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ANATOMIA UTERINA E ANOMALIAS MULLERIANAS-a9328474-b5ed-420c-8752-105ce85543c1

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Palavras Chave: Anatomia; Medicina; Útero. 
Capítulo 10 
ARTHUR MENEZES DA SILVA¹ 
VITOR NEVES FIUZA¹ 
ÍTALO DE SOUZA PORTO¹ 
GILBERTO SANTOS CERQUEIRA2 
1. Discente - Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. 
2. Professor de Anatomia, Docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. 
ANATOMIA UTERINA 
E ANOMALIAS 
MÜLLERIANAS 
 
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INTRODUÇAÕ 
O sistema genital feminino consiste em um 
conjunto de órgãos responsáveis pela reprodu-
ção e pelo prazer sexual. É composto por órgãos 
internos, como a vagina, útero, ovários e tubas 
uterinas e órgãos/estruturas externas que com-
põem a vulva como: monte púbico, lábios mai-
ores, lábios menores, clitóris e bulbo do vestí-
bulo. 
O útero é um órgão do sistema genital femi-
nino em formato de pêra, cuja função é alojar o 
embrião e permitir que este seja transformado 
em feto, o qual pode ser expulso durante o tra-
balho de parto por intermédio de contrações ute-
rinas (AMEER et al., 2022). Topograficamente, 
o útero não gravídico se localiza na cavidade 
pélvica, posterior à bexiga urinária e anterior ao 
reto. Esse órgão, histologicamente, é composto 
por três camadas, a saber, o endométrio, o mio-
métrio e o perimétrio. Já em um prisma anatô-
mico, o útero pode ser subdividido em fundo, 
corpo, istmo e colo (ELLIS, 2011). 
Na região do corpo, a cavidade uterina pos-
sui um óstio que recebe os gametas femininos 
produzidos pelos ovários (ou o blastocisto, 
quando ocorre a fecundação) carreados até esse 
local pelas tubas uterinas. 
O colo uterino é uma porção fibromuscular 
inferior do útero, que varia de tamanho e for-
mato. No colo do útero, o estroma é composto 
de tecido fibromuscular denso, possuindo uma 
porção externa ou vaginal e uma supravaginal 
(YU & LEPPERT, 1991). A parte vaginal é co-
mumente acometida pelo papiloma vírus hu-
mano (HPV), vaginoses e outras afecções. 
O espaço ao redor do colo uterino na cavi-
dade vaginal é denominado de fundo de saco va-
ginal ou fórnix. A parte do fundo de saco entre 
o colo uterino e as paredes vaginais laterais é 
denominada de fundo de saco lateral ou fórnix 
lateral; as porções entre as paredes anterior e 
posterior da vagina e o colo uterino são denomi-
nadas de fundo de saco anterior e posterior, res-
pectivamente (SELLORS & SANKARANA-
RAYANAN, 2004). Na doença inflamatória 
pélvica ou DIP a paciente por cursar com dor no 
fundo de saco, febre baixa, dor abdominal e dis-
pareunia. 
O útero é suprido pelo fluxo sanguíneo das 
artérias uterinas, que são ramificações da divi-
são anterior da artéria ilíaca interna. Cada artéria 
uterina segue um trajeto que cruza anterior-
mente o ureter ipsilateral (LIAPIS et al., 2020). 
Essa artéria emite ramos que irrigam as seguin-
tes estruturas: útero, ligamento largo (paramé-
trio), miométrio, tubas uterinas e vagina. 
A drenagem venosa do útero ocorre por 
meio de um plexo venoso esponjoso que pode 
se bifurcar em duas direções. Há veias que se 
orientam em direção às veias ilíacas internas, as 
quais drenam para as veias ilíacas comuns e, por 
conseguinte, para a veia cava inferior. Outras 
veias se dirigem aos plexos ovarianos direito e 
esquerdo, permitindo que o sangue uterino se 
una ao sangue ovariano e drene para as veias 
ovarianas (BASTOS et al., 2010). 
A drenagem linfática do útero é um processo 
dinâmico que pode ser dividido em regiões. A 
região do fundo e a parte superior do corpo do 
útero drenam para os linfonodos para-aórticos, 
a região inferior do corpo do útero drena para os 
linfonodos ilíacos externos, e a região do colo 
do útero drena para os linfonodos internos, ex-
ternos e sacrais (ELLIS, 2011). 
O útero possui vários ligamentos: largo, re-
dondo, útero-ovárico, cardinal, útero-sacral e 
pubocervical (ROSS, 1997; CRAIG et al., 
2018). Esses ligamentos possuem diferentes 
funções, relatadas a seguir, no Quadro 10.1. 
 
