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Carla Bertelli – 4° Período 1 – Compreender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas associadas a diarreia aguda e crônica 2 – Entender o diagnóstico e tratamento da diarreia 3 – Diferenciar os mecanismos fisiopatológicos: osmóticas, inflamatórias, disabsortivas, secretórias e funcionais A diarreia é uma manifestação comum de doença gastrointestinal e é uma das principais causas de utilização de cuidados de saúde. Diarreia consiste na alteração do hábito intestinal por diminuição da consistência das fezes e aumento da frequência e do volume das evacuações. Apesar de a quantidade do peso fecal ser a forma mais precisa para definir diarreia, está medida é pouco prática e restrita ao academicismo necessário às pesquisas. Alterações intestinais são caracterizadas por variações na consistência e pela presença de produtos patológicos nas fezes. Estes são definidos pela presença de muco, pus, sangue, resíduos alimentares ou fezes brilhantes e/ou flutuantes (esteatorreia). Os três primeiros estão frequentemente associados a diarreias de origem inflamatória, enquanto os dois últimos estão associados às síndromes disabsortivas. A investigação das características clínicas da diarreia auxilia na compreensão da fisiopatologia envolvida no processo e até mesmo das etiologias mais prováveis. Em muitos casos, terapêutica sintomática e específica pode ser introduzida com esses dados iniciais. Sempre que possível, no entanto, deve-se definir a etiologia para se conduzir a terapêutica de forma mais dirigida. çã O intestino tema função de secretar substâncias que auxiliam no processo digestivo e absortivo de líquidos, eletrólitos e nutrientes. Fisiologicamente, a absorção de nutrientes e líquidos excede a secreção. O intestino delgado recebe aproximadamente 10l de líquidos por dia, absorve cerca de 6l no jejuno e 2,5l no íleo. O cólon recebe do delgado em torno de 1,5l e apenas 100ml são eliminados nas fezes. A capacidade absortiva total do cólon é de 4 a 5l/24horas, e quando essa quantidade é ultrapassada sugere diarreia. O principal mecanismo pelo qual a água é absorvida e secretada se faz segundo o gradiente osmótico pelo transporte ativo de sódio. O sódio é absorvido associado ao cloro ou a alguns nutrientes. A absorção de Na/Cl pelas vilosidades leva a água passivamente através da mucosa. A absorção acoplada de Na com glicose, galactose e aminoácidos é ativa e não sofre influência dos agentes infecciosos, por isso é utilizado para restaurar as perdas nas diarreias infecciosas. A secreção entérica depende da secreção ativa de Cl, que se acompanha da aliminação de Na e H20 para o lúmen intestinal pelas células das criptas. Assim a água acompanha o movimento do Na+ e a absorção de faz pelas células do ápice das vilosidades intestinais, enquanto a secreção é realizada pelas células das criptas. No cólon há vários mecanismos de transporte de sódio, através dos quais ocorre a absorção de água. A absorção e a secreção acontecem concomitantemente com predomínio do conteúdo absorvido. A diminuição da absorção ou o aumento da secreção ou a alteração de ambas produzem diarreia. Muitos microrganismos alteram o equilíbrio de absorção e secreção no intestino delgado e são capazes de provocar diarreia. Alguns produzem enterotoxinas que ativam o mecanismo secretor e outros, por alterarem as vilosidades, prejudicam a absorção. No íleo distal e no cólon, a diarreia é causada principalmente por invasão e destruição do epitélio, que resulta em ulceração, infiltração da submucosa com eliminação do soro e sangue. Além disso, podem estimular uma resposta inflamatória local, que resulta na produção de vários secretagogos, como as prostaglandinas e interleucinas, e contribuem para a perda de líquidos para o lúmen intestinal. A fisiopatologia da diarreia envolve 5 mecanismos básicos, sendo possível a concomitância de mais de um deles no desencadeamento de determinado tipo de diarreia. Carla Bertelli – 4° Período Diarreia Secretora Resulta da Hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito, como ocorre pela ação das enterotoxinas bacterianas. Podem também resultar da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos, como