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Natalia Quintino Dias Prematuridade Definição: todo recém-nascido com menos de 37 semanas ou 259 dias sem importar o peso (calcular IG pela DUM, e idade mínima >22sem). A prematuridade está associada a morbidade neonatal precoce como síndrome da angústia respiratória, hemorragia intraventricular, leucomalácia periventricular enterocolite necrotizante, displasia broncopulmonar e também a morbidade tardia como paralisia cerebral, defeitos cognitivos, problemas sociais e comportamentais. Fatores de risco Obstétricos • Infecção amniótica; • Rotura prematura de membranas; • Alterações hormonais; • Sangramentos vaginais de primeira e segunda metades da gestação; • Placenta prévia; • Descolamento prematuro de placenta; • Incompetência cervical; • Gemelaridade/polidrâmnio; • Malformações fetais e placentárias; • Partos prematuros anteriores (um dos principais indicadores de risco; • Intervalo interpartal curto; • Síndromes hipertensivas da gravidez; • Doença hemolítica perinatal; • Restrição de crescimento fetal; • Colo uterino curto; • Gestação concomitante com dispositivo intrauterino; • Multiparidade; • Óbito fetal. Ginecológicos • Amputação do colo uterino (traquelectomia); • Malformações uterinas; • Miomas; • Vaginoses. Epidemiológicos Baixo nível socioeconômico; Desnutrição; Gravidez indesejada; Estresse; Assistência pré-natal inadequada; Fumo e drogas; Idade materna inferior a 15 anos ou superior a 40 anos; Condições desfavoráveis de profissão; Atividade física aumentada. Clínico cirúrgicos • Doenças maternas; • Procedimentos cirúrgicos na gravidez; • Traumas maternos; • Infecção urinária; • Bacteriúria assintomática; • IMC baixo menor que 20 kg/m2. Iatrogênicos • Agendamento de parto antes da 37ª semana de gestação; • Quando a paciente já teve um parto pré-termo anterior a chance de recorrência é de 25% e quando foram dois é de 50%. Classificação O parto prematuro pode ser espontâneo ou realizado por indicação médica (terapêutico ou eletivo). As síndromes hipertensivas são as maiores causas de prematuridade eletiva. No parto espontâneo existe um conceito que é a Síndrome da prematuridade onde o parto prematuro seria desencadeado por processos semelhantes ao que acontece no termo, mas que algumas situações patológicas ativam o trabalho de parto antes do tempo. Cerca de 60 a 70% dos partos pré-termo ocorrem de forma espontânea ou relacionada com membranas ovulares. Pré-termo extremo: < 28sem; Muito pré-termo: 28-30 +6 sem; Pré-termo precoce: 31-33 +6 sem; Pré-termo tardio: 34-36 +6 sem. De acordo com o peso: < 2500g: baixo peso; < 1500g: muito baixo peso; < 1000g: baixo peso extremo. Causas Acredita-se numa etiologia multifatorial: • Vaginose bacteriana (corrimento vaginal com mau cheiro, pH vaginal maior que 4,5, predomínio de Gardnerella vaginalis e Mycoplasma hominis), mesmo assintomática pode causar também infecção materna e abortamento; • Infecções não genitais, incluindo infecção periodontal (bactérias anaeróbicas Gramnegativas), pielonefrite, bacteriúria assintomática, pneumonia, apendicite; Natalia Quintino Dias • Infecção intrauterina: a corioamnionite é responsável por cerca de 25 a 40% dos partos pré- termo. Infecções intrauterinas ascendentes alcançam a decídua e as membranas corioamnióticas e liberam citocinas inflamatórias e essas interleucinas estimulam a produção de prostaglandinas e metaloproteinases que estimulam a contratilidade uterina; • Outras infecções genitais: clamídia, gonorreia e sífilis; • Citocinas inflamatórias aumentadas: IL1beta, IL (marcador inflamatório), TNF-alfa e outros. Atenção: a IL-10 é protetora; • Microrganismos mais comuns são: Mycoplasma spp., Ureaplasma urealyticum; • Infecção pode ser por via ascendente (vagina ou cérvice) ou