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Thiago Gomes Soares 
 
 
 
 
A DIALÉTICA DA FORMAÇÃO 
DOCENTE: 
Os desafios da coordenação pedagógica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
Editora Escrita Criativa 
São Paulo – SP 
2021 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Copyright by Thiago Gomes Soares, 2021. 
Todos os direitos reservados ao autor. Nenhuma parte 
e nem o toda desta obra podem ser reproduzidos por 
qualquer sem a expressa concordância do autor. 
Plágio é crime conforme os preceitos da lei. 
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) 
Soares, Thiago Gomes 
A dialética na formação docente : os desafios da 
coordenação pedagógica / Thiago Gomes Soares. – 
São Paulo, SP : Editora Escrita Criativa, 2021. 
116 p. ; 21 cm. 
 
 
ISBN 978-65-88625-37-8 
 
 
 
1. Supervisão escolar. 2. Professores – Formação. I. 
Título. 
 
 
CDU 37 
 
Bibliotecário responsável: Fabrício Schirmann Leão – CRB 10/2162 
 
 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Ao meu pai, João De Souza Soares 
 
As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis 
Sobre um fundo de manchas já cor de terra. 
Como são belas as tuas mãos 
Pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram 
Na nobre cólera dos justos! 
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai 
Essa beleza que se chama simplesmente vida [...] 
 
(Mário Quintana) 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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SUMÁRIO 
PREFÁCIO ....................................................................... 6 
INTRODUÇÃO ................................................................. 9 
CAPÍTULO 1 ................................................................... 13 
O obscurantismo histórico da função e a cultura 
depreciativa da formação. .............................................. 13 
CAPÍTULO 2 ................................................................... 22 
O desprezo ao referencial teórico da leitura e ao trabalho 
científico no meio docente. ............................................. 22 
CAPÍTULO 3 ................................................................... 33 
Uma ilha em meio a um mar de conflitos........................ 33 
CAPÍTULO 4 ................................................................... 43 
O excesso de recurso transformado em papel e a falta de 
políticas públicas para formação docente. ...................... 43 
CAPÍTULO 5 ................................................................... 55 
A despolitização docente e a opressão humana como fator 
cultural na escola. ........................................................... 55 
CAPÍTULO 6 ................................................................... 67 
Não só por “AMOR” ........................................................ 67 
CAPÍTULO 7 ................................................................... 73 
“Mais Paulo Freire, Muito Mais...” ................................... 73 
CAPÍTULO 8 ................................................................... 83 
A genealogia dos micropoderes... .................................. 83 
 ....................................................................................... 94 
CAPÍTULO 9 ................................................................... 95 
Pragmatismo político e pedagógico emergencial ........... 95 
CAPÍTULO 10 ............................................................... 105 
“Formação Docente On Line” ....................................... 105 
CAPÍTULO 11 ............................................................... 113 
“REFORMA EDUCACIONAL, PRECISAMOS PASSAR 
PELA RESIDÊNCIA ESCOLAR” .................................. 113 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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PREFÁCIO 
Este livro foi escrito por um professor. Esse fato é 
importante salientar para que se entenda as relações de 
poder e análises que são estabelecidas no interior da obra. 
Há uma constatação que é, a meu ver, o cerne da obra: 
o processo de proletarização docente que, 
constantemente, o autor nos alerta. As condições de 
trabalho, a organização e a estrutura da educação nos 
permitem e dizem com tranquilidade que esse setor é um 
aparelho ideológico por excelência. 
Mas, quem percebe essas nuances? Thiago Gomes 
Soares explícita que o processo de precarização docente, 
certamente, é uma continuidade de uma política 
educacional que foi feita para ser o que é: caótica, 
miserável e, sobretudo, mantenedora de interesses de 
classe. O resultado de tais ações, muito bem arquitetadas, 
é o que temos hoje em termos de aprendizagem, se 
comparado a outras nações. 
Estamos muito atrás. 
O autor desta obra chama constantemente a atenção 
do compromisso ético, político e humano que precisa haver 
no formador, mas o que mais nos assusta talvez seja o fato 
de muitos educadores estarem ali (carreira) por uma 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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questão de classe. Ou seja, o capital que detém (dinheiro), 
ou o mínimo de bem-estar, pelo menos em detrimento a 
outras atividades mais precárias, determinou a escolha da 
profissão, o que quer dizer que muitos professores são 
professores por circunstâncias que não são fruto de suas 
escolhas, mas, sim, de suas condições sociais, 
econômicas e de alternativas. 
O que eu quero dizer com tais exemplos? A educação 
brasileira, que nunca foi processo de política pública, desde 
Cabral, serve a interesses do Estado, que, por sua vez, 
serve aos interesses de classe que enxerga na escola uma 
forma fácil de ingresso no meio público, alcançando relativa 
melhora de condição de trabalho, sempre relativizado ao 
que já existe de pior na cadeia produtiva. Por isso, acaba 
sendo uma escolha para essa grande maioria. 
Parece antiquado falar de interesse de classe em uma 
época em que se fala demasiadamente em identidades. É 
preciso ver que a escola e a educação em si são aparelhos 
ideológicos por excelência. Ainda que não fale de maneira 
direta a respeito, a obra deixa claro esse tema. 
Outro fator que nos chama atenção é a forma da 
linguagem utilizada pelo autor. Confesso que, ao ler a obra, 
senti-me aliviado, pois, além de ser clara a linguagem, não 
é um texto hermético que procura demonstrar erudição, 
muito pelo contrário, sua clareza sintética, repleta de 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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exemplos “pé no chão” e contemporâneos, inclusive em 
época de pandemia (2021), demonstra que se trata de uma 
obra de quem tem conhecimento de causa. Além disso, 
aponta observações, de maneira precisa, à situação da 
educação, tanto no nível macro e microestrutural. 
Paulo Freire é uma constante referência, muito bem 
colocada ao longo do texto. “Dialética da formação 
docente: os desafios da coordenação pedagógica” vai 
muito além do proposto e esse fator que deve ser levado 
em consideração. “Coloca-se um peixe, mas, à mesa, se 
tem muitas surpresas.” 
Espero que o leitor deste livro reflita sobre as 
inquietações levantadas pelo autor, pois, infelizmente, 
existem e são construídas historicamente para ser do jeito 
que elas são, mas que, agora, estarão sendo jogadas à luz 
do empirismo cotidiano de quem vive a educação pelo 
amor. 
Um processo que foi feito para ser o que é. 
Marco Aurélio de Passos Rodrigues. 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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INTRODUÇÃO 
Muito se discute sobre o que nos ensinaria a prática e, 
também a teoria, para desenvolver e capacitar um 
profissional que trabalha na formação de professores. 
Fato é que a educação brasileira e suas políticas 
públicas sempre foram preteridas no que tange a recursos 
para investimentos públicos e, até mesmo,privados em 
todo o território nacional. 
O grande desafio do profissional que se candidata a 
formar professores, não perpassa apenas sua disposição 
em aprender, estudar e observar, os obstáculos vão muito 
além disso e se encontram entranhados no empirismo da 
função e nas "armadilhas" que o próprio sistema 
educacional se encarrega de promover cotidianamente na 
carreira desses atores. 
Iremos discutir nestas páginas todo o antagonismo 
legal, associado à prática de formar mestres 
continuamente, e os desafios que esse profissional irá 
encontrar durante muitas fases da sua carreira. 
Nosso objetivo é desnudar as amarras que impedem 
esse professor de executar seu trabalho na escola e sugerir 
um olhar mais propositivo e libertador em relação a essa 
função, passando inclusive pela reafirmação da 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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importância do profissional que lidera as ações de 
formação com os professores dentro das escolas. 
O desvio de função, a falta de referência formativa, 
intelectual e de apoio serão tratadas aqui detalhadamente 
a partir da nossa (grifo nosso) experiência, em pouco mais 
de dez anos na formação de docentes de todos os níveis e 
segmentos da educação; analisaremos pesquisas com 
professores da Rede pública de Ensino do Estado de São 
Paulo, bem como o depoimento de professores da rede 
que queiram colaborar com esse projeto. 
A carência de abordagens em relação ao tema supra 
e à falta de abertura de diálogo meta-estrutural de trabalho 
nesse ramo, motiva-nos a produzirmos materiais que 
suplementem essas discussões e promovam ambientes 
dialógicos que provoquem uma reflexão contínua e 
analítica do tema no ambiente escolar propriamente dito, 
bem como em ambientes adjacentes para a formação 
docente. 
A busca platônica pelos alicerces da função, o 
desamparo da legislação diante do comodismo e da inércia 
dos gestores e a falta de autonomia desses profissionais 
diante do objeto do conhecimento e do obscurantismo 
sobre sua própria função serão aprofundados a níveis 
baixos, tendo em vista que o impacto desta obra precisa 
despertar seus leitores, gestores, políticos e os próprios 
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coordenadores para a abertura e a discussão da 
importância do professor de mediação formativa na 
Educação. 
Resgatar a importância desta função e jogar luz na 
discussão sobre o papel social do PC e suas exigências 
teóricas como pré-requisito para o pleno exercício da 
atividade na escola, faz-se o debate e o estudo, aqui 
propostos, urgentes! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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CAPÍTULO 1 
O obscurantismo histórico da função e a 
cultura depreciativa da formação. 
Começaremos este capítulo falando das 
oportunidades que surgem na carreira de um professor, 
para que o encaminhe à função formativa de seus pares, 
sendo que a oportunidade pode surgir a convite ou à 
tentativa de vaga, via oferta de editais. Em alguns 
municípios, o acesso à função é alcançada por intermédio 
de concursos, já, na Rede Estadual de Ensino Paulista, não 
acontece assim, lá, a forma legal de candidatar-se é com a 
entrega de projeto e por entrevistas. 
Um dos grandes problemas que temos na carreira 
docente é a formação estrutural do professor, a acadêmica, 
aquela de base, na qual todos nós sabemos que há um 
lapso abissal entre o tão sonhado dia da formatura, aquele 
em que, hipoteticamente, estaríamos aptos a desenvolver 
nossas funções como profissionais sendo esse o primeiro 
dia de trabalho propriamente dito. 
Alguns problemas, que serão descritos aqui, são 
quase insolúveis, mas, para outros, poderíamos ajustar as 
“folgas” para melhorar a qualidade na entrega da formação 
docente. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
14 
 
