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Autores: Profa. Ivy Judensnaider 
 Prof. Maurício Felippe Manzalli
 Profa. Viviane Paes Macedo-Yanikian
História do Pensamento 
Econômico
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Professores conteudistas: Ivy Judensnaider / Maurício Felippe Manzalli / 
Viviane Paes Macedo-Yanikian
Ivy Judensnaider 
Economista pela Fundação Armando Álvares Penteado e mestre em História da Ciência e da Tecnologia pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professora da Universidade Paulista – UNIP, onde coordena 
o curso de Ciências Econômicas no campus Marquês (SP). Também atua no setor de publicações e é autora de inúmeros 
textos de divulgação científica publicados na web. Nos últimos dez anos, tem trabalhado na elaboração de textos e de 
livros para uso em ensino a distância.
Maurício Felippe Manzalli 
Economista pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e 
coordenador do curso de Ciências Econômicas, tanto na modalidade presencial quanto na modalidade a distância. 
Tem experiência em administração e finanças, notadamente em áreas ligadas ao setor de transporte de passageiros. 
Atua há 29 anos no ramo. 
Viviane Paes Macedo-Yanikian
Mestre em Economia pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia pela Política da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo. Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília. 
Atualmente é professora da Universidade Paulista – UNIP.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J92h Judensnaider, Yvy.
História do pensamento econômico. / Ivy Judensnaider; 
Maurício Fellippe Manzalli; Viviane Paes Macedo Yanikian. – São 
Paulo: Universidade Paulista - UNIP, 2019. 
148 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-188/19, ISSN 1517-9230.
1. História do pensamento econômico. 2. Escola clássica. 3. 
Mercantilismo I. Judensnaider, Yvy. II. Manzalli, Maurício Fellippe. III. 
Macedo, Viviane Paes. IV. Título.
CDU 330.8(091)
U502.15 – 19
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Carla Moro
 Juliana Maria Mendes
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Sumário
História do Pensamento Econômico
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 OS PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS .................................................................................................... 11
1.1 O período pré-capitalista .................................................................................................................. 14
1.2 A moeda, o câmbio e a riqueza a partir dos pressupostos mercantilistas .................... 23
2 O MERCANTILISMO: AUTORES, OBRAS E IDEIAS ................................................................................ 25
2.1 O Despotismo Esclarecido e o Século das Luzes ...................................................................... 30
3 A ESCOLA CLÁSSICA ....................................................................................................................................... 39
3.1 O contexto científico do período, a Revolução Industrial e 
o pensamento liberal clássico ................................................................................................................. 39
3.2 Adam Smith ............................................................................................................................................ 43
3.2.1 A Riqueza das Nações ........................................................................................................................... 45
3.2.2 A divisão do trabalho ............................................................................................................................ 46
3.2.3 Teoria do Valor e da Troca ................................................................................................................... 49
3.2.4 Lucro e renda da terra ......................................................................................................................... 51
3.3 Thomas Malthus ................................................................................................................................... 52
3.3.1 O Progresso da população e da riqueza ........................................................................................ 56
3.4 David Ricardo ......................................................................................................................................... 58
3.4.1 Valor de troca ........................................................................................................................................... 60
3.4.2 Salários, lucros e renda da terra ....................................................................................................... 62
3.4.3 Comércio internacional e mecanismos comparativos ............................................................. 63
4 BENTHAM, SAY, SENIOR E STUART MILL ................................................................................................ 64
4.1 Jeremy Bentham ................................................................................................................................... 66
4.2 Jean-Baptiste Say ................................................................................................................................. 67
4.3 Nassau William Senior ....................................................................................................................... 68
4.4 John Stuart Mill .................................................................................................................................... 70
4.5 Positivismo e a busca do estatuto de Ciência Positiva para a Economia ...................... 72
4.6 Leis de funcionamento da produção e distribuição de riqueza ........................................ 73
Unidade II
5 AS REVOLUÇÕES DO FINAL DO SÉCULO XIX: DE MARX AO MARGINALISMO ........................ 79
5.1 O pensamento de Karl Marx acerca do capitalismo............................................................... 79
5.2 O utilitarismo: Jevons, Menger e Walras .................................................................................... 87
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6 DAS TEORIAS NEOCLÁSSICASAO IMPERIALISMO ............................................................................. 92
6.1 Alfred Marshall: equilíbrio de curto prazo e defesa ideológica do capitalismo ......... 92
6.2 Böhm-Bawerk e a medida do capital ........................................................................................... 95
6.3 Sraffa: produção de mercadorias por meio de mercadorias .............................................. 96
6.4 Os imperialistas: Hobson, Luxemburgo, Lênin e Sweezy ..................................................... 98
6.4.1 John A. Hobson e o estudo do imperialismo ............................................................................... 98
6.4.2 Rosa Luxemburgo e a acumulação de capital ............................................................................ 99
6.4.3 Lênin e o comunismo ..........................................................................................................................102
6.4.4 Paul Marlor Sweezy e as ideias marxistas...................................................................................104
6.5 Pareto e a economia neoclássica do bem-estar ....................................................................105
Unidade III
7 OS CONFLITOS TEÓRICOS DO SÉCULO XX ...........................................................................................112
7.1 A crise de 1929 e a teoria de Keynes .........................................................................................114
7.2 A Escola de Chicago: o monetarismo de Milton Friedman ...............................................121
7.3 A inflação, o desemprego e a Curva de Phillips .....................................................................124
8 A ESCOLA AUSTRÍACA: SCHUMPETER, VON MISES E HAYEK ......................................................126
8.1 Schumpeter e as contradições do capitalismo ......................................................................127
8.2 Mises e Hayek ......................................................................................................................................130
8.2.1 Mises e sua praxeologia .................................................................................................................... 130
8.2.2 Hayek e o neoliberalismo econômico .......................................................................................... 132
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APRESENTAÇÃO
Esta disciplina tem como objetivo primordial oferecer uma visão panorâmica dos desenvolvimentos 
teóricos das Ciências Econômicas, desde o pré-capitalismo industrial até os dias de hoje. Nosso objetivo 
principal é o aprofundamento das circunstâncias factuais e culturais do surgimento, do desenvolvimento 
e da consolidação de algumas das principais teorias econômicas surgidas ao longo do período que 
corresponde ao intervalo entre os séculos XVI e XX.
Dessa forma, apresentaremos um quadro cronológico das principais construções teóricas explicativas 
do funcionamento da sociedade capitalista e, assim, procederemos à revisão da estrutura teórico-analítica 
dessas construções teóricas. Também demonstraremos a relação entre o contexto histórico-cultural de 
diferentes etapas da evolução do capitalismo e o surgimento dessas interpretações/teorias a respeito de 
seu funcionamento. Como resultado dessa abordagem, pretendemos contrastar, apontando semelhanças 
e diferenças, os fundamentos valorativos, metodológicos e conceituais das principais teorias abordadas 
no curso, bem como as implicações socioeconômicas de sua aplicação.
Acreditamos que esse esforço auxiliará no desenvolvimento da capacidade de o aluno perceber, a 
partir de seu próprio referencial valorativo-ideológico, a pertinência ou impertinência de concepções/
teorizações formuladas no passado. Compreender o presente requer, de forma inconteste, a compreensão 
do passado no qual ele se apoia e a partir do qual se desenvolve.
Trataremos dos pressupostos metodológicos da nossa concepção historiográfica e analisaremos o 
período pré-capitalista do pensamento econômico, quando ainda não havia economia de mercado e não 
fazia o menor sentido realizar estudos essencialmente econômicos. Contudo, em função do acirramento 
das atividades comerciais, do aumento das trocas de moedas e da degradação do próprio sistema 
feudal, alguns políticos e pensadores resolveram dedicar-se à elaboração de recomendações políticas 
e estratégicas a respeito da gestão de negócios. Assim, podemos identificar nesse período algumas 
tentativas de escrever e refletir sobre a atividade econômica – realizada a partir dos pressupostos 
do mercantilismo – sem que se possa afirmar, entretanto, que essas tentativas emanavam de uma 
escola específica do pensamento econômico. Trataremos também das influências do Iluminismo e do 
surgimento de um modelo específico de análise, então necessário para a compreensão de um mundo em 
que as trocas comerciais haviam se intensificado e no qual a industrialização transformava a paisagem 
dos principais centros europeus.
Discutiremos a estrutura do pensamento clássico, bem como os autores tidos como fundadores 
das formulações teóricas do liberalismo. A partir da retomada das principais ideias mercantilistas e 
fisiocratas, trataremos do contexto científico do período em que o pensamento econômico clássico 
estabelece seus primeiros passos. Poderemos identificar a importância de Adam Smith como pai da 
economia moderna. Apresentaremos Thomas Malthus e sua teoria do progresso populacional. Também 
trataremos das ideias do principal expoente da escola clássica, David Ricardo, com destaque para seu 
conceito de valor de troca, salários, lucros e renda da terra e seus axiomas a respeito da teoria de 
comércio internacional. Não podemos nos esquecer de Jeremy Bentham, Jean Baptiste Say, Nassau 
William Senior e John Stuart Mill, que adicionaram importantes contribuições ao pensamento clássico 
por meio de ideias do utilitarismo.
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Debateremos as ideias e teorias marxistas e as de inspiração neoclássica. Partiremos das revoluções 
do final do século XIX e das contribuições de Marx para o debate. Seguiremos com o utilitarismo de 
Jevons, de Menger e de Walras até chegarmos à discussão das teorias neoclássicas com Marshall, 
Böhm-Bawerk e Sraffa. Os imperialistas também estão presentes representados por Veblen, Hobson, 
Luxemburg, Lenin, além de Sweezy, com os quais teremos contato introdutório, como efetuado em 
Marx. Apresentaremos a economia neoclássica do bem-estar com a noção de Pareto.
Finalizando o livro-texto, apontaremos os conflitos teóricos do século XX e que permanecem até a 
atualidade. Para tanto, não se deve deixar de considerar a crise de 1929 e a teoria de Keynes, bem como 
a cisão entre os neoclássicos liberais e os conservadores. Abordaremos a contribuição da escola austríaca 
representada por Von Mises, Hayek e Schumpeter. Terminaremos com o debate proposto pela escola de 
Chicago, em que o foco está em Milton Friedman e seu monetarismo.
Esperamos verdadeiramente que você, aluno, aproveite e leitura e desejamos um bom estudo!
INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje, economistas adotam com frequência o conceito de trade-off, ou custo de 
oportunidade. O trade-off nada mais é do que uma escolha que implica perda e ganho de algo. Em 
outras palavras, considera-se que para todo ganho há uma perda correspondente que deve ser avaliada 
no momento da tomada de decisão. Vamos imaginar que você receba um valor financeiro inesperado. 
Há muito o que se fazer com ele: gastá-lo em viagens, cursos, roupas ou móveis; tudo dependerá de 
uma decisão em que serão considerados os ganhos e as perdas de cada alternativa.
O uso de um manual de História do Pensamento Econômico envolve um trade-off. Há vantagens 
e ganhos na sua utilização, mas há também perdas e desvantagens que podem – e devem – ser 
administradase compensadas.
Comecemos pelas vantagens e pelos ganhos: em um único volume, temos a oportunidade de 
conhecer várias épocas e inúmeros autores e teóricos, o que nos permite uma visão panorâmica dos 
desenvolvimentos teóricos econômicos. Assim, de uma só tacada, podemos investigar a gênese da teoria 
econômica com Adam Smith, em plena Escócia do século XVIII, e a derrocada final da ideia de equilíbrio 
natural do mercado com John Maynard Keynes, no século XX.
Quais as desvantagens e as perdas? Por incrível que pareça, as consequências dos mesmos atributos 
que representam os ganhos: por ser panorâmico, o manual simplifica a História; por compor uma 
coletânea de ideias e de autores, o aprofundamento não é priorizado.
Há ainda outra característica que, embora não possa ser entendida como desvantajosa, deve 
necessariamente ser incorporada e percebida pelo leitor desse nosso manual: contar uma história significa 
que uma voz do presente está contando o passado e, portanto, agregando ao passado o seu próprio presente.
Vejamos como isso funciona: Adam Smith, como já dissemos, desenvolveu suas concepções a 
respeito da riqueza das nações na Escócia do século XVIII. Assim, ele (pensador) analisou a realidade 
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daquele momento (a economia europeia do século XVIII) e, refletindo sobre esse contexto apreendido, 
escreveu sobre o trabalho e sua divisão, sobre preços e sobre o egoísmo gerando o equilíbrio natural do 
mercado (veremos isso mais adiante com mais detalhes). Ao escrever sobre Adam Smith, sabemos o que 
aconteceu. Conhecemos o passado e as consequências dele. Sabemos, inclusive, quem concordou com 
as ideias de Smith e quem as refutou; sabemos quais as circunstâncias da realidade que trataram de 
corroborar ou desmentir os postulados de Smith. Quem conta a História o faz a partir do ponto de vista 
do presente, e não há como eliminar esse viés.
Dessa forma, sabemos que os historiadores adotam – e geralmente de forma não explicitada – um 
modelo historiográfico à luz do qual o objeto de estudo será investigado. Esse modelo traduz o que os 
historiadores pensam a respeito da natureza da Ciência à qual se dedicam e das formas de aquisição do 
conhecimento científico. Os historiadores também possuem opiniões próprias que dirigem seus olhares 
para determinadas evidências, em detrimento de outras. Em outras palavras, precisamos reconhecer 
que as concepções gerais do pesquisador (nem sempre explícitas) moldam a realidade estudada, como 
se fossem lentes coloridas. Assim, o historiador, ao contar a história, reflete sobre esse material histórico 
e agrega a ele um novo discurso, qual seja, o seu próprio e o do seu próprio tempo. O historiador jamais 
consegue apreender e descrever a realidade histórica tal, e exatamente tal, como ela aconteceu.
Isso significa que, ao falarmos de Smith, não estaremos contando exatamente o que aconteceu 
no tempo de Smith e não poderemos nos apropriar (ou falar) dos exatos pensamentos e objetivos 
de Smith ao escrever A Riqueza das Nações. Estaremos, apenas, contando a nossa versão sobre os 
desenvolvimentos teóricos de Smith; quando você, aluno, for estudar A Riqueza das Nações, estará 
construindo uma opinião a respeito de Smith que poderá ser completamente distinta daquela por 
nós construída.
Então, como administrar as perdas inerentes ao uso de um manual? Em primeiro lugar, sugerimos 
que você procure saber a respeito dos vieses ideológicos de quem escreveu o manual. Historiadores 
marxistas tendem a perceber a História do ponto de vista materialista e dialético. Historiadores sob forte 
influência do Positivismo tendem a enxergar a História a partir de uma concepção linear e cumulativa. 
Em outras palavras, sugerimos que você identifique as cores e as lentes a partir das quais os autores 
do manual olharam a realidade. Finalmente, sugerimos que você vá até as fontes originais e leia os 
autores que apresentaremos. Não se contente em acessar esse conhecimento apenas por meio do 
nosso olhar: exercite o seu. Não leia A Riqueza das Nações apenas a partir dos nossos olhos, leia esse 
texto com os seus próprios olhos. Ao estudar o passado e investigar documentos históricos, estamos 
também concretizando o presente à medida que nós, sujeitos do conhecimento, não estamos aptos a 
nos dissociar do objeto de estudo. Dessa forma, ao convidar você, aluno, ao estudo das fontes primárias, 
estamos sugerindo que construa, conosco, a história do nosso presente.
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
Unidade I
1 OS PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS
De acordo com Nunes e Bianchi (1999, p. 93), “suspeitamos que os economistas do passado 
coabitam nosso presente, mas não o fazem na forma pura como vieram ao mundo, e sim transformados 
pela passagem do tempo”. Ao contarmos o passado, assumiremos que a História não é linear e que os 
desenvolvimentos teóricos não são necessariamente cumulativos. Isso quer dizer que os economistas 
posteriores a Smith não necessariamente agregaram novas interpretações às ideias dele; talvez, alguns 
não tenham sequer feito referência ao universo tratado por Smith. Teóricos constroem e divulgam suas 
ideias a partir de determinados contextos sociais e históricos, havendo a possibilidade de as ideias se 
constituírem em posições de consenso – paradigmas – dentro da comunidade de estudiosos, e que 
serão substituídos por outros à medida que mudarem as condições desses contextos sociais e históricos. 
Consideraremos, portanto, que:
[...] os paradigmas instituem-se porque são mais bem-sucedidos que seus 
competidores na resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas 
reconhece como graves. Contudo — e esse é um ponto crucial —, ser 
bem-sucedido não significa ser totalmente bem-sucedido com um único 
problema, nem ser notavelmente bem-sucedido com um grande número. 
De início, o sucesso de um paradigma [...] é, em grande parte, uma promessa 
de sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e ainda 
incompletos [...] (NUNES; BIANCHI, 1999, p. 96).
 Observação
Thomas Kuhn (1922-1996) foi um físico e historiador norte-americano. 
Em um de seus mais famosos trabalhos, A Estrutura das Revoluções 
Científicas, explica o conceito de paradigma, entendido então como o 
consenso de uma classe de cientistas em relação a determinado objeto. Esse 
consenso sofre abalos quando não dá mais conta de responder às perguntas 
feitas e, então, costumam ocorrer as revoluções científicas, a partir das quais 
rompe-se com o antigo paradigma, substituindo-o por outro. Um exemplo 
clássico de paradigma em Ciência é o geocentrismo, crença que defendia 
a ideia de a Terra imóvel ser o centro do Universo. Quando essa explicação 
não deu mais conta de responder a todas as perguntas, forçosamente, esse 
paradigma teve de ser abandonado e substituído por outro (no caso, pelo 
heliocentrismo).
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Unidade I
 Saiba mais
Para aprofundar o tema, sugerimos a leitura de:
CHIBENI, S. S. Síntese de A Estrutura das Revoluções Científicas, de 
Thomas Kuhn. Campinas: Unicamp, [s.d.]. Disponível em: <http://www.
unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/structure-sintese.htm>. Acesso em: 
14 out. 2015.
Em função disso, buscaremos relativizar a proposta de “grandes figuras”: claro que falaremos dos 
teóricos mais importantes e fundamentais da história do pensamento econômico, mas procuraremos 
entendê-los como frutos dos seus próprios tempos. Buscaremos, assim, jogar luz nos paradigmas 
construídos e/ou substituídos pela comunidade de pensadores, representados por essas grandes figuras 
tidas como responsáveis pelas concepções paradigmáticas.
É importante também explicitar: contaremos a História tendo em vista que ela é um processotenso, contraditório e sem finalidade imanente, em que agentes (grupos sociais) com interesses 
comuns e constituídos a partir de possibilidades e limites determinados afirmam e fazem reconhecer 
suas necessidades sociais. Mais: partiremos do princípio de que os problemas se colocam diante dos 
pensadores em função de condições temporais muito específicas. Assim, não fará o menor sentido 
dizer que David Ricardo acertou naquilo que Adam Smith errou: não há erros ou acertos, mas respostas 
possíveis dadas para problemas formulados em função de circunstâncias específicas. Em outras palavras:
O historiador do pensamento econômico pode assinalar que fato fundamental, 
em um tempo e um lugar determinados e numa escala mais ou menos grande, 
polariza a atenção de um economista sob a forma de um problema prático para o 
qual é preciso trazer urgentemente uma solução passível de argumentação junto a 
um público esclarecido, justificando uma intervenção sobre variáveis particulares. 
Mas o historiador do pensamento econômico também pode descrever como tal 
conjunto de enunciados reflete as condições particulares de uma sociedade, 
de uma classe ou de uma região - quer estas condições sejam políticas, morais, 
psicológicas ou traduzam por si mesmas leis naturais demográficas, físicas, 
climáticas etc. (BERTHOUD, 2000, p. 64).
Não trataremos, portanto, de “corrigir” ideias, conceitos e teorias. A História não se presta a consertar 
o que “de errado foi construído lá atrás”. Pretendemos apenas resgatar um processo de desenvolvimento 
e amadurecimento de constructos teóricos a partir de uma leitura externalista da construção científica: 
não há como descolar a teoria do contexto histórico que a engendrou. Assim, há de se compreender as 
interfaces e relações entre os acontecimentos políticos, econômicos, sociais, científicos e artísticos em 
determinado período; há de se conhecer as realizações, as atitudes e os comportamentos dos homens 
àquele tempo, as instituições enfim construídas, os templos erguidos ou destruídos, as obras escritas e 
as ideias então disseminadas.
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
 Saiba mais
Podemos fazer duas leituras dos desenvolvimentos e das transformações 
das ideias. A primeira, internalista, diz respeito às mudanças das ideias 
em si, independentemente do contexto histórico que as engendraram 
ou que as estimularam. Seria, por exemplo, compararmos o conceito de 
equilíbrio em Adam Smith com o conceito de equilíbrio no século XXI. Seria 
colocarmos para dialogar, em pé de igualdade e nas mesmas condições, 
um economista do século XVIII e outro do século XX. De forma contrária, a 
leitura externalista privilegia o contexto histórico. Parte-se do pressuposto, 
portanto, de que as condições sociais e históricas determinam, em grande 
parte, as elaborações científicas feitas.
Para estudar mais o tema, sugerimos:
BASSALO, J. M. F. A importância do estudo da história da ciência. Revista 
da SBHC, Rio de Janeiro, n. 8, p. 57-66, 1992. Disponível em: <http://www.
mast.br/arquivos_sbhc/121.pdf>. Acesso em: 20 out. 2010.
Finalmente, iremos contar a história do pensamento econômico a partir do período em que foram 
criadas as condições para o nascimento da economia de mercado. Falaremos de teorias que buscaram 
explicar os atos econômicos com interesses e objetivos essencialmente econômicos que surgiram apenas 
a partir do nascimento da economia de mercado, quando as relações sociais passaram a ser explicadas 
em função de um sistema econômico organizado.
Segundo Cerqueira (2001, p. 398), nas sociedades primitivas pré-capitalistas:
[...] o que leva os homens a desenvolverem atos de produção e distribuição 
não é o interesse individual na posse de bens, mas a tentativa de preservar 
sua situação social. Desse modo, a motivação para produzir não provém de 
interesses especificamente econômicos, mas pode estar ligada a um conjunto 
de fatores sociais que variam em cada grupo humano: a necessidade de 
preservar vínculos familiares ou uma posição social, a adesão a um código 
de honra ou a valores tradicionais.
Nas sociedades primitivas pré-capitalistas, não apenas inexistiam comportamentos como a busca 
do lucro, a necessidade de maximização e de otimização da produção, o espírito empreendedor e 
concorrencial, como inexistiam as instituições e os espaços que poderiam abrigar os atos que entendemos 
como econômicos. Portanto, não faz o menor sentido falarmos de pensamento econômico em relação 
a um período histórico em que inexistiam moedas, formação de preços ou a produção e distribuição de 
mercadorias e fatores de produção (quer dizer, fatores reconhecidos como de produção).
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Unidade I
Assim, partiremos do pressuposto de ser a História do Pensamento Econômico o resgate dos 
desenvolvimentos teóricos a respeito das estruturas econômicas de mercado, das formas pelas quais, 
nas sociedades capitalistas, a reprodução material das sociedades passou a se processar através de 
instituições orientadas exclusivamente para objetivos econômicos, como os mercados. Nesses termos, 
começaremos a nossa investigação a partir das condições que possibilitaram o surgimento do capitalismo 
e, portanto, das Ciências Econômicas como objeto autônomo e definido de estudo.
1.1 O período pré-capitalista
A Europa da Idade Moderna (quer dizer, a partir do século XV) encontrava-se em intensa 
transformação. O sistema feudal, degradado e obsoleto, aos poucos, começava a ser substituído por 
outro em que o comércio tinha importância vital e no qual o rei era o responsável pela formulação 
e aplicação das leis e das normas. É claro que esse processo não ocorreu sem percalços ou de forma 
linear: ao contrário, ele se deu de forma irregular, tanto no tempo quanto no espaço geográfico. O 
que se podia perceber claramente era que o que havia sustentado o mundo feudal estava ruindo 
lentamente (HUBERMAN, 1974).
A intensificação da atividade comercial e o surgimento de novas cidades transferiram o poder das 
regiões urbanas feudais para os centros urbanos. Mesmo nos feudos, o aumento de produtividade 
ocasionado pela adoção de novas técnicas de plantio havia gerado um excedente econômico que 
dependia das cidades para ser trocado e que, posteriormente, seria gasto com a compra de artigos de 
luxo do Oriente ou de outros locais distantes (HOBSON, 1985).
Segundo Heilbroner e Milberg (2008), se esse comércio, em suas origens, dispensou a figura do 
intermediário (e os próprios camponeses e agricultores tratavam de vender o excedente nas feiras 
medievais), o tempo e a intensificação das trocas acabaram provocando o surgimento do comerciante, 
aquele que percorria as estradas medievais em companhia de outros vendedores e que se especializava 
na venda de determinados produtos. Os senhores feudais toleravam essas figuras tão estranhas ao 
mundo rígido das categorias sociais imutáveis da Idade Média: afinal, eles, senhores e donos das terras, 
ganhavam comissões nos negócios realizados nas feiras localizadas em suas propriedades.
A intensificação do comércio trouxe consigo a necessidade de melhores vias de transporte. Também 
era necessário que agentes fizessem a troca entre as inúmeras moedas em circulação, e dessa necessidade 
surgiram os banqueiros e agentes que estabeleciam o câmbio.
