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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO GUARULHOS – SP 2 1 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 3 PERSPECTIVAS DE LEITURA: MODERNA E TRADICIONAL .............................. 5 3.1 Leitura tradicional ............................................................................................. 6 3.2 Leitura moderna ................................................................................................ 7 4 LEITURAS VERTICAIS E HORIZONTAIS E OBJETIVOS DO LEITOR ................. 8 4.1 Estratégias de leitura literal ............................................................................. 10 5 A LEITURA E A ESCRITA ACADÊMICAS: CONTRIBUIÇÕES PARA O PENSAMENTO CIENTÍFICO .................................................................................... 13 5.1 Argumentos de senso comum e argumentos de senso crítico ....................... 15 5.2 Argumentos de senso comum ........................................................................ 16 5.3 Argumentos de senso crítico .......................................................................... 18 5.4 A leitura e a escrita no cotidiano na universidade ........................................... 20 5.5 A escrita no cotidiano...................................................................................... 21 5.6 A escrita no meio acadêmico .......................................................................... 22 5.7 Postura em relação à escrita acadêmica ........................................................ 22 6 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS ........................................................................... 24 6.1 Gênero textual ................................................................................................ 25 6.2 Tipologia textual .............................................................................................. 26 6.3 O texto literário e as suas manifestações linguísticas .................................... 28 7 A LINGUAGEM E O CONCEITO DE LÍNGUA EM USO ....................................... 30 7.1 Fala e escrita: conjunto de partes unidas entre si ........................................... 31 8 ESTRUTURA TEXTUAL ....................................................................................... 34 8.1 Elementos textuais ......................................................................................... 37 8.2 Situações de comunicação ............................................................................. 39 9 ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO TEXTUAL ........................................................ 41 9.1 Aspectos da construção textual ...................................................................... 44 3 10 GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS – RESUMO ........................ 55 10.1 A estrutura dos resumos de artigos científicos ............................................... 56 10.2 Recomendações gerais para a escrita do resumo .......................................... 57 11 ARTIGO ................................................................................................................ 58 12 MONOGRAFIA ...................................................................................................... 60 12.1 Outros gêneros ............................................................................................... 62 13 A ESTRUTURAÇÃO DO GÊNERO TEXTUAL RESENHA ACADÊMICA ............. 63 14 MARCAS DA ORALIDADE NA ESCRITA ............................................................. 80 14.1 A linguagem e os seus diferentes contextos ................................................... 83 14.2 A globalização e os fatores de unificação da língua portuguesa .................... 86 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 87 4 2 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 3 PERSPECTIVAS DE LEITURA: MODERNA E TRADICIONAL Quando se fala em leitura, logo, nos vem à mente alguém lendo um jornal, uma revista, um livro (impresso ou digital), uma bula de remédio, um e-mail, etc. Nessa óptica, imaginamos o ato de ler como uma ação que está relacionada à escrita. Assim, trata-se, muitas vezes, da leitura como decodificação de letras e códigos. Contudo, devemos nos perguntar: apenas a leitura da palavra e a decodificação do código bastam para o processo efetivo de ler? De acordo com Leffa (1996), o processo de leitura se divide em três definições: geral, específico e conciliatório. Veja a seguir as características de cada um: Geral: • leitura como processo de representação; • sentido da visão; • leitura por intermédio de outros elementos da realidade (espelhos); • reconhecer o mundo por meio de espelhos do que se observa; • leem-se as palavras e o mundo que nos cerca; • olhar e ver = leitura; • ler é usar segmentos da realidade para chegar a outros segmentos. Específico: • restritivamente, ler é extrair significado do texto e atribuir significado ao texto; • extrair do texto — movimento do texto para o leitor (ênfase no texto); • atribuir ao texto — movimento do leitor para o texto (ênfase no leitor); • ler implica significado; logo, ao se usar o verbo extrair, põe-se o significado dentro do texto, e ao se usar o verbo atribuir, imprime-se significado ao leitor. Conciliatório: • ler é interagir com o texto; • não apenas leitor, não apenas texto, mas os dois polos e mais um 6 terceiro elemento, que é a interação entre os dois; • é preciso afinidade e condições adequadas; • é necessário ter competências de leitura e a intenção de ler; • tentativa de colimação de um determinado objetivo em relação a um determinado texto. Em uma perspectiva tradicional, a leitura está diretamente relacionada à decodificação. Entretanto, a partir dos avanços nos estudos sobre a leitura, há uma abordagem moderna. Por essa via, a leitura está vinculada à construção de sentidos (MARTINS, 1988). A seguir, vamos examinar cada uma dessas perspectivas de leitura com mais detalhes. 3.1 Leitura tradicional Nessa interpretação de leitura, relacionamos o processo de ler à decodificação do código. Ou seja, o conhecimento das palavras e dos significados a elas vinculados é o fator definitivo para a leitura do texto. A leitura tradicional pode ser entendida como um reflexo do que se observa nas escolas convencionais, baseadas em um ensino mais “clássico,” onde se mantém uma grande preocupação com a escrita e menos atenção à leitura. Conforme explica Kato: A disseminação maior de métodos sintéticos nas escolas brasileiras — seja o b +a = ba, o ba + be + bi + bo + bu,ou ainda o fônico —, pode também ser motivada pela ênfase maior dada à atividade de escrita, a qual envolve, no início da aprendizagem, uma operação basicamente de composição, embora mais tarde ela possa ser acompanhada complementarmente por uma operação de decomposição mental do léxico visual já adquirido. (KATO, 2007, p. 7). A leitura, posterior à aprendizagem da escrita, acontece de forma linear. Ou seja, as palavras são lidas uma a uma de forma contínua, e esse movimento configura uma leitura mecânica. Essa estratégia de leitura não se faz presente dessa forma. O conhecimento do código possibilita, portanto, a leitura e o entendimento do texto. Assim, em uma abordagem tradicional, esta estratégia transforma o leitor em alguém passivo, pois ele busca significados nas letras, na construção das sílabas, nas palavras, nas sentenças e, então, no texto. O leitor decodifica palavra por palavra, e o exercício está em encontrar na combinação de palavras o sentido do texto. Infere-se, nessa perspectiva, que os signos não são variáveis e flexíveis. Pelo 7 contrário, são imutáveis e sempre estarão relacionados aos mesmos significados, o que gera uma séria limitação para o processo de leitura. Decodificar representa apenas a primeira etapa da leitura. Após essa etapa, há a compreensão, a interpretação, a ação e a retenção. Essa dinâmica entende o processo de leitura em uma perspectiva moderna. 3.2 Leitura moderna Não basta apenas o conhecer a língua para se apropria da leitura. Na verdade, fazem parte desse processo todas as relações entre pessoas e entre elas com o mundo que as cerca, todas as relações entre as várias áreas do conhecimento, da expressão, das circunstâncias, etc. E quando então os seres humanos começam a ler? É depois de conhecer as palavras? Não, pois um bebê lê o mundo muito antes de conhecer o código. O bebê percebe o calor do colo da mãe, o conforto e a segurança dos lugares, entende e reage de acordo com os estímulos do ambiente e, em seguida, começa a dar sentido ao mundo que o cerca. Veja um exemplo: Pense nas seguintes expressões: Ler um gesto. Ler o olhar de alguém. Ler o tempo. Esses são apenas alguns exemplos que demonstram a complexidade do processo de leitura. Lemos as palavras, mas não apenas como uma ação de decodificar, pois, a partir de nossas experiências e vivências, imprimimos diferentes sentidos para os textos. Duas pessoas, por exemplo, podem ler o mesmo texto de formas diferentes, dependendo das experiências prévias de cada uma delas. Do mesmo modo, uma mesma mensagem escrita pode impactar de forma diferente cada leitor. Para além do entendimento tradicional de leitura, na perspectiva moderna, entendemos que a leitura está na construção de sentido, uma ação que ocorre entre o leitor e o texto. Por esse motivo, o mesmo texto pode ser lido de diferentes formas 8 por diversos leitores. As expressões faciais, por exemplo, podem ser lidas e interpretadas de formas diferentes, mudando de acordo com o leitor (observador) e o contexto. Segundo Bakhtin (1986). O essencial na tarefa de decodificação não consiste em reconhecer a forma linguística utilizada, mas compreendê-la num contexto preciso, compreender sua significação numa enunciação particular. Em suma, trata-se de perceber seu caráter de novidade e não somente sua conformidade à norma. Em outros termos, o receptor, pertencente à mesma comunidade linguística, também considera a forma linguística utilizada como um signo variável e flexível e não como um sinal imutável e sempre idêntico a si mesmo. (BAKHTIN, 1986, p. 93). Na perspectiva moderna, a leitura é entendida de forma mais ampla e pressupõe muito mais do que a decodificação e a leitura linear do texto. Essa perspectiva confere um espaço muito mais significativo para a construção de sentido. Não há uma preocupação excessiva com a decodificação do código linguístico, mas, sim, uma ênfase na autonomia semântica do leitor, em que os contextos sociais, históricos e culturais do indivíduo também são valorizados. 