Na grande maioria dos cursos EAD, semipresenciais, 
ou presenciais, não se trabalha a prática docente 
propriamente dita, ou seja, ninguém lhe ensinará a “dar 
aulas”, pois não existe uma matéria que se dedique àquilo 
que um professor deve fazer ao estar na frente de uma 
sala, de como ele deve se comunicar com seus receptores 
(estudantes) em termos de tom de voz, retórica, como ele 
deve reagir em caso de conflitos , diga-se de passagem, 
talvez, o que ele mais terá que fazer durante a gestão de 
sua aula. O estágio, no magistério, quase nunca é 
realizado de forma plena, prática e que seja levado a sério, 
pois a carga horária é ínfima, a maioria das atividades são 
de observação e novamente não há critérios claros sobre 
o que aquele professor deveria basicamente praticar como 
demonstração de que sabe colocar em prática a sua teoria. 
Analogicamente. é como se fôssemos cirurgiões que 
nunca realizaram uma cirurgia antes e, de repente, nos 
percebêssemos numa sala de cirurgia na frente de um 
paciente com um bisturi em mãos, ou, ainda, se nos 
formássemos policiais e saíssemos às ruas para combater 
o crime sem, nunca antes, ter colocado as mãos em uma 
arma ou se não tivéssemos sido orientados sobre as 
adversidades que as ruas trazem, como se cada um 
tivesse uma abordagem, como se não existisse um padrão, 
uma orientação para cada tipo de conduta. Assim somos 
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nós, profissionais que, nunca antes, estiveram no controle 
de uma sala de aula, nunca dirigiu uma palavra na 
condição de professor a um aluno e, sequer, conhece a 
letra sua na lousa, porque nunca pegara em um giz antes. 
Esse profissional será lançado em águas turvas (sala de 
aula), então a primeira grande constatação é que a maioria 
dos professores, queiram ou não, não estão realmente 
preparados (prática) e seguros para exercer sua função 
sem uma tutoria, porque não foram preparados para 
lidarem com a realidade da sala de aula, pelo menos no 
início da carreira. 
Assim como aprendemos a nos “virar” para dar aulas, 
também aprendemos a improvisar, de início, para sermos 
coordenadores, e toda a nossa experiência anterior para 
coordenar um grupo de professores passa pela simples 
convivência, observação e empirismo no relacionamento 
com o seu coordenador, diga-se, de passagem, isso é 
muito perigoso, tendo em vista que, hoje em dia, a 
qualificação da mão de obra docente para a sala de aula já 
é carente de repertórios formativos, imaginem pensarmos 
em elevar o nível para formarmos docentes. 
O pressuposto estrutural que se espera de um 
profissional que esteja coordenando seus pares é que, no 
mínimo, o mesmo, tenha experiência suficiente e, ou, 
conhecimento teórico do seu objeto de trabalho, ou o 
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conhecimento da literatura que terá que ensinar no seu 
recinto profissional. O grande problema é que, na maioria 
dos casos, nós não possuímos esse tipo de qualificação. O 
primeiro motivo já foi elencado acima e diz respeito ao 
“buraco” que as universidades não conseguem tampar, 
mas, ainda assim, outros motivos, muitas vezes, 
suplementados e promovidos pelo meio educacional, dão 
conta de reforçarem os agravos e distanciar ainda mais 
esse professor da sua função. 
Um dos maiores problemas do Professor Coordenador 
é que o mesmo, sempre sofreu com um redesenho de suas 
atividades por parte dos gestores e por estar em uma 
condição muito dependente do Diretor de escola, sujeita-
se a permanecer nessa trilha que não o levará a realizar 
suas atividades de forma minimamente satisfatória. 
Evidentemente que estamos nos referindo à infração 
administrativa conhecida como Desvio de “Função”, onde, 
basicamente, um agente público é “orientado” a realizar 
atividades que não fazem parte do seu rol de atividades. 
Por vezes,temos notícias que Coordenadores 
Pedagógicos que abriam portões (faziam a entrada de 
alunos), auxiliavam em serviços da secretaria, separavam 
brigas de alunos, faziam rondas nos corredores a fim de 
manter a disciplina da escola, entre outras ações, mas 
quase nunca se dedicavam ao ofício a que eram pagos 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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para executar, a aula do professor, a aprendizagem do 
professor, o preparo do profissional da educação, o 
acompanhamento desse profissional... A meu ver, isso 
sempre se deu- por uma questão mais cultural do que 
dolosa, pois tenho lembranças de alguns coordenadores 
realizando esse tipo de tarefa, em muitas “janelas” da 
minha vida profissional. O problema não está e nunca 
estará na colaboração desse profissional para ajudar a 
gestão no que for necessário para o bem da escola, mas 
que isso não se torne a prática mais importante e comum. 
É importante frisarmos isso, porque dependemos da 
mudança cultural da escola para que o coordenador seja 
“blindado”, e que seus superiores hierárquicos garantam 
seu pleno desenvolvimento na questão mais importante 
que lhe cabe, a formação, sem falar no respeito profundo à 
legislação, conforme segue: 
Lei nº 10.261/68, Artigo 10 – É vedado atribuir ao 
funcionário serviços diversos dos inerentes ao seu cargo... 
Lei nº 8.112/93, Artigo 13 – A posse dar-se-á pela 
assinatura do respectivo termo, no qual deverão constar as 
atribuições, os deveres, as responsabilidades e os 
direitos inerentes ao cargo ocupado, que não poderão ser 
alterados unilateralmente, por qualquer das partes, 
ressalvados os atos de ofício previstos em lei. 
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Lei nº 8.112/93, Artigo 117 – Ao servidor 
é proibido: XVIII – exercer quaisquer atividades que 
sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e 
com o horário de trabalho. 
Há de se registrar que, em muitos casos, essa “cultura” 
negacionista do processo formativo contínuo para 
professores encontra respaldo, tanto no profissional da 
coordenação, que pode não estar exercendo essa 
atividade pela formação propriamente dita, como também 
nos seus agentes formativos (professores) que, por muitos 
motivos que discutiremos mais à frente, não relacionam a 
melhoria dos resultados educacionais o com 
aprimoramento da didática pedagógica. 
Além dessa dificuldade cultural, que percebemos a 
respeito da figura do PC (Professor Coordenador), é 
importante frisarmos que, assim como a carreira docente 
(função de lecionar), há de se falar em valorização salarial 
desse profissional para que haja um incentivo maior aos 
bons quadros da Rede, e que esses sejam atraídos por 
melhores salários, mas que, em contrapartida, sejam 
cobrados aperfeiçoamento, pesquisa e produção científica. 
Defendo aqui também que essa função, em qualquer 
área educacional, fosse acessada, exclusivamente por 
intermédio de concurso (acesso), desvinculando-se a 
subordinação ao diretor de escola que, muitas vezes, está 
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em seu posto, não por um processo de avaliação, mas, 
sim, em virtude de acesso por antiguidade e, muitas vezes, 
formalizado autocraticamente, passando ao largo dos 
princípios democráticos da gestão, o que pode atrapalhar, 
e muito, o processo de formação dentro da Unidade. O 
desempenho desse seria avaliado não somente pelos seus 
pares, mas por toda a comunidade escolar. 
Isso se faz necessário tão somente pelo fato de muitos 
professores galgarem acesso à função de formador, 
simplesmente para deixar a sala de aula, ou para “mudar 
de ares” caracterizando, assim, uma total falta de 
compromisso com a designação que se propõe, 
prejudicando ainda mais a formação docente que, 
inevitavelmente, refletirá no resultado educacional, ou, 
ainda, por um valor de gratificação ínfimo, que, porém, 
representa um suspiro para uma categoria tão 
desprivilegiada de adequação justa de proventos. Em 
função desses fatos, faz-se necessário, urgentemente, 
estabelecermos critérios de conceitos práticos e teóricos 
para profissionais que formam professores. 
Se entendermos que a hora-atividade (pedagógica) de 
formação desse professor, ao longo da sua carreira, se 
feita de forma construtiva e estritamente com fins de 
aperfeiçoamento de métodos e condutas, além, é claro, da 
suplementação intelectual que se dá por intermédio de 
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anos de estudos, podemos entender e redesenhar a 
importância dessa figura dentro da escola. 
Devemos, finalmente, pensar que o próprio 
coordenador deve sempre ter uma retórica muito clara no 
sentido de buscar o seu espaço nos arranjos da gestão 
pedagógica e, muitas vezes, em nome da sua práxis, terá 
de travar algumas batalhas dentro do campo para marcar 
espaço, delimitar sua própria atividade em garantir a 
formação docente no espaço, sempre pensando no seu 
objetivo comum dentro da escola, que é cuidar da coisa 
pedagógica, do trato pela aprendizagem que, por vezes, é 
sempre preterida por questões burocráticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO 2 
O desprezo ao referencial teórico da leitura 
e ao trabalho científico no meio docente. 
No Brasil, historicamente, sabemos que o hábito do 
estudo e, mais especificamente, da leitura, pela sociedade, 
de uma forma geral, é desprezado, e isso está diretamente 
relacionado com fatores culturais, sociais, políticos e até 
econômicos dos brasileiros. 
Estudos realizados pela pesquisa “Retratos da Leitura 
no Brasil”, do Instituto Pró-Livro, aponta que trinta por cento 
dos brasileiros nunca compraram um livro. O estudo 
também mostra que a média de leitura per capita nacional 
é de, em média, quatro livros ao ano, mas, levando em 
consideração apenas os livros lidos por completo, o índice 
cai para dois. A leitura, enquanto hábito, ainda é uma 
dificuldade do Brasil e traz diversos reflexos, não só de 
ordem cultural, mas de formação social e linguística. 
Apesar de um pequeno avanço (na pesquisa realizada 
em 2011, cada brasileiro lia em média quatro títulos por 
ano), se retirados os livros didáticos da conta de leitura 
anual, a média per capita cai para 2,9 livros anuais, 
patamar muito aquém dos países desenvolvidos: na 
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França, o número é de 7 obras por ano; nos Estados 
Unidos, 5, e na Inglaterra, 4,9. 
Outro levantamento, dessa vez, do Banco Mundial, 
aponta que os estudantes brasileiros devem levar cerca de 
260 anos para atingir a qualidade de leitura de alunos de 
países desenvolvidos. Essa lentidão acarreta uma grave 
crise de aprendizagem. 
Dessa forma, podemos considerar que não há 
especificidade de público, no Brasil, em relação ao 
menosprezo pelo hábito da leitura, nem mesmo entre 
aqueles profissionais que deveriam promover a cultura 
leitora, no caso, os professores, sejam eles da Rede 
pública ou privada, é o que aponta estudo de 2017 que se 
refere a professores de Língua Portuguesa e 
Matemática do 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 
3º ano do ensino médio das escolas que participaram 
do SAEB. Os professores responderam à seguinte 
pergunta: Em seu tempo livre, você costuma ler livros? 
Observa-se que pouco menos de 60% dos 
professores afirmam ler sempre, ou quase sempre, em 
seu tempo livre. O resultado sugere que, além de não 
serem muito influenciados pelos pais (posts anteriores), 
os alunos também não teriam como ser muito 
influenciados pelo professor. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Isso, evidentemente, conota-nos problemas 
estruturaisem relação ao conhecimento e seu 
aperfeiçoamento dentro da perspectiva de atualização 
de formação docente. Apenas com a análise desses 
dois estudos podemos concluir que não há um 
interesse, nem uma cultura, do próprio docente em 
relação ao seu objeto de conhecimento e de análise de 
suas práticas, calçadas em referenciais teóricos, tendo 
em vista que grande parte desses profissionais estão 
alheios à leitura e, consequentemente, à produção de 
Pesquisa e acesso ao conhecimento de trabalho 
acadêmico voltado a ao desenho técnico da práxis 
docente. 
Existem diversas afirmações das análises 
cognitivas que concluem que, quem não lê não pensa e, 
quem não pensa não escreve, logo, não produz nenhum 
referencial teórico acerca do praxismo de seus métodos 
profissionais, o que, de certa forma, resulta na 
desqualificação do profissional e na execução de seu 
trabalho no chão de sala de aula. 
O desprezo pelo trabalho científico (acadêmico) 
também é uma marca cultural extremamente 
disseminada no meio do professorado. De certa forma, 
consideramos, na nossa experiência profissional ao 
longo dos anos, convivendo diariamente com 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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professores que esses, em sua grande maioria, 
desprezam ou não dão o devido valor às referências, 
estudos e materiais de pesquisas produzidos na 
academia que dissertam sobre a causa docente e o 
fracasso educacional dos últimos tempos no Brasil. 
O discurso do menosprezo ao referencial teórico de 
base ou à desvalorização da pesquisa na área 
educacional resulta em afirmações vazias, aleatórias e 
irrefutáveis por grande parte desses profissionais, que 
blindam suas mentes num pensamento inexorável de 
desvalorização da pesquisa, certamente por não 
fazerem parte da cultura da leitura e do estudo. 
Não é muito raro deparar-nos com professores que, 
diante da sua insatisfação profissional, na análise rasa 
da educação, digo, aquela pautada na falácia, na 
retórica do senso comum, sem nenhum embasamento, 
desprezam muitas figuras notáveis do mundo 
acadêmico, e que dedicaram suas vidas à produção da 
pesquisa e de teorias científicas educacionais. Para 
citarmos um exemplo, um dos autores mais citados do 
mundo em trabalhos educacionais, o grande professor 
Paulo Freire (patrono da educação brasileira), 
comumente costuma ser achocalhado nas rodas de 
conversas informais do ambiente escolar, ou, até 
mesmo. ironizado e desrespeitado como professor no 
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contexto educacional. Registra-se que quem o faz, 
certamente, desconhece sua importância para a 
literatura educacional mundial e suas teorias positivistas 
e humanistas no campo pedagógico. 
Só a título de exemplo, outros grandes nomes da 
educação mundial também são alvos de críticas 
infundadas pela sua produção acadêmica, como no 
caso da gigantesca colaboração de Emília Ferreiro e 
Ana Teberosky, que dedicaram mais de trinta anos de 
suas vidas no entendimento e na produção científica 
pedagógica, especialmente focada na concepção 
Piagetiana e suas influências na compreensão dos 
processos de aquisição da leitura e da escrita na 
aprendizagem infantil. Esse estudo, denominado, de 
forma genérica, de Psicogênese da Língua Escrita, 
ajuda-nos a conceituarmos a trajetória da construção da 
apropriação da criança em termos de sua fonetização 
da escrita, e como esse caminho acontece. 
Esses estudos e seus respectivos autores são dois 
grandes exemplos de desprezo por parte do público que 
deveria exaltá-los. Muitos professores culpam seus 
referenciais teóricos diante das barreiras cotidianas 
mesmo sem conhecer de forma profícua as suas teses, 
apontamentos e importância na literatura mundial. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Diante de qualquer adversidade em sua prática, 
ouvimos, comumente, a seguinte queixa: “Quem foi 
Paulo Freire? O que ele fez pela educação? É por isso 
que a educação está nesse nível, por profissionais como 
esses que só valorizam o aluno e falam de amor na 
educação”. 
É importante considerarmos, aqui, que o professor, 
além de não possuir subsidio argumentativo para opor-
se à pesquisa e ao conhecimento científico, na ânsia da 
crítica pela crítica, desqualifica até a relação 
harmoniosa e humana que esses importantes estudos 
nos ensinam, diante de um processo de aprendizagem, 
deixando claramente explícito outro grande problema, 
que não será aprofundado aqui, mas que, certamente 
permeia as esferas do magistério, especificamente 
nesse caso (Paulo Freire) que é a reprodução de um 
comportamento ríspido, pouco democrático e de 
autoritarismo na relação aluno x professor que tende a 
ser reproduzido de professor para aluno (que se tornará 
professor), inclusive ratificando o pensamento da 
própria teoria Freiriana do Opressor x Oprimido em 
que o sonho do segundo (o oprimido) é tornar-se o 
primeiro (o opressor) diante das relações sociais, 
inclusive no ambiente escolar. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Já em relação a Psicogênese da Língua Escrita, 
especificamente no caso do Ensino Fundamental (Anos 
Iniciais), durante minha longa prática como formador de 
professores alfabetizadores e, mesmo quando nas 
minhas formações, raramente ouvi falar na teoria e nos 
autores que embasam toda a técnica de conhecimento 
que é aplicada em relação ao sistema de escrita. 
No primeiro caso, durante as formações por nós 
(grifo nosso) ministradas, sempre apresentamos a 
teoria da base alfabética e sua importância para a 
compreensão da aquisição do processo de escrita e 
suas etapas, não obstante disso, percebemos um 
desconhecimento consolidado dessa teoria, que repito, 
embasa todo o processo de conhecimento da aquisição 
da escrita, que, inclusive, deve ser dominado pelo 
docente desde a sondagem até a apropriação da 
consciência sonora e silábica do sujeito. 
É como se o professor fosse “treinado” para 
reproduzir um processo de avaliação do qual ele sequer 
tem conhecimento de onde surgiu e qual a sua relação 
teórica, muto menos a importância referencial do seu 
pesquisador. 
Recordo-me que, durante as formações, percebia 
extrema resistência acerca da referida teoria e até um 
certo desdém, que pode ser facilmente explicado pelo 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
29 
 
fato de a desapropriação desses estudos, associada a 
um conceito cultural de sabedoria inata, muito comum 
entre professores, principalmente os da educação 
básica, os quais tendem a desprezar todo apreço pela 
pesquisa e pela própria aprendizagem, a partir da sua 
formação protocolar e habilitação como “Professor”. 
Em muitas formações docentes, recordo-me de 
conclamar à ética e à valorização da teoria, muitas 
vezes traçando analogias a métodos arcaicos de outras 
carreiras, lembro de comparar, por diversas vezes, o 
uso do silabário e da alfabetização tradicional na prática 
(arcaica), usada por anos, em décadas atrás, por 
profissionais da odontologia que usavam a extração dos 
dentes como método para dirimir inúmeros problemas 
na saúde bucal, ratificando, é claro, que, diante da falta 
de recursos e da inexistência de teorias mais 
tecnológicas, o único meio de curar uma cárie seria 
arrancando o dente, o que, para os dias de hoje, é 
impensável você extrair um dente por uma cárie, por 
exemplo. Sendo assim, eu sempre usava as formações 
para que refletíssemos sobre nosso método de ensino, 
analogicamente, à prática de arrancar dentes. 
Muitas vezes, durante as formações, eu 
verbalizava: “parem de arrancar os dentes de seus 
alunos”, ou seja, parem de usar métodos arcaicos para 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
30 
 
alfabetizar, como o silabário, por exemplo. Passemos a 
considerar métodos mais contemporâneosque 
demandam estudos, observações, aprendizado e 
pesquisa. 
Confesso que, por muitas vezes, sentia-me 
desestimulado pela falta de entusiasmo diante das 
teorias e, por vezes, sofri com queixas das minhas 
professoras em relação as minhas formações, por 
intermédio de minha diretora, porque as docentes 
alegavam que as aulas (ATPCS), Horário de Trabalho 
Pedagógico Coletivo, estavam muito técnicas e 
teóricas, o que, parafraseando para a linguagem 
professoral, hoje, considero equivalentes ao fato de a 
formação ser embasada na pesquisa, calçada em 
teorias e com o intuito de produzir novos caminhos, 
porém com muito trabalho e, principalmente, leitura de 
teóricos e cientistas da área, praticamente tudo que a 
grande maioria dos professores repudia por odiarem a 
pesquisa e, principalmente, a leitura. 
Sendo assim, por muitas vezes, acompanhando o 
trabalho docente, deparei-me com muitas “extrações de 
dentes”, por serem mais fáceis de executar, não 
exigindo o entendimento da teoria, independentemente 
do resultado. 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
33 
 
