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JORNAL GLOBO E O ACORDO DE PAZ DE OSLO 1993 ENTRE ISRAEL E OLP

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JORNAL GLOBO E O ACORDO DE PAZ DE OSLO 1993 ENTRE ISRAEL E OLP.
JORNAL GLOBO E O ACORDO DE PAZ DE OSLO 1993 ENTRE ISRAEL E OLP.
Resende - RJ 
2021
Título Original
Jornal Globo e o Acordo de paz de Oslo 1993 entre Israel e OLP. 
Primeira publicação em 
Resende, Rio de Janeiro, Brasil
2021
1ª Edição. 
Todos direitos da obra 
Jornal Globo e o Acordo de paz de Oslo 1993 Israel e OLP
reservado ao autor. 
	
	  
Silva, Dennis Daniel Miranda Silva - 1993
	S586j
	 Jornal O Globo e o acordo de paz de Oslo 1993 entre Israel e OLP / Dennis Daniel Miranda Silva. -- 1.ed. -- 
Resende.RJ : Ed.do.autor, 2021.
 ISBN: 
	
	
	 
	1. Geopolítica. 2. Relações Internacionais. 3. História.
 I: Título II. Silva, Dennis Daniel Miranda Silva
	 
 * CDD - 320
	
	 
Infelizmente o sionismo escolheu realizar essa utopia no meio de um entroncamento econômico religioso e étnico tanto do ponto de vista global quanto regional, onde as chances de alcançar tal paraíso são tão plausíveis quanto construir uma cabana tropical no meio de importante cruzamento em São Paulo.
(DUPAS,VIGEVANI. 2001.pág.69)
Solange, Priscila, Geórgia e Job com todo meu amor e carinho. 
Prefácio
	Pensar em humanidade nos dias atuais é desenvolver um senso de responsabilidade sobre o outro. Situações que envolvem racismo, lgbtfobia, xenofobia, machismo, entre outros tipos de desumanização de um grupo em particular gera uma forte comoção popular. Concomitantemente a esse momento de união, estamos coabitando a nossa existência junto a um povo que tem a mais de 70 anos sua dignidade e humanidade sendo questionada.
	A questão da Palestina e do confronto contra o Estado de Israel ultrapassa uma esfera política local adentrando o imaginário de todo o ocidente, onde se cria diversas narrativas explicativas sobre o confronto onde a grande maioria não são baseadas em verdades. 
	Esta pesquisa surge de um trabalho de conclusão de curso em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Unirio, onde o objetivo se encontra em buscar entender o motivo a qual tanta desinformação sobre o tema. Analisando um dos principais meios de comunicação dos anos 90 busco entender o motivo pelo qual as pessoas ainda pensam que é um conflito religioso. 
	A ideia de transformar a monografia em um livro surge dos últimos conflitos que ocorreram no primeiro semestre de 2021, onde a narrativa que o Estado de Israel é atacado por ser um Estado Judeu ainda é fortemente difundida. 
	Disponibilizo minha pesquisa com objetivo de trazer novas interpretações e que o sentimento de humanidade tão forte dos últimos anos contra as injustiças sociais se expanda diante a um povo que encontra-se a caminho da extinção como o povo Palestino. 
	Entender a origem do conflito e principalmente entender o motivo pelo qual até hoje ele existe é trazer luz para um assunto tão presente nos últimos 70 anos que ainda assim é desconhecido. 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
OSM 			Organização Sionistas Mundial 
ONU			Organização das Nações Unidas 
UNSCOP		Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina 
OLP			Organização para a Libertação da Palestina 
FPLP			A Frente Popular Para Libertação da Palestina
INTRODUÇÃO.