O ressurgimento de antigas rotas comerciais que, anteriormente, partiam do Mediterrâneo em 
direção à Ásia e que haviam sobrevivido às invasões bárbaras intensificou a atividade comercial ao longo 
da costa italiana. Ainda, as Cruzadas (movimento religioso que tinha como objetivo libertar a Cidade 
Santa dos infiéis) fizeram surgir entrepostos comerciais ao longo do caminho em direção ao Oriente 
(HUBERMAN, 1974).
No mar do Norte e no Báltico também podiam ser vistos navios carregados de peixe, madeira, peles, 
couros e peliças (HUBERMAN, 1974). Bruges,em Flandres, tornou-se um importante centro comercial e 
estabeleceu o contato com o mundo russo-escandinavo. O aumento da atividade comercial provocou 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
o aperfeiçoamento das técnicas de construção naval e a criação de um sistema monetário no qual 
conviviam o florim, o florentino e o ducado.
Figura 1 – Rotas comerciais ao final da Idade Média
A intensificação da atividade comercial e a expansão dos meios de pagamento também causaram 
fissuras no poder exercido até então pela Igreja. Não havia mais como tolerar as restrições religiosas aos 
mecanismos de crédito. Aliás, toda a imobilidade social preconizada pelo catolicismo já não tinha razão 
de ser.
Dessa forma, o poder que antes pertencia ao clero e ao senhor feudal foi sendo transferido, aos 
poucos, para os habitantes da cidade, que era a representante da liberdade em relação às amarras do 
sistema feudal.
Do ponto de vista religioso, essas transformações e esses movimentos contrários ao poder da Igreja 
Católica tomaram corpo com a Reforma Protestante. O calvinismo e o luteranismo, vertentes cristãs que 
se opuseram ao poder hegemônico de Roma, provocaram uma mudança significativa na forma de se 
ver e pensar o mundo: uma nova ética ditava que o trabalho santificava o homem, não sendo castigo 
ou punição pelo pecado original. Ao contrário, o trabalho resultava em dinheiro, que não deveria ser 
desperdiçado ou gasto com luxúria. O trabalho, longe de ser tido como vexaminoso, era o meio lícito de 
se melhorar de vida e ascender socialmente. A abstinência e a parcimônia, por sua vez, eram estratégias 
para aumentar a renda e disponibilizar recursos para a produção e para o comércio (HOBSBAWM, 2010).
A Igreja Católica havia deixado de ser o centro do qual emanavam as regras morais e as explicações 
para o funcionamento do mundo e da natureza, e essas mudanças provocaram transformações no 
pensamento filosófico daquele período: paulatinamente, a Escolástica cedeu espaço para o espírito 
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renascentista. Com o apoio da autoridade dos textos clássicos, os filósofos naturais renascentistas 
buscaram a matemática, a cabala e os métodos de observação como formas de obter maiores níveis 
de certeza nas abstrações sobre o homem e a natureza: o texto bíblico já não dava conta de responder 
a todas as perguntas feitas. Para isso, era necessário que a Razão fosse utilizada como antídoto para 
as superstições, as paixões e a imaginação. Havia respeito e reverência ao conhecimento antigo e às 
antigas tradições, mas havia também a necessidade e a coragem de ir além.
Essas mudanças e transformações teriam a decisiva e final contribuição de três processos que 
ocorreram concomitantemente: o aumento de poder dos reis, a formação dos Estados Nacionais e a 
exploração marítima que alcançou o Novo Mundo. Vejamos como.
 Lembrete
Tal como falamos anteriormente, nossa abordagem privilegia a 
investigação das ideias a partir do contexto social e histórico no qual 
elas nascem.
Segundo Huberman (1974), à medida que o senhor feudal e a Igreja perdiam poder, a figura do rei 
– símbolo do poder nacional – ganhou destaque. Não apenas sua importância aumentou, mas também 
se tornaram visíveis seus movimentos em defesa de uma unidade nacional que forjasse e estimulasse 
a formação de uma identidade. O rei passou a representar a luta por conquistas de territórios, a defesa 
de fronteiras e a adoção de uma língua nacional, de uma moeda nacional e de uma legislação nacional. 
Esse movimento, é claro, contava com o apoio dos moradores das cidades e dos comerciantes: eles 
eram os principais beneficiários dessas conquistas que correspondiam exatamente ao que perdiam os 
senhores feudais e a Igreja.
Esse processo foi bastante lento, é claro. De qualquer forma, ele representou a transformação 
paulatina das velhas e antigas estruturas que, obrigatoriamente, deviam dar espaço às novas. Ao rei, 
os moradores das cidades e os comerciantes pagavam impostos; do rei, esperavam proteção, tanto em 
relação às suas atividades comerciais quanto em relação à defesa do território e das rotas marítimas. O 
rei, em acordo às expectativas, organizou exércitos e instituiu uma moeda única. Nas cortes, homens de 
finanças e grandes comerciantes tratavam de defender os interesses comerciais daqueles que pagavam 
impostos. Parece-nos possível concluir, portanto, que o Estado Nacional surgiu como resultado da luta 
do poder das cidades e da nascente classe média contra “o particularismo – a jurisdição autônoma 
senhorial, com seus tributos, moedas, pedágios, e contra o universalismo – a pretensão da Igreja em 
representar o universo dos fiéis, regulando todas as esferas da vida comum, da econômica à cultural” 
(REZENDE, 2007, p. 74).
Ilustrativa desse momento, a obra de Nicolau Maquiavel (1469-1527) fala dessa nova figura 
do rei. No caso de O Príncipe (1512), temos um texto que resume de maneira magnífica o espírito 
de seu tempo.
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
 Saiba mais
Maquiavel, filho de um advogado estudioso das humanidades, trabalhou 
em funções diplomáticas em meio à luta entre os Médici, a Espanha e a 
França. Por conta de acusações de traição e conspiração, chegou a ser 
preso e torturado. Posteriormente, Maquiavel conseguiu libertar-se da 
prisão, embora sem voltar ao serviço público. Para os republicanos, ele 
era simpático à monarquia. Para os monarcas, ele era favorável aos ideais 
republicanos. Sugerimos a leitura de:
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. 1512. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
obra=24134>. Acesso em: 14 out. 2015.
De fato, o que interessava a Maquiavel era falar sobre o Estado. “Não o melhor Estado, aquele tantas 
vezes imaginado, mas que nunca existiu. Mas o Estado real, capaz de impor a ordem” (SADEK, 2006, p. 
17). Tratava-se de uma verdadeira ruptura em relação ao saber anterior, pois ignorava a premissa de 
uma ordem natural e eterna.
A ordem, produto necessário da política, não é natural, nem a materialização 
de uma vontade extraterrena, e tampouco resulta do jogo de dados do 
acaso. Ao contrário, a ordem tem um imperativo: deve ser construída pelos 
homens para se evitar o caos e a barbárie e, uma vez alcançada, ela não será 
definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em negativo, isto é, a 
ameaça de que seja desfeita (SADEK, 2006, p. 18).
A política, a partir dessa visão, podia ser comparada a um feixe de forças, unidas sempre por conta 
de mecanismos racionais. Para se entender o poder, era necessário, portanto, assumir a incerteza, a 
contingência e a falta de estabilidade. Os traços humanos imutáveis eram aqueles associados à ingratidão, 
à covardia e à ganância. Por isso, a História encontrava-se repleta de conflitos, caos e anarquia. Segundo 
Maquiavel, o conhecimento das relações de causa e efeito entre os fenômenos se daria por meio do 
estudo dos fatos do passado; afinal, a História era cíclica.
O poder político tem, pois, uma origem mundana. Nasce da própria 
“malignidade” que é intrínseca à natureza humana. Além disso, o poder 
aparece como a única possibilidade de enfrentar o conflito, ainda que 
qualquer forma de “domesticação” seja precária e transitória. Não há 
garantias de sua permanência. A perversidade das paixões humanas sempre 
volta a se manifestar, mesmo que tenha permanecido oculta por algum 
tempo (SADEK, 2006, p. 20).
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Para Maquiavel, só havia duas respostas possíveis para a anarquia: o Principado e a República. A 
escolha de uma delas dependia de quão preparada uma sociedade estivesse para a vida republicana; 
afinal, a República requeria queo povo fosse virtuoso e que as instituições fossem estáveis. Caso a nação 
estivesse dividida e à mercê da corrupção ou de inimigos externos, só havia uma saída: “o surgimento de 
um homem virtuoso capaz de fundar um Estado. Era preciso, enfim, um príncipe” (SADEK, 2006, p. 21).
[Há] a impossibilidade de manter o governo republicano em uma cidade 
corrompida, ou de estabelecê-lo aí. Em um e em outro caso seria melhor 
inclinar-se para a monarquia que para o estado popular, a fim de que esses 
homens, cujas únicas leis não conseguem reprimir a insolência, sejam ao 
menos subjugados por uma autoridade, por assim dizer, real (MAQUIAVEL, 
1955 apud SADEK, 2006, p. 50).
Nesses termos, o príncipe não era necessariamente o mais forte, mas o que conseguia manter o 
domínio adquirido e o respeito dos seus governados. O príncipe devia aparentar possuir as qualidades 
valorizadas pelos seus governados, porque a política tinha regras próprias e fazia parte do jogo a 
ambiguidade entre aparência e essência. Em outras palavras, o poder até podia emanar da força, mas 
sua sustentação dependia do controle e do domínio. Nem tudo aquilo que podia ser considerado uma 
virtude em se tratando de pessoas comuns também o era em relação ao Príncipe.
Maquiavel era incisivo: alguns vícios poderiam ser, na verdade, virtudes. Esperava-se que o Príncipe, 
para manter-se no poder, tivesse a sabedoria de agir conforme as circunstâncias.
Não tema, pois, se o príncipe que deseje se manter no poder “incorrer no 
opróbrio dos defeitos mencionados, se tal for indispensável para salvar o 
Estado”. [...] Os ditames da moralidade convencional podem significar sua 
ruína. Um príncipe sábio deve guiar-se pela necessidade – “aprender os 
meios de não ser bom e a fazer uso ou não deles, conforme as necessidades” 
(MAQUIAVEL, 1955 apud SADEK, 2006, p. 23).
Maquiavel escreveu tendo a crise na Itália como pano de fundo, mas sua obra dizia respeito a todos 
os países em que a monarquia se estabelecia, naquele momento, como força absoluta. De fato, as 
monarquias absolutistas eram a forma de governo dos Estados nascentes.
Esses Estados são mesmo imensos e constituídos por zonas de cidades, ou 
por grandes cidades isoladas, com arrabaldes férteis e povoados separados 
por vastos espaços semidesérticos, por florestas, pinhais ou estepes. Entre 
províncias e entre Estados estendem-se “fronteiras”. [...] Essa geografia, 
resultado da história humana, favorece certo aspecto federativo que os 
Estados apresentam em graus diferentes (MOUSNIER, 1995, p. 176-177).
Os Estados menores e médios submetiam-se aos maiores. Por meio de casamentos ou alianças, casas 
imperiais se juntavam umas às outras, reunindo seus Estados a partir de uma única liderança, o rei.
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A maioria destes Estados evolui para a monarquia absoluta. É o regime em 
que o rei, encarnando o ideal nacional, possui, além disso, de direito e de fato, 
os atributos da soberania: poder de decretar leis, de fazer justiça, de arrecadar 
impostos, de manter um exército permanente, de nomear funcionários, de 
julgar os atentados contra o bem público e, em especial, a autoridade real 
por meio de jurisdições de exceção emanadas do seu poder de justiceiro 
supremo. A ideia de monarquia absoluta acrescenta-se, sem destruí-las, às 
velhas ideias de contrato e de costume que regulamentavam as relações 
dos reis com seus vassalos e súditos e que, ao mesmo tempo, a temperavam 
(MOUSNIER, 1995, 177-178).
O sentimento patriótico gerou o nacionalismo exacerbado. O rei não era apenas alguém com o 
direito de governar, mas era um “herói”, um semideus que dominava de forma sábia e absoluta. Era dele 
que se esperava a gestão dos constantes conflitos entre os burgueses e a nobreza. Afinal, a monarquia 
defendia os burgueses, porque deles vinha o dinheiro tão necessário para a manutenção de soldados 
e funcionários; em contrapartida, a burguesia desejava um status social parecido com a nobreza, e 
para o rei pedia títulos e cargos. Por outro lado, a nobreza, para defender o seu espaço na sociedade, 
precisava de favores do rei. Assim, cada vez mais, o rei era pressionado pelo choque entre os interesses 
antagônicos da burguesia e da nobreza, sendo necessário considerar que:
tais monarquias absolutas, aliás, possuem menos força efetiva, menos 
influência real sobre a vida quotidiana de seus súditos do que os governos 
democráticos liberais do século XIX. A lei divina cristã, as leis fundamentais 
do reino, que exprime algumas dessas condições de existência, as leis do 
direito das gentes, como as que garantem a propriedade, os corpos e as 
comunidades, seus contratos, costumes e privilégios, tudo isso limita o 
poder do rei (MOUSNIER, 1995, p. 184-185).
Do ponto de vista econômico, o rei praticava o mercantilismo, conjunto de estratégias que tinham 
como principal objetivo excluir a concorrência das indústrias estrangeiras em solo nacional e criar mais 
empregos com a renda advinda da exportação de bens.
O Estado ou a nação (a polity) representam a esfera de ação do rei, sua 
jurisdição, o espaço de que está incumbido de cuidar. A economia é a forma 
de organização deste espaço. Os dois domínios não podem ser tratados 
separadamente, quando mais não fosse porque ocupam o mesmo espaço 
(CERQUEIRA, 2001, p. 396).
Segundo os pressupostos dessas estratégias, as estratégias mercantilistas constituíam o mecanismo 
necessário para a obtenção de uma balança comercial favorável, sinal de saúde e vitalidade do sistema 
econômico da Nação.
A ênfase conferida às virtudes do aumento da exportação esperava pelo 
aparecimento de um poderoso interesse manufatureiro, distinto do 
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comercial, pois era benéfico para o fabricante que o mercado para seu 
produto se mostrasse tão amplo quanto possível, como também redundava 
em sua vantagem que a importação dos artigos competitivos fosse reduzida. 
É verdade que ele tinha ainda interesse em incentivar a barateza de suas 
matérias-primas e da subsistência dos trabalhadores: fato que vimos 
a doutrina mercantilista levar inteiramente em conta ao reservar sua 
recomendação de exportação às manufaturas e restringir sua condenação 
às importações do que não fosse matéria-prima ou mercadorias acabadas, 
destinadas ao consumo de luxo (DOBB, 1986, p. 151).
Segundo Hobson (1985), o mercantilismo se apoiava em três premissas:
• o país deveria apenas importar aquilo que não podia ser vantajosamente produzido no país;
• o saldo favorável da balança comercial (resultante de um volume maior de exportações em 
comparação às importações) significava um maior estoque de ouro e de metais;
• o Estado deveria chamar para si a tarefa de estimular as exportações e encontrar novas fontes de 
extração de metais preciosos. Tanto de uma forma quanto de outra, aumentar-se-ia o estoque 
nacional de ouro e prata, desde que também fossem criados mecanismos que impedissem a saída 
desses metais do país.
Para Cerqueira (2001, p. 395):
o mercantilismo propõe a regulação da vida econômica da sociedade pelo 
Estado, pois esta não se organiza por si só. A ordem econômica e a ordem 
política, neste sentido, estão mutuamente relacionadas, pois ao Estado 
compete a oikonomia, a organização daquele espaço que é entendido 
como a propriedade, a casa do rei. A boa administração da economia é 
benéfica para o Estado e para seus membros. Ela depende de assegurar 
que a população esteja adequadamente distribuída entre as diferentes 
ocupações, que cada um ocupe o lugar que lhe cabe. Nesse caso, o sentido 
da palavra “economia” não está referido às “leis de administração da casa” 
(da maneira como hoje falaríamos em leis de administração da economia 
ou em princípios de política econômica), mas sim à responsabilidade de 
cuidar da propriedade, de preservar cada coisa em seu justo e devidolugar 
(CERQUEIRA, 2001, p. 395).
 Lembrete
O mercantilismo é o conjunto de estratégias conduzidas pelo Estado 
para promover a exportação e estimular a formação de estoque de moedas.
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As mercadorias necessárias à atividade comercial e o metal que representava a riqueza da nação 
teriam a mesma origem: a exploração de um novo mundo encontrado além-mar. A solução parecia 
incrivelmente lógica: se era proibido exportar metais, a exportação de mercadorias deveria ser estimulada. 
Assim, mercadorias atraentes para o mercado europeu deveriam ser encontradas e trazidas de seus 
locais de origem para os grandes centros de troca na Europa. Mais: era necessário encontrar territórios 
até então inexplorados e que pudessem conter minas de ouro e prata.
Essa estratégia fez surgirem os grandes investimentos da monarquia na exploração marítima. Com os 
recursos dos cofres imperiais, grandes embarcações foram construídas, e empreendedores e aventureiros 
seguiram para os oceanos em busca de fontes de matérias-primas e metais.
Colombo e Vasco da Gama, Cabral e Magalhães não se aventuraram em suas 
viagens que marcaram época como mercadores (embora esperassem fazer 
fortuna com a aventura). Eles se aventuraram em embarcações compradas 
e equipadas com o dinheiro real, com o selo real de aprovação, e foram 
enviados para longe com a esperança de acréscimos aos tesouros dos reis 
(HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 61).
Assim, as colônias estabelecidas nos novos territórios descobertos e conquistados foram 
inseridas no modelo preconizado pelos reis e pelas monarquias em favor da burguesia comerciante. 
Dessas colônias chegavam açúcar e especiarias e eram retirados ouro e prata das minas. Ainda, 
essas colônias serviam de mercado consumidor para os produtos fabricados nas metrópoles: o 
arranjo era simplesmente perfeito.
Rei
Estado
Metropolitano
Burguesia
Colonização
Figura 2 – A colonização correspondeu aos interesses do Estado Absolutista e da burguesia mercantil 
europeia, fortalecendo o primeiro e enriquecendo a segunda
A conquista de novas terras era a peça que faltava para a consolidação do que ficou conhecido como 
Antigo Regime (Ancien Régime, em francês): o absolutismo, o capitalismo comercial, o mercantilismo, a 
sociedade estamental e o sistema colonial.
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Sistema colonial
M
ercantilism
o
Colônia Metrópole
Pacto 
colonial
Escravos, manufaturados
Gêneros tropicais, metais preciosos
Saldo favorável
Figura 3 – O tripé econômico do Antigo Regime (Capitalismo Comercial, Mercantilismo e Sistema Colonial)
É importante salientar que, embora não se pudesse ainda falar de capitalismo industrial ou de 
economia de mercado, o cenário para o surgimento desses fatores já estava pronto. O mundo feudal 
havia se desintegrado e já havia uma nova atitude em relação ao lucro; a ética católica havia sido 
substituída pela ética protestante, que defendia o trabalho e a parcimônia; o comércio crescia a olhos 
vistos, sob a proteção da monarquia; a atividade econômica encontrava-se cada vez mais monetizada; 
a urbanização havia estimulado a mobilidade social. Não havia ainda capitalismo, mas existiam atos 
econômicos sobre os quais os estudiosos e defensores do mercantilismo iriam falar. Ainda não se tratava 
de um “sistema de pensamento”, mas não é possível ignorar essas marcas deixadas pelos primeiros 
textos sobre os negócios e a administração das finanças públicas. De forma mais específica, é importante 
investigar os textos que se dedicaram ao estudo das condições da acumulação primitiva de capital que, 
posteriormente, sustentaria o processo de industrialização e o desenvolvimento capitalista.
Segundo Cerqueira (2001, p. 394):
Alguém poderia objetar, porém, que é possível encontrar este tipo de 
discurso na obra de autores do século XVII e inícios do XVIII, tais como 
Thomas Mun, Petty, Barbon, Child, Cantillon etc. Nelas, haveria uma reflexão 
sobre a moeda, o comércio, os juros e a riqueza, que parece prefigurar a 
ciência econômica. De modo geral, é deste modo que os textos de história 
do pensamento econômico apresentam os autores do período mercantilista: 
como representantes de um momento em que emergem os conceitos e 
uma nova maneira de pensar, que redundariam no surgimento da economia 
política clássica. Ainda que se lamente a ausência de rigor e sistematicidade, a 
presença de conceitos como valor, renda e produção é quase sempre tomada 
como o sinal inequívoco de uma certa forma de entender os fenômenos 
da produção material que autoriza a inclusão dos mercantilistas no grupo 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
seleto dos “primeiros economistas”: “Talvez os teóricos de hoje distorçam 
os processos de pensamento de seus predecessores, ao reformularem os 
problemas, conceitos e análises de ontem em termos modernos; mas, ao 
fazê-lo, ainda podem clarear suas próprias ideias e aguçar sua mensagem. 
Olhando-se para trás dessa maneira, não é difícil aceitar Sir William Petty, 
digamos, como um economista na expressão moderna [...]. É verdade que 
os economistas do século XVII herdaram ou desenvolveram uma base de 
teoria econômica no sentido moderno, ainda que fosse muitas vezes apenas 
esboçada [...].
1.2 A moeda, o câmbio e a riqueza a partir dos pressupostos mercantilistas
Para que possamos entender melhor a contribuição dos autores mercantilistas para a compreensão 
das práticas preconizadas pelo Estado no sentido de criar e manter a riqueza dentro da nação, devemos 
considerar as principais características do modo de funcionamento do sistema monetário e comercial 
do período. Segundo Suprinyak (2009, p. 572):
As primeiras décadas do século XVII configuraram um período conturbado 
na história da Europa, em especial na Inglaterra – presságio de um 
século marcado por contínuas e profundas turbulências. Ao início da 
década de 1620, várias tendências confluíam para deflagrar uma crise 
econômico-social que causou comoção pública nos domínios britânicos. 
As contingências bélicas associadas à eclosão da Guerra dos Trinta Anos 
deram origem ao célebre fenômeno do Kipper-und Wipper-Zeit, uma série 
de desvalorizações metálicas nas moedas dos diversos principados do Sacro 
Império Romano-Germânico que visavam aumentar os recursos disponíveis 
para as despesas de guerra. O resultado foi um fluxo massivo de moedas 
de toda a Europa Ocidental em direção à região dos conflitos, atraídas pela 
possibilidade de ganhos na arbitragem entre valores nominais e metálicos. A 
Inglaterra, que vinha sofrendo com o aumento da concorrência no mercado 
internacional de tecidos e com o recente fracasso do Cockayne Project 
(que amplificou a crise na manufatura têxtil do país), sentiu de forma 
particularmente severa os efeitos da escassez de moeda.
Nada mais natural, portanto, que autores se dispusessem a discorrer sobre questões pragmáticas 
e que envolvessem alternativas e estratégias políticas a serem seguidas pelos nascentes (e em franco 
crescimento e consolidação) Estados europeus. Esses autores nada mais fariam do que discorrer a respeito 
de condições necessárias para o surgimento de saldos favoráveis da balança comercial, mecanismo 
ideal para o estoque da moeda, símbolo do fetiche mercantilista pela economia monetária. Além disso, 
ao considerar o consumo apenas uma atividade da destruição da riqueza gerada, esses autores, de 
bom grado, abandonaram a investigação do comércio interno, mecanismo pelo qual a riqueza apenas 
mudava de mãos. Assim, para esses autores, é o comércio internacional o mecanismo ideal para gerar 
estoque de moedas. Segundo Suprinyak (2009, p. 578),
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Se as transações internasnão são capazes de criar riqueza, cabe ao comércio 
internacional a tarefa de garantir a prosperidade nacional. É importante 
ressaltar que estes autores não são adeptos de um ascetismo radical. Pelo 
contrário, acreditam que a prosperidade se manifesta, entre outras coisas, 
no conforto e no bem-estar dos súditos; que a natureza distribuiu as 
riquezas por todo o globo, de forma a induzir os povos a comerciar entre si 
para satisfazer suas necessidades; e que não é possível exportar muito sem 
importar nada, pois o comércio internacional requer certo equilíbrio nos 
fluxos. Entretanto, frugalidade e laboriosidade são as principais maneiras 
de garantir que, no âmbito do comércio internacional, a riqueza doméstica 
seja incrementada. A receita é clara: transformar o consumo estrangeiro 
em riqueza nacional. Compreender tais ideias a partir da perspectiva de 
aversão ao consumo também permite iluminar sob outro ângulo a noção 
de comércio internacional como jogo de soma-zero, característica do 
período. Incapazes de perceber a potencialidade do mercado interno para 
a prosperidade, os autores do período vislumbraram de forma distorcida a 
dinâmica do sistema econômico. Se o consumo é transferência de riqueza, 
o consumo de mercadorias importadas é transferência de riqueza entre 
nações – a única forma possível de incremento da riqueza doméstica.
A moeda surge do comércio internacional e irriga o mercado interno de vitalidade. Assim, esse 
sistema monetário bimetalista (no qual ouro e prata eram cunhados sob a forma de moedas) será objeto 
de análise dos estudiosos mercantilistas. Afinal, embora de aparente simplicidade, o sistema monetário 
funcionava à base de uma taxa de conversão entre ouro e prata, taxa essa que variava dentro de cada 
região da Europa.
