Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Kéven Wrague e Laura Almeida ATM23 Doença do Refluxo Gastroesofágico • DRGE deve ser definida como sintomas ou complicações resultantes do refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago ou além, na cavidade oral (incluindo laringe) ou pulmão. • As estimativas epidemiológicas da prevalência de DRGE são baseadas principalmente nos sintomas de azia e regurgitação. • Classificação: o Presença de sintomas sem erosões no exame endoscópico (doença não erosiva ou NERD) o Sintomas de DRGE com erosões presentes (ERD) • Esofagite erosiva: o É caracterizada por rupturas endoscopicamente visíveis na mucosa esofágica distal, com ou sem sintomas problemáticos de DRGE. • Doença do refluxo não erosivo o Também chamado de doença de refluxo negativo por endoscopia é caracterizada pela presença de sintomas problemáticos de DRGE sem lesão visível da mucosa esofágica • Manifestações clínicas o Os sintomas clássicos são azia(pirose) e regurgitação o A azia é normalmente descrita como uma sensação de queimação na área retroesternal, mais comumente experimentada no período pós-prandial. É considerada problemática se sintomas leves ocorrerem dois ou mais dias por semana, ou sintomas moderados a graves ocorrerem mais de um dia por semana o Regurgitação é definida como a presença do fluxo do conteúdo gástrico refluído na boca ou na hipofaringe. Os pacientes geralmente regurgitam material ácido misturado com pequenas quantidades de alimentos não digeridos o Outros sintomas incluem disfagia, dor no peito, sensação globus, odinofagia, sintomas extraesofágicos (tosse crônica, rouquidão, chiado no peito) e, com pouca frequência, náuseas. o A disfagia é comum no cenário de azia prolongada e geralmente é atribuída a esofagite de refluxo, mas pode ser indicativa de estenose esofágica (devido a inflamação crônica) o A odinofagia é um sintoma incomum da DRGE, mas, quando presente, geralmente indica uma úlcera esofágica o A dor no peito relacionada a DRGE, pode imitar a angina de peito e é geralmente descrita como compressão ou queimação, localizada subesternalmente e irradiando para as costas, pescoço, mandíbula ou braços. A dor pode durar de min a horas e resolver espontaneamente ou com antiácidos. Linha Z Pirose Pirose Boa a. 2 Kéven Wrague e Laura Almeida ATM23 o Geralmente a dor ocorre após as refeições, acorda o paciente d e sono e pode ser exacerbado pelo estresse emocional. Pacientes com dor induzida pelo refluxo podem apresentar sintomas típicos o A hipersalivação é um sintoma relativamente incomum no qual os pacientes podem espumar na boca, secretando até 10ml de saliva por min em resposta ao refluxo o A sensação de globus é a percepção quase constante de um nós na garganta (não relacionada com a deglutição), que tem sido relacionada ao refluxo. o Náusea é pouco relatada com DRGE, mas um diagnóstico deve ser considerado em pacientes com náusea inexplicável. • Complicações o As complicações podem surgir mesmo em pacientes que não apresentam sintomas esofágicos típicos. o Podem ser: ▪ esofágicas (esôfago de barret, estenose esofágica, adenocarcinoma de esôfago) ▪ extra esofágica (laringite crônica, exacerbação da asma) o Fatores de risco para o Esôfago de Barret: ▪ É consequência de agressão crônica pelo ácido do epitélio deste esôfago distal, ocorrendo uma metaplasia. Com o tempo pode evoluir para uma neoplasia ▪ É uma lesão pré-maligna. Na biópsia é constatado a metaplasia ▪ A triagem (endoscopia) é normalmente recomendada para pacientes com múltiplos fatores de risco: ▪ Duração da DRGE de 5-10 anos/ Idade 50 anos ou mais ▪ Sexo masculina ▪ Raça branca ▪ Hérnia hiatal ▪ Obesidade ▪ Refluxo noturno ▪ Tabagismo ▪ HF de primeiro grau com adenocarcinoma de esôfago • Qualidade de vida o Baixa pontuações nas escalas de sono foram observadas em comparação com pacientes com sintomas menos frequentes. Também foi observada uma diminuição no desempenho físico o A DRGE noturna tem um impacto maior na QV em comparação com os sintomas diurnos. Tanto os sintomas noturnos quanto os distúrbios do sono são fundamentais para elucidar a avaliação do paciente com DRGE o A frequência dos sintomas não muda a medida que envelhecemos. No entanto, a intensidade dos sintomas pode diminuir após os 50 anos. O envelhecimento aumenta a prevalência de esofagite erosiva, graus C e D de los angeles. o O esôfago de barret aumenta sua prevalência após os 50 