBP, amoxicilina 1000 mg e claritromicina 500 mg (2x/dia durante 7 dias); • em alergia à penicilina: substituir a amoxicilina por metronidazol 500 mg 2x/dia; • prescrever IBP por mais 4 semanas (1x/dia) e, em seguida, diminuir e parar; • repita Hp-exame a cada tentativa de erradicação, 2 semanas após interrupção do IBP; • 2a tentativa de erradicação: substituir claritromicina por metronidazol 500 mg 2x/dia. - Se o resultado de Hp for negativo: • continuar IBP e tentar após 8 semanas diminuir e interromper medicação; • no retorno dos sintomas após interrupção de IBP: considerar uma gastroscopia, especialmente em pacientes > 50 anos, ou reiniciar IBP (ver “primeiro episódio”); • discutir, em uso crônico de IBP, uma tentativa de redução (repetir a tentativa se necessário). - Encaminhamento e conduta após gastroscopia: • em sintomas de alarme: encaminhamento ao gastroenterologista ou um cirurgião. • anormalidades gastroscópicas relevantes: encaminhar ao gastroenterologista. • na suspeita de doença do refluxo gastroesofágico refratária: gastroenterologista. • para problemas estomacais relacionados ao emprego: encaminhar ao médico da empresa. • Conduta após gastroscopia a pedido do medico de família e comunidade: ver texto integral. Uso crônico de IBPs • Indicações de utilização crônica de IBP: proteção gástrica, síndrome de ZollingerEllison, esôfago de Barrett, esofagite com grau endoscópico C ou D. • Desvantagens potenciais de uso crônico de IBP: fraturas osteoporóticas, infecções respiratórias e gastrointestinais (em menor medida, antagonistas dos receptores H2). • Rever anualmente a indicação crônica de IBP. 6 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 • Recomendar diminuição ou interrupção do medicamento o verificar Hp e eradicar se o resultado for positivo; o diminuir em 3 semanas: primeiro reduzir pela metade a dose, em seguida, tomar a medicação em dias intercalados; o se os sintomas recorrerem (cerca de 50%): prescreva antiácido. • Quando a interrupção do medicamento falhar: usar apenas quando necessário, na dose mais baixo do medicamento. ABORDAGEM TERAPÊUTICA - A estratégia inicial na dispepsia não investigada é o tratamento empírico com IBPs, sendo que essa terapia vai possuir especificidades se presença de úlceras ou não, se duodenal ou gástrica, ou ainda se dispepsia não investigada. - Dada a alta prevalência da infecção no Brasil, com uma probabilidade pré- teste elevada, uma segunda alternativa seria tratar empiricamente para erradicação de H. pylori após falha terapêutica de IBP. O esquema mais recomendado é por uso de amoxicilina 1 g e claritromicina 500 mg, por 7 dias, em duas tomadas diárias, associados a IBP em dose plena. A efetividade é estimada em 80 a 85%. O esquema pode ainda ser prolongado por 14 dias, levando a um incremento de 10% de sucesso de erradicação da bactéria, o que é um benefício absoluto modesto e não é custo-efetivo. - Pacientes com resultado negativo para H. pylori ou permanecem sintomáticos após a erradicação e apresentam resposta inadequada a IBP podem ser considerados para terapia com agente tricíclico (ATC). Os mecanismos centrais podem contribuir para a dispepsia funcional por meio do aumento da sensibilidade. Pacientes com dispepsia funcional com resposta clínica parcial a IBP, pode-se iniciar antidepressivo tricíclico de forma combinada. Essa terapia deve-se iniciar com baixas doses de, por exemplo, amitriptilina 10 mg ou desipramina 25 mg à noite. A dose pode ser aumentada a cada 2 semanas, sendo doses entre 20 e 30 mg adequadas em muitos pacientes (não exceder 75 mg/dia devido a efeitos colaterais, principalmente sedação). - Normalmente fazer uso de ATC de 8 a 12 semanas e verificar a resposta. Caso positiva, continuar o tratamento até 6 meses e depois ir reduzindo aos poucos até a suspensão completa. A terapia com agentes procinéticos também pode ser feita como terceira linha, como por exemplo com metoclopramida 5 a 10 mg, 3 vezes ao dia, 30 minutos antes das refeições e à noite, durante 4 semanas. - Após essas condutas, deve-se reavaliar os sintomas, já que muitos pacientes continuam apresentando sintomas de