CAPÍTULO 3 
Uma ilha em meio a um mar de conflitos 
Sabemos que a escola é um “lócus” social de 
representação humana e que, como em qualquer lugar da 
sociedade, reproduz-se o comportamento social nesse 
ambiente chamado escola. Temos, por causa disso, muitos 
conflitos, interesses e objetivos que, inúmeras vezes, são 
divergentes. 
A escola, ou a comunidade escolar, dentro do 
ambiente de ensino, é basicamente composta por quatro 
coletivos que cercam essa ilha chamada “Coordenação 
Pedagógica”. Tratamos, aqui, é claro, de elementos 
segmentados de pessoas com interesses comuns e 
adversos, que são os Gestores, os Professores, os Alunos 
e a Comunidade. 
Você pode estar me perguntando: mas e o Professor 
Coordenador? Exato, o professor coordenador é o elo de 
ligação, interlocução entre todos esses atores, porque sua 
função exige que seja um mediador por natureza. 
Pensemos que, ao mesmo tempo em que esse importante 
profissional fora designado pelo seu diretor, terá que 
representar os apontamentos da gestão escolar, porém 
tratando-se legitimamente do capitão do time dos 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
34 
 
professores, ele também terá que pautar todos os 
apontamentos defendidos por esse núcleo (docente) 
dentro da escola e ser o seu porta-voz, protocolar os seus 
requerimentos cotidianos em defesa de seus direitos, além 
da orientação formativa e é claro que não podemos 
esquecer também que cabe a esse profissional garantir o 
acesso dos alunos aos seus direitos básicos dentro da 
escola, e principalmente, aqueles referentes ao 
aprendizado, dos estudantes do seu comportamento 
perante sua família. 
Muitas vezes, os interesses desses atores acabam 
sendo conflituosos dentro do ambiente escolar, 
claramente, porque, muito embora todos esses em tese 
quererem o bem da escola, mas quase sempre por muitos 
motivos, trilham caminhos bem diferentes. É aí que entra a 
figura do Professor Coordenador, aquele que promove, 
não só a formação docente, mas que respeita 
profundamente a voz de cada núcleo dessa comunidade e 
articula com maestria todos os interesses em jogo para a 
convergência de objetivos. 
Por terem visões diferentes, sem estabelecer 
julgamento de mérito aqui, professores e equipe gestora, 
via de regra, estão sempre em caminhos frontais , prontos 
para a colisão, e cabe a esse elo, o qual chamarei de 
precioso aqui, cuidar para que não haja colisão entre os 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
35 
 
interesses desses dois grupos, zelando em temperar muito 
bem essas relações com verniz e azeitá-la com uma boa 
dose de diplomacia, para que não desagrade ambas as 
partes, o que, em alguns casos, é quase inevitável e traz 
um desgaste considerável para essa figura que precisa 
fazer com que os professores realizem as demandas 
funcionais, algumas, por vezes, administrativas cuidando, 
é claro, para o não agravamento de crises de ingerência e 
sinais de rebeldia de ambos os polos e sempre zelando 
pela harmonia e saúde da coesão do corpo de professores. 
O livro da bíblia em Matheus 6:24 traz como 
ensinamento essas palavras: 
"Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará 
a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará 
o outro”. 
Considerando e resguardando o respeito pelo 
respectivo livro, posso afirmar categoricamente, em tese, e 
em prática, que profissionais da Coordenação Pedagógica 
servem, não a dois “senhores”, mas a três ou quatro, dentre 
esses, (gestores, professores, pais, funcionários e, até, 
supervisores), todos os dias, com a missão de não ficar em 
débito com nenhum deles, sobrecarregando seus ombros 
com a pesada missão de ser a peça de articulação entre 
muitas outras peças da gigante engrenagem educacional. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
36 
 
Muitas vezes, o caminho da Coordenação Pedagógica 
é solitário, turvo, você não tem um apoio formal, nem um 
parceiro de trabalho e, pelos motivos já relatados aqui, não 
pode contar integralmente com todo o contexto profissional 
da escola, mas seu trabalho certamente deverá depender 
dele (contexto, dos outros profissionais) cotidianamente, 
por isso, precisa se envolver, o tempo todo, com o caos do 
conflito de interesses entre as partes citadas. 
Nunca deveremos esquecer que o sucesso da 
manutenção dessas relações depende muito da sua 
resiliência profissional e afinamento nas relações com sua 
equipe, mas o grande segredo do sucesso, para os 
formadores e futuros Coordenadores, está na sua 
capacidade de se relacionar, interpessoalmente, com seus 
pares, cuidando para que haja extrema confiabilidade e 
humanidade nessa relação e beneficiando seu time com 
muito auxílio motivacional e proteção, sem, é claro, 
extrapolar as bordas legais da legislação pública. 
Devemos ter habilidade para costurar relações de 
coleguismo amistoso na equipe, muitas das vezes, 
mostrando benevolência e doando-se para apoiar 
incondicionalmente o professor, principalmente, quando 
esse errar. 
Quando você internaliza que seu trabalho depende da 
sua equipe e que só ela pode fazer além do que lhe cabe, 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
37 
 
por estar motivada e, também, por respeitar e admirar seu 
líder, que é quem a coordena, é, metaforicamente, “jogar 
pelo técnico”, uma expressão pinçada do vocábulo 
“futebolês” mas que transfigura exatamente o sentido de 
equipe. Muitas excelentes equipes de futebol não atingem 
seus objetivos, tanto por questões motivacionais quanto de 
relação com seu treinador, não remam com o capitão, e 
muitas equipes boas jogam principalmente pelo treinador, 
que blinda e apoia seu grupo em qualquer adversidade, 
principalmente nas derrotas. 
É importante termos em mente que esse processo, o 
de pautar toda a atividade formativa no pilar das relações 
humanas, encontra respaldo em vários teóricos da 
literatura pedagógica, como é o caso do Autor Celso 
Vasconcellos, Doutor em Educação pela USP. Esse teórico 
afirma que o sucesso da formação docente ou em sala de 
aula, passa necessariamente por três eixos, e o mais 
importante envolve o do Relacionamento Interpessoal, a 
arte de encantar e ser simpático aos olhos de todos ou da 
maioria; aquele profissional ético, que agrega; amistoso, 
que divide os prêmios por seus méritos com a sua equipe, 
aquele que conhece razoavelmente a vida pessoal dos 
“jogadores” do seu time, por mais de uma vez ter olhado no 
olho da pessoa e tê-la confortado por causa de alguma 
situaçãoadversa que acontecera em seu ambiente e que, 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
38 
 
principalmente, seja ouvida na hora em que desejar 
desabafar. 
É, no fundo, prestar atenção na alma da pessoa, 
estender-lhe as mãos quando esse membro da sua equipe, 
talvez, espere ser criticado; é dar apoio, mas 
principalmente quando for tecer qualquer tipo de 
comentário negativo ou que chame a atenção por algo 
inadequado, o coordenador tem que fazê-lo 
individualmente, se possível, de portas fechadas, num 
bate-papo, olho no olho, quando a sinceridade deve 
prevalecer e as instruções teóricas se sobressaírem ao 
largo dos prejuízos dos erros. 
O segundo pilar citado pelo autor supracitado, diz 
respeito à organização do trabalho. No caso do formador, 
conta bastante seu exemplo de pontualidade, trabalho e 
dedicação profissional. Acredito que devemos ter a clareza 
de que somos o “par formativo”, a referência profissional e 
intelectual do professor que, certamente, estará, a todo 
momento, avaliando a conduta do seu “capitão”, ou seja, 
cada passo, cada palavra, cada gesto ou sinalização. Por 
isso, você dará o tom (organizacional) em todos os núcleos 
do seu trabalho para o professor. Se você se portar como 
um líder desleixado, que faz seu trabalho de qualquer 
forma, desorganizado em todos os sentidos, sem 
compromisso, isso irá se refletir certamente, no dia a dia. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
39 
 
Penso que o mais importante é a personificação do 
exemplo de profissional em que você deseja que seu corpo 
docente acredite e se atente a esse parâmetro 
estabelecido por você como líder-amigo. 
Por último, mas não menos importante, o professor 
Coordenador deve atentar-se para seu potencial intelectual 
diante de seus formandos, e, aqui, sustenta-se também o 
sucesso ou não do seu nome, ao que você se propõe e a 
quanto está disposto a se destacar naquilo que faz, assim 
como em qualquer profissão, mas, especialmente, na sua. 
Você deverá se resguardar numa representação objetiva 
dos seus resultados. 
Quando você se coloca à frente de um grupo e 
estabelece um compromisso, que deve ser a referência 
desse núcleo, você terá que saber que, para ser uma 
referência, exige de você uma alta capacidade na 
resolução de problemas e de construir conhecimento, 
capacitando efetivamente seu grupo. 
Não basta eu estar cognitivamente no mesmo nível 
intelectual do meu par. Espera-se do referencial formativo 
um nível a mais de conhecimento acerca do objeto, um 
degrau a mais, uma resposta antecipada e um certo 
brilhantismo ao fazer aquilo a que se propõe. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
40 
 
Imaginemos um grupo de médicos residentes num 
hospital. Durante toda a sua estadia ali, ele tem a noção 
que participa de um processo formativo contínuo e que 
deve, em última instância, consultar seu professor, o 
médico responsável, porque ali ele compreende e valoriza 
o processo de ensino-aprendizagem, resguardando o 
respeito e sua admiração pelo aprender. 
Pensemos em um professor de natação que sabe 
nadar tanto quanto seus alunos iniciantes, ou que não 
saiba boiar ou mergulhar. Qual a segurança que ele poderá 
passar para o seu aluno e que condições ele terá de 
desenvolver seu trabalho se não tem muito a ensinar. 
Registra-se que, nesse caso, a primeira coisa que se perde 
é o respeito. 
Toda cozinha tem um chefe. Imaginemos um chefe 
que não saiba fritar um ovo, ou não saiba preparar uma 
massa, ou ainda não consiga fazer uma refeição sem errar 
no ponto de cozimento ou que não tenha nada para 
ensinar. 
É importante relembrar que não estamos dizendo que 
esses atores não sejam passíveis de erros, mas, de uma 
maneira genérica, não podem e nem devem demonstrar 
menos habilidades do que seus “alunos”. Isso parece 
óbvio, mas, na educação, justamente na educação, essa 
figura responsável por formar professores, muitas vezes, 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
41 
 
ou, via-de-regra, quase sempre sabe tanto ou muito menos 
que seus pares. Evidentemente, estou falando da 
conceituação teórica, alimento para sustentar a sua 
formação. Não existe uma prática eloquente que se 
aproxime da perfeição sem a teoria. 
Nosso grande mestre, o professor Paulo Freire, 
afirmava: 
“A teoria sem a prática vira "verbalismo", assim como 
a prática sem a teoria vira ativismo. No entanto, quando se 
une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora 
e modificadora da realidade.” 
Levando em consideração mais uma lição do professor 
Freire, devemos ter em mente, com muita clareza, o que 
buscamos para nós. Não sejamos apenas verbalistas, 
tampouco, exclusivamente ativistas, porque uma 
conceituação complementa a outra. 
Sendo assim, o Professor Coordenador deve buscar 
sempre estar apoiado em suas referências teóricas, 
esbanjar conhecimento no seu cotidiano formativo, 
objetivando-se sempre em busca da excelência da práxis 
(teoria e prática). 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
43 
 
