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Caderno de Otorrinolaringologia Gabriel Bagarolo Petronilho Medicina - FAG TXVIII 2022/1 Fisiologia da Voz e Doenças das Cordas Vocais Anatomia da Laringe A laringe é um órgão musculocartilaginoso que possui diversas funções fisiológicas, sendo as principais: proteção da via aérea (atividade esfincteriana), respiratória e fonatória. Na laringe existe um conjunto de cartilagem (9 cartiligens - 3 ímpares e 3 pares) que fazem parte da proteção e auxiliam na deglutição. A maior cartilagem é a tireoidea. Localização: região infra-hiódea, ao nível das vértebras C3 a C6. A superfície da cavidade laríngea é revestida por epitélio respiratório - epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado vibrátil - com uma grande concentração de células caliciformes e uma submucosa contendo glândulas mucosas e serosas. Esse epitélio possui como característica ser deliciado e pode ser lesionado por diversos fatores. Além disso, ele possui sensibilidade à fumaça, cigarro principalmente, produtos químicos e de limpeza, com a soda cáustica, entre outros. As pregas vocais são cobertas por epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado. Divisão: a laringe pode ser dividida em 3 regiões - supraglótica, glótica e subglótica ou infraglótica. Essa divisão é útil para localização anatômicas de lesões. Lesões supraglóticas estão localizadas acima do osso hioide e glote. Lesões glóticas estão localizadas ao nível das pregas vocais. Lesões infraglóticas estão localizadas abaixo da glote na direção da traqueia. As cordas vocais, na região glótica, se abrem e fecham coordenadas pela respiração para a produção da voz. Além disso, as pregas vocais são essenciais para a IOT, já que o tubo ficará entre as mesmas. Musculatura: existem 2 tipos de musculatura na laringe - extrínseca ( responsável pelo movimento da laringe, sendo superior e inferior - mm. cervical) e intrínseca ( responsável por abrir e fechar as cordas vocais em si). O principais músculos intrínseco são 5 - tireoaritenoideo (TA), cricoaritenoideo lateral (CAL), cricoaritenoideo (CT), cricoaritenoideo posterior (CAP) e Aritenoideos transverso e oblíquo (antigos interaritnoideos - IA). Já os principais músculos extrínseco são compostos por músculos provenientes de estruturas não laríngeas que se relacionam com estruturas da laringe, interferindo indiretamente na fonação, sustentação/estabilização laríngea, pressão sublgótica, controle da frequência, intensidade e ressonância da voz. Eles trabalham em conjunto. São eles: músculos supraioideos (elevadores da laringe) - miloioideo, genioideo, estiloioideo e digástricos - e músculos infraioideos (abaixadores da laringe) - esternotireoideo, esternoioideo, tireoioideo e omoioideo. A inervação é a principal relação com patologias da laringe. Toda a inervação motora dos músculos da laringe acontece pelo X NC que emite os ramos laríngeo superior (NLS) e inferior/recorrente (NLR) para cada lado da laringe, esse último principalmente. Gabriel Bagarolo Petronilho NLS é ramo colateral do vago e dirige-se para baixo e para frente, junto com a face lateral da faringe, passando embaixo do músculo estilofaríngeo. Após isso, faz uma curva côncava adiante e acima, chegando próximo do corno maior do osso hioide, se dividindo em nervo laríngeo externo e interno. O ramo externo é destinado a inervar a faringe. Já o ramo interno, perfuma a membrana tireoioidea na sua porção posterior. NLR ele possui diferença em sua origem e trajeto em relação ao lado E e D. O NLR D possui origem na base do pescoço ao nível da artéria subclávia. Ele sobe obliquamente para cima e medial com sentido inverso ao nervo vago (daí surgiu, recorrente). O NLR E possui origem no tórax, a partir do nervo vago E, na face anterior do arco aórtico. Ele desce mediamente e passa por cima da artéria pulmonar esquerda. Por isso, em casos de CA de pulmão, podemos ter o acometimento do NLR E. OBS.: Tireoidectomia - com a relação entre a tireoide e nervo laríngeo recorrente podemos afirmar que na cx de tireoidectomia pode haver a lesão do mesmo com apresentação de disfonia. Gabriel Bagarolo Petronilho e → e → Pregas Vocais As pregas vocais são estruturas complexas formadas por epitélio, camada superficial, intermediária, profunda e músculos vocal (quinta camada). Todas essas camas possuem propriedades vibratórias diferentes. Fisiologia da Voz A produção fisiológica da voz depende de todo o trato fonatório, não somente da laringe. Contudo o processo da produção da fala é composto por: produção do som glótico pela vibração das pregas vocais, ressonância e articulação desse som. Para o paciente emitir sua falar ele necessita de uma ‘bomba motora’ que é o seu pulmão para ‘jogar’ o ar para a laringe. As pregas têm que apresentar abertura e fechamento (oscilação) ordenada e sequencial durante o ciclo vibratório. Pregas em abdução - estão abertas para fluxo respiratório. Pregas em