4 LEITURAS VERTICAIS E HORIZONTAIS E OBJETIVOS DO LEITOR Anteriormente, mencionamos a leitura linear, mas também existem as leituras vertical e horizontal. É importante conhecer essas estratégias para que elas sejam utilizadas adequadamente ao propósito de leitura e aos objetivos do leitor, ou seja, a uma construção consciente dos sentidos da leitura. A leitura horizontal é classificada como superficial, estrutural, com base na observação de títulos e subtítulos. Ela é mais para inspecionar. Logo, tem como objetivo principal fazer com que o leitor se familiarize com o conteúdo, examinando partes-chave do texto (SOUZA, 2021). Em outras palavras, o objetivo da leitura horizontal é a familiarização com o conteúdo e um entendimento mais geral do tema do texto. Ela pode ser caracterizada pela obtenção de uma informação de caráter geral. Solé (2014), sobre essa leitura mais geral, afirma que: Esta é a leitura que fazemos quando queremos “saber de que trata” um texto, “saber o que acontece”, ver se interessa continuar lendo... Quando lemos para obter uma informação geral, não somos pressionados por uma busca concreta, nem precisamos saber detalhadamente o que diz o texto; é suficiente ter uma impressão, com as ideias mais gerais. Poderíamos dizer que é uma leitura guiada sobretudo pela necessidade do leitor de aprofundar-se mais ou menos nela. (SOLÉ,2014, documento on-line). Pense na leitura de um jornal, que pode ser impresso ou digital. O que lemos primeiro são as manchetes. Caso a notícia seja de nosso interesse (tenha uma 9 chamada interessante), acessamos o conteúdo na íntegra e desenvolvemos a leitura completa. Caso contrário, seguimos na leitura horizontal, examinando apenas partes dos textos. Ao acessarmos os jornais lemos as imagens, nos apropriamos dos títulos e, quando a imagem e/ou o título chamam a nossa atenção de alguma forma (por interesse na temática, por exemplo), passamos a ler o descritivo do título (subtítulo). Confirmando a adesão aos nossos interesses (objetivo do leitor), acessamos o texto na íntegra e partimos para a leitura. Essa leitura pode ser horizontal em um primeiro momento, para a confirmação da pertinência do texto, ou pode ser diretamente vertical (uma leitura mais aprofundada do texto). Fonte:unicamp.br A leitura vertical é profunda, reflexiva e analítica. É feita a observação de toda a estrutura linguística do que está lendo. Para Souza (2021, documento on-line), a leitura analítica é crítica “tanto no sentido de buscar mais detalhes, examinando os argumentos e conceitos fundamentais, quanto no sentido de realmente criticar o conteúdo, entendendo a posição do autor ao ponto de concordar ou discordar dele”. Na leitura vertical, procuramos compreender de forma a atribuir significado ao conteúdo apresentado pelo texto. Existe, portanto, uma construção pessoal (por parte do leitor e seu contexto) sobre algo proposto objetivamente (o autor e o texto). 10 Aquilo que está nas entrelinhas também é observado. Além do que se faz presente no texto, na leitura vertical, o leitor busca o que está implícito e procura estabelecer relações com o contexto, com outros manuscritos e com conhecimentos prévios. Assim, o leitor pode construir o seu entendimento do texto e utilizá-lo de acordo com os seus objetivos. De acordo com Solé (2014), essa leitura possibilita: Ampliação do conhecimento prévio com a introdução de novas variáveis, modificação radical do mesmo, estabelecimento de novas relações com outros conceitos... De qualquer forma, nosso conhecimento anterior sofreu uma reorganização, tornou-se mais completo e mais complexo, permitimos relacioná-lo a novos conceitos, e por isso podemos dizer que aprendemos. (SOLÉ,2014, documento on-line). É importante conhecer as leituras horizontal e vertical,pois elas são úteis para o processo de aprendizagem. Pense, por exemplo, na construção de um trabalho de conclusão de curso. A princípio, reunimos um conjunto de textos, que são as referências em uma determinada área de pesquisa. Depois, lemos os títulos e subtítulos para selecionar aqueles que serão utilizados. Por fim, lemos o conteúdo total dos textos, com o objetivo de reorganizar noções e conceitos para construir uma escrita autoral. 4.1 Estratégias de leitura literal As estratégias de leitura são utilizadas como instruções que ampliam a realização do objetivo de leitura. São ações como itinerários, que, de certa forma ordenada, possibilita atingir determinada meta. Isso não significa que exista uma regra ou receita para a ordenação dessas estratégias, mas, sim, que elas, de alguma forma, facilitem o processo de leitura e interpretação de textos. Com as estratégias, o pensamento estratégico é praticado. [...] “a estratégia tem em comum com todos os demais procedimentos sua utilidade para regular a atividade das pessoas, à medida que sua aplicação permite selecionar, avaliar, persistir ou abandonar determinadas ações para conseguir a meta a que nos propomos”. (SOLÉ, 2014, p. 14). As estratégias são necessárias para a formação de leitores autônomos. Elas são importantes para o aperfeiçoamento de leitores para que sejam capazes de efetivamente aprender), a partir dos textos, com o objetivo de questionar o conhecimento e modificá-lo (SOLÉ, 2014). As estratégias são divididas em cognitivas e metacognitivas (KLEIMAN, 2002). As estratégias metacognitivas são as operações (e não regras) realizadas com objetivo previamente determinado. Sobre elas, temos controle consciente, ou 11 seja, temos condições de compreender a nossa ação. De acordo com Kleiman (2002): As estratégias metacognitivas da leitura são, primeiro, autoavaliar constantemente a própria compreensão, e segundo, determinar um objetivo para a leitura. Devemos entender que o leitor que tem controle consciente sobre essas duas operações saberá dizer quando ele não está entendendo um texto e saberá dizer para que ele está lendo um texto (KLEIMAN, 2002, p. 50). Isso significa que se o autor encontra alguma dificuldade de entender o texto, por exemplo, ele pode recorrer a palavras-chave, realizar buscas de significado dessas palavras ou retornar à leitura e encontrar explicações para as dúvidas. Conscientemente, o leitor reconhece as dificuldades de alcance do objetivo de leitura e pratica determinadas ações para resolver esse problema, pois detecta as causas de sua dificuldade. As estratégias cognitivas, por sua vez, são inconscientes. Um exemplo, conforme Kleiman (2002), está no fatiamento sintático. Essa é uma ação necessária para a leitura, mas que não acontece de forma consciente. É um processamento em que procedimentos são utilizados, mas não temos domínio sobre eles. Ampliaremos os conhecimentos sobre as estratégias para a formação de leitores proficientes. A princípio, temos o objetivo de leitura, de acordo com esse objetivo (ou objetivos), selecionamos os textos, a partir de conhecimentos prévios sobre o assunto selecionamos as leituras pertinentes nessa etapa, podemos realizar uma leitura mais horizontal/superficial apenas para confirmar a aderência do texto ao objetivo proposto. Nessa estratégia (relacionada ao objetivo de leitura), estabelece- se uma análise de tipos de texto. Por exemplo, um romance romântico pode ser utilizado para determinado objetivo de aprendizagem, já uma pesquisa científica, para outro. De acordo com o objetivo proposto, vamos selecionar os tipos de textos que serão pertinentes. Veja a seguir quais são esses tipos, de acordo com SOLÉ (2014). • NARRATIVO: há um desenvolvimento cronológico, com o objetivo de explicar alguns acontecimentos em uma determinada ordem. Alguns textos narrativos seguem uma organização (estado inicial > complicação > ação > resolução > estado final), já outros introduzem uma estrutura dialogal dentro da estrutura narrativa. São exemplos o conto, a lenda, o romance, entre outros. • DISSERTATIVO: texto centrado na defesa de uma ideia. Com a 12 apresentação de diferentes pontos de vista, o texto dissertativo aborda temas com profundidade reflexiva, convidando o leitor a construir conhecimentos sobre um tema específico. São exemplos o artigo de opinião, a redação dissertativa, entre outros. • DESCRITIVO: descreve um objeto ou fenômeno com o uso de comparações e outras técnicas. Esse tipo de texto é frequente tanto na literatura quanto nos dicionários, em guias turísticos, em inventários, etc. • INSTRUTIVO-INDUTIVO: tem o objetivo de induzir a ação do leitor. São exemplos as palavras de ordem, as instruções de