 CAPÍTULO 4 
 O excesso de recurso transformado em 
papel e a falta de políticas públicas para 
formação docente. 
Quando falamos em má gestão dos recursos aplicados 
na pasta da Educação Pública no Brasil, essa afirmação, 
evidentemente, torna-se quase fantasiosa, tendo em vista 
que há uma corrente argumentativa que afirma que os 
recursos empregados na educação brasileira são mais do 
que suficientes para alavancar a máquina educacional em 
direção ao progresso traduzido em resultados. Realmente, 
não há como negar que os recursos empenhados na pasta 
da Educação Pública a nível federal são extremamente 
substanciais. Considerando-se que o Brasil está entre as 
dez potências econômicas mundiais e que 
aproximadamente 6% do seu PIB, Produto Interno Bruto, é 
destinado a Educação pública, o que está muito acima do 
investimento médio de países da OCDE. 
Entendemos, há muito tempo, que a larga corrupção 
entranhada nos ministérios e a forma de repasses de 
verbas públicas acabam favorecendo o esvaziamento 
desses recursos e evitando que eles cheguem 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
44 
 
integralmente na ponta, ou seja, na sala de aula de 
municípios paupérrimos. 
Entre o final de 2019 e o início de 2020, foram 
distribuídos milhões de livros para o atendimento aos 
alunos e professores de toda a educação básica do país. 
No âmbito do PNLD 2020, foi feita a aquisição 
completa das obras que atendem aos anos finais do 
ensino fundamental. 
Além disso, a distribuição também englobou a 
reposição integral dos livros para os estudantes e 
professores dos anos iniciais do ensino fundamental, a 
reposição de livros para o ensino médio e para a educação 
infantil. 
Só em 2020, foram gastos mais de R$ 1.000.000.000 
(um bilhão de Reais) em livros impressos de papéis que 
poderiam ser facilmente disponibilizados a custo zero, por 
intermédio de compartilhamento/acervo digital. 
Registra-se que o dinheiro gasto nesses materiais 
poderia claramente ser investido na firmação docente 
protocolar (cursos reconhecidos de pós-graduação) e até 
mesmo subsídios à pesquisa e à produção de material 
científico com bolsas de estudo. 
Um dos maiores desafios para avançar na 
qualidade da Educação é a falta de um conjunto de 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
45 
 
políticas docentes que atuem na formação, carreira e 
condições de trabalho dos professores. Em 2018, o 
rendimento médio dos docentes da Educação Básica 
com curso superior (R$ 3.823,00) correspondeu a 
69,8% do que ganhavam, em média, outros 
trabalhadores com mesmo nível de escolaridade (R$ 
5.477,05). Em 2012, essa proporção era de 60,8%. 
Emrelação à formação dos professores, desde 
2012, não há aumento significativo no número de 
docentes com formação adequada para as disciplinas 
que lecionam. Isso significa que há aulas de matemática 
– por exemplo – sendo ministradas por docentes que 
não têm formação na área. As taxas permanecem 
preocupantes: em 2018, 48,7% dos docentes dos Anos 
Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) tinham 
formação adequada, um crescimento de 5,1 p.p. em 
comparação a 2012. Já no Ensino Médio, essa taxa era 
de 56,3% - um aumento de 5,4 p.p. nos últimos seis 
anos. (Dados extraídos Anuário brasileiro Ed Básica 
2019, Inst. Todos Pela Educação) 
Até o ano de 2018, o total de professores da 
Educação Básica que tinham completado o Ensino 
Superior era de 79,9%, sendo que apenas 36% dos 
professores tinham curso de Pós--Graduação. Isso 
evidencia como é estabelecida e elencada a prioridade de 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
46 
 
aplicação dos recursos da educação, ou seja, o principal 
agente mediador do conhecimento no Brasil não tem uma 
formação adequada e nem é submetido nem estimulado a 
nenhum tipo de “reciclagem” durante sua carreira, 
excetuando-se, é claro, redes de ensino que dão maior 
ênfase à formação, mas que, em um âmbito genérico, não 
alteram o quadro nacional, ou seja, bons exemplos de 
evolução da carreira por intermédio de estudo e 
atualização profissional deveriam virar políticas públicas 
nacionais. 
Só para registrarmos essas equivalências abissais no 
ensino, em relação à má gestão de recursos, apenas 45% 
das escolas contam com sala de leitura ou biblioteca no 
Brasil, repito, apenas 45% das escolas públicas contam 
com esse recurso, que já era uma condição que deveria 
estar superada num país entre as dez maiores economias 
do mundo. 
Barbara Bruns, pesquisadora do Centro de 
Desenvolvimento Global, esteve no Brasil, em fevereiro de 
2018, para falar sobre políticas docentes, e o seu 
diagnóstico sobre o cenário brasileiro foi claro: estamos 
ficando para trás. 
Enquanto países da América Latina, até mais pobres 
que nós, têm avançado em mudanças que visam ao 
aprimoramento da carreira e à valorização dos professores 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
47 
 
– acarretando melhora nos resultados educacionais, nós 
ficamos para trás. 
Para clarificar o que se espera de políticas docentes 
bem estruturadas, ela trouxe experiências de nossos 
vizinhos, como o Chile, que, há mais de 20 anos, pensa a 
carreira de maneira coordenada, desde a atração desses 
profissionais até o desenho de suas carreiras. Lá existem 
políticas para atrair os alunos de Ensino Médio com melhor 
desempenho à carreira docente; foi estabelecida uma nota 
mínima no Enem chileno para ingresso; os programas de 
formação inicial foram redesenhados com foco na prática; 
a carreira dos professores foi reestruturada para garantir 
maiores salários e responsabilidades. No México, políticas 
de atratividade e de reestruturação semelhantes também 
avançam, assim como no Peru. 
O que mais assusta no diagnóstico de Barbara Bruns, 
contudo, é que ela reforça a falta de senso de urgência com 
que o Brasil tem lidado com o tema: ainda não 
conseguimos atrair os alunos do Ensino Médio com o 
melhor desempenho para a docência; nossos cursos de 
formação inicial não preparam o futuro professor para os 
desafios que ele encontrará em sua carreira; não existe 
uma linguagem comum do que se espera dos professores 
brasileiros; a carreira docente não está estruturada para 
incentivar o desenvolvimento de competências essenciais; 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
48 
 
e os programas de formação continuada são pouco ou 
nada efetivos. 
Para Bruns, e para outros pesquisadores, o professor 
é o elemento mais importante para a melhoria da Educação 
de um país e, por isso, repensar as políticas docentes é 
urgente e deve ser prioridade. Algumas redes públicas 
brasileiras já avançam no sentido de garantir uma nova 
carreira para os professores e o suporte necessário 
durante o estágio probatório e a formação continuada. É 
possível encontrar também, no Brasil, instituições de 
Educação Superior que inovam na maneira de formar 
esses profissionais. Infelizmente, essas iniciativas são 
ainda sem escala e sem o suporte necessário para a 
melhoria contínua. 
(Carolina Tavares Líder do movimento Profissão 
Professor) 
Parece haver consenso em pesquisadores da 
educação brasileira e autoridades acadêmicas, que 
discorrem sobre o tema, que os caminhos da melhoria para 
uma educação básica de qualidade sejam 
obrigatoriamente conduzidos por uma trilha de incentivo, 
valorização e, pelo menos, equidade de salários com 
outras carreiras. O fato é que, por experiência empírica em 
sala de aula, principalmente dos anos finais do Ensino 
Médio, percebemos que a carreira docente é altamente 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
49 
 
preterida e desprezada por nossos alunos, por motivos 
claros, pois, entre eles, o desrespeito com a figura do 
professor, a violência cotidiana a que esses profissionais 
são expostos e, principalmente, o desprestígio da 
categoria, bem como o encolhimento de seu espaço para 
efeito de mudança na vida social do aluno, além, é claro, 
do motivo mais precípuo e fundamental, a desvalorização 
financeira desse profissional. Com certeza, isso é o que 
mais afasta o jovem de hoje, da carreira docente no Brasil. 
Lidar com essa circunstância e alçar esse tema ao 
melhoramento da atração da carreira docente, já passou 
do tempo, estamos muito atrasados quanto a isso. 
Essa falta de competitividade e de mão de obra com 
nível de excelência que não chega por conta desses 
entraves, causa-nos um outro grande problema, a baixa 
exigência de cursos de graduação, principalmente aqueles 
de instituições particulares, que não podem correr o risco 
de trabalharem um currículo de excelência por conta de 
seu público não ter as mínimas condições de acompanhar 
uma subida da exigência de médias por exemplo. Hoje, no 
Brasil, mais de 70% dos docentes têm suas formações 
vinculadas a instituições privadas, muitas delas, inclusive, 
com formação a distância total e/ou parcial, logo a 
excelência da Universidade Pública está bem longe da 
práxis da sala de aula. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
50 
 
Certa vez, coordenando uma reunião para professores 
do Ensino Básico de uma escola pública na qual 
trabalhava, durante o Planejamento Anual, realizei uma 
pesquisa prévia com as seguintes questões: 
“Quem, aqui, desejou ser professor? Quem escolheu 
essa carreira como sua prioridade?” 
Para minha surpresa, apenas cinco, eu disse, cinco 
professores, num universo de aproximadamente quarenta 
pessoas, levantaram suas mãos. Aquela cena deixou-me 
desconcertado, pois, muito embora, tivesse noção da 
gravidade do grau de prioridades que a carreira docente 
estabelece com seus profissionais, nunca havia imaginado 
um número tão grande ser professor contra a vontade. 
Aquele cenário intriga-me até hoje, logo, pensei: o que 
essas pessoas fazem aqui? Como desenvolverão um 
trabalho tão importante, tendo em vista que nunca 
desejaram estar aqui, diante de seus alunos? 
Como já havia pensado antes da reunião e para fazer 
os presentes refletirem profundamente e para que 
“pegassem” a sua parte de responsabilidade pelo declínio 
dos resultados no ano anterior, procurei ir mais a fundo: 
“Diga-me o que cada um dos senhores sonhava em 
fazer profissionalmente da sua vida...” 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
51 
 
Então, imediatamente, um a um começou a discorrer 
sobre suas situações. Vou tratar, aqui, dos casos que mais 
me marcaram, porque, evidentemente, não lembro de 
todos, mas havia uma professora de inglês que narrou que 
seusonho era ser uma secretária executiva bilingue; um 
professor de educação física sonhava ser técnico futebol, 
outro não passou no concurso da Polícia e foi fazer 
matemática porque tinha uma irmã professora, outro que 
simplesmente alegou que era o curso mais barato que 
poderia cursar, entre outras respostas escabrosas. 
Aquele dia marcaria minha carreira de formador para 
sempre. Ao grosso modo, a grande maioria das pessoas 
que estavam ali, foram empurradas por circunstâncias 
aleatórias da vida para lidarem com um objeto tão caro ao 
país, o conhecimento e o aprendizado de nossos jovens. 
Em seguida, perguntei, se pudessem voltar atrás quem 
desistiria e recomeçaria sua vida em outra profissão. Não 
me lembro do número exato, mas mais da metade dos 
presentes levantou suas mãos, ou seja, estava diante de 
um público, no mínimo, altamente desinteressado pelas 
questões pedagógicas, um público que despreza seu 
referencial teórico, um público que, talvez, nunca 
desenvolverá amor e zelo pelo que faz. Aquelas pessoas 
estavam ali simplesmente porque foram “empurradas” por 
diversas circunstâncias a serem professores, sendo que, 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
52 
 
definitivamente, não consideravam a grandeza e a 
importância de sua função. 
Vivendo num país que oferece quase nenhuma 
oportunidade de maneira geral ao seu trabalhador, com um 
índice de desemprego altíssimo, numa sociedade 
capitalista, a maior busca desse contexto é pela 
estabilidade que o serviço público pode oferecer. 
Isso traz-nos um indicativo muito interessante. 
Precisaríamos urgentemente ressignificar o papel do 
professor para atrairmos um público mais qualitativo 
tecnicamente, que se interesse pelas questões 
educacionais, porém, o núcleo dessa força intelectual está 
no jovem, e o nosso jovem, de forma alguma, sente-se 
atraído pela carreira do magistério. Logo, temos que 
preencher toda a lacuna e o déficit de profissionais a 
qualquer custo, com qualquer mão de obra, ou seja, não 
tem tu, vai tu mesmo. 
Esse processo, certamente, impactará, tanto na 
formação básica, quanto na contínua, reforçando a 
fragilidade do sistema de ensino no Brasil. 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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CAPÍTULO 5 
A despolitização docente e a opressão 
humana como fator cultural na escola. 
A crítica à despolitização do professor parte do 
princípio de que a subjetividade ao tema de apontamentos 
de Marx e Paulo Freire é abordado na educação. 
 A partir da leitura das obras de Marx e Freire, aponta-
se o falso antagonismo entre teoria e prática, na formação 
docente, como instrumento de despolitização da prática 
docente. Essa condição tem efeito destrutivo 
potencializado se atrelada a leituras superficiais e 
modismos, produtoras de práticas educativas equivocadas. 
A especificidade do saber docente perpassa uma 
prática professoral teoricamente fundamentada. Não 
propõe somente pensar a prática à luz das teorias, mas 
também constituir novas teorias a partir da rigorosa análise 
da prática, reatualizando o movimento dialético da práxis 
pedagógica. Isso significa valer-se do conhecimento 
organizado na ação e aproveitar-se da ação para recompor 
o conhecimento organizado. 
A despolitização a que me refiro aqui, como no 
parágrafo supra, diz respeito não somente à não 
agremiação do docente a uma militância ou filiação 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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partidária formal, mas, sim, a qualquer tipo de alinhamento 
coletivo de pensamento e crítica ao sistema econômico, de 
trabalho e social. 
Há muito tempo ocorre que, de um modo geral, nós 
percebemos o afastamento do pensar dos ambientes 
escolares, e o recrudescimento do ódio à política, que, 
diga-se de passagem, agravou-se muito no Brasil com a 
vitória da intolerância nas urnas no ano de 2018. 
Não há lugar mais apropriado para a crítica, para a 
construção e a colaboração do pensamento crítico do que 
na escola. Antigamente, aprendíamos com nossos mestres 
de forma, muita das vezes empírica, observando sua 
maneira de SE vestir, de argumentar, de criticar o governo, 
por intermédio de representação de Estado e não de 
Partido Político. 
Certa vez, lembro-me de meus professores de história 
incitando-nos a pensar em sala de aula sobre a questão 
dos transportes públicos e a ausência de um conjunto de 
ações para melhorar esse sistema, não havia, de forma 
alguma, qualquer indicativo doutrinário, mas, sim. a livre 
manifestação do pensamento. Eles (professores) 
conseguiam fazer-nos pensar, sem necessariamente citar 
qualquer nome de quadros políticos que ocupavam cargos 
no executivo naquele momento e, muito menos, apologia 
às siglas partidárias. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
57 
 
Certa vez, ainda como professor contratado de uma 
rede de Ensino, dando aulas de Língua Portuguesa para 
um terceiro Ano do Ensino Médio (noturno), senti-me na 
obrigação de fazer um trabalho baseado no princípio das 
“Metodologias Ativas”, realizei um trabalho em sala a 
respeito do pensamento dos alunos e como eles próprios 
se intitulavam ou carimbavam seu espectro político ou 
simpatia. 
A grande maioria dos alunos manifestou-se 
verbalmente muito conservadora nos costumes e bem 
liberal nas questões econômicas. Não direcionei muito o 
ambiente de trocas de ideias e promovi algumas aulas 
baseadas em princípios dialógicos. 
Depois de algumas horas de conversa, durante o 
assunto em sala, isso é claro, dirigindo o tema para que o 
mesmo não se perdesse, mas sempre atento para não 
estabelecer análises de méritos sobre os apontamentos 
dos alunos em relação a suas preferências. 
Recordo-me que, ao término dessas “rodas de 
conversa”, solicitei para que os alunos confeccionassem 
uma pesquisa individual sobre os conceitos políticos 
(Esquerda x Direita) e que apontassem um fator importante 
desse princípio ideológico com O qual eles mais se 
identificassem, e, claro, a citação de uma personagem. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
58 
 
