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DIREITO PROCESSUAL PENAL - INDICIAMENTO Inquérito Policial e Ministério Públic1

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INQUÉRITO POLICIAL ORIGEM, TESE DE INCONSTITUCIONALIDADE E CONCEITO
ORIGEM, TESE DA INCONSTITUCIONALIDADE E CONCEITO
A Lei da Prisão Temporária, Lei nº 7.960/89, foi estabelecida com o objetivo de aprimorar as investigações criminais em casos de crimes considerados graves. Além disso, seu propósito era erradicar o que se chamava de "prisão para averiguações". Essa intenção está claramente expressa na Exposição de Motivos da Lei nº 7.960/89, que afirmou: "a prisão só pode ser executada depois da expedição do mandado judicial. Com isso, busca-se impedir que a representação policial se converta em uma mera comunicação ao Poder Judiciário."
Em termos conceituais, a prisão temporária é uma medida cautelar, com um prazo de duração pré-definido, aplicável exclusivamente na fase do inquérito policial. Ela tem o propósito de deter um indivíduo devido à suspeita de envolvimento em crimes considerados graves, listados explicitamente na legislação.
É importante destacar que a Lei da Prisão Temporária surgiu da conversão da MP 111/89, o que, para alguns doutrinadores, poderia representar um vício de inconstitucionalidade formal. A alegação era de que o Poder Executivo estaria legislando sobre Direito Penal e Direito Processual Penal, o que iria contra o disposto no art. 22, inc. I, da Constituição Federal (CF/88), que determina a competência exclusiva da União para legislar sobre essas matérias. No entanto, vale ressaltar que a tese da inconstitucionalidade não foi acatada pelo Pleno do STF, que, por maioria de votos (8 a 2), deliberou que a ADI perdeu o objeto, pois a Lei n.º 7.960/89 não teve origem na conversão da MP 111/89.
O Procurador de Justiça do Estado da Bahia, Rômulo de Andrade Moreira, emitiu parecer no Habeas Corpus n. 0013447-21.2015.8.05.0000, que tramita no TJBA, sustentando a inconstitucionalidade da Prisão Temporária, também conhecida como prisão para averiguações, conforme previsto na Lei nº. 7.960/89. Moreira argumentou que a prisão temporária representava uma inversão na ordem legal de procedimento, uma vez que a investigação, com raras exceções, deveria ocorrer previamente à prisão, e não o contrário. Prender alguém presumidamente inocente para só depois investigar seria uma grave afronta ao Estado Democrático de Direito, sendo considerado inconstitucional e uma forma de tortura psicológica para obter confissões, representando um resquício do sistema inquisitorial que precisa ser superado.
A Lei nº 7.960/89, em seu artigo 1°, prevê as situações em que a prisão temporária é cabível, destacando:
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, com base em qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado em crimes específicos listados na lei.
Essa lei também estabelece que a prisão temporária deve ser decretada pelo Juiz, com base na representação da autoridade policial ou no requerimento do Ministério Público, e tem um prazo de duração de 5 dias, podendo ser prorrogada por igual período em situações excepcionais comprovadas.
A prisão temporária só pode ser executada após a expedição de um mandado judicial. Além disso, os presos temporários devem ser mantidos separados dos demais detentos, e o prazo de prisão temporária inclui o dia do cumprimento do mandado.
É relevante notar que, em relação à situação específica apresentada no habeas corpus nº 570.261 - SP, não é competência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgar o mérito, uma vez que o tribunal de origem ainda não analisou o caso em questão. Conforme jurisprudência consolidada, o STJ não deve apreciar habeas corpus contra a decisão de indeferimento de um pedido liminar em outro habeas corpus, a menos que haja uma flagrante ilegalidade. Portanto, a matéria deve ser avaliada inicialmente pelo tribunal de origem.
REQUISITOS
Neste segundo encontro, continuaremos a análise dos requisitos necessários para a aplicação da chamada Prisão Temporária. Antes de nos aprofundarmos nesses requisitos, é fundamental relembrar as três principais hipóteses de prisão no Brasil: Prisão Extrapenal (Militar ou Civil - apenas do devedor de alimentos), Prisão Penal (cumprimento de pena) e Prisão Processual, também conhecida como Cautelar ou Provisória (envolvendo situações de Flagrante, Preventiva e Temporária).