montagem ou de uso, etc. • Expositivo: explica determinados fenômenos ou proporciona informações sobre eles. Os livros didáticos e os manuais utilizam muito esse tipo de texto Após a seleção dos tipos de texto, de acordo com o objetivo de leitura, partimos para a leitura horizontal (mais superficial). Depois, seguimos, de acordo com a pertinência do texto, para a leitura vertical (aprofundamento dos tópicos), que é mais profunda, reflexiva e analítica. Nesse ponto, as estratégias utilizadas envolvem as leituras textual, contextual e intertextual. Na textual, o leitor busca informações no texto. Na contextual, as pistas estão indicadas nas entrelinhas. Na intertextual, também chamada de cultural, o leitor estabelece relações intertextuais para o entendimento do seu objetivo de leitura. Para finalizar, é importante conhecer as estratégias de leitura de forma mais direta. A princípio, tem-se a identificação da ideia geral do texto em função dos objetivos propostos para leitura. Em seguida, busca-se a elaboração de resumos (ou fichas de leitura), com a finalidade de encontrar o tema, as ideias principais e as secundárias do texto. Para isso, quatro regras podem ser utilizadas pelo leitor: omitir, selecionar, generalizar e construir (SOLÉ, 2014). Omitindo e selecionando, separamos as ideias importantes para o nosso objetivo de leitura daquelas que não são tão pertinentes. Após a seleção das informações, colocam-se em prática duas regras: generalização e construção. Por meio da generalização, abstraímos uma sequência de pensamentos/informações e construímos/integramos uma ideia importante para o objetivo de leitura. Assim, uma nova informação é elaborada, muitas vezes contendo informações particulares que não estavam presentes no genérico. Lembre-se de que 13 os resumos são construídos com base nos conhecimentos que já temos. Assim, temos as estratégias de construção de conceitos subordinados a partir de determinados conjuntos de informações (SOLÉ, 2014). Outra estratégia para uma leitura ativa está centrada na formulação de perguntas e respostas. Isso pode ocorrer oralmente ou de forma escrita. O leitor formula perguntas sobre o texto e, assim, regula o processo de leitura. Essas perguntas vão facilitar para a identificação do tema e das ideias principais do texto, formular hipóteses é a estratégia integrante. A partir da leitura horizontal, hipóteses podem ser formuladas, Em seguida, a leitura vertical vai validando ou refutando as hipóteses, e as perguntas para o texto vão sendo formuladas. Com o desenvolvimento da leitura, as perguntas são respondidas e o resumo vai se construindo (SOLÉ, 2014). Utilizar as estratégias de leitura na prática é um movimento constante do leitor sobre o texto e vice-versa. Nesse processo, há interação; logo, há construção de conhecimento. O ato de ler representa movimento, e o conhecimento não está fixo no texto, mas na interação do leitor com o texto a partir dos seus objetivos de leitura e do seu conhecimento prévio. Com a utilização das estratégias, o leitor amplia o processo de interpretação e apropriaçãodo texto, construindo novos saberes. Em síntese, deve- se considerar a importância do leitor em assumir progressivamente o controle da leitura para utilizar as estratégias necessárias para uma leitura eficiente, alcançando os seus objetivos de leitura 5 A LEITURA E A ESCRITA ACADÊMICAS: CONTRIBUIÇÕES PARA O PENSAMENTO CIENTÍFICO O universo acadêmico forma-se em torno de saberes escritos. Portanto, dominar a escrita e a leitura é fundamental nesse âmbito. Além disso, ao longo do tempo, tem-se intensificado as exigências quanto à produção acadêmica. Para Bortoni-Ricardo (2008), isso se dá porque, a nossa vida está ligada ao pensamento científico: do alimento, por exemplo, que envolve pesquisa em genética e em agronomia, vestimentas, transporte, saúde, conhecimento de mundo, comunicação, etc. Deste modo, é imprescindível que não apenas professores pesquisadores 14 prestem contas de seus estudos por meio de publicações, mas que toda a comunidade acadêmica o faça. Alunos de pós-graduação — lato sensu (especialização) e stricto sensu (mestrado e doutorado) — são solicitados o tempo todo a mostrarem os resultados de suas produções com publicações. Da mesma maneira, aos alunos de graduação são cada vez mais cobrados tanto para fazerem parte da iniciação científica como para realizarem produções textuais ao longo do curso superior. Portanto, como os graduandos precisam apresentar resultados escritos, isso demandará, igualmente, grande quantidade de leitura. Fava de Moraes (2000) e Pinho (2017) destacam que o estudante de graduação ganha autonomia quando aprende a trabalhar com pesquisas, uma vez que passa a perceber quando consegue buscar soluções individualmente e quando tem necessidade de auxílio. Embora o contexto de que falem os autores se refira à iniciação científica, é importante destacar que todos os alunos precisam desenvolver capacidade de análise crítica e discernimento, necessária para o seu percurso profissional. A graduação é o espaço propício para que isso aconteça. Uma das grandes vantagens da pesquisa acadêmica consiste no aprimoramento do olhar crítico. Este é pautado principalmente em um melhor desenvolvimento da capacidade de leitura e escrita, essencial na universidade. Há, ainda, um benefício adicional ao aluno que se dedica à pesquisa científica, aprendendo a buscar fontes fidedignas e a realizar produções escritas adequadas ao nível acadêmico, ele fica familiarizado mais cedo com o fato de que há regras de padronização a serem seguidas. Uma delas é a ortografia padrão do país, regulamentada pelo Acordo Ortográfico de 1990 e elaborada pela Academia Brasileira de Letras (ABL), que entrou em vigor no Brasil em 2016. Outro caso é a normalização da formatação de itens como trabalhos acadêmicos, artigos, pôsteres, sumários, índices, enfim, os elementos formais de apresentação de trabalhos acadêmicos de variadas naturezas. Tal normalização é realizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Os textos exigem muito trabalho para sua escrita, requerendo, da mesma forma, bastante leitura. Veja o que afirma Paulo Guedes (2010): Já não se lê mais como antigamente; se lê muito mais, não só porque tem muito mais gente capacitada para ler hoje do que antigamente, mas também porque tem muito mais gente que precisa ler do que tinha antigamente. [...] E também já não se escreve mais como antigamente. Se escreve muito mais e pelos mesmos motivos. [...] Escrevemos muito mais e melhor até porque não tem outro jeito, pois o modo de produção em que estamos 15 inseridos precisa de uma incessante produção de conhecimento, o que acarreta, incontornavelmente, a produção do texto que vai organizar esse conhecimento, dos textos que vão divulgar esse conhecimento, dos que vão problematizar esse conhecimento, dos que vão vulgarizar esse conhecimento, dos que vão testemunhar a apropriação desse conhecimento, dos que vão propor aplicações desse conhecimento. (GUEDES, 2010, p. 7). Assim, ao ingressar na universidade, o aluno se depara com o fato de que o ensino superior se centra na produção contínua e intensa de conhecimento. Não bastando isso, o uso qualificado da modalidade formal da língua portuguesa subjaz às atividades específicas que o estudante precisa desenvolver em sua área de conhecimento para se tornar um profissional competente. O objetivo final consiste em atender a diferentes demandas sociais ligadas ao seu campo de atuação. Köche, Boff e Marinello (2010, p. 9) pontuam que, “[...] no contexto atual, ler e escrever de modo eficiente é extremamente importante, tanto na vida pessoal quanto na profissional, visto serem competências que facilitam a inserção do sujeito nas diferentes esferas sociais”. Assim, não se trata de importância, mas de necessidade. Para produzir conhecimentos em sua área de atuação, o discente deve desenvolver habilidades tanto em leitura quanto em escrita. Essas habilidades relacionam-se com os distintos gêneros textuais de que se faz uso na faculdade, explorando a sua leitura e a sua escrita qualificada. Na leitura, é preciso que o aluno saiba identificar as pistas que direcionam os sentidos. Na produção textual, são necessárias estratégias de organização de acordo com a finalidade de cada texto. 