 
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Quadro 10.1 Ligamentos do útero e suas funções 
Ligamento Função 
Largo Vascularização uterina e suporte/fixação útero-ovárica 
Redondo Fornecimento de vascularização, estabilização e suporte ao útero 
Útero-ovárico Fornecer suporte e vascularização/inervação aos ovários 
Cardinal Fixação da extremidade lateral do colo uterino à parede pélvica 
Uterossacro Fixação do colo uterino à parte sacral da coluna vertebral 
Pubocervical Fixação do colo uterino com a parte inferior do osso púbico 
Fonte: Elaborado pelos autores (2023). 
O ligamento largo do útero possui três 
partes: a mesossalpinge, o mesovário e o 
mesométrio (CRAIG et al., 2018). A função de 
cada parte está relatada no Quadro 10.2. 
 
Quadro 10.2 Ligamentos do útero e suas funções 
Fonte: Elaborado pelos autores (2023). 
 
A inervação uterina é feita predominante-
mente pelo plexo nervoso uterovaginal, oriundo 
do plexo nervoso hipogástrico inferior (SPA-
CKMAN et al., 2007). Existem uma variedade 
de anomalias uterina que pode impactar na fun-
ção reprodutiva humana como: útero didelfo, 
unicórnio e arqueado. Em seguidas iremos dis-
cutir cada uma delas. 
Anomalias müllerianas 
Neste capítulo, serão abordadas as seguintes 
anomalias müllerianas, expostas na Figura 
10.1. Útero unicorno, bicorno, septado, didelfo, 
arqueado e síndrome de Mayer-Rokitansky-
Kuster-Hauser. 
 
Porção Órgãos sustentados Função 
Mesossalpinge Tuba uterina Suspende a tuba uterina 
Mesométrio Útero Conecta a margem lateral do útero à parede lateral da pelve 
Mesovário Ovário Suporta o ovário a partir da camada posterior do ligamento largo 
 
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Figura 10.1 Anomalias müllerianas 
Fonte: Elaborado pelos próprios autores e ilustrado pelo Msc. José Mariedson Júnior (2023). 
 
Definição e mecanismos de formação 
Útero unicorno 
A formação do útero unicorno ocorre devido 
a uma anomalia no desenvolvimento de um dos 
ductos paramesonéfricos durante a embriogê-
nese, podendo ser parcial ou completa. Em ca-
sos de desenvolvimento parcial de um dos duc-
tos, ocorre a formação de um corno uterino ru-
dimentar. Por outro lado, a falha completa no 
desenvolvimento de um dos ductos resulta na 
formação de um hemiútero isolado, sem a pre-
sença de uma estrutura contralateral. Além 
disso, nesse tipo de má-formação uterina, o ová-
rio, que surge a partir da crista urogenital, pode 
estar presente no lado afetado, porém pode estar 
localizado mais cranialmente no abdome em re-
lação à sua posição pélvica normal (REICH-
MAN et al., 2009). 
Útero bicorno 
O útero bicorno resulta da fusão lateral par-
cialmente incompleta dos ductos paramesoné-
fricos por volta da 10a à 12a semana de vida in-
trauterina, acarretando na duplicação do órgão. 
Essa condição é caracterizada por dois cornos 
uterinos simétricos, que se fundem inferior-
mente e se comunicam através das cavidades 
endometriais, geralmente ao nível do istmo ute-
rino (IKHUORIAH et al., 2023). 
Útero septado e arqueado 
Durante a fase embriológica de reabsorção 
septal, pode ocorrer uma falha na reabsorção 
adequada dos ductos müllerianos, resultando na 
ausência de uma formação apropriada da cavi-
dade uterina. A severidade dessa condição pode 
variar, manifestando-se como um útero septado 
completo, um útero septado incompleto ou um 
útero arqueado (AKHTAR et al., 2020). 
As definições do septo uterino não são pa-
dronizadas entre as organizações médicas 
(LUDWIN et al., 2019). Nesse cenário, é inte-
ressante citar que, em 2013, a European Society 
of Human Reproduction and Embryology 
(ESHRE) — Sociedade Europeia de Reprodu-
ção Humana e Embriologia — unida à Euro-
pean Society for Gynaecological Endoscopy 
(ESGE) — Sociedade Europeia de Endoscopia 
 
