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Livro Uniasselvi - Teoria da Literatura I - Unidade 1 - Tópico 5

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43
TÓPICO 5
OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, a literatura exerce uma dupla função, serve como 
expressão artística e também como meio de transmitir conhecimentos. Começou 
a existir através da oralidade com o objetivo de perpetuar as histórias e a cultura 
para as gerações seguintes. Assim, podemos dizer que a literatura é o reflexo do 
que somos, de nossas aspirações, e está sempre relacionada com as características 
sociais e históricas de cada época. Retrata o homem em seu caráter mais subjetivo. 
Desde o século V a.C. há uma divisão da literatura em gêneros, feita, pela 
primeira vez, por Aristóteles em seu livro Obra Poética. São eles: o gênero lírico, 
gênero épico ou narrativo e gênero dramático. Cada um desses gêneros é dividido 
em subgêneros, que vamos estudar na sequência. 
2 GÊNERO LÍRICO (POESIA)
O gênero lírico retrata sentimentos e emoções, através do eu-lírico ou 
sujeito-lírico que expressa reflexões pessoais. Nesse gênero predomina o tempo 
presente e o eu-lírico expressa em palavras o que sente naquele momento, ou seja, 
centra-se no mundo interior, subjetivo. 
A organização dos textos privilegia efeitos sonoros, ritmo, semântica e 
musicalidade. Na sua origem, eram usados instrumentos de sopro e de corda. 
Aliás, a palavra lírico faz referência ao instrumento musical chamado lira, muito 
popular naquela época. A exposição das composições costumava ser apresentada 
sob o som da lira ou da flauta. A musicalidade era considerada fonte de inspiração 
e criatividade de todo o sentimentalismo característico do gênero. 
44
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Passando da oralidade à escrita são mantidos recursos como a repetição 
de versos (refrão), palavras e fonemas, aspectos que revelam a proximidade entre 
poesia e musicalidade. Você já deve ter ouvido músicas provenientes de poemas, 
o que comprova essa proximidade. Observe a seguir o poema “Amor é fogo que 
arde sem se ver”, de Luis Vaz de Camões. Dele vamos depreender algumas das 
características do gênero lírico.
Amor é fogo que arde sem se ver, 
é ferida que dói, e não se sente; 
é um contentamento descontente, 
é dor que desatina sem doer. 
 
É um não querer mais que bem querer; 
é um andar solitário entre a gente; 
é nunca contentar-se de contente; 
é um cuidar que ganha em se perder. 
 
É querer estar preso por vontade; 
é servir a quem vence, o vencedor; 
é ter com quem nos mata, lealdade. 
 