no gastrinoma (gastrina), na síndrome carcinoide (serotonina, prostaglandina e calcitonina), na cólera pancreática (VIPomas), no adenoma viloso, na insuficiência adrenal e no hipoparatireoidismo. Diarreia Osmótica O processo da digestão determina fisiologicamente a transformação do conteúdo intestinal em material isosmótico. Distúrbios da digestão presentes nas deficiências das dissacaridases, que mantêm um conteúdo hiperosmolar, determinam a passagem de líquidos parietais para o lúmen intestinal e, consequentemente diarreia. O mesmo pode acontecer pela ingestão de agentes osmoticamente ativos como lactulose, o manitol, o sorbitol e os sais de magnésio. Diarreia Motora Resulta de alterações motoras com trânsito intestinal acelerado, como ocorre nas enterocolopatias funcionais ou doenças metabólicas e endócrinas. Surge também, por redução da área absortiva consequente de ressecções intestinais ou de fístulas enteroentéricas. Diarreia Exsudativa/Inflamatória Decorre de enfermidades causadas por lesões da mucosa resultantes de processos inflamatórios infiltrativos, que podem levar a perdas de sangue, muco e pus, com o aumento do volume e fluidez das fezes. É encontrada nas doenças inflamatórias intestinais, neoplasias, shigelose, colite pseudomembranosa, linfangiectasia intestinal Diarreia Disabsortiva Resulta de deficiências digestivas e lesões parietais do intestino delgado que impedem a correta digestão ou absorção. Este processo pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares. Existem várias formas de classificar as diarreias. A definição que apresenta maior relevância clínica é a que distingue tipos de diarreia de acordo com o seu çã . Assim, define-se diarreia , uma diarreia com duração no máximo de 30 dias, ficando restrita principalmente a duas semanas. A diarreia considerada ô é quando tem duração superior a 1 mês. As diarreias agudas devem ser consideradas como urgência médica devido aos riscos inerentes especialmente relacionados com a desidratação habitual. A principal etiologia é a infecciosa, contudo, são processos autolimitados, na maioria das vezes, e a conduta primordial é a manutenção da homeostase com o equilíbrio eletrolítico. As diarreias crônicas apresentam condições mais complexas, porém raramente de abordagem emergencial. Com isso, a necessidade de tratamento empírico inicial é reduzida e o médico tem condições de conduzir investigação adequada. Também é importante entender sobre a relação do local de origem da diarreia: • Diarreia Alta – relacionada com o intestino delgado • Diarreia baixa – relacionada com o intestino grosso Essa classificação é importante para a diferenciação de causas mais frequentes em cada loca, dirigindo melhor conduta médica investigativa e terapêutica iniciais. Carla Bertelli – 4° Período Quadro de instalação súbita em resposta a estímulos variáveis, sendo os principais associados a agentes infecciosos com evolução autolimitada. As principais causas de diarreia infecciosa estão relacionadas à í (norovírus, rotavírus, adenovírus, astrovírus), é (salmonella, campylobacter, shigela) e á (giárdia, entamoeba, cylospora). Além disso, causas como sobrecarga de solutos hiperosmolares por abusos alimentares ou farmacológicos (diarreia osmótica) e estímulos de peristalse exacerbados como os induzidos por estresse emocional (diarreia motora) também pode acarretar casos agudos. A maioria dos casos de diarreia aguda é provavelmente viral. A falha em mecanismos de defesa como o suco gástrico (letal paramuitos organismos), a motilidade intestinal (que dificulta a aderência) e os sistemas linfáticos e imunes (defesa celular e humoral), faz com que seja mais suscetível a ocorrência de um estímulo agressor causando a diarreia. Os mecanismos fisiopatológicos das diarreias infecciosas são o secretório e o inflamatório. – Prevalência mundial de 3 a 5 bilhões de casos ao ano, associada a 5 a 10 milhões de morte/ano. Dados brasileiros de 2007 mostram que 5 em cada 1000 mortes no país foram causados por diarreia aguda infecciosa. Existe uma relação que fiz que em populações mais pobres predomina infecção de etiologia bacteriana e em populações de melhor nível social prevalece a causa viral. ó í – Deve-se investigar o local e as condições em que a diarreia foi adquirida. Perguntar sobre a ingestão recente de água, frutas ou verduras contaminadas, alimentos suspeitos, viagens recentes, pessoas próximas também acometidas, uso recente de antibióticos ou outros fármacos, história sexual, banho em locais públicos e contato com animais. Na avaliação da origem da diarreia, é importante considerar o período de incubação no caso de infecções intestinais, normalmente podendo levar de horas até 2 semanas. ó – se apresenta mais grave e exige tratamento criterioso. É causado por bactérias invasivas, parasitos e bactérias produtoras de citotoxinas que afetam preferencialmente o íleo e cólon. Promovem a ruptura do revestimento mucoso e perda de soro, hemáticas e leucócitos para o lúmen. Manifesta-se por diarreia, em geral de pequeno volume, com muco, pus ou sangue, febre, dor abdominal (quadrante inferior esquerdo), tenesmo, dor retal. ã ó – em geral moderada, podendo provocar grandes perdas de volume. É causada por vírus ou bactérias produtoras de enterotoxinas e afeta preferencialmente o intestino delgado. Os microrganismos aderem ao epitélio intestinal sem destruí- lo, determinando uma diarreia secretora, com fezes aquosas, de grande volume e sem sangue, pode estar associada a náuseas e vômitos. As cólicas quando presentes são discretas. Na avaliação clínica, é necessário definir o padrão da diarreia aguda e se atentar aos sinais de desidratação. Relato de diurese concentrada, boca seca, sede, oligúria + pele e mucosas desidratadas, hipotensão estrutural e taquicardia demonstrar desidratação e gravidade. Sinais de toxemia indicam quadro mais grave com necessidade de maior cuidado clínico. Presença de febre alta, taquipneia, vasodilatação periférica com hipotensão e pulsos rápidos e finos são sinal de alerta. O exame físico do abdome existe dor leve difusa à palpação, com possibilidade de descompressão busca levemente dolorosa. Ruídos hidroaéreos vão estar aumentados. ó – Na maioria dos casos, a avaliação clínica é suficiente para definição diagnóstica. O estado Carla Bertelli – 4° Período imunológico do hospedeiro também é importante na conduta diagnóstica e terapêutica. Hemograma – Pacientes que evoluem para formas mais graves, pode-se identificar anemia e hemoconcentração. Em diarreia por vírus pode ter linfocitose presente, já a presença de leucocitose e neutrofilia remetem a infecções bacterianas. Função renal e Eletrólitos – A desidratação causa hipovolemia que altera a perfusão renal, fazendo com que haja elevação da creatinina e principalmente da ureia. Essa complicação pode ser diagnosticada principalmente em idosos. O distúrbio eletrolítico tem relação com as perdas entéricas e deve ser corrigido. Leucócitos Fecais – Teste mais utilizado na avaliação da diarreia aguda e identificação de processos inflamatórios intensos. Entretanto, a presença de polimorfonucleares nas fezes não caracteriza diarreia infecciosa pois pode estar presente em outras afecções do intestino grosso. Coprocultura – Deve ser reservada em casos suspeitos de diarreia infecciosa por bactérias invasivas, na presença de sangue oculto e leucócitos fecais. Quando se pede esse exame no laboratório é necessário informar qual o agente etiológico suspeito a fim de adequar o meio da cultura. Pesquisa de Toxinas e Antígenos de Patógenos – Pode ser mais útil do que a tentativa de cultura. O principal exemplo são as cepas patogênicas do Clostridium difficile que produz toxinas A e B. Essas toxinas são identificadas nas fezes por ELISA que comprova a presença da infecção. Além disso, o exame ELISA ainda detecta infecção por rotavírus, giárdia e Cryptosporidium. O uso de PCR é outra metodologia para pesquisa de antígenos nas fezes, diagnosticando inúmeros microrganismos. Restrito por seu alto custo. – Radiografia simples de abdome, nos casos mais graves, é útil para avaliar complicações como íleo paralítico e megacólon tóxico. – A retossigmoidoscopia flexível deve ser feita em pacientes com clínica de proctite (tenesmo, dor retal) e, também, se há suspeita de colite pseudomembranosa. Nesses casos, a biópsia é importante para excluir DII. – A imunidade do hospedeiro, na maioria das vezes, é