Com o advento da internet criou-se uma nova sociedade em relação à forma com a qual nos relacionamos com a informação. Desta maneira, é possível conectar-nos de forma instantânea com eventos que ocorrem por todo o mundo. Esse fenômeno social nunca visto em nossa história como sociedade, gera um novo comportamento perante as informações, pois, tudo é ao vivo, dinâmico, universal; com o mais simples dos aparelhos telefônicos com acesso a uma rede móvel é possível transmitir qualquer informação desejada. Ao mesmo tempo, com essa facilidade de produção de conteúdo surge a problemática sobre a questão da veracidade destas informações, já que não é possível regulamentar todos esses conteúdos surgindo assim um perigo sobre as mesmas já que se corre o risco de serem falsas. É assim essencial o desenvolvimento de um “filtro” crítico do leitor sobre essas notícias. Apesar desta variante sobre o conteúdo criado na internet, não podemos negar que ela nos possibilitou uma liberdade intelectual para o indivíduo, mesmo com todas essas variantes sobre as notícias produzidas pela (internet), nós somos livres para buscarmos quaisquer tipos de informação e criarmos nossa opinião sobre os assuntos mais diversos desenvolvendo assim nosso senso crítico sobre o mundo. Esse cenário já é completamente diferente ao analisarmos a relação do homem com a informação antes do período da popularização da internet. A fonte de informação sobre qualquer assunto global vinha diretamente de empresas que detinham o monopólio da informação, possibilitando desta maneira a criação da narrativa que for de melhor agrado para as mesmas, não garantindo assim uma verdadeira construção crítica sobre um assunto que aconteça no mundo.
Analisar o comportamento da mídia brasileira sobre um evento mundial durante a época do monopólio da informação é muito importante para compreensão da relação dos brasileiros perante o evento. Não sendo diferente sobre o conflito Israelo-palestiniano, localizado na região do Oriente Médio que vem do final do século XIX e que possui ligação direta com as duas grandes guerras que marcaram o século XX e está presente até os dias atuais sem solução. Normalmente identificado como a “Questão da Palestina”, possui em sua narrativa a premissa do silenciamento dos povos palestinos perante a ação imperialista dos judeus.
A relação entre os acontecimentos na região com o que foi reportado aqui no Brasil é a base problemática desta pesquisa. Como foi a representação construída pela mídia
brasileira perante o acordo de paz em Oslo na Noruega em 1993 entre Israel e OLP? O objetivo geral da pesquisa é assim o entendimento desta relação.
Para que a pesquisa atinja sua proposta específica é de necessário dividi-la em 3 etapas para melhor compreensão:
1. ª Contextualização: Para o desenvolvimento desta pesquisa é necessário o entendimento do processo histórico do conflito da região da Palestina. Entender a relação Palestino Judeu, Palestino Inglaterra além de identificar seus conflitos servem como base indispensável para compreensão importância do evento em um aspecto global. Para a realização desta contextualização é necessário desenvolver uma análise entre o período final do século XIX até meados do XX.
2. ª A análise do acordo de Oslo na Noruega: Após a contextualização sobre o processo histórico do conflito vem a abordagem de fato do acordo de paz, compreender suas dinâmicas, propostas, participantes, relevância e resultados. Identificação da magnitude do evento para o conflito e compreensão sobre como o evento teve influência para a possível solução desta guerra, levantamento dessas informações surgem como segundo fator de importância para compreensão da pesquisa.
3. ª Analisar o comportamento da mídia brasileira sobre o acordo. Esta é a grande parte da pesquisa, a busca de compreensão de como foi a recepção da mídia nas produções informativas, que abrange de agosto de 1993 até dezembro do ano 2000.
A metodologia escolhida para ser aplicada nesta monografia é a qualitativa, com essa escolha nos permitirá a análise de toda uma documentação historiográfica juntamente a análise das fontes jornalísticas. As fontes utilizadas são a do jornal O Globo, sendo essa mídia de grande relevância no âmbito de produtos de conhecimentos na época e atualmente.
A produção desta pesquisa ajuda a construção do conhecimento sobre a relação do Brasil perante o conflito na região, além de contribuir para o entendimento sobre o comportamento da mídia brasileira sobre conflitos orientais.
CONTEXTUALIZAÇÃO.
	O objetivo deste capítulo é que possamos compreender o conflito Israelo-palestiniano no Oriente Médio, paraisto é necessário elaborar uma contextualização histórica para entendermos o cenário da nossa análise. Primeiramente, é importante ressaltar que a região da Palestina localiza-se numa zona geoestratégica central, entre o mediterrâneo na porção oeste entre o Rio Jordão, Mar Morto e Egito criando assim uma passagem entre África e Ásia, além da sua proximidade com a Europa. Apesar de ser um espaço relativamente pequeno, a sua posição geoestratégica fez com que fosse uma zona sempre habitada. Não podemos deixar de destacar a importância religiosa na qual está envolta a região. As três maiores religiões monoteístas do mundo possuem conexão direta com esta zona, sendo um espaço sagrado para cristãos, judeus e muçulmanos. Dentro do diversos povos que possuem conexões com esta região, o conflito gira em torno de dois grupos que historicamente alegam possuir relação direta com à região.
