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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
Direito Penal Parte Especial
Crimes Contra a Vida
Homicídio Doloso Simples
Para o direito penal, há dois tipos de vida:
● Vida intrauterina \ é a vida do feto presente dentro do
saco amniótico, tal que é relevante somente para o crime
de aborto nos crimes contra a vida
● Vida extrauterina \ é a vida fora do saco amniótico (no
início do parto, não sendo necessário nem que o bebê
tenha respirado), relevante para todos os crimes contra a
vida, exceto o aborto (relevante, logo, ao homicídio)
○ Nascente \ é a pessoa que está em início de parto
(rompimento do saco amniótico) mas que ainda não
respirou
○ Nascido \ (neonato) ser que já foi parido
Quando o crime contra a vida é doloso, a competência de
julgamento é do Tribunal do Júri (art. 5º, XXXVIII, "d", CF/88)
e, quando culposo, é da Vara Criminal comum. Dito isso, é
essencial saber que o único crime contra a vida que admite
forma culposa é o homicídio.
Art. 121 - (Homicídio simples) Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 1º - (Caso de diminuição de pena) Se o agente comete o
crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
a pena de um sexto a um terço.
§ 2° - (Homicídio qualificado) Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade
ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
VI - (Feminicídio) contra a mulher por razões da condição
de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição:
VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A - Considera-se que há razões de condição de sexo
feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
§ 3º - (Homicídio culposo) Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 4o - (Aumento de pena) No homicídio culposo, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio,
a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior
de 60 (sessenta) anos.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá
deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária.
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade
se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto
de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço)
até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao
parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60
(sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças
degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de
ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de
urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22
da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.
O crime de homicídio doloso pode ser praticado de quatro
formas diferentes descritas ao longo de todo o artigo:
● Simples \ (art. 121, caput) é a supressão da vida humana
extrauterina (nascente ou nascido) praticada por outra
pessoa, tal que a vida se esgota quando a atividade
encefálica acaba
[Pena: 6 a 20 anos]
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Homicídio Doloso Privilegiado
● Privilegiado \ (art. 121, § 1º) para o homicídio ser
privilegiado, basta que o sujeito tenho o cometido em uma
dessas situações:
○ Por relevante valor social \ o motivo do homicídio
atende aos interesses da coletividade (todo o corpo
social), e não somente do agente (ex.: o assassinato de
um político corrupto por um agente revoltado)
○ Por relevante valor moral \ o motivo se relaciona a
um interesse particular do responsável, aprovado pela
moralidade prática e considerado nobre e altruísta (ex.:
matar aquele que estuprou sua filha ou esposa)
○ Eutanásia \ modo comissivo de abreviar a vida de
uma pessoa portadora de doença grave, em estado
terminal, sem cura ou recuperação pela ciência,
configurando, sim, um privilegiador de homicídio
○ Ortotanásia \ a pessoa em estado já descrito tem
seu tratamento interrompido, deixando a doença
atacar, não sendo crime se de acordo com a
vontade da pessoa ou do representante legal
○ Distanásia \ prolongamento da vida de uma pessoa
sem levar em consideração o conforto ou
sofrimento causado pelo procedimento, logo, não é
crime
○ Sob domínio de violenta emoção logo em seguida a
injusta provocação da vítima \ o agente tem que estar
sob domínio de violenta emoção (e não influencia) e
tem que ter sofrido uma provocação injusta imediata –
semelhante ao caso de legítima defesa – logo, não
pode ser um crime premeditado
[Pena: reduzida de ⅙ a ⅓]
Homicídio Doloso Qualificado
● Qualificado \ (art. 121, § 2º) os qualificadores do
homicídio são aspectos que tornam o crime ainda mais
grave do que já é, sendo esses motivos:
○ Mediante paga ou promessa de recompensa, ou outro
motivo torpe \ (homicídio mercenário) "torpe" vem de
um motivo repugnante e reprovável moralmente,
exemplificado pelo mercenarismo e tornando-se um
qualificador do homicídio – vingança e ciúmes não
necessariamente são um motivo torpe (ex.: mata
alguém por dívidas ilegais)
○ Motivo fútil \ é um motivador insignificante e
desproporcional à natureza do crime praticado,
fundamentado no direito como motivo egoísta – a
ausência de motivo e ciúme não é um motivo fútil,
diferentemente da embriaguez que pode vir a ser