capaz de eliminar infecção gastrointestinal, sem necessidade de terapêutica específica. Assim, o objetivo terapêutico está relacionado com a reposição das perdas hidreletrolíticas. çã : na maioria dos casos a reidratação oral é suficiente. A solução deve conter glicose (para favorecer a absorção de sódio). Quando as perdas forem mais importantes a reposição deve ser feita com soluções contendo eletrólitos (Na+, K+, HCO3- e Cl-) em concentrações aproximadas aquelas perdidas na diarreia. Para pacientes hipovolêmicos deve-se fazer hidratação venosa com soluções isotônicas contendo glicose e eletrólitos. o paciente deve ser orientado para continuar se alimentando durante o episódio de diarreia. Aqueles que tem náuseas ou vômitos devem dar preferência aos líquidos em pequenas quantidades de cada vez. Os alimentos visam a reposição calórica, compensando assim o estado catabólico produzido pela diarreia. : em alguns casos é recomendável diminuir o número das evacuações, principalmente em diarreias infecciosas. Com a diarreia moderadamente grave, afebril e não sanguinolenta, os agentes antissecretores e antimotilidade (como a loperamida) podem ser medidas adjuvantes úteis para controlar os sintomas. Esses fármacos devem ser evitados nos casos de disenteria febril, que pode ser exacerbada ou prolongada por eles. O subsalicilato de bismuto pode reduzir os sintomas de vômito e diarreia, mas não deve ser usado no tratamento de pacientes imunossuprimidos ou portadores de insuficiência renal devido ao risco de encefalopatia por bismuto. Os , embora aumentem a consistência das fezes, têm pequeno efeito sobre seu volume. Eles agem devido ao caulim parece adsorver bactérias e toxinas e diminuir a perda de água. A pectina é agente formador de massa. Fibras solúveis medicinais como (uma medida de até 3x ao dia) e absorventes de água como de cálcio (1/2 comprimidos até 4x no dia) podem ser utilizados para reter água e aumentar a consistência das fezes. é bactericida e antissecretor por bloquear o efeito das enterotoxinas, além de estimular a reabsorção intestinal de sódio e água. Devido seu baixo Carla Bertelli – 4° Período custo, eficácia e segurança representa uma boa opção para o tratamento sintomático da diarreia aguda infecciosa. Administrado para adultos na dose de 30ml, ou 2 comprimidos de 30 em 20 min, até completar 8 doses. Possui diversos mecanismos de ação, como a normalização do movimento dos fluidos por um mecanismo antissecretor, ligação às toxinas bacteriana, com efeito antimicrobiano. Os derivados sintéticos do Ópio – – inibem a motilidade intestinal, aumentam o tempo de contato para absorção de água e eletrólitos, e diminuem o número de evacuações intestinais e cólicas. A dose inicial de loperamida é de 4 e, posteriormente, 2mg após cada evacuação diarreica, nãodevendo ultrapassar 16mg/dia, administrada no máximo por 2 a 3 dias. O difenoxilato deve ser usado na dose de 4mg na primeira tomada e depois 2mg até 4x no dia e por até 2 dias. é uma gente antissecretor que funciona através da inibição da encefalinase, enzima responsável pela inativação do neurotransmissor encefalina. Essa ação seletiva protege as encefalinas endógenas, que são fisiologicamente ativas, e reduz a hipersecreção de água e eletrólitos causada pelas toxinas bacterianas. A dose habitual para adultos é de 100mg, 3x/dia durante 2 a 3 dias. ê – Como a maioria das diarreias infecciosas tem evolução autolimitada, o uso de antibióticos deve ser restrito á condições específicas. O uso empírico de Sulfametoxazil-trimetoprima (TMP- SMZ) ou de quinolona pode ser efetuado em pacientes com quadros clínicos importantes de desinteria e possível bacteremia. Muitos médicos tratam de forma empírica, sem avaliação diagnóstica, os pacientes moderada a gravemente enfermos com disenteria febril usando uma quinolona, como ciprofloxacino (500 mg, 2×/dia, durante 3-5 dias). O tratamento empírico com metronidazol (250 mg, 4×/dia, durante 7 dias) também pode ser considerado se houver suspeita de giardíase. Por outro lado, a escolha dos antibióticos e seus esquemas posológicos é orientada com base nos patógenos específicos, nos padrões geográficos de resistência e nas condições encontradas. Situações