hematogênica; • Sobredistensão uterina. Malformação uterina, polidramnia e gemelaridade. • Sangramento vaginal; • Isquemia uteroplacentária; • Doenças maternas: doença tireoidiana, diabetes, hipertensão crônica; • Doenças cervicais, insuficiência cervical pode ser por fraqueza congênita do colo, cirurgia ou trauma; • Distúrbios hormonais: incompetência de corpo lúteo, com redução na produção da progesterona; • Cirurgias maternas: cirurgias abdominais no 2o e 3o trimestre pode desencadear contrações uterinas. As causas mais comuns associadas ao parto pré- termo iatrogênico/terapêutico são distúrbios hipertensivos, hemorragia e sofrimento fetal. O principal fator associado à prematuridade espontânea é a história prévia de prematuridade. Rastreamento Anamnese para identificar os fatores de risco + exame físico e exames complementares. Presença de vaginose bacteriana assintomática. Rastreio entre 16 e 22 semanas de gestação, pela citologia a fresco. Se sintomática, tratar a qualquer momento na gestação; Ultrassonografia de colo uterino – importante tanto para pacientes assintomáticas quanto nas sintomáticas. Avaliação sempre deve ser feita por via transvaginal. Um aspecto avaliado é a medida do colo uterino. Colo uterino menor ou igual a 25 mm entre 16 e 24 semanas de gestação define risco aumentado de parto pré-termo; outros fatores analisados seriam a presença ou não de afunilamento, epitélio glandular e Sludge. A medida do colo uterino é o marcador de melhor desempenho para predição do parto pré-termo; Fibronectina fetal: é uma glicoproteína na secreção vaginal e cervical que não existe a partir de 24 semanas de gestação até as 35 semanas. Realizar o teste de fibronectina entre 24 a 26 semanas de gestação: se positiva (maior ou igual a 50 ng/dL), risco aumentado para parto pré-termo. Se negativo, baixo risco de parto pré-termo. Aplicada em: Gestantes sintomáticas, com queixas de contrações uterinas; Gestantes assintomáticas, mas de alto risco para prematuridade (antecedente de parto prematuro espontâneo e gestação gemelar). Coleta: deve ser realizada em gestantes apenas nas seguintes condições: • Idade gestacional entre 22 e 34 6/7 semanas; • Bolsa íntegra; • Dilatação cervical menor que 3 cm; • Ausência de sangramento genital; • Ausência de relação sexual nas últimas 24 horas; • Colher o exame antes do toque vaginal. Em pacientes sintomáticas solicitar hemograma completo, urocultura, coleta de cultura estreptococo do grupo B. Rastreio do colo do útero A avaliação estaria apenas indicada nas pacientes que apresentarem fatores de risco. Caso o obstetra opte por esse procedimento, existem algumas opções de tratamento para prevenir prematuridade como a progesterona, cerclagem e o pessário. Progesterona Tem um papel importante na prevenção do parto pré-termo, pois ela antagoniza as ações pró- excitatória de estrógeno, bloqueando a ação da prostaglandina e a estimulação adrenérgica, contribuindo para a manutenção das fibras miometriais e inibindo a degradação da matriz extracelular da cérvice uterina e também possui efeitos anti-inflamatório. Natalia Quintino Dias ❖ Pode ser utilizada por via vaginal (preferencialmente) e via oral ou IM; em pacientes com história clínica de prematuridade espontânea a progesterona deve ser iniciada com 16 semanas 200 µg/d. Cerclagem A cerclagem uterina pode ser realizada entre 12 a 16 semanas naquelas gestantes com história de insuficiência istmo cervical. Alguns estudos também mostraram sua eficácia em gestantes de alto risco com colo curto (menor que 25 mm). Há contraindicação à cerclagem uterina se houver sinais de infecção, sangramento vaginal ativo ou contração uterina. Pressário É um anel de silicone idealizado por Arabin cujo diâmetro interno corresponde ao diâmetro do colo. Pode ser colocado até 30 