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CÂNCER DE LARINGE Câncer de Laringe 1. Incidência: O câncer de laringe ocorre predominantemente em homens acima de 40 anos e é um dos mais comuns entre os que atingem a região da cabeça e pescoço. Representa cerca de 25% dos tumores malignos que acometem essa área e 2% de todas as doenças malignas. 2. Ocorrência: - Pode se dar em uma das três áreas em que se divide o órgão: supraglote, glote e subglote. Aproximadamente 2/3 dos tumores surgem na prega vocal verdadeira, localizada na glote, e 1/3 acomete a laringe supraglótica (acima das cordas vocais). - Sintomas comuns em cada região de ocorrência: • Supraglóticos: - Sintoma principal: Odinofagia • Glóticos: - Sintoma principal: Rouquidão (Disfonia) • Subglóticos: - Sintoma principal: Dispnéia • Transglóticos: Tumor que afeta mais de uma das 3 regiões da laringe - O tipo histológico mais prevalente, em mais de 90% dos pacientes, é o carcinoma de células escamosas Laringectomias 1. Laringectomias: São ressecções oncológicas de laringe • Podem ser parciais, subtotais e totais. • As laringectomias parciais são subdivididas em verticais e horizontais OBS: Subtotais - CHEP: Sigla das estruturas que sobraram (cricohioidoepiglotopexia) - CHP: Sigla das estruturas que sobraram (cricohioidopexia) Laringectomia Parcial Vertical 1. O que é: São cirurgias conservadoras de tumores glóticos iniciais que objetivam manter as funções laríngeas de respiração, fonação e proteção de VA inferiores durante a deglutição. 2. Como é realizado: Ressecção no sentido vertical do lado direito ou esquerdo da laringe de forma a realizar a remoção do tumor por meio de ressecção que preserve ao máximo as estruturas laríngeas e suas funções, mantendo a possibilidade de ventilação e proteção de VA, caso não seja possível, realiza-se a total. • As reconstruções visam proporcionar um muro de apoio para que a mucosa contralateral possa vibrar e produzir voz. A fonação na maior parte das vezes passa a ser produzida em prega vestibular (contralateral) 3. Tipos de ressecção nas laringectomias parciais verticais: 1) CORDECTOMIA: Ressecção de prega vocal unilateral com margem no pericôndrio interno (membrana que reveste as estruturas, cartilagem, musculatura), com ou sem aritenoidectomia. - NÃO é realizada reconstrução • O tecido cicatricial que se forma no local da resseção serve como muro de apoio para que a prega vocal remanescente possa vibrar. - Voz: melhora a médio prazo, quando se forma uma "neocorda" (fibrose), na qual passará a atuar como muro de apoio da PV remanescente. - Características da voz: Soprosa (não há coaptação glótica para fonação efetiva), o grau de soprosidade depende da extensão da ressecção, mas melhora no pós operatório. - Geralmente realizada por via endoscópica. 2) FRONTAL: Ressecção da quilha da cartilagem tireóidea (com preservação da cartilagem), terço anterior das PPVV, com margem no pericôndrio interno. - Como é necessário ressecar cartilagem, o procedimento cirúrgico é realizado com técnica aberta • Reconstrução: União da cartilagem tireóidea do lado esquerdo e direito para sutura, diminui o tamanho da laringe, resultando em uma voz aguda e infantilizada. - Características da Voz: geralmente boa, com aumento na frequência fundamental, decorrente da diminuição da porção glótica, na qual reduz a área de vibração das PPVV. 3) FRONTOLATERAL (ampliadas): cordectomia + frontal > ressecção da quilha da cartilagem tireóidea, P.V acometida e parte da P.V contralateral, com ou sem aritenoidectomia, com margem no pericôndrio interno. - Características da Voz: Depende da reconstrução. Geralmente perde em harmônicos e em intensidade, Q.V áspera ou rouca. Em um primeiro momento no pós cirúrgico, a soprosidade é uma característica vocal marcante. - Reconstrução: União da cartilagem tireóidea do lado esquerdo e direito para sutura OBS: É possível que haja disfagia leve, na consistência líquida pela facilidade de passagem e viscosidade. 4) HEMILARINGECTOMIA (ampliadas): Ressecção da comissura anterior, quilha e uma lâmina da cartilagem tireóidea, P.V acometida e parte da P.V contralateral, com ou sem aritenoidectomia, prega vestibular do lado acometido. - Características da Voz: Rouca e frequência grave (com fonação com pregas vestibulares, já que a fonação com pregas vocais torna-se áspera e não aceita socialmente). Geralmente melhor do que as demais, quando há ação de esfíncter da laringe e vibração em bloco de todas as estruturas. - Reconstrução: Se tirar a lâmina da cartilagem tireóidea é necessário fazer a reconstrução • Formas de reconstruir a lâmina da cartilagem tireóidea: - Desce com a epiglote e coloca no lugar da cartilagem tireóide, formando um "muro" de proteção, mas a epiglote perde a função. - Uso de musculaturas da região cervical para