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Ginecológica — elaboraram uma nova classifi-
cação para as más-formações uterinas congêni-
tas.Nesta, o útero arqueado pode assumir carac-
terísticas de um útero normal ou de um útero 
septado parcial, dependendo do tamanho da in-
dentação no fundo uterino em relação à espes-
sura da parede uterina. Devido a essa mudança 
no sistema de classificação, muitas mulheres 
previamente diagnosticadas com útero arqueado 
tiveram suas condições reclassificadas para um 
útero septado parcial, o que pode aumentar o nú-
mero de procedimentos cirúrgicos corretivos, 
tendo em vista que as pesquisas epidemiológi-
cas relatam que o útero septado possui maiores 
riscos de complicações obstétricas (KNEZ et 
al., 2018). 
Por fim, é importante ressaltar que, em algu-
mas situações, o septo uterino pode ser visto em 
combinação com um septo vaginal longitudinal 
e deve ser diferenciado do útero didelfo (PFEI-
FER et al., 2016). 
Útero didelfo 
O útero didelfo é uma condição resultante da 
falha completa de aproximação e fusão dos duc-
tos müllerianos durante o desenvolvimento em-
brionário, o que leva à formação de duas cavi-
dades uterinas independentes, dois colos uteri-
nos e duas vaginas separadas por um septo lon-
gitudinal (SINHA et al., 2023). 
É interessante expor que uma condição, co-
nhecida como síndrome de Herlyn-Werner-
Wunderlich, epônimo da síndrome da hemiva-
gina obstruída e anomalia renal ipsilateral 
(OHVIRA, do inglês obstructed hemivagina 
and ipsilateral renal anomaly), pode estar asso-
ciada ao útero didelfo. Essa síndrome é caracte-
rizada pela presença de vagina obstruída, útero 
didelfo e agenesia renal homolateral 
(M'HAMDI et al., 2022). Quando há tamanhos 
diferente no útero didelfo a gestação costuma 
ser a termo na cavidade maior e os abortos são 
comuns na cavidade mais estreita. 
Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-
Hauser (MRKH) 
Nas pacientes com a síndrome de Mayer-
Rokitansky-Kuster-Hauser (MRKH), os órgãos 
genitais externos, as tubas uterinas e os ovários 
são geralmente normais, mas os dois terços su-
periores da vagina são aplásicos, existindo ape-
nas uma pequena porção resquicial da vagina 
derivada do seio urogenital. Ademais, nessa sín-
drome, geralmente o útero e o colo uterino estão 
ausentes, mas podem ser hipoplásicos em uma 
pequena porcentagem das pacientes (AL-
MEIDA & CUNHA, 2012). 
A MRKH é causada por um defeito no de-
senvolvimento dos ductos müllerianos, cuja ori-
gem permanece desconhecida. É proposto que 
fatores ambientais — como, por exemplo, a ex-
posição fetal a dietilestilbestrol — podem inte-
ragir com fatores genéticos durante o desenvol-
vimento embrionário, resultando em vários fe-
nótipos e disfunções. É válido ressaltar que, em-
bora a MRKH aparente ter um padrão de he-
rança autossômica dominante com expressivi-
dade variável e penetrância incompleta, a maio-
ria dos casos ocorre em pacientes sem histórico 
familiar positivo para essa síndrome (CHEN et 
al., 2022). 
Epidemiologia 
Uma metanálise realizada por Chan et al. 
(2011), a qual incluiu, sem critérios de seleção, 
um total de 5.163 mulheres, relatou uma preva-
lência de 3,9% de úteros arqueados, 2,3% de 
úteros septados (parciais e completos), 0,4% de 
úteros bicornos, 0,3% de úteros didelfos e 0,1% 
de úteros unicornos. A síndrome MRKH é uma 
condição rara, com incidência de 1 em 4.500 a 
 