É importante mencionar que, devido ao chamado Pacote Anticrime, a Prisão Processual sofreu alterações, especialmente no que se refere à Prisão em Flagrante e na Prisão Preventiva. Agora, avancemos para a análise dos requisitos conforme o art. 1º da Lei n.º 7.960/89.
De acordo com o art. 1º da Lei n.º 7.960/89, a prisão temporária é cabível nos seguintes casos:
I - Quando for imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - Quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III - Quando existirem fundadas razões, com base em qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de suas formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986);
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.
Quanto aos requisitos para a decretação da prisão temporária, a doutrina apresenta diversas posições:
1ª posição (majoritária): Requer a presença do inciso III, combinada com o inciso I ou com o inciso II.
2ª posição: Acredita que basta a presença de qualquer um dos incisos.
3ª posição: Sustenta que é necessária a presença cumulativa dos três incisos.
4ª posição: Além dos três incisos, exige também a combinação com uma das hipóteses que autoriza a prisão preventiva.
5ª posição: Considera que os incisos I e III devem sempre estar presentes, sendo o inciso II subsidiário ou complementar, uma vez que a presença dos dois primeiros incisos é obrigatória.
Quanto à prisão em flagrante, esta está disposta no Código de Processo Penal, no artigo 301, que estabelece:
Art. 301: Qualquer pessoa pode e as autoridades policiais e seus agentes devem prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
Vale ressaltar que este artigo diferencia entre flagrante facultativo e flagrante compulsório, dependendo se é realizado pelo cidadão em geral ou pelas autoridades policiais, respetivamente. Além disso, o Pacote Anticrime trouxe a introdução da audiência de custódia, que não estava prevista anteriormente e está descrita no artigo 310 do CPP:
Art. 310: Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 horas após a prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública, e o membro do Ministério Público. Nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal;
II - converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, quando presentes os requisitos do art. 312 deste Código e se revelareminadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão;
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
Com relação à prisão preventiva, o Pacote Anticrime também promoveu alterações. O artigo 311 do CPP descreve a prisão preventiva, após a atualização legislativa:
Art. 311: Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, o juiz pode decretar a prisão preventiva a pedido do Ministério Público, do querelante, do assistente ou por representação da autoridade policial.
Antes, o artigo 311 afirmava que o magistrado poderia decretar a prisão preventiva de ofício no curso da ação penal, o que já não é mais regra, exceto nos casos previstos no artigo 20 da Lei Maria da Penha, ressalvando que essa exceção é motivo de controvérsia entre doutrinadores.
A Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, conhecida como a Lei do Pacote Anticrime, introduziu uma modificação significativa nos requisitos para a decretação da prisão preventiva no processo penal brasileiro. A redação do art. 312 do Código de Processo Penal foi alterada da seguinte forma:
Art. 312: A prisão preventiva pode ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
Assim, embora as quatro hipóteses para a decretação da prisão preventiva permaneçam inalteradas (garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal), o Pacote Anticrime incluiu um novo requisito obrigatório: o perigo gerado pelo estado de liberdade do acusado, além da prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Para encerrar, é fundamental lembrar que a prisão temporária e a prisão preventiva são modalidades distintas de custódia cautelar, cada uma sujeita a requisitos legais específicos. A prisão temporária é regida pela Lei n.º 7.960/1989 e visa garantir o eficaz desenvolvimento da investigação criminal, especialmente nos casos de graves delitos previstos na lei. Por outro lado, a prisão preventiva é uma medida mais abrangente e pode ser decretada em qualquer fase da investigação ou do processo penal, com requisitos específicos que envolvem a comprovação do crime, o indício de autoria e o perigo da liberdade do acusado para a ordem pública, ordem econômica, instrução criminal ou aplicação da lei penal.
PRAZOS
Prosseguindo na discussão, a análise do prazo da prisão temporária é de grande importância. De acordo com o art. 2º da Lei n.º 7.960/89, o prazo da prisão temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
Destaca-se que, diferentemente da prisão preventiva, o juiz não pode decretar a prisão temporária ex officio, ou seja, por sua própria iniciativa. A prorrogação do prazo da prisão temporária também não pode ser efetivada pelo magistrado. Portanto, caberá ao juiz decidir sobre a prorrogação somente após pedido fundamentado do Ministério Público ou da autoridade policial.