Mas como causar pode seu favor 
nos corações humanos amizade, 
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
No que se refere à musicalidade podemos observar a repetição de ideias, 
sendo que da primeira à terceira estrofe, todos os versos trazem uma definição 
de amor. Nos mesmos versos ocorre a repetição de palavras, no caso o verbo É, 
que introduz cada verso. Há um esquema de rimas bem definido, de forma que 
nas duas primeiras estrofes o primeiro verso rima com o quarto e segundo com 
o terceiro. Já nas duas últimas estrofes a rima se dá entre o primeiro e o terceiro 
verso, o segundo verso da terceira estrofe rima com o segundo da quarta estrofe. 
Esses elementos garantem a musicalidade do poema. Prova disso é a compilação 
desse poema com um texto bíblico (Epístola de São Paulo aos Coríntios), feita pela 
banda Legião Urbana, na música Montecastelo. A música é bastante difundida, 
mas se você ainda não conhece, vale a pena conferir.
Outras características do gênero lírico, observáveis no poema de Camões, 
são a exposição dos sentimentos e emoções do eu-lírico, o uso do tempo presente 
e a reflexão do mundo interior/subjetivo.
O gênero lírico se subdivide em quatro subgêneros: elegia, ode, écloga 
e soneto. 
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
45
a) Elegia: Conforme Soares (2007, p. 32), elegia vem do grego elegeía, que se 
refere a cantos de luto e tristeza ou “talvez à transcrição helênica do vocábulo 
armênio (elegn, elegneay) que significava ‘bambu’ ou ‘flauta de bambu’, já que 
esta acompanhava os cantos lutuosos”. O tema da elegia, de maneira geral, é a 
tristeza e o pranto pela morte de um amigo ou pessoa ilustre ou mesmo a dor 
por conta de um amor não correspondido ou interrompido. Seria o poema de 
Camões exposto acima uma elegia?
Leia com atenção o poema a seguir, de Fagundes Varela, e observe os 
aspectos típicos da elegia. 
Cântico do Calvário
À memória de meu Filho morto a 11 de dezembro de 1863 
Eras na vida a pomba predileta 
Que sobre um mar de angústias conduzia 
O ramo da esperança. Eras a estrela 
Que entre as névoas do inverno cintilava 
Apontando o caminho ao pegureiro. 
Eras a messe de um dourado estio. 
Eras o idílio de um amor sublime. 
Eras a glória, a inspiração, a pátria, 
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto, 
Pomba, - varou-te a flecha do destino! 
Astro, - engoliu-te o temporal do norte! 
Teto, - caíste!- Crença, já não vives! 
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas, 
Legado acerbo da ventura extinta, 
Dúbios archotes que a tremer clareiam 
A lousa fria de um sonhar que é morto!
NOTA
Algumas palavras não são comuns em nosso contexto. Então vamos aos 
seus significados
. 
Pegureiro = guardador de gado, relativo a pastor.
Messe = ceifa, colheita, aquisição, conquista. 
Idílio = poesia de assunto pastoril.
Acerbo = que tem sabor áspero, amargo, duro, árduo.
Archotes = haste em que uma das extremidades é acesa para iluminar.
46
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Há no poema uma aproximação do eu-lírico com o objeto, através do uso 
de metáforas (“Eras na vida a pomba predileta”, “O ramo da esperança”, “Eras o 
idílio” etc.) que compõem uma beleza dramática e comovente. 
a) Ode: do grego oidê, que significa canto. São poemas compostos para serem 
cantados, geralmente são compostos por quartetos e têm métrica variada. Os 
hinos são exemplos de ode. Diferentemente da elegia, apresenta temas variados, 
subdividindo a ode em pindáricas, que exaltam homens e acontecimentos ilustres; 
as sacras, que exaltam a religiosidade; as filosóficas, que tratam de assuntos 
filosóficos e meditativos; as sáficas, que tratam de assuntos morais; as báquicas, 
que celebram os prazeres da mesa. De maneira que esses poemas apresentam 
métrica variada. A poetisa Safo e os poetas Alceu e Anacreonte foram os primeiros 
a compor odes. A seguir você pode conferir algumas dessas características no 
poema de Álvaro de Campos, pseudônimo de Fernando Pessoa.
SAUDAÇÃO A WALT WHITMAN
Portugal-Infinito, onze de junho de mil novecentos e quinze...
Hé-lá-á-á-á-á-á-á!
De aqui, de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,
Ó sempre moderno e eterno, cantor dos concretos absolutos,
Concubina fogosa do universo disperso,
Grande pederasta roçando-te contra a diversidade das coisas
Sexualizado pelas pedras, pelas árvores, pelas pessoas, pelas profissões,
Cio das passagens, dos encontros casuais, das meras observações,
Meu entusiasta pelo conteúdo de tudo,
Meu grande herói entrando pela Morte dentro aos pinotes,
E aos urros, e aos guinchos, e aos berros saudando Deus!
NOTA
Pederasta = conforme o Dicionário Aurélio, significa homossexualismo masculino.
Pinotes = salto, coice, pirueta, pulo.
Como você pode notar, esse poema exalta a festividade, a sensualidade e 
mesmo a orgia. Por isso, apesar de não falar dos prazeres da mesa como o nome 
sugere, fazendo uma referência a Baco, Deus do vinho, podemos classificá-lo 
como uma ode báquica. 
A seguir, temos um excerto de Ode Triunfal, de Álvaro de Campos, 
pseudônimo de Fernando Pessoa. 
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
47
Dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica 
Tenho febre e escrevo. 
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, 
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! 
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! 
Em fúria fora e dentro de mim, 
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudocom que eu sinto! 
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, 
De vos ouvir demasiadamente de perto, 
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso 
De expressão de todas as minhas sensações, 
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
O poema pode ser definido como um canto de louvor à modernidade. Você 
pode notar ainda a onomatopeia r-r-r-r-r-r-r que reproduz o som das máquinas, 
representa o ritmo acelerado de sociedade industrializada, sobre os excessos que 
não respeitam o ritmo das pessoas, causando mesmo, como o poeta diz, febre, 
ranger de dentes, fúria, enfim, uma perda da paz. O ritmo do poema transmite 
ao leitor um sentimento de fúria, velocidade, evoluindo para o cansaço frente 
aos excessos da sociedade industrializada. A crítica à sociedade industrializada 
é uma das características do romantismo, período do qual Fernando Pessoa faz 
parte. OdeTriunfal pode ser classificado como uma ode filosófica, pois medita a 
respeito da industrialização, uma realidade da sociedade da época.
a) Écloga: poema pastoril, bucólico, cujas emoções são representadas por 
elementos da natureza. Esse estilo de composição é característico do arcadismo. 
Exemplificamos com um trecho do poema de Tomás Antônio Gonzaga.
Marília de Dirceu
Enquanto pasta, alegre, o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado. 
Um pouco meditemos
Na regular beleza, 
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia natureza [...]
Repara como, cheia de ternura, 
Entre as asas ao filho essa ave aquenta
Como aquela esgravata a terra dura, 
E os seus assim sustenta, 
Como se encoleriza, 
E salta sem receio a todo o vulto 
Que junto deles pisa.
[...]
48
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
d) Soneto: bastante popular ainda na contemporaneidade, sua forma mais 
recorrente é a composição por dois quartetos (estrofes com quatro versos) e dois 
tercetos (estrofes com três versos). O nome soneto provém do italiano sonetto 
que significa melodia/canção. Quando composto por dois quartetos e dois 
tercetos é classificado como petrarqueano, visto ser a forma escolhida pelo poeta 
Petrarca, mas passou a servir de modelo para poetas de várias nacionalidades. 
O esquema de rimas costuma funcionar dessa forma: ABAB/ABAB/CCD/CCD, 
ABBA/ABAB/CDC/DCD ou com algumas variações. Procure observar essa 
forma e esquema de rimas no soneto de Vinícius de Moraes a seguir. 
Soneto de Separação
 
De repente do riso fez-se o pranto A 
Silencioso e branco como a bruma B 
E das bocas unidas fez-se a espuma B 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. A 
 
De repente da calma fez-se o vento A 
Que dos olhos desfez a última chama B 
E da paixão fez-se o pressentimento A 
E do momento imóvel fez-se o drama. B
De repente, não mais que de repente C 
Fez-se de triste o que se fez amante D 
E de sozinho o que se fez contente. C 
 
Fez-se do amigo próximo o distante D 
Fez-se da vida uma aventura errante D 
De repente, não mais que de repente C
Quando o soneto é estruturado em três quadras e um dístico (estrofe 
com dois versos) é chamado de soneto inglês ou soneto shakespeariano. Apesar 
do nome, essa forma foi adotada inicialmente por Fernando Pessoa. Observe o 
soneto escrito por Manuel Bandeira.
Soneto inglês nº 1 
 
Quando a morte cerrar meus olhos duros 
- Duros de tantos vãos padecimentos, 
Que pensarão teus peitos imaturos 
Da minha dor de todos os momentos? 
 
Vejo-te agora alheia, e tão distante: 
Mais que distante - isenta. E bem prevejo, 
Desde já bem prevejo o exato instante 
Em que de outro será não teu desejo, 
 
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
49
Que o não terás, porém teu abandono, 
Tua nudez! Um dia hei de ir embora 
Adormecer no derradeiro sono. 
Um dia chorarás... Que importa? Chora. 
 
Então eu sentirei muito mais perto 
De mim feliz, teu coração incerto.
Resultado desses dois modelos surge o soneto spencerista, com a mesma 
forma do soneto inglês, mas com um esquema de rimas que entrelaça as três 
quadras. Exemplo dessa forma é o poema de Mário de Andrade. 
Aceitarás o amor como eu o encaro?...
Aceitarás o amor como eu o encaro?... A 
Azul bem leve, um nimbo, suavemente B 
Guarda-te a imagem, como um anteparo A 
Contra estes móveis de banal presente. B 
 
Tudo o que há de melhor e de mais raro A 
Vive em teu corpo nu de adolescente, B 
A perna assim jogada e o braço, o claro A 
Olhar preso no meu, perdidamente. B 
 
Não exijas mais nada. C 
Não desejo também mais nada, C 
só te olhar, enquanto a realidade é simples, D 
e isto apenas. E 
 