No dia da apresentação dos trabalhos, recordo-me que 
nenhum aluno, manteve seu direcionamento ou sua 
autodeclaração no campo da “direita”, mas todos, 
absolutamente todos, após a pesquisa manifestaram sua 
maior simpatia pelo viés da “Esquerda”. Percebam que, em 
momento algum, estabeleci discussão acerca do que era 
certo ou errado e procurei mostrar os fatores defendidos 
dos dois lados políticos, inclusive no tocante ao conceito 
moral para o qual a nossa sociedade conservadora tanto 
chama atenção. Mesmo assim, na conclusão dessas 
pesquisas todos os alunos mostravam-se alinhados pela 
“saída” à esquerda, deixando claro seu entendimento pela 
importância do Estado em nossas vidas, bem como sua 
obrigação de ser o guardião do trato das pessoas, além, é 
claro, que toda a consideração fraternal de colaboração, de 
solidariedade, apontados por eles em figuras da nossa 
história, que abdicaram da própria vida para ajudar o 
próximo. 
O que faço questão de relembrar aqui, é que a escola 
não deve ser apenas um instrumento mecânico que 
capacite crianças para um viés profissional, ou que 
desenvolva múltiplas competências sem que as mesmas 
(crianças) consigam fazer uma leitura crítica do que 
aprendem e do que querem aprender. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
59 
 
Por isso, o professor torna-se um promotor da 
apresentação do mundo ético, político, filosófico e, por que 
não, psicológico e emocional desse aluno. Isso, 
claramente, pode dar-se por intermédio do conceito 
pedagógico de “Metodologias Ativas”.Sei que o caro leitor deve estar se indagando sobre a 
burocracia protocolar dos currículos cheios de habilidades 
a serem desenvolvidas, mas lembre-se de que o 
intermediador, o facilitador do currículo é você. Podemos, 
sim, ensinar regras, mas podemos mostrar também e 
ensiná-los a pensar que, em determinada circunstância, a 
regra se relativiza, e que, por isso, temos o talento da 
argumentação, da mediação do diálogo. 
Caros colegas professores, abandonem essa sede 
incontrolável de só ensinar matemática em fórmulas, ou 
ortografia em análise sintática, isso é chato. Além de 
inadequado pedagogicamente, é desinteressante, e não 
ajudará em nada na sua práxis de sala de aula ensinar um 
conteúdo chato de uma forma mais chata ainda. Vamos 
ensinar matemática com histórias. Conte suas 
experiências para seus alunos, solicite que colham 
depoimentos dos seus pais, proponham problemas de 
ordem moral para que, os mesmos, os resolvam junto com 
a matemática. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Muito incomoda-me ouvir um professor dizer que, no 
vestibular, o aluno não terá que contextualizar, que ele terá 
que ler aquele clássico “chato” do qual não entende nada 
e sente-se só mais desmotivado. 
Registro, aqui, meus caros colegas, que, mais uma 
vez, a teoria e a prática entram em conflito, sendo que 
vocês aprenderam que trabalhamos com a objetificação do 
indivíduo, projetando a ele uma condição acadêmica em 
um futuro que, na maioria das vezes, não irá se concretizar 
e, muito provavelmente, porque esse cidadão perdeu o 
interesse na escola há muitos anos, porque não encontrou 
em seu caminho facilitadores, mas, sim, dificultadores, e é 
sobre isso que quero falar. 
A escola sempre se mostrou um “lócus” muito 
repressor, e muitos autores defendem a ideia de que o 
tempo passou, e a escola não evoluiu, mas ela não evoluiu 
apenas por conta do espaço que, segundo Vigotsky, é um 
recurso didático importantíssimo, mas a escola não evoluiu 
porque os espíritos de quem gesta a escola e de quem dela 
tira seu ganha-pão, também não evoluiu. 
Desde que me adentrei a primeira vez em uma escola 
como professor, senti que havia algo muito estranho. 
Normalmente, durante os intervalos, o assunto preferido na 
sala de aula era falar mal do aluno, e, ao longo dos anos, 
percebi, mais uma vez, falando de conflitos entre práticas 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
61 
 
e teorias, que era quase um fetiche irresistível por parte de 
alguns professores atribuir conceito vermelho para seus 
alunos. Desculpem a sinceridade, mas durante as reuniões 
de conselho de escola, apelidados por nós (a ala mais 
jovem e progressista) de “Conselho da Morte”, era um 
show de horrores. Em muitas ocasiões, lembro-me de 
sermos a minoria nos conselhos formados por dez ou onze 
professores, e saíamos contentes quando conseguíamos 
“salvar” algumas almas, ou seja, alunos que eram fortes 
candidatos à retenção, e nós, como advogados de defesa, 
conseguíamos reverter a situação. 
Nunca foi um estado de pesar para a maioria dos 
professores com quem trabalhei, ser amplamente favorável 
a uma retenção simplesmente por vingança, usando o 
referido instrumento de avaliação como máquina de 
repressão, e, quando um aluno era retido, esses 
profissionais mais insensíveis tinham quase um “orgasmo 
pedagógico”. 
Na maioria das vezes, a argumentação era a mesma, 
ele não se interessa, não fez nada o ano todo, bagunça 
muito, desrespeitou-me como autoridade em sala. 
Com o passar dos anos e com a experiência do dia a 
dia comecei a perceber que havia muitas falhas, não só 
nesses alunos, mas em nós docentes também, e que parte 
desse desinteresse pela escola, muitas das vezes, dava-
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
62 
 
se pela aula dada ou não dada por determinado professor. 
Aqui também faço-me saber o que todos já sabemos, que 
o professor também é pressionado a desmotivar-se pela 
falta de estrutura e baixíssimos salários, o que, certamente, 
culminava para um time altamente desmotivado que 
replicava nos alunos a mesma repressão que sofrera em 
sua experiência escolar como aluno, ou, até mesmo na 
faculdade, é uma espécie de vingança. Aqui repito e 
parafraseio Freire que nos afirma: “O sonho do oprimido 
é tornar-se opressor”, e essa oração é muito 
autoexplicativa. 
O aluno fora tratado assim por seus professores 
durante todo seu período escolar. A forma de perceber seu 
professor, a escola, os métodos de sanção disciplinar, as 
regras, ou seja, quando ele se forma e “se apropria” desse 
aparelho chamado escola, está na hora de ele replicar toda 
sua experiência vivida. 
Isso também é um grande problema, que não devemos 
desconsiderar no processo de formação docente, voltar 
com o professor numa espécie de anamnese ativa e fazê-
lo entender que ele pratica com seus formandos 
exatamente a mesma metodologia e tratamento de 
recebera de seus formadores e docentes ao longo da vida. 
Por isso, esse é um problema que deve ser tratado sempre 
na formação docente, a desconstrução ou a 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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descontaminação de marcas que a escola deixou. 
Lembramo-nos de que os únicos profissionais que são 
criados e formados, desde a base no próprio ambiente em 
que irão atuar como profissionais, são os professores e 
trabalhadores da área educacional, logo esses retornam a 
esse espaço, cheios de vícios que adquiriram e nutriram ali 
mesmo, naquele ambiente. 
O médico não passa dez anos dentro de um hospital 
e, depois de formar-se na faculdade, regressa a esse local; 
o engenheiro não passa quinze anos da sua vida num 
escritório, nem o soldado no quartel, mas o professor, após 
passar todo aquele tempo de formação básica dentro da 
escola, retornará para trabalhar no ambiente no qual foi 
formado e conviveu anos ali. Logo, ele se sente seguro por 
sua experiência a replicar todo o comportamento 
opressivo, ditatorial, agressivo, que ele presenciou, e 
transborda suas experiências adquiridas ali, nos seus 
alunos e, assim, ciclicamente, consolidando cada vez mais 
esses conceitos preconceituosos de como uma escola 
deve funcionar, porque três anos de teoria por EAD ou 
Semi Presencial não seriam, nem de longe o bastante para 
desconstruir conceitos que esse indivíduo tem dentro dele 
por conviver tantos anos naquele ambiente. 
Sendo assim, voltamos à questão filosófica do OVO, 
não o OVO na perspectiva da vida que Clarisse nos narra 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
64 
 
tão esplendorosamente em seu conto, mas do OVO e da 
Galinha no sentido de quem veio primeiro. Logo, o 
professor é assim porque a escola fez dele esse 
profissional rancoroso e vingativo, ou a escola é assim 
porque não consegue romper e ser gerida por agentes que 
não sejam negativos? 
Independentemente da sua resposta, a palavra 
“repressão” era para passar muito longe das escolas, pois 
ela tem que ser ressignificada, porque senão, ou os 
professores continuarão adoecendo psiquicamente porque 
se sentem incapaz de lidarem com as forças disciplinares 
da escola, ou terão que ressignificar essa força e 
potencializá-la para melhorar seu relacionamento, no 
ambiente escolar e nas aulas. 
Nós estamos dispostos a desconstruir nossas 
verdades? Estamos dispostos a aceitarmos a teoria? 
Estamos dispostos a entender que fazemos parte do 
processo, e que, quando esse aluno vai muito mal e a 
maioria dos colegas da sala também. Nós também somos 
responsáveis pelo baixo desempenho? Claro que sim, pois 
não somos meros expectadores, somos responsáveis e 
partícipes desse processo. 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares66 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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CAPÍTULO 6 
Não só por “AMOR” 
No mundo Educacional, sempre ouvimos, de políticos 
principalmente, que o Professor trabalha e deve trabalhar, 
pura e simplesmente por vocação. Ora pois? 
Vivemos numa sociedade essencialmente capitalista, 
individual, egoísta e que tudo, absolutamente tudo, 
inclusive a sua existência e dignidade, passa pela 
monetização conseguinte da venda de sua força de 
trabalho, inclusive o sustento de seus dependentes. 
Professores, “mestres”, “Donas”, “tios”, “tias” são 
vistos romanticamente pela sociedade pessoas confiáveis, 
afáveis, dóceis, honestos, amigos e companheiros e, por 
vezes, até personificadas pela literatura ou pelo cinema 
como seres “bobos”. 
Mesmo tendo a clareza que esse “springt” não se 
materializa, porque antes de tudo, os docentes são 
trabalhadores, repito, vendem sua força de trabalho, como 
qualquer outro proletário pela sua sobrevivência e a de sua 
família. 
Uma das nossas bandeiras, claro, dentre muitas, é 
reforçarmos que não nos diferimos de todas as outras 
classes de assalariados que trabalham fundamentalmente, 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
68 
 