5.1 Argumentos de senso comum e argumentos de senso crítico Ao analisar o título acima podemos pensar que é possível falar de argumentos de uma forma muito simples e geral, mas a argumentação exige um pouco mais. Exige, primeiramente, em definir em que consiste argumentar no contexto acadêmico. Quando se pensa em argumentação, é preciso necessariamente remeter ao caráter dialógico — isto é, de diálogo — dos discursos. Isso significa dizer que a argumentação se refere a como melhor selecionar e organizar argumentos de diferentes naturezas para alcançar objetivos como demonstrar, persuadir e convencer. Também está relacionada a públicos diversos (a quem se destina), a objetos 16 claros (o que está em questão) e a circunstâncias específicas (em que momento e em que espaço se dá e de que modo se realiza). Pode-se chamar a esse conjunto de “relações de contexto”. São justamente os contextos que estão em jogo quando se fala de argumentos de senso comum e de senso crítico. Segundo Abreu (2010), o senso comum é proveniente de variados discursos que formam o que chamamos de “opinião pública”. Ela seria constituída, especificamente, por diversos discursos estruturados que permeiam toda a sociedade, independentemente de classe social. Savioli e Fiorin (2006) explicam que os argumentos de senso comum normalmente são preconceituosos, pois não são baseados em fatos e comprovações, mas em afirmações usualmente generalizantes. Quando se diz “Todo político é corrupto”, essa afirmação é generalizante. Quem a faz até pode relatar uma ocorrência de corrupção, mas um único caso não é o suficiente para qualificar todo um grupo. Suponha-se que a mesma pessoa dissesse “Há políticos corruptos” e justificasse expondo o mesmo caso de corrupção. A afirmação deixaria de ser generalizante, sendo comprovada por um fato concreto. Trata-se, como se vê, do modo de apresentar os argumentos: em lugar de uma afirmação generalizante inadequadamente baseada em um fato pontual, tem-se uma conclusão mais geral depreendida de um fato a partir do qual se pode efetivamente deduzi-la. 5.2 Argumentos de senso comum É preciso olhar para os argumentos de senso comum com extrema cautela em qualquer circunstância. Como já vimos anteriormente as considerações de Savioli e Fiorin (2006), Silva (2011), também afirma que o senso comum consiste no conhecimento vulgar, nas opiniões diversas. Ou seja, “[...]tudo [com] o que se precisa romper para se tornar possível o conhecimento científico, racional e válido”. A autora continua: “[...] a humanidade iniciou suas crenças a partir das concepçõesdo senso comum, e posteriormente, através da razão e da racionalidade modernas, apropriou-se das premissas da ciência”. Tais premissas incluem a comprovação e o embasamento exigido em todo discurso científico, incluído o acadêmico. Esses autores abordam o senso comum em maior profundidade e de forma 17 diversa. Silva (2011), alerta para o fato de que a ciência por vezes pode não dar conta de elementos que, em realidade, não são completamente tangíveis de forma objetiva. Um exemplo trabalhado pela autora é a catalogação do patrimônio cultural, que é dividido em dois tipos: o material e o imaterial. O primeiro, sendo concreto (obras de arte e documentos, por exemplo), é classificado de forma mais evidente e inconteste. O imaterial, contudo, apresenta incertezas, já que a sua categorização não é óbvia, pois estão em jogo conhecimentos que são resultados da experiência cotidiana do senso comum vivenciados, experienciados, e transmitidos de gerações em gerações, e durante toda a vida por um determinado grupo. Mesmo fazendo essa ressalva, Silva (2011), alerta para o fato de que exista na ciência moderna um único caminho: o método científico. Na sua concepção, a solução para o caso específico do patrimônio imaterial estaria na “[...] união dos conhecimentos das mais diversas áreas [...] pautados em conhecimentos específicos dotados de clareza e objetividade”. A autora finaliza dizendo que a ciência e senso comum têm papéis distintos, contudo, ao mesmo tempo complementares. Cabral (2018), por sua vez, revisitando o pensamento do filósofo John Dewey, problematiza um elemento anterior: a determinação do objeto de estudo. Segundo ele, Dewey defende que a ciência não pode perder de vista os problemas do senso comum que geram as suas questões. Desse modo, o senso comum seria uma etapa inicial do desenvolvimento do pensamento científico. Por isso, Dewey é bastante citado em pesquisas da área da educação. Para o filósofo, portanto, os discentes não deveriam apenas decorar fórmulas ou teorias, mas levantar hipóteses, fazer comparações, análises, interpretações e avaliações relacionadas a experiências práticas. Os alunos seriam, então, conduzidos a um aprendizado significativo e a um conhecimento efetivo. Não se daria, assim, uma ruptura entre a forma de pesquisar do senso comum e a da ciência, pois, embora seus respectivos problemas e métodos sejam diferentes, ambas possuem uma origem comum: as situações originárias de uso e desfrute dos objetos ao redor Cabral (2018). 18 5.3 Argumentos de senso crítico Independentemente da posição que tem quanto ao senso comum, seja um olhar mais rígido ou mais condescendente, não se pode negar que um ponto de vista científico deve necessariamente considerar o senso crítico de forma primordial. No que consistem, então, argumentos de senso crítico? Como eles são constituídos? Para abordar a argumentação que leva em conta o caráter dialógico do discurso, é preciso, como afirma Fiorin (2015), retornar aos textos clássicos. O primeiro aspecto a ser lembrado, diz o autor, são os raciocínios necessários e preferíveis, baseados no pensamento de Aristóteles. O silogismo consiste no raciocínio necessário por excelência. Baseia-se na argumentação a partir de premissas que, tidas como verdadeiras, levam a uma dedução lógica. Veja o exemplo a seguir: Fonte: adaptada de Fiorin (2015). Os raciocínios preferíveis, por sua vez, seguem Fiorin (2015), são aqueles cujas premissas não necessariamente correspondem à verdade, fazendo com que as conclusões não sejam “logicamente verdadeiras”. Veja o exemplo a seguir. TODAS AS PESSOAS SÃO MORTAIS. JOÃO É UMA PESSOA. LOGO, JOÃO É MORTAL. 19 Fonte: adaptada de Fiorin (2015). Facilmente você pôde constatar, a aceitação da premissa de que todos os estudantes são esforçados não é “logicamente verdadeira”, dependendo de crenças e valores. Fiorin (2015), sintetiza isso da seguinte forma: Os raciocínios necessários pertencem ao domínio da lógica e servem para demonstrar determinadas verdades. Os preferíveis são estudados pela retórica e destinam-se a persuadir alguém de que uma determinada tese deve ser aceita, porque ela é mais justa, mais adequada, mais benéfica, mais conveniente e assim por diante (FIORIN, 2015, p. 18). Na ciência e, portanto, no mundo acadêmico, muitas conclusões, claro, devem-se à lógica. Entretanto, a maior parte das questões com que os pesquisadores se deparam tem mais relação com o modo como tais problemas são trabalhados do que com a lógica simples. Trata-se, por conseguinte, de persuasão. Os argumentos, são os raciocínios que se destinam a persuadir. Argumentação, aqui, diz respeito à persuasão, e a retórica é a arte da persuasão por excelência, afirma Fiorin (2015, p. 19). Ainda de acordo com o mesmo autor, há quatro noções discursivas da retórica. A antifonia é a primeira noção discursiva e consiste no contraste de dois discursos opostos. Um exemplo são os casos de julgamento, em que defesa e acusação expõem seus pontos de vista para que um juiz chegue a um veredito. O paradoxo, a segunda noção discursiva, evidencia que a linguagem tem sua “ordem própria” e “categoriza o mundo” (FIORIN, 2015, p. 24). Se alguém diz “Toda certeza é relativa”, não pode ter certeza do que diz, à medida que deve, segundo sua própria afirmação, relativizar inclusive tal certeza enunciada — trata-se de um TODOS OS ESTUDANTES SÃO ESFORÇADOS MARIANA É ESTUDANTE. LOGO, MARIANA É ESFORÇADA 20 paradoxo. A terceira noção discursiva, a da probabilidade, diz respeito ao fato de que as pessoas sempre fazem cálculos com base nas situações que julgam prováveis em determinadas circunstâncias (ou seja, os cálculos dependem dos contextos). Caso alguém, por exemplo, tenha ameaçado outra pessoa, e esta sofreu um atentado, a probabilidade é que tal atentado tenha sido cometido por quem fez a ameaça. Finalmente, a quarta noção discursiva, interação discursiva, última dessas noções, trata da interação social: um discurso sempre é produzido em oposição a outro. Isso implica o dialogismo dos discursos, o que significa que todos os discursos são argumentativos, porque são dialógicos. A neutralidade é diferente de impessoalidade. Ela tem a ver com a objetividade do texto. Não existe texto neutro, pois todos tem (ou deveria ter) uma opinião sobre o assunto em questão. Por exemplo, um texto pode expressar argumentos a favor ou contra, ou até mesmo duvidar de uma posição sobre um assunto, mas você precisa ter uma posição clara sobre o tema. Entretanto, a impessoalidade, está relacionada aos efeitos linguísticos, obtidos no texto por meio do uso de elementos como a terceira pessoa do singular, que faz o leitor sentir que as coisas aconteceram por si mesmas. Portanto, se houver uma construção no texto como "Constatou-se que dado é verdadeiro", dar-se-á impressão de que o fato de as afirmações serem verdadeiras é um atributo em si, e não uma afirmação feita por uma pessoa 5.4 A leitura e a escrita no cotidiano na universidade Ler e escrever não é algo tão simples, e se fosse uma tarefa fácil, não haveria tantas de pessoas procurando por dicas, tutoriais, enfim, um monte de ferramentas para melhorar a escrita, ou mesmo começar a escrever um texto mais sofisticado, ou um artigo para qualquer finalidade. Toda essa complexidade tem um motivo e é explicável. As nossas habilidades mais naturais são ouvir e falar, trata-se do estado primitivo da linguagem falada. ATENÇÃO 21 Com a necessidade de registrarem os fatos, a história e consequentemente decodificar os símbolos escritos, surgiram a escrita e a leitura. Só é possível uma criança aprender a ler e a escrever depois que ela domine perfeitamente a língua materna. 