dispepsia, principalmente em pacientes com infecção persistente por H. pylori e pacientes com dispepsia funcional. Esses pacientes devem ser cuidadosamente reavaliados, prestando atenção especificamente ao tipo de sintomas em andamento, o grau em que os sintomas melhoraram ou pioraram e a conformidade com os medicamentos. - Sabe-se que uma mudança do estilo de vida também é uma medida muito eficaz em quadros de alterações gastrointestinais. Assim, deve-se incentivar hábitos mais saudáveis, reduzindo a ingesta de alimentos gordurosos, introdução de atividade física na rotina. Para o sintoma de empachamento e saciedade precoce, podemos sugerir para o paciente o fracionamento das refeições, bem como identificar e suspender, se possível, medicamentos de uso habitual que possam provocar sintomas dispépticos (anti-inflamatórios, antagonista do cálcio, nitratos, teofilina, bisfosfonatos, corticosteroides). DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO - Define-se por DRGE a afecção crônica decorrente da presença de sintomas e/ou lesões teciduais resultantes de refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. Pacientes com DRGE e com alterações histopatológicas da mucosa estão dentro de um subgrupo de DRGE que apresentam esofagite de refluxo. Assim, a DRGE é dividida em: • Esofagite erosiva: Caracterizada por rupturas visíveis pela endoscopia digestiva alta (EDA) na mucosa esofágica distal, com ou sintomatologia de DRGE. • DRGE não erosivo: Quando na EDA não há lesão visível da mucosa esofágica, porém o paciente apresenta a sintomatologia. - A azia é a principal queixa dos pacientes com DRGE, sendo que essa piora ao dobrar o peito sobre a barriga e quando se deita com o estômago cheio. Pode ocorrer de forma tão intensa como uma dor no peito, causandoa impressão clínica de um infarto agudo do miocárdio (IAM). - Os portadores de DRGE de longa data podem apresentar algumas complicações, tais como esôfago de Barrett (EB), estenose péptica e hemorragia. A que precisa de uma atenção maior, dentre essas complicações, é o EB devido sua predisposição em progredir para adenocarcinoma. - O EB acomete de 10 a 15% dos refluidores crônicos e consiste na substituição do epitélio escamoso esofágico por epitélio colunar glandular contendo células caliciformes. É uma condição que predispõe ao desenvolvimento de câncer de esôfago, mas que não causa sintomas a mais que os mencionados, como que azia, regurgitação e disfagia. - Quanto à estenose péptica, é mais frequente naqueles pacientes com esofagite grave, cursando com disfagia decorrente da obstrução esofágica. A hemorragia é a complicação menos frequente sendo provocada pelas úlceras esofagianas. FISIOPATOLOGIA - Existe uma barreira na junção esofagogástrica, que permite a passagem dos alimentos para o estômago e dificulta o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. Um dos componentes dessa barreira é o esfíncter esofagiano inferior (EEI), localizado na porção inferior do esôfago e constituído por musculatura lisa. - A ineficácia de tal barreira é o principal fator patogênico do refluxo gastroesofágico, que pode ser explicada pelo (1) relaxamento esfincteriano, sem anormalidade anatômica concomitante; (2) alteração anatômica da junção, provavelmente associada à hérnia hiatal; e (3) hipotonia do EEI. - A gravidade da lesão da mucosa esofágica é determinada pelo tempo que o esôfago fica exposto ao ácido e pelo pH do material refluído do estômago. Assim, as complicações mais leves são esofagites leves, moderadas e graves. Os portadores de DRGE de longa data podem apresentar algumas complicações, tais como esôfago de Barrett (EB), estenose péptica e hemorragia. A que precisa de uma atenção maior, dentre essas complicações, é o EB devido sua predisposição em progredir para adenocarcinoma. 