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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Direito Penal Parte Especial Crimes Contra a Vida Homicídio Doloso Simples Para o direito penal, há dois tipos de vida: ● Vida intrauterina \ é a vida do feto presente dentro do saco amniótico, tal que é relevante somente para o crime de aborto nos crimes contra a vida ● Vida extrauterina \ é a vida fora do saco amniótico (no início do parto, não sendo necessário nem que o bebê tenha respirado), relevante para todos os crimes contra a vida, exceto o aborto (relevante, logo, ao homicídio) ○ Nascente \ é a pessoa que está em início de parto (rompimento do saco amniótico) mas que ainda não respirou ○ Nascido \ (neonato) ser que já foi parido Quando o crime contra a vida é doloso, a competência de julgamento é do Tribunal do Júri (art. 5º, XXXVIII, "d", CF/88) e, quando culposo, é da Vara Criminal comum. Dito isso, é essencial saber que o único crime contra a vida que admite forma culposa é o homicídio. Art. 121 - (Homicídio simples) Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. § 1º - (Caso de diminuição de pena) Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. § 2° - (Homicídio qualificado) Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. VI - (Feminicídio) contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2o-A - Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. § 3º - (Homicídio culposo) Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. § 4o - (Aumento de pena) No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. O crime de homicídio doloso pode ser praticado de quatro formas diferentes descritas ao longo de todo o artigo: ● Simples \ (art. 121, caput) é a supressão da vida humana extrauterina (nascente ou nascido) praticada por outra pessoa, tal que a vida se esgota quando a atividade encefálica acaba [Pena: 6 a 20 anos] 1 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Homicídio Doloso Privilegiado ● Privilegiado \ (art. 121, § 1º) para o homicídio ser privilegiado, basta que o sujeito tenho o cometido em uma dessas situações: ○ Por relevante valor social \ o motivo do homicídio atende aos interesses da coletividade (todo o corpo social), e não somente do agente (ex.: o assassinato de um político corrupto por um agente revoltado) ○ Por relevante valor moral \ o motivo se relaciona a um interesse particular do responsável, aprovado pela moralidade prática e considerado nobre e altruísta (ex.: matar aquele que estuprou sua filha ou esposa) ○ Eutanásia \ modo comissivo de abreviar a vida de uma pessoa portadora de doença grave, em estado terminal, sem cura ou recuperação pela ciência, configurando, sim, um privilegiador de homicídio ○ Ortotanásia \ a pessoa em estado já descrito tem seu tratamento interrompido, deixando a doença atacar, não sendo crime se de acordo com a vontade da pessoa ou do representante legal ○ Distanásia \ prolongamento da vida de uma pessoa sem levar em consideração o conforto ou sofrimento causado pelo procedimento, logo, não é crime ○ Sob domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima \ o agente tem que estar sob domínio de violenta emoção (e não influencia) e tem que ter sofrido uma provocação injusta imediata – semelhante ao caso de legítima defesa – logo, não pode ser um crime premeditado [Pena: reduzida de ⅙ a ⅓] Homicídio Doloso Qualificado ● Qualificado \ (art. 121, § 2º) os qualificadores do homicídio são aspectos que tornam o crime ainda mais grave do que já é, sendo esses motivos: ○ Mediante paga ou promessa de recompensa, ou outro motivo torpe \ (homicídio mercenário) "torpe" vem de um motivo repugnante e reprovável moralmente, exemplificado pelo mercenarismo e tornando-se um qualificador do homicídio – vingança e ciúmes não necessariamente são um motivo torpe (ex.: mata alguém por dívidas ilegais) ○ Motivo fútil \ é um motivador insignificante e desproporcional à natureza do crime praticado, fundamentado no direito como motivo egoísta – a ausência de motivo e ciúme não é um motivo fútil, diferentemente da embriaguez que pode vir a ser ○ Meio insidioso, cruel ou perigo comum \ (veneno – sem saber que está ingerindo veneno, explosivo, asfixia, tortura…) os meios são descritos por: ○ Meio insidioso \ consiste no uso de estratagema, perfídia ou fraude para cometer um crime sem que a vítima o perceba (ex.: retirar o óleo do carro da vítima para provocar um acidente fatal) ○ Meio cruel \ proporciona à vítima um intenso e desnecessário sofrimento físico ou mental, quando poderia ter sido praticada de forma menos dolorosa (ex.: matar alguém lentamente com inúmeros golpes de faca em região não letal) ○ meio que possa resultar em perigo comum \ aquele que expõe não somente a vítima, mas diversas pessoas a uma situação de probabilidade de dano (ex.: diversos tiros na vítima em rua movimentada) ○ Impossível defesa do ofendido \ exemplifica-se pela traição, dissimulação e emboscada ○ traição \ o ofendido confiava, previamente, no agente do crime, tendo sua confiança traída fisicamente (ex.: atirar pelas costas) ou moralmente (ex.: atrair a vítima para um precipício) ○ Dissimulação \ é a atuação disfarçada, hipócrita, que oculta a real intenção do agente, podendo ser material (ex.: emprego de algum aparato, tal como uma farda policial) ou moral (ex.: demonstração falsa de simpatia ○ Emboscada \ o agente aguarda escondido, em determinado local, para matar a vítima desprevenidamente ○ Assegurar aexecução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime \ se divide em dois tipos de conexão com outro crime: ○ Conexão teleológica \ o homicídio é praticado para assegurar a execução de outro crime, matando alguém primeiro para praticar outro delito (ex.: matar o segurança para sequestrar o empresário) ○ Conexão consequencial \ o homicídio é cometido para assegurar a ocultação, a impunidade (ex.: queima de arquivo) ou a vantagem de outro crime (ex.: o sujeito comete um crime e só depois o homicídio) ○ Feminicídio \ o homicídio é praticado contra uma mulher por razões do sexo feminino – violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher – a pena é aumentada de acordo com os incisos do parágrafo sétimo do art. 121, CP ○ Contra autoridades, forças armadas e segurança pública \ a qualificadora ocorre sempre quando se mata um agente descrito nesse inciso em exercício de função ou quando a motivação decorre da função da vítima ○ Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido \ (empregado pela Lei 13.964/2019 – pacote anti-crime) ocorre com o uso de arma de fogo que possui uso restrito ou proibido ○ O porte da arma de fogo pode ser pessoal ou funcional, sendo o uso permitido, restrito ou 2 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial proibido – sendo que se o porte for pessoal, a única possibilidade é de uso permitido [Pena: 12 a 30 anos] Um homicídio pode ser considerado como qualificado e privilegiado ao mesmo tempo desde que as qualificadoras forem objetivas (incisos III e IV, que tem a ver com o meio e não com o motivo), deixando de ser um crime hediondo. Quando hámais de uma qualificadora, o magistrado usa uma delas para qualificar o crime, e as demais são circunstâncias judiciais desfavoráveis, que influenciam na dosimetria da pena-base (1º fase). Homicídio Doloso Majorado ● Majorado \ (art. 121, § 4º, 2a parte, § 6º, § 7º) a pena aumenta por praticar o crime contra menor de 14 anos ou maior de 60 anos. Além de quando a pena é praticada por milícia privada em prestação de serviço de segurança ou por grupo de extermínio – além dos destaques do último parágrafo sobre a qualificante do feminicídio [Pena: aumentada em ⅓] Homicídio Culposo Se culposo (exceto na condução de veículo automotor, que é aplicado outro código), pode estar presente de três formas: ● Simples \ (art. 121, § 3º) homicídio dado por negligência, imprudência ou imperícia [Pena: 1 a 3 anos] ● Majorado \ (art. 121, § 4º, parte 1) é causa de aumento de pena no homicídio culposo se: ○ Inobservância da regra técnica, arte ou ofício \ o sujeito tem a perícia, mas por negligência ou imprudência ele a ignora ○ O agente não presta socorro ○ Foge para evitar prisão em flagrante [Pena: aumentada em ⅓] ● Perdão judicial \ (art. 121, § 5º) é um tipo de exclusão de punibilidade que ocorre somente na hipótese de homicídio culposo se as consequências da infração atingirem o agente de forma tão grave que a sanção penal é desnecessária (hipótese de bagatela imprópria) [Pena: excluída] Induzimento ao Suicídio ou à Automutilação Art. 122 - (Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação) Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. § 1º - Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. § 2º - Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 3º - A pena é duplicada: I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. § 4º - A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. § 5º - Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual. § 6º - Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. § 7º - Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. ● Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou à automutilação \ (art. 122, caput) crime que considera três formas de consumação (abaixo) a fim da vítima (terceira pessoa determinável) sofrer um suicídio ou automutilação (que não é crime pelo princípio da alteridade) ○ Induzir \ fazer nascer a ideia ○ Instigar \ potencializar uma ideia já existente ○ Auxiliar \ ajudar materialmente A Lei 13968 de 2019 passou a considerar este fato típico como um crime formal, logo, a simples conduta de induzir, instigar ou auxiliar alguém já consuma o delito, com ou sem alguma tentativa da vítima de suicídio ou automultilação. As formas do crime são: ● Simples \ (art. 122, caput) induzir, instigar ou auxiliar alguém a cometer suicídio ou automutilação (crime formal) [Pena: 6 meses a 2 anos] ● Qualificado \ existem dois qualificadores para esse tipo penal: ○ § 1º \ (art. 122, § 1º) o crime resultou em lesão corporal de natureza grave ou gravíssima da vítima [Pena: 1 a 3 ano] ○ § 2º \ (art. 122, § 2º) o crime resultou na morte da vítima [Pena: duplicada] 3 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Crime de lesão corporal ou homicídio \ (art. 122, §§ 6º e 7º) o crime passa a ser de lesão corporal de natureza gravíssima caso a vítima seja menor de 14 anos, não possua discernimento por deficiência mental ou não possa oferecer resistência e resulta em lesão corporal de natureza gravíssima – ou passa a ser homicídio consumado caso essa mesma vítima morra [Pena: desclassificação] O tipo penal não admite tentativa a menos que, sendo plurissubsistente, a indução, instigação ou auxílio não chegar até a vítima pretendida. ● Majorado \ as causas de aumento de pena são as seguintes: ○ § 3º \ (art. 122, § 3º) a pena duplica se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil e/ou se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, capacidade de resistência [Pena: duplicada] ○ § 4º \ (art. 122, § 4º) a pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, rede social ou transmitida em tempo real [Pena: multiplicada até o dobro] ○ § 5º \ (art. 122, § 5º) a pena aumenta pela metade se o agente for líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual [Pena: aumentada pela metade] Infanticídio Art. 123 - (Infanticídio) Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. O tipo penal de infanticídio qualifica-se por um crime material que difere-se do tipo do homicídio por elementos especializantes, sendo que é um crime próprio quanto ao sujeito ativo: deve ser mãe e estar sob a influência do estado puerperal. ● Estado puerperal \ perturbação psicossomática (sintomática da depressão pós parto) que causa na mãe a vontade de matar o próprio filho A descrição de infanticídio declara que o infanticídio deve ser cometido durante o parto (nascente) ou logo após (analisado pela medicina legal). É possível que qualquer pessoa pratique infanticídio desde que aja em concurso de pessoas (art. 30, CP) juntamente à mãe na hora do crime. Caso a mãe mate outra criança ao invés do seu filho, o erro de tipo acidental sobre a pessoa (art. 20,CP) exige que ela responda por quem queria atingir, logo, é infanticídio e não homicídio. Aborto Art. 124 - (Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento) Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos. ● Aborto \ (art. 124) a gestante provoca aborto em si mesma ou consente para que alguém o provoque, sendo, portanto, um crime de mão própria (não há coautoria) ○ Participe \ alguém pode atuar em concurso de pessoas como participe no crime de aborto (art. 124) ao instigar, induzir ou auxiliar a conduta da gestante [Pena: 1 a 3 anos] Esse tipo penal é doloso e material, logo, é possível ser um crime tentado. Art. 125 - (Aborto provocado por terceiro) Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. ● Aborto sem consentimento \ (art. 125) há duas vítimas, o feto e a gestante (crime de dupla subjetividade passiva), tal que qualquer pessoa pode praticá-lo [Pena: 3 a 10 anos] Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. § Ún. - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência ● Aborto com consentimento \ (art. 126) esse tipo penal refere-se à quem executa o aborto consentido, e não a quem induz, instiga e auxilia, (ex.: o médico que abortou responde pelo 126, o namorado da gestante que instigou responde pelo 124) [Pena: 1 a 4 anos] ○ § Único \ (art. 126, § Ún.) com a gestante sendo menor de 14 anos, alienada ou débil mental, ou com consentimento sob fraude, grave ameaça ou violência, a pena aumenta [Pena: 3 a 10 anos] Art. 127 - (Forma qualificada) As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 4 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Qualificado \ (art. 127) para provocação de aborto com ou sem consentimento (arts. 125 e 126), a pena aumenta em ⅓ se resultar em lesão corporal de natureza grave ou é duplicada se causar a morte da gestante – a lesão e a morte são causadas de forma culposa e designam, portanto, um crime preterdoloso, onde não se há intensão de lesionar nem matar, somente de abortar [Pena: aumentada ⅓ ou duplicada] Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - (Aborto necessário) se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - (Aborto no caso de gravidez resultante de estupro) se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. ● Aborto terapêutico necessário \ (art. 128, I) aborto praticado por médico em que não há outro meio de se salvar a vida da gestante, tal que não é uma questão de escolha da mãe – é fato típico mas não antijurídico por estado de necessidade [Pena: excluída] ● Aborto humanitário \ (art. 128, II) quando a gestação decorre de estupro, se a mãe ou representante legal consentir, há a possibilidade de aborto praticado por médico – é fato típico mas não antijurídico por exercício regular de direito [Pena: excluída] ● Aborto eugênico \ (APDF 54, não contido em lei) é o abortamento de um feto com anencefalite e com consentimento da gestante – não é um fato típico já que é um crime impossível [Pena: não há] Crime de Lesão Corporal Observações Gerais Art. 129 - (Lesão corporal) Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 1º - (Lesão corporal de natureza grave) Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2° - Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incuravel; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 3° - (Lesão corporal seguida de morte) Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. § 4° - (Diminuição de pena) Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Substituição da pena § 5° - O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. Lesão corporal culposa § 6° - Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano. § 7º - (Aumento de pena) Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. § 9º - (violência doméstica) Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. § 10 - Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). § 11 - Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. § 12 - Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. § 13 - Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). O crime de lesão corporal é um crime comum quanto ao sujeito ativo e passivo, de forma que todos podem praticar e ser vítima dele – sendo o dolo do tipo penal o ato de lesionar somente. Em sua forma dolosa, admite tentativa por ser um crime material. ● Lesão corporal \ (art. 129, caput) a conduta do agente é dirigida a ofender a integridade física ou a saúde da vítima 5 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial (ex.: lesionar o nariz da vítima ou transmitir uma doença incurável) ● Vias de fato \ é uma contravenção na qual não há lesão na vítima (ex.: puxar o cabelo), já que a dor, desacompanhada de alteração anatômica ou ofensa à saúde, não constitui lesão ○ Equimoses \ rompimento de pequenos vasos sanguíneos no tecido subcutâneo e que, por romper tecidos e provocar um roxo, caracteriza lesão corporal ○ Eritemas \ são um deslocamento sanguíneo momentâneo que provoca vermelhidão na pele – caracterizando contravenção de vias de fato ou tentativa de lesão corporal Obs.: A realização de tatuagens e piercings em menores de idade caracteriza crime de lesão corporal para quem realizou o procedimento. Gravidade da Lesão Corporal ● Gravidade da lesão \ a gravidade da lesão interfere na tipificação somente se o crime for doloso A gravidade da lesão pode classificar o crime doloso em quatro categorias