5.5 A escrita no cotidiano A escrita está presente na vida cotidiana mesmoquando ela não é formalmente exigida. Criar uma lista de compras, enviar e-mails e anotar lembretes são alguns dos usos mais comuns da escrita. Já no ambiente de trabalho, preencher formulários ou enviar relatórios profissionais, exigem mais atenção ao formato e estilo. No entanto, com a popularidade de várias redes sociais, grande parte das pessoas tornam-se publicas várias postagens contendo diferentes tipos de textos todos os dias. Esses escritos possuem a mesma importância para os que os produzem, quanto os textos usados para realizar tarefas de trabalho ou estudo. Entretanto, há uma característica que os tornam muito diferentes uns dos outros, a linguagem, a formalidade. De fato, em textos acadêmicos, o rigor é muito maior devido ao contexto. Em termos de escrita, o contexto contém alguns elementos: quem está falando, para quem, o que é dito, de que maneira, quando e onde. Ignorar qualquer uma desses fatores fará com que seu texto falhe de alguma forma, não apenas os textos acadêmicos, mas de qualquer um. Por exemplo, imagine que alguém escreva um bilhete para a mãe informando que foi para faculdade, em vez de "Mãe, estou indo para a faculdade", escreva algo como: “Presada senhora, precisei me ausentar. Dirigi-me ao espaço destinado aos estudos que realizo com a finalidade de completar minha graduação”. No mínimo, causaria muito espanto com tanta formalidade. De maneira igual, um texto acadêmico não pode ter uma linguagem coloquial, pois além de causar estranhamento, não vai transmitir credibilidade e a sobriedade exigidas a esse tipo de interação. 22 5.6 A escrita no meio acadêmico Quanto a escrita acadêmica, exceto em casos muito específicos em que o aluno tem que escrever um texto narrativo - como em uma disciplina de produção de textos - os textos acadêmicos normalmente são dissertativos. O que significa que há uma clara estrutura argumentativa por trás dele. Claro, todo texto é argumentativo porque se relaciona (através do diálogo) com outros textos e transmitem significados, mesmo que de forma implícita. O texto dissertativo sobressai neste sentido porque visa nitidamente debater e solucionar uma questão (no sentido de “discussão de um tema”). Portanto, a argumentação não é tão evidente em nenhum outro texto quanto o dissertativo. Pereira (2013, p. 21) afirma que “[...] a escrita científica busca dar corpo à interpretação objetiva da realidade, superando o imediatismo da opinião e do senso comum, buscando expedientes de universalização e generalidade” Portanto, um ensaio argumentativo visa revelar as evidências de que seu conteúdo está correto, ou demonstrar que a forma como o tema é apresentado é o melhor. Em suma, podemos dizer que um ensaio argumentativo deve ser internamente consistente, e quanto aos dados que apresenta, além de ser consistente, deve também refletir questões específicas através da argumentação, avaliação e interpretação. Nesse sentido, a leitura acompanha os alunos durante toda a vida escolar e é essencial para o desenvolvimento da escrita. Duarte, Pinheiro e Araújo (2012), observaram uma forte relação entre a leitura frequente e a melhora da escrita. Machado (2017), por outro lado, diz que a prática da leitura é essencial para o sucesso do aluno porque se integra na aprendizagem quotidiana como uma forma especial de adquirir, compreender e interpretar conhecimentos, essenciais na argumentação. 5.7 Postura em relação à escrita acadêmica Apenas descrever, apresentar as características de um texto acadêmico é o suficiente para uma efetiva prática na escrita. Assim, apresentaremos algumas orientações que irão te ajudar no momento da escrita e na tomada de decisão sobre ela, 23 O primeiro critério a destacar é a questão dos prazos. É impossível escrever um texto argumentativo de uma só vez. Além do mais, tem a questão do tempo necessário para coletar os dados e as leituras necessárias para se aprofundar no tema, é preciso lembrar que os textos acadêmicos podem e devem ser reescritos várias vezes. Várias correções e alterações evitarão textos irracionais ou mal concebidos. Dessa forma, é necessário planear a escrita, separando e dedicando um bom tempo para este trabalho. Para que se tenha tempo de reescrever quantas vezes for preciso. Como comenta Baker (2015), quem escreve profissionalmente sempre reescreve seus textos, pois toda escrita pode ser melhorada. Parafrasear também pode ajudá-lo a planejar seu trabalho. Elaborar seu texto no início de sua jornada ajudará você a entender os dados e as discussões necessárias para concluí-lo (BECKER, 2015). Um aspecto importante, por mais óbvio que pareça, é que o escritor não estará com seus leitores, nem dará explicações quando começarem a surgir dúvidas. Portanto, você deve escrever de forma que todas as informações que seu público precisa estejam no texto. Lembrando novamente que a linguagem deve ser apropriada. Trata-se de uma linguagem formal, além disso, há uma grande quantidade de termos específicos de diversas áreas. Para garantir que você está atingindo seus objetivos de redação, use um revisor, alguém que você conhece e que possui características semelhantes ao seu público-alvo. Um ponto muito importante também, a seleção das fontes. Inclui pesquisa empírica e pesquisa bibliográfica. Ambos foram escolhidos por estarem de acordo com o escopo do estudo. É essencial destacar o conteúdo que é realmente relevante para o que você está tentando apresentar. As bibliografias, em particular, têm algumas peculiaridades. O primeiro passo é selecionar autores que sejam importantes para o campo da pesquisa e que seja consistente com a teoria e os tópicos do artigo a serem usados. Não adianta usar a teoria mais inovadora se você não souber lidar com o seu assunto. Em relação aos periódicos, deve-se dar preferência aos mais conhecidos em sua área, mesmo que seja necessária uma seleção específica. Bem, você pode encontrar textos interessantes com um visual ousado e original em revistas secundárias. É o que Eco (2010, p. 113) chama de “humildade científica” em relação 24 à construção do conhecimento: todos podem ensinar alguma coisa. Quando falamos em período de publicação, quanto mais recentes os textos escritos, maior sua popularidade e atualidade. Claro que esse critério não vale para textos clássicos ou mesmo icônicos em todos os campos, bem como para textos de autores reconhecidos. Também deve ser frisado que você deve se envolver com o que está escrevendo. Não importa quais tópicos ou pontos de vista sejam revelados em seu artigo ou texto, eles são de sua inteira responsabilidade. Isso tem duas consequências. A primeira é que após a publicação ou envio do seu texto (por exemplo, no caso de um trabalho acadêmico), os leitores terão ao dispor somente o que você escreveu, uma escrita mal feita poderá levá-lo a ter interpretações contrárias daquilo que você gostaria de ter exposto. Assim é sua a responsabilidade de ser o mais claro e objetivo, usando argumentos coerentes para não gerar dúvidas para quem tiver acesso ao seu texto. O segundo ponto é você assumir de verdade seu ponto de vista. Se você estudou, pesquisou, se apropriou de fato do seu tema, seja enfático ao falar dele. Não há o porquê deixar lacunas ou dúvidas no decorrer do texto, se isso acontecer, com certeza, seu texto não terá credibilidade, sendo que nem mesmo confiou na sua proposta. Isso é o que Eco (2010) chama de “orgulho científico”: [...]se não se sentia qualificado, não deveria ter apresentado o trabalho; se o apresentou, é porque sentiu que podia. Uma vez esclarecido se sobre determinado tema são possíveis respostas alternativas, vá em frente. Diga tranquilamente: ‘julgamos que’ ou ‘pode-se concluir que’” (ECO, 2010, p. 143). 6 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS Todos os textos se apresentam com uma forma e comuma finalidade, a comunicação. A forma do texto é representada pelo conceito de tipologia ou tipo textual. Segundo Marcuschi (2005, p. 154), “Tipo textual designa uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo) [...]”. Em relação à manifestação dos tipos, é importante salientar que eles não são textos, mas são as formas que os textos assumem em diferentes contextos. Os principais tipos textuais são os seguintes: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Além de se manifestarem em determinadas formas, o texto 25 também assume a sua finalidade, ou seja, o seu uso. Quando você analisa as manifestações contextuais dos textos, você trabalha com o conceito de gênero textual. Os gêneros textuais são os textos que você encontra no cotidiano e que apresentam padrões característicos, definidos pela funcionalidade, pelo estilo e pelo objetivo em diferentes esferas comunicativas. Dessa forma, na visão de Marcuschi (2005), o gênero textual materializa e adapta os textos em diferentes situações comunicativas. Você pode considerar como exemplos de gêneros: receita, crônica, diálogo, aula de português, reportagem, bilhete, e-mail, notícia, carta pessoal, carta comercial, resenha, romance, poema, etc. Segundo KOCH e Elias (2017), para viver em sociedade, todo indivíduo constrói, ao longo de sua existência, uma competência metagenérica, que diz respeito à utilização dos textos no seu meio de uso. É por isso que as pessoas se adequam a diferentes situações comunicativas. Sabendo que a comunicação é heterogênea e que os gêneros textuais são organizados de acordo com a finalidade da comunicação, pode-se incluir nesse grupo desde um diálogo cotidiano até uma tese de doutorado. Ou seja, os gêneros se transformam com o contexto. Alguns podem desaparecer e outros, surgir. 6.1 Gênero textual Agora que aprendemos sobre as diferentes tipologias textuais, podemos estudar os diferentes gêneros textuais. Gêneros textuais são textos que apresentam características distintas e que exercem funções comunicativas específicas; ou seja, esses textos se caracterizam por compartilhar os mesmos traços entre textos do mesmo gênero, diferem de outros gêneros por terem características peculiares e cumprem objetivos variados. Os gêneros textuais, além de conteúdos que sejam propícios aos seus fins comunicativos, também são caracterizados pela forma de apresentação dos textos, que estão altamente relacionados ao papel que cada texto deve cumprir. Um leitor que recebesse um texto “lista de compras” certamente perderia tempo no mercado lendo frases que não são necessárias para as compras e, ainda por cima, correria o risco de esquecer algum item por não estar facilmente indicado no corpo do texto. 