semanas. • Se mulher sem história pregressa de parto prematuro: deve serrealizada ultrassonografia transvaginal com avaliação do colo entre 20 a 24 semanas de idade gestacional. Se colo menor ou igual a 25 mm, progesterona vaginal 200 mg/d até 34 a 36 semanas de idade gestacional ou pessário. Podem ser utilizados em associação; • Se mulher com história pregressa de parto pré- termo + colo menor ou igual a 25 mm entre 16 a 24 semanas de gestação: progesterona com 16 semanas e cerclagem do colo; • Se mulher com história pregressa de parto pré- termo + colo maior que 25 mm entre 16 a 24 semanas de idade gestacional: progesterona vaginal 200 mg/d a partir de 16 semanas até 34 a 36 semanas; • Se mulher com história pregressa de ruptura prematura de membranas pré-termo ou história de trauma cervical + colo menor ou igual a 25 mm: cerclagem do colo; As pacientes com colo uterino menor ou igual a 15 mm com Sludge (“sujeira” no exame) poderá ser introduzido antibioticoterapia com associação de clindamicina e cefalosporina. Pacientes com dilatação cervical e exteriorização das membranas ovulares ou mesmo sua protrusão, sem sinais de infecção e abaixo de 26 semanas devem ser submetidas a uma cerclagem uterina de urgência. O pressário pode ser associado. Conduta Contrações uterinas rítmicas e dolorosas na frequência de três contrações em 30 minutos, persistindo por 1 hora ou mais, com a paciente em repouso. Solicitar ultrassonografia transvaginal para avaliar a medida do colo uterino. Colo menor que 15/20 mm Parto evolui em uma semana. Tocolítico por 48 horas + corticoide para maturação pulmonar fetal + penicilina para infecção por estreptococo do grupo B +sulfato de magnésio para neuroproteção (entre 24-32sem). Conduzir como paciente em franco trabalho de parto prematuro; Colo 15/20 a 25/30 mm Variável, segue acompanhando a evolução do colo por ultrassonografia. Pode-se optar pela execução da fibronectina. Progesterona vaginal 200 mg/d até 34 a 36 semanas; Colo maior que 25/30 mm Parto geralmente irá ocorrer a termo, mesmo com a paciente com contrações uterinas. Progesterona 200 mg/d até 34 a 36 semanas; Fibronectina: quando negativa, o parto não deverá ocorrer nos próximos 15 dias, não sendo necessário corticoide e tocolítico. Observação: na gestação gemelar o valor de corte seria 25 mm. Tocolíticos – reduz contrações uterinas Nem todas as pacientes deverão ser submetidas à tocolíticos para evitar o parto prematuro. É utilizado apenas para ganhar tempo para transferência da paciente para unidade de atendimento adequada e para administração do corticoide para maturação pulmonar fetal, assim: • O tocolítico deve ser administrado apenas por 48 horas, durante a administração do corticoide para maturação pulmonar fetal; • O uso de tocolíticos é realizado apenas com menos de 34 semanas de gestação. Após 34 semanas de gestação, não há indicação de corticoide para maturação pulmonar fetal; Natalia Quintino Dias • Não se usa tocolítico para retardar o parto pré- termo e mantemos o seu uso de forma crônica porque é ineficaz para prevenir o parto pré-termo e melhorar o prognóstico fetal. Tocolíticos são substâncias capazes de inibir a atividade contrátil miometrial (contrações uterinas) e devem ser usados apenas em casos de pacientes em trabalho de parto prematuro. Caso não haja condições para a inibição do trabalho de parto prematuro, deve ser realizado o parto. A escolha da via, por sua vez, dependerá das condições maternas, como integridade das membranas ovulares, e das condições fetais, como apresentação fetal. Indicações: feto vivo sem sinais de sofrimento fetal ou malformações incompatíveis com a vida; dilatação cervical < 5cm; esvaecimento cervical não pronunciado; membranas íntegras; IG entre 25/26 a 34 sem; ausência de contraindicações. São