Cada moeda tinha seu valor nominal (valor de face) determinado por 
uma estampa real que recebia na cunhagem. Em termos ideais, este valor 
corrente deveria representar seu conteúdo metálico – seu valor “intrínseco”. 
Na prática, este frequentemente não era o caso. Donos da prerrogativa da 
cunhagem, os soberanos com frequência utilizavam-na para obter recursos 
financeiros extraordinários ou mesmo para aumentar a oferta de moeda 
em circulação. Isto poderia ocorrer por meio de uma alteração no valor de 
face – o valor nominal da moeda era alterado sem mudança correspondente 
no conteúdo metálico; ou então adulterando a liga metálica das moedas – 
adicionando metais não preciosos na composição da moeda sem alterar seu 
valor de face. No âmbito do comércio internacional, este sistema monetário 
abria inúmeras vias para atividades especulativas e de arbitragem entre 
moedas (SUPRINYAK, 2009, p. 580).
No contexto mercantilista, a moeda serve como padrão de valor, e o seu valor, portanto, é 
determinado pelo soberano. No entanto, os metais preciosos a partir dos quais as moedas eram 
cunhadas continuam sendo mercadorias; “enquanto mercadorias, tinham seu valor determinado no 
mercado, pela interação entre oferta e demanda. Esta ambiguidade na natureza do valor das moedas 
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criou algumas dificuldades que obscureceram as análises do período” (SUPRINYAK, 2009, p. 581), o 
que criou ambiguidades e dificuldades na interpretação e análise do mecanismo financeiro por parte 
dos autores mercantilistas.
Ainda, devem-se considerar as dificuldades criadas pela diferença entre o valor arbitrado pelo 
soberano e o valor da moeda conforme o metal que continha.
[...] as moedas correntes de cada nação têm seu valor nominal determinado 
pelo soberano, frequentemente não correspondendo ao seu conteúdo 
metálico. Desta forma, no mercado de câmbio – o mercado de letras de 
câmbio – surge uma cotação entre as diversas moedas internacionais, uma 
taxa de conversão idealmente relacionada à equivalência metálica entre elas, 
porém sujeita às flutuações do mercado. Além disto, certas modalidades de 
letras de câmbio não eram descontáveis à vista, possuindo um vencimento 
determinado. Neste caso, encobriam não apenas uma especulação em 
relação à cotação futura da moeda, mas também a cobrança de juros, 
em uma época em que a usura ainda era condenada moral e legalmente. 
Previsivelmente, as modalidades especulativas viabilizadas por este mercado 
internacional de divisas foram inúmeras (SUPRINYAK, 2009, p. 583).
2 O MERCANTILISMO: AUTORES, OBRAS E IDEIAS
Os autores que escreveram sobre atos e fatos econômicos, na maior parte das vezes com a 
preocupação de sugerir estratégias para a gestão pública das finanças, tiveram como objeto de 
estudo aquilo que, para o mercantilismo, era essencial: os meios de pagamento, a quantidade de 
moeda circulante, as questões de comércio internacional, os interditos à importação de bens, as 
vantagens das trocas internacionais etc.
Richard Cantillon (168?-1734) foi um desses autores. A sua obra, Ensaio sobre a Natureza do Comércio 
em Geral (1730), é tida como um dos tratados mais sistemáticos e originais do período anterior a Adam 
Smith (COUTINHO, 2004). Brilhante homem de negócios, filho de uma família irlandesa proprietária de 
terras, Cantillon exerceu atividades nos setores financeiro e bancário, atuando em todas as partes da 
Europa e amealhando uma fortuna com a especulação nas Bolsas de Valores (IORIO, 2014).
Quais são os temas discutidos por Cantillon? Basicamente, suas áreas de interesse foram as seguintes: 
a) a estrutura social e a natureza do excedente econômico; b) a natureza dos problemas monetários e de 
circulação; c) a propriedade privada; d) a distribuição espacial da população e das atividades econômicas. 
De forma resumida, os pressupostos de Cantillon são os seguintes:
i) as decisões (de cultivo, de consumo, de localização) dos proprietários 
determinam o tamanho da população, sua dispersão pelo território e a 
configuração da rede urbana; ii) os custos de transporte ocupam um papel 
decisivo na definição da estrutura de preços e na alocação de atividades 
produtivas no território; iii) os custos de transporte moldam, em conjunto 
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com outros elementos, os processos de mercado, as trocas internacionais 
e a circulação monetária. A visão naturalista e agrícola de economia que 
marca o sistema, no entanto, afeta até mesmo seu componente espacial. 
Esta visão se faz sentir na centralidade da relação social de propriedade da 
terra – a despeito do destaque concedido à produção manufatureira e ao 
capital mercantil – e na importância concedida à produção de subsistência. 
Isso muitas vezes se dá em detrimento de uma concepção mais refinada 
de produtividade e vantagens comparativas, e implica: i) no alcance 
limitado da análise das economias de aglomeração, uma vez que a renda 
é determinada em última instância na agricultura; ii) o recuo a posições de 
sabor mercantilista e dirigista, que se revelam na identificação de trocas 
internacionais recomendáveis e não recomendáveis, e na aspiração a que se 
promova uma redistribuição das manufaturas pelo território como modo de 
nivelar a distribuição de meio circulante, elevar a renda e baixar os custos de 
produção (COUTINHO, 2004, p. 10).
É importante ressaltar que, para Cantillon, independentemente da origem da propriedade, ela será 
sempre o resultado que irá gerar a concentração da terra nas mãos de poucos. De fato, Cantillon afirma 
a ideia de inevitabilidade da má distribuição da riqueza e o fato de a estrutura social da atividade 
econômica estar assentada sobre essa má distribuição. Segundo Coutinho (2004, p. 3):
O sistema de Cantillon compreende três classes sociais básicas – 
proprietários fundiários, trabalhadores agrícolas, arrendatários capitalistas 
– e contempla diversas variações, ao reconhecer as figuras dos trabalhadores 
manufatureiros, do artesão urbano independente, do comerciante, do 
artesão na construção civil. Ao trocaremo produto social, que emana da 
agricultura, estas classes são protagonistas de um modelo de circulação, 
que é o núcleo do Ensaio e abrange as discussões sobre dinheiro, meio 
circulante e preços. No sistema de Cantillon, as decisões (de consumo e de 
como utilizar a terra) do proprietário rural é que determinam a capacidade 
de sustentação da população e o progresso da nação. Em todos os sentidos, 
os proprietários, ou a classe cujos direitos são primários e naturais, detêm 
um poder efetivo de decisão, que flui de sua posição privilegiada na 
percepção de um segmento do produto nacional. Nessa exata medida os 
proprietários de terra constituem a “classe independente”. As demais classes 
sociais – trabalhadores agrícolas, produtores manufatureiros, arrendatários 
capitalistas – são, por contraste, “dependentes” (COUTINHO, 2004, p. 3).
Dessa forma, a necessidade faz que os trabalhadores e fazendeiros vivam próximos ao plantio. As 
vilas serão ocupadas por eles – pelos arrendatários e trabalhadores – e pelos artesãos que trabalharão 
para eles. As cidades, os burgos, por sua vez, representarão os mercados, servindo de moradia para os 
proprietários e artesãos mais especializados e que dependem de uma maior clientela. Também servirão 
de entreposto para o comércio agrícola.
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No sistema de Cantillon, as trocas de produtos agrícolas dão-se em uma 
primeira etapa nos burgos. Os produtores levam as mercadorias aos burgos, 
ao invés de os comerciantes mercadejarem pelo campo, de vila em vila. Essa 
pode ser uma descrição de como se dava o comércio no início do século 
XVIII, mas constitui, preponderantemente, um artifício para mostrar como 
se formam os preços, já que o processo de oferta e demanda e a formação 
de apenas um preço por mercado depende de informação. O burgo é o local 
onde circulam as informações sobre preços e onde se obtém economia nos 
custos de transação. O burgo, portanto, é uma abstração econômica do 
mercado de produtos agrícolas (COUTINHO, 2004, p. 4).
A cidade sobrevive em função da demanda dos nobres e dos proprietários. Por sua vez, é da capital 
que emanam o poder e a riqueza do soberano e da nobreza que o cerca.
A capital, finalmente, que se situa no topo da escala dos aglomerados urbanos, 
é simplesmente a cidade em que o soberano decidiu estabelecer-se. A 
presença do soberano atrai a nobreza e os proprietários mais ricos, determina 
a fixação das principais cortes de justiça e estimula o estabelecimento de 
produtores de manufaturas e de serviços. A capital é o foco em torno do 
qual gravitam os homens de dinheiro e os que lhes prestam serviços. No 
tratamento da economia das cidades e da capital, o Ensaio dá um destaque 
especial aos artesãos dedicados à construção civil. Convém insistir que 
estamos diante de um tratamento econômico da aglomeração bastante 
limitado porque, apesar das externalidades urbanas, a renda nunca é gerada 
na cidade. A concepção natural e agrícola de economia é inteiramente 
dominante (COUTINHO, 2004, p. 5).
Cantillon vai além: ao descrever o locus da atividade econômica, ele observa que a população se 
distribui no espaço territorial em função do cultivo; por sua vez, o tamanho da população depende da 
disponibilidade de meios para o plantio e para a subsistência. Outra grande preocupação de Cantillon 
tem relação com a estrutura de preços e a circulação monetária. De acordo com o contexto da época, 
no qual a questão da quantidade de metal é fundamental, Cantillon se indaga a respeito da quantidade 
necessária do meio circulante.
Na medida em que nas cidades concentra-se metade da população, pode-se 
dizer que uma proporção similar dos produtos agrícolas enfrenta custos de 
transporte. Combinam-se aqui custos de transporte e circulação monetária, 
já que dois fatores – os custos de transporte e a maior disponibilidade de meio 
circulante - contribuem para que os preços sejam maiores nas cidades do que 
nas províncias. Em face disso, as questões que Cantillon passa a enfrentar 
são: a) levando-se em consideração os custos de transporte, qual a estrutura 
de preços de equilíbrio?; b) em que medida a “desigualdade de circulação” 
afeta a distribuição das atividades econômicas e o balanço campo/cidade? 
A primeira questão envolve dois mecanismos complementares de equilíbrio, 
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associados ao custo de transporte. Um dos mecanismos é o de arbitragem no 
sentido estrito. Para Cantillon, a estrutura de preços de equilíbrio é aquela 
em que o diferencial de preços se explica pelos custos de transporte. Fora 
desta estrutura, os comerciantes obteriam ganhos de arbitragem levando as 
mercadorias de um local a outro. O outro mecanismo amplia a dimensão dos 
custos de transporte no modelo, pois remete a seu papel como elemento de 
reorganização da distribuição espacial (COUTINHO, 2004, p. 7).
De fato, e inclusive antecipando algumas das ideias de Smith, Cantillon busca desenvolver o conceito 
de mercado. No mercado que ele descreve, “produtos que não concorrem entre si, devido à impossibilidade 
de transporte, [...] participam de mercados distintos; mercados distintos não nivelam os preços; custos 
de transporte muito elevados criam mercados distintos para o mesmo produto” (COUTINHO, 2004, p. 
10). Entretanto, de forma diferente da que Smith fará, o equilíbrio desse mercado não emana de algum 
mecanismo mágico invisível: são as barganhas e as trocas realizadas por todos os agentes que mantêm 
o mercado funcionando.
Outra grande preocupação de Cantillon diz respeito às formas por meio das quais as diferenças de 
meio circulante afetam os níveis de preços, o comércio internacional e o desenvolvimento das nações.
A localização do país passa a ser um fator estratégico de competitividade 
internacional, atenuando ou intensificando os efeitos do aumento do nível 
de meio circulante provocados pelo superávit comercial. Nesse ponto, a 
localização interage com o specie flow mechanism. É importante assinalar 
que o modelo de comércio internacional do Ensaio leva em consideração 
preços de mercadorias e de fatores e, preponderantemente, o nível dos 
salários. A mobilidade dos fatores é um dos mecanismos de equilíbrio dos 
preços no mercado internacional, considerados os custos de transporte. 
Assim sendo, vantagens em custos de transporte podem também retardar o 
gatilho da mobilidade fatorial (COUTINHO, 2004, p. 10).
Coubert foi outro grande nome entre os que buscaram refletir sobre as práticas governamentais 
associadas ao ideário mercantilista. Segundo Souza ([s.d.], p. 5):
Na França, o Mercantilismo manifestou-se pelo Colbertismo, ideias 
derivadas de Jean Baptiste Colbert (1619-1683), segundo as quais as 
disponibilidades de metais preciosos poderiam aumentar pelas exportações 
e pelo desenvolvimento das manufaturas. Colbert foi Ministro das Finanças 
de Louis XIV e chegou a controlar toda a administração pública. Protegeu 
a indústria e o comércio. Trouxe para a França importantes artesãos 
estrangeiros, criou fábricas estatais, reorganizou as finanças públicas e a 
justiça, criou empresas de navegação e fundou a Academia de Ciências e o 
Observatório Nacional da França. Com a proteção à indústria, as exportações 
seriam mais regulares e com maior valor. Com esse objetivo, os salários e 
os juros passaram a ser controlados pelo Estado, a fim de não elevar os 
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custos de produção e poder assegurar vantagens competitivas no mercado 
internacional. O Colbertismo implicava [a] intervenção do Estado em todos 
os domínios e caracterizava-se pelo protecionismo, ou seja, pela adoção 
de medidas pelo governo para proteger as empresas nacionais contra a 
concorrência estrangeira. Seu pensamento encontra-se na sua obraCartas, 
Instruções e Memórias, 1651 a 1669.
Finalmente, Souza ([s.d.], p. 5) cita outros importantes nomes e significativas obras representativas 
do pensamento mercantilista.
a) Malestroit (Paradoxos sobre a Moeda, 1566): segundo ele, o aumento 
do estoque de metais preciosos não provocava inflação; b) Jean Bodin 
(Resposta aos Paradoxos do Sr. Malestroit, 1568): para ele, maior quantidade 
de moeda gerava aumento do nível geral de preços; c) Ortiz (Relatório ao 
Rei para Impedir a Saída de Ouro, 1588): ele afirmava que, quanto mais 
ouro o país acumulasse, tanto mais rico ele seria; d) Montchrétien (Tratado 
de Economia Política, 1615): ensinava que o ouro e a prata suprem as 
necessidades dos homens, sendo o ouro muitas vezes mais poderoso do que 
o ferro; e) Locke (Consequências da Redução da Taxa de Juro e da Elevação 
do Valor da Moeda, Londres, 1692): argumentava que os metais preciosos 
precisavam permanecer no país. f) Thomas Mun (Discurso sobre o Comércio 
da Inglaterra com as Índias Orientais, 1621). Através dessa obra, Mun exerceu 
grande influência sobre o colonialismo inglês.
Por sua vez, Corazza (2009, p. 112) percebe no período mercantilista uma discussão antecipada do 
que viria a ser tema frequente de debates na área das Ciências Econômicas.
Assim, do ponto de vista metodológico, podemos considerar como 
precursores de um confronto metodológico, que perdurará longamente 
na história da ciência econômica, os autores William Petty e Dudley 
North. Petty, ao propor só aceitar conhecimentos baseados nos sentidos 
e causas que tenham fundamentos naturais, antecipa o uso do método 
empírico, indutivo ou experimental. Os argumentos devem basear-se 
em números, pesos e medidas. Sua “aritmética política” se confunde, 
de certo modo, com a futura estatística econômica. Em contraposição, 
North, em seu Discurso sobre o Comércio (1691), propõe um método 
oposto, baseado na dedução, de explícita inspiração cartesiana. Para 
ele, só devem ser aceitos os conhecimentos baseados em ideias claras 
e evidentes, a partir das quais se poderiam deduzir logicamente outros 
conhecimentos, também claros e evidentes.
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 Saiba mais
Sugerimos fortemente a leitura do texto do Professor Nali de Souza, 
já que proporciona uma visão ampla e resumida das principais ideias da 
história do pensamento econômico:
SOUZA, N. J. Uma introdução à história do pensamento econômico. 
[s.d.]. Disponível em: <http://www.nalijsouza.web.br.com/introd_hpe.pdf>. 
Acesso em: 14 out. 2015.
As ideias mercantilistas, paulatinamente, seriam abandonadas. Ainda, por influência do ambiente 
do despotismo esclarecido e da Ilustração, os ares iluministas provocariam profunda influência no 
pensamento filosófico, que, a partir dali, fazia surgir uma corrente preocupada única e exclusivamente 
com os aspectos do comportamento econômico e do funcionamento do próprio sistema capitalista.
2.1 O Despotismo Esclarecido e o Século das Luzes
Para os mercantilistas, a origem da riqueza estava no acúmulo de ouro e prata. Com as exportações, 
conseguia-se metal; as importações, ao contrário, significavam o envio de metal para outras nações. 
Como uma nação poderia conseguir o superávit? Quanto mais poderosa ela fosse, quanto mais rotas 
comerciais estivessem sob o seu domínio, quanto maior a dependência de suas colônias em relação à 
metrópole, tanto maiores seriam as possibilidades de acumular ouro e prata (BRUE, 2006).
Essa política requeria um Estado forte e um conjunto de instituições militares capazes de realizar a 
ação expansionista. Segundo Brue (2006), as frotas mercantes, desde que armadas e poderosas, eram 
um requisito absoluto para o sucesso dessa estratégia expansionista. Um governo centralizado bastante 
forte era outra exigência: fazia-se necessário um controle governamental bastante rigoroso para dar 
conta das políticas e das metas mercantilistas.
Esse controle era visível por meio da concessão de monopólios, da edição de leis protecionistas e da 
elaboração e fiscalização de normas que regulamentassem a produção e a distribuição de mercadorias. As 
importações eram rigorosamente controladas, quando não proibidas, e a fixação de preços dos produtos 
nacionais no mercado interno obedecia às exigências da política mercantilista. Pedágios, impostos e 
regulamentações eram instrumentos de ação do Estado, tendo em vista o acúmulo de metal.
É importante salientar que os mercantilistas não eram defensores do livre-comércio. Ao contrário, o 
ideário mercantilista se apoiava na concessão de monopólios e privilégios, mesmo porque essa era uma 
forma de manter o controle sobre a atividade econômica (BRUE, 2006).
Em consonância, o sistema político absolutista estabeleceria seus próprios limites na versão mais 
popular do despotismo esclarecido, modelo monárquico em que a autoridade absoluta do rei era utilizada 
para distribuição de mais justiça social aos seus súditos. O despotismo estaria associado, portanto, ao 
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poder autoritário dos monarcas; o esclarecimento estaria associado a projetos de cunho mais liberal, sob 
a inspiração ou não dos ideais iluministas da Ilustração.
Como exemplos desse Absolutismo “bem-intencionado”, podemos mencionar, na Prússia, Frederico II 
(1740-1786), que estimulou o ensino e a liberdade de culto entre seus súditos, aboliu a tortura e 
estabeleceu um novo código de justiça. Na Áustria, José II (1780-1790) aboliu a escravidão, estimulou 
a liberdade de culto e buscou racionalizar a administração do Estado. Claro que, na maioria dos casos, 
o esclarecimento ocupava menos espaço que o despotismo, pouco tendo influência, tanto do ponto de 
vista de mudanças radicais quanto do ponto de vista dos resultados concretos.
Segundo Falcon (2009), temos como traço marcante dos setecentos essa associação entre a busca 
de governos mais populares e as ideias de uma série de pensadores e filósofos que defendiam uma 
postura intelectual madura, moderna e autônoma: Locke, Voltaire, Montesquieu e Rosseau surgiram 
como os arautos de um movimento filosófico que assumiu uma crítica implacável ao Absolutismo. 
Afinal, naquele momento, o capitalismo se disseminava, e o absolutismo político esbarrava nos anseios 
da burguesia em relação à liberdade de agir e à maturidade concreta. Essa análise explica, inclusive, 
a herança que o Iluminismo nos deixou, no que se refere a uma proposta individualista da cidadania 
com base na liberdade e na propriedade privada e a uma proposta filosófica racionalista e otimista 
quanto ao valor da ciência. Aliás, o próprio termo Iluminismo irá disputar espaço com outro, Ilustração, 
dependendo do lugar em que se disseminou. Na França, correspondeu ao sentido de uma filosofia de 
história e a um ato de fé, sentido resumido na palavra Luzes. Na Alemanha, o Iluminismo significará 
esclarecimento, descobrimento, e estará fortemente vinculado ao Despotismo Esclarecido de Frederico II 
e José II. Na Escócia, o Iluminismo ganhará contornos mais definidos em questões de natureza moral e 
econômica (e Adam Smith será o grande representante dessa vertente a partir das suas considerações 
sobre a natureza da riqueza das nações e da moral centrada no individualismo, no autointeresse e no 
egoísmo que, a partir de um movimento natural, acabam por gerar o bem-estar de todos).
Em outras palavras, o Iluminismo, escola de pensamento fruto da ascensão da burguesia e da 
classe média, teria como foco de sua reflexão o debate sobre o papel do Estado e do rei, bem como 
o fortalecimento do primado da razão. Assim, nada mais natural que as obras mercantilistas, meras 
explanações das estratégias governamentais para a obtenção de saldos comerciais favoráveis, fossem 
dando espaço para obras mais reflexivas e que buscavam a compreensão do funcionamento da atividade 
econômica em sua totalidade.A metáfora das luzes reforça a ideia de saída da escuridão, de verdade e de conhecimento verdadeiro. 
As luzes representam o oposto da ignorância, dos erros, das superstições, o que impregna o Iluminismo 
de um sentido místico (da iluminação interior), do qual, aparentemente, ele buscava distanciar-se. 
Afinal, iluministas eram os filósofos morais ingleses e, também, os místicos espanhóis (FALCON, 2009).
Em função dessa relação dialética entre os vários significados do Iluminismo, o que podemos 
depreender desse período é que se tratou de um:
processo que apenas estava começando – o processo de esclarecimento do 
homem. Assim, [...], [tratou-se] de um processo de contínuo enriquecimento, 
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traduzido pela ideia de progresso, cuja essência é a capacidade de um número 
cada vez maior de homens “pensarem por si mesmos” (FALCON, 2009, p. 18).
Vejamos o ambiente dos setecentos. Do ponto de vista econômico, há períodos bem díspares: 
expansão até 1730, depressão até 1740, expansão até os anos 1770 e, depois, sucessivos ciclos de 
expansão e depressão. O contexto é de crescimento populacional, de intensificação das atividades 
comerciais e de aumento da produção agrícola.
Como dito anteriormente, o movimento iluminista encontrou nítida proximidade com a ascensão 
da burguesia, sendo por esse motivo, muitas vezes, chamado de movimento burguês, e os setecentos, 
entendidos como os anos de aburguesamento da cultura, já que os burgueses passam a ser os grandes 
produtores e os consumidores da cultura (embora, por várias vezes, as artes e as manifestações 
culturais recebessem apoio das monarquias mais esclarecidas). No entanto, é importante alertar que 
outros sujeitos, que não burgueses, participaram ativamente do movimento: clérigos, profissionais 
liberais e aristocratas.
O que o Iluminismo defende? Em primeiro lugar, uma profunda secularização em todas as áreas 
do conhecimento, perdendo terreno a visão tradicional de uma natureza finalista ou teleológica. 
Ainda, os ideais iluministas defendem o livre pensar, tendendo ao deísmo e exibindo forte conotação 
anticlerical. No plano político, desenvolveram-se ideias como as de Maquiavel, Hobbes e Locke, 
embora não faltassem aqueles que ainda buscavam uma conciliação entre a razão e a revelação. De 
qualquer forma, prevalece o formato de uma iluminação racional, que se desenvolve e se adquire, não 
sendo herança de nenhuma espécie.
longe de ser um conjunto de conhecimentos a priori sobre princípios ou 
verdades preexistentes, a razão iluminista é concebida como energia ou 
força intelectual, só compreensível e perceptível através da prática, isto é, 
do que é capaz de fazer e produzir (FALCON, 2009, p. 36).
Mais importante ainda, a razão iluminista é autônoma por definição, não se submetendo a formas 
vagas de “tradição” ou autoridade; o pensar racionalmente envolve criticar, duvidar e demolir. O 
pressuposto é de avanço constante, de progresso que não pode ser interrompido, da transição entre 
menoridade e maioridade.
Quanto tempo demoraria para que os filósofos iluministas vissem no Estado Absolutista justamente 
o tipo de autoridade do qual pretendiam libertar-se? Não precisou de muito tempo, e não seria apenas 
o Estado Absolutista a servir-lhe de alvo, mas toda e qualquer forma de revelação que pretendesse 
prevalecer por ordem natural ou divina. Afinal, o Iluminismo pressupunha tolerância religiosa, confiança 
no sistema jurídico baseado em leis justas e que tivessem como meta a promoção do bem-estar. Assim, 
ocupavam espaço na agenda iluminista uma maior humanização dos processos judiciais e das sanções, 
com o banimento da tortura e da pena de morte, a busca de melhores condições prisionais, a ideia de 
punição proporcional ao crime e a filantropia.
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 Observação
Entre os membros da burguesia, tornam-se populares as atitudes que 
buscavam demonstrar preocupação com os menos favorecidos, porém 
desvinculadas dos princípios religiosos da caridade, do fatalismo e do 
castigo divino.
