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Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Diarreia Aguda e Crônica Diarreia consiste em alteração do habito intestinal por diminuição de consistência das fezes e aumento da frequência e do volume das evacuações. Fisiologia e Fisiopatologia A diarreia é uma manifestação clínica relativamente comum decorrente de alterações na absorção, na secreção ou na motilidade intestinal. O principal mecanismo pelo qual a água é absorvida e secretada se faz segundo o gradiente osmótico criado pelo transporte ativo do sódio. O sódio é absorvido associado ao cloro ou a alguns nutrientes. A diminuição da absorção ou aumento da secreção ou a alteração de ambas produzem diarreia. Muitos microrganismos alteram o equilíbrio de absorção e secreção no intestino delgado e são capazes de provocar diarreia. Alguns produzem enterotoxinas que ativam o mecanismo secretor e outros, por alterarem as vilosidades, prejudicam a absorção. Além disso, podem estimular resposta inflamatória local, que resulta na produção de vários secretagogos, como as prostaglandinas e interleucinas, e contribuem para a perda de líquidos para o lúmen intestinal. A fisiopatologia da diarreia envolve cinco mecanismos básicos, sendo possível a concomitância de mais de um deles no desencadeamento de determinado tipo de diarreia: 1. Diarreia Secretora: É mediado por enterotoxinas as quais estimulam a secreção de fluidos e eletrólitos e bloqueiam a absorção dos mesmos nas vilosidades intestinais. Ex: Abuso de laxativos, má absorção de sais biliares, toxinas bacterianas. 2. Diarreia Osmótica: Resulta da presença de substância osmoticamente ativa, mal absorvida em alta concentração no lúmen intestinal induzindo movimentos de água do plasma para a luz intestinal e provocando retardo na absorção de água e eletrólitos. Ex: Má absorção de carboidratos, ingestão Mg+2. 3. Diarreia Motora: É caracterizado pela hipermotilidade intestinal. Ex: SII, diarreia diabética. 4. Diarreia Exsudativa/Inflamatória: decorre de enfermidades causadas por lesões da mucosa resultantes de processos inflamatórios ou infiltrativos, que podem levar a perdas de sangue, muco e pus, com aumento do volume e da fluidez das fezes. É encontrada nas doenças inflamatórias intestinais, neoplasias, colite pseudomembranosa, linfangiectasia intestinal. Ex: Doença de Crohn, RTUI, doença celíaca. 5. Diarreia Disabsortiva: resulta de deficiências digestivas e lesões parietais do intestino delgado que impedem a correta digestão ou absorção. Este processo pode causar diarreia com esteatorreia (gordura nas fezes) e resíduos alimentares. Classificação Define-se como aguda a diarreia que tem duração máxima de 30 dias, habitualmente ficando restrita a 2 semanas. A diarreia é considerada crônica quando tem duração superior a 1 mês. As diarreias agudas devem ser consideradas como urgência médica devido aos riscos inerentes especialmente relacionados com a desidratação habitual nesses casos. A principal etiologia é a infecciosa. Contudo, são processos autolimitados, na maioria das vezes, e a conduta primordial é a manutenção da homeostase com o equilíbrio hidreletrolítico. As diarreias crônicas apresentam condições etiopatogênicas muito mais complexas, porém raramente necessitam de abordagem emergencial. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Denomina-se diarreia alta a originada no intestino delgado e baixa a relacionada com o intestino grosso. A maioria das etiologias que causam problemas ao trato gastrintestinal alto desencadeia diarreia de padrão secretor. Por outro lado, as diarreias baixas costumam apresentar padrão inflamatório. - Alta: poucas dejeções ao dia, fezes volumosas, presença de restos alimentares e ausência de muco. Geralmente acompanhada de cólicas abdominais. - Baixa: múltiplas dejeções ao dia, pouco volumosas, sem restos alimentares e com presença de muco, pus e pode conter sangue. Geralmente acompanhadas de urgência e tenesmo. - Não-inflamatória: fezes aquosas, volumosas, sem sangue muco ou pus, geralmente sem febre. - Inflamatória: evacuações frequentes, pequeno volume, com muco ou pus, algumas com sangue. É comum febre, toxemia, dor abdominal intensa, tenesmo e leucocitose associada. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Diarreia Crônica A má absorção, que se apresenta mais comumente como diarreia crônica, é caracterizada pela absorção defeituosa de gorduras, vitaminas lipo e hidrossolúveis, proteínas, carboidratos, eletrólitos e minerais e água. A má absorção crônica pode ser acompanhada por perda de peso, anorexia, distensão abdominal, borborigmos e perda muscular. Um marco da má absorção é a esteatorreia, caracterizada pela gordura excessiva nas fezes e por evacuação volumosa, espumante, gordurenta e de cor amarela ou de barro. Etiologia As principais causas de diarreia crônica são síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória intestinal (DII), síndrome de má absorção e infecção crônica. História Clínica A caracterização da diarreia como alta (intestino delgado) ou baixa (cólon), conforme discriminada no quadro, é uma das formas de classificar e guiar a sequência de propedêutica complementar. Na qualificação da diarreia, devemos ter atenção para portadores de incontinência anal (aumento na frequência das evacuações por incapacidade de conter as fezes na ampola retal). Ausência de perda ponderal e de sinais de desnutrição, presença de sintomas predominantemente diurnos, alternância do hábito intestinal com períodos de constipação intestinal, além de crise de dor associada à distensão abdominal e aliviada pela evacuação são sugestivas de síndrome do intestino irritável (SII). O início dos sintomas, habitualmente, ocorre em períodos de instabilidade emocional e predomina em adultos jovens. Nestas condições, deve-se evitar investigação invasiva. Alguns fatores de risco para doenças específicas podem ser encontrados na história. O médico deve pesquisar: viagens a áreas endêmicas para parasitoses; sintomas precipitados ou agravados por uso de determinado alimento, como a lactose (intolerância à lactose) ou o glúten (doença celíaca); comorbidades como o diabetes de longa data e hipertiroidismo que podem cursar com diarreia; história familiar de doença inflamatória intestinal (DII) ou doença celíaca que apresentam risco de herança genética; exposição a fatores de risco para contaminação pelo HIV; uso de álcool em doses potencialmente lesivas ao pâncreas; abuso de produtos dietéticos com sacarídios não absorvíveis; história medicamentosa. Ao exame físico, podemos encontrar sinais extraintestinais de determinadas doenças. Na DII, além de massas inflamatórias abdominais, podem ocorrer lesões perianais, lesões cutâneas, aftas orais, olho vermelho e artropatias. Nas síndromes de má absorção e no câncer de cólon, devemos procurar sinais de desnutrição, como edema e anemia. Diagnóstico Nas diarreias crônicas a investigação diagnóstica primária se faz necessária com muito cuidado, especialmente, em alguns grupos: >70 anos, imunodeprimidos, evolução para desidratação, febre alta, características inflamatórias, + de 6 evacuações diárias, dor abdominal intensa em > 50 anos. Investigação Básica: Hemograma: Na série vermelha, presença de anemia pode estar relacionada com disabsorção ou com perdas. Em enfermidades que promovem perda sanguínea, encontraremos sinais de deficiência de ferro com microcitose (hemácias possuem tamanho menor que o normal) e hipocromia (hemácias possuem menos quantidade de hemoglobina queo normal). Alterações da série branca sugerem diarreia de origem inflamatória. Quando há predomínio de eosinofilia, parasitose intestinal é o diagnóstico mais provável. A plaquetose é marcador inespecífico de processo Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre inflamatório crônico e pode ser encontrada em portadores de DII. Eletrólitos: Casos de diarreia não esclarecidos podem necessitar da averiguação do gap osmótico do fluido fecal, que analisa a participação de substância osmoticamente ativa nas fezes, servindo para estimar a contribuição que os eletrólitos e outros elementos têm na retenção de água no lúmen intestinal. Exame parasitológico de fezes (3 amostras) Coprocultura Pesquisa de leucócitos fecais Sangue oculto: Os achados conjuntos de sangue oculto e de leucócitos fecais reforçam o diagnóstico de diarreia inflamatória. Além das colites, neoplasias malignas também devem ser consideradas. Gordura fecal para iniciação diagnóstica. Provas de atividade inflamatória: Proteína C reativa (PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS) e α-1 glicoproteína ácida são bons marcadores de atividade inflamatória. São importantes preditores de DII. Perfil nutricional/metabólico: A albumina é nutriente nobre e de meia-vida longa. Sua deficiência está associada a condições com