anos, principalmente em homens brancos o Pacientes com esofagite erosiva são mais propensos a serem homens, e as mulheres são mais propensas a ter NERD. O esôfago de Barret é mais frequente em homens do que mulheres. o Em relação ao adenocarcinoma de esofago, a relação masculino para feminino é de 8:1 • Obesidade o Várias metanálises sugerem uma associação entre IMC, circunferência abdominal, ganho de peso e presença de sintomas e complicações da DRGE, incluindo esofagite erosiva e esôfago de barret. o O estudo ProGERD, provavelmente o maior de seu tipo usou análise de regressão logística para identificar vários fatores de risco independentes para ERD. As chances de graus mais altos de ERD aumentaram com o aumento do IMC. 3 Kéven Wrague e Laura Almeida ATM23 • Diagnóstico o Pode-se estabelecer no quadro de sintomas típicos de azia e regurgitação, e um curso de 8 semanas com IBP(inibidores da bomba de prótons) é recomendado nesta configuração o Pacientes com sintomas clássicos: ▪ o diagnóstico geralmente pode ser baseado apenas em sintomas clínicos. ▪ No entanto, os pacientes podem precisar de avaliação adicional se apresentarem características de alarme (emagrecimento, disfagia, hemorragia digestiva, HF), fatores de risco para o esôfago de barret ou imagens gastrointestinais anormais realizadas para avaliação de seus sintomas. o Pacientes sem sintomas clássicos ▪ Outros sintomas como já citados que podem ocorrer, mas não são suficientes para fazer um diagnóstico clínico de DRGE na ausência de sintomas clássicos. ▪ Outros distúrbios precisam ser excluídos antes de atribuir os sintomas a DRGE. Como exemplo, a dor no peito inexplicável deve ser avaliada com um ECG e um teste ergométrico antes da avaliação gastrointestinal ➢ Endoscopia digestiva alta o Não é necessária na presença de sintomas típicos. o A endoscopia é recomendada na presença de sintomas de alarme (disfagia, odinofagia, anorexia, perda de peso, hemorragia gastrointestinal), e para rastreamento de pacientes com alto risco de complicações. o Repetir endoscopia não é indicada em pacientes sem esôfago de barret e na ausência de outros sintomas. o A endoscopia não faz o diagnóstico de DRGE, apenas avalia as complicações o Achados endoscópicos ▪ Pode ser normal em pacientes com DRGE ou pode haver evidencias de esofagite em graus variados ▪ Entre os pacientes com DRGE não tratados, aproximadamente 30% terão esofagite endoscópica. A gravidade e a duração dos sintomas correlacionam-se pouco com a gravidade da esofagite. ▪ Outros achados em pacientes com DRGE de longa data, incluem estenose péptica, metaplasia de Barret e adenocarcinoma de esôfago • Classificação de Los Angeles o Grau A (leve) - uma ou mais rupturas mucosas com comprimento <6mm o Grau B (moderada) – pelo menos uma ruptura da mucosa >5mm de comprimento, mas não continua entre os topos das dobras mucosas adjacentes. o Grau C (severa)– Pelo menos uma ruptura da mucosa que é contínua entre os topos das dobras mucosas adjacentes, mas que não é circunferencial o Grau D (muito severa) – Quebra da mucosa que envolve pelo menos ¾ da circunferência luminal 4 Kéven Wrague e Laura Almeida ATM23 • Outros testes para diagnóstico o A manometria esofágica é recomendada para avaliação pré-operatória, mas não tem papel no diagnóstico da DRGE. Ela é usada para avaliação da motilidade esofágica. o O monitoramentoambulatorial do PH é indicado antes da consideração da terapia endoscópica ou cirúrgica em pacientes com doença não erosiva, como parte da avaliação de pacientes refratários a terapia com IBP e em situações em que o diagnóstico de DRGE está em questão. É o único teste que pode avaliar a associação de sintomas com o refluxo. ➢ Manometria esofágica o Em pacientes com suspeita de DRGE com dor no peito e/ou disfagia e endoscopia digestiva alta normal, uma manometria esofágica deve ser realizada para excluir um distúrbio da motilidade esofágica. o A manometria é útil para garantir que as sondas ambulatoriais de pH sejam colocadas corretamente. Também é usado para avaliar a função peristáltica antes da cirurgia anti-refluxo para DRGE ➢ Monitoração ambulatorial do pH esofágico – pHmetria o A monitorização ambulatorial do pH é usada para confirmar o diagnóstico de DRGE naqueles com sintomas persistentes (típicos ou atípicos, principalmente se um teste com IBP 2x/dia falhar) ou para monitorar a adequação do tratamento naqueles com sintomas continuados ➢ Terapia cirúrgica