O século das luzes, assim, ficou marcado pelo esforço dos enciclopedistas. Inúmeros pensadores e 
filósofos vão se reunir para fazer:
o recenseamento crítico dos conhecimentos segundo uma ordem que 
deveria ser capaz de oferecer, simultaneamente, a visão de conjunto desses 
conhecimentos e as suas linhas-mestras, com as relações e diferenças entre 
eles [...]. O fio condutor dessa geografia é o próprio homem, suas faculdades 
básicas - razão, imaginação e memória. A razão como geradora das ciências, 
a imaginação enquanto geradora da poesia e das belas-artes, e a memória 
como razão de ser da História (FALCON, 2009, p. 83).
Figura 4 – Capa da Enciclopédia, a obra que buscou reunir todo 
o conhecimento racional produzido até o século XVIII
Quanto essas ideias poderiam favorecer um movimento revolucionário que buscaria atingir, 
depois, as monarquias absolutistas é ainda material para investigação histórica. Embora alguns ideais 
revolucionários estivessem presentes em alguns autores e pensadores, não se pode estabelecer uma 
relação de causa e efeito entre Iluminismo e revolução. Parece-nos mais correto imaginar que:
Propondo-se como nova, como origem de um novo tempo, exatamente 
porque afirmava como princípio uma ideia de liberdade positiva que não 
era mais compatível com as liberdades e a liberação típicas ou possíveis no 
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Antigo Regime dos monarcas esclarecidos, a Revolução punha em prática 
os princípios da Ilustração política: a afirmação do direito natural contra a 
tradição histórica, a firmação dos direitos humanos como sagrados [...]. A 
Revolução, portanto, levou às ultimas consequências alguns dos princípios 
iluministas e, acima de todos, certamente, a ideia de liberdade (FALCON, 
2009, p. 88).
A burguesia havia fortalecido o rei para que um poder central fosse capaz de garantir a 
liberdade do comércio e da atividade econômica. Um monarca forte podia se contrapor aos 
senhores feudais e à Igreja Católica (com todas as suas normas e interditos). Mas, resolvido 
esse problema, fazia-se ainda necessário manter o rei? Ou melhor, o que justificativa o controle 
exercido por qualquer governo?
Para Hobbes, o ser humano, em seu estado de natureza, para se defender ou para ter o que desejava, 
estava inclinado a sempre atacar o outro, a guerrear. A única coisa que poderia controlar e reprimir esse 
impulso ao ataque contra todos era o Estado. Para um contratualista como Hobbes, o Estado havia 
surgido em decorrência “de um pacto firmado entre os homens, que estabelece as regras de convívio 
social e de subordinação política” (RIBEIRO, 2006, p. 53).
 Lembrete
O estado de natureza ao qual se referia Hobbes não era o estado 
selvagem das sociedades primitivas. Esse estado de natureza referia-se às 
características naturais do ser humano, independentemente do movimento 
da História. Quer dizer, dizia respeito às características que não mudavam 
com o tempo ou com os acontecimentos históricos.
Figura 5 – Thomas Hobbes (1588-1679)
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Esse homem “natural” era bem diferente do homem social imaginado por Aristóteles. Para Hobbes, a 
vida social estava impregnada de tensão. Sobre isso ele discorreu em Leviatã, a sua principal obra.
O mito de que o homem é sociável por natureza nos impede de identificar 
onde está o conflito, e de contê-lo. A política só será uma ciência se 
soubermos como o homem é de fato, e não na ilusão; e só com a ciência 
política será possível construirmos Estados que se sustentem, em vez de 
tornarem permanente a guerra civil (RIBEIRO, 2006, p.58).
Para Hobbes, o homem não almejava bens, mashonra.
O homem vive basicamente de sua imaginação. Ele imagina ter um poder, 
imagina ser respeitado – ou ofendido – pelos semelhantes, imagina o que o 
outro vai fazer. Da imaginação [...] decorrem perigos, porque o homem se põe 
a fantasiar o que é irreal. O estado de natureza é uma condição de guerra, 
porque cada um se imagina (com razão ou sem) poderoso, perseguido e 
traído (RIBEIRO, 2006, p. 58).
Se a lei da natureza, primeira e fundamental, dizia que o homem deveria procurar a paz, o direito de 
natureza afirmava o seu direito de se defender, caso fosse atacado. Ou, nos termos de Hobbes:
Que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha 
esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas 
as ajudas e vantagens da guerra. [...] [Assim], que um homem concorde, 
quando outros o façam, e na medida em que tal considere necessário para a 
paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, 
contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que 
aos outros homens permite em relação a si mesmo (HOBBES apud RIBEIRO, 
2006, p. 60).
Para Hobbes, o Estado garantia o respeito dos homens a esse acordo e, para isso, ele deveria ser 
pleno. Fundindo os conceitos de associação e submissão, Hobbes foi além: o governo era condição 
necessária para que se pudesse viver em paz e em sociedade, e o poder do governante tinha de ser 
ilimitado, portanto, absoluto. Para que esse contrato fosse válido, os súditos aceitavam o poder do rei, 
submetendo-se a ele. A liberdade e a igualdade eram os sentimentos que levavam os homens à guerra e 
a uma condição de existência pobre, solitária e sórdida. Ao renunciar à liberdade, o homem renunciava 
ao direito de defender sua própria vida, tarefa agora executada pelo rei.
 Lembrete
O rei não estava comprometido com nada, já que não havia assinado 
nenhum acordo. No entanto, caso o rei não defendesse a vida do súdito, 
este não lhe deveria mais qualquer obediência.
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O Estado hobbesiano apoiava-se no medo. O súdito obedecia ao soberano por temê-lo. O príncipe 
que governava (ameaçador como o monstro bíblico de nome Leviatã) o fazia por meio do terror causado 
em seus súditos, e esse medo só era suportável porque se configurava como menor do que o terror 
provocado pela vida em sociedade em que não houvesse qualquer contrato ou norma. Aliás, o indivíduo 
não cedia ao soberano somente os direitos que a privação de liberdade havia feito desaparecer, mas 
também a autonomia para a gestão de todas as terras e bens.
Será que ideias que negavam o direito natural à propriedade poderiam interessar à burguesia por 
muito tempo? Não. De fato, não lhe interessaram, e muito menos a crença de que o soberano fosse 
capaz de proteger os direitos dos seus súditos. Nem mesmo o Despotismo Esclarecido – o absolutismo 
sob a influência do Iluminismo – interessava à burguesia. Afinal, as cidades e os comerciantes haviam 
travado uma intensa luta política contra a autoridade feudal: era necessário que o poder feudal fosse 
controlado para que as atividades ficassem livres das amarras e do excesso de regulamentação. A 
Igreja Católica, por sua vez, há muito perdera importância e influência. Os Estados Nacionais haviam 
se fortalecido, centralizando o poder que era preciso para que as cidades, o comércio e a indústria 
pudessem florescer.
Se a burguesia havia apoiado a monarquia, era porque havia visto nessa estratégia uma 
forma de livrar-se dos resíduos do sistema feudal. Se a monarquia não estava mais interessada 
em defender os interesses dos mercadores e da indústria nascente, era necessário livrar-se dos 
soberanos absolutistas.
A partir dessa perspectiva, John Locke (1632-1704), filósofo defensor da experiência como fonte do 
conhecimento, refutou o conceito de direito divino dos reis e discutiu a extensão e o objetivo do governo 
civil. Assim, como um dos principais representantes da teoria dos direitos naturais (o jusnaturalismo), 
Locke defendeu:
ser a existência do indivíduo anterior ao surgimento da sociedade e do 
Estado. Na sua concepção individualista, os homens viviam originalmente 
num estágio pré-social e pré-político, caracterizado pela mais perfeita 
liberdade e igualdade, denominado estado de natureza (MELLO, 2006, p. 84).
A propriedade, que significava também os direitos à vida e à liberdade era, portanto, anterior à 
própria sociedade, constituindo-se em um direito natural do indivíduo que não podia ser violado 
pelo Estado.
O homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu 
trabalho. Como a terra fora dada por Deus em comum a todos os homens, 
ao incorporar seu trabalho à matéria bruta que se encontrava em estado 
natural, o homem tornava-a sua propriedade privada, estabelecendo sobre 
ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos os outros homens. 
O trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento originário da 
propriedade. [...]. Depois, o aparecimento do dinheiro alterou essa situação, 
possibilitando a troca de coisas úteis, mas perecíveis, por algo duradouro 
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(ouro e prata), convencionalmente aceito pelos homens. Com o dinheiro 
surgiu o comércio e também uma nova forma de aquisição da propriedade, 
que, além do trabalho, poderia ser adquirida pela compra. O uso de moeda 
levou, finalmente, à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos 
bens entre os homens (MELLO, 2006, p. 85).
Se não havia uma lei forte que todos respeitassem, os homens entrariam em guerra uns com os 
outros. Por isso, era fundamental que os indivíduos estabelecessem um contrato social, cuja função era 
a de tornar possível a sociedade civil, protegendo-a dos inconvenientes do estado de natureza. Não se 
tratava, porém, de um contrato de submissão como o de Hobbes:
é um pacto de consentimento, em que os homens concordam livremente 
em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os 
direitos que possuíam originalmente no estado de natureza. No estado civil, 
os direitos naturais inalienáveis do ser humano à vida, à liberdade e aos bens 
estão melhor protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força comum 
de um corpo político unitário (MELLO, 2006, p. 86).
Estabelecido o estado civil, definia-se a forma de governo. Definida a forma de governo, passava a 
prevalecer a decisão majoritária. A maioria também escolhia o poder legislativo, ao qual se submetiam 
o poder executivo e o federativo (encarregado das relações internacionais).
Em suma, o livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento 
da sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação do 
governo, a proteção dos direitos de propriedade pelo governo, o controle do 
executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade são, para 
Locke, os principais fundamentos do estado civil (MELLO, 2006, p. 87).
Nesses termos, Locke definiu a tirania como o exercício do poder para além daquilo que era de 
direito, com vistas ao interesse próprio, e não ao bem público. O uso contínuo da força e a não execução 
daquilo que é esperado em termos do bem de todos dão ao povo o direito legítimo de resistir. A guerra 
declarada pelo povo em relação ao governo é o último recurso de quem não pode mais apelar a nada, 
a não ser à justiça de Deus.
Segundo Locke, a doutrina da legitimidade da resistência ao exercício ilegal 
do poder reconhece ao povo, quando este não tem outro recurso ou a quem 
apelar para a sua proteção, o direito de recorrer à força para a deposição 
do governo rebelde. O direito do povo à resistência é legítimo tanto para 
defender-se da opressão de um governo tirânico como para libertar-se do 
domínio de uma nação estrangeira (MELLO, 2006, p. 88).
Essas eram ideias que atendiam aos interesses da burguesia. Não se tratava maisde se contentar 
com o apoio da monarquia ou com a sua indulgência. A questão que agora se colocava era: por que 
não governar?
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Montesquieu (1689-1755), na França, discutiu os regimes políticos a partir da ótica liberal. Membro 
da nobreza, sua percepção dos regimes monárquicos e da burguesia era bastante realista: preocupava-o 
compreender as razões da decadência das monarquias, ao mesmo tempo que buscava identificar as 
razões da sua estabilidade por tanto tempo.
A partir da definição das leis, Montesquieu rompeu com a teologia. Apesar desse rompimento, o tom 
conservador permaneceu, já que há em sua obra um determinismo no funcionamento das leis em torno de 
uma ordem natural dada. Afinal, nota-se a imensa influência das ciências físicas no seu trabalho: interessava 
a Montesquieu estabelecer, na política, leis explicativas, da mesma forma que Newton havia feito na Física. 
Essas leis dariam conta de explicar as uniformidades, as constâncias e as relações de causa e efeito.
Com o conceito de lei, Montesquieu traz a política para fora do campo 
da teologia e da crônica, e a insere num campo propriamente teórico. 
Estabelece uma regra de imanência que incorpora a teoria política ao 
campo das ciências: as instituições políticas são regidas por leis que derivam 
das relações políticas. As leis que regem as instituições políticas, para 
Montesquieu, são relações entre as diversas classes [em] que se divide a 
população, as formas de organização econômica, as formas de distribuição 
de poder etc. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 115).
Montesquieu analisou a natureza do governo e descreveu: na monarquia, apenas um governava, 
sob o princípio da honra; na república, governava o povo ou parte dele, sob o princípio da virtude; no 
despotismo, governava a vontade de um só, sob o princípio do medo. Assim, para o Estado de direito, 
era necessário que houvesse a separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário, cada um deles 
funcionando de forma independente e cada um deles detentor do mesmo poder que os outros.
A estabilidade do regime ideal está em que a correlação entre as forças 
reais da sociedade possa se expressar também nas instituições políticas. Isto 
é, seria necessário que o funcionamento das instituições permitisse que 
o poder de forças sociais contrariasse e, portanto, moderasse o poder das 
demais (ALBUQUERQUE, 2006, p. 120).
Era necessário que a burguesia, como força política, pudesse proteger-se das demais forças 
e, acima de tudo, pudesse armar-se de instrumentos capazes de salvaguardar seus interesses. Em 
relação ao Antigo Regime, essa nova classe social já não precisava mais do poder absoluto do rei, 
nem de tantas regras e normas, especialmente porque elas se prestavam a defender seus interesses 
econômicos. Em resumo, não havia nada no Antigo Regime que ainda pudesse lhe interessar.
Como lembram Screpanti e Zamagni (1997, p. 12), o nascimento da ciência 
econômica implica a superação, tanto da ideia aristotélico-tomista, que restringia 
seu domínio à economia familiar-doméstica, como o abandono da metafísica 
aristotélica. Primeiro, enquanto arte da administração doméstica, a economia era 
considerada uma atividade prática que não requeria investigação científica, como 
já requeria a política e, portanto, não requeria um conhecimento científico. 
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A economia só se coloca como ciência ao definir-se como economia política 
ou nacional, em contraposição à economia doméstica ou familiar, ou seja, 
seu objeto de investigação se universaliza e se torna autônomo em relação a 
seus fins. A emancipação da economia como ciência também coincide com 
a secularização da própria ciência enquanto tal. O processo de secularização 
da ciência, em que se insere a economia, se acentua no decorrer do século 
XVII, por influência do jusnaturalismo, do empirismo inglês e do racionalismo 
cartesiano (CORAZZA, 2009, p. 111).
O Iluminismo fomentou o surgimento de dois grupos expressivos de pensadores: na França, o grupo dos 
fisiocratas; na Inglaterra, o grupo dos liberais clássicos. Ambas as correntes devem à Ilustração a motivação para 
guiar-se pela Razão; ambas beberam das fontes iluministas no que concerne a buscar modelos explicativos 
para o funcionamento do sistema econômico, naquele momento, já tingido pelas cores da industrialização.
A fisiocracia francesa (representada pelas obras de Quesnay e de Turgot) pode ser considerada uma 
reação às práticas mercantilistas que a antecederam. A oposição ocorre principalmente em relação ao 
excesso de regulamentação e de normatização representada pela ação governamental, necessária para 
pôr em prática a política mercantilista expansionista e acumuladora de metal precioso. Os fisiocratas 
introduziram, no campo econômico, a ideia de ordem natural. Por influência da mecânica newtoniana, 
acreditava-se em uma ordem da natureza que se responsabilizaria por manter tudo em equilíbrio.
Representados por Adam Smith, David Ricardo, Bentham, Say, Sênior e Mill, os economistas clássicos 
são os responsáveis pelos primeiros desdobramentos teóricos da Economia. Segundo Brue (2006), 
as bases do pensamento liberal clássico são a liberdade pessoal, a propriedade privada, a iniciativa 
individual e o repúdio ao excesso de regulamentações e normas expedidas pelo Estado. Assim, dentre 
os principais pressupostos clássicos, destacam-se a interferência mínima do Estado na economia, o 
comportamento econômico individual baseado no autointeresse (as ideias de Smith contidas em Teoria 
dos Sentimentos Morais são modelares dessa forma de pensar) e a busca de leis explicativas dos fatos 
econômicos. Também é importante ressaltar que, para os clássicos, não é apenas a agricultura que cria 
riqueza: a origem da riqueza encontra-se em todos os ramos da atividade econômica. Todas essas ideias 
serão vistas de forma detalhada na próxima unidade.
3 A ESCOLA CLÁSSICA
3.1 O contexto científico do período, a Revolução Industrial e o pensamento 
liberal clássico
A escola clássica tem início oficialmente em 1776, com a publicação da obra mais importante do 
economista Adam Smith, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (em português, 
A Riqueza das Nações - Investigação sobre sua Natureza e sobre suas Causas). Marcado pelas obras de 
grandes economistas do final do século XVIII até o século XIX, como David Ricardo, Thomas Robert 
Malthus e John Stuart Mill, além de Adam Smith, o pensamento econômico clássico se estabelece em 
meio a duas importantes revoluções: a científica e a industrial.
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Com a ascensão de ideias sobre o movimento planetário e as leis matemáticas de Galileu, a Revolução 
Científica foi associada às ideias de Isaac Newton, que fundamentou três aspectos importantes para o 
contexto científico do período. Em primeiro lugar, disseminou a importância da evidência experimental, 
questionando o conhecimento nato derivado apenas de raciocínio, sem o apoio da experiência. Em 
segundo, Newton popularizou o pressuposto já existente de que o universo era governado por leis 
naturais. Em terceiro, disseminou a ideia de visão estática do universo: com o intuito de demonstrar que 
espaço, tempo e matéria seriam independentes um do outro (BRUE, 2005).
Com relação aos primeiros indícios da Revolução Industrial, é possível destacar que os economistas 
clássicos intensificaram suas publicações, a fim de compreender a nova necessidade de expansão 
econômica: a ascensão da indústria.
Na época dos clássicos, a importância crescente da indústria colocava fora 
de moda a visão naturista (fisis = natureza) dos fisiocratas. E a necessidade 
de maior liberdade comercial, bem como de uma força de trabalho dotada de 
maior mobilidade, mostravamque o excesso de regulamentação e intervenção 
governamental, preconizado pelos mercantilistas, já não se ajustava às 
necessidades da expansão econômica. Estas duas correntes estavam sendo 
ultrapassadas pelos fatos (ARAÚJO, 1988, p. 21).
Não é mero acaso que o campo social tenha atraído médicos como François Quesnay (fisiocrata) e 
homens com sólida formação em ciência social como Adam Smith. Diante da importância de tais Revoluções, 
a visão preponderante da economia no século XVIII estava direcionada para a ordem natural de que os 
avanços na Física e nas demais ciências naturais eram bastante relevantes na emergência da economia 
como ciência (FEIJÓ, 2001). Os precursores clássicos tinham a intenção de compreender a transição de uma 
economia com baixa produtividade e taxas de crescimento geralmente estancadas para uma economia 
moderna, cujos produto per capita e nível de vida poderiam ser considerados relativamente altos, além do 
registro de um crescimento econômico basicamente sustentado (MARTÍN et al., 2006, p. 125).
Figura 6 – Máquina a vapor, um dos mais importantes símbolos de inovação na Revolução Industrial
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[...] Com respeito ao tempo, pode-se observar que durante o último 
quartel do século XVIII o cenário empresarial inglês já era dominado pelo 
empresário-capitalista que contratava mão de obra e frequentemente 
negociava através da sociedade comercial. A agricultura continuava a ser 
o ramo de atividade mais importante e as classes rurais ainda se achavam 
em proeminência; mas já haviam sido dados grandes passos técnicos, 
particularmente nas indústrias têxtil e metalúrgica, passos que em breve 
dariam origem à Revolução Industrial. A Inglaterra tinha atravessado seu 
período mais extremo de protecionismo, e seu comércio exterior estava 
marcando grande progresso, à medida que enormes companhias de comércio 
das décadas passadas iam perdendo seus privilégios. Não obstante, as restrições 
ainda eram muitas e onerosas, especialmente no que dizia respeito às colônias, 
e havia chegado o momento da revolta (RIMA, 1977, p. 97).
A doutrina clássica, também conhecida por sua vinculação ao liberalismo econômico, só pode 
ser compreendida ao considerarmos suas condições institucionais e históricas. Pode até não parecer 
racional atribuir o mesmo rótulo clássico a economistas como Ricardo e Malthus, que possuem grandes 
divergências de ideias e de posições. No entanto, as abordagens dos autores clássicos giravam em torno 
das mesmas preocupações fundamentais (ARAÚJO, 1988).
Uma das preocupações diz respeito ao combate às correntes já ultrapassadas (fisiocracia e mercantilista) 
e à investigação a respeito da expansão econômica industrial. Para os clássicos, era importante averiguar de 
que modo a distribuição de renda entre as classes sociais poderia influenciar o crescimento econômico 
daquela nação por meio da acumulação de capital. Ao contrário do paradigma econômico atual – doutrina 
neoclássica –, que não dá tanta importância às classes sociais, a inter-relação de crescimento econômico e 
classes sociais é condição fundamental para compreender os fisiocratas e os clássicos (ARAÚJO, 1988).
Para os fisiocratas, a sociedade dividia-se em camponeses, latifundiários e 
artesãos. Para os clássicos, em trabalhadores, latifundiários e capitalistas. 
Cada uma dessas classes aufere determinada renda. Parte dessa renda é 
consumida no sustento dos trabalhadores e das demais classes sociais. A 
parte restante estará nas mãos dos capitalistas e dos latifundiários, porque os 
trabalhadores destinam toda [a] sua renda à subsistência. Os latifundiários, 
com seu consumo supérfluo, ao desviarem parte da renda para si, diminuem 
o excedente econômico a ser reinvestido. O comportamento dessa classe 
cria obstáculos ao crescimento econômico, porque ela não se preocupa com 
a acumulação. Os capitalistas, por seu lado, têm a função de acumular. Eles 
estão sempre procurando reinvestir o excedente e criam, assim, as bases da 
expansão econômica (ARAÚJO, 1988, p. 22-23).
Certamente, essa explicação é esquemática e simplificadora. Nem todos os clássicos possuem a 
mesma visão de processo econômico, uma vez que detêm pontos de vista condicionados por sua visão 
de mundo (ideologia ou utopia) (ARAÚJO, 1988). Contudo, podemos destacar alguns dos principais 
dogmas da escola clássica ou do liberalismo econômico (BRUE, 2005):
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a) Mínimo de intervenção do governo: tem como princípio a intervenção mínima do Estado, a fim 
de que as forças de livre-mercado pudessem guiar a produção, a troca e a distribuição. O governo 
atuaria na aplicação do controle de direitos autorais e no fornecimento de bens públicos, tais 
como defesa e educação pública.
b) Comportamento econômico de autointeresse: supondo que o comportamento humano de 
autointeresse fosse básico para a natureza humana, a busca do autointeresse faria que as necessidades 
das classes fossem atendidas. Enquanto os produtores e os mercadores fornecessem bens e serviços com 
o desejo de obter lucros, os trabalhadores ofereceriam seus serviços para obter salários e os consumidores 
comprariam produtos com o intuito de satisfazer sua necessidade de consumo.
c) Harmonia de interesses: com exceção de David Ricardo, os economistas clássicos enfatizavam 
a harmonização natural de interesses em uma economia de mercado. Ao buscar seus interesses 
individuais, as pessoas atenderiam aos melhores interesses da sociedade.
d) Importância de todos os recursos e atividades econômicas: ao contrário dos fisiocratas, que 
afirmavam que a terra e a agricultura eram as principais fontes de riqueza, e dos mercantilistas 
que acreditavam que o fator determinante fosse o comércio, os clássicos acreditavam que todos 
os recursos econômicos (terra, mão de obra, capital e habilidade empresarial) e todas as atividades 
econômicas (agricultura, comércio, produção e comércio internacional) contribuiriam para a 
riqueza de uma nação.
e) Leis econômicas: pelas grandes transformações a que foram submetidos, os clássicos se 
preocuparam em concentrar suas análises em teorias econômicas explícitas, também conhecidas 
como leis. Exemplos: a lei da vantagem comparativa, a lei de rendimentos decrescentes, a teoria 
da população, de Malthus, a leis dos mercados (Lei de Say), a teoria da renda, de Ricardo, a teoria 
quantitativa da moeda e a teoria do valor-trabalho.
A longo prazo, a economia clássica atendeu toda a sociedade porque a aplicação de suas teorias promovia 
o acúmulo de capital e o crescimento econômico. Após as publicações de Adam Smith, houve um consenso 
a respeito da importância do Estado e de sua regulação nas esferas da atividade econômica. Além disso, o 
classicismo deu respeitabilidade aos empresários, em um mundo que anteriormente tinha direcionado honras 
e renda para a nobreza e os abastados. Os mercadores e os empresários estavam seguros de que, ao 
buscar o lucro, estavam atendendo a sociedade. Como lembra Brue (2005), as ideias clássicas ajudaram 
a promover o clima político, social e econômico que estimulou a indústria, o comércio e o lucro.
No entanto, o suposto apoio à identidade do classicismo econômico em torno do laissez-faire 
apresentou certa rejeição, pois houve a concessão de privilégios a determinados grupos – comerciantes 
e proprietários de terras – que apoiaram teoricamente a liberdade de comércio internacional com teorias, 
como a da vantagem absoluta, a da vantagem comparativa etc.