7 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 MANIFESTAÇÃO CLÍNICA - Os sintomas clássicos da DRGE são pirose (azia) e regurgitação. Outros sintomas de DRGE, são os chamados sintomas não clássicos, que incluem disfagia, dor no peito, hipersalivação e náuseas. Entretanto, apesar de serem observados no contexto de DRGE, não suficientes para fazer um diagnóstico clínico na ausência de sintomas clássicos de azia e regurgitação. Sintomas clássicos - Azia- Tipicamente descrita como uma sensação de queimação na área retroesternal, mais comumente experimentada no período pós-prandial. É considerada patológica quando ocorrem sintomas leves ≥ 2 dias por semana, ou sintomas moderados a graves > 1 dia por semana. - Regurgitação- Percepção do conteúdo gástrico em refluxo na boca ou orofaringe. Os pacientes, normalmente, regurgitam material ácido misturado com pequenas quantidades de alimentos não digeridos. Sintomas não clássicos - Disfagia- Geralmente é atribuída à esofagite de refluxo, mas pode ser indicativa de estenose esofágica. A odinofagia é um sintoma incomum, mas que quando presente pode indicar presença de úlcera esofágica. - Dor no peito- Pode imitar a angina de peito e é normalmente descrita como queimação ou compressão, localizada subesternalmente e irradiando para as costas, pescoço, mandíbula ou braços. Tal dor pode durar de minutos a horas e se resolver espontaneamente ou com antiácidos e geralmente ocorre após as refeições, à noite e pode ser exacerbada pelo estresse emocional. - Hipersalivação- É um sintoma relativamente incomum no qual os pacientes podem espumar a boca, secretando até 10 ml de saliva por minuto em resposta ao refluxo. Esofagite erosiva - Ocorre quando o refluxo excessivo de ácido leva a uma necrose das camadas superficiais da mucosa esofágica, causando erosões e úlceras. Esses pacientes podem ser assintomáticos ou sintomáticos, apresentando azia, regurgitação, disfagia e odinofagia. Esôfago de Barrett - Condição na qual o epitélio colunar metaplásico substitui o epitélio escamoso estratificado que normalmente reveste o esôfago distal. É uma condição que predispõe ao desenvolvimento de câncer de esôfago, mas que não causa sintomas a mais que os mencionados, como que azia, regurgitação e disfagia. DIAGNÓSTICO - O diagnóstico inicial de DRGE é baseado em sintomas típicos, como azia ou regurgitação. A endoscopia não é indicada na ausência de sintomas de alarme. O diagnóstico de DRGE deve ser considerado em pacientes não fumantes com tosse crônica com mais de três semanas de duração. - Um teste de quatro a oito semanas de um PPI é recomendado antes que a endoscopia seja considerada. O diagnóstico de DRGE pode ser melhorado usando ferramentas de diagnóstico validadas, como o questionário GerdQ e um escore de predição dinamarquês para resposta a PPIs. Todos os pacientes com sintomas de alarme requerem avaliação endoscópica. - Os sintomas típicos de azia e regurgitação identificarão corretamente 70% dos pacientes com DRGE, e os pacientes com esses sintomas devem receber um ensaio empírico de terapia com IBP por quatro a oito semanas. - Todos os pacientes com sintomas de alarme requerem avaliação endoscópica. Os sintomas individuais de perda involuntária de peso, disfagia e anemia são específicos (84%, 85% e 95%, respectivamente) para complicações como câncer de esôfago ou estômago, lesões hemorrágicas no intestino anterior ou estenose esofágica ou pilórica. - Os pacientes que não respondem à dosagem uma vez ao dia devem ser trocados para a dosagem de duas vezes ou um ensaio de um PPI diferente, e os médicos devem enfatizar a conformidade com o regime e a importância de tomar a medicação 30 a 60 minutos antes refeições. - A endoscopia deve ser limitada a pacientes que não respondem à terapia apropriada com IBP. - Não há evidências suficientes para testar rotineiramente Helicobacter pylori em pacientes com DRGE. Apesar H. pylori está às vezes presente, e erradicá-la pode melhorar os sintomas, um subgrupo de pacientes com úlcera péptica pode ter piora dos sintomas da DRGE ou o desenvolvimento de novos sintomas da DRGE após o tratamento para H. pylori infecção. - A dispepsia se manifesta com dor centrada na parte superior do abdome ou desconforto caracterizado por plenitude, inchaço, distensão ou náusea e pode estar associada à DRGE. Isso é importante distinção importante porque uma estratégia de "teste e tratamento" para H. pylori infecção é recomendada para pacientes