Que grandeza... a evasão total do pejo F 
Que nasce das imperfeições. G 
O encanto que nasce das adorações serenas. E
Como você pode observar, as duas primeiras estrofes estão entrelaçadas pelas 
rimas, e nas estrofes finais, a rima se dá entre os últimos versos de cada uma delas. 
3 GÊNERO NARRATIVO
Como o nome sugere, narrativo refere-se a narrar, ou seja, contar histórias 
com personagens que se envolvem em uma ação que acontece em determinado 
tempo e lugar. Funções cumpridas pelos contos, romances, fábulas, crônicas e 
pelas epopeias, sobre as quais veremos a seguir. 
50
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
A epopeia, por exemplo, é uma narração longa, que pode ser escrita tanto 
em prosa como em versos, nesta última possibilidade carrega ainda características 
da poesia. Conforme Soares (2007, p. 39), a epopeia é:
uma longa narrativa literária de caráter heroico, grandioso e de 
interesse nacional e social, ela apresenta, juntamente com todos os 
elementos narrativos (o narrador, o narratário, personagens, tema, 
enredo, espaço e tempo), uma atmosfera maravilhosa que, em torno 
de acontecimentos históricos passados, reúne mitos, heróis e deuses, 
podendo-se apresentar em prosa [...] ou em verso.
A Ilíada e a Odisseia são consideradas os dois maiores poemas épicos da 
história, considerados como marcos da narrativa ocidental. A primeira conta a 
história da guerra de Troia, cujo estopim foi o rapto de Helena, esposa do rei de 
Esparta. Os cantos descrevem feitos heroicos, especialmente de Aquiles, filho de 
um Deus com uma mortal, que demonstra nas batalhas toda a sua fúria. 
Já a narrativa da Odisseia dedica-se ao retorno de Ulisses, que durante 
muitos anos afrontou perigos na terra e no mar, antes de poder retornar ao seu 
reino, Ítaca. Pode-se dizer que o mar foi o seu principal adversário. Em busca do 
retorno ao lar e à sua amada Penélope, o mar insistiu em o levar a terras muito 
exóticas. Só depois de muitos anos de esforços conseguiu retornar ao seu lar.
DICAS
: Assista aos filmes:
TROIA. Direção de Wolfgang Petersen. Roteiro: David Benioff. 2004. 
A ODISSEIA. Direção de Andrei Konchalovsky. 1997.
Outro exemplo interessante é Os Lusíadas, de Camões. A escrita acontece 
na terceira pessoa, de forma que o escritor deve manter distanciamento dos fatos, 
pois estes representam acontecimentos do passado. Você é capaz de perceber 
essas características no excerto a seguir?
As armas e os barões assinalados, 
Que da ocidental praia Lusitana, 
Por mares nunca de antes navegados, 
Passaram ainda além da Taprobana, 
Em perigos e guerras esforçados, 
Mais do que prometia a força humana,
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
51
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas 
Daqueles Reis, que foram dilatando 
A Fé, o Império, e as terras viciosas
NOTA
Taprobana aqui refere-se a um nome de lugar.
Observa-se, nesse excerto, a bravura e os feitos heroicos de personagens 
que enfrentam o desconhecido a partir de mares nunca antes navegados em 
nome da fé e do império. Uma história é contada em forma de verso, no caso, a 
história da viagem de Vasco da Gama às Índias, sendo o personagem principal/
herói Vasco da Gama, que é símbolo da bravura que representa o povo lusitano. 
Diferente da epopeia, o romance é escrito em prosa. 
O romance surge na Idade Média, com os romances de cavalaria, narrando 
fatosfictícios sem compromisso em representar acontecimentos passados. Assume 
diferentes características, conforme o período literário. No Renascimento trata de 
temas pastoris e sentimentais, no Barroco retrata aventuras confusas e complexas. 
A narrativa moderna inicia com a escrita de Dom Quixote, de Cervantes. Aqui 
passa a apresentar, de maneira cômica, uma crítica aos costumes e abre espaço 
para a análise psicológica, representando através do personagem principal uma 
realidade fantástica, ou melhor, uma realidade alternativa em relação àquela que 
as demais pessoas costumam enxergar. 
O gênero romance é composto por enredo, espaço, personagens, tempo 
e ponto de vista da narrativa. Quanto à sua estrutura, apresenta um núcleo ou 
história principal que se relaciona a vários núcleos secundários, quer dizer, 
histórias que acontecem paralelamente à principal.
52
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
FIGURA 2 – ESTRUTURA DO ROMANCE E DA NOVELA
FONTE: A autora
Para ficar mais claro, você pode comparar a estrutura do romance à 
estrutura das telenovelas. Nelas temos uma história principal e, ao redor e ligadas 
a ela, histórias que acontecem simultaneamente. 
O enredo do romance se constitui pelo encadeamento dos fatos narrados, 
ou seja, trata-se do conteúdo no qual a narrativa se constrói. Já a trama é a sequência 
dos fatos, os acontecimentos vividos pelos personagens no desenrolar da história.
O enredo se desenvolve de forma que o leitor conheça o ambiente e 
as personagens, logo se desenrolam os primeiros conflitos. O caminho para a 
resolução dos conflitos leva-nos ao clímax, que, como já mencionamos neste 
material, é o ponto de maior tensão e, quando se trata de uma telenovela, é o 
momento em que, geralmente, acaba o capítulo, deixando-nos ansiosos pelo 
desfecho, que é a maneira como se resolve o conflito. Esses elementos são comuns 
ao romance, à novela e também ao conto. 
A narrativa, tanto do romance quanto do conto ou da novela, se organiza 
no fluxo do tempo, que pode ser linear, ou seja, quando o tempo, o espaço e os 
personagens são apresentados de maneira cronológica, onde podemos perceber 
facilmente começo, meio e fim da narrativa. 
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
53
A narrativa não linear desenvolve-se de maneira descontinuada, com 
saltos, antecipações, retrospectivas, há ruptura no tempo e no espaço em que as 
ações são apresentadas na narrativa. Exemplificamos com dois excertos do conto 
A Cartomante, de Machado de Assis.
Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que 
sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço 
Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na 
véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
 