[...] nem todos compartilhavam igualmente os conceitos do classicismo. Havia 
custos, juntamente com os benefícios da industrialização. Na Grã-Bretanha, 
os assalariados, em particular, tinham a maior parte dos custos por meio 
de longas horas de trabalho com baixos salários. Mas, em última análise, 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
o progresso econômico permitia aos trabalhadores melhorar suas próprias 
posições e, nesse sentido, a economia clássica também os beneficiou. Hoje, 
os ordenados e os salários geralmente constituem dois terços da renda 
nacional total das economias de mercados industriais (BRUE, 2005, p. 49).
 Lembrete
Os clássicos não apenas queriam compreender o modo pelo qual uma 
nação poderia enriquecer a longo prazo (crescimento econômico), mas 
também se preocupavam com o destino do excedente econômico e com o 
modo pelo qual a sua divisão entre as classes poderia afetar o crescimento 
econômico. Além disso, os economistas clássicos acreditavam que a 
ciência econômica era um sistema regido por leis naturais, que chegaria ao 
equilíbrio por meio da autorregulação.
3.2 Adam Smith
Nascido em 1723, em um pequeno povoado escocês, Adam Smith (1723-1790) foi criado pela 
mãe. Durante o tempo que esteve na Escócia, Smith dedicou-se aos estudos, tornando-se professor 
da Universidade de Glasgow, onde ocupou a primeira cátedra de Lógica em 1751. Um ano mais tarde, 
Smith assumiu a cátedra de Filosofia Moral, matéria que incluía Ética, Direito, Teoria Política e Economia, 
permanecendo até 1753. Durante esse período, Smith publicou seu primeiro livro, Teoria dos Sentimentos 
Morais (1753). Dez anos mais tarde, Smith renunciou à sua carreira no magistério para acompanhar o 
duque de Buccleuch, passando três anos no continente europeu e estabelecendo laços de amizade com 
grandes figuras da economia e da filosofia francesa, como Quesnay, Turgot, Rousseau e Voltaire. De 
volta à Inglaterra, em 1766, Smith dedicou-se aos primeiros ensaios a respeito de suas observações mais 
recentes da economia, resultando em sua mais importante obra: An Inquiry into the Nature and Causes 
of the Wealth of Nations (1776) (PERDICES DE BLAS, 2006; GENNARI; OLIVEIRA, 2009).
Considerado o precursor dos estudos em economia como ciência, Smith elaborou um modelo 
abstrato completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e do funcionamento do sistema 
capitalista (HUNT, 2005). Influenciado não apenas pelo movimento intelectual iluminista da época, mas 
também pelas ideias da escola fisiocrata, Smith reconheceu a importância da eficiência da economia e 
da sociedade ao tentar investigar as razões que contribuem para a riqueza de uma nação.
Contudo, a imagem disseminada de Adam Smith como promotor do liberalismo econômico e 
antecessor da ortodoxia atual revela algumas contradições. Embora a publicação A Riqueza das Nações 
tenha sido classificada como uma “manifestação não apenas de uma grande mente, como também 
de toda uma época” (HEILBRONER, 1996b), a obra sofreu críticas, já que as ideias expressas não eram 
inteiramente originais. Isso porque alguns elementos, teorias, metáforas, dados e comparações do 
conhecido pai da economia moderna foram emprestados de uma longa lista de observadores que antes 
de Smith vislumbraram sua compreensão do mundo: Locke, Steuart, Mandeville, Petty, Cantillon, Turgot, 
Quesnay, Hume, entre outros.
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Portanto, a originalidade de Smith não está relacionada à novidade de cada uma das peças que 
compõem sua obra (que podem ser tomadas separadamente). Entretanto, A Riqueza das Nações possui 
mérito suficiente para ser considerado um sistema teórico – o primeiro deles – embora com algumas 
deficiências (KICILLOF, 2010). Ninguém antes foi capaz de integrar, em uma obra única, uma visão 
globalizada das forças que determinam o crescimento econômico das nações. Por isso, o livro de Smith 
pode não ser considerado original, mas trata-se de uma obra-prima (HEILBRONER, 1996b).
Outro mérito de Smith está vinculado aos seus questionamentos a respeito das leis econômicas do 
sistema capitalista, quando este ainda não havia se consolidado.
O fato de Adam Smith ter escrito A Riqueza das Nações na época em que a 
Revolução Industrial estava apenas começando é uma prova tanto do fato 
de que muitas características econômicas que viriam a dominar as grandes 
cidades industriais no início do século XIX estavam presentes, de alguma 
forma, em algumas cidades inglesas e escocesas de meados do século XVIII 
(principalmente Glasgow), como também do fato de que Adam Smith era, 
na verdade, um cientista social extremamente perspicaz (HUNT, 2005, p. 40).
Seria um grande equívoco ignorar as publicações menos conhecidas de Smith. A obra Teoria dos 
Sentimentos Morais, publicada em 1759, por exemplo, é essencial para a compreensão da noção de 
interesse pessoal. De acordo com Rima (1977) e Kicillof (2010), é possível acompanhar na obra o debate 
a respeito das diferentes motivações da ação humana. Sua contribuição constitui-se em assinalar a 
complementaridade entre a perseguição dos interesses próprios e a atribuição de um papel das regras 
morais para o pleno funcionamento da vida comum em sociedade.
Smith passou uma boa parte de sua vida dedicado aos valores éticos antes de voltar sua atenção 
a assuntos que hoje representam a maior preocupação do estudo econômico. O objetivo da filosofia 
moral é a felicidade humana e o bem-estar, dizia Smith. Contudo, essa opinião não se assemelhava às 
convicções disseminadas na Idade Média, quando se acreditava que a felicidade não fosse compatível 
com a virtude e que a única verdadeira virtude fosse a abnegação. Como esclarece Rima (1977), embora 
o progresso material do mundo moderno tenha tornado a opinião medieval de moralidade cada vez 
mais indefensável, ela persistiu até o século XVIII.
Para Smith, o desejo de conquistar coisas terrenas era reflexo do interesse em obter uma vida melhor. 
Esse desejo, diz Smith, está conosco desde o tempo da entranha materna até o túmulo e funciona em 
todas as esferas de nossa vida. Assim, o interesse próprio é visto manifestando-se em cada aspecto do 
comportamento e da atividade do homem (RIMA, 1977).
De acordo com Rima (1977), outro elemento central das publicações anteriores à A Riqueza das 
Nações é a noção do espectador imparcial. De acordo com Smith, os indivíduos dão valor a suas próprias 
ações adotando o ponto de vista de um espectador imparcial, que, dotado de todos os elementos que 
conhece, julga tais ações como faria um cidadão qualquer. As instituições jurídicas, cujo funcionamento 
é indispensável para garantir a segurança das trocas no mercado, tendem a possuir esse princípio de 
comportamento moral.
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Assim, a frase célebre de Smith (parte integrante de A Riqueza das Nações), “Não é da benevolência 
do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles 
têm pelo seu próprio interesse”, não deveria ser considerada isoladamente. Roncaglia (2006) explica 
que o contexto proposto por Smith supõe que o vital funcionamento de uma economia de mercado 
– de uma sociedade civilizada – precisa estar fundamentado em uma aceitação geral do princípio 
moral da simpatia.
A solidariedade (ou a empatia ou sentimento de companheirismo) desperta 
nosso interesse pelo sucesso dos outros e faz a felicidade deles necessária 
para nós. Isso é verdade, apesar de não recebermos nada de felicidade dos 
outros, exceto o prazer de vê-la. O sofrimento e a alegria nos estimulam 
emoções similares em nós mesmos. Se nos colocarmos no lugar do outro, 
nossa imaginação pode evocar a simpatia por uma situação da qual a outra 
pessoa está inconsciente (BRUE, 2005, p. 65).
Na visão de Smith, existem elementos que concorrem para garantir a sobrevivência e o 
desenvolvimento das sociedades civilizadas: o comportamento moral baseado no sentimento de 
simpatia (para tanto, fundamentado no sentimento que é inato no homem, e não imposto de fora). A 
força motriz do interesse pessoal vem concebida em um conjuntode normas jurídicas, de costumes, 
e em instituições públicas desenhadas para garantir a administração da justiça (RONCAGLIA, 2006).
3.2.1 A Riqueza das Nações
Publicada em 1776, a obra A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua Natureza e sobre suas 
Causas se subdivide em cinco livros: o primeiro deles trata da divisão do trabalho (e, portanto, do 
progresso tecnológico), da teoria do valor e da distribuição de renda; o segundo livro se refere ao dinheiro 
e à acumulação; o terceiro é uma digressão breve e muito sugestiva sobre a história das instituições e a 
economia desde a queda do Império Romano; o quarto ilustra criticamente as doutrinas mercantilistas 
e os princípios fisiocráticos; por fim, o quinto livro diz respeito às despesas e às receitas públicas e, com 
caráter mais geral, ao papel do Estado na economia (RONCAGLIA, 2006).
Dentre as várias características da obra, podemos destacar sua atualidade em relação à economia 
capitalista moderna, por conta das grandes transformações econômicas e sociais impulsionadas pela 
Revolução Industrial, cujo epicentro foi o Reino Unido (GENNARI; OLIVEIRA, 2009).
Não são poucas as razões que levaram o pensamento de Adam Smith a 
ser considerado o precursor da ciência econômica e o próprio Smith a ser 
considerado o “pai” da disciplina. Talvez a mais importante resida no fato 
de que sua obra consubstanciou de forma extraordinária a síntese do novo 
pensamento moderno, ou pensamento burguês, no campo da economia 
(GENNARI; OLIVEIRA, 2009, p. 60).
Levando em consideração que o livro A Riqueza das Nações foi publicado no último quarto do 
século XVIII, nada mais justo do que destacar o esforço de Smith em contextualizar suas ideias e 
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pensamentos a respeito do modo de produção capitalista (que mal havia iniciado sua consolidação 
e apresentado suas consequências), após o rompimento do feudalismo e a superação transitória do 
mercantilismo, como explica Hunt (2005, p. 37):
Entre 1700 e 1770, os mercados externos para os produtos ingleses cresceram 
muito mais rapidamente do que os mercados internos ingleses. A Inglaterra 
do século XVIII tinha uma economia com um mercado bem-desenvolvido, 
no qual o preconceito tradicional contra o mercado capitalista, em termos 
de atitudes e ideologia, já estava enfraquecido. Na Inglaterra daquela época, 
maiores quantidades de produtos industrializados a preços mais baixos 
significavam lucros sempre crescentes. Assim, a busca do lucro, estimulada 
pela crescente procura externa, foi o motivo da virtual explosão de inovações 
tecnológicas ocorridas em fins do século XVIII e no início do XIX – e que, 
além de transformarem radicalmente toda a Inglaterra, acabaram por 
transformar quase todo o mundo.
A Riqueza das Nações é um livro interessante; seu autor eclético entrelaça em um todo harmonioso 
as ideias mais importantes de seus predecessores e contemporâneos (RIMA, 1977). De início, a obra não 
teve a repercussão que merecia. Como explica Araújo (1988, p. 28), na época, ninguém imaginava a 
revolução que essa obra iria causar no estudo da ciência política, nem mesmo o próprio autor.
Porque o próprio impacto produzido pelo livro só pode ser explicado 
por uma conjunção favorável de fatos. Estávamos nos inícios da 
industrialização e de um esforço impetuoso para a abertura de novos 
mercados. As inúmeras regulamentações existentes na época, relativas 
à liberdade comercial e industrial, eram como barreiras ao dinamismo 
empresarial que estava se iniciando na Inglaterra e que, em breve, 
contaminaria toda a Europa. A obra de Smith é um libelo contra 
estas regulamentações, contra a intervenção excessiva do governo 
na economia, contra o monopólio concedido pelo Estado a algumas 
grandes empresas e contra as leis que dificultavam a mobilidade da força 
de trabalho (lei dos pobres). Enfim, era um ataque cerrado à política 
mercantilista. A argumentação era convincente por apoiar-se numa 
visão global e coerente da ciência econômica. Como ele argumentava 
em favor da livre-iniciativa, ganhou apoio do empresariado que estava 
lutando exatamente por isso (ARAÚJO, 1988, p. 28-29).
3.2.2 A divisão do trabalho
Em resposta à investigação de A Riqueza das Nações, as constatações de Smith se estabeleceram 
como uma verdadeira declaração de guerra às teorias mercantilistas e fisiocratas, por meio de dois 
elementos essenciais (KICILLOF, 2010). Em primeiro lugar, Smith sustentou que a riqueza era constituída 
por bens e por produtos de todo tipo. Em uma série de passagens, Smith reprovou a preocupação 
mercantilista com o estabelecimento do acúmulo de metais preciosos como fonte de riqueza. Para 
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Smith, a riqueza consiste de um fluxo anual de bens e serviços, não de um fundo acumulado de metais 
preciosos (LANDRETH; COLANDER, 2006).
Observando a relação entre as exportações e as importações, Smith se deu conta de que o papel 
fundamental das exportações era financiar as importações. Além disso, diferentemente dos mercantilistas 
que acreditavam que a produção fosse a derradeira etapa, Smith defendia o consumo como último 
estágio da atividade econômica. Smith declarou que a única e exclusiva fonte de riqueza de uma nação 
é o trabalho do homem, ou, mais precisamente, o trabalho da sociedade tomada em conjunto (KICILLOF, 
2010). Ao enfatizar o trabalho como fonte de riqueza de uma nação, Smith se distancia do pensamento 
fisiocrata, diminuindo a tônica do fator terra.
 Observação
De acordo com o pensamento mercantilista, um país sem uma produção 
própria de metais preciosos deveria promover as exportações e desencorajar 
as importações por meio de tarifas, quotas, subsídios, impostos etc., a fim 
de obter uma balança de comércio favorável.
A balança comercial é considerada favorável quando o valor total das 
exportações supera o das importações. Do contrário, quando o valor total 
das importações é maior do que o das exportações, podemos afirmar que o 
saldo da balança comercial é deficitário.
Em outras palavras, a origem da riqueza não estaria na busca de operações comerciais, e sua forma 
preferencial não seria o dinheiro, como afirmavam os mercantilistas. A riqueza tampouco seria criada 
unicamente pelo trabalho agrícola, nem tomaria forma exclusivamente nos produtos primários gerados 
pela natureza, ainda que submetidos a diversas transformações, tal como era preconizado pela versão 
fisiocrata (KICILLOF, 2010).
Como a causa das riquezas das nações se resume no trabalho humano, para aumentar a riqueza e 
a produtividade (do trabalho), Smith destacou a importância da divisão do trabalho logo no início de A 
Riqueza das Nações:
O maior aprimoramento das forças produtivas do trabalho, e a maior parte 
da habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho é em toda parte 
dirigido ou executado, parecem ter sido resultados da divisão do trabalho 
(SMITH, 1996, p. 65).
A constatação de que a especialização e a divisão do trabalho aumentam a produtividade já havia 
sido reconhecida por outros autores muito antes da publicação da obra, no entanto, nenhum literato 
destacou tal interdependência como Smith (LANDRETH; COLANDER, 2006). Mais uma vez, a qualidade 
da obra de Smith está relacionada ao seu poder de contextualização, ilustrando as vantagens da 
especialização e da divisão do trabalho adotando como exemplo uma fábrica de alfinetes.
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Tomemos, pois, um exemplo, tirado de uma manufatura muito pequena, mas 
na qual a divisão do trabalho muitas vezes tem sido notada: a fabricação 
de alfinetes. Um operário não treinado para essa atividade (que a divisão do 
trabalho transformou em uma indústria específica) nem familiarizado com a 
utilização das máquinas ali empregadas (cuja invençãoprovavelmente também 
se deveu à mesma divisão do trabalho), dificilmente poderia talvez fabricar um 
único alfinete em um dia, empenhando o máximo de trabalho; de qualquer 
forma, certamente não conseguirá fabricar vinte (SMITH, 1996, p. 65-66).
A baixa produtividade relacionada a cada trabalhador desempenhar todas as atividades necessárias 
para produzir apenas um alfinete é expressamente criticada por Smith, que sugere a divisão do trabalho 
como sinônimo de aumento de produtividade:
Entretanto, da forma como essa atividade é hoje executada, não somente 
o trabalho todo constitui uma indústria específica, mas ele está dividido 
em uma série de setores, dos quais, por sua vez, a maior parte também 
constitui provavelmente um ofício especial. Um operário desenrola o arame, 
um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um 
quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer 
uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a 
cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria 
embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. 
Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em 
aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas, 
são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo 
operário às vezes executa 2 ou 3 delas. Vi uma pequena manufatura desse 
tipo, com apenas 10 empregados, e na qual alguns desses executavam 2 ou 3 
operações diferentes. Mas, embora não fossem muito hábeis, e portanto não 
estivessem particularmente treinados para o uso das máquinas, conseguiam, 
quando se esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por dia. 
Ora, 1 libra contém mais do que 4 mil alfinetes de tamanho médio (SMITH, 
1996, p. 65-66).
Smith não apenas reconhece os benefícios econômicos da especialização e da divisão do trabalho, 
mas também observa a existência de seus graves custos sociais. Landreth e Colander (2006, p. 86) 
citam que um dos inconvenientes sociais da divisão do trabalho consiste da realização de atividades 
repetitivas que logo se transformam em monótonas. Os seres humanos se convertem em máquinas 
atadas a um processo de produção e de desumanização, em decorrência das simples, repetitivas e 
enfadonhas tarefas que realizam. No entanto, Smith não tinha dúvidas de que a divisão do trabalho 
tenha aumentado o bem-estar humano de modo geral.
A divisão do trabalho, disse Smith, aumenta a quantidade de produção por três razões. Primeiro, 
cada trabalhador desenvolve uma habilidade maior na realização de uma simples tarefa repetitivamente. 
Segundo, economiza-se tempo, pois se o trabalhador não puder ir ao trabalho, outro fará sua função. 
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Terceiro, o maquinário pode ser desenvolvido para aumentar a produtividade, uma vez que as tarefas 
tenham sido simplificadas e feitas habitualmente por meio da divisão do trabalho. Aqui, percebe-se a 
ênfase na produção manufaturada e na produtividade do trabalho (BRUE, 2005, p. 69).
Já que o aumento da produtividade resultaria da divisão do trabalho, o que determinaria a divisão do 
trabalho? De acordo com Smith, o homem possui uma tendência inata para fazer trocas, o que acarreta 
economia de tempo, condições mais favoráveis para desenvolver processos inovativos, destreza pessoal 
etc. (ARAÚJO, 1988).
Portanto, a divisão do trabalho está condicionada à extensão do mercado. Quanto maior o mercado, 
maior o volume de vendas e maiores as oportunidades de introduzir a divisão do trabalho (LANDRETH; 
COLANDER, 2006). Um mecanismo de acumulação poderia operar o sistema capitalista de acordo com 
esta sequência: divisão do trabalho – extensão dos mercados – aumento da produtividade do trabalho, 
e assim por diante (SCREPANTI; ZAMAGNI, 2005, p. 68).
Sobre a divisão do trabalho, Araújo (1988, p. 30) esclarece:
Em outras palavras, é condicionada pela extensão dos mercados. A linha 
de raciocínio de Smith é perfeitamente lógica. A produtividade decorre da 
divisão do trabalho, esta decorre de nossas tendências inatas para a troca, 
e esta por sua vez, é estimulada pela ampliação dos mercados. Portanto, é 
preciso ampliar mercados para aumentar a produtividade e a riqueza.
 Observação
A divisão do trabalho pode ser definida como um processo de divisão de 
atividades produtivas em um certo número de operações. Com a divisão do 
trabalho, a habilidade do trabalhador tende a aumentar, e o tempo de ociosidade 
na transferência de uma atividade para outra tende a ser reduzido. O objetivo da 
divisão do trabalho é aperfeiçoar a produção de bens e serviços.
3.2.3 Teoria do Valor e da Troca
Outra importante contribuição de Smith diz respeito à sua explicação sobre o valor.
Importa observar que a palavra valor tem dois significados: às vezes designa 
a utilidade de um determinado objeto, e outras vezes o poder de compra que 
o referido objeto possui, em relação a outras mercadorias. O primeiro pode 
chamar-se “valor de uso”, e o segundo, “valor de troca”. As coisas que têm 
o mais alto valor de uso frequentemente têm pouco ou nenhum valor de 
troca; vice-versa, os bens que têm o mais alto valor de troca muitas vezes 
têm pouco ou nenhum valor de uso (SMITH, 1996, p. 85-86).
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Por conta da tendência inata do homem a efetuar trocas, Smith investigou particularmente os 
princípios que regulam o valor de troca das mercadorias. Primeiro, quis compreender qual o critério ou a 
medida real do valor de troca ou em que consiste o preço real das mercadorias. Em seguida, questionou 
quais as diferentes partes ou os diversos componentes que constituem esse preço real. Por fim, Smith 
indagou a respeito das circunstâncias que, por vezes, fazem subir alguns elementos, ou todos eles, 
acima do natural ou normal e, às vezes, fazem descer abaixo desse nível. Em suma, quis compreender as 
causas que às vezes impedem o preço de mercado, isto é, o preço efetivo das mercadorias, de coincidir 
exatamente com o que se pode denominar preço natural (GENNARI; OLIVEIRA, 2009, p. 62-63).
Em vez de compreender a diferença entre utilidade total do bem e sua utilidade marginal, (que só 
pôde ser apresentada mais tarde), Smith direcionou sua atenção para o valor de troca.
[...] Nada é mais útil que a água, e, no entanto dificilmente se comprará 
alguma coisa com ela, ou seja, dificilmente se conseguirá trocar água por 
alguma outra coisa. Ao contrário, um diamante dificilmente possui algum 
valor de uso, mas por ele se pode, muitas vezes, trocar uma quantidade 
muito grande de outros bens (SMITH, 1996, p. 85-86).
Vamos considerar alguns aspectos importantes dessa comparação entre a água e o diamante. 
Primeiro, um bem não tem possibilidade de ser trocado por outros bens, a menos que tenha valor de 
uso (utilidade). Qualquer indivíduo só aceitaria uma troca se a mercadoria pudesse lhe proporcionar 
alguma satisfação. A troca poderia ser, então, intermediada por outros bens ou dinheiro. Entretanto, 
Smith falhou em não reconhecer esse relacionamento óbvio, explicando o valor de troca sem referência 
a sua utilidade (RIMA, 1977).
Outro engano cometido por Smith diz respeito a não reconhecer o significado de escassez relativa 
marginal de um bem, por conta de sua comparação de um único diamante com a oferta total de água. 
Caso tivesse comparado a utilidade total de um único diamante com a utilidade total de uma única 
unidade de água, Smith não teria se enganado (RIMA, 1977, p. 110-111):
[...] O fato de que alguns bens são livres ilustra além de qualquer dúvida que 
a utilidade oferecida por um bem pode não ter relação alguma com seu valor 
de troca. Mas não foi senão quando reconheceu que é a relação de troca entre 
unidades individuais que deve ser comparada, que o paradoxo do diamantee da 
água pôde ser resolvido. Tal comparação torna perfeitamente claro que a água 
tem pouco ou nenhum valor de troca, ao passo que o diamante tem grande valor 
para isso, porque a oferta de diamantes é muito menor em relação à intensidade 
do desejo de sua posse do que é o caso com a água. É surpreendente que Smith 
não estivesse consciente deste relacionamento, porque este foi claramente 
indicado por John Locke e outros. Finalmente, Smith aplicou um padrão moral 
pessoal em decidir que um diamante não tem valor para uso. O fato de que uma 
pessoa não aprove o consumo de um determinado bem, ou que seu uso possa 
ser nocivo ou até ilegal, não priva o bem de sua utilidade. O mero fato de que um 
bem pode ter um preço é prova suficiente de sua utilidade.
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 Lembrete
Valor de uso: diz respeito à utilidade que o bem representa para quem 
o consome.
Valor de troca: diz respeito ao valor de um bem em troca de outros bens 
ou em moeda. O valor de troca corresponde ao próprio preço de mercado.
3.2.4 Lucro e renda da terra
Um dos exemplos mencionados por Smith trata de um grupo de caçadores: se o ato de matar um 
castor leva o dobro do tempo empregado para matar um cervo, o castor será trocado por dois cervos. 
Numa sociedade mais desenvolvida, isso se passa de maneira mais complexa. O preço ou valor de uma 
mercadoria já não deriva apenas do trabalho humano incorporado ao produto, pois outros fatores de 
produção intervêm na fabricação de várias mercadorias, como a terra, as matérias-primas e, sobretudo, 
o capital. Portanto, o preço das mercadorias deve ser determinado pelo nível de salários, pelo lucro dos 
capitalistas e pela renda dos proprietários de terra (DROUIN, 2008).
Por definição, os salários correspondem ao rendimento necessário para que o trabalhador possa 
sobreviver (alimentação, moradia, vestuário) e perpetuar a oferta de trabalho. Contudo, o salário não 
é determinado apenas pela natureza do trabalho, mas também pela oferta de trabalho (demanda dos 
empregadores por mão de obra).