não por amor, mas para, literalmente, colocar o pão e o 
leite sob a sua mesa, para alimentar seus filhos, tentar viver 
uma situação mínima de bem-estar e conforto. Falar 
diferente disso ou tentar teatralizar a figura do professor 
como se esse fosse um herói que não sente ódio, que não 
erra, que não peca e que, principalmente, não depende de 
dinheiro para sua sobrevivência é um erro circunstancial. 
Lembremo-nos que os políticos não o fazem por e pela 
glorificação desse profissional, mas usam dessa marca 
para tentar constranger os docentes, associando seu 
trabalho há algum ofício de voluntariado e, claro, 
indiretamente diminuindo o valor da sua mão de obra, já 
que o valor de tudo no mundo capitalista está no dinheiro e 
na aparência, quanto mais eu distanciar esse profissional 
da retribuição financeira, do acesso a bens de consumo, do 
conhecimento político, do seu coletivo e, principalmente, 
da sua função da remuneração monetária, mais ele será 
desvalorizado perante a sociedade. 
Sabemos que um dos grandes problemas relativos ao 
recrutamento de mão de obra qualificada, jovem e mais 
engajada está na contrapartida, no salário propriamente 
dito, que será oferecido para exercer essa função. Como 
conseguiremos angariar jovens, incentivar a leitura, a 
pesquisa e a continuidade formal da educação pelo 
professor se o mesmo não encontra, sequer, condições de 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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se sustentar e cuidar inclusive da sua aparência, 
justamente pela miséria da remuneração pelo trabalho que 
precisa realizar. 
A desmotivação, a constante dificuldade financeira, 
inclusive desafiando sua segurança alimentar, a falta de 
assistência à saúde e o constante estresse e exposição a 
situações de risco e violência formam uma receita perfeita 
para a desmotivação intelectual e pessoal desse 
profissional, que é claro, inserido nesse contexto, não 
enxerga seu valor e a importância do seu trabalho, levando 
esse funcionário a uma espiral de insensibilidade, 
incapacidade de reconhecimento do valor de seu trabalho, 
doenças mentais, total falta de comprometimento com sua 
formação, tendo em vista a considerada irrelevância de sua 
atividade e, finalmente, a depressão e os constantes 
processos de combate à saúde mental. 
Não há como falar em execução de Projetos de 
Políticas Públicas diante de um quadro em que, 
analogicamente, um professor é o profissional com o curso 
superior que tem a menor retribuição pelo seu trabalho 
dentre todos os profissionais com a mesma escolaridade. 
Em certa oportunidade, estávamos em uma reunião de 
trabalho. Na ocasião, o senhor Secretário da Educação do 
Estado, estava “in loco” visitando-nos, e pude contar um 
pouco de nossa experiência dentro da educação e, claro, 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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não pude deixar de exclamar nossa insatisfação com a 
remuneração defasada, quase indecente, inclusive 
estávamos há cerca de dois anos sem, sequer, termos uma 
reposição inflacionária. Lembro-me que, depois de pedir 
autorização para uma professora que acabara de integrar 
nosso quadro de docentes alfabetizadoras, sobre seu 
depoimento de que, antes de ingressar na rede por 
intermédio de concurso e concretizar seu grande sonho de 
ser professora, ela estava trabalhando na rede Municipal 
do município de Mogi, realizava a função de merendeira, 
em suma, seu salário como merendeira há dois meses 
atrás, antes de seu ingresso na rede como professora, era 
dez por cento maior do que sua remuneração atual como 
alfabetizadora. Acredito que esse exemplo vivido e 
testemunhado e, claro, compartilhado com todos, inclusive 
com as autoridades supracitadas deixa claro um absurdo 
total. Ainda, na ocasião, apresentaram-se professores que 
queriam apenas ter condições de se aperfeiçoar, pagar 
uma pós, fazer um outro idioma, enfim. 
Precisamos, urgentemente, fazer uma reflexão sobre 
essa remuneração que influencia precipuamente o trabalho 
docente e, consequentemente, a qualidade de sua 
formação. Na cidade de São Paulo, um professor da Rede 
Municipal, hoje, no ano de 2020, recebe quase 80% mais 
que um professor da Rede Estadual com a mesma carga 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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horária. Muitas vezes, em escolas vizinhas, isso também 
causa um desconforto, legítimo, tendo em vista que os 
recursos didáticos da Rede Estadual, muitas vezes, são 
piores que os dos municípios, e os dados dos últimos anos, 
principalmente na alfabetização, demonstram um resultado 
muito melhor por parte da Rede Estadual, porém não há 
nenhum tipo de gratificação nem protocolar, simbólica ou 
muito menos financeira. 
Todos esses apontamentos ajudam a destruir a força 
de trabalho, fortalecem a tristeza entre esses profissionais 
que só desejam viver de cabeça erguida e ter uma 
condição razoável de melhorar seu bem-estar social, 
estender seu conforto mínimo e poder cuidar da sua saúde. 
Por isso, é necessário que todos nós tenhamos vozes 
ativas e denunciemos nossas condições de trabalho a todo 
momento e em todos os espaços, que dialoguemos com a 
nossa comunidade e com as autoridades e sindicatos, não 
lutando por um aumento de salário, mas, no caso dessa 
categoria, nesse referido Estado, assim como em muitos 
no Brasil, a luta por uma reposição de perdas salarias é 
urgente, certa e acarretará diretamente na implementação 
de qualquer Projeto ou Política Pública Educacional. 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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CAPÍTULO 7 
“Mais Paulo Freire, Muito Mais...” 
Antes de começar a escrever este capítulo que, talvez, 
considere o mais importante deste livro, gostaria de 
registrar, aqui, minhas congratulações ao ilustríssimo 
professor José Eustáquio Romão, Diretor e Fundador dos 
Institutos Paulo Freire no mundo, o qual tive a honra de 
entrevistar por intermédio do Canal Formativo “Polêmicas 
de Nosso Tempo” (Canal Coletivo de Cunho Formativo) 
especificamente criado para docentes, com o intuito de 
romper o ciclo de “opressão” na formação docente de 
futuros professores, a partir da educação básica. 
Agradeço a todos os meus colegas professores, 
idealizadores e coidealizadores do referido canal, Valmir, 
Rodrigo Fake, Rodrigo Bony, Halles (Ted), João Monte 
(Toddy), Valmir, Fábio e Marco, pela grande oportunidade 
de trabalho, troca de conhecimento e vontade de 
transformar o mundo educacional. 
Quem foi Paulo Freire? 
Verdadeiramente, nunca ouvira falarem Paulo Reglus 
Neves Freire, durante minha estadia nas escolas básicas 
estaduais de São Paulo. Lembro-me que a primeira vez 
que ouvi falar no referido autor foi quando assisti a um 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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programa de televisão de auditório para jovens. Até então, 
repito, nunca sequer, ouvira falar do velho mestre da 
pedagogia que revolucionou a educação e o processo da 
alfabetização no Brasil e no Mundo. 
O velho barbudo “simpático”, sentado numa cadeira, 
com barbas grisalhas, alongadas com sorriso largo e 
sotaque nordestino, com camisa pra dentro da calça e 
pernas cruzadas, contava ali, aos jovens, um pouco da sua 
biografia e dos desagravos sofridos nos tempos da ditadura 
militar. Uma das falas que mais me marcou naquele dia foi 
seu relato de que o governo militar colocou em si o 
“springth” de uma figura demoníaca, inimiga de Deus e 
destruidora da família tradicional brasileira. Talvez, muitos 
jovens que ouviam atentamente aquele senhor falar, não 
com um “ar professoral”, mas como um amigo, um avô, que 
conta suas histórias e vai ensinando com cada frase sem a 
pretensão de fazê-lo. Não esqueceriam nunca mais a força 
da retórica eloquente de Paulo Freire e a benignidade de 
suas palavras ao pregar justeza social, liberdade política e 
de manifestação social. 
Anos depois, já na Faculdade de Letras, sempre ouvia 
uma citação do grande mestre aqui, outra ali, e um 
professor o citava, outro trazia alguma frase pinçada de sua 
obra, mas fato é que, durante o quatro anos, nunca fui 
orientado ou, sequer indicado oficialmente a ler ou 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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pesquisar mais sobre aquele ícone da educação brasileira, 
ou seja, centenas de professores formaram-se naquele 
ano, sem nem terem lido, obrigatoriamente, uma obra ou 
um texto de Freire, simplesmente o Patrono da Educação 
brasileira. 
As referências principais que tive de Paulo foram de 
um amigo do campo da esquerda, de um professor de 
química, Fábio Rodrigues que, vez ou outra, o invocava 
como argumento para sustentar suas teses de defesa dos 
alunos para com professores mais conservadores. 
O ensino da teoria Freiriana foi oportunizado a mim de 
forma pragmática, na observação e na amizade e, claro, 
admiração por aquele jovem professor, que sempre 
manteve um discurso pedagógico muito progressista em 
relação à vida cotidiana escolar e, principalmente, ao 
respaldo e à garantia dos direitos dos alunos. 
A partir de então, comecei a ler e me aprofundar sobre 
o Velho Mestre, passei a entender Paulo Freire, não como 
um acadêmico que, assim como outros que estudei na 
academia, usavam de uma linguagem menos coloquial, 
mais científica. Tomei prazer pela sua obra, não 
necessitava de esforço para entender teorias tão óbvias, 
mas que nunca haviam sido apresentadas ao jovem 
professor Thiago. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Com o aprofundamento do meu conhecimento em 
Freire, percebi, rapidamente, uma mudança em meu 
comportamento docente e passei a considerar muito mais 
meus alunos. Comecei a aplicar uma premissa básica de 
sua obra, a promoção de um ambiente dialógico, mais 
democrático, menos pesado, mais amistoso, que me fez, 
literalmente, deixar a sala de aula pela primeira vez e 
conduzir uma “roda de leitura”. embaixo de uma árvore, no 
estacionamento da escola. Começava, ali, minha 
transformação como docente, por intermédio da leitura da 
obra do maior nome da educação brasileira. 
Posposto a esse contato e sempre aberto à 
transformações, comecei a ver o mundo pela lente 
Freiriana. O que é essa lente? Fundamentalmente, é 
enxergar a educação como agente de transformação da 
vida social, é olhar as pessoas com mais afeto e tentar 
entender suas dificuldades, não só pedagógicas ou 
cognitivas, mas, principalmente, as dificuldades de 
esperança, porque Paulo Freire é esperança. 
Um ponto que sempre me intrigou, especialmente, 
depois de atuar como Diretor, Vice-Diretor, professor 
coordenador de todos os segmentos da educação básica, 
mas, naturalmente, na formação de professores 
alfabetizadores. Por que, diabos, todas aquelas coisas 
boas, que havia descoberto sobre esse grande pensador, 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
77 
 
não foram ofertadas a mim quando da minha formação 
docente? Por que, de certa forma, Paulo Freire foi sacado 
da grade curricular de um curso de licenciatura? 
Com o tempo, com mais leitura, mais discussão sobre 
o assunto, fui consolidando o entendimento pessoal de que 
existem motivos claros ligados, desde a xenofobia, até 
mesmo, a luta de classes, também ouvi do professor 
Romão, supracitado, em suas entrevistas, atribuir essa 
tentativa de apagar ou diminuir a história de Freire por 
conta da sua falta de títulos protocolares (diplomas e 
certificados), porém, respeitosamente discordando do 
referido professor que é a maior referência que temos e 
responsável por manter vivo esse legado. Continuo 
considerando que o pensamento de Paulo era tão 
libertador e tão ameaçador no sentido de abrir os olhos do 
trabalhador para seus direitos, dos alunos para seus 
sonhos, dos analfabetos para sua esperança que a Elite 
desse país sempre o preteriu e minimizou sua importância 
ao longo da história, negligenciando sua apresentação e o 
poder revolucionário da camada mais desfavorecida da 
população, seja negando o direito dos professores em 
conhecê-lo, suprimindo-o das grades curriculares nos 
grandes conglomerados universitários, seja “esquecendo” 
de Paulo nos impérios comunicacionais ou, até mesmo, 
financiando a propaganda de seu nome com o conceito 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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mais equivocado do comunismo, ou como o próprio nos 
contou, atribuindo seu nome a um “status” diabólico. 
De qualquer forma, o resultado de toda essa 
intencionalidade, porque há intencionalidade, sempre foi 
esconder sua “teoria da libertação” e seu espírito de 
esperança, de transformação da escola e da sociedade 
brasileira. 
Negar a importância de Paulo Freire para a sociedade 
ou estritamente para a ciência pedagógica não faz sentido. 
Esse conceito distorcido de que o professor pernambucano 
é responsável pelas mazelas do nosso processo de ensino 
aprendizagem não condiz, absolutamente, com a 
apreensão da realidade. 
A educação brasileira tem, na teoria de Paulo Freire, 
muitos livros assentados, mofando em bibliotecas, ou até 
mesmo fragmentos de suas teorias para o bem ou para o 
mal, na verbalização docente, porém, assim como afirma o 
professor José Eustáquio, que viveu e conviveu com o 
grande mestre, não encontramos, em nenhuma escola, ou 
quase nenhuma, os traços do espírito de Paulo freire na 
essência da práxis aplicada seja, pedagogicamente, ou, 
até mesmo, socialmente, nas relações interpessoais da 
escola. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Alguns atacam suas teorias com o argumento de 
práticas fracassadas como a da introdução de Ciclos no 
ensino, que se confunde com o fim da retenção seriada, 
que fomentou muito a exclusão por abandono escolar de 
jovens e crianças. Registra-se que o sistema de Ciclos foi 
implementado por Freire, quando secretário da Educação 
na gestão da então prefeita Luiza Erundina (PT). Não se 
tratava de aprovação automática, porém de progressão 
continuada, oportunizando ao aluno um maior tempo de 
consolidação da aprendizagem dos seus conhecimentos, 
lembrando que, se ainda assim houve algum tipo de 
fracasso na aplicação dessa política pública, não foi, de 
longe, culpa de seu idealizador e promotor, mas da 
equivocada aplicação, somada à incapacidade de 
recuperar a aprendizagem daquele aluno dentro do ciclo de 
aprendizagem individual de cada pessoa. 
Lembremo-nos que a importância de sua obraé 
corroborada pelas maiores Universidades do mundo; a sua 
grande obra “pedagogia do oprimido”, simplesmente figura 
entre as cem obras mais recomendadas por universidades 
de Língua Inglesa no mundo; o educador pernambucano 
agora é citado em um novo e impressionante título de 
reconhecimento: Paulo Freire é o terceiro pensador mais 
citado do mundo em universidades da área de humanas. O 
levantamento foi feito através do ”Google Scholar” 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
80 
 
ferramenta de pesquisa para literatura acadêmica por Elliot 
Green, professor associado da London School of 
Economics. Segundo ela, Freire é citado 72.359 vezes, 
atrás somente do filósofo americano Thomas Kuhn 
(81.311) e do sociólogo, também americano, Everett 
Rogers (72.780). 
Por esses e por muito mais fatos gravados e 
consolidados nas colunas da universalização e democracia 
política educacional, negar a importância desse autor é 
negar a importância da ressignificação e transformação da 
Educação brasileira. 
Paulo Freire é referência pelo mundo, sua teoria 
aproxima o conteúdo acadêmico da vida simples dos 
estudantes, oferecendo a possibilidade de que esses se 
apropriem de suas próprias educações e sejam senhores 
de suas vidas. Para ele, estudar não era um ato de 
inventar, mas, sim, de recriar. 
Assim, o autor nos ensinava, em sua obra “Pedagogia 
do Oprimido”: 
“[É necessário] Criticar a arrogância, o autoritarismo de 
intelectuais de esquerda ou de direita – no fundo, da 
mesma forma reacionários – que se julgam proprietários: 
os primeiros do saber revolucionário, os segundos do saber 
conservador; criticar o comportamento de universitários 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
81 
 
que pretendem conscientizar trabalhadores rurais e 
urbanos sem com eles se conscientizar também; […] 
buscam impor a superioridade de seu saber acadêmico às 
massas ‘incultas’”. 
Aqui, essas “forças” seguem tentando diminuir o 
legado desse que é, de longe, um dos maiores nomes da 
educação mundial; por isso, consta nestas páginas sobre 
formação docente. 
A leitura de sua obra é obrigatória, sua ressignificação 
na prática docente é fundamental e seu ensino e 
disseminação das suas teorias deve ser obrigatória em 
qualquer reforma educacional que ocorra no futuro deste 
país. 
Por isso, comecei a introdução falando que esse era o 
capítulo mais importante deste despretensioso livro e 
término tendo mais certeza ainda, ratificando que um 
profissional da educação brasileira que não aplica Paulo 
Freire não tem conhecimento sobre o ato de resistência e 
de amor e o significado que essa “ideia” pode trazer para a 
sua prática. 
Paulo Freire é uma ideia, e uma ideia não morre. 
Avante “Freireanos, vamos Freirear”! Viva a educação! 
Viva Paulo Freire! 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
82 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
83 
 
CAPÍTULO 8 
A genealogia dos micropoderes... 
Michel Foucault 
Desde pequenos, nós convivemos com figuras 
místicas e que romantizam nossas fantasias a respeito do 
“mundo paralelo” em que vivem os super-heróis. Torcemos 
por eles, odiamos os vilões, em geral, nós nos vemos nas 
personagens mais fracas que lutam contra as mais fortes. 
Afinal, se olharmos para o mundo em que vivemos, 
claramente iremos nos deparar com dificuldades e 
injustiças a todo momento durante a nossa caminhada 
nesta vida. 
Será que todos nós pensamos da mesma forma? Será 
que todos foram emergidos na concepção pedagógica do 
lúdico, do brincar? Será que muitos de nós, já adultos, 
ainda nos identificamos com essas personagens? Isso 
pode nos beneficiar de alguma forma? 
Para responder a essas questões, vamos falar um 
pouco do pensamento de Michel Foucault (1926-1984), um 
dos mais conhecidos e estudados filósofos franceses, por 
certas teorias, tanto entre os estruturalistas como entre os 
pós-estruturalistas ou pós-modernos. De sua grande obra, 
interessa-nos discutir aqui apenas a teoria do poder... 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
84 
 
Anteriormente ao filósofo Foucault, a teoria política 
concebia o poder como algo que alguns têm, outros não. 
Toda teoria política clássica, de Maquiavel e os 
contratualistas (Locke e Rousseau) até Marx, discutia-se 
como legitimar o poder de uns poucos sobre muitos e, 
assim, manter (ou subverter, no caso de Marx) a ordem 
social. 
Foucault entende o poder como uma prática social. Por 
isso, temos que pensar o poder como um ato exercido, 
vivido no cotidiano, algo que se dá não de forma natural 
como um chefe para seu empregado ou de um senhor para 
seu súdito, ou de um governante para seus secretários, 
mas, sim, cotidianamente em todas as relações. 
Para descobrir como o poder funciona, Foucault vai 
usar o método genealógico, empregado por Nietzsche. 
Uma demonstração externa desses poderes 
analisadas pelo filósofo diz respeito aos seus efeitos sobre 
os corpos, que ele chama de “poder disciplinar”, 
caracterizada em determinadas sociedades no século XX. 
Foucault argumenta que nenhum poder que fosse 
somente repressor poderia se sustentar por muito tempo, 
porque, uma hora, as pessoas iriam se rebelar. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
85 
 
