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O puerpério é o período que corresponde do momento da dequitação placentária até 4-6 semanas após o parto, chamado por alguns autores de “quarto trimestre”. É dividido em fases, as quais: ● Puerpério imediato: 1º ao 10º dia; ● Puerpério tardio: 10º ao 42º/45º dia; ● Puerpério remoto: além do 45º dia (considerado apenas por alguns autores). É o período em que o corpo da mulher retorna ao estado não gravídico, com várias mudanças fisiológicas. MANIFESTAÇÕES LOCAIS ÚTERO Se contrai (miotamponamento) após a expulsão da placenta e diminui de tamanho, encontrado na altura da cicatriz umbilical após o parto, com consistência firme e globular. O tecido miometrial tem característica única de braquistasia, ou seja, de encurtar as fibras após sucessivas contrações. A ausência de involução resulta em atonia - principal causa de hemorragia pós-parto. O útero experimenta uma redução de 1 cm/dia, de forma irregular. Torna-se intrapélvico em torno do 15º dia e volta às dimensões pré-gravídicas em 5-8 semanas. A amamentação acelera o processo, pois libera ocitocina que realiza a contração do miométrio (reflexo útero-mamário). A decídua superficial sofre necrose e é eliminada sob a forma de lóquios entre 2 a 3 dias após o parto; a decídua basal, que permanece, é responsável pela regeneração do endométrio. OBS: alterações na involução ou contração uterina são sinais importantes de patologias, como a hipotonia uterina ou restos placentários. Colo do útero: após 2 dias do parto ainda dá passagem para 2 dedos e fecha (<1 cm) após 1 semana. O orifício externo que era puntiforme (característico de nulíparas) passa a apresentar aspecto de fenda (característico de mulheres que pariram). LOQUIAÇÃO O lóquio é secreção vaginal pós-parto composta por sangue, fragmentos deciduais, bactérias, exsudatos e transudatos vaginais, em quantidade de 200-500 mL. Podem ser classificados de acordo com sua cor: ● Lóquios vermelhos (lochia rubra): compostos de sangue e decídua, são eliminados até 3- 4º dia do pós-parto. Tem ação defensiva graças ao poder bactericida do sangue fresco e ao antagonismo antibacteriano. ● Lóquios escuros (lochia fusca): presença de hemoglobina decomposta; eliminados do 3º ao 10º dia pós-parto. ● Lóquios amarelos (lochia flava): são purulentos, surgem do 10º dia em diante e, aos poucos, se tornam serosos (lochia alba). OBS: Odor fétido, febre e pus indicam infecção puerperal. Lóquios vermelhos após 2 semanas levantam suspeita de restos placentários. VAGINA Ocorre contração lenta e atrofia que impede o coito (crise vaginal). As remanescências do hímen roto se tornam as carúnculas himenais. É recomendado aguardar 30 dias para relação sexual. OVULAÇÃO Se a paciente não amamentar, começa a ovular novamente dentre 6 a 8 semanas, pois a amamentação gera bloqueio do eixo hipotálamo- hipófise-ovário e consequente anovulação. Porém, ainda há o risco de engravidar, podendo se iniciar anticoncepcional. MAMAS A mamogênese (crescimento e desenvolvimento mamário) ocorre durante a gravidez. O colostro já está presente no parto e no 1º dia. A apojadura ocorre entre o 1º e o 3º dia pós-parto (descida do leite). São 3 as etapas da lactação: 1) Mamogênese (desenvolvimento da mama); 2) Lactogênese (início da lactação); 3) Lactopoiese (manutenção da lactação, que depende de estímulo, sucção). Contraindicações absolutas ao aleitamento materno: mães infectadas com HIV, HTLV1 e HTLV2; mães em uso de medicações específicas; galactosemia no neonato. Nesses casos, podemos suspender a lactação com cabergolina. Medicamentos contraindicados durante a amamentação: ciclofosfamida, ciclosporina, amiodarona, iodo radioativo, lítio e metotrexato. Obs: a nicotina do tabaco inibe a prolactina, podendo reduzir a produção de leite. MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS Queda dos hormônios placentários, como HCG, HPL, progesterona e estrogênios. Consequentemente, há inibição da produção de FSH e LH. Aumento da prolactina e da ocitocina. ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS Obstetrícia: Puerpério Aumento da frequência cardíaca, pois descomprime a veia cava inferior e não há mais o território de baixa resistência placentária. O débito cardíaco continua aumentado, mas há normalização do volume sanguíneo e da hemoglobina. Ocorre aumento da RVP e diminuição da pressão venosa dos MMII. Tremores são comuns logo após o parto (1-30 minutos) e duram até 1h. TRATO URINÁRIO Bexiga e ureteres ficam distendidos até 3 meses (maior risco de retenção). A diurese é escassa no 1º dia e abundante do 2º ao 6º dia. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS Série vermelha não sofre alterações. Há uma leucocitose fisiológica de até 25.000 leucócitos, sem desvio. Ocorre ativação do sistema de coagulação, aumentando o risco trombótico no período. PELE As alterações tendem a desaparecer em até 6 meses, com exceção das estrias, que permanecem e alteram sua cor de vermelhas para perolizadas em questão de semanas. SISTEMA DIGESTIVO Funcionamento intestinal fisiológico retorna ao normal dentro de 4 dias. A deambulação precoce diminui a constipação. Perda de peso acentuada nos primeiros 10 dias. OUTRAS MANIFESTAÇÕES Temperatura corporal: não deve ser aferida na axila, pois há aumento da temperatura local relacionado à apojadura (febre do leite); é fisiológica quando dura < 48h. Distúrbios do humor: comuns e transitórios. A disforia pós-parto (“blues puerperal”) cursa com: tristeza e choro fácil e dura 3-14 dias. Devemos orientar a paciente quanto à característica autolimitada, não sendo necessário prescrição de medicações. Entretanto, o rastreamento de depressão é indicada em todos os casos - temos a Escala de Edimburgo para nos auxiliar. A depressão é indicação de tratamento com psicoterapia e antidepressivos se necessário. Dor do reflexo útero-mamário: cólica durante a amamentação. Perda de peso: ocorre devido a amamentação, dieta e outros fatores. A saída do feto, placenta e líquido amniótico causa perda de 6 kg. A contração uterina e absorção do excesso de fluido perde de 2 a 7 kg. Recupera em cerca de 6 meses. Parede abdominal: recupera o tônus em algumas semanas, mas pode haver a diástase do reto abdominal que pode persistir e necessitar até de correção cirúrgica. Menstruação: retorna, em média, 45 dias nas mulheres que não amamentam. As mães que amamentam integralmente podem ficar sem menstruar por 8 a 12 meses. Assistência Pós-natal Avaliar os sinais vitais, as perdas vaginais e fazer a palpação uterina; ressaltar os benefícios da amamentação; estimular a deambulação precoce e a higiene vigorosa com água e sabão na episiorrafia e ferida operatória. Analgesia com analgesicos simples e compressas locais são recomendadas. Em casos de alto risco, é recomendada profilaxia para tromboembolismo venoso. É indicada profilaxia com imunoglobulina anti-D em até 72h para mães Rh - com filho Rh+. A alta hospitalar é dada em 48-72h pós-parto. As consultas são realizadas no 7º e no 30º dia pós- parto. ANTICONCEPÇÃO Devemos indicar anticoncepcional sem estrogênio, pois pode interferir na lactação. A anticoncepção é indicada para todas as gestantes, geralmente iniciando após 40 dias do parto. OBS: Segundo a OMS, o intervalo interpartal adequado é de pelo menos 2 anos. Métodos hormonais - Progestagênios isolados (Desogestrel 75 mcg); - Injetáveis trimestrais compostos de 150 mg de Acetato de medroxiprogesterona de depósito; - Implante subdérmico de etonogestrel (Implanon®); - Mirena® ou DIU de cobre no pós-parto imediato (48h) ou 4-6 semanas após o parto. - Laqueadura: pode ser realizada após 24h do parto. - A minipílula não inibe a ovulação (não é mais indicada, mas é utilizada pela ampla disponibilidade ). OBS: estrogênios não devem ser usados por até 6 meses do puerpério, pois alteram a quantidade e a qualidade do leite (inibem a prolactina),há transferência para o bebê e causam eventos tromboembólicos (risco aumentando no puerpério). Mulheres que amamentam após 6 meses também não devem usá-los. OBS: amamentação exclusiva tem eficácia se amenorreia e nos primeiros 6 meses. OUTRAS RECOMENDAÇÕES Exercício físico: 30 dias após o parto normal; 60 dias após cesariana. Atividade sexual: é normal haver diminuição da libido. Após 40 dias volta ao normal. Hipotireoidismo: retornar à dose de levotiroxina que tomava antes da gestação. Diabetes melito: pacientes que desenvolveram diabetes gestacional devem fazer o teste de tolerância oral à glicose após 6-8 semanas do parto. Pacientes com DM prévio retornam ao tratamento prévio à gestação. Risco cardiovascular: pacientes com hipertensão, diabetes gestacional e parto pré-termo devem ser avaliadas para aumento do risco cardiovascular.
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