o É uma opção de tratamento de longo prazo em pacientes com DRGE. Geralmente é recomendado para pacientes jovens os quais terão que usar IBPs durante muitos anos. o Não é recomendada em pacientes que não respondem a terapia com IBP o A pHmetria é obrigatório em pacientes sem evidencia de esofagite erosiva o Todos pacientes devem ser submetidos ao pré-operatório manometria para descartar acalasia ou esôfago semelhante a esclerodermia o É uma opção tão eficaz quanto a terapia médica para pacientes cuidadosamente selecionados com DRGE crônica quando realizada por um cirurgião experiente. o Pacientes obesos contemplando terapia cirúrgica para DRGE devem ser considerados para cirurgia bariátrica. O Bypass gástrico seria a operação preferida nesses pacientes Tratamento o Objetiva controlar os sintomas, cicatrizar as lesões e prevenir complicações, podendo ser fundamentalmente clínico ou cirúrgico. o A grande maioria dos pacientes se beneficia com tratamento clínico, que deve abranger medidas comportamentais e farmacológicas, as quais deve ser implementada simultaneamente. • Tratamento Não farmacológico o Perda de peso o Elevação da cabeceira da cama o Cessação do tabagismo e álcool o Prevenção de refeições noturnas e interrupção de alimentos que podem potencialmente agravar os sintomas de refluxo, incluindo cafeína, café, chocolate, alimentos condimentados, altamente alimentos ácidos, alimentos com alto teor de gordura. 5 Kéven Wrague e Laura Almeida ATM23 • Tratamento farmacológico o Favorecem a inibição da secreção gástrica, haja visto que atuam melhorando os sintomas e cicatrizando a esofagite. o Os fármacos disponíveis são: ▪ Inibidores da bomba de prótons (IBP) ▪ Antiácidos e Sucralfato ▪ Alginatos ▪ Bloqueadores dos receptores H2 da histamina (cimetidina, ranitidina) ▪ Procinéticos (metoclopramida, domperidona) o Em um paciente com sintomas típicos sem sinais de alarme, o tratamento inicial será um curso de 8 semanas de IBP’s para alívio dos sintomas e cicatrização da esofagite erosiva. Não existem grandes diferenças na eficácia entre os diferentes IBPs. o Os IBPs tradicionais de liberação retardada devem ser administrados 30 a 60 min antes da refeição para o controle máximo de PH o Os IBPs mais recentes (dexilant) podem oferecer flexibilidade de dosagem em relação ao horário da refeição o A terapia com IBP deve ser iniciada uma dose ao dia, antes da primeira refeição do dia. Para pacientes sem resposta a terapia uma vez ao dia, deve ser considerada uma terapia personalizada com ajuste do tempo da dose e/ou dosagem 2x/dia em pacientes com sintomas noturnos, horários variáveis e /ou distúrbios do sono. o Os que não responderam ao IBP devem ser encaminhados para avaliação para outras causas (distúrbios de motilidade, dispepsia funcional, ...) o Em pacientes com resposta parcial, aumentar a dose para terapia 2x/dia ou mudar para um IBP. o Após tratamento de 8 semanas, tenta-se retirar o medicamento, porém alguns pacientes não vão tolerar necessitando de doses de manutenção o A terapia de manutenção com IBP deve ser administrada em pacientes com DRGE que continuam a apresentar sintomas após a interrupção do IBP e em pacientes com complicações incluindo esofagite erosiva e esôfago de Barret. o Para pacientes que necessitam de terapia de longo prazo com IBP, deve ser administrado na dose eficaz mais baixa, incluindo terapia sob demanda ou intermitente. o As opções médicas para pacientes com DRGE com resposta incompleta a terapia com IBP são limitadas. A adição de H2RA* na hora de dormir tem sido recomendada para pacientes com sintomas refratários ao IBP. Essa abordagem ganhou popularidade depois que vários estudos de pH intragástrico demonstraram controle noturno do pH *pode estar associado ao desenvolvimento de taquifilaxia após várias semanas de uso. o Os IBPs em doses padrão por 8 semanas aliviam os sintomas e curam esofagite em até 86% dos pacientes com esofagite erosiva o Pacientes com esofagite grave ou esôfago de barret requerem supressão de ácido de manutenção com um IBP em dose padrão, pios é provável que tenham sintomas e complicações recorrentes se a supressão de ácido for diminuída ou descontinuada o Indicações para encaminhamento para especialista: ▪ Pacientes que não respondem a terapia de IBP 1x/dia (DRGE refratária) ▪ Pacientes que não conseguem tolerar IBP’s de longo prazo ou desejam interromper a terapia. 6 Kéven Wrague e Laura Almeida ATM23
Compartilhar