Portanto, seu segredo é que, ao mesmo tempo em que 
reprime, gera conhecimento e corpos produtivos para o 
trabalho. 
Não é incomum que, internamente, no ambiente 
escolar, deparemo-nos com quadros de escolas que 
estabelecem uma rotina mecanizada para seus alunos, 
como na entrada, na formação de filas, cântico regular do 
hino nacional e regras de “cultura de sala de aula”, muitas 
vezes, adotadas unilateralmente pela autoridade civil do 
professor. 
Aqui faz-se o registro que a “cultura de sala de aula”, 
assim como toda discussão que direcione as políticas 
educacionais internas da escola devem sempre estar 
pautadas em princípios democráticos (realistas), 
pragmáticos e não apenas teóricos, calcados em 
ambientes dialógicos que devem ser garantidos pelos 
atuais gestores de escola, que, diga-se de passagem, não 
colocam em prática e nem defendem esses princípios, 
salvo em verbalizações e confecção de documentos 
pedagógicos. 
Nas salas de aula por todo o Brasil, condicionamos as 
crianças, continuamente, a “controlar o tom de voz”, 
posicionar-se de forma ereta na carteira, em fila, a escrever 
dentro das linhas e desenhas dentro dos limites 
estabelecidos, ou seja, inclusive, a não produzir a arte, a 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
86 
 
dança e a alegria do teatro, que raramente são 
incentivadas. 
Horários para fazer xixi, horário para comer, horário 
para falar, fragmentação de matérias com horários 
específicos para ensino ou a participação do aluno em 
determinada aula, sem nunca estabelecer um diálogo 
propositivo para as reais perspectivas dos alunos quanto a 
essas “regras”. 
Lembremo-nos que essa escola toma forma após a 
“Revolução Pós-Industrial” e que coloca esse organismo a 
serviço desse contexto histórico que, por sua vez, serve 
plena e irrestritamente aos interesses da burguesia, classe 
dominante que mantém o monopólio dessas indústrias. 
O objetivo de todo esse processo, segundo Foucalt, 
dá-se para viabilizar e potencializar, na prática, a utilidade 
econômica de nossos corpos. 
Afinal, o que seria da nossa sociedade se as pessoas 
desejassem viver no “ócio criativo”, como afirma Domenico 
De Masi, ou ainda, fossem ensinadas a viver a vida 
fazendo o que lhes desse valor emocional e aprendessem 
a superar as questões financeiras em detrimento das 
emocionais, ou se, como num ato revolucionário, a escola 
se colocasse a serviço da educação para a vida, para a 
harmonização das relações interpessoais e priorizasse a 
A dialéticana formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
87 
 
discussão da ética com base na filosofia, na música, no 
teatro e nas artes corporais, com foco no meio ambiente e 
na sustentabilidade da saúde mental e corporal. 
É importante registrar aqui que não é só o Estado que 
adota políticas públicas educacionais reacionárias que 
determinam o fortalecimento da cultura mecânica para 
levar-nos à prática de utilidade de nossos corpos a serviço 
da economia. 
Temos que lembrar que essa cultura está arraigada na 
nossa história, são recorrentes os casos concretos de 
“abuso de autoridade”, casos de racismo, casos de 
feminicídio, que demonstram a necessidade de tratarmos 
desse assunto e combatê-lo, principalmente no ambiente 
orgânico da escola, sendo que essa deve ser a resistência 
do professor. 
Para Foucalt, muitos são os locais de “foco de 
resistência aos poderes”, como, por exemplo, coletivos que 
resistem a favor dos direitos de minorias, como indígenas, 
negros, homossexuais, etc... 
Os super-heróis são anônimos e, parafraseando 
Nietzsche, nesse mundo pós-moderno, eles estão cada 
vez mais, demasiadamente humanos, ou seja, a partir 
dessa reflexão, todos nós poderemos ser heróis, inclusive 
para estabelecer “micro resistências” que visem o bem-
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
88 
 
estar dos nossos alunos e professores e, 
consequentemente, fomentem uma luta pelo bom, pelo 
justo e pelo melhor do mundo, para recordarmos a grande 
Olga Benário (1908 a 1942). 
O autor Silvio Gallo, pedagogista e filósofo brasileiro, 
autor de uma série de publicações fundamentais que o 
tornaram um dos principais expoentes da pedagogia 
libertária no Brasil, tem um artigo muito interessante, 
denominado “EM TORNO DE UMA EDUCAÇÃO MENOR” 
(2002). 
O artigo supracitado trata exatamente do convite à 
reflexão, principalmente com base na literatura filosófica 
italiana, calcada nos escritos do autor (Negri 2001). 
“E se nos pusermos a pensar em educar como um cão 
que cava seu buraco, um rato que faz sua toca? No deserto 
de nossas escolas, na solidão sem fim – mas 
superpovoada – de nossas salas de aula, não seremos, 
cada um de nós, cães e ratos cavando nossos buracos? 
Toni Negri tem afirmado que já não vivemos um tempo de 
profetas, mas um tempo de militantes; tal afirmação é feita 
no contexto dos movimentos sociais e políticos; hoje, mais 
importante do que anunciar o futuro, parece ser produzir 
cotidianamente o presente, para possibilitar o futuro. Se 
deslocarmos tal ideia para o campo da educação, não fica 
difícil falarmos num professor-profeta que, do alto de sua 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
89 
 
sabedoria, diz aos outros o que deve ser feito. Mas, para 
além do professor-profeta, hoje deveríamos estar nos 
movendo como uma espécie de professor-militante que, de 
seu próprio deserto, de seu próprio terceiro mundo, opera 
ações de transformação, por mínimas que sejam.” (Gallo 
2002) 
Assim afirma (Negri 2001): 
“Hoje não há mais profeta capaz de falar do deserto e 
de contar o que sabe de um povo porvir por construir. Só 
há militantes, ou seja, pessoas capazes de viver, até o 
limite, a miséria do mundo, de identificar as novas formas 
de exploração e sofrimento, e de organizar, a partir dessas 
formas, processos de libertação, precisamente porque têm 
participação ativa em tudo isso. A figura do profeta, seja ela 
a dos grandes profetas do tipo Marx ou Lênin, está 
ultrapassada por completo. Hoje, resta-nos apenas essa 
construção ontológica e Constituinte 'direta', que cada um 
de nós deve vivenciar até o limite (...) Creio, portanto, que, 
na época do pós-moderno e na medida que o trabalho 
material e o trabalho imaterial já não se opõem, a figura do 
profeta – ou seja, a do intelectual – está ultrapassada 
porque chegou a ser um total acabamento; e é nesse 
momento que a militância se torna fundamental. 
Precisamos de pessoas como aqueles sindicalistas norte-
americanos do começo do século, que pegavam um trem 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
90 
 
para o Oeste e que, a cada estação atravessada, paravam 
para fundar uma célula, uma célula de luta. Durante toda a 
viagem, eles conseguiam trocar suas lutas, seus desejos, 
suas utopias. Mas, também, precisamos ser como São 
Francisco de Assis, ou seja, realmente pobres: pobres, 
porque é somente nesse nível de solidão que podemos 
alcançar o paradigma da exploração hoje, que lhe 
podemos captar a chave. Trata-se de um paradigma 
'biopolítico', que atinge tanto o trabalho quanto a vida ou as 
relações entre as pessoas. Um grande recipiente cheio de 
fatos cognitivos e organizacionais, sociais, políticos e 
afetivos...” (Negri, 2001, p. 23-24). 
Diante do excerto supracitado parece-nos muito clara 
e justa a reflexão do autor que visa a busca da luz e a 
natural introdução do professor na consciência política que 
vise a prioridade de reumanizar a educação dentro da 
escola, alicerçada na humanização do indivíduo e não na 
sua “coisificação” para servir o capital econômico, pura e 
simplesmente. 
No ano de 2020, o Governo do Estado de São Paulo, 
com base nos novos conceitos elaborados na reforma 
BNCC (Base Nacional Comum Curricular), estabeleceu um 
programa nas escolas paulistas que davam uma excelente 
autonomia para que as escolas desenvolvessem “matérias 
eletivas”. Evidentemente, trata-se da elaboração, do 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
91 
 
planejamento e da eleição (escolha) dos alunos para 
frequentarem essas matérias que lhes agradassem. Cabe 
dizer aqui que o projeto não é ruim, mas deve ser mais bem 
orientado. 
Nesse ano, tomei conhecimento que uma professora 
dos Anos Iniciais, que havia atribuído essa modalidade de 
aula, tinha a vontade de fazer algo diferente, então a 
mesma veio aconselhar-se pedagogicamente comigo, que 
desejaria trabalhar o tema da defesa da mulher e seus 
direitos, nessa aula que seria ofertada ao Ensino Médio. 
Imediatamente, coloquei-me à disposição da referida 
docente, e saímos da reunião com muitas ideias para que 
a mesma apresentasse seu trabalho para o grupo de 
professores. 
A matéria fora nominada “Lute como Uma Garota”. 
Após a apresentação técnica para o grupo de professores, 
houve muita resignação por parte do corpo docente para 
aceitar a pauta da referida matéria que, repito, tratava-se 
de questões de direitos de minorias, feminismo, direitos 
das mulheres e linha histórica dentro da matéria, 
valorizando a história das mulheres. 
O contra-argumento dos colegas era que os meninos 
não iam participar, que isso não era assunto para a escola, 
ou para a idade, dentre outros. Enfim, resistimos eu e a 
referida docente, e conseguimos registrar a matéria que foi 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
92 
 
plenamente desenvolvida durante o ano e que apresentou 
“produto final” muito satisfatório para quase vinte jovens. 
Esses são exemplos de “micro resistências” que são 
efetivadas por professores, nas escolas, todos os dias, 
contra superiores e preconceitos estruturais, e que não 
partem diretamente do Estado, mas, sim, da cultura da 
escola. 
Sendo assim, que a reflexão deste capítulo também 
seja uma reflexão e um chamamento para que os 
professores rompam com esse ciclo vicioso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
93 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
94 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
95 
 
CAPÍTULO 9 
Pragmatismo político e pedagógico 
emergencial 
O pragmatismo, surgiu no século XVIIII por um grupo 
de filósofos norte-americanos em Cambridge, 
Massachusetts. É uma corrente da filosofia muito estudada 
até hoje em diversospaíses do mundo. 
O correto seria falar em pragmatismos, dadas as 
nuances com que diferentes autores trataram o termo, 
desde os clássicos (Charles S. Peirce, William James, John 
Dewey e Ferdinand Schiller) até os contemporâneos 
(Lewis, Quine, Putnam, Davidson e Richard Rorty, entre 
outros). 
Em sua formulação original, feita por Charles Sanders 
Peirce (1839-1914) em 1877-78 e reformulada em 1905, o 
pragmatismo é um método filosófico cuja máxima sustenta 
que o significado de um conceito (uma palavra, uma frase, 
um texto ou um discurso) consiste nas consequências 
práticas concebíveis de sua aplicação. 
Por tudo já discutido aqui, sabemos que estamos 
diante de uma conjuntura extremamente delicada em que 
não há interesse em nenhum dos lados, seja por uma 
questão cultural, econômica, política ou governamental de 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
96 
 
transformar todo o sofismo da retórica política em avanço 
nas condições de trabalho, bem-estar social e, 
consequentemente, na consolidação e no avanço da 
qualidade do sistema educacional. 
Sendo assim, penso que já é passada a hora de 
cessarmos as reclamações individuais, as reclamações 
genéricas, aleatórias que morrem na sala dos professores 
e começarmos a pôr em prática nosso discurso de 
insatisfação para o mundo social. 
Para a corrente “Pragmatista” (Norte-Americana) todo 
o fundamento calcava-se na realidade material, e não 
apenas no discurso. Por exemplo: Não basta dizer que 
“João é honesto”, é preciso acompanhar o comportamento 
de João a partir de agora e toda sua prática por intermédio 
da observação e dos estudos para poder afirmar que João 
é honesto. 
Politicamente falando, o professor sabe que só 
impediremos mais perdas, ou que só conseguiremos 
reestabelecer alguns poucos direitos ou evitar “reformas” 
que só servem para piorar nossas condições de trabalho, 
se estes se organizarem, lembrando que as grandes 
conquistas na história do campo democrático só se deram 
por intermédio da luta coletiva dos trabalhadores. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
97 
 
Estamos vivendo uma geração que só pensa de forma 
individual, e essa é a representação mais triste do “produto” 
do capitalismo. Os jovens desses tempos querem 
simplesmente viver o hoje, não se preocupam com o 
passado, muito menos com o futuro, e esse individualismo 
é a fórmula perfeita para que toda e qualquer organização 
do trabalhador sucumba por uma ordem egoísta, a de cada 
um por si. 
O que quero dizer é que somente existem duas formas 
de exercer a política em nosso país, e ambas já estão 
criminalizadas e demonizadas, uma é por intermédio dos 
partidos políticos, outra por intermédio dos sindicatos. 
Percebam que ambas carregam a marca da 
deslegitimação da Classe Burguesa, na qual se incluem o 
Estado, os partidos políticos, as Universidades que formam 
professores e os Meios de comunicação. Todos lutam 
contra o estabelecimento de coletividade dos 
trabalhadores na educação. 
Os professores de hoje em dia, especialmente os mais 
novos, endossam o discurso da negação política, 
justamente essa negação que parte da Elite e consegue 
convencê-los que a política, a luta, não valem a pena, com 
discursos do tipo, todo político é ladrão, a política é suja, 
nos sindicatos só há corrupção, ou seja , se eu conseguir 
convencer o trabalhador que o único caminho de luta não 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
98 
 