adução - estão fechadas/vibrando para produção de som/fala. • Fase de Respiração - é a fase pulmonar; é onde inicia a motricidade para expelir o ar através da traqueia para e alcançar a laringe para a fonação. • Fase de Fonação - é a fase da laringe; o ar expelido pelos pulmões causa vibração das cordas vocais e produção de som complexo. • Fase de Ressonância - essa fase inicia dentro da própria laringe e se extende para faringe, cavidade nasal e oral, onde o som é amplificado por essas cavidades. OBS.: DPOC Crônico - o paciente possui capacidade pulmonar reduzida e apresenta dificuldade para expelir o ar com qualidade para produção do som, portanto, pode apresentar cansaço ao falar ou déficit da voz. Hipertrofia ou Obstrução Nasal - altera a fase de ressonância do som, causando uma voz altera/nasalada. Métodos Diagnósticos - Queixa de Disfonia Em todo paciente que se queixe da sua voz (afonia, disfonia, etc), além de colher a história do paciente, devemos mandatoriamente realizar a visualização da cavidade oral e pregas vocais do paciente. Para a visualização podemos realizar por meio de videolaringoscopia flexível e rígida. Flexível - é a primeira escolha e sempre é realizada via nasal com nasofibroscópio flexível de 4mm de espessura com fonte de luz. Pode se usar spray anestésico antes da introdução, mas usualmente não é ututizado qualquer medicação para não modificar as condições da mucosa. O exame consiste em observar as condições da mucosa e todo aparelho deglutofonador (fossas nasais, palato, orofaringe e hipofaringe, laringe e pregas vocais). Mais fácil e mais utilizado. Rígida - nesse tipo há um maior desconforto ao paciente, pois a fibra é introduzida pela boca e pode haver um reflexo náuseas excessivo. A ótica é angulada em 70º em sua extremidade distal. Quando necessário avaliação de lesões mínimas, revestimento mucoso e grau de hidratação esse é o melhor exame. Gabriel Bagarolo Petronilho i : Doenças das Pregas Vocais As alterações das pregas vocais podem ser dividas em: congênitas, benignas, laringite e malignas. Doenças Congênitas As doenças congênitas da laringe via de regra apresentam manifestações clínicas precoces, logo após o nascimento ou nos primeiros anos de vida. Entretanto, algumas alterações podem se apresentar apenas na fase adulta. Quando na infância, os sinais cardinais são: disfonia e estridor. 1) Atresia / Web Laríngeo - é uma falha na recanalização do lúmen da laringe, sendo total ou parcial. Há presença de uma membrana fina entre as pregas, não permitindo seu correto funcionamento. O diagnóstico pode ser feito por videolaringoscopia ou broncoscopia. O tratamento é cirúrgico por meio da excisão da membrana. 2) Laringocele - é a dilatação do sáculo do ventrículo; há formação de uma ‘bolsa’ em cimas das pregas vocais. Essa ‘bolsa’ pode ser interna ou externa. O diagnóstico pode ser realizado por meio de videolaringoscopia e, em alguns casos, TC. O tratamento é cirúrgico para remoção da ‘bolsa’. 3) Paralisia de PregasVocais (PPV) - a paralisia das pregas vocais pode ocorrer de maneira unilateral ou bilateral. Em paralisia em adução unilateral a criança apresenta disfonia e choro rouco e estridor bifásico (inspiratório e expiratório). Já, quando há paralisia em adução bilateral a clínica é mais exuberante com estridor ao nascimento, que piora ao redor do 4º dia de vida, quando o RN torna-se mais ativo. As paralisias em abdução são mais raras em crianças, talvez porque a clínica seja mais branda e passem despercebidas. O diagnóstico é confirmado por exame de videolaringoscopia ou laringoscopia direta. A etiologia é de difícil definição, podendo ser traumática ou tumoral. O tratamento depende da exuberância clínica da PPV, contudo, felizmente, a maioria dos casos regride de forma expontânea e demanda tratamento expectante somente. 4) Laringomalacia - é a causa mais comum de estridor no 1º anos de vida. Ocorre por inabilidade da laringe de manter a sua permeabilidade durante os movimento inspiratórios, ou seja, é uma flacidez de arcabouço ósseo. A clínica se apresenta logo após do nascimento ou nas primeiras semanas de vida e é basicamente composta por estridor de caracter inspiratório e diminui durante o repouso, com decúbito ventral e lateral. Piora quando está amamentando e chorando. Na maior parte dos casos, a voz não é alterada. O prognóstico geralmente é benigna com resolução espontânea do caso. O tratamento em raros casos é feito por cirurgia, quando há dispneia intensa e queda da saturação. Contudo, a conduta expectante é a mais comum. Isso porque os anéis criam maturidade e endurecem com o desenvolvimento e a ‘flacidez’ melhora. Laringomalácia Atresia / Web Laríngeo Laringocele Doenças Benignas das Pregas Vocais As pregas vocais são provavelmente as estruturas de partes moles que mais sofrem trauma durante a vida do paciente. 