com dispepsia, mas não deve ser usado em todos os pacientes com DRGE. Uma metaanálise apoia o tratamentoH. pylori infecção em pacientes com DRGE. EXAMES COMPLEMENTARES - O diagnóstico de DRGE pode ser feito com base no quadro clínico do paciente, pela presença dos sintomas clássicos, como azia e/ou regurgitação. Entretanto, alguns pacientes podem necessitar de uma avaliação adicional, principalmente quando não houver resposta ao tratamento clínico ou se apresentarem sinais de alarme ou fatores de risco para esôfago de Barrett. Dentre esses exames complementares se destaca a EDA com biópsia e a pHmetria prolongada de 24 horas. EDA com biópsia - Esse é um exame que não é necessário para fechar diagnóstico de DRGE, no entanto pode detectar manifestações esofágicas, como metaplasia de Barrett, esofagite erosiva, e para descartar neoplasias de trato gastrointestinal superior. Além disso, também é útil para descartar outras etiologias em pacientes com sinto- mas de DRGE. - Já a biópsia de esôfago tem indicação limitada apenas às complicações da doença: esôfago de Barrett, úlceras de esôfago e estenose, além de caracterizar o adenocarcinoma esofágico. • Achados endoscópicos: Para DRGE é esperado tanto uma EDA normal, quanto uma EDA com evidências de esofagite em graus variados. Entre pacientescom DRGE não tratados, aproximadamente 30% terão esofagite endoscópica. A gravidade e a duração dos sintomas se correlacionam pouco com a gravidade da esofagite. PHmetria prolongada de 24 horas - É utilizado para confirmar a presença de refluxo em pessoas com sintomas persistentes e sem lesões esofágicas à EDA, apresentando dor torácica não cardíaca, com manifestações pulmonares ou da via aérea superior associado ao refluxo e para monitorar a presença de refluxo em pessoas com sintomas refratários. Realiza a monitorização do pH intra-esofágico, considerando-se haver refluxo quando ocorrer queda do pH abaixo de 4 por mais de 4% do tempo total de duração do exame. - Com essa avaliação é possível quantificar a intensidade de exposição da mucosa esofágica ao ácido, permitindo também que se estabeleça a correlação entre os sintomas relatados e os episódios de refluxo. 8 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - É considerado um exame padrão-ouro para o diagnóstico de DRGE, com boa reprodutibilidade (84 - 95%) e boa sensibilidade e especificidade (96%). TRATAMENTO Modificação do estilo de vida - A modificação do estilo de vida (MEV) pode fornecer uma ferramenta a mais no controle dos sintomas, dentre eles, principalmente o controle de peso e a alimentação. A redução do peso em pacientes obesos e com sobrepeso e a suspensão de alimentos como café, chocolate, alimentos condimentados, alimentos com alto teor de gordura, bebidas carbonatadas e hortelã- pimenta estão associados a uma melhora do quadro sintomatológico. - Medidas como elevação da cabeceira da cama em indivíduos com sintomas noturno ou laríngeos (tosse, rouquidão, pigarro), evitando também refeições 2 a 3 horas antes de dormir também podem amenizar tais sintomas. Terapia medicamentosa - Pacientes com sintomas < 1 episódio por semana, recomenda-se antiácidos e/ou alginato de sódio, conforme necessário. Pacientes com sintomas leves e intermitentes (< 2 episódios por semana) e sem evidência de esofagite erosiva, sugere-se terapia progressiva, ou seja, em dose plena para DRGE. Sintomas contínuos, aumentar a dose de antagonista H2 para a dose padrão de 2 vezes ao dia, por, no mínimo, 2 semanas. Caso ainda persista, trocar o antagonista H2 para um inibidor de bomba de prótons (IBP) 1 vez ao dia em dose baixa e aumentando para a dose padrão, se necessário, por 8 semanas. - Já pacientes com esofagite erosiva, sintomas frequentes (≥ 2 episódios por semana) e/ou sintomas graves que prejudicam a qualidade de vida, usamos a terapia intensiva, que promove um alívio mais rápido dos sintomas. - A abordagem se inicia com IBP, agente antissecretor potente, em dose padrão, 1 vez ao dia por oito semanas, com mudança do estilo de vida, principalmente com modificação da dieta. Depois vai-se reduzindo a dose do IBP até que o substitua