é válido, se conseguir desqualificar aqueles que lutam pela 
coletividade, uns pelos outros e marginalizá-los, colocar 
eles isolados de seus pares, não haverá caminho nem para 
reformas que melhorem a vida do trabalhador e muito 
menos que consigam exercer movimentos de resistência 
na educação. 
Esse comportamento de tentarmos, a qualquer custo 
calar, isolar e marginalizar quem questiona, quem enfrenta, 
quem não só faz a leitura, mas aponta ao público o 
equívoco de práticas ou políticas, já em curso na educação 
há muito tempo e que é um subproduto do movimento 
Ditatorial Cívico Militar da segunda metade da década de 
60. 
A escola é uma das poucas instituições que foi 
preparada para exercer, na prática, o projeto da burguesia 
reacionária, que queria formar cidadãos alienados, 
apolíticos, que obedecessem sem questionar e que, 
consequentemente, não se sentissem capazes de lutar 
pelo bem-estar social do seu coletivo, seja ele qual fosse. 
Dessa forma, essa instituição, que é um órgão de 
Estado, composta por professores que, em sua imensa 
maioria, olham, vivem e entendem a escola de maneira 
totalmente distorcida, porque foram formados para isso, 
para que continuassem esse processo de afogamento nas 
tarefas burocráticas, circunstanciais e minoritárias em 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
99 
 
detrimento da conscientização política do ser, da 
construção de uma ideologia justa, honesta e empática 
para com a sociedade. O resultado, obviamente, não 
poderia ser outro... 
Erramos enquanto agentes (operários) da educação 
que têm o poder e a função moral de transformar nossos 
cidadãos e entregamos ao mundo social o que a burguesia 
nos pede, jovens que são incapazes de pensar, de sofrer a 
dor do outro, que odeiam política e, consequentemente, 
vão vender aos seus toda essa falta de expectativa 
adquirida numa escola que apenas ensina as 
competências e habilidades para executar e atender a 
demanda do Capital. 
Por isso, é chegada a hora de romper com esse Ciclo 
improdutivo Pedagógico, é hora de colocar Paulo Freire em 
prática, é hora de questionar as políticas públicas que 
reproduzimos por décadas “in loco” que foram pensadas 
por pessoas que estão a serviço da burguesia e do Projeto 
de manutenção do sucateamento da educação. 
Essa mudança passa, primeiramente, pelo despertar 
do agente mais importante do processo de ensino, o 
professor, aquele que está na sala de aula com quarenta 
alunos, aquele que ouve todos os dias queixas sobre saúde 
mental, aquele que é pressionado a cumprir prazos para 
atender políticas públicas estabelecidas sobre a qual ele 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
100 
 
sequer foi consultado, aquele que atende o pai 
entorpecido, agressivo, que é exposto, ameaçado e 
agredido. É esse sujeito que precisa se conhecer como 
peça fundamental na engrenagem educacional. 
Quando o professor entender que ele é bom o 
suficiente para ser avaliado e tem corroboração de quem 
mais importa nesse processo, que é o seu aluno e a sua 
comunidade, ele se sentirá muito à vontade e seguro para 
expor as suas discordâncias, de questionar o sistema do 
qual faz parte, de exigir uma perspectiva, não apenas de 
execução de Projetos, mas de elaboração dos mesmos. 
Ele irá perceber que também pode despertar aqueles que 
são seus amigos, que gostam dele, que o veem como 
exemplo e que, muitas vezes, são induzidos a odiá-lo mais 
tarde como servidores que são, porque, de certa forma, os 
próprios professores formaram esse sujeito para isso. 
O caminho é que, respaldados no devido processo 
legal, e agindo sob o manto do Direito à livre expressão e 
pelo livre exercício docente, o professor consiga fazer seu 
aluno abrir os olhos, consiga fazê-lo questionar a Igreja 
(não a denominação), o Estado (não o partido político), 
porque isso faz parte da emancipação e é justamente essa 
emancipação que não estamos garantindo ao sujeito 
aprendiz. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
101 
 
Por que um docente não pode assistir a um filme 
didático que não esteja no currículo para justificar uma roda 
de conversa? Por que não pode inovar na forma que 
apresenta um trabalho? Por que não pode liderar um 
grêmio estudantil? Por que não pode ensinar seu aluno a 
protocolar uma reclamação numa repartição pública, 
inclusive em sua própriaescola? 
Tenhamos coragem para mudar nosso mundo a partir 
da educação e não o contrário. Defendamos nossos alunos 
e ensinemos desafiar os colegas que os chamam de “lixo” 
no intervalo, aqueles que estigmatizam crianças 
simplesmente por preconceito ou pelo “modus operante” 
da escola burguesa, que não acolhe, que não recupera, 
mas que exclui, que agride, que se vinga, que compete e 
que adestra. 
A saída passa por reformas de Estado, com políticas 
públicas, passa pela reforma de currículo nas 
Universidades que devem ser cobradas, mas passa, 
principalmente, pela sua reforma como profissional da 
educação e pela transformação do seu ambiente de 
trabalho. Sendo assim, quando você começar a exercer 
realmente sua função com base nas teorias e referenciais 
teóricos do passado, haverá mudanças significativas que 
começarão nas escolas e passarão pelas faculdades para 
chegarem até os partidos políticos a fim de que, algum dia, 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
102 
 
essas pessoas percebam a importância da educação e 
consigam retribuir sua colaboração para um mundo 
melhor, porque aprenderam assim no lugar mais 
importante de uma sociedade civilizada, a escola. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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103 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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104 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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105 
 
CAPÍTULO 10 
“Formação Docente On Line” 
No início do ano Dois Mil e Vinte, o Planeta Terra e a 
sociedade mundial atravessaram uma das maiores crises 
sanitárias e econômicas da sua história. 
Essa intercorrência agravou-se durante os meses e 
consolidou uma mudança muito profícua no “modus 
operandi” do sistema de trabalho mundial, potencializando 
o trabalho remoto, denominado por vários termos (Home 
Office, Home Work, Teletrabalho...) 
Na área educacional, surge um dos maiores desafios 
da história para o sistema educacional mundial. Mesmo em 
países ditos de primeiro mundo há muita dificuldade de 
abarcar e engajar cem por cento dos alunos que, outrora, 
frequentavam “in loco” a escola. 
Muitos são os problemas que impõem dificuldades a 
esse novo formato educacional, que, diante do fechamento 
imperativo das redes educacionais, fez-se impositivo, entre 
eles, a questão da dificuldade de acesso por limitações 
financeiras, a falta de disciplina dos alunos, a carência dos 
professores e o atraso em relação ao manejo de softwares 
nunca dantes apresentados aos mesmos, além da própria 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
106 
 
vulnerabilidade por falta de meios para que os docentes 
pudessem exercer minimamente suas funções. 
Superados esses desafios, pelo menos parcialmente, 
muito por um esforço governamental dos Estados, como a 
“doação” de chips, financiamento de aparelhos 
tecnológicos subsidiados, disponibilização de tablets para 
os alunos, internet potencializada nas escolas e muito 
investimento em infraestrutura, com a aquisição de 
roteadores, televisores, câmeras, notebooks, tablets e 
celulares para as escolas. 
Nesse contexto, existem ainda muitos desafios a 
superarmos, além da oferta (relativa), diga-se de 
passagem, de instrumentos para amenizar os impactos da 
distância corporal entre alunos e professores, ainda 
estamos muito longe do subsídio mínimo, apropriado para 
o desenvolvimento dos trabalhos. 
Registra-se aqui que, durante todo esse tempo, os 
docentes e as Equipes Gestoras das escolas, bem como 
os órgãos centrais, como Diretorias de Ensino e órgãos 
supervisores, realizaram o possível e, até mesmo, o 
impossível, para realizar toda essa transição do ensino 
presencial para o “virtual”. 
Não era raro termos notícias de professores que iam 
buscar e levar atividades nas casas dos alunos, de 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
107 
 
professores que gravavam vídeos, explicavam a matéria 
por telefone ou pelo WhatsApp, não só ao aluno, mas 
também ao pai. Os docentes não tinham horário para 
atender aos pais, por isso, muitas vezes, tomavam para si 
problemas de ordem social, familiar e psicológica, porque 
ali estavam como representantes do Estado e eram vistos 
como tais. Por outro lado, mais do que nunca ficou clara a 
importância fundamental da instituição escola e, 
consequentemente, da figura dos nossos professores, que, 
inúmeras vezes chegaram a ser pressionados, carregando 
nas costas, durante esse tempo, de certa forma, o preço do 
fracasso do ensino remoto. 
Instituições e coletivos, boa parte de figuras elitistas, 
tentando atuar e legitimar sua ideia a qualquer custo, 
trabalharam no sentido de jogar a sociedade contra os 
professores, como se esses fossem os responsáveis pelo 
fechamento das escolas. 
O resultado de todo esse contexto foi o agravamento 
de problemas de saúde mental dos professores que se 
cobraram excessivamente quando do aprofundamento do 
processo de fechamento das escolas. 
Dentro desse contexto, damos luz a um tema mais 
relevante para todos os interessados na leitura deste livro, 
a formação docente. 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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Toda a formação dos professores começou a ser 
concretizada via “google meet”, para o formador. Coube a 
aceitação da situação e começar a ensinar professores, 
muitas vezes, totalmente alheios às práticas da 
informática, sendo que, em certos casos, houve o ensino e 
a formação de até como o professor deveria acessar 
programas, printar tela, abrir microfone, arquivar e enviar 
documento. Logo se constatou que essa era uma barreira 
prioritária a se vencer. 
A partir da superação desse grande primeiro desafio, 
registra-se que surgiu a necessidade concreta de 
mudanças de “softwares” e programas, sempre visando à 
melhoria da eficiência do trabalho entregue à sociedade. 
Seguidamente, de forma injusta, e na ânsia de 
fazermos os professores entregarem o que fora solicitado, 
surgiam afirmações que questionavam alunos, pais e 
professores a respeito da inabilidade de atender algumas 
tarefas, quando esses mesmos autores tinham habilidades 
para usar programas comerciais com fins sociais. 
Isso ocorre da fala de quem deseja se retirar da 
obrigação de formação e da oferta de condição para que 
professores desenvolvam seu trabalho. 
No Ano de 1997, cursava a terceira série do ensino 
Fundamental I na Escola Estadual Galileu Menon, e 
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lembro-me como se fosse hoje da euforia dos alunos pela 
chegada de uma máquina com a promessa de que 
teríamos aulas de informática. Desde então, formei-me no 
ensino básico, no superior, ingressei via concurso na 
função docente e, desde então, passando por inúmeras 
escolas estaduais, nunca, absolutamente nunca, me 
deparei com uma escola que tivesse uma sala de 
informática em pleno funcionamento. 
Ora, sendo assim, mais uma vez, eu como fruto da 
Escola Estadual, não recebi a educação que deveria ter 
recebido no que tange à informática, voltei para o mesmo 
núcleo como profissional e, assim como eu, milhares de 
professores (filhos da educação básica) voltaram como 
profissionais e demonstraram a fragilidade e o problema da 
formação básica e contínua no caso do professor em 
relação à tecnologia. Isso nos sugere que devemos 
aproveitar a atual oportunidade para, a partir de agora, 
aperfeiçoarmos e darmos plenas condições de trabalho 
para o desenvolvimento da atividade docente e da 
pesquisa por parte dos alunos. 
No mais, sempre houve muito esforço por parte de 
todos, inclusive das secretarias de educação. 
Sendo assim, diante de todo o exposto, neste 
momento, cabe a nós formadores não deixar consolidar um 
esvaziamento e uma desmotivação diantedas funções tão 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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importantes, sempre acolhendo e explicando todo esse 
processo histórico para tirar das costas desses professores 
esse peso de fracasso, principalmente, nos medos, e até 
pavor, desses profissionais que nunca foram preparados 
minimamente para estar diante desse desafio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO 11 
“REFORMA EDUCACIONAL, PRECISAMOS 
PASSAR PELA RESIDÊNCIA ESCOLAR” 
Caro leitor, professor formador. Diante de todo o 
exposto nesta obra, é mais do que urgente que passemos 
a considerar e a cobrar uma grande reforma educacional 
que se faz urgente, principalmente no que tange à 
formação básica ofertada pelas universidades e, também, 
pela formação contínua, ofertada por órgãos do executivo. 
Existem Projetos de Lei, parados no Congresso 
nacional, que pretendem reformar a área de estágios 
dentro do currículo da formação inicial do professor durante 
a sua formação. 
Um desses Projetos trata da “Residência Docente”, 
que tem como um de seus objetivos principais a formação 
de professores pesquisadores, voltados para o estudo e a 
análise científica permanente da carreira docente e de suas 
práticas, usando como base a reflexão crítica. 
A Profª Magali Silvestre, percursora de uma 
experiência muito exitosa de um Projeto que compõe o 
Programa do Curso de Pedagogia do campus de 
Guarulhos da UNIFESP, apresenta, como argumento para 
sua tese, a seguinte citação: 
A dialética na formação docente – Thiago Gomes Soares 
 
 
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“Em meados dos anos 2000, a recorrente crítica, 
direcionada à forma de organização dos estágios 
curriculares obrigatórios dos cursos de licenciaturas no 
Brasil, acompanhou o despontar da ideia de “residência” 
para a formação de professores para a educação básica, 
tendo, como marco, o Projeto de Lei do Senado no. 
227/2007, que visava instituir a residência educacional a 
professores da educação básica, indicando mudanças na 
LDB 9394/96. Hoje se verificam várias iniciativas pontuais, 
cujas propostas se direcionam tanto para os processos de 
formação inicial como de formação continuada de 
professores e que possuem, como elemento comum, a 
formação mais próxima do campo de trabalho do professor 
– a escola. No entanto, a maioria dessas iniciativas e os 
estudos sobre a temática ainda são pouco conhecidos.” 
(SILVESTRE, 2020) 
Entendemos que não há caminho para a melhora da 
formação docente e, consequentemente, o êxito 
educacional fora das linhas formativas que darão ao 
professor um melhor discernimento e uma maior 
competência no desenvolvimento de ação da sua práxis. 
Para isso, reafirmamos que alguns pontos serão 
retomados aqui de forma concisa: 
• Reforma educacional. 
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• Concurso Público para o cargo de formador. 
• Desvinculação da deliberação do Diretor de Escola 
sobre a autonomia de cessação de função, sendo essa 
competência atribuída ao comitê regional de representação 
pedagógica, formado por supervisores e professores. 
• Blindagem de professores formadores no 
desenvolvimento do seu trabalho, atribuindo-se sanção 
aos gestores que não respeitarem a legislação a respeito 
do Desvio de Função. 
• Exigência de matrícula de professores em cursos 
oferecidos pelo órgão competente. 
• Pós-Graduação em nível Educacional, ou 
pedagogia, para professores licenciados em outros cursos. 
• Remuneração justa e adequada para exercer função 
de tamanha importância. 
• Criação de Grupos de referências e estudos 
regionalizados que deliberem sobre a homologação da 
designação desses professores. 
• Plano de carreira. 
• Escola de Formação que qualifique 
permanentemente os docentes. 
 
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