perda nutricional significativa. Hormônios tireoideanos (T3, T4 e T4 livre) e o tireoestimulante (TSH) nos casos de suspeita de diarreia secundária ao hipertiroidismo definem o diagnóstico. Além disso, caso a apresentação clínica sugira fortemente uma suspeita, já podem ser solicitados exames mais específicos, como: ASCA (para doença de Crohn), p-ANCA (para retocolite ulcerativa – RCU), os anticorpos anti-transglutaminase, anti- endomísio (doença celíaca) e anti-gliadina (para doença celíaca), amilase e lipase (pancreatite) Endoscopia digestiva alta: Nos quadros clínicos compatíveis com diarreia alta, a endoscopia digestiva alta pode auxiliar no diagnóstico através da visualização da mucosa do intestino delgado proximal ou de sua análise por biopsia. Colonoscopia: Exame de grande importância no diagnóstico de diarreias crônicas baixas. Além do cólon, o exame se completa com avaliação adicional do íleo distal, região também associada a diarreias inflamatórias baixas. Trânsito de intestino delgado: É o principal exame complementar para estudo do intestino delgado devido a seu baixo custo, fácil execução e com segurança para o paciente. Apresenta alta sensibilidade para avaliação de desordens do jejuno e íleo. Tomografia computadorizada: A tomografia com contraste oral também auxilia na avaliação do trânsito pelo intestino delgado. Tem bom desempenho especialmente para lesões tumorais dessa área. É menos sensível do que o trânsito intestinal para lesões de mucosas. Tratamento Para os pacientes que estão em investigação diagnóstica, deve-se prescrever inicialmente dieta pobre em resíduos, restrição de leite e derivados, utilizando-se medicamentos sintomáticos para a diarreia. Os agentes antimotilidade, derivados do ópio, também atuam sobre receptores específicos na Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre membrana celular, inibindo a atividade da adenilciclase, diminuindo a concentração intracelular de cAMP, tendo assim atividade antissecretora e inibidora da motilidade intestinal. Embora os derivados sintéticos do ópio (loperamida e difenoxilato) sejam mais utilizados, a morfina e a codeína, por terem ação central e periférica, são mais potentes e mais eficazes em diarreias persistentes de aidéticos. Os alfa2-adrenorreceptores estão presentes no intestino e medeiam os efeitos pró-absortivos e antimotilidade das catecolaminas. A clonidina, agonista alfa-adrenérgico, tem atividade antidiarreica, sendo utilizada com sucesso na diarreia dos diabéticos, embora apresente restrições por causa de seu efeito hipotensor. A somatostatina e o octreotídio têm ação diversificada no tubo digestivo. Inibem a motilidade e a secreção gástrica e pancreática com favorecimento da absorção de água e eletrólitos. Diarreia Aguda A diarreia aguda geralmente manifesta-se como quadro de instalação súbita em resposta a estímulos variáveis, sendo os principais associados a agentes infecciosos com evolução autolimitada. Etiologia Como o processo é autolimitado, a definição etiológica nem sempre altera a conduta médica na diarreia aguda. Entretanto, em casos mais graves ou em situações especiais, medidas específicas podem ser necessárias. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Outras causas como sobrecarga de solutos hiperosmolares por abusos alimentares ou fármacos (diarreia osmótica) e estímulos de peristalse exacerbados como os induzidos por estresse emocional nas síndromes funcionais (diarreia motora) também podem acarretar quadros agudos. Os agentes infecciosos mais comumente envolvidos nos quadros de diarreia aguda são expostos no quadro. Nas populações mais pobres, predomina a etiologia bacteriana e, nas de melhor nível social, prevalece a viral. Os mecanismos fisiopatológicos das diarreias infecciosas são o secretório ou o inflamatório. No quadro, os agentes agressores estão divididos de acordo com o tipo de lesão e suas diferenças laboratoriais. História Clínica Na história do paciente, devem-se investigar o local e as condições em que a diarreia foi adquirida. Deve-se investigar a ingestão recente de água, frutas ou verduras potencialmente contaminadas, alimentos suspeitos, viagens recentes, presença de pessoas próximas também acometidas, uso recente de antibióticos e outros fármacos, história sexual, banho em locais públicos e contatos com animais A diarreia inflamatória apresenta espectro clínico mais grave e exige tratamento mais criterioso. É