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba 
que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe 
dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora 
gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as 
cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me 
esquecesse, mas que não era verdade... 
— Errou! interrompeu Camilo, rindo. 
Esse primeiro excerto é composto pelos primeiros parágrafos do 
conto. Você pode notar que Camilo e Rita demonstram ser bons conhecidos e 
conversam tranquilamente numa tarde qualquer. Porém, como você verá no 
trecho a seguir, somente já no final da primeira página é que Vilela apresenta 
sua esposa Rita a Camilo. 
— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina 
como meu marido é seu amigo, falava sempre do senhor. 
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. 
Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não 
desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos 
cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava 
trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave 
de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um 
ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os 
óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. 
Nem experiência, nem intuição. 
54
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Que você se sinta convidado a essa leitura que lhe permitirá perceber os 
efeitos da não linearidade na narrativa, o que, nesse caso especificamente, faz 
com que o leitor conheça o amor clandestino entre Rita e Camilo, enquanto o 
suspense da narrativa é construído na tensão que se dá até o momento em que 
Vilela descobre a traição, e o desfecho do conto. Além de apreciar a técnica, você 
terá uma boa leitura. 
Para compreendermos como funciona a narrativa linear, basta observamos 
que os fatos são contados exatamente na ordem em que acontecem. É o caso, por 
exemplo, dos contos infantis de Cinderela, Branca de Neve e outros.
Quando falamos em tempo na narrativa, não podemos nos esquecer do 
tempo psicológico, este é imaterial, não é marcado pelo relógio, flui na mente 
das personagens. “Transmite a sensação experimentada durante o tempo em 
que o fato ocorreu: a personagem pode ter passado por situações que pareceram 
extremamente longas, mas que, na realidade, duraram apenas alguns minutos. 
O tempo psicológico é produto de uma experiência interior, não mensurável 
mecanicamente, mas subjetivamente” (BIAGI, 2013, s.p.). Em Alice no País das 
Maravilhas, de Lewis Carroll, a menina pergunta ao coelho: Quanto tempo dura 
o que é eterno? Ao que o coelho responde: às vezes apenas um segundo. 
O espaço, também chamado de cenário, é o conjunto de elementos que 
compõem a paisagem onde se desenvolve a trama. É muito importante, pois está 
diretamente ligado à trama e ao tempo. Por exemplo, no trecho a seguir, de Vidas 
Secas, de Graciliano Ramos, observamos o quanto o cenário define o enredo: “A 
caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas 
que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos 
moribundos”.
NOTA
A citação acima é retirada de material em e-book. Não apresenta data de 
publicação, nem numeração de páginas. Disponível em: <http://www.lettere.uniroma1.it/
sites/default/files/528/GRACILIANO-RAMOS-Vidas-secas-livro-completo.pdf>. Acesso em: 
29 abr. 2017.
Quanto ao ponto de vista, a narrativa apresenta três tipos de narradores: o 
narrador-personagem, cuja escrita está em primeira pessoa, visto que ele também 
participa da história. Veja no excerto do conto a seguir: 
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
55
Édipo, tu que reinas em minha pátria, bem vês esta multidão prosternada 
diante dos altares de teu palácio; aqui há gente de toda a condição: crianças que 
mal podem caminhar, jovens na força da vida, e velhos curvados pela idade, 
como eu, sacerdote de Júpiter (SÓFOCLES, s.d.).
No excerto acima o narrador participa da história e fala a respeito da 
situação presenciada por ele e seu interlocutor. 
Já o narrador-observador conta a narrativa em terceira pessoa, observa 
tudo de fora, sem dela participar, por isso é imparcial e conhece das personagens 
apenas o que é observável.
Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa 
deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre 
o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a 
cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos 
arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a 
ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, 
que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus 
olhos (KAFKA, s.d., p. 2).
Como você pôde notar, acima são descritas todas as características da 
personagem que havia se transformado em inseto, o narrador-observador só poderá 
conheceros sentimentos da personagem quando estes são externados por ela. 
Já o narrador-onisciente conta a história em terceira pessoa, com algumas 
intromissões em primeira. Diferente do narrador-observador, ele conhece o 
íntimo das personagens, inclusive suas emoções e pensamentos. Temos aqui um 
trecho de Vidas Secas, de Graciliano Ramos:
A sensação que experimentava não diferia muito da que tinha tido ao ser 
preso. Era como se as mãos e os braços da multidão fossem agarrá-lo, subjugá-
lo, espremê-lo num canto de parede. Olhou as caras em redor. Evidentemente 
as criaturas que se juntavam ali não o viam, mas Fabiano sentia-se rodeado de 
inimigos, temia envolver-se em questões e acabar mal a noite. Soprava e esforçava-
se inutilmente por abanar-se com o chapéu. Difícil mover-se, estava amarrado. 
56
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
O narrador-onisciente descreve os sentimentos de Fabiano como se fossem 
dele mesmo, aproveitando cada detalhe.
IMPORTANT
E
Você já ouviu falar no site Domínio Público? Pois então, lá você pode acessar 
várias obras que já não dispõem mais de direitos autorais, na íntegra, e sem custos. Foi deste 
site que retiramos os excertos utilizados para exemplificar os tipos de narrador estudados: 
Édipo Rei, de Sófocles; A Metamorfose, de Franz Kafka, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. 
Por isso não conseguimos precisar ano de publicação ou numeração de páginas.
Esta é uma ótima maneira de ter acesso a vários clássicos. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2198>. 
Acesso em: 30 maio 2017.
O conto, assim como o romance, é composto por tema, enredo, conflito, 
clímax e desfecho, mas representa apenas um flagrante, um episódio singular. 
É formado por apenas um núcleo narrativo, ou seja, não há histórias paralelas 
ligadas ao núcleo narrativo. Compare a imagem a seguir com aquela que 
representa a composição do romance. 
FIGURA 3 – ESTRUTURA DO CONTO
FONTE: A autora
Sugerimos a leitura do conto “Amor”, de Clarice Lispector. Nele você 
poderá analisar como o conto representa um flagrante de um momento específico, 
o resultado de um trabalho minucioso de seleção por parte do escritor, de forma a 
retratar os momentos mais significativos, concentrados na narrativa. 
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
57
A novela, quanto à estrutura, assemelha-se ao romance, sendo estruturada 
por um núcleo principal e núcleos secundários ligados a ele. Conforme Soares 
(2007), representa um meio-termo entre o conto e o romance. É menor que este 
último, mas tem todos os elementos estruturais dele, porém em menor quantidade. 
O clímax, como exemplificamos anteriormente, acontece com mais frequência 
como forma de prender a atenção do público leitor ou espectador, criando uma 
expectativa para a continuidade da narrativa. Na novela a narrativa acontece de 
forma mais acelerada que no romance, com predomínio de cenas de ação que dão 
dinamicidade à trama. Isso favorece o predomínio da narrativa desenvolvida por 
diálogos, o que também acontece nos textos dramáticos. Sobre esse gênero, aliás, 