diferentes: ● Lesão leve \ (art. 129, caput) qualifica-se pelas características da lesão que não se enquadram como grave ou gravíssima, ou seja, é obtida por exclusão [Pena: 3 meses a 1 ano] ● Lesão grave \ (art. 129, § 1º) resulta em: incapacidade das ocupações habituais (trabalhos e rotinas), por mais detrinta dias; perigo de vida; debilidade permanente de membro, sentido ou função; ou aceleração de parto [Pena: 1 a 5 anos] ● Lesão gravíssima \ (art. 129, § 2º) resulta em: incapacidade permanente de trabalho; enfermidade incurável; perda ou inutilização de membro, sentido ou função; deformidade permanente; ou aborto (o aborto é culposo, agindo como qualificadora) [Pena: 2 a 8 anos] ● Lesão seguida de morte \ (art. 129, § 3º) a intenção é exclusivamente lesionar, e não a morte, sendo caracterizado como um preterdolo – a agente não quis a morte e nem assumiu o risco de produzi-la, não abrangendo, também, mortes inesperadas e imprevisíveis [Pena: 4 a 12 anos] Lesão Privilegiada e Culposa ● Lesão Privilegiada \ (art. 129, § 5º) ocorre quando o agente comete a lesão por motivo de relevante valor social ou moral ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida injusta provocação da vítima [Pena: reduzida de ⅓ a ⅙] ● Substituição da pena \ (art. 129, § 5º) não sendo graves ou gravíssimas as lesões, sendo privilegiado e se forem recíprocas, a pena de detenção pode ser substituída pela de multa (200 mil réis a 2 contos de réis) [Pena: multa] ● Lesão culposa \ (art. 129, § 6º) ocorre quando, por negligência, imprudência ou imperícia, há danos à saúde ou integridade corporal da vítima sem que seja relevante a gravidade da lesão [Pena: 2 meses a 1 ano] Lesão Majorante e Perdão Judicial ● Majorante \ (art. 129, § 7º) o aumento de pena ocorre se o crime foi praticado por milícia privada em serviço ou grupo de extermínio ou se, nos seguintes casos, ocorrer: ○ Culposa \ se o agente age sob inobservância de arte/ofício, deixa de prestar socorro à vítima ou foge para evitar prisão em flagrante ○ Dolosa \ se o agente é menor de 14 anos ou maior de 60 anos [Pena: aumento de ⅓] ● Perdão judicial \ se as consequências da lesão culposa à vítima atingiram o próprio agente de forma proporcional, há a extinção da punibilidade [Pena: excluída] Lesão em Violência Doméstica A lesão corporal em contexto de violência doméstica é um tipo penal qualificante que atinge vítimas específicas. Caso ela seja culposa, a qualificante não se aplica, se dolosa, temos os seguintes casos: ● Violência doméstica leve \ (art. 129, § 9º) ocorre contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, coabitante ou hóspede [Pena: 3 meses a 3 anos] ● Violência doméstica grave \ (art. 129, § 10º) sendo a violência doméstica grave, gravíssima ou seguida de morte, a tipificação do crime será nos parágrafos correspondentes, possuindo um aumento qualificante por ser doméstico [Pena: aumento de ⅓] ● Vítima doméstica deficiente \ (art. 129, § 11º) caso a vítima do § 9º seja portadora de deficiência, a pena é aumentada [Pena: aumentada em ⅓] ● Sexo feminino \ (art. 129, § 13º) se uma lesão qualquer for praticada contra uma mulher por causa do seu sexo 6 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial feminino (como descrito no art. 121, § 2º-A, misogenia), a pena é de: [Pena: 1 a 4 anos] Ação Penal ● Ação pública incondicionada I \ (art. 100, CPB) ocorre quando a lesão é grave, gravíssima ou seguida de morte em qualquer contexto (doméstico ou não) ● Ação pública condicionada \ (art. 88, Lei 9.099/95) quando a lesão é leve e culposa e tem como vítima um homem (independentemente do contexto) ou mulher (em situação não doméstica) ● Ação pública incondicionada II \ (ADI 4.424/DF e súmula 542 do STJ) quando a lesão é leve e culposa e a vítima é mulher em contexto doméstico Periclitação da Vida e da Saúde & Rixa Perigos de Contágio e à Saúde Nesses tipos penais, estamos falando de crimes de perigo (abstratos ou concretos), ou seja, aqueles que ameaçam o bem jurídico que possuem probabilidade de sofrer uma lesão. Art. 130 - (Perigo de contágio venéreo) Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º - Somente se procede mediante representação. ● Perigo de contágio venéreo \ (art. 130, caput) crime concreto em que a vítima é posta em perigo conscientemente por um agente que não deixa explícita a doença, por meio de um ato libidinoso, à uma doença venérea (transmissão se dá pelo ato libidinoso tão somente, logo, HIV não é contemplado) [Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa] ● Qualificado \ (art. 130, § 1º) a intenção do agente é transmitir a moléstia, sendo um dolo de dano [Pena: 1 a 4 ano, e multas] Portanto, é um crime próprio quanto ao sujeito ativo (preexistência da doença venérea) e comum ao passivo. É comissivo (expor) mas pode ser omissivo na forma imprópria – admite, também, a tentativa, sendo consumado quando o perigo é exposto. Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. ● Perigo de contágio de moléstia grave \ (art. 131, caput) é um crime de dano pela redação da lei que, por sua vez, é a prática de um ato por um sujeito ativo próprio portador de uma doença grave (tipo penal em branco heterogêneo) a fim de contaminar outra pessoa, admitindo tentativa (ex.: agente com intenção de transmitir HIV por qualquer via necessária) [Pena: 1 a 4 anos, e multa] Os dois artigos admitem crime impossível nos casos em que o agente não sabe que não possui a doença ou que já foi curado delas. Caso haja a contaminação, de fato, o crime pode evoluir para lesão corporal e tentativa de homicídio Art. 132 - (Perigo para a vida ou saúde de outrem) Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. § Ún. - A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. ● Perigo para a vida ou saúde de outrem \ (art. 132, caput) esse crime abrange a exposição de pessoas a perigos diretos ou iminentes contra suas vidas ou saúde [Pena: 3 meses a 1 ano] É um crime de perigo concreto subsidiário (ou seja, o agente só responde por ele caso a conduta não esteja inserida em outro tipo penal de forma mais gravosa). Crimes de Abandono Art. 133 - (Abandono de incapaz) Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de seis meses a três anos. § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. § 3º - (Aumento de pena) As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima; III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. ● Abandono de incapaz \ (art. 133, caput) crime de perigo próprio em que um sujeito ativo abandona um sujeito 7 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial passivo próprio (requer uma relação com o agente) que, independentemente do motivo, não é capaz de se defender sozinho dos riscos do abandono – admite tentativa ○ Cuidado \ assistência a pessoas com perda temporária da capacidade de cuidar de si mesmas ○ Guarda \ assistência a pessoas que não prescindem dela ○ Vigilância \ zelo pela segurança alheia (sem o rigor da guarda) ○ Autoridade \ inerente ao vínculo de poder que uma pessoa tem sobre outra [Pena: 6 meses a 3 anos] ● Qualificado \ (art. 133, §§ 1º e 2º) ocorre quando a vítima é exposta à lesão corporal preterdolosa decorrente do abandono ou à morte, tendo como pena, respectivamente: [Pena: 1 a 5 anos] [Pena: 4 a 12 anos] ● Majorante \ (art. 133,§ 3º) a pena é aumentada se o lugar do abandono é ermo (espaço sem frequente circulação de pessoas), se o agente possui relação direta com a vítima ou de responsabilidade (tutor ou curador), ou se a vítima é maior de 60 anos [Pena: aumento de ⅓] Art. 134 - (Exposição ou abandono de recém-nascido) Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de um a três anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - detenção, de dois a seis anos. ● Exposição ou abandono de recém-nascido \ (art. 134, caput) crime comissivo de perigo concreto do abandono do recém-nascido que decorre da preservação da honra da mãe ○ Desonra própria \ crime praticado honoris causa, por uma questão de honra [Pena: 6 meses a 2 anos] ● Qualificado \ (art. 134, §§ 1º e 2º) ocorre quando a vítima é exposta à lesão corporal preterdolosa decorrente do abandono ou à morte, tendo como pena, respectivamente: [Pena: 1 a 3 anos] [Pena: 2 a 6 anos] Omissão de Socorro Art. 135 - (Omissão de socorro) Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § Ún. - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. ● Omissão de socorro \ (art. 135, caput) decorre do princípio da solidariedade, ou seja, o autor do crime omissivo próprio deixa de socorrer alguém por egoísmo já que ajudar a vítima não lhe oferece risco. ○ Criança abandonada ou extraviada \ aquela que não completou 12 anos e que foi abandonada pelos responsáveis e não tem contato com a vigilância ○ Pessoa inválida \ não pode prover a própria segurança, seja por suas condições normais ou por acidente ○ Pessoa ferida \ aquela que teve ofendida sua integridade corporal ou saúde, estando incapaz de buscar auxílio a fim de evitar um dano maior à sua pessoa Pelo crime ser omissivo próprio, não admite tentativa. Esse crime também traz uma forma de aumento de pena: ● Aumento de pena \ (art. 135, § único) a pena aumenta o dobro se resultar em lesão corporal grave da vítima ou triplica se resultar em morte [Pena: duplicada (lesão) e triplicada (morte)] Art. 135-A - (Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial) Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. § Ún. - A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. Esse artigo foi inserido em 2012 em por causa da exigência de uma garantia de pagamento dos serviços antes do atendimento de emergência em hospitais antes. ● Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial \ (art. 135-A, caput) crime formal em que o agente possui dolo de perigo ao exigir garantia do paciente em situação de emergência médico-hospitalar ○ Emergência \ o tipo penal branco heterogêneo trata como emergência médica aquelas situações que implicam em risco iminente de vida ou sofrimento intenso que exijam atendimento médico imediato [Pena: 3 meses a 1 ano, e multa] ● Aumento de pena \ (art. 135, § único) a pena aumenta o dobro se resultar em lesão corporal grave da vítima ou triplica se resultar em morte de forma preterdolosa [Pena: duplicada (lesão) e triplicada (morte)] 8 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Maus-tratos Art. 136 - (Maus-tratos) Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a quatro anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. ● Maus-tratos \ (art. 136, caput) crime próprio de perigo concreto em que se o agente (do art. 133) tem finalidade de educação, ensino, tratamento ou custódia, a partir da privação de alimentação, de cuidados indispensáveis, por trabalhos excessivos ou inadequados, ou abusos de meios de correção ou disciplina – admite tentativa [Pena: 2 meses a 1 ano, ou multa] ● Qualificado \ (art. 134, §§ 1º e 2º) ocorre quando a vítima é exposta à lesão corporal preterdolosa decorrente do abandono ou à morte, tendo como pena, respectivamente: [Pena: 1 a 4 anos] [Pena: 4 a 12 anos] ● Majorante \ (art. 134, § 3º) ocorre quando a pessoa é menor de 14 anos [Pena: aumento de ⅓] Rixa Art. 137 - (Rixa) Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. § Ún. - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. ● Rixa \ (art. 137, caput) é um tumulto doloso com violência física ou vias de fato (briga generalizada) cujo objetivo é participar dessa briga desordenada, tal que a consumação se dá pela participação da rixa – admite tentativa em teoria [Pena: 15 dias a 2 meses, ou multa] É um crime comum plurissubjetivo (número mínimo de agentes necessários, nesse caso, mínimo de 3 pessoas) de menor potencial ofensivo cujo bem jurídico é a pessoa e os autores são ao mesmo tempo sujeitos ativos e passivos. Além de ser um crime de perigo abstrato. A rixa deve ser instantânea (ex improviso) e pode, dependendo da doutrina, ser planejada. ● Qualificado \ (art. 137, § único) ocorre quando há lesão corporal grave ou morte de forma preterdolosa, qualificando para todos os participantes da rixa [Pena: 6 meses a 2 anos] Crimes Contra a Honra Introdução à Honra Os crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria) são crimes formais e de menor potencial ofensivo. O bem jurídico honra se divide em dois: ● Honra objetiva \ é a visão que a sociedade tem sobre você, sua reputação (refere-se à calúnia e difamação) – a consumação se dá quando, pelo menos, uma terceira pessoa toma conhecimento da lesão da honra ● Honra subjetiva \ é a visão que você tem sobre si mesmo, sua autoestima (refere-se à injúria) – a consumação se dá quando o sujeito agredido toma conhecimento do crime Tanto na calúnia quanto na difamação temos a imputação de um fato determinado a alguém (dizer que alguém fez alguma coisa). O fato imputado, na calúnia, é previsto em lei como crime; na difamação, não é previsto em lei como crime, mas é ofensivo à reputação ou previsto em lei como contravenção. Na injúria, há uma adjetivação negativa sobre a pessoa. Calúnia Art. 138 - (Calúnia) Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. § 3º - (Exceção da verdade) Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. ● Calúnia \ (art. 138, caput) a calúnia ocorre quando a honra objetiva de alguém é ferida falsamente a partir de um discurso que imputa ao lesado a consumação de um ato criminoso (ex.: tal pessoa roubou minha bicicleta) ○ Animus caluniandi\ a doutrina define isso como o dolo específico de quem, sabendo que a afirmação é 9 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial falsa, a propaga mesmo assim, sendo, portanto, calúnia um crime doloso [Pena: 6 meses a 2 anos, e multa] ● Observações \ (art. 138, §§ 1º e 2º) a mesma pena da calúnia é aplicada para quem continua propagando, mesmo sabendo que é falsa. Além disso, a calúnia contra os mortos também é punível (sendo as vítimas os familiares, que prezam pela boa imagem do falecido) [Pena: 6 meses a 2 anos, e multa] Pela calúnia escrita ser um crime formal plurissubsistente (ato de escrever, o ato de enviar, e o ato do destinatário ler), ele admite tentativa. O crime é comum, mas há pessoas que possuem imunidade de acordo com o art. 53 da Constituição Federal, são eles os Deputados e Senadores em condutas realizadas no exercício de suas atividades. Além dos Deputados Estaduais e os Vereadores. As pessoas jurídicas só podem ser vítimas de calúnia em casos de crimes contra o meio ambiente. Difamação Art. 139 - (Difamação) Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § Ún. - (Exceção da verdade) A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. ● Difamação \ (art. 139, caput) a difamação ocorre quando a honra objetiva de alguém é ferida (falsamente ou não) a partir de um discurso que imputa ao lesado qualquer conduta que distorça sua imagem social (ex.: tal pessoa traiu a esposa) ○ Animus diffamandi \ é necessário haver dolo específico de ferir honra alheia [Pena: 3 meses a 1 ano, e multa] É um crime comummas, assim como na calúnia, há profissionais com imunidade de acordo com a Constituição Federal. No caso da difamação, mortos não são considerados, mas pessoas jurídicas sim. Injúria Art. 140 - (Injúria) Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa. ● Injúria \ (art. 140, caput) refere-se à atribuição de um adjetivo negativo para a vítima que, por sua vez, fere a honra subjetiva dela (ex.: você é um caloteiro) ○ Animus injuriandi \ é a intenção dolosa deliberada de atingir a honra subjetiva da vítima ○ Animus jocandi ou corrigendi \ é a intenção de usar uma palavra desairosa por brincadeira ou por fins de disciplina, não se classificando como crime [Pena: 1 a 6 meses, ou multa] O crime de injúria só pode ser cometido contra funcionários públicos na ausência das vítimas, caso contrário seria crime de desacato. Além disso, também admite tentativa quando por escrito. A vítima precisa ser, expressamente, alguém determinado, tal que, quando a fala for de forma genérica e abrangente, não é considerado como crime. Ademais, pessoas jurídicas não possuem autoestima, logo, não podem ser vítimas de injúria. ● Perdão judicial \ (art. 140, § 1º) admite-se perdão judicial nos casos em que a vítima da injúria foi previamente ofendida (não houve injúria, só provocação) ou em retorsão imediata (injuriar alguém que acabou de ser injuriado) [Pena: excluída] ● Injúria real \ (art. 140, § 2º) é uma qualificante na qual o agente ofende a vítima por meio de uma agressão física (violência ou vias de fato), sendo essa ofensa considerada aviltante (humilhante) em razão da natureza do ato (ex.: cuspir na vítima, jogá-la em uma fonte de água, raspar seu cabelo…) ou do meio empregado (ex.: atirar um ovo nela, jogar bolo na pessoa em uma festa…) [Pena: 3 meses a 1 ano, e multa, e a pena da violência] ● Injúria preconceituosa \ (art. 140, § 3º) é uma qualificante na qual a ofensa da injúria é um preconceito (cor, raça, etnia, religião, capacitismo, etc…) [Pena: 1 a 3 anos, e multa] 10 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Disposições Gerais sobre Crimes Contra a Honra Art. 141 - (Disposições comuns) As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; II - contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal; III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. § 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro. § 2º - Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. ● Majorantes \ (art. 141, caput) os três crimes contra a honra têm um aumento de pena caso sejam praticados contra as vítimas determinadas nos incisos listados. São