causada por bactérias invasivas, parasitos e bactérias produtoras de citotoxinas que afetam preferentemente o íleo e o cólon. Promove ruptura do revestimento mucoso e perda de soro, hemácias e leucócitos para o lúmen. Manifesta-se por diarreia, em geral de pequeno volume, com muco, pus ou sangue, febre, dor abdominal predominante no quadrante inferior esquerdo, tenesmo, dor retal. Algumas vezes, apresenta, no início da evolução, diarreia aquosa, que só mais tarde se converte em típica diarreia inflamatória, quando os microrganismos ou suas toxinas lesam a mucosa colônica. A diarreia não inflamatória é, em geral, moderada, mas pode provocar grandes perdas de volume. É causada habitualmente por vírus ou por bactérias produtoras de enterotoxinas e afeta preferentemente o intestino delgado. Os microrganismos aderem ao epitélio intestinal sem destruí-lo, determinando diarreia secretora, com fezes aquosas, de grande volume e sem sangue; pode estar associada a náuseas e vômitos. As cólicas, quando presentes, são discretas, precedendo as exonerações intestinais. Devem-se também avaliar possíveis complicações, especialmente a desidratação. Relato de boca seca e sede, diurese concentrada, oligúria, associados a achados ao exame físico de pele e mucosas desidratadas e hipotensão postural com taquicardia, demonstram desidratação e sua gravidade. Sinais de toxemia indicam quadro mais grave e necessidade de maior cuidado clínico. Desta forma, presença de febre alta, taquipneia, vasodilatação periférica com hipotensão e pulsos rápidos e finos são sinais de alerta. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre O exame físico do abdome normalmente exibe dor leve difusa à palpação, com possibilidadede descompressão brusca levemente dolorosa em situações de maior distensão de alças e dor mais intensa. Os ruídos hidroaéreos estão frequentemente aumentados. Dor localizada, sinais de irritação peritoneal intensa, massas ou visceromegalias, distensão abdominal importante e ausência de ruídos são achados que devem direcionar para avaliação cuidadosa pela possibilidade de outras afecções abdominais. Diagnóstico Na maioria dos casos, a avaliação clínica é suficiente para definição diagnóstica e para determinar a gravidade do quadro. O estado imunológico do hospedeiro também é importante na conduta diagnóstica e terapêutica. - Exames laboratoriais Hemograma: podem-se encontrar anemia e hemoconcentração. Nas diarreias por vírus, linfocitose pode estar presente. Leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda é frequente nas infecções bacterianas mais invasivas com diarreia inflamatória. Função renal e eletrólitos: A desidratação causa hipovolemia que altera a perfusão renal, fazendo com que haja elevação da creatinina e, principalmente, da ureia em depleções volêmicas mais importantes. - Estudo das fezes Leucócitos fecais: É o teste mais utilizado na avaliação de diarreia aguda e identifica processos inflamatórios mais intensos. Entretanto, a simples presença dos polimorfonucleares nas fezes não caracteriza diarreia infecciosa, pois estes são encontrados também em outras afecções do intestino grosso. Coprocultura: A realização da coprocultura deve ser reservada para casos suspeitos de diarreia infecciosa por bactérias invasivas, na presença de sangue oculto e leucócitos fecais ou para os casos de interesse epidemiológico. Pesquisa de toxinas e antígenos de patógenos: Pesquisa de toxinas no diagnóstico de algumas bactérias pode ser mais útil do que a tentativa de sua cultura. O uso da PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) é outra metodologia para pesquisa de antígenos nas fezes para diagnóstico de inúmeros microrganismos. Entretanto, sua aplicabilidade clínica ainda é muito restrita pela pouca disponibilidade da tecnologia e pelo seu alto custo. - Exames de Imagem Radiografia simples do abdome, nos casos mais graves, é útil para avaliar complicações como íleo paralítico e megacólon tóxico. - Endoscopia A retossigmoidoscopia flexível deve ser feita nos pacientes com clínica de proctite (inflamação da mucosa retal - tenesmo, dor retal) e, também, se há suspeita de colite pseudomembranosa. Nesses casos, a biopsia é importante para excluir doença inflamatória intestinal. Tratamento A imunidade do hospedeiro, na maioria das vezes, é capaz de eliminar infecção gastrintestinal, sem necessidade de terapêutica específica. Assim, o objetivo terapêutico está relacionado com a reposição das perdas hidreletrolíticas. - Reidratação Na maioria dos casos, a reidratação oral é suficiente. A solução deve conter glicose, para favorecer a absorção do sódio. Quando as perdas forem mais importantes, a reposição deve ser feita com soluções contendo eletrólitos (Na+, K+, HCO3- e Cl-) em concentrações aproximadas daquelas perdidas na diarreia. Para os pacientes hipovolêmicos, deve-se fazer hidratação venosa com soluções isotônicas contendo glicose e eletrólitos. - Dieta O paciente deve ser orientado para continuar alimentando-se durante o episódio de diarreia. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Aqueles que têm náuseas e vômitos devem dar preferência aos líquidos em pequenas quantidades de cada vez, para garantir a reposição das perdas. Os alimentos visam à reposição calórica, compensando assim o estado catabólico produzido pela diarreia, e, ao contrário do que se acreditava, não agravam o quadro diarreico, nem pioram a sua evolução. Alguns alimentos devem ser evitados temporariamente por causa de seus efeitos sobre a dinâmica intestinal, como, por exemplo, aqueles que contêm cafeína, lactose, alimentos com maior teor de gordura e as frituras também podem ter sua absorção reduzida e agravar a diarreia. - Agentes Antidiarreicos As fibras solúveis medicinais como o Psyllium (uma medida até 3 vezes/dia) e absorventes de água como a policarbofila de cálcio (1 a 2 comprimidos até 4 vezes/dia) também podem ser usados para reter água e aumentar a consistência das fezes, diminuindo os episódios diarreicos. Porém, também têm efeito limitado nesses casos. O subsalicilato de bismuto tem efeito variado, é bactericida e antissecretor por bloquear o efeito das enterotoxinas, além de estimular a reabsorção intestinal de sódio e água. Devido a seu baixo custo, eficácia e segurança, representa boa opção para o tratamento sintomático da diarreia aguda infecciosa. Administrado para adultos na dose de 30 ml, ou 2 comprimidos de 30 em 30 min até completar 8 doses, costuma ser eficaz em muitos casos de diarreia não inflamatória. Os derivados sintéticos do ópio (loperamida e difenoxilato) inibem a motilidade intestinal, aumentam o tempo de contato para a absorção de água e eletrólitos, e com isso diminuem o número das evacuações intestinais e as cólicas. Esses medicamentos devem ser evitados nos casos de disenterias e nos pacientes com febre alta e toxemia, pois poderiam agravar a evolução da doença e precipitar o aparecimento de megacólon tóxico. Além disso, podem facilitar o desenvolvimento da síndrome hemolítico-urêmica nos pacientes infectados com a Escherichia coli êntero-hemorrágica. A dose inicial da loperamida é de 4 e, posteriormente, 2 mg após cada evacuação diarreica, não devendo ultrapassar 16 mg/dia e, no máximo, administrada por 2 a 3 dias. O difenoxilato deve ser usado na dose de 4 mg na primeira tomada e depois 2 mg até 4 vezes/dia e por até 2 dias. Os pacientes devem ser alertados de que essas drogas mascaram as perdas hídricas e de que eles devem fazer reposição de líquidos adequada durante a terapêutica. O racecadotril é agente antissecretor que funciona através da inibição da encefalinase, enzima responsável pela inativação do neurotransmissor encefalina. Essa ação seletiva protege as encefalinas endógenas, que são fisiologicamente ativas, e reduz a hipersecreção de água e eletrólitos causada pelas toxinas bacterianas. Por isso, é recomendado associado às soluções reidratantes orais, principalmente em crianças. A dose habitual para adultos é de 100 mg, 3 vezes/dia durante 2 a 3 dias - Terapêutica Antimicrobiana Como a maioria das diarreias infecciosas tem evolução autolimitada, o uso de antibióticos deve ser restrito a condições específicas. O emprego rotineiro deve ser evitado porque eles podem prolongar a eliminação de fezes com bactérias pato-gênicas e contaminar o meio ambiente. Além disso, expõe os pacientes aos efeitos adversos dos antibióticos e promove o desenvolvimento de resistência bacteriana com seleção de bactérias como o Clostridium difficile. O uso empírico, por exemplo, do sulfametoxazol-trimetoprima (TMP- SMZ) ou de quinolona, pode ser efetuado em pacientes com quadros clínicos importantes de disenteria e possível bacteriemia, até que se obtenha o resultado da coprocultura. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre
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