específicas de Diarreia Aguda – Intoxicação alimentar, Intoxicação por Staphylococcus aureus, intoxicação por Clostridium botulinum, intoxicação por Clostridium perfringens, diarreia pelo rotavírus, diarreia do viajante, diarreia pela Escherichia coli, E. coli enterotoxigênica, E. coli enteropatogênica, E. coli êntero- hemorrágica, E. coli enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa, diarreia infecciosa invasiva, diarreia pela Shigella, diarreia por Salmonela, Salmonelose tifoide, Salmonelose não tifoide, diarreia por clostridium difficile. Regina LaRocque, & Jason B Harris. (2022). Abordagem do adulto com diarreia aguda em ambientes ricos em recursos. https://www.uptodate.com/contents/approach-to- the-adult-with-acute-diarrhea-in-resource-rich- settings?source=bookmarks_widget DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo F. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição. Grupo GEN, 2011. 978-85-277-1970-4. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85- 277-1970- Existem inúmeras causas de diarreia crônica, ligadas ora ao intestino delgado, ora cólon, criando dificuldades na sua identificação e terapêutica. A diarreia que se estende por > 4 semanas exige avaliação para excluir uma patologia subjacente grave. Em contraste com a diarreia aguda, a maioria das causas de diarreia crônica não é de origem infecciosa. A classificação da diarreia crônica com base no mecanismo fisiopatológico facilita a abordagem racional ao tratamento, embora muitas doenças causem diarreia por mais de um mecanismo – Ocorre principalmente em países industrializados. Nos EUA estima-se que a prevalência da diarreia crônica seja de 5% na população adulta. Com base em uma definição comumente usada (ou seja, a presença de frequência excessiva de evacuações), uma aproximação razoável é que a diarreia crônica afeta aproximadamente 3 a 7 por cento da população As da diarreia crônica são síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória intestinal (DII), síndrome da má absorção e infecção crônica. Esta última, mais relacionada a regiões de condições sanitárias inadequadas, com possibilidade de infecções bacterianas, por protozoários ou helmintos. Em ambientes com muitos recursos, as causas comuns são síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória intestinal, síndromes de má absorção (como intolerância à lactose e doença celíaca) e infecções crônicas (particularmente em pacientes imunocomprometidos) https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-acute-diarrhea-in-resource-rich-settings?source=bookmarks_widget https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-acute-diarrhea-in-resource-rich-settings?source=bookmarks_widget https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-acute-diarrhea-in-resource-rich-settings?source=bookmarks_widget Carla Bertelli – 4° Período Em ambientes com recursos limitados, a diarreia crônica é frequentemente causada por infecções bacterianas, micobacterianas e parasitárias crônicas, embora distúrbios funcionais, má absorção e doença inflamatória intestinal também sejam comuns. Portadores de imunodeficiência apresentam frequentemente diarreia associada a infecções oportunistas crônicas. O câncer colorretal pode apresentar-se com diarreia crônica, habitualmente com sinais de perda de sangue. O uso de medicamentos também deve ser investigado, visto que algumas drogas têm efeitos secretórios direto no intestino delgado e cólon, principalmente fenolftaleína e derivados antraquinônicos, como o sene. O uso excessivo de dissacarídeos não absorvíveis, como o sorbitol, em dietas com restrição de açúcar, pode causar diarreia osmótica à semelhança de laxativos, como o manitol e sulfato de magnésio. Tumores neuroendócrinos produtores de neurotransmissores com ação secretagoga, como o peptídeo vasoativo intestinal, nos VIPomas e serotonina na síndrome carcinoide, estão associados á diarreia crônica e intensa. Apesar de constituírem enfermidades mais raras, devem ser lembrados nessas situações. História Clínica – A definição diagnóstica exclusivamente pelo quadro clínico é mais difícil na diarreia crônica devido as suas possíveis etiologias de grande complexidade. Entretanto, a