comentaremos na sequência. 
DICAS
Sobre a produção do gênero narrativo, sugerimos os filmes a seguir: 
ENCONTRANDO FORRESTER. Direção de Gus van Sant. Roteiro: Mike Rich. Música: Bill 
Brown. Alemanha, 2000. (76 min.), color. Legendado.
MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO. Direção de Marc Forster. Roteiro: Zach Helm. Música: Britt 
Daniel, Brian Reitzell. 2007. (113 min.), color. Legendado.
4 GÊNERO DRAMÁTICO
A origem do gênero dramático vem de dráo, que significa fazer/ação. 
No século IV a.C., na Grécia antiga, o teatro apareceu como resultado de uma 
transformação dos hinos cantados em honra ao Deus Dionísio, deus do vinho e 
das festas. Nesse período também era comum a representação de comédias que 
satirizavam o comportamento humano e os costumes. Uma das características do 
teatro é que ele acontece por si mesmo, o enredo se desenrola a partir de diálogos 
sem a interferência de narrador. O desenrolar da narrativa procura desenvolver a 
expectativa do público até o desfecho da peça. 
Em algumas peças dramáticas a tensão é extravasada pelo riso. O drama da 
vida do personagem, por mais complexo que seja, encontra fuga na comicidade. 
Muitas vezes, representa uma sátira de problemas sociais ou situações individuais, 
ou seja, funciona como uma crítica de costumes. Nessa linha, sugerimos que 
você leia o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, escrito em 1955 e encenado 
pela primeira vez 1956. Esse texto foi adaptado para a TV e exibido em quatro 
capítulos em 1998. Foi encenado por Selton Mello, fazendo o papel de Chicó; 
Matheus Nachtergaele, o papel de João Grilo, e Fernanda Montenegro, numa 
curta passagem, representando Nossa Senhora, e Lima Duarte, no papel de Padre.
58
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Confira a seguir um trecho dessa peça para entender melhor as 
características do gênero. 
CHICÓ, depois de estender-lhe o punho fechado.
Padre João!
JOÃO GRILO
Padre João! Padre João!
PADRE, aparecendo na igreja
Que há, que gritaria é essa?
Fala afetadamente com aquela pronúncia e aquele estilo que Leon Bloy 
chamava “sarcedotais”.
CHICÓ
Mandaram o senhor avisar para o senhor não sair, porque vem uma 
pessoa aqui trazer um cachorro que está se ultimando para o senhor benzer. 
PADRE
Para eu benzer?
CHICÓ
Sim.
PADRE, com desprezo.
Um cachorro?
CHICÓ
Sim.
PADRE
Que maluquice! Que besteira!
JOÃO GRILO
Cansei de dizer a ele que o senhor não benzia. Benze porque benze, vim 
com ele.
PADRE
Não benzo de jeito nenhum
CHICÓ
Mas, padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho. 
JOÃO GRILO
No dia em que chegou o motor novo do major Antônio Morais o senhor 
não o benzeu?
PADRE
Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu 
nunca ouvi falar. 
CHICÓ
Eu acho cachorro uma coisa muito melhor que motor. 
PADRE
É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro. Benzer 
motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?
JOÃO GRILO
É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e uma coisa é 
benzer o motor do major Antônio Morais e outra o cachorro do major Antônio Morais. 
PADRE, mão em concha no ouvido.
Como?
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
59
JOÃO GRILO
Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do major Antônio 
Morais. 
PADRE
O dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio Morais?
JOÃO GRILO
É, eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse, mas o major 
é rico e poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de perder meu emprego, 
fui forçado a obedecer, mas disse a Chicó: o padre vai se zangar. 
PADRE, desfazendo-se em sorrisos.
Zangar nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter direito de 
se zangar? Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o 
cachorro!
JOÃO GRILO, cortante. 
Quer dizer que benze, não é?
PADRE, a Chicó.
Você, o que é que acha?
CHICÓ
Eu não acho nada demais. 
PADRE
Nem eu. Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus. 
JOÃO GRILO
Então fica tudo na paz do senhor, com cachorro benzido e todo mundo 
satisfeito. 
PADRE
Digam ao major que venha. Estou esperando. 
Entra na igreja.
CHICÓ
Que invenção foi essa de dizer que o cachorro era do major Antônio Morais?
JOÃO GRILO
Era o único jeito de o padre prometer que benzia. Tem medo da riqueza do 
major que se pela. Não viu a diferença? Antes era “Que maluquice, que besteira!”, 
agora “Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus!”
CHICÓ
Isso não vai dar certo. Você já começa com suas coisas, João. E havia 
necessidade de inventar que era empregado de Antônio Morais?
JOÃO GRILO
Meu filho, empregado do major e empregado do amigo do major é quase 
a mesma coisa. O padeiro vive dizendo que é amigo do homem, de modo que a 
diferença é muito pouca. Além disso, eu podia perfeitamente ter sido mandado 
pelo major, porque o filho dele está doente e pode até precisar do padre. 
CHICÓ 
João,deixe de agouro com o menino, que isso pode se virar por cima de você.
JOÃO GRILO
E você deixe de conversa. Nunca vi homem mais mole do que você, Chicó. 
O padeiro mandou você arranjar o padre para benzer o cachorro e eu arranjei sem 
ter sido mandado. Que é que você quer mais? (SUASSUNA, 1989, p. 31).
60
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Como você pode notar, não há no texto um narrador, toda a história fica 
clara através das falas dos personagens. Como o texto é feito para ser encenado, há 
ora ou outra, em itálico, alguma instrução sobre como o ator deve agir. A introdução 
das falas, ao contrário de outras narrativas, onde se usa o verbo dicendi e são 
introduzidas por travessão, aqui são sempre indicadas pelo nome do personagem. 
Quanto ao conteúdo, temos uma sátira dos costumes da igreja e sua relação 
com as pessoas financeiramente mais abonadas da sociedade, ou seja, aquelas das 
quais a instituição pode usufruir de patrocínios. A elas são abertas exceções. A 
seguir, comentamos sobre um tipo específico de gênero dramático, a tragédia.
a) Tragédia 
Trata-se de uma forma dramática que surgiu no século IV a.C. Entre 
as suas características representativas está a crise de valores e o choque entre 
o racional e o mítico. Conforme Soares (2007), o nome tragédia vem de tragos 
(bode) e ethos (caráter). Esse costuma ser o carma do herói da tragédia, ele é 
confrontado entre o seu caráter e o seu destino, vivendo num mundo trágico, em 
tensão com a organização social, jurídica e moral da sociedade da época. 
A desgraça do herói se dá quando este vivencia o desequilíbrio, um valor 
negativo que o coloca em erro inconscientemente, o que estará vinculado ao seu 
destino e que acaba por destruir o seu mundo. A trajetória do herói apresenta 
os mesmos elementos comuns a outros textos narrativos, o enredo, o conflito, o 
clímax e o desfecho. O clímax é o ápice do conflito, que se encaminha para um 
desfecho catastrófico. 
Uma história que representa bem essas características é Édipo Rei, de 
Sófocles. Ao nascer, um profeta previu que Édipo mataria o próprio pai e se casaria 
com a própria mãe. O menino cresceu com pais adotivos e, ao saber da profecia 
afastou-se deles, mas durante sua trajetória, sem conhecer os pais biológicos, a 
profecia se concretiza, o que o leva à loucura.
Sugerimos também obras como Romeu e Julieta, Hamlet e Otelo, de 
Shakespeare. Você pode fazer a leitura ou também encontrá-las em versões 
adaptadas ao cinema. 
b) Comédia
Conforme Soares (2007), vem do grego komoidía e tem relação com os 
festejos populares. Os atores das peças de comédia não eram bem aceitos na 
cidade, então andavam de uma aldeia para outra. Essa forma dramática costumava 
ser atribuída a homens considerados de pouca sabedoria, cujas peças usavam do 
ridículo para produzir o riso fácil. 
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
61
Muito comuns na era medieval eram os autos. Estes tinham como 
características textos que traziam à tona personagens-tipo, ou seja, personagens 