substituir OBS: Chance maior de disfagia já que foram ressecados 2 níveis de proteção das vias aéreas, pregas vocais e vestibulares. Chance maior de uso de sonda de alimentação e disfagia mais grave. OBS: Necessário manter a cricóide para impedir o colabamento, caso haja necessidade de uma hemilaringectomia ampliada com ressecção da cricóide, será ressecada a parte anterior, já que a parte posterior é necessária para essa sustentação. Se for um caso de tumor em região posterior de cricóide, será necessário realizar laringectomia total. Reabilitação Laringectomias parciais verticais 1. Cordectomia - Características da voz: TMF reduzido, loudness reduzida, voz soprosa (fechamento glotico incompleto, escape aéreo), ataque vocal soproso, pitch agudo (redução da massa vibrante), tensão e rigidez e frequência fundamental aumentada. - Reabilitação: Estimulação do movimento muco ondulatório (vibração de língua e lábios) , promover o fechamento glótico (hiperagudo ou empuxo), equilibrar ressonância (sons nasais em TMF). 2. Frontal - Características vocais: Pitch agudo (redução da porção glótica), diminuição da resistência vocal (TMF reduzido), aumento da frequência fundamental - Reabilitação: Exercícios de sustentação glótica e modulação (sons facilitadores em escalas) 3. Frontolateral - Características vocais: Soprosidade (fechamento glotico incompleto), pitch agudo, loudness e TMF reduzidos e incoordenação pneumofonoarticulatória. Voz Rouca se houver ressecção da aritenoide ou áspera se não houver a ressecção. - Reabilitação: Promover o fechamento glótico (empuxo ou hiperagudo), estimular fonação supraglótica (deglutição incompleta sonorizada, empuxo, hiperagudo). Estabilização com estimulação do movimento muco ondulatório e refinamento (articulação, ressonância, velocidade de fala). Laringectomia Parcial Horizontal Supraglótica 1. O que é: Ressecção horizontal das estruturas acima da glote: pregas vestibulares, metade superior da cartilagem tireóide, osso hióide, pregas ariepiglóticas e epiglote. 2. Alterações esperadas: • Alteram os mecanismos de elevação/anteriorização da laríngea (necessita da contração da musculatura supra hióidea) e de fechamento laríngeo (nos 3 níveis: ppvv, pregas vestibulares e pregas ariepiglóticas/epiglote) • O paciente apresenta penetração/aspiração durante a deglutição e após a deglutição por estase em graus variados. • Em laringectomias horizontais não há remoção das P.V, quando ocorre a ressecção são laringectomias subtotais. Por isso, a alteração vocal é apenas no pitch, pois não houve modificações à nível de P.V 3. Reconstrução: - Nas laringectomias horizontais, na reconstrução a laringe será suturada na base da língua com o objetivo de promover a elevação laríngea e oclusão da via respiratória durante a deglutição, por meio da sobreposição da base de língua na laringe remanescente. 4. Reabilitação: - Foco da intervenção é a deglutição já que os dois níveis de fechamento laríngeo estão ausentes e a mobilidade laríngea vertical está reduzida devido à reconstrução. - Reabilitação: • Proteção de VA inferiores (Mendelson, Supraglótica, Super supraglótica) - Após 15 dias de pós operatório (período de cicatrização) • Trabalhar mobilidade de basede língua para retração e abaixamento de base de língua (retração de base de língua, elevação e abaixamento de dorso de língua, masako) Laringectomia total e reabilitação 1. O que é: É a retirada de todo arcabouço cartilaginoso laríngeo, músculos e outras estruturas nela contida. Trato digestório e respiratório se tornam dois caminhos totalmente diferentes. 2. Reconstrução: - Na cirurgia é feito um fechamento do trato respiratório com a faringe remanescente, diminui a luz faringe, uso permanente de traqueostomia, pode haver reconstrução da faringe com retalhos do peitoral caso seja necessário realizar faringolaringectomia 3. Alterações esperadas: - Mudança da dinâmica da respiração (filtração, aquecimento e umidificação) que passa a ser realizada pelo estroma - Alteração do olfato: Não perde, mas deixa de sentir já que a respiração deixa de ser pelo nariz, sendo necessária a estimulação - Alteração do paladar devido a perda do olfato - Hipersecreção - Disfagia: • Penetração/ aspiração: Ocorre caso haja presença de fístula traqueofaríngea ou traqueoesofágica. As fístulas são complicações cirúrgicas que ocorrem quando há rompimento dos pontos que fecham a faringe. • Dificuldade de condução do bolo alimentar pela faringe, pois há diminuição da luz faríngea. 