26 Os gêneros textuais devem levar em consideração todos os aspectos que proporcionem uma comunicação eficiente, como emissor, receptor, objetivo, canal, mensagem, etc. Diferente das tipologias textuais, os gêneros textuais são de inúmeros tipos e surgem de acordo com as necessidades sociais distintas para cada ação comunicativa. Entre os exemplos de gêneros textuais estão: carta (pessoal e empresarial), telefonema, notícia de jornal, artigo de revista, artigo de jornal, artigo acadêmico, piada, receita, bula de remédio, biografia, entrevista, romance, poesia, conto, monografia, aviso, lenda, fábula, lista de compras, ensaio, editorial, e-mail, abaixo- assinado, diário, currículo, entrada de dicionário, texto enciclopédico, etc. Os exemplos mencionados acima servem apenas para ilustrar a grande variedade de gêneros textuais existentes. Como já foi dito, cada necessidade comunicativa pode abrir espaço para o surgimento de um gênero textual diferente. 6.2 Tipologia textual Tipologia textual (tipos de texto) se refere às diferentes formas que um texto pode se apresentar. Elas se caracterizam e diferenciam não só pelo conteúdo, mas também – e principalmente ─ por suas formas e objetivos. Cada tipo textual se apresenta de uma determinada maneira, seguindo regras de estruturas e apresentações que diferem um tipo do outro. Em outras palavras, a tipologia textual é responsável por apresentar modelos que delimitam tanto a estrutura quanto os aspectos linguísticos de um texto. Existem diferentes tipos de texto que divergem de acordo com a finalidade e propósito de cada um, sendo que cada tipo apresenta distinções no que diz respeito à estrutura, linguagem, vocabulário, organização sintática, relações lógicas, interações com o leitor, etc. As principais tipologias textuais são quatro, e cada uma delas possui características próprias. Texto narrativo: O texto narrativo tem por objetivo contar um fato, acontecimento ou história por meio de um desencadeamento sequencial. Essa narrativa pode ser real ou fictícia. Texto descritivo: O principal objetivo de um texto descritivo, como o nome já diz, é apresentar uma descrição de algo (seja uma pessoa, um objeto, um conceito 27 etc.) de forma que o leitor possa formar uma imagem mental do que está sendo descrito e relacioná-la à realidade ou criar uma figura imaginária. A descrição pode ser feita em diferentes níveis e por meio de diferentes recortes, podendo ser mais objetiva ou mais subjetiva de acordo com os objetivos do texto e do escritor. Embora a estrutura do texto descritivo seja similar à do texto narrativo (introdução, desenvolvimento e conclusão), os componentes dessa estrutura podem ser entendidos de forma um pouco distinta, de modo que a introdução sirva como uma identificação (ou apresentação) daquilo que será descrito e o desenvolvimento, a descrição em si. A conclusão, por sua vez, pode ser entendida não como um componente, mas como um processo. A conclusão ocorre quando o autor do texto está satisfeito com a descrição pretendida. Diferente do texto narrativo, o texto descritivo está isento de limitação temporal ou espacial. Ele se estrutura como uma descrição estática, independente de uma cronologia ou de um espaço temporal específico. Geralmente, textos descritivos são cheios de substantivos, adjetivos e advérbios. Os verbos utilizados para esses textos geralmente são mais restritos do que os utilizados em narrativas, sendo, em sua maioria, verbos de estado (ser, estar, parecer, etc.). A linguagem utilizada em textos descritivos se caracteriza por ser bastante rica, a fim de fornecer uma descrição detalhada, fazendo uso, portanto, de figuras de linguagem, comparações, enumerações, etc. de forma que a linguagem se torne dinâmica e interessante para o leitor. Texto dissertativo (expositivo e argumentativo): Um texto dissertativo se caracteriza por ter como objetivo informar o leitor a respeito de um determinado assunto de forma rica, rigorosa e detalhada. Essa tipologia textual se divide em dois tipos: expositivo e argumentativo. Dissertativo-expositivo: expõe conhecimentos, detalhes e ideias. Esse tipo de texto não tem por objetivo convencer o leitor, apenas relatar fatos sobre um determinado tema, servindo como transmissor de conhecimento e escrito de forma que tente evitar qualquer tipo de erro ou informação não verídica, ou não confirmada. Textos dissertativos-expositivos devem ser elaborados de forma clara e organizada, de modo que possam ser entendidos por diversos leitores. Geralmente, 28 textos expositivos trazem um grande número de informações relacionadas ao assunto sobre o qual dissertam, a menos que o autor tenha por objetivo fazer apenas um recorte específico. Nesse tipo de texto, encontramos definições, clarificações, características, comparações, enumerações e exemplos que abordam de maneira correta e eficaz o assunto a ser exposto. Dissertativo-argumentativo: tem por objetivo convencer e persuadir o leitorpor meio de sua dissertação. Nesse tipo de texto, o autor utiliza não somente fatos, mas também suas crenças, opiniões, valores e ideias para tentar convencer o leitor de algo ou fazê-lo concordar com seus pressupostos e teses, sempre em terceira pessoa. Texto explicativo (injuntivo e prescritivo): O texto explicativo é aquele que tem como principal objetivo instruir o leitor a respeito de algum processo ou procedimento. Esses textos se caracterizam por linguagens que instruam e incentivem a ação, direcionando o comportamento do leitor. O tipo de linguagem empregada por esse tipo de texto é, geralmente, objetivo e claro, com um grande número de verbos no imperativo, no infinitivo ou no presente do indicativo. 6.3 O texto literário e as suas manifestações linguísticas Como porta para o mundo da leitura, a literatura infantil traz consigo a marca da oralidade. Isso é importante para facilitar a proximidade entre os interlocutores (emissor e destinatário). No entanto, para entender como os mundos da linguagem interagem na esfera literária, é preciso saber reconhecer o que é um texto literário e como ele se diferencia dos textos não literários e procurar marcas coloquiais em textos de literatura infantil e juvenil. Como sabemos, um conjunto de palavras ou frases não necessariamente formam um texto. Falar de textos é falar de comunicação, de uso da linguagem. Além disso, na visão de Antunes (2010), o texto é descrito como uma atividade funcional porque é sempre utilizado com a finalidade de sustentar a comunicação. Como se vê, os textos podem ser orais ou escritos. Quando aos textos escritos, eles podem inicialmente ser subdivididos em dois grupos: textos literários e textos não literários. Os textos não literários tentam informar, ordenar, argumentar, explicar, etc. Normalmente, sua linguagem é clara e objetiva. Em contrapartida, 29 segundo Fiorin (2000), um texto literário é caracterizado por uma unidade de sentido constituída por uma linguagem determinada por sua função estética. Gonzaga (2007) apontou em Convergência que os textos literários não são apenas criações ficcionais, mas também obras de criação linguística, cumprindo assim sua função estética. Além disso, segundo Fiorin (2000), os textos não literários buscam o sentido real, a denotação, enquanto os textos literários buscam a conotação ao desempenhar suas funções estéticas. Na visão de Fleck (2008), a literatura é arte; a arte, por sua vez, é entretenimento, a expressão da realidade. É através da leitura que o homem consegue reajustar sua interpretação do mundo em que vive. Ou seja, mergulhar nos textos literários e entrar em um universo fantástico que amplia a visão de mundo do sujeito e cria novos significados, é través da literatura e da estética que a criatividade e a sensibilidade podem ser cultivadas. Porém, saber ler não significa apenas decodificar os símbolos da linguagem. Segundo Orlandi (1988), a leitura de um texto representa o momento em que o interlocutor se identifica consigo mesmo, desencadeando o processo de dar sentido ao texto. É por intermédio da leitura e com a leitura que as pessoas são capazes de analisar e refletir sobre as situações vivenciadas. No entanto, o hábito da leitura não é tão fácil de formar. Segundo Fleck (2008, p. 15), esse processo se inicia na infância, quando a criança é exposta ao mundo mágico, fantasioso e aberto da literatura infantil, e essa exposição garante que o processo de aprendizagem de uma língua seja aprimorado, como Um meio de construir e representar a realidade. Segundo Bamberger (1991), pais e professores são essenciais para introduzir a leitura na vida das crianças. No entanto, existem situações em que os professores desempenham um papel de destaque. Por isso, é importante que conheçam o mundo da literatura infantil. Dessa forma, podem estimular crianças e jovens a ler de uma forma muito mais prazerosa. Ainda para Zilbermann (1998), realizar atividades com literatura infantil é diretamente um exercício de interpretação e compreensão, pois melhora não só a apreensão de um significado, mas também as relações que existem entre o significado e sua presença e história, mesmo que ele ainda é uma criança. Os textos literários são constituídos sobretudo por romances, histórias em quadrinhos, novelas, crônicas, contos, fábulas e poemas. Os professores devem 30 entender o mundo literário das crianças e adolescentes e apresentá-lo aos alunos para que eles desenvolvam hábitos de leitura saudáveis e naturais, em vez de impô- los aos outros. 