avaliação clínica acurada pode direcionar a investigação complementar. Na qualificação da diarreia, devemos ter atenção para portadores de incontinência anal. Esses indivíduos apresentam o que denominamos pseudodiarreia. Existe um aumento na frequência das evacuações por incapacidade de conter as fezes na ampola retal. Nesta condição, não há aumento na quantidade de água nas fezes, nem do seu volume global – portanto, não há diarreia. Ausência de perda ponderal e de sinais de desnutrição, presença de sintomas predominantemente diurnos, alternância do hábito intestinal com períodos de constipação intestinal, além de crise de dor associada à distensão do abdome e aliviada pela evacuação são sugestivas de Síndrome do Intestino Irritável. O início dos sintomas ocorre em períodos de instabilidade emocional e predominam em adultos jovens. O médico deve pesquisar viagens a áreas endêmicas para parasitoses, sintomas precipitados ou agravados pelo uso de determinado alimento, comorbidades como diabetes ou hipertireoidismo (que causam diarreia), história familiar de DIII ou doença celíaca, exposição a fatores de risco para contaminação por HIV, uso de álcool em doses potencialmente lesivas ao pâncreas, história medicamentosa. Ao exame físico podemos encontrar sinais extraintestinais de determinadas doenças. Na DIII, além de massas inflamatórias, podem ocorrer lesões perianais, lesões cutâneas, aftas orais, olho vermelho. Nas síndromes de má absorção e no câncer de cólon deve- se procurar sinais de desnutrição como edema e anemia. ó – As orientações do diagnóstico necessitam seguir parâmetros clínicos objetivos, em função da complexidade da propedêutica específica. Quando necessária, a solicitação de exames complementares deve guiar-se inicialmente pelas características de quadro diarreico, se é alta ou baixa. – São úteis para avaliação inicial da diarreia crônica, especialmente para avaliar a presença de atividade inflamatória e/ou comprometimento nutricional • Hemograma – Pode ser encontrado anemia, deficiência de ferro (em casos de perda sanguínea), deficiência nutricional específica (dependendo do local do intestino acometido), alteraçãona série branca indicam diarreia de origem inflamatória, eosinofilia indica parasitose. • Prova de Atividade Inflamatória – Proteína C Reativa, velocidade da hemossedimentação e alfa-1 Carla Bertelli – 4° Período glicoproteína ácida são bons marcadores de atividade inflamatória. • Perfil nutricional/metabólico – A albumina é nutriente nobre e de meia vida longa. Sua deficiência está associada a perda nutricional significativa. O perfil lipídico também se altera. Em diarreias intentas, alterações hidreletrolíticas e disfunção renais são frequentes. • Marcadores Específicos – Para doença celíaca tem importância o antiendomísio IgA e a anti- transglutaminase IgA. O anticorpo anti-Saccharomyces cerevisiae e anticorpo anticitoplasma de neutrófilo perinuclear podem auxiliar no diagnóstico diferencial de RCU e DC Hormônios tireoidianos A coleta de fezes para análise encontra frequente resistência por parte dos pacientes. Ela traduz vários problemas do TGI e é valiosa ferramenta diagnóstica. • Pesquisa de Agentes Infecciosos – A entamoeba hystolistica e a giárdia lamblia são os mais frequentes (o exame parasitológico tem baixa sensibilidade para essas infecções). • Sangue Oculto – Possibilita a detecção de sangue em níveis baixos. Nesta reação imunológica, não há possibilidade de falso-positivos por fatores da dieta ou reação com hemoglobinas • Leucócitos – O método-padrão para sua pesquisa nas fezes tem sua acurácia dependente da experiência do examinador. Considerada quando há mais de 3 por campo. A lactoferrina fecal é o marcador para leucócitos fecais mais sensível e específico • Gordura – Análise quantitativa baseada na pesquisa microscópica de gordura corada por Sudan IIII. O paciente deve ingerir 70g a 100g de gordura por dia durante o período de coleta das fezes, de 2 a 3 dias. A excreção normal corresponde cerca de 9% da gordura ingerida, ficando em torno de 7g/dia. Valores superiores a esse são considerados anormais e significam esteatorreia. • Eletrólitos e Osmolaridade – As concentrações de eletrólitos são medidas nas