4. Reabilitação 1) VOZ ESOFÁGICA - Reservatório de ar: Esôfago - Fonte sonora: Esôfago Métodos Passos Vantagens Desvantagens Aspiração 1. Sugar o ar pela boca continuamente 2. Levar até o esofago 3. Emitir som (vogal a ou o) Fala mais fluente Coordenação uma vez que a boca permanece aberta. Deglutição 1. Abrir bem a boca 2. Puxar o ar 3. Fechar a boca 4. Engolir o ar 5. Parar o ar na região do esofago (cervical) 6. Falar - emitir som Grimacias (mímica facial), clunks (barulho de deglutição) Injeção a) Pressão glossofaríngea i) Abre a boca, puxa o ar e fecha a boca ii) Empurra o ar em direção ao esofago usando a base de lingua iii) Emitir som b) Injeção consonantal Fluência, na deglute Muito difícil, exige coordenação i) Abre a boca, puxa o ar ii) Emitir (pa) ou outro som plosivo continuamente e rápido. OBS: É esperado que a voz esofágica tenha pitch grave e TMF reduzido. Quando observada voz com pitch agudo, indica uma voz faríngea, pois na tentativa de levar o ar para o esofágo, leva para a faringe. 2) VOZ TRAQUEOESOFÁGICA - Reservatório de ar: Pulmão - Fonte sonora: Esôfago • Voz é produzida por meio da vibração do esôfago utilizando o reservatório de ar do pulmão. Isso ocorre por meio de uma fístula que "conecta" a traquéia com o esôfago. Nessa fístula é colocada a prótese traqueoesofágica que é unidirecional, ou seja, permite que o ar passe para o esôfago, mas não há passagem do esôfago para a traquéia, o que impede que haja entrada de alimento, líquido ou saliva para a via respiratória. • Para ocorrer a fonação, é necessário ocluir o estoma para direcionar o ar vindo do pulmão para a fístula. OBS: O que determina a qualidade vocal é a estrutura vibrante, no caso o esôfago - Melhora da qualidade da comunicação quando comparada à voz esofágica, já que o reservatório de ar será o pulmão, apresentando TMF e intensidade melhores, mas a qualidade vocal é a mesma. 1) Quando realizar a fístula - Primária: Fístula é feita durante o procedimento da laringectomia total - Secundária: Fístula é feita em qualquer momento após procedimento de laringectomia total 2) Técnicas Amatsu - Amatsu: técnica criada antes da existência das próteses. Consiste em fazer a fístula e uma bainha com o pericôndrio de revestimento do esôfago para impedir o fechamento da fístula, ou seja, pega a própria membrana do esôfago e leva para a traquéia em bainha. ● Desvantagem: aspiração, passagem livre da traquéia para o esôfago e do esôfago para a traquéia 3) Reabilitação - Para iniciar é necessário aguardar o período de cicatrização que leva em torno de 15 a 20 dias OBS: É necessário aguardar esse período pois a pressão da voz pode levar ao rompimento dos pontos. - Geralmente, inicia-se assim que o médico libera a alimentação VO - Reabilitação: ● Puxar o ar, ocluir o estoma levemente para não ocluir a fístula. ● Iniciar com produção de vogais, se não conseguir vogais de forma sustentada, iniciar com a emissão em forma de "soquinho" (vogal entrecortada). Posteriormente, iniciar palavras simples (eu, você, casa…) ● Tempo de terapia: cerca de 15 minutos quando está na fase inicial de tentar vibrar o esôfago. Ao iniciar a vibração, realizar a terapia de cerca de 30 minutos para estimular a produção. ● Aprender a adequar a força para ocluir o estoma, puxar o ar e fazer o esôfago vibrar ● 3) VOZ ELETROLARÍNGEA 1) Voz eletrolaríngea - Produzida por um aparelho que emite onda sonora contínua aos ressonadores, transformando em voz - Acoplado na região cervical oi bochechas - Paciente deve apenas articular OBS: Como usar > Apalpar a laringe do paciente e posicionar corretamente a membrana da laringe eletrônica no pescoço. Achar uma posição mais flexível para posicionar a laringe eletrônica (região fibrótica ou com barba, atrapalham a vibração e o som). Iniciar com contagem de 1 a 20 com sobrearticulação OBS: Apertar o botão na hora que começar a falar e desligar quando terminar, cuidado para não desligar antes. - Cuidados necessários: ● Não falar frases longas ● Não falar de forma robótica, com pausar excessivas (de forma silabada) - Passo a passa: 1- Achar o posicionamento correto 2- Ensinar o paciente a posicionar 3- Treinar sobrearticulação - Contra indicação: ● Trismo (abertura de boca pequena) ● Fibrose muito grande ● Cognitivo não preservado (demência) ● Ausência de controle motor superior 2) Vantagens - Fácil de aprender - Curto período de aprendizado - Possibilita comunicação no pós operatório recente (laringe eletrônica na bochecha) - Retorno ao convívio social - Retorno ao trabalho precocemente - Boa inteligibilidade de fala 3) Desvantagens - Qualidade vocal robotizada, não humana - Voz monótona, modulação restrita - Chama muita atenção do interlocutor - Exterioriza a mutilação - Custo moderado - Requer destreza manual e digital - Limita a movimentação de uma das mãos - Pode sofrer danos (limita a comunicação) 4) Ensinamento - Gradativo ● Ponto de contato ● Diferentes pressões ● Ajustar os controles ● Sobrearticulação ● Eliminar ruído de estoma (inspira e fala na expiração, gerando ruído) ● Fazer ajuste botão liga e desliga
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