Ligação Histórica dos Judeus e Árabes com esta região.
De acordo com Guimarães (2019) a conexão histórica dos Judeus com a região remonta à sua saída do Egito entre o século XV a XIII A.C. Nesse momento “os filhos de Israel” se estabeleceram na Palestina, formando uma confederação tribal e depois o reino de Israel e Judá.
Historicamente, a região em que “os filhos de Israel” se estabeleceram sempre foi alvo de tentativas de invasão, principalmente após o fenômeno revolucionário que marcou o nascimento de uma nova era da humanidade que foi Jesus Cristo, a santificação gerada por este evento potencializou o valor da terra. Uma terra geograficamente muito boa e, ao mesmo tempo, percebida como sagrada por alguns segmentos da população sempre atraiu olhares de cobiças. As tentativas de invasão não foram poucas e foram se tornando cada vez mais frequentes até a chegada do Império Romano a qual a conquistou de fato. Luza (2014) em seu levantamento histórico sinaliza no ano de 63 A.C. a chegada do invasor comandado pelo Imperador Romano Pompeu Magno, iniciando-se aí um processo de dominação na região de Jerusalém. Essa dominação acarretou a transformação de Israel em um reino tributado ao Império Romano. Schilling (2019) demonstra que essa relação de tributação gerou inúmeros
conflitos, cada vez mais violentos, entre judeus e as autoridades dos Império Romano, pela falta de respeito dos Romanos para com a independência dos Judeus. Onça (2017) em seu estudo relata a violência usada pelos romanos em relação ao povo Hebreu em diversas batalhas. A luta mais emblemática para os Hebreus foi a de Bar Kochba, em que o Império Romano venceu, dando origem à grande diáspora, chamada Tefutzah, que disseminou um amplo número de Judeus para África e Europa.
Desta forma, podemos identificar a milenar relação histórica dos Judeus com a Palestina. Interessante ressaltar que apesar do grande número de Judeus que se viram na necessidade de migrar, houve uma porcentagem pequena de Judeus que ficaram vivendo na região em pequenas comunidades. Assim, sempre existiram Judeus naquela zona, convivendo com os diversos povos na região.
A região da Palestina, como mencionamos, foi sempre muito disputada. Historicamente diversos povos podem alegar alguma conexão em determinado momento histórico com aquela região. Um dos maiores exemplos desta disputa foram as Cruzadas organizadas pela Igreja Católica com o objetivo de domínio de Jerusalém. Depois, em 1259 o Império Otomano conquista e inicia seu processo de dominação no local. Diferente dos Judeus, para quem a ligação com a região é de cunho religioso, para os árabes esse sentimento de pertença à região gira sobretudo em torno da história contínua que possuem pela presença histórica naquela zona. Inúmeras gerações dos familiares dos árabes palestinianos viveram, cresceram e morreram neste espaço; seus ossos permanecem no local, criando assim raízes históricas de pertencimento.
Perseguições aos Judeus na Europa.
O antissemitismo, isto é, a discriminação por motivos religiosos, é um fato que está intrinsecamente vinculado a história do povo Judeu. A vida na diáspora e a necessidade de uma constante de reconstruir suas vidas num lugar diferente devido às perseguições que sofriam foi algo com o qual os judeus sempre tiveram que conviver. De acordo com a BBC (2015) houve expulsão de Judeus na Europa, diversas vezes e por diversos motivos, como, por exemplo, em 1290, 1306 e 1012 foram expulsos pela Inglaterra, França e Alemanha por questões financeiras para que fosse adquirido suas propriedades para as coroas, na Espanha em 1492 ambicionar um país apenas cristão a coroa emitiu um comunicado
aos judeus e muçulmanos com a necessidade de se converterem ou seriam banidos. Quatro anos depois, em Portugal, é decidido tomar a mesma decisão que a Espanha, no século XIV a Hungria os expulsou por acreditarem que eles eram os responsáveis pela Peste Negra na Europa. Além dos mais conhecidos como os “pogrom” na Rússia que durou até alguns anos depois da revolução socialista e na Alemanha com o Nazismo de 1939 até 1945 que resultou na morte de 6 milhões de judeus.