O prazo de custódia começa a fluir a partir da data da efetivação da prisão do investigado e deve ser contado de acordo com o art. 10 do Código Penal, incluindo o dia do início.
Em relação aos crimes hediondos e equiparados, a Lei n.º 8.072/90, em seu art. 2º, § 4º, estabelece que o prazo de prisão temporária é de 30 (trinta) dias, prorrogáveis por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. Isso se aplica aos crimes previstos no artigo 2º da referida lei, que inclui tanto os crimes hediondos quanto aqueles equiparados a hediondos.
Para fins de esclarecimento, os crimes hediondos estão dispostos no art. 1º da Lei n.º 8.072/90, que inclui delitos como homicídio, estupro, roubo qualificado, extorsão mediante sequestro, entre outros. Além disso, existem crimes equiparados a hediondos, como a tortura, tráfico de drogas e terrorismo, que também se enquadram nas regras do prazo de prisão temporária estendido.
No que se refere à fixação do prazo, existe uma discussão doutrinária. Alguns entendem que o juiz pode fixar o prazo de prisão temporária abaixo do previsto em lei, desde que considere que um prazo menor seja suficiente para auxiliar nas investigações. No entanto, o juiz não pode fixar um prazo acima do limite legal, o que configuraria abuso de autoridade. Há ainda quem defenda que o juiz pode, na renovação da prisão temporária, decretá-la acima do limite legal, desde que respeitado o limite global (60 dias no caso de crime hediondo e 10 dias nos demais casos).
Em resumo, a prisão temporária é uma medida utilizada no âmbito do inquérito policial para garantir a eficácia das investigações em casos de crimes graves. Seu prazo é definido pela lei, variando de 5 a 30 dias, de acordo com a natureza do crime, sendo prorrogável em casos de extrema necessidade.
Procedimento
Continuando nossa análise sobre a prisão temporária, é importante enfatizar que essa medida não pode ser decretada de ofício pelo juiz. Portanto, é necessária a provocação da autoridade policial, por meio de representação, ou do Ministério Público, mediante requerimento. Essa exigência visa preservar a imparcialidade do juiz e manter a lisura do sistema acusatório.
Uma vez apresentada a representação ou o requerimento, o juiz tem um prazo de 24 horas para apreciar o pedido, proferindo um despacho fundamentado. Caso a representação seja feita pela autoridade policial, o juiz, antes de tomar sua decisão, deverá ouvir o Ministério Público, reforçando o caráter acusatório do processo.
Além disso, o juiz pode, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público ou da defesa, determinar que o preso seja apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito. Essas medidas visam garantir a integridade do preso e a lisura do procedimento durante a prisão temporária.
Uma vez decretada a prisão temporária, expedirá-se um mandado de prisão, em duas vias, sendo que uma delas deve ser entregue ao indiciado e servirá como nota de culpa. A prisão temporária somente pode ser executada após a expedição do mandado judicial.
É fundamental ressaltar que a autoridade policial deve informar o preso dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal no momento da prisão temporária. Além disso, de acordo com o art. 3º da Lei n.º 7.960/89, os presos temporários devem permanecer, obrigatoriamente, separados dos demais detentos, a fim de garantir sua segurança e integridade.
Após o término do prazo da prisão temporária, o preso deve ser imediatamente posto em liberdade, a menos que tenha sido decretada sua prisão preventiva. A liberação é automática e não requer um alvará de soltura, uma vez que a lei determina essa medida. Qualquer não liberação do preso após o término do prazo pode configurar abuso de autoridade, de acordo com o disposto no art. 4º, alínea "i," da Lei n.º 4.898/65.
É importante destacar que, com as alterações promovidas pela Lei n.º 13.869/2019, foram adicionados ao artigo 2º da Lei da Prisão Temporária os parágrafos 4º-A, 7º, e 8º, que estabelecem regras adicionais sobre a prisão temporária, como a inclusão do período de duração no mandado de prisão e a automática libertação do preso após o término do prazo, salvo em casos de prorrogação ou decretação da prisão preventiva.

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