que representavam não uma pessoa especificamente, mas tipos sociais, como um 
comerciante ou um homem burguês, por exemplo. Apesar de se tratar de textos 
teatrais, eram compostos em versos, com diálogos irônicos e linguagem popular. 
Gil Vicente é considerado o maior nome do humanismo português. Acompanhe 
a seguir um excerto do Auto da Lusitânia, de sua autoria .
Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que anda 
buscando alguma coisa que se lhe perdeu; e logo após ele um homem, vestido 
como pobre. Este se chama Ninguém, e diz: 
- Que andas tu aí buscando?
Todo o Mundo
- Mil cousas ando a buscar:
delas não posso achar
porém ando perfiando,
por quão bom é perfiar.
Ninguém
- Como hás nome, cavaleiro?
Todo o Mundo
- Eu hei nome Todo o Mundo, 
e meu tempo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo. 
Ninguém
 - Eu hei nome Ninguém, 
e busco a consciência
(Berzebu para Dinato)
- Esta é boa experiência!
Dinato, escreve isto bem. 
Dinato
- Que escreverei, companheiro?
Berzebu
- que Ninguém busca consciência 
e Todo o Mundo dinheiro.
(Ninguém para Todo o Mundo)
- E agora que buscas lá?
Todo o Mundo
- Busco honra muito grande.
Ninguém
- E eu virtude, que Deus mande
Que tope co ela já.
(Berzebu para Dinato)
- Outra adição nos acude:
escreve aí, a fundo, 
que busca honra Todo o Mundo, 
62
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
e Ninguém busca virtude. 
Ninguém 
- Buscas outro mor bem qu’esse?
Todo o Mundo
- Busco mais quem me louvasse
tudo quanto eu fizesse.
Ninguém
- E eu quem me repreendesse
em cada cousa que errasse. 
(Berzebu para Dinato)
- Escreve mais
Dinato
- Que tens sabido?
Berzebu
- Que quer um extremo grado
Todo o Mundo ser louvado,
e Ninguém ser repreendido. [...]
(Todo o Mundo para Ninguém)
- E mais queria o paraíso, 
Sem mo ninguém estorvar.
Ninguém:
- Eu ponho-me a pagar
Quanto devo pera isso. 
(Berzebu para Dinato)
- Escreve com muito aviso. 
Dinato
- Que escreverei?
Berzebu
- Escreve
que Todo o Mundo quer paraíso,
e Ninguém paga o que deve. 
(VICENTE, 1965, p. 452)
São perceptíveis no auto algumas características como os personagens-tipo 
representados por Todo o Mundo e Ninguém, que escritos com maiúscula vão 
brincando com o duplo sentido das mensagens. O texto joga o tempo todo com os 
sentidos dos ditos de forma irônica, numa crítica aos costumes da sociedade da época. 
Também é representativa desse gênero a farsa, podemos citar como 
exemplo A Megera Domada, de Shakespeare. A trama se desenrola entre Katherina, 
que tem fama de mulher de personalidade difícil, e seu pretendente Petrúquio, 
que vivem em pé de guerra. Esta obra foi adaptada para a televisão com o título 
O Cravo e a Rosa e talvez até você a tenha assistido. 
A comédia é um gênero dramático que costuma trabalhar com o 
imprevisível e a surpresa, e tem como matéria-prima os jogos de palavras, o 
exagero, as formas estereotipadas, o humor e a ironia.
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
63
c) Drama
A palavra drama refere-se de maneira geral a gênero dramático ou sinônimo 
de peça teatral, mas aqui nos referimos ao hibridismo da tragédia com a comédia. 
Essa forma teatral surge no século XVIII e, aos poucos, vai abandonando 
os temas históricos, os famosos dramas de capa e espada, e passa a privilegiar um 
teatro de atualidades, cuja obra inaugural é A Dama das Camélias, de Alexandre 
Dumas Filho. Os curiosos podem ler o livro ou mesmo conhecer a versão 
cinematográfica que se encontra facilmente on-line. 
Contemporaneamente, entende-se drama em contraste à comédia, são 
entendidas como peças de caráter sério ou mesmo solene. 
Dentro do drama, ainda temos a tragicomédia, que mescla o cômico e o 
trágico, característica do século XV ao XVII, e o melodrama, em que predomina o 
sentimentalismo exagerado e, às vezes, patético. 
Como você pôde acompanhar, os gêneros textuais se subdividem em 
subgêneros, que são o narrativo, o épico e o dramático, e estes ainda se subdividem 
novamente conforme características peculiares e o momento e espaço em que 
se desenvolvem e, às vezes, se interpenetram. É interessante perceber que 
independente das classificações dadas a cada um deles, numa tentativa incessante 
de conseguir entendê-los, de maneira geral, buscam contar a vida e alma humana. E 
se podemos dizer que a arte imita a vida, podemos dizer: a arte a faz também mais 
significativa, interpretando-a e brincando com ela da maneira como geralmente 
não costumamos ousar. Talvez por isso, buscamos entender a arte como o objeto 
dialógico que é e, quem sabe, através dela, entender a nós mesmos. 
LEITURA COMPLEMENTAR
TEORIA E SENSO COMUM
Um balanço, um mapa da teoria literária seria, entretanto, concebível? E 
de que forma? Não seria esse um projeto abortado se, como afirma Paul de Man, 
“o principal interesse teórico da teoria literária consiste na impossibilidade de sua 
definição?” A teoria não poderia, então, ser apreendida senão graças a uma teoria 
negativa, segundo o modelo desseDeus escondido do qual somente uma teologia 
negativa pode falar. Isso significa situar o horizonte alto demais, ou longe demais as 
afinidades, aliás reais, entre teoria literária e niilismo. A teoria não pode se reduzir a 
uma técnica nem a uma pedagogia — ela vende sua alma nos vade-mécum de capas 
coloridas expostas nas vitrinas das livrarias do Quartier Latin —, mas isso não é 
motivo para fazer dela uma metafísica nem uma mística. Não a tratemos como 
uma religião. A teoria literária não teria senão um “interesse teórico?” Não, se estou 
certo ao sugerir que ela é também, essencialmente, crítica, opositiva ou polêmica. 
64
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
Porque não é do lado teórico ou teológico, nem do lado prático ou 
pedagógico, que a teoria me parece principalmente interessante e autêntica, mas 
pelo combate feroz e vivificante que empreende contra as ideias preconcebidas 
dos estudos literários, e pela resistência igualmente determinada que as ideias 
preconcebidas lhe opõem. Esperaríamos, talvez, de um balanço da teoria literária, 
que depois de ter prestado uma rápida homenagem às teorias literárias antigas, 
medievais e clássicas desde Aristóteles até Batteux, sem esquecer uma passagem 
pelas poéticas não ocidentais, arrolasse as diferentes escolas que compartilharam 
a atenção teórica no século XX. [...] Inúmeros manuais são assim: ocupam 
os professores e tranquilizam os estudantes. Mas esclarecem um lado muito 
acessório da teoria. Ou até mesmo a deformam, pervertem-na; porque o que a 
caracteriza, na verdade, é justamente o contrário do ecletismo, é seu engajamento, 
sua vis polemica, assim como os impasses a que esta última a leva sem que ela se 
dê conta. Os teóricos dão a impressão, muitas vezes, de fazer críticas sensatas 
contra a posição de seus adversários, mas visto que estes, confortados por sua 
boa consciência de sempre, não renunciam e continuam a matraquear, os teóricos 
se põem também eles a falar alto, defendem suas próprias teses, ou antíteses, até 
o absurdo, e, assim, anulam-se a si mesmos diante de seus rivais encantados de 
se verem justificados pela extravagância da posição adversária. Basta deixar falar 
um teórico e contentar-se em interrompê-lo com um “Ah!” um pouco debochado, 
para vê-lo desmoronar diante de nossos olhos!
Quando entrei no sexto ano do pequeno liceu Condorcet, nosso velho 
professor de latim-francês, que era também prefeito de sua cidadezinha na 
Bretanha, perguntava-nos a cada texto de nossa antologia: “Como vocês 
compreendem essa passagem? O que o autor quis dizer? Onde está a beleza 
do verso ou da prosa? Em que a visão do autor é original? Que lição podemos 
tirar daí?” Acreditamos, durante um tempo, que a teoria da literatura tivesse 
banido para sempre essas questões lancinantes, mas as respostas passam e as 
perguntas permanecem. Estas são mais ou menos as mesmas. Há algumas que 