○ Meio insidioso, cruel ou perigo comum \ (veneno –
sem saber que está ingerindo veneno, explosivo,
asfixia, tortura…) os meios são descritos por:
○ Meio insidioso \ consiste no uso de estratagema,
perfídia ou fraude para cometer um crime sem que
a vítima o perceba (ex.: retirar o óleo do carro da
vítima para provocar um acidente fatal)
○ Meio cruel \ proporciona à vítima um intenso e
desnecessário sofrimento físico ou mental, quando
poderia ter sido praticada de forma menos dolorosa
(ex.: matar alguém lentamente com inúmeros
golpes de faca em região não letal)
○ meio que possa resultar em perigo comum \
aquele que expõe não somente a vítima, mas
diversas pessoas a uma situação de probabilidade
de dano (ex.: diversos tiros na vítima em rua
movimentada)
○ Impossível defesa do ofendido \ exemplifica-se pela
traição, dissimulação e emboscada
○ traição \ o ofendido confiava, previamente, no
agente do crime, tendo sua confiança traída
fisicamente (ex.: atirar pelas costas) ou moralmente
(ex.: atrair a vítima para um precipício)
○ Dissimulação \ é a atuação disfarçada, hipócrita,
que oculta a real intenção do agente, podendo ser
material (ex.: emprego de algum aparato, tal como
uma farda policial) ou moral (ex.: demonstração
falsa de simpatia
○ Emboscada \ o agente aguarda escondido, em
determinado local, para matar a vítima
desprevenidamente
○ Assegurar aexecução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime \ se divide em dois tipos de
conexão com outro crime:
○ Conexão teleológica \ o homicídio é praticado para
assegurar a execução de outro crime, matando
alguém primeiro para praticar outro delito (ex.:
matar o segurança para sequestrar o empresário)
○ Conexão consequencial \ o homicídio é cometido
para assegurar a ocultação, a impunidade (ex.:
queima de arquivo) ou a vantagem de outro crime
(ex.: o sujeito comete um crime e só depois o
homicídio)
○ Feminicídio \ o homicídio é praticado contra uma
mulher por razões do sexo feminino – violência
doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à
condição de mulher – a pena é aumentada de acordo
com os incisos do parágrafo sétimo do art. 121, CP
○ Contra autoridades, forças armadas e segurança
pública \ a qualificadora ocorre sempre quando se
mata um agente descrito nesse inciso em exercício de
função ou quando a motivação decorre da função da
vítima
○ Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido \ (empregado pela Lei 13.964/2019 – pacote
anti-crime) ocorre com o uso de arma de fogo que
possui uso restrito ou proibido
○ O porte da arma de fogo pode ser pessoal ou
funcional, sendo o uso permitido, restrito ou
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proibido – sendo que se o porte for pessoal, a única
possibilidade é de uso permitido
[Pena: 12 a 30 anos]
Um homicídio pode ser considerado como qualificado e
privilegiado ao mesmo tempo desde que as qualificadoras
forem objetivas (incisos III e IV, que tem a ver com o meio e
não com o motivo), deixando de ser um crime hediondo.
Quando hámais de uma qualificadora, o magistrado usa
uma delas para qualificar o crime, e as demais são
circunstâncias judiciais desfavoráveis, que influenciam na
dosimetria da pena-base (1º fase).
Homicídio Doloso Majorado
● Majorado \ (art. 121, § 4º, 2a parte, § 6º, § 7º) a pena
aumenta por praticar o crime contra menor de 14 anos ou
maior de 60 anos. Além de quando a pena é praticada por
milícia privada em prestação de serviço de segurança ou
por grupo de extermínio – além dos destaques do último
parágrafo sobre a qualificante do feminicídio
[Pena: aumentada em ⅓]
Homicídio Culposo
Se culposo (exceto na condução de veículo automotor, que
é aplicado outro código), pode estar presente de três formas:
● Simples \ (art. 121, § 3º) homicídio dado por negligência,
imprudência ou imperícia
[Pena: 1 a 3 anos]
● Majorado \ (art. 121, § 4º, parte 1) é causa de aumento de
pena no homicídio culposo se:
○ Inobservância da regra técnica, arte ou ofício \ o
sujeito tem a perícia, mas por negligência ou
imprudência ele a ignora
○ O agente não presta socorro
○ Foge para evitar prisão em flagrante
[Pena: aumentada em ⅓]
● Perdão judicial \ (art. 121, § 5º) é um tipo de exclusão de
punibilidade que ocorre somente na hipótese de homicídio
culposo se as consequências da infração atingirem o
agente de forma tão grave que a sanção penal é
desnecessária (hipótese de bagatela imprópria)
[Pena: excluída]
Induzimento ao Suicídio ou à Automutilação
Art. 122 - (Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou
a automutilação) Induzir ou instigar alguém a suicidar-se
ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material
para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º - Se da automutilação ou da tentativa de suicídio
resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima,
nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º - Se o suicídio se consuma ou se da automutilação
resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ 3º - A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou
fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer
causa, a capacidade de resistência.