7 A LINGUAGEM E O CONCEITO DE LÍNGUA EM USO A linguagem consiste no uso da língua para a comunicação e a interação social. Da mesma maneira que a linguagem pode ser oral ou escrita, a leitura ultrapassa o universo da escrita. Pode-se ler tanto um artigo de opinião quanto um debate político. Ou seja, ler não significa, restritamente, decodificar uma sequência de palavras escritas. A linguagem é a responsável por estabelecer toda atividade comunicativa. Assim, ela representa a manifestação da língua, composta por um sistema de signos convencionais usados pelos membros de uma mesma comunidade linguística. De maneira genérica, pode-se afirmar que a língua não passa de um contrato estabelecido entre os seus usuários. Caso esse contrato seja de conhecimento pleno dos usuários, a comunicação está garantida. Cada indivíduo utiliza a língua de sua comunidade de maneira individual e personalizada, desenvolvendo assim a fala. Ou seja, as manifestações de qualquer falante em relação ao uso da língua são representadas pela fala. No entanto, deve- se ter cuidado para que não ocorra a confusão da fala com o ato de falar,pois tanto a fala quanto a escrita são expressões individuais de cada pessoa, que estão inseridas no conjunto maior que é a língua). Por exemplo, os falantes da língua portuguesa podem falar ao telefone ou escrever um texto em alguma rede social. Em ambas as circunstâncias, estarão usando a sua fala individual para manifestar a língua portuguesa em diferentes meios sociais. O caráter social de uma língua e a sua representatividade para o processo de comunicação são inegáveis em qualquer estudo linguístico. Sabendo que a linguagem representa o uso da língua em uma esfera social, Preti (1974) afirma que, para que exista uma vida em sociedade, é fundamental que as manifestações linguísticas sejam compreendidas. Sons, gestos e imagens compõem diferentes tipos de mensagens que podem se manifestar por diversos canais, como a televisão, o cinema ou um livro. Ou seja, 31 estudar as manifestações linguísticas significa compreender que a língua é o suporte para toda e qualquer dinâmica social. No entanto, segundo Preti (1974), o seu uso não compreende apenas relações corriqueiras orais, mas também expressões mais específicas, como uma notícia escrita em um jornal. Dessa maneira, a fala e a escrita são duas manifestações da linguagem estabelecidas por um objetivo específico dentro de um contexto linguístico. Para Calsamaglia e Tuson (2008), o discurso representa, principalmente, uma prática social interativa que pode se manifestar em contextos tanto orais quanto escritos. Inclusive, a forma como se compreende a linguagem implica uma análise textual. Segundo Barbisan (1995), o texto é uma unidade funcional, a qual desempenha um papel dentro de um contexto. Com uma visão bastante similar, Adam (2008) afirma que o texto não representa uma sequência de palavras, e sim de atos. Essas manifestações da língua em uso, em seus contextos e necessidades específicas, são conhecidas como gêneros textuais. Ou seja, as diferentes finalidades que expressam o uso linguístico são estabelecidas por circunstâncias contextuais que caracterizam e determinam o gênero textual. 7.1 Fala e escrita: conjunto de partes unidas entre si Todo e qualquer texto representaum ato de comunicação dentro de um processo interacional, que pode ser tanto escrito quanto falado (KOCH; ELIAS, 2017). Os principais aspectos paradoxais entre a oralidade e a escrita é que os contextos de produção e de recepção, de maneira geral, não coincidem no tempo e no espaço. No texto escrito, a produção da mensagem é estabelecida de acordo com a intencionalidade do emissor em relação ao seu receptor. Além disso, não há necessariamente a participação direta daquele que recebe a mensagem. Nesse quesito, para Koch e Elias (2017), o diálogo se baseia e se constitui numa relação em que o emissor (nesse caso, escritor) dialoga com a perspectiva de que o receptor (nesse caso, leitor) possa compreender a sua intencionalidade. Em contraponto, o texto falado ocorre no momento da interação comunicativa, ou seja, a situação é imediata e simultânea para aqueles que participam dela. O tom de voz, por exemplo, é uma das características capazes de manifestar mais do que 32 as palavras individualmente, pois o contexto interacional carrega identidade, e as manifestações linguísticas dos atos de fala perpassam o nível sintático de análise. De acordo com Infante (1998), a língua falada se vincula às situações comunicativas em que ela é usada diretamente entre os interlocutores. Embora haja questionamentos em relação às mídias sociais, como o WhatsApp, você não deve se esquecer de que o produtor do texto escrito (mesmo que esteja on-line) tem mais tempo para o planejamento e para a execução da sua fala. Afinal, meios de comunicação como o WhatsApp, frequentemente apresentam duas manifestações linguísticas: o uso da escrita e da fala, com a possibilidade de enviar áudios. Nesse caso, a conversa, por mais que pareça simultânea e imediata, não acontece na mesma esfera de uma conversa presencial. Em relação ao uso e às manifestações da fala nas diferentes esferas comunicativas, orais e escritas, o vocabulário utilizado é preponderante para analisá- las. Na oralidade, o vocabulário é bastante alusivo, pois o uso de pronomes como “eu”, “tu”, “você”, “nosso”, “isto” ou “aquilo” ou de advérbios como “aqui”, “lá”, “hoje” ou “agora” possibilita que o processo comunicativo ocorra de maneira fluida e eficaz. Afinal, existe a possibilidade de indicar tudo o que está envolvido na mensagem sem uma nomeação específica e sem comprometer o entendimento dos interlocutores. Na escrita, é necessário que a linguagem seja menos alusiva. Para que a comunicação se estabeleça com êxito, devem-se utilizar formas de referência mais precisas e específicas, como citar datas, descrever lugares e objetos. Logo, é possível perceber que, enquanto a fala se adapta ao contexto interacional, a escrita procura ser suficiente em si mesma. As manifestações orais e escritas são, portanto, duas modalidades da língua. Dessa forma, de acordo com Koch e Elias (2017), a oralidade difere-se da escrita principalmente devido aos seguintes aspectos: (a) pelo próprio fato de ser falada; e (b) devido às contingências de sua formulação. Ou seja, os dois códigos, oral e escrito, têm suas manifestações e suas regras próprias de organização e funcionamento. A linguagem oral (fala) se manifesta por meio de emissões dos sons da língua, os fonemas. Em contraponto, a linguagem escrita utiliza as letras, que nem sempre mantêm uma correspondência exata com os fonemas. Enquanto o código oral conta com o tom de voz, com os gestos e com o olhar, o escritor precisa se 33 expressar por meio da pontuação e de marcas de formação do texto. Além disso, as estruturas sintáticas das manifestações escritas necessitam de certa linearidade. Já as estruturas das manifestações orais conseguem fazer inúmeros hiperlinks, ou seja, está em jogo uma leitura sem linearidade, não comprometendo o entendimento entre os interlocutores. Contudo, embora exista uma descontinuidade na oralidade, a sintaxe geral da língua está presente na sua constituição. Ainda que exista uma dicotomia entre textos orais e escritos, perceba que nem todas as características são essencialmente de uma ou de outra categoria. No entanto, as manifestações escritas podem ser pensadas, repensadas ou até mesmo ignoradas por uma questão de planejamento; já as manifestações orais, não. Isso ocorre porque, de acordo com Koch e Elias (2017), é como se a fala oral estivesse no mesmo patamar do rascunho de uma manifestação escrita. O texto falado, embora em muitos casos seja previamente planejado e estruturado, se apresenta em sua própria criação, visto que o contexto nunca é o mesmo. No Quadro 1, a seguir, veja as características da linguagem falada e da linguagem escrita. Embora essas características não sejam exclusivas de uma ou de outra instância, oral ou escrita, o quadro apresenta uma organização mais geral e superficial em relação às manifestações linguísticas da língua em uso. 34 Quadro 1. Linguagem falada e linguagem escrita Fonte: Adaptado de Koch e Elias (2017). 