listadas outras duas majorantes, também, nos parágrafos primeiro e segundo com aumentos de pena distintos [Pena: aumentada em ⅓] ● Majorantes \ (art. 141, § 2º) majora-se o crime quando é cometido em redes sociais e em rede mundial de computadores [Pena: aumentada pelo triplo] As formas de exclusão dos crimes contra a honra são listadas no artigo 142 do Código Penal: Art. 142 - (Exclusão do crime) Não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. § Ún. - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. Art. 143 - (Retratação) O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. § Ún. - Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. ● Retratação \ (art. 143, caput) nos casos de crime de calúnia e de difamação, o agente tem sua pena excluída caso se retrate com a vítima antes da sentença – é unilateral, logo, a vítima aceitar a retratação ou não, o caso é retratável. Porém, pelo parágrafo único, a vítima pode exigir que a retratação seja pelo mesmo meio do ato calunioso ou difamatório [Pena: excluída] Art. 144 - (Pedido de explicações) Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. § Ún. - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código. Crimes Contra a Liberdade Individual Constrangimento Ilegal Os crimes contra a liberdade pessoal (física ou psicológica) vão do art. 146 ao 149-A e estão inseridos nos crimes contra o bem jurídico da liberdade individual.A liberdade é um direito constitucional que garante que ninguém deve fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude da lei (art. 5º, II, CF). Art. 146 - (Constrangimento ilegal) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - (Aumento de pena) As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. É um crime comum, doloso e subsidiário (não pode ser enquadrado caso haja um crime mais grave envolvido) que se utiliza dos meios de violência (físico), ameaça (moral) ou 11 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial outros meios (produtos químicos e afins) para se obter o constrangimento. O crime é comissivo (podendo ser omissão imprópria) material em que se é possível fracionar o iter criminis, logo, admite tentativa. ● Constrangimento ilegal \ (art. 146, caput) refere-se a obrigar uma vítima a fazer algo que ela não quer, privando-a, portanto, de liberdade pessoal [Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa] A conduta se torna atípica quando a intervenção é médica ou cirúrgica em casos de risco de vida ou em casos que visam impedir o suicídio pelo (art. 146, § 3º). ● Majorante \ (art. 146, § 1º) a pena é aumentada quando a conduta envolve mais de três pessoas e quando há o emprego de armas [Pena: duplicada, e multa] Ameaça e Perseguição Art. 147 - (Ameaça) Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § Ún. - Somente se procede mediante representação. ● Ameaça \ (art. 147, caput) crime menor que consiste em privar a pessoa de uma liberdade pessoal a partir de uma ameaça direta (para a pessoa) ou indireta (para um terceiro) de forma explícita (o agente ameaça denotativamente) ou implícita (o agente ameaça por símbolos ou metáforas…) [Pena: 1 a 6 meses] Art. 147-A - (Perseguição) Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de metade se o crime é cometido: I – contra criança, adolescente ou idoso; II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código; III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma. § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. § 3º - Somente se procede mediante representação. Violência psicológica contra a mulher Art. 147-B - Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. Sequestro e Cárcere Privado Art. 148 - (Sequestro e cárcere privado) Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; V – se o crime é praticado com fins libidinosos. § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. ● Sequestro \ (art. 148, caput) tutela o bem da liberdade física (direito de ir e vir) da vítima colocando-a em um espaço de reduzida locomoção ● Cárcere privado \ (art. 148, caput) assim como o sequestro, retira o direito de ir e vir da vítima, porém, há uma privação de locomoção maior em relação ao sequestro [Pena: 1 a 3 anos] Esse crime é doloso, comum e permanente (logo, a sua consumação se perpetua com o decorrer do tempo em que a vítima está privada de liberdade). ● Qualificado \ (art. 148, §§ 1º e 2º) o crime se torna qualificado se estiver enquadrado em alguns dos incisos do primeiro parágrafo; ou, também, quando há grave sofrimento físico ou moral decorrente de maus-tratos ou da natureza da detenção [Pena: 2 a 5 anos] [Pena: 2 a 8 anos] O crime pode ser na forma de detenção (o agente priva a liberdade da vítima diretamente) ou retenção (alguém não auxilia a vítima ou se omite da situação, deixando com que a vítima continue privada de liberdade). 12 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Condição Análoga à de Escravo e Tráfico de Pessoas Art. 149 - (Redução à Condição Análoga à de Escravo) Reduzir alguém à condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem: I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. § 2º - A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. ● Redução à Condição Análoga à de Escravo \ (art, 149, caput) essa condição é alcançada a partir de trabalhos forçados, trabalhos exaustivos, condições degradantes ou que restrinjam a locomoção do trabalhador em decorrência de dívidas – (art. 149, § 1º) expressa que também se aplicam situações de retirada de documentos e transporte da vítima com finalidade de mantê-la no local [Pena: 2 a 8 anos, e multa, e penas sobre as violências] ● Majorante \ (art. 149, § 2º) a pena aumenta se o crime for cometido contra crianças, adolescentes ou por motivos preconceituosos [Pena: aumentada na metade] Art. 149-A - (Tráfico de pessoas) Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; IV - adoção ilegal; ou V - exploração sexual. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de um terço até a metade se: I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargoou função; ou IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. § 2º - A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa. ● Tráfico de pessoas \ (art. 149-A, caput) o caput descreve as condutas, os meios e as finalidades do tráfico de pessoas, tal que o primeiro parágrafo apresenta majorantes e o segundo traz uma forma privilegiada [Pena: 4 a 8 anos, e multa] Violação de Domicílio A seção II dos crimes contra a liberdade individual traz à tona os crimes contra a inviolabilidade de domicílios, estando presente o artigo 150 do Código Penal. O único crime que consta nessa seção é o de violação de domicílio, sendo ele: Art. 150 - (Violação de domicílio) Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. § 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência. § 2º - Revogado § 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências: I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. § 4º - A expressão "casa" compreende: I - qualquer compartimento habitado; II - aposento ocupado de habitação coletiva; III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. § 5º - Não se compreendem na expressão "casa": I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. ● Invasão de domicílio \ (art. 150, caput) é um crime de menor potencial ofensivo que tutela o bem jurídico da tranquilidade doméstica, sendo a conduta consumada pelo adentramento ou permanência do agente no domicílio contra a vontade de quem tem direito sobre ele [Pena: 1 a 3 meses, ou multa ] O crime é doloso, comum, de mera conduta, comissivo com relação ao verbo "entrar", permitindo tentativa, e omissivo 13 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial com relação ao verbo "permanecer". Ademais, os parágrafos quarto e quinto indicam o que se configura como "casa" para o direito penal. ● Qualificado \ (art. 150, § 1º) se dá quando o crime é praticado no período noturno, em lugar ermo, por duas ou mais pessoas, ou com o uso de armas ou violência [Pena: 6 meses a 2 anos, além da pena da violência] ● Atipicidade \ (art. 150, § 2º) a tipicidade é excluída nos casos diurnos (06:00 às 20:00) em que há a necessidade de prisão ou outra diligência ou em qualquer caso de crime ou iminência dele [Pena: excluída] Correspondência Comercial A seção III diz respeito aos crimes contra a liberdade individual referentes aos crimes contra a correspondência. O art. 151 do Código Penal refere-se à violação de correspondência, porém, esse artigo foi revogado e substituído pela Lei de Serviços Postais. Art. 152 - (Correspondência comercial) Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: Pena - detenção, de três meses a dois anos. § Ún. - Somente se procede mediante representação. ● Violação de correspondência comercial \ (art. 152, caput) é um crime próprio quanto ao sujeito ativo (sócio ou empregado do estabelecimento) em que o agente desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar o conteúdo dela [Pena: 3 meses a 2 anos] Divulgação de Segredo A seção IV é a última dos crimes contra a liberdade individual e diz respeito aos crimes contra a inviolabilidade dos segredos. O primeiro deles diz o seguinte: Art. 153 - (Divulgação de segredo) Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis a dois contos de réis. § 1º - Somente se procede mediante representação. § 1º-A - Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 2º - Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada. ● Divulgação de segredos \ (art. 153, caput) refere-se a divulgar segredos sem justa causa que, necessariamente, possam causar dano à vítima [Pena: 1 a 6 meses, ou multa] ● Qualificado \ (art. 153, § 1º-A) refere-se a divulgar informações sigilosas ou reservadas, contidas, ou não, em sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública [Pena: 1 a 4 anos, e multa] O crime é doloso, próprio em relação ao sujeito ativo (detentor do conhecimento do segredo), monossubjetivo, formal e em que a consumação se dá quando o segredo que possa resultar em dano é divulgado. Violação do Segredo Profissional Art. 154 - (Violação de segredo profissional) Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa de um conto a dez contos de réis. § Ún. - Somente se procede mediante representação. Art. 154-A - (Invasão de dispositivo informático) Invadir dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à rede de computadores, com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1o - Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. § 2º - Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão resulta prejuízo econômico. § 3º - Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 4o - Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. § 5o - Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra: I - Presidente da República, governadores e prefeitos; II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; 14 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. Art. 154-B - (Ação penal) Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos. ● Violação de segredo profissional \ (art. 154, caput) o crime próprio quanto ao sujeito próprio diz respeito à divulgação de um segredo da esfera profissional que possam causar dano a outrem [Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa] O art. 154-A (Lei carolina Dieckmann) é um crime de plástico (crime introduzido no código penal pelas mudançassócio-culturais do Brasil). ● Invasão de dispositivo informático \ (art. 154-A, caput) diz respeito à invasão de dispositivo informático com finalidade de obter, adulterar ou destruir dados ou informações, ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita – (art. 154-A, § 1º) da mesma forma de quem oferece os meios para essa inviolabilidade [Pena: 1 a 4 anos, e multa] ● Majorante I \ (art. 154-A, § 2º) ocorre quando há prejuízo econômico [Pena: aumentada de ⅓ a ⅔] ● Qualificado \ (art. 154-A, § 3º) qualifica-se quando, da invasão, obtém-se conteúdo sigiloso de conversas privadas, segredos comerciais ou industriais ou o controle remoto do dispositivo [Pena: 2 a 5 anos, e multa] ● Majorante II \ (art. 154-A, § 4º) quando, do parágrafo terceiro, houver divulgação, comercialização ou transmissão dos dados à terceiros [Pena: aumentada de ⅓ a ⅔] ● Majorante III \ (art. 154-A, § 5º) a pena é aumentada caso ela tenha sido praticada contra as pessoas listadas nos incisos do parágrafo [Pena: aumentada de ⅓ a metade] Crimes Contra o Patrimônio e Propriedade Imaterial Furto Art. 155 - (Furto) Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. § 4º - (Furto qualificado) A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. § 4º-A - A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. § 4º-B - A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. § 4º-C - A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso: I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional; II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. § 6º - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. § 7º - A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. ● Furto \ (art. 155, caput) subtrair, para si ou para outra pessoa, coisa alheia móvel ○ Subtrair coisa alheia móvel \ decorre da inversão da posse (amotio) como meio da consumação do crime, tal que o objeto do crime é algo móvel e alheio, logo, deve pertencer à alguma pessoa (sem estar perdida ou abandonada) ○ Animus furandi \ refere-se à intenção de subtrair algo, de forma que o furto de uso (subtrair, usar e depois devolver) não tem dolo de furto no código penal comum (só militar), sendo um fato atípico 15 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ○ Furto famélico \ refere-se ao furto em estado de necessidade para saciar a fome com inevitabilidade de comportamento diverso, havendo, portanto, uma excludente de ilicitude [Pena: 1 a 4 anos, e multa] É um crime comum, é material – cujo resultado se dá pela subtração da coisa – e é doloso por si só, logo, por ser doloso e material, admite tentativa. Nos casos de furto com pessoa jurídica, a consumação só se dá com a saída do agente do estabelecimento, antes disso o crime é tentado. Quando o furto é simples (não é qualificado) ele admite a aplicação do princípio da insignificância. Além disso, energia elétrica ou outra energia que tenha valor econômico pode se caracterizar como coisa móvel (art. 155, § 3º). ● Majorante \ (art. 155, § 1º) aumenta-se a pena se o crime é praticado durante o repouso noturno [Pena; aumentada em ⅓] ● Privilegiado \ (art. 155, § 2º) quando o criminoso é primário e o furto foi de coisa pequena (não é superior a 1 salário mínimo no país), pode-se substituir a pena de reclusão pela de detenção ou aplicar somente a multa – também é possível ser qualificado e privilegiado quando a qualificadora é objetiva (todas exceto abuso de confiança) [Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa] ● Qualificado I \ (art. 155, § 4º) o furto é qualificado quando: - Ocorre destruição ou rompimento de obstáculo (que não é parte integrante do que se pretende furtar) para a subtração da coisa; - Há abuso de confiança (subjetivo); mediante fraude (para subtrair, usa-se fraudulentamente uma enganação); mediante escalada (qualquer meio de esforço anormal de acesso à coisa); mediante destreza (uso de habilidade acima do normal para furtar) - Empregada chave falsa (uso de qualquer objeto que sirva para a abertura da fechadura) - Há concurso de duas ou mais pessoas (estritamente numérico) [Pena: 2 a 8 anos, e multa] ● Qualificado II \ (art. 155, § 4º-A) qualifica-se o furto quando há uso de explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum [Pena: 4 a 10 anos, e multa] ● Qualificado III \ (art. 155, § 4º-B) qualifica-se o furto quando praticado mediante dispositivo eletrônico ou informático com ou sem a violação do mecanismo de segurança ou proteção do dispositivo – sendo possível sua forma majorada pelos incisos do art. 155, § 4º-C [Pena: 4 a 8 anos, e multa] ● Qualificado IV \ (art. 155, § 5º) qualifica-se o furto quando o veículo automotor furtado é transportado para outro Estado ou País [Pena: 3 a 8 anos] ● Qualificado V \ (art. 155, § 6º) qualifica-se o furto se a coisa for semovente domesticável de produção (animal de produção, como uma vaca), ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração [Pena: 2 a 5 anos] ● Qualificado VI \ (art. 155, § 7º) qualifica-se o furto se a subtração for de explosivos ou de acessórios que, conjunto ou isoladamente, possibilitem a fabricação, montagem ou emprego [Pena: 4 a 10 anos, e multa] Furto de Coisa Comum Art. 156 - (Furto de coisa comum) Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Somente se procede mediante representação. § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. ● Furto de coisa comum \ (art. 156, caput) subtrair propriedade do condomínio, espólio ou ações para si ou para outrem [Pena: 6 meses a 2 anos, ou multa] É um crime doloso de menor potencial ofensivo e próprio (sujeito ativo e passivo condômino, co-herdeiro ou sócio). É um crime material que permite o fracionamento do iter criminis (admite tentativa), instantâneo e monossubjetivo. ● Impunibilidade \ (art. 156, § 2º) não é punível o furto de coisa fungível (bens que podem ser substituídos por outros de mesma espécie, descritos no art. 85, CV) Roubo Art. 157 - (Roubo) Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depoisde subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. § 2º - A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: I - (revogado); 16 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. VI - se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; § 2º-A - A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; II - se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. § 2º-B - Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. § 3º - Se da violência resulta: I - lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; II - morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. O roubo é um crime pluriofensivo, isso porque ele está na seção de crimes contra o patrimônio mas lesiona mais de um bem jurídico (bem jurídico principal: patrimônio; bem jurídico secundário: liberdade individual, vida…). ● Roubo próprio \ (art. 157, caput) subtração de coisa alheia móvel após ou mediante grave ameaça, violência própria (física) ou imprópria (impossibilidade de resistência da vítima; ex.: utilizar um sonífero antes do roubo) [Pena: 4 a 10 anos, e multa] É um crime comum, material (resultado é a subtração) e estritamente doloso. Além disso, é um crime complexo, ou seja, a sua construção é a reunião de dois ou mais tipos penais (art. 146 e art. 155). O crime admite tentativa. ● Roubo impróprio \ (art. 157, § 1º) subtração de coisa alheia móvel seguida de violência própria ou grave ameaça para segurar impunidade ou a detenção da coisa alheia móvel já subtraída [Pena: 4 a 10 anos, e multa] ● Majorante I \ (art. 157, § 2º) os incisos indicam os casos em que a pena do crime de roubo é aumentada: concurso de duas ou mais pessoas; vítima em serviço conhecido de transporte de valores (serviço formal para terceiros); subtração de veículo automotor transportado para outro Estado ou País; roubo com privação de liberdade para consumar o crime; roubo de substância explosivas; ou uso de arma branca [Pena: aumentada de ⅓ até metade] ● Majorante II \ (art. 157, §§ 2º-A e 2º-B) os incisos indicam os casos em que a pena é aumentada em ⅔: roubo com uso de arma de fogo (de uso permitido); ou se há destruição ou rompimento de obstáculo com emprego de explosivo A pena é dobrada casos haja o emprego de arma de fogo no crime [Pena: aumentada em ⅔ (A) ou o dobro (B)] ● Qualificado \ (art. 157, § 3º) o crime de roubo é qualificado havendo lesão corporal de natureza grave ou morte contra a vítima, sendo as penas, respectivamente: [Pena: 7 a 18 anos, e multa] [Pena: 20 a 30 anos, e multa] ● Latrocínio \ nome dado aos crimes hediondos de roubos qualificados por morte da vítima, podendo se apresentar das seguintes formas: ○ Preterdoloso \ não admite tentativa na morte ○ Estritamente doloso \ admite tentativa na morte – o latrocínio é consumado sempre que houver a morte da vítima, com ou sem subtração Extorsão Art. 158 - (Extorsão) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. § 3º - Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. ● Extorsão \ (art. 158, caput) constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, para que a vítima faça alguma coisa a fim do agente obter alguma vantagem econômica (ex.: ameaçar seu chefe para te dar um aumento) [Pena: 4 a 10 anos, e multa] O crime de extorsão é um crime formal, logo, a consumação se dá com o constrangimento da vítima (simples ato da conduta e do intuito consuma a extorsão, não necessitando do resultado para sua consumação). As ameaças podem ser em níveis tangíveis (ex.: divulgação de fotos íntimas) ou de níveis espirituais (ex.: jogar uma praga). No crime de roubo, a consumação independe de colaboração da vítima (a coisa alheia móvel pode ser roubada 17 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial independente da vontade da vítima), ao contrário da extorsão, que é dependente da colaboração da vítima (se a vítima não dar a coisa, o agente não a conseguirá)! ● Majorante \ (art. 158, § 1º) aumenta-se a pena com o concurso de duas ou mais pessoas ou com o emprego de arma (branca ou de fogo) [Pena: aumentada em ⅓ até ½] ● Qualificado I \ (art. 158, § 2º) o parágrafo terceiro do crime de roubo (art. 157, § 3º) garante a mesma pena para a extorsão qualificada para lesão corporal grave ou morte [Pena: 7 a 18 anos, e multa] [Pena: 20 a 30 anos, e multa] ● Sequestro relâmpago \ (art. 158, § 3º) é um tipo de extorsão qualificada pela privação de liberdade da vítima para constrangê-la na extorsão Se resultar em lesão grave, a pena é a do (art. 159, § 2º) e, se resultar em morte, a pena é do (art. 159, § 3º) [Pena: 6 a 12 anos, e multa] [Pena: 16 a 24 anos] [Pena: 24 a 30 anos] Extorsão Mediante Sequestro Art. 159 - (Extorsão mediante sequestro) Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. § 1º - Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. § 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. ● Extorsão mediante sequestro \ (art. 159, caput) sequestrar a vítima com a finalidade de um terceiro trazer uma recompensa patrimonial pelo resgate [Pena: 8 a 15 anos] Esse crime tutela bens jurídicos além do patrimônio, sendo eles a vida, a integridade física e a liberdade individual. Esse crime é uma junção dos art. 148 (sequestro e/ou cárcere privado) com o art. 158 (extorsão), sendo, também, um crime formal. A diferença deste artigo para o sequestro relâmpago (art. 158, § 3º) é que o sequestro tem por finalidade um terceiro pagar uma recompensa, não a vítima do sequestro. ● Qualificado I \ (art. 159, § 1º) qualifica-se quando o sequestro dura mais de 24 horas, quando a vítima é menor de idade ou maior de 60 anos ou quando o crime é cometido por bando ou quadrilha [Pena: 12 a 20 anos] ● Qualificado II \ (art. 159, §§ 2º e 3º) se o fato resulta em lesão corporal grave ou em morte, temos, respectivamente: [Pena: 16 a 24 anos] [Pena: 24 a 30 anos] ● Colaboração premiada \ (art. 159, § 4º) privilegia-se o criminoso que denuncia o crimeque está sendo cometido em concurso para alguma autoridade, facilitando a libertação do sequestrado [Pena: reduzida de ⅓ a ⅔] Extorsão Indireta Art. 160 - (Extorsão indireta) Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. ● Extorsão indireta \ (art. 160, caput) o agente exige algum documento (apto a dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou terceiro) que possa ser usado no futuro contra a vítima, usando como forma de garantia que uma dívida será quitada (ex.: a vítima entrega para o extorsionário a confissão de um crime) [Pena: 1 a 3 anos, e multa] Aqui, há o abuso da situação de necessidade do sujeito passivo, de modo que ela entregue os documentos para o criminoso – sendo o intuito principal a garantia de uma quitação da dívida. É um crime formal, necessitando somente da exigência ou do recebimento dos documentos para sua consumação. Usurpação Art. 161 - (Alteração de limites) Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem: I - (Usurpação de águas) desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias; II - (Esbulho possessório) invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. 18 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial § 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada. § 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. ● Alteração de limite \ (art. 161, caput) fazer desaparecer (supressão) ou deslocamento (total ou em parte) da linha divisória, do tapume ou do marco da propriedade, para apropriar-se de coisa alheia imóvel ○ Tapume \ cerca ou vedação que separa propriedades imóveis ○ Marco \ qualquer tipo de sinal demarcatório, natural ou artificial ○ Sinal indicativo \ qualquer símbolo ou expediente destinado a demarcar imóvel por meio de advertência [Pena: 1 a 6 meses, e multa] Nos crimes de usurpação, o bem jurídico é o patrimônio, em especial a coisa imóvel alheia. O crime formal se consuma com a supressão ou deslocamento do sinal indicativo de linha divisória. É um crime comissivo ou omissivo impróprio, crime próprio (deve possuir um dono de um imóvel) e que admite tentativa. ● Usurpação de águas \ (art. 161, § 1º, I) ocorre quando o agente desvia ou represa (respectivamente, modifica ou interrompe o fluxo natural) águas alheias para proveito próprio ou de terceiro [Pena: 1 a 6 meses, e multa] ● Esbulho possessório \ (art. 161, § 1º, II) se refere à conduta de invadir um imóvel alheio contra a vontade do proprietário, usando violência ou grave ameaça contra a vítima ou o concurso de três ou mais pessoas, com a finalidade do esbulho possessório (tomada da propriedade por violência, precariedade e clandestinidade) [Pena: 1 a 6 meses, e multa] Quando há uso da violência, o crime cumula-se com a respectiva violência (art. 161, § 2º). Quando a propriedade é particular e sem o emprego de violência, o crime só procede mediante uma queixa do sujeito passivo (art. 161, § 3º). Além disso, é importante comentar a presença provável do excludente de ilicitude de estado de necessidade no esbulho possessório. Art. 162 - (Supressão ou Alteração de Marca em Animais) Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. ● Supressão ou alteração de marca em animais \ (art. 162, caput) suprimir (fazer desaparecer) ou alterar a marca ou sinal indicativo de propriedade de animais de rebanho alheio (equinos, gados, suínos, etc…) [Pena: 1 a 3 anos, e multa] Dano Art. 163 - (Dano) Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § Ún. - (Dano qualificado) Se o crime é cometido: I - com violência à pessoa ou grave ameaça; II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos; IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. ● Dano \ (art. 163, caput) trata-se da conduta material de destruir, inutilizar ou deteriorar total ou parcialmente coisa "econômica" e patrimonial alheia [Pena: 1 a 6 meses, ou multa] É um crime comissivo comum e material (prevê um resultado para a consumação). O crime de dano não ocorre na forma culposa, então é necessária uma intenção para se consumar o crime. ● Qualificado \ (art. 163, § único) o crime de dano é qualificado quando a ocasião implica em algum dos quatro incisos do parágrafo, sendo eles: violência ou grave ameaça; emprego de substância inflamável ou explosiva que não seja preterdoloso; Quando o patrimônio atingido é público; ou quando o motivo do dolo é egoísta ou com prejuízo considerável à vítima do crime (ex.: deteriorar o carro do seu concorrente de uma corrida para conseguir ganhar) [Pena: 6 meses a 3 anos, e multa, além da pena da violência] Animais em Propriedade Alheia Art. 164 - (Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia) Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. ● Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia \ (art. 164, caput) o crime é consumado com o prejuízo decorrente da introdução ou abandono não consentidos de animais em uma propriedade alheia [Pena: 1 a 6 meses, ou multa] 19 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial É um crime condicionado (ele condiciona a conduta do agente ao prejuízo) que, nesse caso, exige um dano patrimonial à vítima. Alterações do Dano para Leis Especiais ● Art. 165, CP \ refere-se ao crime de dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico que foi revogado tacitamente pelo art. 62 da Lei 9.605/98 ● Art. 166, CP \ refere-se ao crime de alteração de local especialmente protegido que foi revogado tacitamente pelo art. 63 da Lei 9.605/98 É interessante ressaltar que a prática da pichação causa uma deterioração à coisa privada, qualifica-se como crime de dano. Quando o patrimônio é público, refere-se ao art. 65 da Lei 9.605/98, em que há prejuízo à pichação de monumentos públicos. Art. 167 - (Ação penal) Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa. Apropriação Indébita Art. 168 - (Apropriação indébita) Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - (Aumento de pena) A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: I - em depósito necessário; II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; III - em razão de ofício, emprego ou profissão. ● Apropriação indébita \ (art. 168, caput) é um crime de dolo subsequente, em que após o agente ter tido acesso à posse de forma legal, ele cria a intenção dolosa de permanecer e se apropriar da coisa alheia móvel ○ Posse desvigiada \ a posse pode ser vigiada (furto) ou desvigiada (apropriação indébita), de forma que, na apropriação indébita, não há vigilância por parte do dono da coisa, tal que é um empréstimo para o agente ativo [Pena: 1 a 4 anos, e multa] O crime de apropriação indébita se assemelha ao crime de furto já que também se refere ao patrimônio da coisaalheia móvel, sendo a diferença no animus furandi (só presente no furto), tal que na apropriação indébita há uma boa fé no começo da ação, mas cria-se uma vontade de se apropriar da coisa depois de já tê-la. ○ Exemplo de furto \ ir até uma biblioteca com a intenção de roubar livros e colocá-los furtivamente na bolsa sem que ninguém perceba ○ Exemplo de apropriação indébita \ ir até uma biblioteca sem a intenção de roubar livros, pegá-los de forma legal e não devolvê-los por uma nova vontade de apropriação ○ Exemplo de estelionato \ ir até uma biblioteca com a intenção de roubar livros, pegá-los de forma legal e não devolvê-los ● Majorante \ (art. 161, § 1º) há três formas de aumento de pena listados nos incisos do parágrafo primeiro: quando a coisa é um depósito necessário (depósito miserável, decorrente de uma ação calamitosa); quando o sujeito passivo possui responsabilidade específica listada no inciso sobre o sujeito passivo; ou quando o agente recebeu a coisa em razão do ofício, emprego ou profissão [Pena: aumentada em ⅓] Art. 168-A - (Apropriação indébita previdenciária) Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem deixar de: I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. § 2º - É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. § 3º - É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. § 4º - A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. 20 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Apropriação indébita previdenciária \ (art. 168-A, caput) refere-se ao crime omissivo próprio de mera conduta de não realizar o repasse à previdência social do valor já descontado do contribuinte no prazo e da forma legal Apropriação da Coisa Art. 169 - (Apropriação da coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza) Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. § Ún. - Na mesma pena incorre: I - (Apropriação de tesouro) quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio; II - (Apropriação de coisa achada) quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias. ● Apropriação da coisa \ (art. 169, caput) refere-se ao ato de se apropriar de coisa alheia vinda até você por: ○ Erro \ pode ser quanto à pessoa (ex.: carteiro que faz uma entrega erroneamente); quanto à qualidade (ex.: receber erroneamente um colar muito mais caro do que você comprou); ou quanto à obrigação (ex.: há um depósito feito erroneamente na sua conta) ○ Caso fortuito \ é o evento acidental, que faz com que um objeto termine em mãos erradas (ex.: posse das bagagens de um avião caído) ○ Força da natureza \ é a energia física e ativa que provoca o ordenamento natural das coisas (ex.: em decorrência de um vendaval, você se apropria de coisas alheias vindas até você) [Pena: 1 mês a 1 ano, ou multa] A diferença nesse tipo penal é que não existe a posse legítima da coisa no momento da apropriação, mas sim uma posse decorrente de erro, caso fortuito ou força maior. A consumação se dá no momento em que o sujeito passivo percebe a apropriação. ● Apropriação de tesouro \ (art. 169, § único, I) é tipificado o ato de encontrar um tesouro desconhecido pelo proprietário do imóvel e não reportar ao proprietário [Pena: 1 mês a 1 ano, ou multa] ● Apropriação de coisa achada \ (art. 169, § único, II) crime condicionado ao lapso temporal de 15 dias, em que o sujeito ativo acha coisa alheia perdida e dela se apropria – coisa perdida/esquecida é diferente de coisa abandonada ou de ninguém, que são penalmente irrelevantes [Pena: 1 mês a 1 ano, ou multa] Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º. ● Privilegiado \ (art. 170, caput) quando o criminoso é primário e a apropriação foi de coisa pequena (não é superior a 1 salário mínimo no país), pode-se substituir a pena de reclusão pela de detenção ou aplicar somente a multa [Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa] Estelionato Art. 171 - (Estelionato) Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º. § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: I - (Disposição de coisa alheia como própria) vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria; II - (Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria) vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias; III - (Defraudação de penhor) defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado; IV - (Fraude na entrega de coisa) defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém; V - (Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro) destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro; VI - (Fraude no pagamento por meio de cheque) emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. § 2º-A - (Fraude eletrônica) A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. § 2º-B - A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. 