Independentemente de qualquer narrativa que o conflito Israelo-palestina possa criar perante a imagem dos judeus, nunca podemos esquecer os fatores históricos. Estamos perante um grupo constantemente perseguido pela sua religião. A utilização do discurso antissemita durante a história teve sempre um caráter mobilizador social para ações de políticas. Reconhecer as mazelas qual sofreram é um dever histórico de toda sociedade contemporânea.
Surgimento do movimento Sionista
A situação em que se encontravam os Judeus na Europa sempre foi motivo de preocupação para população judaica, principalmente na Europa Oriental onde ocorria a maioria dos"pogrom". Neste cenário surge Theodor Herzl, um judeu nascido em Budapeste em 1860 e que se tornou jornalista sua profissão (Faingold,2010). Preocupado com as condições de vida da maioria dos judeus na Europa, viu na criação de um Estado-Nação judaica a única possibilidade de paz para os judeus. Todos seus pensamentos e ideias foram concretizadas no livro “O Estado Judeu”, publicado originalmente em 1896. O objetivo da sua ação era atrair o máximo de Judeus para apoiar a causa e para isso organizava palestras, congressos e a produção de artigos para a popularização da ideia.
Em sua dissertação de mestrado, Gomes (2001) relata que nos congressos sionistas a busca da localização desta terra seria entre a Argentina e a Palestina, porém acabou sendo decidido na região da Palestina, pelo seu contexto histórico. Para a realização deste plano, Herzl procurou o apoio de lideranças lutando assim contra a clara postura discriminatória perante os judeus que existia na Europa. Sua esperança era mobilizar esses líderes a contribuir na construção de um Estado Judeu para que pudessem se livrar deste grupo social em seus países.
De acordo com os autores citados, podemos identificar características muito sintomáticas para se entender o conflito israelo-palestiniano, o primeiro sintoma é sobre a escolha do local da construção do Estado, pois ambos lugares eram habitados, Argentina no caso já era um Estado-Nação consolidado. Quanto à opção pela região da Palestina, ao analisarmos o cenário geopolítico na época ele acaba por ser bastante explicativo. Estava-se no auge do imperialismo contemporâneo. A utilização de discursos como missão do homem branco civilizador em territórios do Oriente Médio auxiliava na criação da ideia sobre como seria benéfico um Estado com experiência europeia.
Acordos da Grã-Bretanha sobre o pós-Primeira Guerra Mundial.
	A busca de apoio financeiro e político para a criação de um Estado Judeu independente foi uma prioridade para o movimento sionista, consciente da importância que um apoio político internacional seria para os seus objetivos. Com a morte de Herzl, em 1904, surge em 1905 um novo ator no movimento sionista. De acordo com Gomes (2001) Chaim Weizmann emigrante da Rússia torna-se a liderança política do movimento, decidindo que a única terra com interesse para implantação do Estado Judaico seria a Palestina.Para conquista do apoio político Weizmann no ano seguinte começa a instituir relações com a Grã Bretanha, onde seu discurso causou fortes influências em Arthur Balfour, assim como David Lloyd George e Herbert Samuel.
A estratégia do líder da OSM era conquistar espaço dentro do governo Britânico, criar influências, gerar contatos e principalmente atrair judeus que concordavam com o objetivo final . Como nota Gomes:
Em 1915, Balfour tornou-se membro do governo e, juntamente com outros membros pró-sionistas, começou a apoiar os objetivos sionistas, embora de forma cautelosa porque o Primeiro Ministro, Asquith, se empenhava na política de substituir a amizade dos turcos pela dos árabes, no Oriente Médio, desenhando uma estratégia de defesa da região, na Primeira Guerra. No entanto, a diplomacia sionista, através de James Malcolm, convenceu Mark Sykes, Secretário Assistente do Gabinete de Guerra, a entrar em negociações diretas com os sionistas, alegando que Judge Brandeis, um sionista americano de renome, amigo íntimo do Presidente Wilson, poderia exercer grande influência para trazer os EUA para a Guerra. Isto garantiu aos sionistas a permissão para utilizar os recursos de
comunicação britânicos para contatar os sionistas ao redor do mundo. (GOMES, 2001, p.14)
A influência de Weizmann já estava infiltrada no governo britânico, a ideia de que haviam sionistas com importantes redes de relações políticas, como no caso com o Presidente norte-americano Wilson que poderia exercer grande influência para trazer os Estados Unidos para uma guerra é muito significativa. Com o contexto político da época era de tensão, com o acontecimento da Primeira Guerra Mundial. Sendo a primeira guerra desta magnitude, com corrida armamentista avançada, a Grã Bretanha ao entrar em confronto com Império Otomano a possibilidade de trazer para a guerra os Estados Unidos seria muito benéfico.