1) Nódulos - também são conhecidos como ‘calo’ e são as alterações das pregas vocais mais comuns. São definidos por protuberâncias sempre bilaterais das extremidades livres dos bordos vocais na superfície inferior, entre o 1/3 anterior e os 2/3 posteriores da prega vocal membranosa. São causadas por fonotrauma ou abuso vocal. Fisiopatologia: o esforço vocal/ atrito causa uma dilatação e congestão do espaço de Reinke com transudação. O edema formado é absorvido de forma lenta pela falta de drenagem linfática. Posteriormente, ocorre a fase de hialinização com organização e fibrose, originando o nódulo. É mais comum em crianças e mulheres adultas e clinicamente se apresente por disfonia persiste e/ou recorrente + abuso vocal - exemplo: professora, radialista, cantor, etc. O tratamento dos nódulos é dependente da característica do mesmo e do paciente. A fonoterapia com reeducação vocal é mandatório e a necessidade de cirurgia ocorre em raros casos. Gabriel Bagarolo Petronilho 2) Pólipos - lesões exofíticas que podem ser sésseis ou pediculadas. São bastante comuns e a maioria são unilaterais e de localização no 1/2 anterior da porção membranas das pregas vocais. Os pólipos podem ser de 3 aspectos: mucosos, angiomatosos ou fibrosos. O mecanismo de lesão ainda não é bem estabelecido, porém, acredita-se que o trauma vocal pontual, intenso e agudo, seja a causa. Exemplos: grito, demanda vocal intensa e aguda. A fisiopatologia é caracterizada pela presença do trauma vocal que ocasiona uma ruptura vascular e consequente extravasamento, edema e hialinização. Então, há organização tecidual e formação de fibrose e do pólipo. São mais comuns em homens na 3ª e 4ª década de vida. A clínica se apresenta como uma ‘sensação de corpo estranho’ e disfonia. Alguns pacientes queixam de disfagia e dispneia leve aos esforços físicos. O tratamento de escolha é excisão cirúrgica. 3) Granulomas - os granulomas que surgem na laringe podem ser classificados como específicos e inespecíficos. Os específicos são lesões que fazem parte de patologias como tuberculose, paracoccidioidomicose, blastomicose, etc - não serão tratado nesse momento. Os granulomas que trataremos agora são os inespecíficos - lesões geralmente na região posterior da laringe e de maioria unilateral. Geralmente são causados por IOT prolongada (nesse caso a lesão geralmente é à D pela característica de fixarmos o tubo ao lado direito da boca do paciente), RGE, tosse crônica e trauma laríngeo. A clínica é apresentada por disfonia (pouco frequente ou não é a queixa principal), pigarro na garganta com tosse, sensação de corpo estranho e dispneia. O tratamento é realizado principalmente com a remoção do fator precipitante (seja IOT, DRGE), fonoterapia e, em alguns casos, cirurgia para remoção. Atualmente, a aplicação de toxina botulínica é uma medida promissora ao tratamento do granuloma inespecífico. Gabriel Bagarolo Petronilho 4) Papilomatose Laríngea - são lesões raras, muito agressivas e geralmente recidivastes causadas pelo vírus do HPV - sendo o tipo mais comum 6 e 11. Acomete toda a membrana mucosa do trato respiratório. Acomete crianças e adultos até 30 anos principalmente. Possui forma juvenil e adulta. O tratamento pode ser feito com microcirurgia e fase de CO2. 5) Edema de Reinke - é uma lesão/edema difuso na camada superficial da lâmina própria da prega vocal. O paciente tipicamente atendido com queixas causadas pelo edema de Reinke é do sexo feminino, na 4ª ou 5ª década, tabagista de longa data com o uso excessivo da voz e sintomas compatíveis com DRE. O tratamento do edema de Reinke consiste em afastar os fatores predisponentes (tabagismo e controle do RGE) e microcirurgia para retirada do material depositado na prega vocal, se necessário. Câncer da Laringe O câncer da laringe é o que proporciona maiores índices de cura das neoplasias da via aerodigestivas. A região glótica é a mais acometida e possibilita diagnóstico precoce devido os sintomas originados por uma pequena alteração que compromete a fisiologia da prega vocal. O perfil do paciente com CA de laringe é um paciente idoso, tabagista, etilista com queixa de disfonia e dor na garganta. O paciente pode apresentar disfagia também. A incidência do CA de laringe é cerca de 1% em relação as demais neoplasias. Fatores de risco: o CA de laringe está intimamente relacionada ao consumo de tabaco e álcool. Gabriel Bagarolo Petronilho Na avaliação dos carcinomas de laringe, considerando o estadiamento clínico e sua localização, sendo o estadiamento realizado pela classificação TNM. O diagnóstico do CA de laringe é realizado por meio de história clínica do paciente, exame físico e exames complementares. O tratamento depende dos fatores relacionados a doença, fatores pertinentes ao paciente e relativos ao meio. Pode ser realizado cirurgia endoscópica, radioterapia (exclusiva - T1 - ou complementar) e quimioterapia (forma paliativa isolada ou associada a RT como protocolo de preservação do órgão). Gabriel Bagarolo Petronilho
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