21 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direitopúblico ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência. § 4º - (Estelionato contra idoso ou vulnerável) A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso. § 5º - Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: I - a Administração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. ● Estelionato \ (art. 171, caput) o sujeito busca uma vantagem patrimonial (financeira) ilícita ao induzir (estelionato por ação) ou manter (estelionato por omissão) alguém em erro mediante meio fraudulento, ou seja, engana-se a vítima para obter o patrimônio pertencente à vítima [Pena: 1 a 5 anos, e multa] Há uma preocupação em diferenciar o furto mediante fraude do estelionato. No furto mediante fraude, o agente usa uma fraude (distração) para fazer com que a vítima não perceba que algo está sendo retirado dela. Já no estelionato, o sujeito ativo engana a vítima para que ela dê o que ele quer. A fraude pode ser alcançada por artifício (ex.: bilhete de papel com uma enganação), por meio ardil, exigindo a habilidade intelectual de convencimento e argumentação ou qualquer outro meio fraudulento. ● Privilegiado \ (art. 171, § 1º) quando o criminoso é primário e o estelionato foi de coisa pequena (não é superior a 1 salário mínimo no país), pode-se substituir a pena de reclusão pela de detenção ou aplicar somente a multa [Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa] ● Disposição de coisa alheia como própria \ (art. 171, § 2º, I) vender, permutar dar em pagamento, locar ou dar em garantia coisa alheia móvel ou imóvel que não seja sua – logo, não pode se dispor dessa coisa [Pena: 1 a 5 anos, e multa] ● Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria \ (art. 171, § 2º, II) o objeto material, na hipótese deste inciso, é coisa pertencente ao próprio agente que, no entanto, está impedido – por lei, por contrato ou por testamento – de aliená-la, assim como coisa gravada de ônus ou litigiosa, que não se pode vender, permutar ou dar em pagamento ou garantia [Pena: 1 a 5 anos, e multa] ● Defraudação de penhor \ (art. 171, § 2º, III) o sujeito ativo defrauda não consentidamente pelo sujeito passivo a garantia pignoratícia (relativo ao contrato do penhor) do objeto empenhado [Pena: 1 a 5 anos, e multa] ● Fraude na entrega da coisa \ (art. 171, § 2º, IV) pune-se o agente que defrauda indevidamente, em quantidade ou qualidade, uma entrega. Quando há alteração na entrega alimentícia ou medicamentosa, o crime é contra a incolumidade pública, não estelionato [Pena: 1 a 5 anos, e multa] ● Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro \ (art. 171, § 2º, V) ato de destruir (total ou parcialmente), ocultar coisa própria, lesar o próprio corpo ou agravar sua doença para obter vantagem econômica da indenização ou seguro [Pena: 1 a 5 anos, e multa] ● Fraude no pagamento por meio de cheque \ (art. 171, § 2º, VI) emitir cheque sem fundo ou com a fraude no saque, de forma que frustra o patrimônio do pagamento, devendo haver comprovação dessa fraude, havendo presença do dolo na vantagem financeira [Pena: 1 a 5 anos, e multa] ● Fraude eletrônica \ (art. 171, § 2º-A) o estelionato é qualificado quando a fraude é cometida por meio eletrônico, em que a vítima é enganada de alguma forma fraudulenta (listada no parágrafo) para fornecer o acesso ao sujeito ativo [Pena: 4 a 8 anos, e multa] ● Majorante \ (art. 171, § 3º) aumenta-se a pena se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência [Pena: aumentada em ⅓] ● Estelionato etário \ (art. 171, § 4º) aumenta-se a pena quando é cometido contra idoso ou vulnerável tendo sido relevada a gravidade do resultado [Pena: aumentada de ⅓ até o dobro] O crime de estelionato é procedido mediante ação pública incondicionada quando se qualifica a partir dos incisos do parágrafo quinto do art. 171. Duplicata Simulada Art. 172 - (Duplicata simulada) Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § Ún. - Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. 22 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Duplicata simulada \ (art. 172, caput) condena a conduta do prestador de serviço ou comerciante de emitir fatura sobre um serviço que não foi realizado de forma correspondente em quantidade ou qualidade [Pena: 2 a 4 anos, e multa] Abuso de Incapazes Art. 173 - (Abuso de incapazes) Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. ● Abuso de incapazes \ (art. 172, caput) abusar (usar do mau, induzir ou prevalecer) da necessidade, paixão ou inexperiência de menor (menor de 18 anos), alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo a vítima a praticar ato suscetível a efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro [Pena: 2 a 6 anos, e multa] O crime é formal, mas ainda exige o bem jurídico tutelado do patrimônio para se qualificar o tipo penal, todavia há autores que discordem. Induzimento à Especulação Art. 174 - (Induzimento à especulação) Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. ● Induzimento à especulação \ (art. 174, caput) abusar (usar do mal) da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental da vítima para conduzi-la a praticar jogos ou apostas (ilícitos ou não), ou a especulação com títulos ou mercadorias (investimentos), sabendo (dolo direto) ou devendo saber (dolo eventual) que o resultado é ruinoso [Pena: 1 a 3 anos, e multa] Fraude no Comércio Art. 175 - (Fraude no comércio) Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor: I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada; II - entregando uma mercadoria por outra: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º. ● Fraude no comércio \ (art. 175, caput) enganar no exercício da atividade comercial o consumidor a partir da venda pirata (vender mercadoria dada como perfeita ou verdadeira, quando na verdade é falsificada ou deteriorada) ou entregar uma mercadoria no lugar de outra [Pena: 6 meses a 2 anos, ou multa] ● Qualificado \ (art. 175, § 1º) refere-se à problemáticas de fraude no comércio de jóias e metais, listadas no parágrafo [Pena: 1 a 5 anos, e multa] ● Privilegiado \ (art. 175, § 2º) quando o criminoso é primário e a fraude foi de coisa pequena (não é superior a 1 salário mínimo no país), pode-se substituir a pena de reclusão pela de detenção ou aplicar somente a multa [Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa] Outras Fraudes Art. 176 - (Outras fraudes) Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. § Ún. - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,deixar de aplicar a pena. Art. 177 - (Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações) Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular. § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime contra a economia popular: I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao público ou à assembléia, faz afirmação falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo; 23 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade; III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembléia geral; IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite; V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade; VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou dividendos fictícios; VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou parecer; VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII; IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo. § 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de assembléia geral. Art. 178 - (Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant") Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Art. 179 - (Fraude à execução) Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § Ún. - Somente se procede mediante queixa. Receptação Art. 180 - (Receptação) Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - (Receptação qualificada) Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. § 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. ● Receptação própria \ (art. 180, caput) sabendo da origem ilícita da coisa, adquire, recebe movimenta ou oculta essa coisa em proveito do patrimônio ● Receptação imprópria \ (art. 180, caput) sabendo da origem ilícita da coisa, influencia e induz um terceiro que não sabe da ilicitude a cometer a conduta típica [Pena: 1 a 4 anos, e multa] É um crime comum quanto aos sujeitos ativo e passivo. É um crime material de dano, mono-subjetivo e comissivo (podendo ser omissivo impróprio). Vale ressaltar que o crime é punível mesmo quando não conhecemos o autor do crime anterior à receptação (art. 180, § 4º). ● Qualificado \ (art. 180, § 1º) ocorre quando a receptação é consumada no exercício de prática comercial ou industrial (mesmo que seja uma prática clandestina ou irregular (art. 180, § 2º)) [Pena: 3 a 8 anos, e multa] ● Receptação culposa \ (art. 180, § 3º) adquirir ou receber coisa que, sugestivamente, era perceptível sua natureza ilícita [Pena: 1 mês a 1 ano, e/ou multa] ● Perdão judicial \ (art. 180, § 3º) pode ocorrer nas duas formas da receptação: ○ Dolosa \ quando o criminoso é primário e a receptação foi de coisa pequena (não é superior a 1 salário mínimo no país), pode-se substituir a pena de reclusão pela de detenção ou aplicar somente a multa [Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa] ○ Culposa \ é uma possibilidade quando o réu é primário [Pena: excluída] 24 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Majorante \ aumenta-se a pena quando a coisa receptada é referente à bens públicos em geral [Pena: duplicada] Art. 180-A - (Receptação de animal) Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. ● Receptação de animal \ (art. 180-A, caput) receptar (ou ter em depósito ou vender) animal doméstico semovente de produção ou de comercialização [Pena: 2 a 5 anos, e multa] Disposições Gerais Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. Os artigos 181 e 182 aplicam excludentes de punibilidade para os crimes contra o patrimônio em decorrência dos danos pelo núcleo familiar. ● Escusas absolutórias \ (art. 181, caput) é isento de pena crimes praticados contra o cônjuge (ou convivente, a partir de uma extensão doutrinária) ou ascendente ou descendente independente da legitimidade ou naturalidade ● Imunidade relativa \ (art. 182, caput) o crime só se procede mediante representação se a vítima for um cônjuge (desquitado ou separado); irmão (legítimos ou ilegítimos); ou tio ou sobrinho em coabitação Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. ● Ressalvas \ (art. 183, caput) os artigos anteriores não se aplicam ao roubo ou extorsão mediante grave ameaça ou violência; à um terceiro estranho que pratica o crime em concurso de pessoas; ou se o crime é praticado contra maior ou igual de 60 anos Violação de Direito Autoral Art. 184 - (Violação de direitosautorais) Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1º - Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 2º - Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. § 3º - Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 4º - O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto. ● Violação de direitos autorais \ (art. 184, caput) violar (transgredir) os direitos autorais ou conexos (quem possui o direito de reprodução ou segurança do material) – aqui se introduz o conceito de plágio (imitar ou reproduzir obra sem fornecer os devidos créditos) [Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa] Atualmente, é o único tipo restante dos crimes contra a propriedade imaterial, em específico, contra a propriedade intelectual. Os outros títulos deste capítulos foram revogados por leis posteriores. É um tipo penal em branco com sujeito passivo próprio, já que precisamos de um detentor da propriedade intelectual imaterial. É importante realçar o caráter doloso do crime. 25 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Qualificado I \ (art. 184, § 1º) reproduzir dolosamente obra intelectual (científica, literária ou artística) com intuito de lucro direto ou indireto [Pena: 2 a 4 anos, e multa] ● Qualificado II \ (art. 184, § 2º) refere-se à comercialização, introdução ou manter em depósito de material violado nos direitos autorais, com o dolo do lucro direto ou indireto [Pena: 2 a 4 anos, e multa] ● Qualificado III \ (art. 184, § 3º) refere-se à violação ao direito autoral que se faz pela internet, com ausência de autorização do autor ou quem o representa, com intuito de lucro direto ou indireto [Pena: 2 a 4 anos, e multa] ● Exclusão de tipicidade \ (art. 184, § 4º) a pena é excluída quando há limitação no direito do autor ou quando a cópia da obra é para uso privado ou copista com um único exemplar, sem intuito de lucro [Pena: excluída] Art. 186 - (Ação penal) Procede-se mediante: I – queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184; II – ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1o e 2o do art. 184; III – ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em desfavor de entidades de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público; IV – ação penal pública condicionada à representação, nos crimes previstos no § 3o do art. 184. Crimes Contra a Organização do Trabalho Aqui são apresentados os crimes que vão contra o direito do trabalho Liberdade do Trabalho Art. 197 - (Atentado contra a liberdade do trabalho) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça: I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência; II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de atividade econômica: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. ● Atentado contra a liberdade do trabalho I \ (art. 197, caput, I) obrigar uma pessoa a trabalhar ou a não trabalhar durante certo período mediante constrangimento por violência ou grave ameaça [Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência] ● Atentado contra a liberdade do trabalho II \ (art. 197, caput, II) proibir o trabalhador de abrir ou fechar seu estabelecimento comercial mediante constrangimento por violência ou grave ameaça [Pena: 3 meses a 1 ano, e multa, além da pena da violência] Liberdade de Contrato de Trabalho e Boicotagem Art. 198 - (Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. ● Atentado contra a liberdade de contratos e boicotagem violenta \ (art. 198, caput) refere-se à constranger alguém mediante violência ou grave ameaça para celebração de contratos de trabalho ou não fornecer ou adquirir para terceiro matéria-prima ou produto industrializado, sempre mediante violência ou grave ameaça [Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência] Liberdade de Associação Art. 199 - (Atentado contra a liberdade de associação) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação profissional: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. ● Atentado contra a liberdade de associação \ (art. 199, caput) a Constituição Federal garante às associações não criminosas, o crime, portanto, está em constranger alguém para a vítima participar ou sair de determinada associação ou sindicato, mediante violência ou grave ameaça [Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência] Paralisação de Trabalho Art. 200 - (Paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem) Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra pessoa ou contra coisa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § Ún. - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados. 26 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Paralisação seguida de violência ou perturbação da ordem \ (art. 200, caput) participar de uma greve (abandono coletivo são três ou mais pessoas) e praticar violência contra pessoa ou coisa em meio à essa paralisação – a violência pode ser por parte do empregado ou do empregador [Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência] Art. 201 - (Paralisação de trabalho de interesse coletivo) Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. ● Paralisação de interesse coletivo \ (art. 201, caput) pune-se o ato de participar de uma greve que interrompa uma obra pública ou um serviço de interesse coletivo – sendo a vítima a coletividade [Pena: 6 meses a 2 anos, e multa] Invasão de Estabelecimento Comercial Art. 202 - (Invasão de estabelecimento industrial, comercial ouagrícola. Sabotagem) Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. ● Sabotagem \ (art. 202, caput) invadir um estabelecimento industrial, comercial ou agrícola para sabotar (impedir o curso normal do trabalho) – também calha a sabotagem de danificar o estabelecimento para impedir o curso normal de trabalho (o dolo não está em outra coisa senão essa sabotagem) [Pena: 1 a 3 anos, e multa] Frustrações de Trabalho Art. 203 - (Frustração de direito assegurado por lei trabalhista) Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à violência. § 1º - Na mesma pena incorre quem: I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida; II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. § 2º - A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. ● Frustração de direito trabalhista \ (art. 203, caput) decorre do ato de frustrar as leis trabalhistas mediante grave ameaça ou violência [Pena: 1 a 2 anos, e multa, além da pena da violência] ● Outras frustrações \ (art. 202, § 1º, I e II) pune na mesma pena quem faz a vítima contrair dívidas para impedir a pessoa de sair do trabalho e a coloca em uma situação análoga à de escravo; Assim como quem é impedido de se desligar de um trabalho mediante coação ou por retenção de documentos pessoais ou contratuais [Pena: 1 a 2 anos, e multa, além da pena da violência] ● Majorante \ (art. 202, § 2º) ocorre quando a vítima é menor de 18 anos, idoso, gestante, indígena ou portador de deficiência [Pena: aumentada de ⅙ a ⅓] Art. 204 - (Frustração de lei sobre nacionalização do trabalho) Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à nacionalização do trabalho: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. ● Frustração de nacionalização \ (art. 204, caput) refere-se a frustrar a nacionalização do trabalho (há limite de estrangeiros passíveis de contratação por empresa, já que o Brasil busca a nacionalização) mediante fraude ou violência [Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência] Exercício Ilegal de Trabalho Art. 205 - (Exercício de atividade com infração de decisão administrativa) Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. ● Exercício ilegal de trabalho \ (art. 205, caput) ocorre quando a empresa mantem o funcionário que está impedido de trabalhar – sendo, os dois, sujeitos ativos do crime – é um crime habitual, semelhante ao estado permanente, por haver habitualidade da ação [3 meses a 2 anos, ou multa] 27 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Aliciamentos de Trabalho Art. 206 - (Aliciamento para o fim de emigração) Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território estrangeiro. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. ● Aliciamento de emigração \ (art. 206, caput) recrutar trabalhadores (aliciamento) mediante fraude (enganar a vítima) para emigrá-los (levá-los para fora do país) – tutela o interesse do Estado em querer reter os brasileiros em território nacional [1 a 3 anos, e multa] Art. 207 - (Aliciamento de trabalhadores de um local para o outro do território nacional) Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional: Pena - detenção de um a três anos, e multa. § 1º - Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. § 2º - A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. ● Aliciamento estatal \ (art. 207, caput) a consumação se dá quando o agente alicia (torna atrativo, seduz a ideia) os trabalhadores para trabalhar em outro Estado [1 a 3 anos, e multa] ● Outro aliciamento \ (art. 207, § 1º) mediante fraude ou cobrança econômica, pune-se quem recruta vítima em outro local que não o da execução do trabalho e não dá condições de retorno [1 a 3 anos, e multa] ● Majorante \ (art. 207, § 2º) ocorre quando a vítima é menor de 18 anos, idoso, gestante, indígena ou portador de deficiência [Pena: aumentada em ⅙ a ⅓] Crimes Contra o Religião e Respeito aos Mortos Os dois bens jurídicos tutelados pelo capítulo V são: o sentimento religioso e o respeito aos mortos Ultraje a Culto Art. 208 - (Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo) Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. § Ún. - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência. ● Ultraje a culto \ (art. 208, caput) escarnecer (desprezar, humilhar e afins) publicamente alguém por motivo de crença ou religião; além de impedir ou perturbar alguma cerimônia religiosa; ou vilipendiar (tornar vil ou rebaixado) publicamente ato ou objeto de culto religioso [Pena: 1 mês a 1 ano, ou multa] A diferença entre esse crime e injúria está no fato de ser público (ultraje religioso) ou não. ● Majorante \ ocorre quando há emprego de violência [Pena: aumentada em ⅓] Impedimento ou Perturbação de Cerimônia Funerária Art. 209 - (Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária) Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. § Ún. - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência. ● Impedimento ou perturbação de funeral \ (art. 209, caput) impedir ou perturbar um velório ou qualquer outra cerimônia funerária [Pena: 1 mês à 1 ano, ou multa] Como um crime contra os mortos, o tipo penal não protege os cadáveres, já que não sentem mais nada, mas sim os familiares e pessoas que possam se ofender com atos consumados ou tentados contra o cadáver. ● Majorante \ ocorre quando há emprego de violência [Pena: aumentada em ⅓] Outros Crimes Contra os Mortos Art. 210 - (Violação de sepultura) Violar ou profanar sepultura ou urna funerária: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. ● Violação de sepultura \ (art. 210, caput) violar ou profanar qualquer sepultura por dolo que não se cabe em um crime maior (ex.: violar sepultura para furtar um anel de ouro seria um crime contra o patrimônio) [Pena: 1 mês a 3 anos, e multa] Art. 211 - (Destruição, subtração ou ocultação de cadáver) Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 28 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Crime contra o cadáver \ (art. 211, caput) crime consumado com a ocultação (esconder, caráter de crime permanente) do cadáver, assim como sua subtração ou destruição, total ou parcial [Pena: 1 mês a 3 anos, e multa] Art. 212 - (Vilipêndio a cadáver) Vilipendiar cadáver ou suas cinzas: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. ● Vilipêndio a cadáver \ (art. 212, caput) vilipendiar (ultrajar, desprezar, etc) cadáver ou suas cinzas [Pena: 1 mês a 3 anos, e multa] Crimes Contra a Liberdade Sexual e Família A dignidade sexual é um dos bens jurídicos tutelados pelo direito penal, designadoa se importar com a violação da liberdade de escolha para feituras sexuais (liberdade sexual), logo, temos total liberdade de escolha com quem nos relacionamos e deve ser consentido. O direito penal não tutela moral sexual, ou seja, o uso da sexualidade para outros fins como a prostituição, possuindo os exercedores dessa conduta os mesmos direitos à liberdade sexual. A liberdade sexual gira em torno de dois conceitos prévios importantes: ● Conjunção carnal \ refere-se à introdução completa ou parcial do órgão sexual biológico masculino ao órgão sexual biológico feminino ● Ato libidinoso diverso \ refere-se a qualquer outro tipo de ato considerado socialmente como sexual (ex.: penetração anal; "mão boba"; etc) O direito penal compreende que qualquer pessoa possui capacidade de consentir com um ato sexual a partir dos 14 anos, logo, antes disso, não há possibilidade de consentimento. Estupro Art. 213 - (Estupro) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. § 1o - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2o - Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos ● Estupro \ (art. 213, caput) trata-se de um crime hediondo que tipifica o ato de constranger (tolher a liberdade) alguém a fim de se praticar conjunção carnal e/ou ato libidinoso (não sendo necessário contato físico) mediante grave ameaça (física ou psicológica) ou violência [Pena: 6 a 10 anos] O crime tem um sujeito ativo e passivo comum, logo, toda e qualquer pessoa pode cometer e sofrer um crime de estupro. Admite tentativa (ex.: o sujeito ativo ameaça divulgar fotos íntimas da vítima se ela não consumir a conjunção carnal com ela). É possível crime continuado (art. 71, CP), logo, o sujeito ativo consegue praticar estupro diversas vezes (mesmo que com diferentes vítimas) em um determinado período de 30 dias. ● Qualificado I \ (art. 213, § 1º) qualifica-se o crime caso a conduta resulte em lesão corporal grave (preterdolosa) ou quando cometido com vítima entre 14 e 18 anos [Pena: 8 a 12 anos] ● Qualificado II \ (art. 213, § 2º) outra qualificadora é o estupro que decorre em morte da vítima (o sujeito tem a intenção de estuprar mas não de matar a vítima, ou seja, pretercoloso, em que o resultado da morte é culposo e o do estupro, doloso) [Pena: 12 a 30 anos] Em 2009, o art. 214 se referia ao atentado violento ao pudor (ato libidinoso) e o estupro contemplava somente conjunção carnal, sendo o art. 214 revogado (não houve abolitio criminis, e sim continuidade normativa). O estupro, atualmente, abranje estupro e atentado violento ao pudor. É importante dizer que a tipicidade é excluída caso a conduta seja completamente consentida (consentimento ofendido). Violação Sexual Mediante fraude Art. 215 - (Violação Sexual Mediante fraude) Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § Ún. - Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. ● Violação sexual mediante fraude \ (art. 213, caput) também chamado de estelionato sexual, a vítima, nesse tipo de crime, sofre voluntariamente (há consentimento viciado) ato libidinoso ou carnal por acreditar no discurso do sujeito ativo, que, por sua vez, tem como dolo a lascívia (ex.: ginecologista massageando a parte íntima da paciente dizendo que é uma tática médica) [Pena: 2 a 6 anos] ● Majorante \ acrescenta-se uma multa quando o crime tem finalidade de se obter uma vantagem econômica 29 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial [Pena: acrescida de multa] O HC 33015/STF se refere à fraude em relação à pagar, com cheque sem fundo, um serviço de prostituição, se aplicando o crime de violção sexual mediante fraude. Importunação Sexual Art. 215-A - (Importunação sexual) Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. ● Importunação sexual \ (art. 215-A, caput) se refere à conduta de praticar ato libidinoso contra uma pessoa sem seu consentimento com objetivo de se auto satisfazer ou satisfizer outra pessoa (ex.: Frotteurismo (prazer do agente em se esfregar em pessoas), configura uma conduta de importunação sexual) [Pena: 1 a 5 anos se não for considerado crime mais grave] Assédio Sexual Art. 216-A - (Assédio sexual) Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. § 2o - A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. ● Assédio sexual \ (art. 216-A, caput) refere-se à constranger alguém no âmbito sexual, a fim de obter vantagem ou favorecimento sexual. Esse tipo penal implica em ter um sujeito ativo com hierarquia e relação profissional formal com o sujeito passivo no exercício de seu emprego, cargo ou função [Pena: 1 a 2 anos] ● Majorante \ (art. 216-A, § 2º) a pena é aumentada quando a vítima é menor de idade [Pena: aumentada em até ⅓] Exposição da Intimidade Sexual Art. 216-B - (Exposição da intimidade sexual) Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa. § Ún. -Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo. ● Exposição da intimidade sexual \ (art. 216-B, caput) é uma infração de menor potencial ofensivo que proíbe produzir, fotografar, filmar ou registrar qualquer conteúdo de caráter íntimo sem autorização [Pena: 6 meses a 1 ano] Sofrerá, pelo parágrafo único, da mesma pena quem realiza montagens com finalidade de incluir qualquer pessoa em uma cena íntima. Estupro de Vulnerável Art. 217-A - (Estupro de vulnerável) Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1o - Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 3o - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 4o - Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. § 5º - As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. ● Estupro de vulnerável \ (art. 217-A, caput) ter conjunção carnal ou ato libidinoso comum sujeito passivo próprio (menor de 14 anos), sendo este crime aplicado inclusive nos casos em que há consentimento da vítima (art. 217-A, § 5º) [Pena: 8 a 15 anos] É importante destacar que o parágrafo primeiro declara como vulnerável (art. 127-A, § 1º), também, qualquer pessoa que não possa oferecer resistência ao ato libidinoso ou conjunção carnal, além de deficientes mentais e enfermos que também não podem oferecer essa resistência. É um crime com ação penal pública incondicionada, logo, independe da vontade da vítima. ● Qualificado I \ (art. 217-A, § 3º) qualifica-se o crime se resultar em lesão corporal de natureza grave preterdolosa [Pena:10 a 20 anos] 30 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Qualificado II \ (art. 217-A, § 4º) qualifica-se o crime se resultar em morte preterdolosa [Pena: 12 a 30 anos] Corrupção de Menores Art. 218 - (Corrupção de menores) Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. ● Corrupção de menores \ (art. 218, caput) tipifica-se a conduta de induzir (fazer nascer a ideia) um menor de 14 anos a satisfazer a lascívia (prática sexual contemplativa) de outra pessoa [Pena: 2 a 5 anos] Lascívia na Presença de Menores Art. 218-A - (Satisfação de lascívia na presença de menores) Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. ● Lascívia na presença de menores \ (art. 218-A, caput) praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou induzi-lo a presenciar, ato carnal ou libidinoso a fim de satisfazer lascívia própria [Pena: 2 a 4 anos] Há a necessidade de satisfazer lascívia própria ou de outrem pela presença de alguém menor, sendo também considerado um crime formal, ou seja, quando foi satisfeita a lascívia há um mero exaurimento do que era previsto. Favorecimento da Exploração de Vulnerável Art. 218-B - (Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável) Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. § 1o - Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2o - Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. § 3o - Na hipótese do inciso II do § 2 o , constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. ● Favorecimento da exploração de menores \ (art. 218-B, caput) submeter , induzir ou atrair um menor de 18 anos (ou vulnerável incapaz) à alguma forma de exploração sexual [Pena: 4 a 10 anos] ● Majorante \ (art. 218-B, § 1º) há um acréscimo de pena quando há uma finalidade de se obter uma vantagem econômica [Pena: acrescida de multa] ● Exploração de menores \ (art. 218-B, § 2º) sofrerá a mesma pena quem praticar a exploração ativamente com menor de 18 e maior que 14 anos e quem for responsável pelo local que se verifiquem as práticas realizadas, sendo que haverá cassação da licença de localização e funcionamento do local (art. 218-B, § 3º) [Pena: 4 a 10 anos] Exposição de Vulnerável Art. 218-C - (Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia) Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave. § 1º - (Aumento de pena) A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. § 2º - (Exclusão de ilicitude) Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos. ● Exposição de vulnerável \ (art. 218-C, caput) Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio (tipo múltiplo alternativo), fotografia ou audiovisual cena de pornografia de sujeito passivo comum que não consentiu 31 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial com a conduta do crime material (ex.: divulgar "nudes" sem consentimento de outra pessoa e fazer apologia ao estupro) [Pena: 1 a 5 anos se não for crime mais grave] ● Majorante \ (art. 218-C, § 1º) ocorre quando o crime é praticado por um agente íntimo da vítima (atual ou antigo) ou quando possui finalidade de humilhação ou vingança [Pena: aumentada de ⅓ a ⅔] ● Exclusão de ilicitude \ (art. 218-C, § 2º) não há crime nas condutas do caput quando possui finalidade acadêmica, jornalística ou cultural com consentimento da vítima não vulnerável e que não haja identificação da vítima Observações e Majorantes Gerais ● Ação penal \ (art. 225, caput) este artigo prevê para os crime sexuais uma ação penal pública incondicionada ● Majorantes I \ (art. 226) são majorantes para os crimes sexuais vistos até o momentos (capítulos I e II) ○ Concurso de pessoas \ (art. 226, I) quando o crime é cometido com o concurso de 2 ou mais pessoas [Pena: aumentada em ¼] ○ Proximidade com a vítima \ (art. 226, II) se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela [Pena: aumentada em ½] ○ Estupro coletivo \ (art. 226, IV, a) mediante o concurso de 2 ou mais agentes (é exclusivo do crime de estupro, diferente do inciso I, que pode ser aplicado para qualquer crime sexual) [Pena: aumentada de ⅓ a ⅔] ○ Estupro corretivo \ (art. 226, IV, b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima [Pena: aumentada de ⅓ a ⅔] ● Majorantes II \ (art. 234-A) todos os crimes sexuais anteriormente e posteriormente apresentados (todo o Título de crimes sexuais) possuem como majorante: ○ Gravidez \ (art. 234-A, I) se resulta em gravidez [Pena: aumentada de ½ a ⅔] ○ Portador de doenças \ (art. 234-A, IV) se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência [Pena: aumentada de ⅓ a ⅔] ● Segredo de justiça \ (art. 234-A) todos os crimes sexuais anteriormente e posteriormente apresentados (todo o Título de crimes sexuais) correrão em segredo de justiça Mediação de Lascívia de Outrem Art. 227 - (Mediação para servir a lascívia de outrem) Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de um a três anos. § 1o - Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. § 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência. § 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. ● Mediação de lascívia \ (art. 227, caput) induzir alguém a satisfazer lascívia de outrem – há um agente da indução (o que é punido pelo artigo), a vítima e o destinatário da lascívia, que deve ser uma pessoa determinada e certa [Pena: 1 a 3 anos] ● Qualificado I \ (art. 227, § 1º) refere-se às características da vítima do crime e do agente da conduta [Pena: 2 a 5 anos] ● Qualificado II \ (art. 227, § 2º) ocorre se o crime é mediante violência, grave ameaça ou fraude – adiferença entre o crime de esturpo é que a vítima aqui fornece nem que o mínimo de consentimento [Pena: 2 a 8 anos + pena da violência] ● Majorante \ (art. 227, § 3º) aplica-se quando há finalidade de multa, também [Pena: acréscimo de multa] [Pena: aumentada de ⅓ a ⅔] Favorecimento de Exploração Sexual Art. 228 - (Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual) Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1o - Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. 