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5.000 recém-nascidos do sexo feminino (FON-
TANA et al., 2017). Esses dados estão compila-
dos a seguir, na Tabela 10.1. 
Tabela 10.1 Taxa de ocorrência das anomalias 
müllerianas na população feminina 
Anomalia mülleriana Taxa de ocorrência 
Arqueado 3,9% 
Septado 2,3% 
Bicorno 0,4% 
Didelfo 0,3% 
Unicorno 0,1% 
MRKH ~ 0,0002% 
Fonte: Chan et al. (2011); Fontana et al. (2017). 
Manifestações clínicas 
Útero unicorno 
A maioria das pacientes com útero unicorno 
é assintomática. No entanto, quando uma 
trompa uterina rudimentar se encontra obstru-
ída, pode resultar em dor abdominal e pélvica 
cíclica ou crônica na paciente (LAUFER & DE-
CHERNEY, 2023). Além desses sintomas, as 
pacientes podem apresentar hematometra, he-
matossalpinge e endometriose (JAYASINGHE 
et al., 2005). 
No que tange às complicações obstétricas, 
em uma revisão de resultados de gravidez em 
pacientes com útero unicorno, foram encontra-
das as seguintes taxas de complicações obstétri-
cas: 2,7% de gravidez ectópica, 24,3% de aborto 
no primeiro trimestre, 9,7% de aborto no se-
gundo trimestre, 20,1% de parto prematuro e 
3,8% de morte fetal, com apenas 51,5% de nas-
cidos vivos. É possível que a redução da massa 
muscular uterina ou a ausência de vasculariza-
ção uterina estejam envolvidas como explica-
ções para algumas dessas complicações, visto 
que tais fatores podem influenciar a nutrição do 
feto em desenvolvimento (REICHMAN et al., 
2009). 
Ademais, a gestação em um corno uterino 
obstruído ou rudimentar pode estar associada à 
ruptura uterina e/ou anormalidades na fixação 
da placenta, como acreta, increta e percreta 
(LAUFER & DECHERNEY, 2023). 
É interessante apontar que o útero unicorno 
pode estar ligado a um ovário ectópico, o que é 
importante em pacientes que recebem indução 
da ovulação ou que desenvolvem neoplasias 
ovarianas 
Por fim, é válido ressaltar que, em um es-
tudo de Fedele, Bianchi, Agnoli, Tozi e Vignali 
(1996), constatou-se que 40% das pacientes 
com útero unicorno possuíam alguma forma de 
anormalidade renal. 
Útero bicorno 
Revisões de literatura indicam que as paci-
entes com útero bicorno apresentam uma taxa 
elevada de aborto espontâneo (36%) e de parto 
prematuro (21-23%). Ademais, os fetos dessas 
pacientes têm maior probabilidade de sofrer res-
trição do crescimento intrauterino e de adotarem 
uma apresentação anormal (LAUFER & DE-
CHERNEY, 2023). 
No entanto, em um estudo realizado por 
Kong et al. (2021), não foram observadas dife-
renças estatisticamente significativas entre um 
grupo de mulheres com útero bicorno e um 
grupo de mulheres com útero normal na taxa cu-
mulativa de gravidez (59,6% vs. 71,0%, respec-
tivamente) e na taxa cumulativa de nascidos vi-
vos (58,2% vs. 64,8%, respectivamente). Além 
disso, as incidências de complicações relaciona-
das à gestação não diferiram significativamente 
entre esses dois grupos. 
 