não cessam de se repetir de geração em geração. Colocavam-se antes da teoria, 
já se colocavam antes da história literária, e se colocam ainda depois da teoria, 
de maneira quase idêntica. A tal ponto que nos perguntamos se existe uma 
história da crítica literária, como existe uma história da filosofia ou da linguística, 
pontuada de criações de conceitos, como o cogito ou o complemento. Na crítica, 
os paradigmas não morrem nunca, juntam-se uns aos outros, coexistem mais ou 
menos pacificamente e jogam indefinidamente com as mesmas noções — noções 
que pertencem à linguagem popular. Esse é um dos motivos, talvez o principal 
motivo, da sensação de repetição que se experimenta, inevitavelmente, diante de 
um quadro histórico da crítica literária: nada de novo sob o sol. Em teoria, passa-
se o tempo tentando apagar termos de uso corrente: literatura, autor, intenção, 
sentido, interpretação, representação, conteúdo, fundo, valor, originalidade, 
história, influência, período, estilo etc. É o que se fez também, durante muito 
tempo, em lógica: recortava-se na linguagem cotidiana uma região linguística 
TÓPICO 5 | OS GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA FORMAÇÃO
65
dotada de verdade. Mas a lógica formalizou-se depois. A teoria literária não 
conseguiu desembaraçar-se da linguagem corrente sobre a literatura, a dos ledores 
e dos amadores. Assim, quando a teoria se afasta, as velhas noções ressurgem 
intocadas. É por serem “naturais” ou “sensatas” que nunca não escapamos dela 
realmente? Ou, como pensa de Man, é porque só desejamos resistir à teoria, 
porque a teoria faz mal, contraria nossas ilusões sobre a língua e a subjetividade? 
Poderíamos dizer, hoje, que quase ninguém foi tocado pela teoria, o que talvez 
seja mais confortável. 
Então, não restaria mais nada, ou apenas a pequena pedagogia que descrevi? 
Não inteiramente. Na fase áurea, por volta de 1970, a teoria era um contradiscurso 
que punha em questão as premissas da crítica tradicional. Objetividade, gosto 
e clareza, Barthes assim resumia, em Critique et Verité [Crítica da Verdade], em 
1966, ano mágico, os dogmas do “suposto crítico” universitário, o qual ele queria 
substituir por uma “ciência da literatura”. Há teoria quando as premissas do 
discurso corrente sobre a literatura não são mais aceitas como evidentes, quando 
são questionadas, expostas como construções históricas, como convenções. Em 
seu começo, também a história literária se fundava numa teoria, em nome da qual 
eliminou do ensino literário a velha retórica, mas essa teoria perdeu-se e edulcorou-
se à medida que a história literária foi se identificando com a instituição escolar e 
universitária. O apelo à teoria é, por definição, opositivo, até mesmo subversivo 
e insurrecto, mas a fatalidade da teoria é a de ser transformada em método pela 
instituição acadêmica, de ser recuperada, como dizíamos. Vinte anos depois, o que 
surpreende, talvez mais que o conflito violento entre a história e a teoria literária, é 
a semelhança das perguntas levantadas por uma e por outra nos seus primórdios 
entusiastas, sobretudo esta, sempre a mesma: “O que é literatura?”.
Permanência das perguntas, contradição e fragilidade das respostas: 
daí resulta que é sempre pertinente partir das noções populares que a teoria 
quis anular, as mesmas que voltaram quando a teoria se enfraqueceu, a fim de 
não só tentar rever as respostas opositivas que ela propôs, mas também tentar 
compreender por que essas respostas não resolveram de uma vez por todas as 
velhas perguntas. Talvez porque a teoria, à custa de sua luta contra a Hidra de 
Lerna, tenha levado seus argumentos longe demais e eles tenham se voltado 
contra ela? A cada ano, diante de novos estudantes, é preciso recomeçar com 
as mesmas figuras de bom senso e clichês irreprimíveis, com o mesmo pequeno 
número de enigmas ou de lugares comuns que balizam o discurso corrente sobre 
a literatura. Examinei alguns, os mais resistentes, porque é em torno deles que se 
pode construir uma apresentação simpática da teoria literária como todo o vigor 
de sua justa cólera, da mesma maneira como ela os combateu — em vão. 
FONTE: COMPAGNON, Antoine. Teoria e Senso Comum. In: O Demônio da Teoria: literatura e 
senso comum. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.
66
UNIDADE 1 | LITERATURA: QUE ARTE É ESSA?
NOTA
Niilismo: redução ao nada; aniquilamento; não existência. Concepção que 
considera que os valores e crenças tradicionais são infundados e que não há sentido, nem 
utilidade na existência.
Edulcorou-se: de edulcorar: tornar-se doce ao paladar ou tornar-se manso, suave.
Hidra de Lerna: animal da mitologia grega, filho dos monstros Tifão e Equidna. Tinha o corpo 
de dragão e sete cabeças de serpente, seu hálito era venenoso e, uma vez cortadas, as 
cabeças podiam se regenerar rapidamente.
67
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:
• A literatura exerce a função de expressão artística e transmissão de 
conhecimentos. Tradicionalmente, é dividida em gêneros. 
o Gênero Lírico: retrata sentimentos e emoções através do eu-lírico. A palavra 
lírico vem do instrumento musicallira, que geralmente acompanhava as 
composições poéticas. Esse gênero privilegia aspectos formais do texto, bem 
como a musicalidade, o ritmo, a rima e a semântica. Subdivide-se em: 
a) Elegia: refere-se a cantos de tristeza e luto pela morte de uma pessoa querida 
ou a tristeza de um amor não correspondido ou interrompido. 
b) Ode: poemas compostos para serem cantados, geralmente formados por 
quartetos, mas com métrica variada. São hinos que se subdividem em: 
pindáricas, que exaltam homens de conhecimentos ilustres; as sacras, que 
exaltam a religiosidade; as filosóficas, que tratam de assuntos meditativos; as 
sáficas, que se preocupam com a moralidade; e as báquicas, que exaltam os 
prazeres da boa comida e bebida. 
c) Écogla: as emoções são representadas por temas da natureza. São poemas 
pastoris e bucólicos.
d) Soneto: a forma do soneto mais conhecida contemporaneamente é composta 
por dois quartetos (duas estrofes com quatro versos) e dois tercetos (duas 
estrofes com três versos). Porém, tradicionalmente são contemplados os dísticos 
(estrofes com dois versos) e o spencerista, com três quadras que se entrelaçam.
o Gênero Narrativo: refere-se ao ato de narrar, contar histórias. Subdivide-se em: 
a) Epopeia: narração longa, escrita em prosa ou verso. 
b) Romance: apresenta um núcleo narrativo principal, mas tem vários núcleos 
secundários que estão interligados entre si e ao núcleo principal. 
c) Conto: mais breve que o romance, pois apresenta apenas um núcleo narrativo.
d) Novela: assemelha-se ao romance, sendo estruturada por um núcleo principal 
e núcleos secundários a ele ligados. Representa um meio-termo entre o conto e 
o romance, pois, em extensão, é menor que este último e maior que o primeiro 
e apresenta os mesmos elementos estruturais. 
68
o Gênero Dramático: representado pelo teatro que surgiu como resultado de 
uma transformação dos hinos cantados em honra ao Deus Dionísio. Também 
é representado por comédias que satirizam o comportamento humano e os 
costumes. Subdivide-se em:
a) Tragédia: representa a crise de valores e o choque entre o racional e o mítico. 
Costuma apresentar a desgraça do herói que vive em desequilíbrio, confrontado 
entre o caráter e o destino. 
b) Comédia: está relacionada aos festejos populares, as peças não eram bem 
aceitas nas cidades, por isso costumavam ser apresentadas em aldeias. Um dos 
tipos de comédia muito comum são os autos. 
c) Drama: formado pelo hibridismo da comédia e da tragédia. A princípio trata de 
temas históricos, mas depois passa a privilegiar temas que retratam aspectos da 
sociedade. A obra inaugural é A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho.
69
1 Dentre os textos do gênero lírico que estudamos, como podemos classificar 
o poema a seguir? 
Soneto 23 
 