8 ESTRUTURA TEXTUAL Segundo GALEANO (2001), a palavra “texto” vem da palavra latina textum e significa “tecido”. Isso significa que, quando alguém escreve, ele tece pensamentos com palavras. Ele procura evitar falhas e distorções para que seu propósito comunicativo seja totalmente completo. Pode até parecer um tanto complexo, mas um texto pode ter zero, uma ou milhares de palavras, porque ele varia em estilo e tamanho. Pode ser oral ou escrito, verbal ou não verbal; pode ser formal ou coloquial; ou quem sabe uma imagem, etc. Além disso, existem vários tipos de texto: literário, técnico, oficial, comercial, jornalístico, filosófico, didático, etc. Em todos os tipos, porém, deve ser apresentado um significado completo para formar um sentido claro. Tal unidade pode ser alcançada através do uso de duas fontes de texto: clareza e concisão. Além disso, todos os tipos de texto possuem uma estrutura básica que os mantém organizados para que sejam 35 imediatamente compreendidos e reconhecidos como texto. Essa estrutura é dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. Seja ele escrito ou não. A primeira parte do texto, a introdução, conduz o leitor ao tema em discussão. Nesse ponto, é importante dar uma visão geral do assunto para revelar brevemente as ideias que serão desenvolvidas nos parágrafos seguintes. É um momento de encantar o leitor. O tema deve ser desenvolvido de modo que desperte a curiosidade, o desejo no leitor para que ele prossiga a leitura, este é um convite à obra. É importante salientar que a introdução é variável, ela está associada ao gênero textual. Por exemplo, em textos informativos a introdução é mais curta em relação a textos acadêmicos como dissertações e teses, nesses casos a introdução é mais longa e introduz a complexidade do texto e específica o que é abordado no artigo. Em textos jornalísticos, a introdução é mais direta. Como explicam Squarisi e Salvador (2015), é importante ir direto ao ponto, começando pelo que é mais importante, usando uma frase que envolva, desperte o interesse do leitor e o estimule a continuar lendo. Como o público-alvo do autor é variado, o desafio é atingir o maior número possível de leitores. Para fazer isso, o escritor deve usar uma linguagem, objetiva e clara, informações precisas e um estilo atraente. Isso não significa que, em textos acadêmicos a introdução não seja atraente; pelo contrário, deve também manter fluidez, coerência e coerência e coesão. O objetivo é entrelaçar e apresentar ideias de forma que o leitor fique com vontade de descobrir o que as próximas linhas de pesquisas trarão para o avanço do conhecimento. Assim, cada gênero textual tem características próprias, mas todos compartilham questões em comuns. Consideremos, por exemplo, o texto informativo do Ministério da Saúde, cujo objetivoé informar a população sobre algo importante relacionado à prevenção de doenças. Esse texto também deve chamar a atenção na introdução, certo? A linguagem deve ser considerada e utilizada de forma que a informação afete o grupo-alvo. Assim como em uma campanha de vacinação, você já percebeu elementos textuais que chamam a atenção do público alvo e os estimulam a se locomoverem até ao posto de saúde e se vacinarem? Isso mesmo, cada gênero mantém suas próprias características, mas alguns aspectos são comuns. 36 Machado (2017), traz a segunda etapa da estrutura do texto, ou desenvolvimento. O tema apresentado na introdução deve ser continuado e detalhado. Aparentemente, o grau de desenvolvimento depende do tipo de texto. Se você observar os mesmos exemplos anteriores (textos de revistas e dissertações), verá que ambos desenvolveram características únicas. A tese apresenta o referencial teórico, material de pesquisa e análise dos dados. Em um texto jornalístico, por outro lado, esses elementos também podem ser apresentados, porém diretamente, de forma mais simples. Pois, um texto impresso em um jornal tem um limite de caracteres, que deve ser respeitado. No poema, por exemplo, também há desenvolvimento, mas o contexto, o assunto (ou assuntos) com os quais o diálogo é conduzido e os meios de comunicação influenciam diretamente nas formas de apresentação. Finalmente, a estrutura do texto termina com uma conclusão. Após expor um ponto de vista durante o desenvolvimento, podendo ou não, apresentar ponto e contraponto, o autor expõe a conclusão do seu pensamento. Os tipos de conclusões podem variar de acordo com o gênero textual. No caso de textos acadêmicos, a conclusão indica se as hipóteses de pesquisa foram confirmadas ou rejeitadas e aponta para possíveis pesquisas futuras. Por exemplo, no caso de um conto, a conclusão é o último momento da história, é o resultado final. Em geral, a conclusão conclui a ideia, responde à pergunta da introdução e oferece uma solução para o problema. Como se pode ver, a divisão básica do texto inclui introdução, desenvolvimento e conclusão. O que não quer dizer que um texto seja formado exclusivamente por três parágrafos. Um texto pode apresentar todos esses elementos em apenas um parágrafo, assim como uma tese com mais de duzentas páginas, não deixa de ser um texto e também apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão, a lógica estrutural tanto de um quanto do outro é a mesma. Segundo Antunes (2010, p. 30), todo enunciado com função comunicativa tem as propriedades de textualidade ou correspondência com o texto. Em outras palavras, em toda língua as situações interativas, sejam elas quais forem, são marcadas pela textualidade como forma de manifestação. Portanto, há gênero 37 textual. Assim, o autor conclui que não há ação na língua fora da textualidade. Se existe comunicação, então existe um formato de texto. Isso mostra que é errado dizer que primeiro você aprende as palavras, depois as frases e por fim o texto. Afinal, todos os eventos comunicativos, desde as primeiras tentativas de fala da criança, podem ser entendidos como parte de um todo denominado “texto”, onde existe a textualidade. Segundo Antunes (2010, p. 30), a questão aqui é que “[...] assumir a textualidade como princípio que manifesta e regula as atividades linguísticas [...]”. Os elementos textuais mencionados nos parágrafos anteriores aparecem em diferentes gêneros textuais, formados de acordo com o contexto do texto. No entanto, as noções de textualidade e evento comunicativo são assumidas em todos os casos. 8.1 Elementos textuais Muitas dúvidas podem surgir quanto a quis elementos do texto devem ser analisados, se o texto é toda ocasião comunicativa da língua, então tudo pode ser analisado. O problema é que nem todos os textos vão apresentar elementos linguísticos de uma determinada língua e todos os aspectos relacionados à funcionalidade da interação sociocomunicativa. Segundo Antunes (2010), os textos são campos naturais para que se possa analisar os fenômenos da comunicação humana. Portanto, é no texto que se observam aspectos relacionados ao fazer e ao receber uma apresentação verbal em uma língua específica. Tentar analisar tudo em um texto pode levar a uma análise superficial. Ao tentar analisar todos os aspectos, pecasse-se a não analisar nada, pois o texto é um leque de muitas possibilidades de interpretação. Isso requer que a operação seja produtiva ao olhar para os elementos. Antunes (2010), diz que, o mais importante é não reduzir o texto a um mero campo para amostras de questões gramaticais, também ele não deve ser observado limitando à construção textual apenas à estrutura do texto relacionada ao vocabulário e aos recursos gramaticais. Pelo contrário, o texto deve ser o centro em si. O objeto de pesquisa, análise e descrição é o texto em sua multiplicidade (estrutura do parágrafo, linguagem utilizada, objetivo comunicativo, mensagem, 38 ideias secundárias e fatores extratextuais como contexto social e histórico). Por exemplo, a gramática está lá, mas como um componente essencial que não pode ser substituído. Sem gramática, não há texto dentro de seus parâmetros definidos; regras de compatibilidade, regência, pontuação, etc. Mas esta não é a única consideração ao analisar um texto. Nesse sentido, é possível estudar o texto como um todo ou selecionar partes a serem analisadas. De uma dimensão ampla, podem ser observados os seguintes elementos no eixo dessa coerência (ANTUNES, 2010): Fonte: adaptado Antunes (2010). Esses são apenas alguns elementos que ilustram a estrutura e a análise do texto. Mas podem surgir dúvidas de como identificar esses elementos no texto. Por exemplo, considere o campo relevante ao qual o texto se refere. Compare textos biográficos (biografias de pessoas importantes de um determinado país) com romances de ficção como Harry Potter e a Pedra Filosofal. Você percebe que o escopo relevante é especificado para cada um desses textos? No primeiro caso, se refere a lugares existentes, pessoas e situações reais, histórias verídicas, origem social real do lugar da história, etc. No entanto, no caso de romances de fantasia, você pode encontrar seres fictícios, lugares imaginários, épocas diferentes, etc. Da mesma forma, os domínios que permitem que o discurso - Universo de relevância a que remete o texto ('real ou fictício); - Campo de circulação do discurso (acadêmico-científico, jurídico, jornalístico, político, de informação, informal, literário, entretenimento, etc.); - Ideia central; - Função comunicativa; - Critério de subdivisão da estrutura (parágrafos); - Direcionamento argumentativo; - Representações de mundo (explícitas ou implícitas); - Intertextualidade e hipertextualidade (ou seja, relação com outros textos). 39 flua, usam palavras e estruturas diferentes e comunicam funções únicas a cada texto. Como vimos até aqui, o texto é algo abundante e complexo, é composto por diversos elementos, que vão além de sua estrutura sintática básica. Além disso, o texto existe em qualquer contexto de comunicação e interação em um determinado idioma. 8.2 Situações de comunicação Como transmitir comunicação é a função de todo texto. Podemos dizer que todos os textos tem uma finalidade. Portanto, quando alguém não compreende o que seu interlocutor fala, ele pergunta: "não entendi, que você quis dizer?". Se a pessoa for responsável pela fala, é possível perguntar aos ouvintes: "Vocês compreenderam o que eu quis dizer?". Isso acontece principalmente quando o falante percebe expressões de dúvidas e incompreensões. Pense, por exemplo, o ambiente da sala de aula. Um professor de um determinado curso/disciplina deve interagir repetidamente com o público para verificar se há consistência, se há compreensão,
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