fezes após a sua homogeinização e centrifugação da amostra. Na diarreia secretora, os eletrólitos não absorvidos são os responsáveis, e na osmótica, são os outros elementos osmoticamente ativos, como os carboidratos. • pH fecal – Indicado diante suspeita de diarreia causada por má absorção de carboidratos, como nos casos relacionados com o uso de sorbitol ou lactulose. Nestas condições o pH é <6. Nas diarreias envolvendo perda de aminoácidos e ácidos graxos o pH fica elevado (6 a 7,5) • Teste para Pesquisa de Carboidratos Fecais – Podem ser feitos para identificar carboidratos mal absorvidos • Endoscopia Digestiva Alta – Avaliação da mucosa do intestino delgado proximal e análise por biópsia em casos de diarreia alta • Colonoscopia – Usada em casos de diarreia baixa. • Cápsula Endoscópica – Ferramenta de grande valia na investigação de doenças de grande parte do delgado, inacessível aos métodos endoscópicos habituais. A visualização da mucosa pode definir diagnóstico de enterites em geral. • Enteroscopia com Duplo Balão – Permite o alcance de porções mais distais do Intestino Delgado. Exame detalhado da mucosa • Trânsito de Intestino Delgado – principal exame complementar para estudo do intestino delgado. Apresenta alta sensibilidade para avaliação de desordens do jejuno e íleo • TC – Quando a causa é bem definida, o controle clínico dependerá do êxito da terapêutica específica instituída ou da exclusão de agentes causadores da diarreia. Para pacientes em investigação diagnóstica, deve-se prescrever inicialmente dieta pobre em resíduos, restrição de leite e derivados, utilizando-se medicamentos sintomáticos para diarreia. Os agentes antimotilidade derivados do ópio também atuam em receptores específicos na membrana celular, inibindo a atividade da adenilciclase, diminuindo a concentração intracelular de cAMP, tendo assim atividade antissecretora e inibidora da motilidade intestinal. Embora Carla Bertelli – 4° Período a Loperamida e o Difenoxilato sejam mais utilizados, a morfina e a codeína, por terem ação central e periférica, são mais potentes e eficazes em diarreias persistentes de aidéticos. Os alfa2 adrenorreceptores estão presentes no intestino e medeiam os efeitos pró-absortivos e antimotilidade das catecolaminas. A clonidina, agonista alfa2-adrenérgico, tem atividade antidiarreica, sendo utilizada com sucesso na diarreia dos diabéticos. A somatostatina e o octreotídio tem ação diversificada no tubo digestivo. Inibem a motilidade e a secreção gástrica e pancreática com favorecimento da absorção de água e eletrólitos. O octreotídio é poderoso inibidor da liberação de gastrina, VIP e 5-HT. BONIS, P., & LAMONT, J. T. (2022). Abordagem do adulto com diarreia crônica em ambientes com recursos abundantes. Julho de 2022. https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult- with-chronic-diarrhea-in-resource-abundant- settings?search=Diarreia%20Cr%C3%B4nica&source=searc h_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_ rank=1 DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo F. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição. Grupo GEN, 2011. 978-85-277-1970-4. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85- 277-1970- https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-chronic-diarrhea-in-resource-abundant-settings?search=Diarreia%20Cr%C3%B4nica&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1 https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-chronic-diarrhea-in-resource-abundant-settings?search=Diarreia%20Cr%C3%B4nica&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1 https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-chronic-diarrhea-in-resource-abundant-settings?search=Diarreia%20Cr%C3%B4nica&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1 https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-chronic-diarrhea-in-resource-abundant-settings?search=Diarreia%20Cr%C3%B4nica&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1 https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-chronic-diarrhea-in-resource-abundant-settings?search=Diarreia%20Cr%C3%B4nica&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1
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