Em A Riqueza das Nações, Smith pressupôs uma sociedade com liberdade perfeita, permitindo 
que todos fossem livres para escolher e trocar o emprego. De acordo com a teoria da “equalização 
das diferenças”, ou diferenciais de salário de compensação, o nível de salário do trabalhador pode ser 
determinado de acordo com cinco características (BRUE, 2005):
a) agradabilidade do trabalho: Smith argumentou que, quanto mais árduo, mais sujo, mais 
desagradável e mais perigoso o trabalho, maiores os salários pagos, sendo todos equivalentes;
b) custo da aquisição do conhecimento e das técnicas necessárias: Smith apontou que uma 
máquina cara tem de produzir um retorno que cubra o seu custo inicial e os lucros sobre o 
investimento. De maneira similar, ele disse, os ganhos das pessoas devem pagar pelo custo de 
sua educação e de seu treinamento e ainda fornecer uma taxa de retorno sobre o investimento. 
Aqueles empregos que exigem mais educação e treinamento pagarão salários mais altos do que os 
empregos que não exigem educação e treinamento. Essa é a embrionária teoria do capital humano;
c) regularidade do emprego: Smith afirmou que, quanto menos regular o trabalho, maior é o salário. 
Em razão de a maioria dos trabalhadores preferir o trabalho regular ao irregular, os empregadores 
devem pagar um bônus, na forma de salário de compensação, aos trabalhadores que enfrentam o 
desemprego real e o risco de perder seu emprego;
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d) grau de confiabilidade e responsabilidade: indivíduos como os ourives, os joalheiros, os médicos 
e os advogados, em quem muita confiança é depositada, receberão salários mais altos do que as 
pessoas que têm trabalhos que exigem menos responsabilidade e confiabilidade;
e) probabilidade ou improbabilidade de sucesso: aqueles que são bem-sucedidos nos trabalhos 
em que há um grande risco de fracasso receberão salários mais altos do que as pessoas que são 
empregadas em trabalhos caracterizados pela baixa probabilidade de fracasso.
Não podemos nos esquecer de que cada um troca o que produz por aquilo que é necessário e que 
não pode produzir por si. Portanto, o salário é largamente condicionado pela situação do mercado, 
que reúne a oferta (os trabalhadores em busca de emprego) e a demanda (os patrões que precisam de 
mão de obra). Se a oferta é superior à demanda, os salários devem baixar “naturalmente”. Se a oferta 
é inferior à demanda, os salários aumentam. Como explica Drouin (2008), o aumento da oferta ou da 
demanda possui algumas consequências populacionais.
A flexibilidade dos salários se torna, pois, um instrumento regulador, inclusive 
no plano demográfico. Smith considera que a “demanda de homens” regula 
necessariamente a “produção de homens”. O aumento da oferta de trabalho 
diante de uma demanda constante ou em baixa reduz os salários e gera 
desemprego. Esse fenômeno deve acarretar uma baixa de fecundidade. 
Inversamente, uma demanda de trabalhadores superior à população ativa 
disponível leva a uma alta dos salários, que permite às famílias aumentar 
sua descendência (DROUIN, 2008, p. 12-13).
O lucro diz respeito à parcela do preço de venda do produto que se destina a quem arriscou seu capital 
na indústria. O valor que os operários acrescentaram à matéria-prima pode ser dividido em salários e lucros. 
Drouin (2008) ainda justifica que essa análise permanece atual, pois coloca em evidência a repartição do valor 
acrescido no empreendimento entre os salários e os lucros, entre o trabalho e o capital.
A terra usada para a produção é a única que sempre e necessariamente garante alguma renda a 
seu proprietário. A renda da terra (rendimento da propriedade da terra) é a diferença entre o valor da 
colheita, de um lado, e os salários e o produto ligado ao uso do capital de exploração (ferramentas 
e máquinas agrícolas), de outro. Segundo Smith (1996), o proprietário da terra se beneficia de um 
monopólio, na medida em que a quantidade de terra é obrigatoriamente limitada e sempre existem 
fazendeiros que procuram arrendar a terra para obter um rendimento.
3.3 Thomas Malthus
Filho de Daniel Malthus, advogado rico e culto, que possuía amizades influentes, como David 
Hume e Jean-Jacques Rousseau, Thomas Robert Malthus (1736-1834) nasceu no condado de Surrey, 
Inglaterra. Influenciados pelo ambiente intelectual, Daniel e Thomas costumavam ter muitas discussões 
amistosas sobre a literatura utópica ou perfeccionista contemporânea, que formava grande parte de 
uma corrente de teoria social especulativa gerada pela Revolução Francesa. A partir dessas discussões, 
Thomas Malthus desenvolveu as ideias que incorporou em seu famoso livro, intitulado An Essay on the 
Principle of Population (Ensaio sobre o Princípio de População), de 1798. 
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Em uma época tumultuada e repleta de conflitos sociais, Thomas Malthus passou por dois grandes 
marcos históricos: o primeiro deles diz respeito à Revolução Industrial, que só foi possível com imensos 
sacrifícios e grande sofrimento da classe operária em geral. O segundo momento ocorreu no fim do 
século XVIII e início do século XIX, com a presença da antiga classe proprietária de terras que ainda 
detinha o controle efetivo do Parlamento inglês, registrando um intenso conflito entre essa classe e a 
nova classe capitalista industrial (HUNT, 2005).
Com o advento da Revolução Industrial, a produtividade aumentou como nunca antes na História:
A construção generalizada de fábricas e a disseminação do uso de máquinas 
constituíram a base mecânica desse aumento. Contudo, para canalizar a 
capacidade produtiva da economia para a criação de bens de capital, era 
preciso destinar uma parte relativamentemuito menor dessa capacidade à 
fabricação de bens de consumo. Os bens de capital tinham de ser comprados 
a um custo social que implicava privações em massa (HUNT, 2005, p. 61).
Por conseguinte, os efeitos negativos da Revolução Industrial estavam se tornando mais aparentes 
por meio do aumento da urbanização, do aumento da pobreza, do aumento do desemprego, entre outros.
Historicamente, em todos os casos em que a sociedade foi obrigada a 
suportar um nível de mera subsistência para alguns de seus membros, os 
sacrifícios sempre foram feitos pelos que tinham menos poder econômico 
e político. O mesmo aconteceu com a Revolução Industrial, na Inglaterra. 
A classe operária vivia perto do nível de subsistência, em 1790, e seu 
padrão de vida (medido em termos do poder de compra dos salários) 
deteriorou-se na segunda metade do século XVIII. Essa tendência dos 
padrões de vida da classe operária nas primeiras décadas do século XIX é 
um tema controvertido entre os historiadores. O fato de muitos estudiosos 
eminentes encontrarem evidências suficientes para argumentar que o 
padrão de vida deixou de aumentar, ou até mesmo baixou, nos leva à 
conclusão de que qualquer aumento naquela época deve ter sido, quando 
muito, modesto (HUNT, 2005, p. 62).
Diante de tais transformações, não há dúvida de qual era a classe que arcava com os custos sociais, 
no que se refere ao consumo sacrificado necessário para a industrialização. Como afirma Hunt (2005), 
os trabalhadores tiveram ainda dificuldades piores: perda do orgulho da habilidade pessoal no trabalho, 
distanciamento das relações pessoais, perda do acesso aos meios de produção, trabalho para subsistência, 
regularidade monótona imposta pelo sistema fabril etc.
A extensa divisão do trabalho na fábrica tornou grande parte do trabalho tão 
rotineira que mulheres e crianças sem treinamento algum podiam trabalhar 
tão bem quanto os homens. Como as mulheres e as crianças podiam ser 
empregadas com salários muito mais baixos do que os dos homens e 
como, em muitos casos, famílias inteiras tinham de trabalhar para ganhar 
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o suficiente para comer, as mulheres e as crianças eram muito requisitadas. 
Muitos donos de fábricas preferiam as mulheres e as crianças, porque elas 
podiam ser reduzidas a um estado de obediência passiva mais facilmente do 
que os homens. A ideologia difundida naquela época – de que a boa mulher 
era a mulher submissa – era de grande valia para seus empregados (HUNT, 
2005, p. 63).
Heilbroner (1996b) destaca ainda a benevolência capitalista de cumprir com a “obrigação moral” de 
ajudar os mais necessitados.
[...] Além disso, como não eram usadas nas atividades independentes de 
agricultura e artesanato, as crianças adaptavam-se mais depressa à disciplina 
do trabalho fabril. O gesto foi apresentado como muito filantrópico — dar 
emprego a crianças não ajudaria a melhorar as condições de vida dos “pobres 
inúteis”? (HEILBRONER, 1996b, p. 59).
O emprego da fábrica também trouxe a tirania do relógio, como ressalta Heilbroner (1996b):
[...] Dezesseis horas de trabalho por dia era coisa comum, com os operários 
começando a trabalhar nas fábricas às oito horas da manhã e só voltando 
para casa às dez da noite. E como que para coroar tanta indignidade, muitos 
dos capatazes não permitiam que os trabalhadores entrassem na fábrica 
com relógios, e o único relógio existente no local, que regia tudo, tinha a 
estranha tendência a andar mais depressa durante os períodos de parada 
do trabalho para alimentação. Os industriais mais ricos e mais previdentes 
poderiam até deplorar tais excessos, mas os dirigentes de suas fábricas 
ou competidores que estavam precisando de dinheiro olhavam-nos com 
indiferença (HEILBRONER, 1996b, p. 102).
Desde a introdução inicial da produção fabril nas indústrias têxteis, os trabalhadores tentaram se 
resguardar reunindo-se para coletivamente proteger seus interesses, de modo que as organizações 
trabalhistas difundiram-se rapidamente na década de 1790. Por causa desse crescimento organizacional 
e do crescimento paralelo do descontentamento social e econômico, as classes mais altas se inquietaram 
bastante. Para piorar as condições de vida já deterioradas dos trabalhadores, a Lei do Conluio foi criada, 
o sistema Speenhamland foi abolido e as guerras que estavam sendo travadas pela Inglaterra tinham 
diminuído quase todas as importações de alimentos (HUNT, 2005).
Por meio da promulgação da Lei do Conluio, de 1799, tornava-se ilegal qualquer combinação entre 
operários com a finalidade de conseguir salários mais altos, jornadas de trabalho mais curtas ou a 
introdução de qualquer regulamentação que restringisse a liberdade de ação dos empregadores. Com 
relação à abolição do sistema Speenhamland, o direito a um padrão de vida mínimo, antes garantido 
aos desafortunados, quer estivessem empregados ou não, foi extinto. Ademais, o período entre-guerras 
trouxe consequências ainda mais graves, isso porque os preços dos produtos industrializados, em geral, 
não subiram tão depressa quanto os salários (alguns até baixaram no período), e menos depressa ainda 
que os preços dos produtos agrícolas (HUNT, 2005).
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[...] Em 1815, com o término da longa série de guerras, um dos problemas 
políticos mais críticos do Parlamento Britânico relacionava-se às Leis dos 
Cereais. A classe dos proprietários de terras usava toda a sua influência 
social, intelectual e política para conseguir novos preços para os produtos 
agrícolas. Queria estabelecer tarifas tão altas, que os cereais estrangeiros, 
que podiam ser importados a preços muito mais baixos que os vigentes na 
Grã-Bretanha não conseguiriam entrar no mercado do país. Isso manteria 
altos os preços dos produtos agrícolas britânicos e asseguraria a continuidade 
das altas rendas recebidas pelos proprietários de terras, durante todos os 
anos de guerra (HUNT, 2005, p. 66).
Hunt (2005, p. 66) esclarece as duas razões pelas quais os capitalistas industriais ingleses se opunham 
às Leis dos Cereais:
[...] Primeiro, porque os cereais e os produtos feitos à base de cereais 
constituíam a maior parte da necessária subsistência dos trabalhadores, e 
o alto preço dos cereais obrigava os capitalistas a pagar salários mais altos 
aos operários, para que esses e suas famílias pudessem subsistir. [...] Em 
segundo lugar, no início do século XIX, a indústria britânica já era muito 
mais eficiente do que suas concorrentes do continente europeu e, por isso, 
os preços dos produtos manufaturados britânicos eram muito mais baixos 
do que os dos outros países da Europa. Isso significava que, se as tarifas 
pudessem ser abolidas e se se pudesse estabelecer a liberdade de comércio 
internacional, os produtos britânicos venceriam seus concorrentes europeus 
na disputa pelas vendas (HUNT, 2005).
De um lado, os proprietários de terra queriam que a Grã-Bretanha permanecesse como uma economia 
predominantemente agrícola, a fim de perpetuar posição, renda e poder. De outro, os capitalistas 
industriais queriam uma Grã-Bretanha reconhecidamente especializada na atividade industrial, com o 
intuito de aumentar sua renda e seu poder. Nesta disputa entre renda e poder, Hunt (2005) expõe a briga 
pelos elementos antagônicos da classe econômica inglesa.
Com a aprovação da Lei de Cereais, em 1815, os proprietários de terra ganharam uma batalha.
[...] Dominando o Parlamento, os aristocratas da terra simplesmente 
legislaram em causa própria um contrato de proteção com cláusulas 
rígidas. Passaram a Lei dos Cereais, que impunha impostos variáveis sobre a 
importação desses grãos; quanto mais caía o preço do produto estrangeiro, 
mais alto se tornava o imposto. Além disso, foi estabelecido um teto para 
manter o trigo de preço baixo permanentemente fora do mercado inglês 
(HEILBRONER,1996b, p. 78).
Vale a pena ressaltar que os capitalistas industriais detinham o domínio econômico, enquanto os 
proprietários de terra controlavam o Parlamento. O conflito permaneceu até que a disputa pelo domínio 
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econômico fosse estendida ao domínio político, em 1846, quando o Parlamento votou favoravelmente 
à abolição das Leis dos Cereais (HUNT, 2005).
3.3.1 O Progresso da população e da riqueza
Autores como Adam Smith, Giovanni Botero (1544-1617) e Gianmaria Ortes (1713-1790), entre 
outros, já haviam destacado a importância de compreender a tensão existente entre o crescimento 
potencial da população e a dificuldade em aumentar a produção dos meios de subsistência. Entretanto, 
Malthus desempenhou um papel específico ao concentrar sua atenção não apenas na relação entre o 
crescimento populacional e o crescimento dos meios de subsistência, mas também nas implicações dessa 
relação para a escolha estratégica visando à perseguição de objetivos políticos (RONCAGLIA, 2006).
Malthus embasou sua teoria em dois pressupostos. No primeiro, afirmava que a população, quando 
não controlada, aumentava em uma progressão geométrica. Em observância à progressão populacional 
dos Estados Unidos, Malthus chegou a pensar que a população a cada 25 anos poderia se duplicar. 
No entanto, as estatísticas disponíveis não eram confiáveis e proporcionavam um respaldo empírico 
escasso. Como consequência, Malthus teve cuidado ao indicar que a duplicação da população a cada 25 
anos não era necessariamente o registro de uma taxa máxima de crescimento populacional ou de uma 
taxa real (EKELUND JR.; HEBERT, 2005).
Com relação ao segundo postulado, Malthus afirmou que, nas circunstâncias mais favoráveis, os 
meios de subsistência (quer dizer, a oferta de alimentos) não poderiam aumentar mais do que em 
progressão aritmética. O problema desse segundo pressuposto diz respeito a sua falta de precisão, 
que não veio respaldada por fatos, nem sequer em uma forma aproximada, como ocorreu no primeiro 
postulado (EKELUND JR.; HEBERT, 2005).
Nas palavras de Heilbroner (1996b), “o jovem Malthus puxou o tapete debaixo dos pés dos 
complacentes pensadores da época e ofereceu-lhes, no lugar do progresso, uma perspectiva descarnada, 
triste e desalentadora”.
O que o ensaio dizia a respeito da população era que havia uma tendência 
na natureza da população de ultrapassar todos os meios possíveis 
de subsistência. Ao ascender para um nível cada vez mais elevado, a 
sociedade era apanhada em uma armadilha sem escapatória, por causa 
da qual a urgência reprodutiva humana iria inevitavelmente empurrar a 
humanidade para a perigosa beirada do precipício da existência. Em vez 
de ser dirigido para a Utopia, o rebanho humano seria condenado para 
sempre a ser agitado pelas constantes batalhas travadas entre bocas 
famintas que se multiplicavam e o eternamente insuficiente estoque 
de mantimentos da Natureza, por mais que o armário dela estivesse 
abastecido (HEILBRONER, 1996b, p. 76).
Baseado no princípio de que os alimentos são necessários para a existência humana e no princípio 
de que a paixão entre os sexos é essencial e que nunca mudará, Malthus chegou à conclusão de que 
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a população tendia a crescer a um ritmo mais rápido do que a dos meios de subsistência (alimentos). 
Também afirmou que a razão desse desbalanceamento era a causa da pobreza e do sofrimento. 
Na primeira edição do ensaio, Malthus não chegou a oferecer nenhuma prova estatística de sua 
afirmação sobre a população, nem sobre a produção de alimentos. Tampouco, utilizou o princípio dos 
rendimentos decrescentes na agricultura para justificar sua tese de que a economia não seria capaz 
de aumentar significativamente a oferta de alimentos, mas reconheceu a limitação da oferta da terra 
(LANDRETH; COLANDER, 2006).
 Saiba mais
Você sabia que por um período a economia foi chamada de “ciência 
lúgubre”?
A expressão está relacionada à obscuridade da ciência, denominada 
assim por causa, principalmente, dos resultados que derivam da hipótese 
sombria de Thomas Malthus sobre o aumento da população e a falta de 
alimentos.
Para saber mais, sugerimos a leitura de:
THOMPSON, D. Why Economics Is Really Called “the Dismal Science”. 
The Atlantic, Washington, Dec. 17 2013. Disponível em: <http://www.
theatlantic.com/business/archive/2013/12/why-economics-is-really-
called-the-dismal-science/282454/>. Acesso em: 19 out. 2015.
Para controlar o crescimento da população, Malthus sugeriu dois tipos de controle: preventivo e 
positivo. No controle preventivo, a taxa de natalidade deveria ser controlada.
O controle preventivo que Malthus aprovava era denominado de restrição 
moral. As pessoas que não pudessem sustentar filhos deveriam adiar o 
casamento ou nunca casar. A conduta perante o casamento deveria ser 
estritamente moral. O controle preventivo que Malthus não aprovava 
era chamado por ele de vício. Isso incluía a prostituição e o controle de 
natalidade, e os dois reduziam a natalidade (BRUE, 2005, p. 90).
Em reconhecimento às taxas de mortalidade que costumam aumentar como consequência de 
guerras, fome, enfermidades e catástrofes parecidas, Malthus definiu o controle positivo:
Eles eram a fome, a miséria, a praga e a guerra. Malthus elevou esses controles 
à posição de fenômenos ou leis naturais. Eles eram males necessários 
para limitar a população. Esses controles positivos representavam 
punições para as pessoas que não tinham praticado restrição moral. Se 
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os controles positivos pudessem, de alguma maneira, ser superados, as 
pessoas enfrentariam a fome, pois uma população em rápido crescimento 
faria pressão sobre a oferta de alimentos que, na melhor das hipóteses, 
cresceria lentamente (BRUE, 2005, p. 90).
Malthus passou por fases distintas a respeito de suas ideias e seus pensamentos. De 1790 a 1800, 
a principal preocupação de Malthus era com a inquietação dos trabalhadores e com os esquemas que 
estavam sendo defendidos por intelectuais radicais quanto à reestruturação da sociedade, a fim de 
promover o bem-estar e a felicidade dos trabalhadores. Contudo, Malthus percebeu que os esquemas 
só poderiam tentar promover a causa dos trabalhadores em detrimento da riqueza e do poder das duas 
classes de proprietários – os capitalistas e os proprietários de terras. Malthus era defensor declarado 
dos ricos, e sua teoria da população serviu de arcabouço para defendê-los. A segunda fase se configura 
a partir de 1814, quando Malthus passou a se preocupar com as Leis dos Cereais e com a luta entre os 
proprietários de terras e os capitalistas. Malthus defendeu os interesses dos proprietários de terra nesse 
período (HUNT, 2005).
Em suma, as hipóteses de Malthus sobre a população não se verificaram. Não significa afirmar que 
o problema populacional seja menos importante. Contudo, Malthus subestimou alguns fatos relevantes, 
incluindo o papel do progresso técnico.
Devido às diversas transformações que os historiadores denominam de 
“revolução agrícola” (fim do alqueive, exploração de novas variedades 
vegetais, melhorias das técnicas etc.), a agricultura ocidental teve um 
aumento no rendimento de solos, bem como um forte aumento de 
produtividade do trabalho. Assim, hoje, um agricultor francês produz o 
suficiente para alimentar setenta pessoas, em vez das quatro na época de 
Malthus. Além disso, o desenvolvimento das trocas internacionais pode 
compensar a insuficiência agrícola com o recurso às importações. Basta que 
o país se oriente para a produção e exportação de bens que lhe tragam 
vantagens. As receitas obtidas com as exportações permitem financiar as 
importações de produtos agrícolas. Ao contrário da visão malthusiana, a 
agriculturanão é um obstáculo ao crescimento da população (DROUIN, 
2008, p. 62-63).
3.4 David Ricardo
Filho de um rico capitalista inglês, David Ricardo (1772-1823) fez sua própria fortuna antes dos 30 
anos. Começou a estudar economia por volta dos 28 anos e em 1810 publicou seu primeiro panfleto, 
The High Price of Bullion. Os ensaios sobre a controversa Lei dos Cereais, publicados em 1815, deixaram 
claro que Ricardo era um dos economistas mais capacitados da Inglaterra. Sua principal obra, Principles 
of Political Economy and Taxation (Princípios de Economia Política e Tributação), publicada em 1817, 
logo ocupou o lugar de A Riqueza das Nações, de Smith, que era a obra fundamental mais aceita sobre 
questões econômicas.
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Embora Smith tenha inaugurado a escola clássica, David Ricardo (1772-1823) foi o grande 
responsável pela promoção do maior desenvolvimento das ideias do classicismo (BRUE, 2005). 
Para atestar sua genialidade, o pensamento econômico inglês de 1815 a 1848 foi dominado pelas 
ideias de Ricardo.
Isso não significa que uma ortodoxia ricardiana tenha sido formada, nem que os economistas do 
período tenham mantido uma concordância a respeito de seu método (muito abstrato) e de seu enfoque 
de política econômica (não contextualizado). Ao contrário, o período foi marcado por grande turbulência 
ideológica, debates intensos, oposições teóricas e políticas e conflitos crônicos.
É de aceitação geral considerá-lo o teórico mais rigoroso entre os 
economistas clássicos. Sua capacidade de construir um modelo abstrato de 
como funcionava o capitalismo e de deduzir todas as implicações lógicas foi 
insuperável, em sua época. Além disso, sua teoria econômica estabeleceu um 
estilo de modelos econômicos abstratos e dedutivos que vem dominando a 
teoria econômica até hoje (HUNT, 2005, p. 86).
Ricardo foi um exímio pensador dedutivo:
Ele começou com premissas básicas e então, utilizou a lógica para deduzir 
as generalizações. Ricardo chamou suas amplas leis econômicas de 
generalizações e considerou sua ação tão válida quanto as leis da física nas 
ciências naturais. Houve, por exemplo, as leis que controlaram a distribuição 
de metais preciosos em todo o mundo, as leis que regulamentaram a troca 
internacional de bens, as leis que controlaram a distribuição de renda, e 
assim por diante. Embora estivesse muito bem-informado sobre os fatos que 
envolviam os negócios e a economia por meio de sua experiência pessoal, 
Ricardo não utilizou o método indutivo de raciocínio. Ou seja, não reuniu 
dados históricos ou experimentais nem partiu da parte para o todo, do 
particular para o geral, dos fatos para as teorias. Em vez disso, formulou as 
leis gerais e, então, algumas vezes discorreu sobre os fatos para exemplificar 
sua ação (BRUE, 2005, p. 102).
Ricardo pôde tirar proveito de sua capacidade analítica por meio de duas vantagens importantes. 
Primeiramente, passadas quatro décadas, Ricardo testemunhou o desenvolvimento de um capitalismo 
que avançava rapidamente, no qual as forças da revolução industrial já tinham se desencadeado de 
forma incontrolável, dando à nova formação social uma fisionomia muito mais definida.
O centro de suas preocupações acadêmicas refletia nitidamente a 
transformação por que a Inglaterra tinha passado nos quarenta e tantos 
anos após o aparecimento do grande trabalho de Smith. A população, 
apesar da emigração, tinha aumentado muito. Embora a Inglaterra ainda 
fosse capaz de alimentar-se por seus próprios meios e exportasse um pouco 
de cereais de 1812 e 1813, o preço do pão tinha-se tornado questão de 
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grandes debates. A industrialização não iria resolver o problema porque 
os processos manufatureiros também dependiam dos produtos do solo. 
Ademais, a introdução de maquinaria tinha criado muitos problemas bem 
diferentes daqueles que se apresentam a uma nação predominantemente 
agrícola (RIMA, 1977, p. 154-155).
Em segundo lugar, Ricardo contava com um ponto de partida privilegiado para suas próprias 
investigações: A Riqueza das Nações, que serviu como referência para contrapor e para dialogar com as 
teorias expostas (KICILLOF, 2010).
Segundo Brue (2005, p. 102):
Quando completou 27 anos, conheceu o livro The Wealth of Nations, de 
Smith, e esse feliz acontecimento que voltou sua atenção para a economia. 