Para os sionistas o cenário era muito favorável, dada a sua influência dentro do governo Britânico e com o Império Otomano possuindo as terras da região da Palestina. A única dúvida era sobre quem ganharia a guerra. Acrescenta Gomes:
Em 1916, Lloyd George assumiu como Primeiro Ministro e em seguida, Balfour foi indicado para o cargo de Secretário de Relações Exteriores, trazendo aos sionistas uma grande vitória. Em novembro de 1917, o governo britânico ofereceu apoio oficial ao programa sionista, expresso na Declaração de Balfour. (GOMES, 2001, p.14)
A relação estabelecida entre Weizmann e Arthur Balfour gerou o melhor resultado para os sionistas, pois foi a oportunidade perfeita para conquistar o apoio político europeu tão necessário para a construção do projeto sionista.
O interessante é que no período da Primeira Guerra Mundial, a Grã Bretanha não utilizou apenas das influências dos sionistas como vantagem de guerra. Os britânicos fizeram no total três acordos durante o período sendo dois excludentes entre si como podemos ver em Gomes (2001), constituindo assim outro fator agravante para o conflito Israelo-palestiniano.
O primeiro acordo teve como objetivo conseguir o apoio militar árabe, garantindo em caso de vitória a independência dos povos árabes, podendo ser como um Estado árabe independente ou de uma confederação de Estados árabes independentes. Contínua Gomes:
Esse acordo foi formalizado através da correspondência Husayn- McMahon (1915-1916) e através de declarações e memorandos do governo britânico. Sir Henry McMahon era o Alto Comissário
britânico no Egito, representando o governo de Sua Majestade; Sharif Husayn, Emir de Meca, era o chefe da família Hashemita de Hijaz, um clã nobre, descendente do Profeta Muhammad, ao qual foi garantido pelos turcos o privilégio de guardar os dois lugares mais sagrados do Islã, Mecca e Medina. Devido à sua posição, ele exercia grande influência sobre os árabes. Sharif Husayn estabeleceu em detalhes os limites dos territórios a que se referia no acordo, nos quais se inclui expressamente a Palestina. (GOMES, 2001, p.19)
Este acordo apresentava assim uma base jurídica a favor dos árabes na região da Palestina, prometendo que, após anos de controle pelo Império Otomano, teria por fim sua autonomia sobre o território.
O segundo acordo é chamado de Sykes-Picot, foi um acordo secreto estabelecido em maio de 1916 entre as potências da Entente. Grã Bretanha, França, Rússia e Itália entraram em um processo de negociação sobre o pós guerra nas regiões em domínio do Império Otomano. Ao ganhar a guerra o território seria dividido em esferas de influência das potências. Como nota Gomes:
No princípio, havia a intenção de se estabelecer na Palestina um regime internacional, por ser um local sagrado para três religiões de âmbito mundial, mas, posteriormente, ela acabou ficando sob o controle britânico. A denúncia e revelação do acordo Sykes-Picot pelo governo soviético, após a revolução de 1917, e declarações contraditórias da política britânica despertaram temores nos árabes, levando a Grã Bretanha a dar novas garantias ao seu líder. Em novembro de 1918, a França e a Grã Bretanha, em declaração conjunta, repetiam a garantia dos compromissos assumidos com Husayn. (GOMES, 2001, p.20)
A Inglaterra utilizou esses acordos para aumentar seu poder de guerra contra o inimigo. A necessidade de atender os interesses de seus aliados demonstrou um comportamento de pensamento a curto prazo:
A Inglaterra, contudo, precisava atender, também, aos interesses de sua principal aliada naquela região e, por isso, apesar de aparentemente aceitar o grandioso projeto de Hussein, negociou com a França, secretamente, a divisão das províncias árabes do Império Otomano em áreas de influência, à revelia dos interesses destas. O acordo assinado em 1916, que teve, ainda, a participação da Rússia
tzarista, recebeu o nome dos secretários de Estado que conduziram as negociações – Mark Sykes, pela Inglaterra, e Georges-Picot, pela França. (NEVES,2007, p.35)
O terceiro acordo foi com a OSM, acordo que entrava em confronto com o primeiro com os árabes, onde Arthur Balfour, então Ministro de Relações Exteriores Britânico, redigiu uma carta formalizando seu apoio a criação de um Estado Judeu na região da Palestina. Essa carta, ficou conhecida como Declaração de Balfour (anexo 1).