Como no palco o ator que é imperfeito 
Faz mal o seu papel só por temor, 
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito 
Vê o coração quebrar-se num tremor, 
 
Em mim, por timidez, fica omitido 
O rito mais solene da paixão; 
E o meu amor eu vejo enfraquecido, 
Vergado pela própria dimensão. 
 
Seja meu livro então minha eloquência, 
Arauto mudo do que diz meu peito, 
Que implora amor e busca recompensa 
 
Mais que a língua que mais o tenha feito. 
Saiba ler o que escreve o amor calado: 
Ouvir com os olhos é do amor o fado.
William Shakespeare 
a) ( ) Elegia
b) ( ) Soneto
c) ( ) Écogla
 
2 Como observamos, os gêneros conto, romance e novela têm caraterísticas 
semelhantes, visto que narram uma história real. Porém, há alguns 
elementos que assemelham entre esses gêneros e outros que os distanciam. 
Dessa forma, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) O romance, assim como a novela, é constituído por vários núcleos 
narrativos, sendo um deles o núcleo principal e os outros núcleos 
secundários que a ele se interligam.
( ) O conto geralmente tem apenas um núcleo narrativo, por isso é mais breve 
e apresenta um recorte temporal menor.
AUTOATIVIDADE
https://www.pensador.com/autor/william_shakespeare/
70
( ) O clímax é o momento de maior tensão da narrativa, mas não está presente 
no conto. 
( ) A estrutura do conto é composta por enredo, conflito, clímax e desfecho.
Assinale a ordem correta:
a) ( ) V, V, F, V
b) ( ) F, F, F, F
c) ( ) V, F, V, F
d) ( ) V, V, V, F

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