Seu primeiro “trabalho publicado” – uma carta a um jornal sobre problemas 
da moeda – só apareceu dez anos mais tarde. Na década seguinte, ele havia 
concluído seus principais trabalhos, incluindo sua obra Principles of Political 
Economy and Taxation, de 1817.
 Observação
No estudo da ciência econômica, existem dois métodos possíveis de 
raciocínio: o dedutivo e o indutivo. No método dedutivo, parte-se de 
dados gerais para explicar as conclusões particulares. No método indutivo, 
parte-se de fatos específicos para chegar a conclusões gerais.
3.4.1 Valor de troca
Ricardo define logo no início da obra Princípios de Economia Política e Tributação, ainda no Capítulo I, 
o conceito de valor de troca:
O valor de uma mercadoria, ou a quantidade de qualquer outra pela qual 
pode ser trocada, depende da quantidade relativa de trabalho necessário 
para sua produção, e não da maior ou menor remuneração que é paga por 
esse trabalho (RICARDO, 1996, p. 23).
Categórico, Ricardo sai em defesa do postulado de que o trabalho determina o valor (relativo) 
das mercadorias:
Poder-se-á lembrar que Smith considerava o trabalho como a única medida 
invariável de valor. Ricardo discordava e mantinha que o valor do trabalho 
não é menos variável do que o [de] ouro, prata ou trigo. O valor do trabalho 
é determinado precisamente da maneira que o valor de troca de qualquer 
outro bem (RIMA, 1977, p. 158).
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Desse modo, a teoria do valor fundamentada no trabalho se converte na pedra angular do 
sistema econômico clássico. Em detalhe, a definição de valor é apresentada como uma magnitude 
de caráter relativo. O valor é a quantidade de outra mercadoria que pode ser obtida por meio 
da troca. De acordo com Kicillof (2010), essa magnitude sustentada por Ricardo reflete a relação 
entre as respectivas quantidades de trabalho empregadas em sua fabricação.
Preocupado com os valores relativos, e não com os valores absolutos, Ricardo quis descobrir a 
base para a relação de troca entre as mercadorias. Assim, seria possível determinar as causas das 
trocas nesses valores relativos sobre o tempo (BRUE, 2005).
[...] Ricardo escreveu que para uma mercadoria ter valor de troca, ela deveria ter o 
valor de uso. A utilidade (satisfação subjetiva de uma necessidade) não é a medida 
de valor de permuta, embora seja essencial para ela. Possuindo utilidade, ou valor 
de uso, as mercadorias derivam seu valor de troca de duas origens: (1) sua escassez 
e (2) quantidade de trabalho exigida para obtê-las (BRUE, 2005, p. 107).
Com a declaração de que a utilidade não é uma medida do valor de troca, mas é essencial para a 
troca, Ricardo esclarece que a magnitude do valor depende não apenas do trabalho empregado para 
a produção de mercadoria, mas também da utilidade do objeto, que é condição para que possua valor 
de troca. Quer dizer, não haverá valor de troca sem que exista valor de uso (KICILLOF, 2010).
Em termos gerais, para Ricardo (1996, p. 22-23), dos fatores que determinam o valor ou o preço de 
um produto, o primeiro tem de ser sua utilidade:
A utilidade, portanto, não é a medida do valor de troca, embora lhe seja 
absolutamente essencial. Se um bem não fosse de um certo modo útil — em 
outras palavras, se não pudesse contribuir de alguma maneira para a nossa 
satisfação —, seria destituído de valor de troca, por mais escasso que pudesse 
ser, oufosse qual fosse a quantidade de trabalho necessária para produzi-lo.
Se um bem não tiver utilidade alguma, isto é, se não puder contribuir em nada para a nossa 
gratificação, o bem deverá ser destituído de qualquer valor trocável. Aqui, embora tenha havido outros 
precedentes, surge em sua forma primitiva o outro lado da visão moderna da determinação dos preços, 
a interação de oferta e demanda (RIMA, 1977).
Tendo estabelecido a necessidade de produtos “trocáveis”, Ricardo (1996, p. 24) vê o valor destes 
vindo ou da escassez, ou da quantidade de trabalho necessário para obtê-los.
Algumas mercadorias têm seu valor determinado somente pela escassez. 
Nenhum trabalho pode aumentar a quantidade de tais bens, e, portanto, 
seu valor não pode ser reduzido pelo aumento da oferta. Algumas estátuas 
e quadros famosos, livros e moedas raras, vinhos de qualidade peculiar, 
que só podem ser feitos com uvas cultivadas em terras especiais das quais 
existe uma quantidade muito limitada, são todos desta espécie. Seu valor 
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Unidade I
é totalmente independente da quantidade de trabalho originalmente 
necessária para produzi-los, e oscila com a modificação da riqueza e das 
preferências daqueles que desejam possuí-los.
Para os bens que derivam seu valor de troca da escassez, bens raros, por exemplo, o valor é 
totalmente independente da quantidade de trabalho originalmente necessária para produzi-los e 
oscila com a modificação da riqueza e das preferências daqueles que desejam possuí-los. Já os bens 
e produtos reproduzíveis, cujo valor de troca é determinado pelo trabalho que incorporam, são a 
regra geral (RIMA, 1977).
3.4.2 Salários, lucros e renda da terra
Enquanto Adam Smith e os mercantilistas tinham interesse em descobrir quais eram as forças 
que determinavam a riqueza das nações, Ricardo defendia que a principal finalidade da economia era 
determinar as leis que regulariam a distribuição da renda entre trabalhadores, capitalistas e proprietários 
de terra. Ricardo se preocupava com a distribuição funcional da renda. Em outras palavras, Ricardo queria 
compreender a importância da participação relativa do trabalho, da terra e do capital na produção anual 
(LANDRETH; COLANDER, 2006).
Como Smith, Ricardo levou em conta uma sociedade baseada na divisão do trabalho, com dois 
grandes setores: agricultura e indústria; com três classes sociais: trabalhadores, capitalistas e proprietários 
de terras; e com três categorias de remuneração: salários, lucros e rendas. Para Ricardo, os salários 
corresponderiam geralmente ao consumo de subsistência dos trabalhadores empregados no processo 
produtivo e, portanto, constituiriam uma parte dos gastos necessários da produção. Rendas e lucros 
corresponderiam ao excedente, quer dizer, àquela parte do produto da qual se pode dispor uma vez que 
se tenham reconstituído os estoques iniciais dos meios de produção e dos meios de subsistência para os 
trabalhadores empregados na produção (RONCAGLIA, 2006).
Em relação aos salários, Ricardo afirmou que o trabalho, como todas as outras coisas que são 
compradas ou vendidas, possui o preço natural e o preço de mercado.
Se o custo das necessidades aumentar, os salários nominais aumentarão 
para que os trabalhadores possam manter seus salários reais e continuar 
a comprar o suficiente para perpetuar a força de trabalho. Se o preço das 
mercadorias cair, os salários nominais diminuirão. O preço de mercado da mão 
de obra depende da oferta e da demanda, mas, com relação às mercadorias, 
o preço do mercado flutua em torno do preço natural (BRUE, 2005, p. 112).
As taxas de lucros em diferentes áreas de negócios em um país tendem a se igualar. Os empresários tendem 
a maximizar a taxa de lucro, depois de considerar as vantagens e desvantagens que o negócio oferece.
Os movimentos de preço influenciam as taxas de lucro que, por sua vez, 
controlam o fluxo do capital. A classe abastada, em particular, pode 
rapidamente transferir as reservas para a maioria dos negócios rentáveis. 
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O mercado livre e competitivo e as ações dos indivíduos tendem a produzir 
taxas de lucro que são iguais ou igualmente vantajosas, na balança, para 
todos os tipos de negócios (BRUE, 2005, p. 112).
 Observação
Preço natural corresponde aos custos de produção (trabalho 
incorporado): salários, compra das matérias-primas, uso do capital.
Preço de mercado (preço corrente) pode ser determinado pelo jogo da 
oferta e da procura no mercado.
Para Ricardo, a teoria de Malthus a respeito da população também fazia sentido. De acordo 
com a teoria, a população aumenta quando os salários aumentam, isto é, há uma abundância de 
trabalhadores procurando emprego. Quando os salários estão muito baixos, a situação se inverte: 
temos uma diminuição da população e escassez de trabalhadores. Entretanto, se os salários não se 
afastam muito do nível de subsistência (salário natural) e os lucros não crescem, antes diminuem, 
com o cultivo de terras menos férteis, quem se beneficia com o aumento do produto? Só pode ser 
a classe dos proprietários de terra.
Ora, o crescimento econômico só é possível com investimento, e o 
investimento é parte do lucro aplicado na produção. Investir é a função 
do capitalista. Se o lucro diminuir, o investimento também diminuirá. Se 
a taxa de lucro tender a zero, como tenderá se se verificarem todas as 
hipóteses ricardianas, a economia tenderá para o estado estacionário, ou 
seja, para um estado no qual a população é estável e a renda per capita é 
constante. No estado estacionário, a economia não cresce e nem diminui 
(ARAÚJO, 1988, p. 41).
3.4.3 Comércio internacional e mecanismos comparativos
David Ricardo foi o primeiro economista a defender coerentemente que o comércio internacional sem 
restrições poderia beneficiar os países envolvidos, a ponto de ampliar mercados e eliminar excedentes. 
Ainda que um país produzisse todas as suas mercadorias comercializadas, de maneira mais eficiente, 
poderia acarretar ganhos de eficiência para ambos.
[...] um país não precisa ter uma vantagem absoluta na produção de qualquer 
mercadoria, para que o comércio internacional entre ele e o outro país seja 
mutuamente benéfico. Vantagem absoluta significava maior eficiência de 
produção ou o uso de menos trabalho na produção. Dois países poderiam 
beneficiar-se com o comércio, se cada um tivesse uma vantagem relativa 
na produção. Vantagem relativa significava, simplesmente, que a razão 
entre o trabalho incorporado às duas mercadorias diferia entre dois países, 
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de modo que cada um deles poderia ter pelo menos uma mercadoria na 
qual a quantidade relativa de trabalho incorporado seria menor do que a 
do outro país (HUNT, 2005, p. 112).
 Saiba mais
Na teoria da troca internacional, Ricardo utiliza os mesmos princípios 
avançados de Smith em sua metáfora da “mão invisível”. Cada nação, ao 
buscar seus interesses nacionais, contribui para atender aos interesses da 
comunidade econômica internacional (DROUIN, 2008, p. 42).
Para saber mais, consulte as obras de Smith e de Ricardo:
RICARDO, D. Princípios de Economia Política e Tributação. São Paulo: 
Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Economistas).
SMITH, A. A Riqueza das Nações: Investigação Sobre Sua Natureza e Sobre 
Suas Causas. São Paulo: Nova Cultural, 1996. v. I. (Coleção Os Economistas).
Ao contrário de Smith, Ricardo não pondera mais com base em vantagens absolutas, e sim com 
base em vantagens comparativas. Ricardo sugere que cada país deve se especializar na produção de 
mercadorias que possuam vantagens relativas no custo de produção (RONCAGLIA, 2006). Por exemplo, 
na Inglaterra, para produzir tecido durante um ano, são necessários 100 operários, e para produzir vinho 
sãonecessários 120 trabalhadores, durante o mesmo período. Em Portugal, a produção de vinho requer 
o trabalho de 80 profissionais, e a fabricação de tecido exige a participação de 90 operários, durante 
um ano. Independentemente dos produtos, vinho ou tecido, a produção portuguesa é mais econômica 
no que se refere a trabalho. No entanto, se Portugal se especializasse na produção de vinho, poderia 
comprar mais tecidos do que produziria se desviasse uma parte de seu capital da vinicultura para a 
produção têxtil. Cada país opta pelo tipo de produção em que se destaca (DROUIN, 2008).
De fato, o comércio internacional é vantajoso quando permite que um país obtenha uma mercadoria 
de um país estrangeiro a um custo – de mercadorias exportadas – menor que o necessário para produzi-
la internamente (RONCAGLIA, 2006).
4 BENTHAM, SAY, SENIOR E STUART MILL
O pensamento continental sem dúvida se fundamentou em grande parte no racionalismo 
cartesiano. O modo de produção capitalista de mercadorias envolvia necessariamente certas instituições 
socioeconômicas, modos de comportamento humano e autopercepção humana, além da percepção de 
outras pessoas. A busca cada vez mais intensa de lucro acarretou uma divisão cada vez maior do trabalho 
e uma especialização da produção. Com o aumento da especialização, o grau de interdependência social 
também se intensificou. No entanto, essa interdependência não era sentida como uma dependência de 
outros seres humanos, mas como a dependência pessoal, individual, de uma instituição social que não 
era humana – o mercado.
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[...] Os que dominavam e controlavam os mercados eram motivados pelos 
lucros; mas, embora os capitalistas, tomados coletivamente, dominassem 
e controlassem os mercados, não experimentavam nem percebiam esse 
controle e esse domínio pessoal ou subjetivamente. A intensa concorrência 
pelos lucros era sentida individualmente, pelos capitalistas, como uma força 
social impessoal sobre a qual eles, de modo geral, tinham pouco ou nenhum 
controle pessoal; as forças da concorrência do mercado eram vistas como 
leis naturais e imutáveis, inteiramente semelhantes às leis da natureza 
(HUNT, 2005, p. 119).
Hunt (2005) aponta cinco características do sistema capitalista que seguem a tradição da utilidade 
na teoria econômica:
a) Especialização do trabalho e do isolamento: como já não se sente parte integrante de um 
todo socioeconômico interligado e interdependente, o indivíduo é basicamente uma unidade 
isolada, atomizada, preocupada com sua própria sobrevivência contra as forças impessoais e 
imutáveis do mercado.
b) Caráter competitivo e egoísta da natureza humana: o ser humano é competitivo e egoísta por 
natureza, portanto sua motivação fundamental é, cada vez mais, obter prazer e evitar a dor; em 
outras palavras, utilitarismo.
c) Dependência completa: a divisão do trabalho cria dependência completa, tanto individual quanto 
social, do funcionamento do mercado com êxito. Com a aceitação do capitalismo como natural 
e eterno, a única condição de melhora para os indivíduos consiste no bom funcionamento do 
mercado (liberdade econômica).
d) Criação e acumulação de ferramentas, maquinaria e fábricas novas e mais complexas: o bom 
funcionamento do mercado depende da quantidade e da eficácia que a sociedade direciona para 
os meios de produção.
e) Plena concorrência entre os capitalistas: para auferir lucros, há a necessidade rigorosa de controle 
calculado, racional e previsível sobre as matérias-primas, o trabalho, os gastos de produção, de 
transporte e as vendas finais do mercado. Todos os atos humanos passaram a ser vistos como 
consequência de decisões calculadas, racionais, nas quais o indivíduo agia de modo muito parecido 
com o de um contador, ponderando todos os lucros (prazeres) e deduzindo os prejuízos (dor).
Tais aspectos do comportamento humano e da autopercepção dentro do capitalismo tornaram-se a 
base intelectual da teoria neoclássica da utilidade e da harmonia social, do final do século XIX e início 
do século XX. Jeremy Bentham, Jean Baptiste Say e Nassau William Senior formularam quase todas as 
ideias que os economistas posteriores usariam para dissociar os conceitos de harmonia social e benefício 
social do mercado da perspectiva do valor do trabalho.
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4.1 Jeremy Bentham
Filho de Jeremiah Bentham e Alicia Grove, nascido em Londres, em 1748, Jeremy Bentham 
(1748-1832) foi uma criança estranhamente precoce que começou a ler história e estudar latim aos 
4 anos de idade. Aos 12 anos, já estava matriculado no Queen’s College, em Oxford, e aos 15 já havia 
se formado. Depois, estudou direito, como seu pai desejava. Logo abandonou a advocacia para iniciar 
a vida acadêmica, dependendo de seu generoso pai para sustentá-lo (BRUE, 2005). Conhecido como 
impulsionador da engenharia social, o pai do utilitarismo, Jeremy Bentham, exerceu grande influência 
por todo o século XIX, especialmente com sua publicação, An Introduction to the Principles of Morals 
and Legislation (Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação), de 1780, que estava destinada 
a ser uma parte de um prefácio geral a um código de leis completo.
Para Bentham, toda motivação humana, em todas as épocas e todos os lugares, pode ser reduzida a 
um único princípio: o desejo de maximizar a utilidade. À primeira vista, as ideias utilitaristas de Bentham 
estão baseadas nos pressupostos filosóficos hedonistas. A ideia central do hedonismo é a de que os 
homens estão sempre perseguindo as coisas que provocam ou aumentam o prazer e sempre evitando as 
coisas que provocam ou aumentam a dor e o sofrimento (GENNARI; OLIVEIRA, 2009, p. 89).
O tema central do pensamento de Bentham é o chamado de utilitarismo ou 
princípio da felicidade maior. Sua filosofia básica, o hedonismo, remonta aos 
gregos da Antiguidade. Essa ideia é a de que as pessoas perseguem coisas 
que dão prazer e evitam provocar as que provocam o sofrimento; todos os 
indivíduos procuram alcançar seu prazer total (HUNT, 2005, p. 123).
Vale a pena ressaltar que o hedonismo estabelece ações individuais sem referência à felicidade 
geral. Por outro lado, o utilitarismo adicionou ao hedonismo a doutrina ética de que a conduta humana 
tinha de ser dirigida para a maximização da felicidade do maior número de pessoas. Como explicam 
Ekelund Jr. e Hebert (2005, p. 136), “a maior felicidade para o maior número” representa o lema dos 
utilitaristas, que defendem legislações, sanções sociais e religiosas que devem punir todos os indivíduos 
que prejudicarem os outros a buscar sua própria felicidade.
O utilitarismo se sobrepôs ao hedonismo, a doutrina ética que dizia que a 
conduta deveria ser direcionada para promover a maior felicidade do maior 
número de pessoas. Assim, ao reconhecer uma função positiva para a sociedade, 
o utilitarismo moderou a perspectiva extremamente individualista do hedonismo. 
Se um indivíduo persegue apenas o prazer pessoal, sua ação promoverá uma 
felicidade geral? Não necessariamente, pensou Bentham. A sociedade, porém, 
tem seus próprios métodos de obrigar os indivíduos a promover a felicidade geral. 
O domínio da lei estabelece sanções para punir os indivíduos que, na busca de 
seu próprio prazer, prejudicam os outros excessivamente. As sanções morais ou 
sociais também existem, das quais o ostracismo é exemplo. Até mesmo as sanções 
teológicas, tal como o medo da punição no futuro, ajudariam a reconciliar o 
interesse próprio individualista do hedonismo com o princípio utilitário da maior 
felicidade para o maior número de pessoas (HUNT, 2005, p. 123).
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Segundo Bentham, o interesse geral é medido pela soma dos interesses individuais da sociedade.A 
abordagem utilitarista se preocupa com a democracia e com a igualdade. Não importava se o indivíduo 
fosse pobre ou rico, cada um dos interesses individuais tinha de ter o mesmo peso na medição do 
bem-estar geral. Portanto, se há algo que pode proporcionar mais prazer a um camponês do que pode 
tirar a felicidade de um aristocrata, é desejável do ponto de vista utilitário. Além disso, se uma ação do 
governo de certo tipo aumenta a felicidade da comunidade mais do que diminui a felicidade de algum 
setor da mesa, a intervenção, portanto, se justifica (EKELUND JR.; HEBERT, 2005).
Na teoria econômica, a ideia principal do utilitarismo é a de que os seres humanos sempre buscam 
maximizar a utilidade para buscar o máximo de prazer (elevação do consumo) e, ao mesmo tempo, o 
mínimo de dor (privação do consumo).
Para os precursores da Escola Neoclássica, o valor de uma mercadoria se 
baseia em sua utilidade e geralmente coincide com seu preço de mercado, já 
que os consumidores estão sempre em busca da maior satisfação possível, 
e tal satisfação pode ser realizada com o consumo. Assim, a sociedade 
seria algo como um grande leilão, onde os consumidores, de posse de sua 
razão e com o conhecimento de mercado, buscam maximizar o prazer, algo 
apenas possível com a satisfação de suas necessidades. As mercadorias são 
utilidades e, como tal, possuidoras de valor. Assim, para Bentham, todo valor 
se baseia na utilidade (GENNARI; OLIVEIRA, 2009, p. 90).
A busca de Bentham de uma medida quantitativa exata da utilidade influenciou John Stuart 
Mill (que será apresentado a seguir), um adepto do utilitarismo, particularmente na área da reforma 
social. Além disso, o cálculo da felicidade de Bentham proporcionou um ponto de partida para as 
considerações de William Stanley Jevons na teoria do comportamento do consumidor baseado no 
princípio da utilidade marginal.
4.2 Jean-Baptiste Say
Nascido em Lyon, França, Jean Baptiste Say (1767-1832) passou a maior parte de seus primeiros 
anos em Gênova. Em Londres, converteu-se em um auxiliar comercial, mas com o estabelecimento da 
Revolução Francesa se mudou para Paris, onde além de atuar como empregado de uma empresa de 
seguros, também trabalhou na redação do Courrier de Provence. Em 1792, foi nomeado secretário do 
ministro da fazenda e, em 1794, foi um dos promotores do jornal La Décade Philosophique, Littéraire 
et Politique, que, a partir de 1804, converteu-se em um órgão de expressão dos ideólogos franceses. 
Chegou a trabalhar para Napoleão Bonaparte, como membro de sua equipe. Em 1803, publicou 
seu trabalho mais importante: A Treatise on Political Economy (Tratado de Economia Política), obra 
considerada a melhor interpretação do pensamento de Adam Smith no continente europeu (PERDICES 
DE BLAS, 2006, p. 36).
No Tratado de Economia Política, Say tem por objetivo explicar como as riquezas são criadas, 
distribuídas e consumidas. Em seu modelo idealizado, dividiu a economia política em produção, 
distribuição e consumo. No âmbito da produção, existem as indústrias, os fatores de produção 
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capital e trabalho, os mercados, o direito à propriedade, o dinheiro, as colônias e as regulamentações 
governamentais. Na distribuição, estão inclusos o valor e os custos de produção. Por fim, no consumo, 
há o gasto público e o financiamento.
Quando definiu o que deveria ser considerado como produção, Say considerou que produção 
nada mais seria do que a criação de utilidade. Dessa forma, dava volta na cadeia causal de Smith, 
segundo a qual o custo de produção era uma variável que determinaria o preço dos produtos; em 
troca, seria a utilidade, isto é, a valorização dos consumidores, a que discorreria em direção ao 
preço dos bens. A ideia por trás de toda a argumentação de Say está relacionada ao fato de que 
a grande dificuldade que o processo produtivo enfrenta é a venda, e não a produção (PERDICES 
DE BLAS, 2006, p. 37).
Para Say, “a demanda de produtos em geral é tão maior quanto mais ativa for a produção” ou “os 
produtos criados fazem nascer demandas diversas” (GENNARI; OLIVEIRA, 2009, p. 91-93). Nas palavras 
de Hunt (2005), a lei dos mercados de Say apresentava:
Sua crença de que um mercado livre sempre se ajustaria automaticamente, 
em um equilíbrio em que todos os recursos – inclusive o trabalho – estariam 
plenamente utilizados, quer dizer, em um equilíbrio com o pleno emprego, 
tanto do trabalho quanto da capacidade industrial (HUNT, 2005, p. 130).
As crises econômicas seriam fenômenos passageiros ou desequilíbrios temporários em determinados 
mercados. O ato de entesourar não parece fazer o menor sentido para Say, já que, em seu entender, o 
objetivo da poupança é sempre o investimento. Assim, os desequilíbrios parciais possuem a capacidade 
de autocorreção. Em última instância, o que restabeleceria o equilíbrio seriam as condutas racionais 
dos agentes econômicos em busca da máxima satisfação de suas necessidades pessoais ou de sua 
maximização (GENNARI; OLIVEIRA, 2009).
4.3 Nassau William Senior
Filho de um pároco, Nassau William Senior (1790-1864) educou-se em Oxford e foi admitido na 
Ordem dos Advogados, em 1819. Tornou-se o primeiro mestre em economia política em Oxford, 1825. 
Foi professor de Economia Política no King’s College, em Londres, embora, pressionado, tivesse solicitado 
demissão quando advogou o confisco de algumas receitas da Igreja Estabelecida da Irlanda em benefício 
dos católicos romanos. O governo o nomeou membro de várias comissões reais que investigavam 
importantes problemas sociais. Foi um dos mais importantes economistas ingleses ao desligar-se de 
forma significativa da economia clássica e ao elaborar um dos pilares do pensamento econômico 
neoclássico: a teoria da abstinência.
Preocupado em eleger a metodologia correta para avançar no conhecimento da economia, 
Senior quis separar a ciência da economia política de todos os julgamentos de valor, de todos os 
pronunciamentos jurídicos e de todos os esforços para promover o bem-estar. Por influência do 
positivismo lógico, a distinção entre economia normativa e economia positiva foi formalizada. 
Enquanto a ciência positiva possui o objetivo de desenvolver teorias que possam ser validadas 
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empiricamente, a ciência normativa se preocupa com o que deve ser e utiliza a economia para 
proteger políticas públicas (BRUE, 2005; LANDRETH; COLANDER, 2006).
Embora o método dedutivo na economia já estivesse bem-estabelecido, quando escreveu o 
Esboço da Ciência de Economia Política (1836), Senior foi o primeiro a fazer uma demonstração 
explícita dos postulados ou axiomas em que a teoria econômica é baseada (BRUE, 2005, p. 133; 
RIMA, 1977, p. 189-191).