32 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial § 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência. § 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. ● Favorecimento de exploração sexual \ (art. 228, caput) induzir ou atrair alguém à alguma forma de exploração sexual (não incluso a pornografia infantil dos art. 240 e 241-E do Estatuto da Criança e do Adolecente) – além de impedir ou dificultar que alguém abandone essa habitualidade ○ Postituição \ comércio sexual exercido com habitualidade (deve ocorrer com frequência) – o Brasil adota o sistema abolicionista (não se pune a prostituição mas aquele quem realiza a exploração) [Pena: 2 a 5 anos, e multa] ● Qualificado I \ (art. 228, § 1º) aplica-se quando há um vínculo entre o agente e a vítima como previsto no artigo em questão [Pena: 3 a 8 anos] ● Qualificado II \ (art. 228, § 2º) se o crime é cometido com o emprego de violência, grave ameaça ou fraude [Pena: 4 a 10 anos, além da pena da violência] ● Majorante \ (art. 228, § 3º) aplica-se quando há finalidade de multa, também [Pena: acréscimo de multa] Rufianismo Art. 229 - (Estabelecimento de exploração sexual) Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Art. 230 - (Rufianismo) Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 2º - Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência. ● Rufianismo \ (art. 230, caput) se refere ao aproveitamento da prostituta, participando do seus lucros, todo ou em parte – os sujeitos passivos são a coletividade (Estado) e a pessoas explorada ○ Rufianismo direto \ (cafetão) àquele que põe a prostituta para trabalhar e divide seus lucros em troca de proteção ○ Rufianismo indireto \ (gigolô) é uma pessoa que vive em custos de um prostituto (prostitutos motivados por paixão e amor não configuram crime – ex.: manter a família) [Pena: 1 a 4 anos, e multa] ● Qualificado I \ (art. 230, § 1º) aplica-se quando há um vínculo entre o agente e a vítima como previsto no artigo em questão [Pena: 3 a 6 anos, e multa] ● Qualificado II \ (art. 230, § 2º) quando é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou meios que impedem livre manifestação da vontade [Pena: 2 a 8 anos, mais a pena da violência] Ato Obsceno Art. 233 - (Ato obsceno) Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. ● Ato obsceno \ (art. 233, caput) refere-se à conduta de praticar ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público [Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa] Escrito ou Ato Obsceno Art. 234 - (Escrito ou objeto obsceno) Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Incorre na mesma pena quem: I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo; II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter; III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno 33 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Escrito ou objeto obsceno \ (art. 234, caput) necessita do princípio da adequação social já que as condutas listadas no artigo são comuns na nossa sociedade Bigamia É o primeiro crime contra a família de uma séria, tratando de crimes contra casamento, filiação, assistência familiar e afins. Art. 235 - (Bigamia) Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. § 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime. ● Bigamia \ (art. 235, caput) haver mais de um casamento válido ao mesmo tempo (podendo ser de forma nacional ou internacional) [Pena: 2 a 6 anos] ● Bigamia privilegiada \ (art. 235, § 1º) casar com alguém em casamento válido sabendo dessa condição [Pena: 1 a 3 anos] Abandono Material Art. 244 - (Abandono material) Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. § Ún. - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. ● Abandono material \ (art. 244, caput) tipo penal alternativo que tipifica a conduta de deixar de prover recursos de subsistência do cônjuge ou da filiação ou ascendente ou descendente gravemente enfermo, sem justa causa [Pena: 1 a 4 anos e multa] Crimes Contra a Incolumidade Pública Os primeiros são os chamados crimes de periclitação, já que não dependem da conduta ser materializada em si, somente da exposição do bem jurídico ao perigo. Incêndio Art. 250 - (Incêndio) Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. § 1º - (Majorante) As penas aumentam-se de um terço: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina;f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífero ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. § 2º - (Incêndio culposo) Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos. ● Incêndio \ (art. 250, caput) causar incêndio que exponha perigo concreto a saúde ou patrimônio de outra pessoa [Pena:3 a 6 anos, e multa] ● Incêndio mercenário \ (art. 250, § 1º, I) se há intenção de ganhar dinheiro em relação ao incêndio [Pena:aumentada em ⅓] ● Majorante \ (art. 250, § 1º, II) se cometido em casa habitada, local público,em transportes coletivos, em fábricas, depósitos explosivos, poços petrolíferos, florestas e afins [Pena:aumentada em ⅓] ● Incêndio culposo \ (art. 250, § 2º) se oriundo de imperícia, imprudência ou negligência [Pena: 6 meses a 2 anos] Explosão Art. 251 - (Explosão) Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. 34 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial § 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º - (Aumento de pena) As penas aumentam de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo. § 3º - (Culposa) No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de três meses a um ano. ● Explosão \ (art. 251, caput) expor a saúde ou patrimônio de alguém a perigo por meio do uso de um explosivo – a simples colocação, mesmo não armada, de um mecanismo explosivo em um local de perigo há a consumação do crime [Pena: 3 a 6 anos, e multa] ● Explosão culposa \ (art. 251, § 3º) incorre por efeitos de negligência, imprudência ou imperícia [Pena: 3 meses a 1 ano] Vale-se notar que, por ser o bem jurídico tutelado de perigo comum, a explosão tem que ser um objeto de periclitação. Se for um assassinato doloso, o crime será de homicídio. Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante Art. 252 - (Uso de gás tóxico ou asfixiante) Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § Ún. - (Culposa) Se o crime é culposo: Pena - detenção, de três meses a um ano. O artigo 253, caput, CP se refere ao fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante. A diferença entre os dois artigos (pela modalidade culposa do art. 252) é que quando se tratar de ofensa à saúde humana ou meio ambiente, se aplica o artigo 253, quando for sobre patrimônio é o 252. Inundação Art. 254 - (Inundação) Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa. Art. 255 - (Perigo de inundação) Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Desabamento ou desmoronamento Art. 256 - (Desabamento ou desmoronamento) Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § Ún. - (Culposa) Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano. ● Desabamento \ é a derrubada de obras produzidas pelo homem artificialmente ● Desmoronamento \ se refere à derrubada de partes do meio ambiente natural Inutilização de material de salvamento Art. 257 - (Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento) Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Qualificação de Perigo Comum Art. 258 - (Formas qualificadas de crime de perigo comum) Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. ● Qualificantes \ (art. 258, caput) ocorre quando há lesão corporal de natureza grave ou morte, aplicando-se tanto para casos dolosos quanto culposos Epidemia Art. 267 - (Epidemia) Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. 35 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos. É o primeiro dos crimes contra a saúde pública, o último capítulo dos crimes contra a incolumidade pública. ● Epidemia \ (art. 267, caput) causar uma epidemia, mediante de germes patogênicos – pode-se responsabilizar, também, as pessoas que tiveram uma má gestão em relação à saúde e provocou ou agravou casos epidêmicos [Pena: 10 a 15 anos] ● Qualificado \ (art. 267, §1º) é um crime hediondo, inclusive, se resultar em morte [Pena: dobrada] ● Culposo \ (art. 267, §2º) se resultar em morte a pena culposa é duplicada [Pena: 1 a 2 anos] Envenenamento de Substâncias Públicas Art. 270 - (Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal) Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. § 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. ● Envenenamento de substâncias públicas \ (art. 270, caput) inserir em alimentos, águas ou medicamentos substâncias que são perniciosas à saúde – um alimento, medicamento ou semelhante adulterado já é crime, mas este tipo penal garante um agravante do envenenamento [Pena: 10 a 15 anos] ● Distribuição de veneno \ (art. 267, §1º) quem entrega para o consumo ou tem em depósito mesma substância envenenada [Pena: 10 a 15 anos] Art. 271 - (Corrupção ou poluição de água potável) Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo ou nociva à saúde: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. § Ún. - (Modalidade culposa) Se o crime é culposo: Pena - detenção, de dois meses a um ano. Substâncias Nocivas à Saúde Pública Art. 278 - (Outras substâncias nocivas à saúde pública) Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou a fim medicinal: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. § Ún. - (Modalidade culposa) Se o crime é culposo: Pena - detenção, de dois meses a um ano. ● Substâncias nocivas à saúde pública \ (art. 278, caput) fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou entregar a consumo substância nociva à saúde (não referente a alimentação ou medicação, que já foram tratados em artigos anteriores) [Pena: 1 a 3 anos, e multa] Charlatanismo Art. 283 - (Charlatanismo) Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. ● Charlatanismo \ (art. 283, caput) há a promessa e venda de um processo de cura infalível ou que cura as enfermidadessem qualquer tipo de comprovação ou nexo [Pena: 3 meses a 1 ano, e multa] Curandeirismo Art. 284 - (Curandeirismo) Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III - fazendo diagnósticos: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § Ún. - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa. ● Curandeirismo \ (art. 284, caput) refere-se ao agente ativo que constantemente atende pessoas com promessas curandeiras (ou até mesmo charlatãs) [Pena: 6 meses a 2 anos] Quando o crime é cometido sob remuneração, há também a presença de multa. Crimes Contra a Fé Pública Os crimes contra a fé pública tutelam uma forma de organização coletiva na sociedade, condenando atos de falsificação de bens que vinculam na sociedade. 36 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Os crimes contra a fé pública são todos dolosos e não possuem aplicação do princípio da insignificância nem do instituto do arrependimento posterior (art. 16, CP). Todos os crimes documentais são formais, devendo possuir a finalidade de prejudicar o bem jurídico mas não necessariamente a concretização dessa finalidade e prejuízo para o Estado. Moeda Falsa Art. 289 - (Moeda falsa) Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa. § 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada. § 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. § Ún. - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa. ● Moeda falsa \ (art. 289, caput) crime formal que decorre da falsificação pela alteração ou fabricação de dinheiro falso, assim como quem guarda, introduz, cede, exporta, troca, empresta e afins para a sociedade (art. 289, § 1º) [Pena: 3 a 12 anos, e multa] É importante mencionar que a utilização de moeda falsificada de forma grosseira configura um crime de estelionato ( justiça estadual, não federal) por causa da súmula 73 do STJ. É necessário saber também que se torna um crime material com admissão de tentativa nos casos em que a vantagem financeira não é alcançada pelo sujeito ativo. ● Recirculação da moeda \ (art. 289, § 2º) quem tendo ganhado moeda falsa de boa-fé coloca ela novamente em circulação na sociedade conhecendo sua falsidade [Pena: 6 meses a 2 anos, e multa] Falsidade Documental A falsidade material de documentos são os tipos penais dos artigos 296, 297, 298, 301 §1º e 303. Há falsificação material em relação à: 1. Forma \ documento expedido ou criado por quem não tem o poder ou perícia para isso 2. Conteúdo \ alteração de um documento que inicialmente foi expedido regularmente O outro tipo de falsificação é a ideológica (artigos 299, 300, 301 caput e 302), sendo que ela ocorre em relação ao: 3. Conteúdo \ o documento está sendo expedido por quem pode expedir, mas as informações são falsas Há, também, uma diferença em relação ao tipo de documento que está sendo falsificado: ● Documento público \ todos que foram emanados da administração pública direta e também indireta ● Documentos equiparados a públicos \ (art. 297, § 2º, CP) emanados de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso (cheques), as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular ● Documentos particulares \ todos os que não forem públicos ou equiparados a públicos ● Documentos equiparados a particulares \ (art. 298, § Ún., CP)cartões de crédito ou débito (não importando se for de banco público ou privado) Falsidade de Documento Público Art. 297 - (Falsificação de documento público) Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. § 3º - Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdênciasocial, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perantea previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa 37 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. § 4º - Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3º, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. ● Falsificação de documento público \ (art. 297, caput) falsificar, no todo ou em parte, documento público (material em forma) ou alterar documento público verdadeiro (material em conteúdo) [Pena: 2 a 6 anos, e multa] ● Majorante \ (art. 297, § 1º) se o agente é funcionário público prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena [Pena: aumento de sexta parte] Falsidade de Documento Particular Art. 298 - (Falsidade de documento particular) Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. § Ún. - Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. ● Falsificação de documento particular \ (art. 298, caput) falsificação material de documento particular [Pena: , e multa] Falsidade Ideológica Art. 299 - (Falsidade ideológica) Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular. (Vide Lei no 7.209, de 1984) § Ún. - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. ● Falsidade ideológica \ (art. 299, caput) o documento está sendo expedido por um agente com perícia mas com informações falsas em relação ao conteúdo ou omissas [Pena: 1 a 5 anos, e multa (público)] [Pena: 1 a 3 anos, e multa (particular)] Deve-se notar que o tipo penal comum é um binômio, sendo composto pela conduta (omitir, inserir ou fazer inserir declaração falsa) e a finalidade específica (prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fatos juridicamente relevantes) – sendo necessário ambos para configurar o crime. Pelo entendimento da jurisprudência, declaração de pobreza modificada e currículo Lattes configuram um fato atípico.As fotocópias autenticadas têm o mesmo valor do documento original e, portanto, podem ser alvo do artigo 299. A súmula 17 do STJ diz respeito de um crime meio de falsificação para alcançar um crime fim de estelionato. Nesse caso, caso não haja mais potencial lesivo, só haveria crime de estelionato, absorvendo o crime de falsificação – pelo princípio da consunção (relação de meio e fim). Falsidade de Atestado Médico Art. 302 - (Falsidade de atestado médico) Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso Pena - detenção, de um mês a um ano. § Ún. - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. ● Falsidade de atestado médico \ (art. 302, caput) crime próprio que só pode ser cometido por alguém formado em medicina e que condena a conduta de dar atestado falso com a intenção de produzir documento falso, e não erros diagnósticos [Pena: 1 mês a 1 ano] ● Atestado médico mercenário \ (art. 302, § Ún.) se houver finalidade de lucro, há acumulação cumulativa de pena pecuniária [Pena: 1 mês a 1 ano, e multa] Uso de Documento Falso Art. 304 - (Uso de documento falso) Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. ● Uso de documento falso \ (art. 304, caput) refere-se ao agente que somente usa os documentos falsificados listados no título de documentos falsos [Pena: cominada à falsificação] Caso você falsifique o documento e o use, você responderá somente pelo crime de falsificação, sendo o crime de uso absorvido por ele. Crimes Contra a Administração Pública 38 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Os crimes contra a administração pública tutelam crimes praticados por funcionários públicos contra a adminsitração geral (crimes próprios funcionais), crimes praticados por particulares (crimes comuns), crimes particulares contra administrações estrangeiras, contra a administração da justiça e contra as finanças públicas. Art. 327 - (Funcionário Público) Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. Como é expresso nesse artigo, o conceito de funcionário público para o direito penal é muito mais amplo do que o mesmo conceito definido pelo direito administrativo. Para o direito penal, funcionário público é todo aquele que exerce cargo, emprego ou função pública (mesmo que transitório ou sem remuneração, como um mesário de eleições). O parágrafo 2º já prevê uma majorante para os crimes descritos nos artigos 312 a 326, sendo aumentada em ⅓ a pena quando os autores ocupam cargos em comissão, direçãoou assessoramento (não incluso autarquia). Peculato Art. 312 - (Peculato) Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. § 2º - (Peculato culposo) Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. ● Peculato \ (art. 312, caput) divide-se em dois tipos em que o objeto material é um bem móvel (público ou particular) que está em posse lícita do funcionário público em razão do seu cargo ○ Peculato aprorpriação \ (crime material) apropriar-se de um bem material móvel, dinheiro ou valor em razão do seu cargo público ○ Peculato desvio \ (crime formal) desviar bem material móvel, dinheiro ou valor em razão do seu cargo público para obter vantagem própria ou alheia – podendo ser um desvio moral ou econômico [Pena: 2 a 12 anos, e multa] ● Peculato furto \ (art. 312, § 1º) ocorre quando, embora não tenha a posse do bem material móvel, dinheiro ou valor, ele subtrai a coisa valendo-se da facilidade garantida por ser um funcionário público [Pena: 2 a 12 anos, e multa] ● Peculato culposo \ (art. 312, § 2º) ocorre quando há a concorrência de pessoas culposamente para o crime de outrem, sendo o concorrente um funcionário público (ex.: um funcionário público esquece a porta destrancada e uma pessoa furtar os pertences) (art. 312, § 3º) se o funcionário público que cometeu peculato culposo reparar o dano antes do trânsito em julgado, extiingue-se a punibilidade. Se reparar posteriormente à sentença, a pena reduz pela metade [Pena: 3 meses a 1 ano] O peculato é um crime funcional, ou seja, um crime que é próprio de um funcionário público. Os crimes funcionais próprios são aqueles que são exclusivos da condição de funcionários públicos, ou seja, se não existir mais o conceito de funcionário público, não existe mais tipicidade na conduta. Os crimes funcionais impróprios são aqueles na qual a conduta existe em outro tipo penal, logo, se o conceito de funcionário público deixar de existir, ainda assim a conduta será tipificada. O peculato é um exemplo próprio. Além disso, a possibilidade do peculato de uso (o funcionário público usar a coisa e depois devolvê-la sem qualquer intenção de se apropriar ou desviar) não é uma conduta criminosa (mas resulta em improbidade administrativa), somente é considerado crime se o agente foi um prefeito pela Lei 201/67. Art. 313 - (Peculato mediante erro de outrem) Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. ● Peculato estelionato \ (art. 313, caput) comete esse delito o funcionário que se apropria de dinheiro ou utilidade que recebe por erro de outrem durante o exercício do seu cargo – há uma posse ilícita já que a coisa foi recebida por erro 39 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial [Pena: 1 a 4 anos, e multa] Art. 313-A - (Inserção de dados falsos em sistema de informações) Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. ● Peculato eletrônico \ (art. 313-A, caput) refere-se à inserir, facilitar a inserção, alterar ou excluir dados verdadeiros do banco de dados da Administração Pública para obter vantagem indevida para si ou outrem ou para causar dano (exige a materialidade da finalidade para haver crime) Os únicos funcionários públicos que podem cometer esse delito são os funcionários públicos autorizados a mexerem em dados da administração [Pena: 2 a 12 anos, e multa] Inserção de Dados Falsos Art. 313-B - (Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações) Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. § Ún. - As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública oupara o administrado. ● Modificação não autorizada de informações \ (art. 313-B, caput) decorre do funcionário público modificar ou alterar sistemas de informações ou programa sem autorização [Pena: 3 meses a 2 anos, e multa] ● Majorante \ (art. 313-B, § Ún.) a pena é aumentada se a modificação resulta em dano para a Administração Pública [Pena: Aumentada de ⅓ a ½] Emprego Irregular de Verbas Públicas Art. 315 - (Emprego irregular de verbas ou rendas públicas) Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. ● Emprego irregular de verbas públicas \ (art. 315, caput) usar o dinheiro público para uma finalidade a qual ele não foi destinado, não importando se a nova finalidade for moralmente correta ou não [Pena: 1 a 3 meses, ou multa] Concussão Art. 316 - (Concussão) Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. ● Concussão \ (art. 316, caput) é um crime formal que consiste em exigir qualquer tipo de vantagem indevida em razão do cargo de funcionário público (não é solicitação, que configura outro crime), para si ou outrem, de forma direta ou indireta, mesmo entanto fora ou antes de assumir função de funcionário público (foi nomeado mas não tomou psse ou nao entrou em exercício) [Pena: 2 a 12 anos, e multa] Se a exigência de uma vantagem econômica, por exemplo, fosse feita sob grave ameaça, o crime deixaria de ser concussão e se tornaria extorsão. Corrupção Passiva Art. 317 - (Corrupção passiva) Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. ● Corrupção passiva \ (art. 317, caput) refere-se à conduta formar do funcionário público solicitar, receber ou aceitar promessa de vantagem indevida [Pena: 2 a 12 anos, e multa] ● Majorante \ (art. 317, § 1º) se a vantagem ou promessa faz com que o funcionário retarda ou deixa de epraticar qualquer ato de ofício ou pratica infringindo o dever funcional 40 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial [Pena: aumentada de ⅓] ● Corrupção passiva privilegiada \ (art. 317, § 2º) não há vantagem indevida envolvida (propina), ele deixa de praticar ou retarda ato de ofício cedendo ao pedido ou influência de alguém [Pena: 3 meses a 1 anos, ou multa] Prevaricação Art. 319 - (Prevaricação) Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. ● Prevaricação \ (art. 319, caput) prevê a mesma conduta da corrupção passiva privilegiada (retardar ou deixar de praticar indevidamente ato ou ofício ou praticá-la contra o correto). A diferença é que a finalidade na prevaricação é satisfazer interesse ou sentimento pessoal [Pena: 3 meses a 1 ano, e multa] Condencendência Criminosa Art. 320 - (Condencendencia criminosa) Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. ● Condescendência criminosa \ (art. 320, caput) na primeira parte do artigo, refere-se à um funcionário público de hierarquia superior deixar de responsabilizar seu subordinado e, na segunda parte, refere-se à um funcionário de mesmo nível hierárquico deixar de levar conhecimento do fato criminoso para autoridade competente [Pena: 15 dias a 1 mês, ou multa] Usurpação de Função Pública Art. 328 - (Usurpação de função pública) Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. § Ún. - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. ● Usurpação de função pública \ (art. 328, caput) usurpar o exercício de função pública (se passar por funcionário público e, necessariamente, praticar atos como se fosse aquele funcionário – caso não pratique atos, seria uma contravenção penal) (art. 328, § Ún.) se o agente confere algum tipo de vantagem financeira, o crime é qualificado [Pena: 3 meses a 2 anos, e multa] [Pena: 2 a 5 anos, e multa] Aqui inicia-se um novo capítulo no título, no caso, crimes praticados por particulares contra a Administração Pública. Diferentemente dos crimes anteriores, que eram crimes funcionais próprios, aqui estão presentes crimes comuns. Resistência Art. 329 - (Usurpação de função pública) Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. ● Resistência simples \ (art. 329, caput) crime formal que refere-se ao agente se opor à execução de um ato legal usando violência ou ameaça a um funcionário competente ou auxiliar – as penas dos crimes cometidos durante a resistência ainda são aplicáveis, também, na pena total (art. 329, § 2º) [Pena: 2 meses a 2 anos] ● Resistência qualificada \ (art. 329, § 1º) ocorre quando a oposição (resistência) ao ato funciona e a execução do funcionário não ocorre [Pena: 1 a 3 anos] Desobediência Art. 330 - (Desobediência) Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. ● Desobediência \ (art. 330, caput) compara-se ao crime de resistência porém sem uso de violência ou grave ameaça [Pena: 15 dias a 6 meses, e multa] Desacato Art. 331 - (Desacato) Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 41 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial ● Desacato \ (art. 331, caput) desacatar (menosprezar, diminuir, humilhar…) funcionário público no exercício da função ou em razão dela – é importante ressaltar que esse tipo somente procede em presença física da autoridade pública A vítima de desacato é o Estado, sendo que os funcionários desacatados são traatadas como testemunha, e não como vítima [Pena: 6 meses a 2 anos, ou multa] Corrupção Ativa Art. 333 - (Corrupção ativa) Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § Ún. - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. ● Corrupção ativa \ (art. 333, caput) oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público com intúito de alterar a atividade dele [Pena: 2 a 12 anos, e multa] Descaminho e Contrabando Art. 334 - (Descaminho) Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou impostodevido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 1º - Incorre na mesma pena quem: I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º - A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. Art. 334-A - (Contrabando) Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. § 1º - Incorre na mesma pena quem: I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente; III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º - A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. Falso Testemunho Art. 342 - (Falso testemunho ou falsa perícia) Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º - As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2º - O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. 42 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Denunciação Caluniosa Art. 339 - (Denunciação caluniosa) Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. Crimes Contra o Estado Democrático de Direito O Estado é caracterizado por uma organização social e jurídica formada por instituições que administram o país (população, território e soberania). A democracia gira em torno da escolha dos representantes do Estado pelo povo e possuem garantias de direitos fundamentais, o que mantém a dignidade humana. A Lei 14.197/2021 (nova lei de segurança nacional) é a lei que institui os crimes contra o Estado democrático de direito. Art. 359-T - (Disposições comuns) Não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais. Os crimes previstos contra o Estado Democrático de Direito possuem essa disposição que instaura que cada caso concreto deve ser analisado, já que a manifestação crítica aos poderes, reivindicação de direitos e afins são direitos fundamentais da democracia. É importante entender que devem possuir propósitos sociais, como diz o tipo, e não propósitos alheios ou que ferem a liberdade de outrem. Atentado à Integridade Nacional Art. 359-J - (Atentado à integridade nacional) Praticar violência ou grave ameaça com a finalidade de desmembrar parte do território nacional para constituir país independente: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, além da pena correspondente à violência. ● Atentado à integridade nacional \ (art. 359-J, caput) aqui, o agente ativo tem a intenção de desmembrar o território nacional para contituir um país novo e faz uso da violência ou grave ameaça [Pena: 2 a 6 anos, além da pena da violência] Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito Art. 359-L - (Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito)Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência. ● Abolição violenta do estado democrático de direito \ (art. 359-L, caput) tentar abolir o Estado democrático de direito a partir da restrição dos poderes constitucionais a partir da violência ou grave ameaça [Pena: 4 a 8 anos, além da pena da violência] Golpe de Estado Art. 359-M - (Golpe de Estado) Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, além da pena correspondente à violência. ● Golpe de estado \ (art. 359-M, caput) refere-se à tentativa de subverter o governo legitimamente constituído por meio de violência ou grave ameaça (quase como uma extensão ou especificação do tipo penal anterior) [Pena:4 a 12 anos, além da pena da violência] Interrupção do Processo Eleitoral Art. 359-N - (Interrupção do processo eleitoral) Impedir ou perturbar a eleição ou a aferição de seu resultado, mediante violação indevida de mecanismos de segurança do sistema eletrônico de votação estabelecido pela Justiça Eleitoral: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. ● Interrupção do processo eleitoral \ (art. 359-N, caput) refere-se à violação indevida do mecanismo de segurança do sistema eletrônico de votação para impedir ou perturbar as eleições [Pena: 3 a 6 anos, e multa] Violência Política Art. 359-P - (Violência política) Restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual ou psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer 43 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial pessoa em razão de seu sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa, além da pena correspondente à violência. ● Violência política \ (art. 359-P, caput) restringir, impedir ou dificultar o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em razão à preconceitos com emprego de violência física, psicológica ou sexual [Pena: 3 a 6 anos, e multa, além da pena da violência] Sabotagem Art. 359-R - (Sabotagem) Destruir ou inutilizar meios de comunicação ao público, estabelecimentos, instalações ou serviços destinados à defesa nacional, com o fim de abolir o Estado Democrático deDireito: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. ● Sabotagem \ (art. 359-R, caput) destruir ou inutilizar meios de comunicação, estabelecimentos, instalações ou serviços de defesa nacional com a intenção de abolir o estado democrático de direito [Pena: 2 a 8 anos] 44 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Crimes Contra a Vida 1 Homicídio Doloso Simples 1 Homicídio Doloso Privilegiado 2 Homicídio Doloso Qualificado 2 Homicídio Doloso Majorado 3 Homicídio Culposo 3 Induzimento ao Suicídio ou à Automutilação 3 Infanticídio 4 Aborto 4 Crime de Lesão Corporal 5 Observações Gerais 5 Gravidade da Lesão Corporal 6 Lesão Privilegiada e Culposa 6 Lesão Majorante e Perdão Judicial 6 Lesão em Violência Doméstica 6 Ação Penal 7 Periclitação da Vida e da Saúde & Rixa 7 Perigos de Contágio e à Saúde 7 Crimes de Abandono 7 Omissão de Socorro 8 Maus-tratos 9 Rixa 9 Crimes Contra a Honra 9 Introdução à Honra 9 Calúnia 9 Difamação 10 Injúria 10 Disposições Gerais sobre Crimes Contra a Honra 11 Crimes Contra a Liberdade Individual 11 Constrangimento Ilegal 11 Ameaça e Perseguição 12 Sequestro e Cárcere Privado 12 Condição Análoga à de Escravo e Tráfico de Pessoas 13 Violação de Domicílio 13 Correspondência Comercial 14 Divulgação de Segredo 14 Violação do Segredo Profissional 14 Crimes Contra o Patrimônio e Propriedade Imaterial 15 Furto 15 Furto de Coisa Comum 16 Roubo 16 Extorsão 17 Extorsão Mediante Sequestro 18 Extorsão Indireta 18 Usurpação 18 Dano 19 Animais em Propriedade Alheia 19 Alterações do Dano para Leis Especiais 20 Apropriação Indébita 20 Apropriação da Coisa 21 Estelionato 21 Duplicata Simulada 22 Abuso de Incapazes 23 Induzimento à Especulação 23 Fraude no Comércio 23 Outras Fraudes 23 Receptação 24 Disposições Gerais 25 Violação de Direito Autoral 25 Crimes Contra a Organização do Trabalho 26 Liberdade do Trabalho 26 Liberdade de Contrato de Trabalho e Boicotagem 26 Liberdade de Associação 26 Paralisação de Trabalho 26 Invasão de Estabelecimento Comercial 27 Frustrações de Trabalho 27 Exercício Ilegal de Trabalho 27 Aliciamentos de Trabalho 28 Crimes Contra o Religião e Respeito aos Mortos 28 Ultraje a Culto 28 Impedimento ou Perturbação de Cerimônia Funerária 28 Outros Crimes Contra os Mortos 28 Crimes Contra a Liberdade Sexual e Família 29 Estupro 29 Violação Sexual Mediante fraude 29 Importunação Sexual 30 Assédio Sexual 30 Exposição da Intimidade Sexual 30 Estupro de Vulnerável 30 Corrupção de Menores 31 Lascívia na Presença de Menores 31 Favorecimento da Exploração de Vulnerável 31 Exposição de Vulnerável 31 Observações e Majorantes Gerais 32 Mediação de Lascívia de Outrem 32 Favorecimento de Exploração Sexual 32 Rufianismo 33 Ato Obsceno 33 Escrito ou Ato Obsceno 33 Bigamia 34 Abandono Material 34 Crimes Contra a Incolumidade Pública 34 Incêndio 34 Explosão 34 Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante 35 Inundação 35 Desabamento ou desmoronamento 35 Inutilização de material de salvamento 35 Qualificação de Perigo Comum 35 Epidemia 35 45 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial Envenenamento de Substâncias Públicas 36 Substâncias Nocivas à Saúde Pública 36 Charlatanismo 36 Curandeirismo 36 Crimes Contra a Fé Pública 36 Moeda Falsa 37 Falsidade Documental 37 Falsidade de Documento Público 37 Falsidade de Documento Particular 38 Falsidade Ideológica 38 Falsidade de Atestado Médico 38 Uso de Documento Falso 38 Crimes Contra a Administração Pública 38 Peculato 39 Inserção de Dados Falsos 40 Emprego Irregular de Verbas Públicas 40 Concussão 40 Corrupção Passiva 40 Prevaricação 41 Condencendência Criminosa 41 Usurpação de Função Pública 41 Resistência 41 Desobediência 41 Desacato 41 Corrupção Ativa 42 Descaminho e Contrabando 42 Falso Testemunho 42 Denunciação Caluniosa 43 Crimes Contra o Estado Democrático de Direito 43 Atentado à Integridade Nacional 43 Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito 43 Golpe de Estado 43 Interrupção do Processo Eleitoral 43 Violência Política 43 Sabotagem 44 46