por antagonista H2, caso o paciente continue apresentando sintomas leves ou intermitentes. Se remissão parcial dos sintomas, considerar uma terapia otimizada 2 vezes ao dia, em jejum e 30 a 60 minutos antes da última refeição do dia. - Deve-se suspender a terapia de supressão de ácidos caso o paciente esteja assintomático, exceto se apresentação de esofagite erosiva grave ou esôfago de Barrett, os quais devem manter a terapia de manutenção com IBP. As doses do tratamento de manutenção costumam ser inferiores àquelas utilizadas no tratamento da fase aguda da enfermidade. - Três classes de medicamentos estão disponíveis para prescrição e tratamento sem receita: inibidores da bomba de prótons (IBP), histamina H2 antagonistas do receptor e antiácidos. - Embora a endoscopia não seja necessária essencial para diagnosticar a DRGE na maioria dos pacientes, a triagem endoscópica para complicações da DRGE é garantida quando os sintomas de alarme estão presentes (por exemplo, perda involuntária de peso, anemia, evidência de sangramento ou obstrução, disfagia, sintomas persistentes apesar da terapia médica adequada) ou em pacientes com 50 anos e mais velhos. - Todos os IBPs de venda livre e prescritos oferecem alívio semelhante dos sintomas da DRGE; portanto, os médicos devem escolher o apropriado com base no custo, disponibilidade do formulário e resposta do paciente. - PPIs são mais eficazes para aliviar os sintomas de DRGE do que H2 antagonistas. - Adicionar medicamentos procinéticos à terapia com IBP pode ser uma opção em pacientes com DRGE crônica. - A cirurgia deve ser reservada para pacientes com contra-indicações à terapia com IBP ou quando os sintomas permanecem mal controlados apesar das mudanças no estilo de vida e das doses máximas de IBP. O tratamento médico deve ser otimizado, a adesão à medicação deve ser abordada e os riscos associados à cirurgia devem ser considerados cuidadosamente ao avaliar as opções de tratamento. As opções cirúrgicas para DRGE incluem fundoplicatura laparoscópica ou aberta de Nissen. - A cirurgia geralmente é reservada para pacientes que não podem ou não querem tomar IBP e para aqueles com controle inadequado dos sintomas, apesar da dosagem máxima e adesão ao tratamento com IBP. Nessa população, a cirurgia é custo-efetiva e está associada a uma alta qualidade de vida com menos dores de cabeça três anos depois. Disfagia pós- operatória, distensão abdominal e aumento de mortalidade em curto prazo são complicações comuns da cirurgia anti-refluxo. - As diretrizes atuais sugerem rastreamento individualizado em certas populações com maior risco de esôfago de Barrett com base em estudos observacionais de qualidade variável. O rastreamento do esôfago de Barrett parece ser custo-efetivo em homens brancos de 50 anos ou mais que tiveram sintomas de DRGE por pelo menos cinco anos. - Pessoas com maior risco de esôfago de Barrett incluem fumantes com sintomas de DRGE semanais auto-relatados (odds ratio [OR] = 51,4) e aqueles com índice de massa corporal superior a 30 kg por m2 com sintomas de DRGE semanais autorreferidos (OR = 34,4). Além disso, uma história familiar de esôfago de Barrett e uma história de severa, esofagite erosiva são fatores de risco importantes que devem levar ao rastreamento endoscópico para esôfago de Barrett. - PPIs podem aumentar o risco de hipomagnesemia, fratura de quadril, Clostridium difficile infecção, vitamina b12 deficiência e pneumonia adquirida na comunidade. Portanto, os PPIs devem ser usado apenas quando houver um diagnóstico apropriado, na menor dose eficaz e na menor duração da terapia. ENCAMINHAMENTO PARA ESPECIALISTA - Deve ser feito quando houver impossibilidade de realizar a EDA em pacientes com indicação, EDA com esofagite intensa, esôfago de Barrett, estenose esofágica, úlceras e sangramentos esofágicos, pacientes não responder a terapia com IBP uma vez ao dia (DRGE refratária), pacientes que não conseguem tolerar IBP a longo prazo ou desejam interromper a terapia ou necessidade de tratamento cirúrgico. 9 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1
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