Brue (2005, p. 133) destaca os quatro postulados de Senior:
(1) Que o homem deseja obter uma riqueza adicional com o menor 
sacrifício possível. [Princípio da renda ou maximização da utilidade.] (2) 
Que a população do mundo, em outras palavras, o número de pessoas que 
o habitam, está limitada pelos males morais ou físicos ou pelo medo de 
uma falta daqueles artigos de riqueza que os hábitos de cada grupo de seus 
habitantes o levam a exigir. [Princípio da população.] (3) Que os poderes do 
trabalho (mão de obra) e dos outros instrumentos que produzem a riqueza 
podem ser aumentados indefinidamente ao usar seus próprios produtos 
como meios para produzir mais ainda. [Princípio do acúmulo de capital.] (4) 
Que sendo mantida a técnica agrícola, um trabalho adicional empregado 
sobre a terra de determinado distrito produz, em geral, um rendimento menos 
proporcional; em outras palavras, embora, a cada aumento do trabalho, 
o rendimento agregado seja maior, esse aumento não é proporcional ao 
aumento de trabalho [Princípio dos rendimentos decrescentes] (BRUE, 2005, 
p. 133, grifo do autor).
Em consideraçãoao primeiro postulado de Senior, todas as pessoas desejam obter, com o menor 
sacrifício possível, o maior montante possível de artigos de riqueza. Rima (1977, p. 189) explica que este 
axioma já existia, mas Senior incluiu os serviços além dos bens materiais. Uma vez que a definição de 
riqueza de Senior se constitui de todos os bens e serviços que possuam utilidade.
O segundo postulado trata do princípio da população, declarando que o número de pessoas 
que habitam no mundo, está limitada pelos males morais ou físicos ou pelo medo de uma falta 
daqueles artigos de riqueza que os hábitos de cada grupo de seus habitantes o levam a exigir. Isso 
não significa que Senior tenha aceitado a teoria de Malthus sobre a tendência de a população 
expandir-se mais rapidamente do que o potencial de produção de alimentos. No entanto, com o 
progresso da civilização, Senior acreditava que houvesse uma tendência natural de que os meios 
de subsistência aumentassem em uma proporção maior do que a da população (BRUE, 2005, p. 
133; RIMA, 1977, p. 189-191).
Falando do princípio do acúmulo de capital, o terceiro postulado abrange os poderes do trabalho 
(mão de obra) e os outros instrumentos que produzem a riqueza que podem ser aumentados 
indefinidamente ao usar seus produtos como meios para produzir mais ainda. Este axioma representa 
a base da teoria do capital e dos juros de Senior, que iria ampliar significativamente a teoria do custo 
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de produção por acrescentar a abstinência como fator separado da produção (BRUE, 2005, p. 133; 
RIMA, 1977, p. 189-191).
Por fim, o quarto postulado conclui que, se a técnica agrícola for mantida, um trabalho 
adicional empregado sobre a terra de determinado distrito produzirá, em geral, um rendimento 
menos proporcional. Em outras palavras, embora com cada aumento da mão de obra o rendimento 
agregado seja maior, esse aumento não é proporcional ao da mão de obra (BRUE, 2005, p. 133; 
RIMA, 1977, p. 189-191).
Por conta dos conflitos sociais e tumultos sociais relacionados à reação da classe trabalhadora 
ao estado de pobreza e de longas jornadas de trabalho a que estava sendo submetida, Senior 
elaborou a teoria da abstinência. Para Senior, o que dá valor a um bem ou a uma coisa é a sua 
utilidade ou o seu poder de oferecer prazer na medida em que a origem última dos preços não 
está no trabalho incorporado, mas na utilidade que os indivíduos retiram dos bens no ato do 
consumo (GENNARI; OLIVEIRA, 2009, p. 95).
O valor de troca dos bens depende da demanda e da oferta. A demanda básica corresponde ao 
conceito da utilidade marginal decrescente dos bens à medida que mais unidades são requeridas. 
Por outro lado, a oferta depende dos custos de produção. O conceito de custo está relacionado 
à subjetividade – a soma de sacrifícios exigida para o uso dos agentes da natureza para produzir 
bens úteis. Os custos de produção são o labor dos trabalhadores e a abstinência dos capitalistas 
(BRUE, 2005).
O uso do termo abstinência implica um julgamento de valor sobre os sacrifícios assumidos pelo 
capitalista no adiamento (ou na renúncia definitiva) do consumo da riqueza. O sacrifício não é a 
soma total de economias, mas, de certa maneira, o sacrifício na margem – o ponto de troca em que 
as decisões são tomadas. O declínio na despesa sobre os bens de consumo será compensado pelo 
aumento da despesa sobre os bens de capital. Assim, de acordo com a perspectiva clássica, nenhuma 
deficiência da demanda total irá ocorrer (BRUE, 2005).
4.4 John Stuart Mill
Filho de James Mill, John Stuart Mill (1806-1873) foi criado em um ambiente intelectual 
conscientemente preparado por seu pai, visando treiná-lo para continuar a tradição de Bentham 
e Ricardo. Aos 10 anos já dominava o grego e o latim e possuía vastos conhecimentos de história 
universal. Aos 13 anos, sob a cuidadosa supervisão do pai, teve seu primeiro contato com os Princípios 
de Economia Política e Tributação de David Ricardo. Aos 19, começou a contribuir com artigos para 
a Westminster Review. Antes de completar 20 anos, editou cinco volumes da Lógica da Evidência de 
Bentham. Não muito tempo depois, Stuart Mill passou por um período conturbado, com a revisão de 
suas crenças e de seus valores.
O inglês que foi criado para se tornar gênio teve um colapso nervoso, que até poderia ser atribuído 
ao simples resultado de emendar milhares de pedaços de papel cobertos de garranchos num manuscrito 
de mais de 1 milhão de palavras. No entanto, o colapso de John Stuart Mill foi quase inteiramente 
Teoria da abstinência: ao passo em que o capitalista se abstém do lucro e reinveste o capital, ele cria mais oferta e também demanda.
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imputável a seu pai, James Mill. Como um admirador sem limites de Bentham e suas ideias utilitaristas, 
em 1826, Stuart Mill se viu em um impasse. Como habitual, trabalhando obsessivamente, por um 
momento, questionou-se: se todos os objetivos de sua vida fossem inteiramente realizados, ainda assim, 
seria feliz? Para a surpresa do admirador das ideias utilitaristas, Stuart Mill percebeu que a resposta era 
negativa. O rapaz, que acreditava absolutamente na filosofia da felicidade, era incapaz de lográ-la para 
si (STRATHERN, 2003).
Com o colapso, Stuart Mill passou a criticar certas características do utilitarismo, mas não o rejeitou.
[...] Na verdade, ele nunca rejeitou totalmente o utilitarismo, apesar 
de criticar acerbamente certas características do sistema de Bentham. 
Especificamente, rejeitou a ideia de que o comportamento humano 
era inteiramente governado por autointeresse, conforme deduções 
de Bentham, e até se arriscou a sugerir que a razão pela qual este 
dava pouca importância à simpatia e à benevolência como influentes 
na conduta era ele próprio não possuir tais características. Também 
sustentava que havia diferenças quantitativas entre prazeres e que a 
estimação de prazer não depende somente de quantidade. Mas, em 
última análise, estas críticas parecem constituir uma revisão ou ressalva 
ao benthanismo, e não uma rejeição, porque Mill era um hedonista e 
pensava que a moralidade do comportamento deve ser julgada em 
termos de seus efeitos sobre a felicidade (RIMA, 1977, p. 186-187).
Em contato com as ideias dos romancistas Samuel Taylor Coleridge, Charles Dickens, Thomas 
Carlyle, John Ruskin, e com os escritos do filósofo Auguste Comte, Stuart Mill derrubou a opressão 
da ideia de que tudo estava morto dentro de si, passando a se dedicar a introduzir humanidade na 
economia política.
É difícil especificar qual a posição de desenvolvimento das ideias econômicas de Stuart Mill. 
Embora tenha escrito no fim do período clássico, Stuart Mill tinha uma mente aberta (um de seus 
maiores atrativos), permitindo-lhe introduzir algumas modificações na doutrina clássica e no começo 
de um novo período de desenvolvimento do pensamento econômico. No entanto, Stuart Mill passou 
por um dilema intelectual.
As ideias que derivou dessas fontes criaram-lhe um dilema intelectual, 
porque procurava conciliá-las com as influências anteriores e profundamente 
enraizadas do benthanismo e do ricardianismo. Consequentemente, seu 
padrão de enfoque praticamente para todos os assuntos era começar com 
uma assertiva preliminar da doutrina recebida que, a seguir, passava a 
ressaltar e a revisar até que era eliminada grande parte do principal original. 
Conquanto estas ressalvas tivessem origem principalmente em seu profundo 
sentido de humanitarismo e finalidade social, mesmo assim elas criaram 
conflitos que ele foi incapaz de resolver (RIMA, 1977, p. 187).
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4.5 Positivismo e a busca do estatuto de Ciência Positiva para a Economia
Depois de seu colapso mental, Stuart Millfoi extremamente influenciado pelas obras de Auguste 
Comte, filósofo francês, discípulo de Henri Saint-Simon. Para Comte, a economia política tinha que ficar 
submetida à ciência geral (que Comte chamou de Sociologia):
[...] Mas ao lado desta disciplina, há lugar para uma Sociologia Dedutiva, de que a 
economia política é um dos ramos. Esta disciplina forma uma ciência particular, 
porque para estudar “os fatos sociais que se produzem com vista à aquisição 
da riqueza”, existe interesse em considerar “o gênero humano como ocupado 
unicamente na aquisição e no consumo de riqueza” (DENIS, 2000, p. 498).
Com base em suas convicções de que a economia política, como ciência dedutiva, carecia de 
relevância empírica e histórica, Comte demandava um novo método, assim como uma nova ordem 
das ciências sociais. O novo método foi chamado de positivismo, que na mente de Comte significava 
empirismo ou indução.
Diante das diversas críticas, Stuart Mill reagiu reconstruindo os fundamentos filosóficos e 
metodológicos de suas próprias considerações a respeito da economia política como disciplina 
autônoma. Mostrou simpatia pelas intenções de Comte para construir uma ciência geral do homem, 
mas, não obstante, defendeu a economia como ciência independente.
O problema é que Stuart Mill começou a estruturar a Economia sobre os princípios ricardianos, mas 
ficou tão impressionado pelo objetivo de criar uma ciência completa da sociedade de acordo com as teorias 
de Auguste Comte que passou a visualizar a Economia Política como um estudo de indivíduos, instituições 
e costumes, e não apenas como a formulação de leis que regem a produção, a troca e a distribuição:
Por isso, a meta de seus Princípios de Economia Política foi prover não somente 
uma exposição da teoria ricardiana, mas o que é mais importante, a de examinar 
o meio social e político do qual foram tiradas as generalizações ricardianas. Já 
que em sua concepção estes fatores ambientais exerciam sua principal influência 
sobre a distribuição da riqueza, a lógica de sua distinção entre Economia Pura e 
Economia Aplicada foi estabelecer um fundamento para um amplo programa 
de reforma destinado a alterar as instituições que afetavam essa distribuição. 
Esta abordagem permite a Mill compreender os sonhos dos socialistas utópicos 
que procuravam estabelecer comunidades cooperativas, ao mesmo tempo 
distinguindo-o como o maior expoente do classicismo (RIMA, 1977, p. 188).
Segundo Stuart Mill, na área social, não se pode confiar apenas no método empírico ou indutivo, 
porque as causas dos fenômenos sociais são com frequência complexas e entrelaçadas, e seus efeitos 
não podem ser distinguidos tão facilmente uns dos outros. Stuart Mill considerava a dedução como um 
controle desejável dos erros do eventual empirismo. Contudo, a dedução não deve levar necessariamente 
à aceitação dogmática de ideias e teorias que não dão respaldo aos fatos. Em resumo, Stuart Mill logrou 
um equilíbrio frágil entre os extremos dedutivos e indutivos.
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4.6 Leis de funcionamento da produção e distribuição de riqueza
Stuart Mill acreditava que sua contribuição mais importante para a história do pensamento 
econômico fosse a diferenciação entre as leis da produção e as leis de distribuição. As leis que regem a 
produção de riqueza são as verdades físicas, isto é, trata-se de leis da natureza (como a Lei da Gravidade) 
que não podem ser alteradas pela vontade do homem ou por mecanismos institucionais. Em outras 
palavras, as leis que governam a produção são imutáveis, fixas pela natureza e pela tecnologia. Os 
homens até poderiam ajustar-se a essas leis, mas não tinham poderes para modificá-las (BARBER, 1967). 
Ao passo que as leis de distribuição são parcialmente de instituição humana e resultam principalmente 
de mecanismos sociais e institucionais.
Em defesa de seu pressuposto sobre a diferenciação, Mill examinou extensivamente diferentes 
arranjos de distribuição associados com vários tipos de organização social. A preocupação de Stuart 
Mill não se baseava apenas em demonstrar a existência de vários tipos de sistemas distributivos, mas 
investigar se a distribuição dominante de renda poderia ser alterada (BARBER, 1967).
O intuito de Stuart Mill era abordar questões de justiça social em bases diferentes da eficiência 
produtiva. No entanto, Rima (1977) esclarece que a distinção de Stuart Mill era inaceitável do ponto de 
vista analítico, já que implicaria afirmar que as cotas de renda que os fatores recebem são independentes 
do processo de produção e da determinação dos valores de troca.
 Resumo
O sistema feudal, degradado e obsoleto, aos poucos, foi sendo 
substituído por outro, no qual o comércio desempenhava importância vital 
e o rei era o responsável pela formulação e aplicação das leis e das normas. 
É claro que esse processo não ocorreu sem percalços ou de forma linear: 
ao contrário, ele se deu de forma irregular, tanto no tempo quanto no 
espaço geográfico. O que se podia perceber claramente era que o que havia 
sustentado o mundo feudal estava ruindo lentamente.
A intensificação do comércio trouxe consigo a necessidade de melhores 
vias de transporte. Também era necessário que agentes fizessem a troca 
entre as inúmeras moedas em circulação. Dessa necessidade surgiram os 
banqueiros e agentes que estabeleceriam o câmbio.
O fortalecimento da atividade comercial e a expansão dos meios de 
pagamento também causaram fissuras no poder exercido até então pela 
Igreja. Não havia mais como tolerar as restrições religiosas aos mecanismos 
de crédito. Aliás, toda a imobilidade social preconizada pelo catolicismo já 
não tinha razão de ser.
Essas mudanças e transformações teriam a decisiva e final contribuição 
de três processos que ocorreram concomitantemente: o aumento de poder 
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dos reis, a formação dos Estados Nacionais e a exploração marítima que 
alcançou o Novo Mundo. O mercantilismo se apoiava em três premissas:
a) o país deveria apenas importar aquilo que não podia ser 
vantajosamente produzido no país;
b) o saldo favorável da balança comercial (resultante de um volume 
maior de exportações em comparação às importações) significava 
um maior estoque de ouro e de metais;
c) o Estado deveria chamar para si a tarefa de estimular as exportações 
e encontrar novas fontes de extração de metais preciosos. Tanto de 
uma forma quanto de outra, aumentar-se-ia o estoque nacional de 
ouro e prata, desde que também fossem criados mecanismos que 
impedissem a saída desses metais do país.
As mercadorias necessárias à atividade comercial e o metal que 
representava a riqueza da nação teriam a mesma origem: a exploração de 
um novo mundo encontrado além-mar. A solução parecia incrivelmente 
lógica: se era proibido exportar metais, a exportação de mercadorias 
deveria ser estimulada. Assim, mercadorias atraentes para o mercado 
europeu deveriam ser encontradas e trazidas de seus locais de origem 
para os grandes centros de troca na Europa. Além disso, era necessário 
encontrar territórios até então inexplorados e que pudessem conter 
minas de ouro e prata.
Assim, as colônias estabelecidas nos novos territórios descobertos e 
conquistados foram inseridas no modelo preconizado pelos reis e pelas 
monarquias em favor da burguesia comerciante. Dessas colônias chegavam 
açúcar e especiarias, e eram retirados ouro e prata das minas. Ainda, essas 
colônias serviam de mercado consumidor para os produtos fabricados nas 
metrópoles, e esse arranjo pareceu simplesmente perfeito.
Esses autores nada mais fariam do que discorrer a respeito de condições 
necessárias para o surgimento de saldos favoráveis da balança comercial, 
mecanismo ideal para o estoque da moeda, símbolo do fetiche mercantilista 
pela economia monetária. Ao considerar o consumo apenas como umaatividade da destruição da riqueza gerada, esses autores, de bom grado, 
abandonaram a investigação do comércio interno, mecanismo pelo qual a 
riqueza apenas mudava de mãos. Assim, para esses autores, é o comércio 
internacional o mecanismo ideal para gerar estoque de moedas.
A moeda surge do comércio internacional e irriga o mercado interno 
de vitalidade. Assim, esse sistema monetário bimetalista (no qual ouro 
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e prata eram cunhados sob a forma de moedas) será objeto de análise 
dos estudiosos mercantilistas. Afinal, embora de aparente simplicidade, o 
sistema monetário funcionava à base de uma taxa de conversão entre ouro 
e prata, que variava dentro de cada região da Europa.
Os autores que escreveram sobre atos e fatos econômicos, na maior 
parte das vezes com a preocupação de sugerir estratégias para a gestão 
pública das finanças, tiveram como objeto de estudo aquilo que, para o 
mercantilismo, era essencial: os meios de pagamento, a quantidade de 
moeda circulante, as questões de comércio internacional, os interditos à 
importação de bens, as vantagens das trocas internacionais etc.
As ideias mercantilistas, paulatinamente, seriam abandonadas. Por 
influência do ambiente do Despotismo Esclarecido e da Ilustração, os ares 
iluministas provocariam profunda influência no pensamento filosófico, que, 
a partir dali, fazia surgir uma corrente preocupada única e exclusivamente 
com os aspectos do comportamento econômico e do funcionamento do 
próprio sistema capitalista.
Em suma, a escola clássica dominou o pensamento econômico por 
cerca de 100 anos, de 1776, com a publicação de A Riqueza das Nações de 
Smith, até o começo da chamada Revolução Marginal.
As ideias do classicismo sucederam os pensamentos dos mercantilistas 
e dos fisiocratas, que não possuíam doutrinas estritamente completas e 
coerentes. Diante da importância crescente da indústria, a defesa da 
terra como único fator capaz de produzir riqueza (herança fisiocrata) e a 
proeminente intervenção governamental acudida pela visão mercantilista 
perderam força no cenário econômico com a ascensão do modo de 
produção capitalista.
O conhecido pai da economia moderna, Adam Smith, elaborou um 
modelo da estrutura e do funcionamento do sistema capitalista quando 
ainda não havia uma visão consensual sobre as forças que atuariam no 
acúmulo de capital, confrontando as ideias mercantilistas e as fisiocratas.
Com o estabelecimento do capitalismo, não apenas oportunidades 
econômicas com bases em inovações industriais surgiram, como também 
custos sociais, acarretando uma disputa de poder entre as classes sociais. 
Thomas Malthus e David Ricardo, contemporâneos e amigos, se posicionaram 
em diferentes lados a respeito do processo de crescimento econômico.
Em defesa dos proprietários de terra, Malthus preocupou-se com a 
possibilidade de que o crescimento da população superasse o da produção 
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de alimentos. Ricardo, por outro lado, estava determinado a compreender as 
leis que regulariam a distribuição de renda entre trabalhadores, capitalistas e 
proprietários de terra. Não podemos nos esquecer da influência do utilitarismo, 
no pensamento clássico, com as ideias de Bentham, Say, Senior e Stuart Mill.
Com o epicentro na Grã-Bretanha, as questões macroeconômicas foram 
o enfoque do classicismo por conta do contexto histórico de transição do 
feudalismo para o capitalismo industrial, com passagem transitória pelo 
mercantilismo. Nessa fase, em virtude do notável crescimento econômico 
da proeminente economia aberta, com uma moeda convertível em ouro 
(exceto no período de 1797 até 1819), os economistas clássicos estavam 
necessariamente preocupados com a balança de pagamentos, a oferta de 
moeda e o nível geral de preços.
 Exercícios
Questão 1. (Enade 2006) A ciência econômica nasce com os fisiocratas e Adam Smith, através da 
concepção de sistema econômico. Com base na proposição de como funciona o sistema, seria possível 
avaliar o efeito das políticas econômicas, como aquelas defendidas pelos mercantilistas. Como seria 
julgada a política econômica mercantilista, pelos fisiocratas e por Smith?
A) Adequada, por possibilitar moldar os condicionantes do sucesso econômico de uma nação.
B) Adequada, por respeitar as leis naturais do funcionamento da economia.
C) Inadequada, por aumentar o excedente econômico e causar problemas de demanda efetiva.
D) Inadequada, por interferir na ordem do mercado e, assim, na reprodução e no crescimento 
das nações.
E) Inócua, não afetando o desenvolvimento das nações.
Resposta correta: alternativa D.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: para Smith e para os fisiocratas, as políticas mercantilistas são inadequadas. 
Contrariamente à política mercantilista, os fisiocratas e os clássicos defendem a autonomia do mercado 
por meio de seus mecanismos de autorregulamentação, sendo o sucesso econômico de uma nação fruto 
da atividade econômica livre de quaisquer regulamentações. Para os fisiocratas e para Smith, o Estado 
deve interferir o mínimo possível na economia, já que o mercado é dotado da capacidade “natural” 
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de encontrar o equilíbrio. Considera-se que todas as atividades econômicas produzem valor (embora 
os fisiocratas julguem o comércio e indústria estéreis); para os mercantilistas, em contrapartida, é o 
comércio que pode gerar riqueza, já que somente assim se produzirá superávit em metais preciosos.
Em resumo: para os mercantilistas, será o comércio – por meio da geração de riqueza – o condicionante 
para o sucesso econômico de uma nação; para os fisiocratas e clássicos, será a atividade econômica esse 
condicionante, especialmente por meio da divisão de trabalho e dos mecanismos de autorregulação.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: para Smith e para os fisiocratas, as políticas mercantilistas são inadequadas. São os fisiocratas 
que introduzem a ideia de uma ordem “natural” da economia, princípio depois desenvolvido por Smith. Para os 
mercantilistas, é necessária a intervenção de um governo central forte, especialmente por meio de normas, de 
leis e de regulamentações que permitam o perfeito comportamento do mercado. Os fisiocratas e os clássicos, 
em oposição, pedem laissez-faire, laissez-passer, ou seja, que o mercado possa funcionar com toda liberdade 
possível, sendo ele mesmo o responsável pela sua autorregulamentação e pelo seu equilíbrio.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: para Smith e para os fisiocratas, as políticas mercantilistas são inadequadas, mas não pelo 
motivo alegado. O comércio mercantilista baseia-se na importância do excedente de estoque de metais preciosos 
(ouro e prata), obtido por meio de exportações maiores do que importações. Para os fisiocratas e para os clássicos, 
entretanto, a origem da riqueza está na divisão do trabalho e em todas as atividades econômicas. Dessa forma, 
as práticas do mercantilismo são consideradas inadequadas por Smith e pelos fisiocratas.
D) Alternativa correta.
Justificativa: para Smith e para os fisiocratas, as políticas mercantilistas são inadequadas e as razões são 
justamente as mencionadas: os mercantilistas, ao apoiarem a regulamentação excessiva do mercado e de seus 
agentes, acabam por interferir na ordem que já está “dada” e que é natural. Se for deixada ao mercado sua 
própria regulamentação, ele será capaz de alcançar o equilíbrio, especialmente em função da existência de uma 
ordem na natureza que também se traduz em ordem na atividade econômica. Para Smith e para os fisiocratas, 
a riqueza de uma nação tem sua origem na atividade econômica livre de qualquer amarra ou regulamentação.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa:para Smith e para os fisiocratas, as políticas mercantilistas são inadequadas e as obras 
clássicas têm como eixo central a crítica ao mercantilismo. Em A Riqueza das Nações, por exemplo, 
Smith passa a maior parte do texto criticando as práticas mercantilistas que seriam, na opinião dele, 
prejudiciais ao crescimento econômico.
Questão 2. (Enade 2009) A escola de pensamento clássica teve contribuições de economistas 
notáveis como Adam Smith, Thomas Robert Malthus, Jean-Baptiste Say, David Ricardo e John Stuart 
Mill, entre outros.
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A esse respeito, considere as afirmativas abaixo:
I – Para Adam Smith, os agentes econômicos, em busca de seus próprios interesses, acabam promovendo 
o bem-estar de toda a comunidade, como se uma mão invisível orientasse todas as decisões da economia.
II – David Ricardo afirma que a distribuição do rendimento da terra é determinada pela produtividade 
das terras mais ricas.
III – De acordo com a lei de Say, a procura cria sua própria oferta.
IV – Para Malthus, a população cresce segundo a progressão geométrica enquanto os meios de 
subsistência crescem segundo progressão aritmética.
Estão corretas somente as afirmativas:
A) I e II.
B) II e III.
C) I e IV.
D) II e IV.
E) III e IV.
Resolução desta questão na plataforma.

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