A declaração foi o suficiente para legitimar a movimentação sionista na região da Palestina. Com o vencer da guerra e o início da ocupação inglesa na região, os sionistas se viam amparados juridicamente pelos ingleses. A OSM tinha o conhecimento que apenas com o apoio de uma potência europeia seria possível a realização da empreitada e Weizmann conseguiu com sua influência sobre funcionários.
O processo de migração Judaica para região da Palestina.
Diversos fatores devem ser analisados ao pensarmos sobre a migração de judeus para a Palestina. Após diversos congressos, os Judeus que se sentiram mobilizados para ideia do sionismo e da formação de um estado judaico na Palestina e começaram a comprar terras na região (Neves, 2007). Foi então criado o Fundo Nacional Judaico onde todas as doações seriam direcionados para a compra de terras na região para colonização. Em 1908, foi fundada a Palestine Land Development Company que tinha como objetivo a compra de terras e treinar Judeus para desenvolver a agricultura na região.
De acordo com Gomes (2001), a estratégia utilizada pela OSM, com o apoio da administração militar Britânica, era de comprar terras e promover a migração em massa de Judeus para a região. De 1920 até 1929 entraram legalmente cerca de 100 mil judeus, somando um total de 445 mil, aumentando esse número em 1946 com 608 mil judeus na região. Mas mesmo após todo esse esforço, os judeus ainda não eram a maioria da população naquela região.
Esse processo é muito interessante para compreender a heterogeneidade do sionismo neste período, pois, o apoio ao movimento vinha de diversas vertentes do judaísmo, uns acreditavam realmente que aquele espaço seria a terra prometida e outros abraçaram a ideia do Estado Judeu por acreditar que seria a únicamaneira para uma existência em paz.
Com o decorrer da primeira década do século XX, a migração de judeus foi se tornando um fato cada vez mais presente na área. A validação que detinha a declaração de Balfour vinha de acordo com a ideia de Herzl sobre os apoios necessários para a criação do Estado. Para Pappe (2006. p.50), Herzl compreendeu que o Sionismo não seria sucesso sem o apoio Europeu1.
O sentimento nacionalista Judeu com o imaginário da “volta à terra Santa” tem fortes ligações com a questão religiosa que permeia todo o grupo. Concomitante a este imaginário, o continente Europeu ia se tornando cada vez mais impossível para um Judeu viver, a fuga para sobrevivência era algo real. A necessidade de fuga se tornou gritante no século XX ainda mais em 1939 com o surgimento da Segunda Guerra Mundial onde o número de Judeus com intenção de migração para área chegou a números alarmantes.
Mandato Britânico na Palestina
Após a vitória na Primeira Guerra Mundial contra o Império Otomano, a Grã Bretanha assumiu o território do oriente médio estabelecendo uma organização administrativa, política e militar. Esse processo de controle da região sendo conhecido como Mandato Britânico sob os auspícios da Liga das Nações. Neste momento:
A OSM, para realizar seu projeto de um Estado judeu, necessitava de três elementos característicos: território, população e governo. O Mandato britânico propiciou a base para se erigir as instituições de um governo sionista sobre o território ocupado pelos árabes. Durante o Mandato, de 1922 a 1948, todos os poderes legislativos e executivos foram controlados pelo Alto Comissário, representando o governo britânico. Foi negado aos árabes qualquer direito de autonomia, inclusive de participar da Administração. Entretanto, os judeus gozavam de status privilegiado. (Gomes, 2001,p.25)
Com isto já podemos identificar outro fator sintomático para a compreensão do conflito Israelo-palestiniano, a questão dos privilégios usufruídos pela população recém- chegada, privilégios que as pessoas que aí residiam anteriormente não possuíam. Essa relação desnivelada entre dois grupos é muito representada no pensamento na época. A forma como no Ocidente se interpreta o Oriente, a mentalidade imperialistas da época com imaginário do

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