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Útero septado 
Conforme Pfeifer et al. (2016), há uma 
maior incidência de septos uterinos na popula-
ção de mulheres que apresentam infertilidade 
em comparação com a população em geral, in-
dicando uma possível correlação entre esses 
dois fatores. No entanto, a infertilidade é uma 
condição multifatorial, o que torna difícil esta-
belecer se a presença do septo uterino pode, por 
si só, acarretar em dificuldade para engravidar. 
Além disso, é importante ressaltar que paci-
entes com útero septado apresentam um risco 
significativo de aborto espontâneo (21-44%), de 
parto prematuro (12-33%), de apresentação pél-
vica e de descolamento prematuro de placenta 
(LAUFER & DECHERNEY, 2023). 
Útero arqueado 
Atualmente, o útero arqueado é considerado 
uma variante anatômica normal, e não mais uma 
condição clínica significativa. As pacientes são 
assintomáticas, não possuem comprometimento 
da fertilidade e seus desfechos gestacionais são 
semelhantes aos da população obstétrica geral 
(SURREY et al., 2018). 
Útero didelfo 
As pacientes portadoras de útero septado 
podem, comumente, apresentar fluxo menstrual 
normal. Todavia, a presença de um septo oblí-
quo pode resultar na obstrução de uma das vagi-
nas, ocasionando a retenção do fluxo menstrual 
no hemi-útero acometido. Como desfecho, essas 
pacientes podem desenvolver sintomas clínicos, 
tais como dor pélvica e lombar, desconforto va-
ginal, além de manifestações como hematocol-
pos, hematometra e hematossalpinge (PASSOS 
& BRITTO, 2020). 
Já em uma perspectiva obstétrica, um estudo 
de coorte retrospectivo realizado por Heinonen 
(2000) que acompanhou 49 pacientes com essacondição por uma média de 9,1 anos foi um dos 
maiores estudos realizados nessa população es-
pecífica. Observou-se que 34 das 36 mulheres 
(94%) que planejavam ter filhos engravidaram 
pelo menos uma vez, sendo todas as gestações 
únicas, somando, ao todo, 71 gestações. Com-
plicações durante a gravidez foram relatadas, in-
cluindo aborto espontâneo (21%), restrição de 
crescimento intrauterino do feto (11%), parto 
prematuro (24%), apresentação pélvica (51%) e, 
consequente a este último fator, uma alta taxa de 
indicação de parto cesáreo (84%). 
Síndrome de Mayer-Rokitansky-
Kuster-Hauser (MKRH) 
Existem dois tipos de síndrome MRKH. No 
tipo 1, a síndrome afeta unicamente a parte su-
perior da vagina, o colo uterino e o útero. Já no 
tipo 2, uma ou ambas as tubas uterinas também 
são hipoplásicas ou ausentes e há más-forma-
ções adicionais que afetam os sistemas renal e 
esquelético e, em menor frequência, os sistemas 
cardíaco e auditivo (MORCEL et al., 2007). 
Essa heterogeneidade clínica sugere que a sín-
drome MRKH é resultante de disfunções nos 
mecanismos de desenvolvimento embrionário 
compartilhados por sistemas inerentemente in-
terligados, como o sistema geniturinário, o sis-
tema esquelético e o sistema cardíaco (CHEN et 
al., 2022). 
Pacientes com síndrome MRKH do tipo 1 
não apresentam sintomas até a adolescência, 
quando a amenorreia primária é detectada como 
resultado da agenesia uterina e, consequente-
mente, da ausência de endométrio. Além da au-
sência de menstruação, não há outros compro-
metimentos no desenvolvimento sexual secun-
dário, já que os ovários funcionam normalmente 
e há produção normal de hormônios esteróides. 
Por outro lado, a sintomatologia na síndrome 
MRKH do tipo 2 pode ser variável, dependendo 
dos órgãos afetados (FONTANA et al., 2017). 
 
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As pacientes com síndrome MRKH, tanto 
do tipo 1 quanto do tipo 2, estão suscetíveis a 
sofrer prejuízos em sua saúde emocional devido 
à infertilidade e às dificuldades sexuais decor-
rentes de anormalidades no trato reprodutivo 
(BEAN et al., 2009). 
 
 
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