contraindicações à tocólise: • Óbito fetal; • Sofrimento fetal; • Malformações fetais incompatíveis com a vida; • Rotura das membranas ovulares; • Infecção amniótica (corioamnionite); • Contraindicações maternas à tocólise agentes- específicas; • Sangramento materno e instabilidade hemodinâmica; • Pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia; • Idade gestacional maior que 34 semanas. Terbutalina: 3-5amp em 500ml SG5% - iniciar em 10gts/min até máximo de 80gts/min. Manter por 24h após parada das contrações. Nifedipina: 20mg 6/6h ou 8/8h. Atosibana: 1ª etapa- 0,9ml direto EV 1 min (ataque) + 2ª etapa- 2 amp de 5ml em 90ml SG5% (100ml) por 3h (24ml/h). Posteriormente, 28ml em 3:30h (8ml/h), totalizando 6:30h de manutenção. Prolongamento da tocólise depois de 48 horas não está indicado a não ser em casos selecionados como idade gestacional muito precoce. Após tocólise, alguns autores sugerem o uso da progesterona micronizada vaginal, na tentativa de retardar o parto prematuro. Corticoterapia Deve ser administrada entre a 24ª e a 34ª semanas de gestação; • Age no pneumócito II, estimulando a produção de surfactante pulmonar; • Diminui o risco de membrana hialina, hemorragia intracraniana e síndrome da angústia respiratória; • Betametasona 12 mg IM, 1x/d, por 2 dias; • Dexametasona 6 mg IM, a cada 12 horas, por 2 dias; Idealmente, realizar apenas 1 ciclo e, no máximo, 2 (Ministério da Saúde permite 3 ciclos, se for utilizada betametasona); intervalo de 2 a 3 semanas entre os ciclos. Neuroproteção fetal – sulfato de magnésio Indicado para gestantes em trabalho de parto prematuro com menos de 32 semanas de gestação. Se o sulfato de magnésio for iniciado para neuroproteção fetal a tocólise deve ser descontinuada. Dose de ataque: sulfato de magnésio 4 g IV por 30 minutos. Dose de manutenção: sulfato de magnésio 1 g/h IV até o parto ou por 24 horas. Tempo máximo de infusão: 24 horas. Tempo mínimo de infusão: 4 horas. O parto não dever ser adiado para neuroproteção fetal se houver urgência materna e/ou fetal. A gestante deverá ser monitorada para os sinais clínicos de toxicidade por magnésio pelo menos a cada hora (reflexos, pressão arterial, frequência respiratória e pulso). Via de parto na prematuridade • Fetos com menos de 24 semanas de gestação são considerados antes da viabilidade fetal. Assim, o parto deverá ser vaginal, independentemente da variedade de posição fetal; • Fetos prematuros pélvicos devem ser submetidos à cesariana para evitar hemorragia intracraniana e eventos traumáticos; Natalia Quintino Dias • Se feto em posição cefálica fletida, sem intercorrências – considerar parto vaginal, com medidas de proteção do concepto, com cardiotocografia intraparto. A amniotomia deve ser realizada no final da cervicodilatação. Evitar sedativos e narcóticos. Pode-se fazer anestesia raquidiana ou peridural, mas podem interferir na oxigenação intrauterina de fetos prematuros. Uso muito cauteloso da ocitocina intraparto. Episiotomia e fórceps somente com indicação obstétrica, o fórceps deve ser evitado, principalmente em fetos de menor idade gestacional; • Em caso de cesariana, se o segmento inferior uterino não estiver bem formado, deve-se optar pela incisão longitudinal segmento-corporal em T. Pode-se fazer tocólise intraoperatória para facilitar a extração fetal. Parto cesárea: apresentação cefálica defletida e pélvica; • Clampeamento do cordão deve ser entre 30 segundos e 3 minutos pós-nascimento. Profilaxia estreptococo do grupo B Em geral, utilizam-se: • Penicilina G 5.000.000 UI, IV, seguida por 2.500.000 UI, IV, a cada 4 horas; ou • Ampicilina 2 g, IV, seguida por 1 g, IV, a cada 4 horas. Se a gestante for alérgica a penicilina, usar clindamicina 900 mg, IV, a cada 8 horas.
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