§ 4º - A pena é aumentada até o dobro se a conduta é
realizada por meio da rede de computadores, de rede
social ou transmitida em tempo real.
§ 5º - Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder
ou coordenador de grupo ou de rede virtual.
§ 6º - Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta
em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido
contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência, responde o
agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste
Código.
§ 7º - Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
quem não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.
● Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou à
automutilação \ (art. 122, caput) crime que considera três
formas de consumação (abaixo) a fim da vítima (terceira
pessoa determinável) sofrer um suicídio ou automutilação
(que não é crime pelo princípio da alteridade)
○ Induzir \ fazer nascer a ideia
○ Instigar \ potencializar uma ideia já existente
○ Auxiliar \ ajudar materialmente
A Lei 13968 de 2019 passou a considerar este fato típico
como um crime formal, logo, a simples conduta de induzir,
instigar ou auxiliar alguém já consuma o delito, com ou sem
alguma tentativa da vítima de suicídio ou automultilação.
As formas do crime são:
● Simples \ (art. 122, caput) induzir, instigar ou auxiliar
alguém a cometer suicídio ou automutilação (crime formal)
[Pena: 6 meses a 2 anos]
● Qualificado \ existem dois qualificadores para esse tipo
penal:
○ § 1º \ (art. 122, § 1º) o crime resultou em lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima da vítima
[Pena: 1 a 3 ano]
○ § 2º \ (art. 122, § 2º) o crime resultou na morte da
vítima
[Pena: duplicada]
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● Crime de lesão corporal ou homicídio \ (art. 122, §§ 6º e
7º) o crime passa a ser de lesão corporal de natureza
gravíssima caso a vítima seja menor de 14 anos, não
possua discernimento por deficiência mental ou não possa
oferecer resistência e resulta em lesão corporal de
natureza gravíssima – ou passa a ser homicídio
consumado caso essa mesma vítima morra
[Pena: desclassificação]
O tipo penal não admite tentativa a menos que, sendo
plurissubsistente, a indução, instigação ou auxílio não chegar
até a vítima pretendida.
● Majorado \ as causas de aumento de pena são as
seguintes:
○ § 3º \ (art. 122, § 3º) a pena duplica se o crime é
praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil e/ou se a
vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa,
capacidade de resistência
[Pena: duplicada]
○ § 4º \ (art. 122, § 4º) a pena é aumentada até o dobro
se a conduta é realizada por meio da rede de
computadores, rede social ou transmitida em tempo
real
[Pena: multiplicada até o dobro]
○ § 5º \ (art. 122, § 5º) a pena aumenta pela metade se o
agente for líder ou coordenador de grupo ou de rede
virtual
[Pena: aumentada pela metade]
Infanticídio
Art. 123 - (Infanticídio) Matar, sob a influência do estado
puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
O tipo penal de infanticídio qualifica-se por um crime
material que difere-se do tipo do homicídio por elementos
especializantes, sendo que é um crime próprio quanto ao
sujeito ativo: deve ser mãe e estar sob a influência do estado
puerperal.
● Estado puerperal \ perturbação psicossomática
(sintomática da depressão pós parto) que causa na mãe a
vontade de matar o próprio filho
A descrição de infanticídio declara que o infanticídio deve
ser cometido durante o parto (nascente) ou logo após
(analisado pela medicina legal).
É possível que qualquer pessoa pratique infanticídio desde
que aja em concurso de pessoas (art. 30, CP) juntamente à
mãe na hora do crime.
Caso a mãe mate outra criança ao invés do seu filho, o erro
de tipo acidental sobre a pessoa (art. 20,CP) exige que ela
responda por quem queria atingir, logo, é infanticídio e não
homicídio.
Aborto
Art. 124 - (Aborto provocado pela gestante ou com seu
consentimento) Provocar aborto em si mesma ou consentir
que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
● Aborto \ (art. 124) a gestante provoca aborto em si
mesma ou consente para que alguém o provoque, sendo,
portanto, um crime de mão própria (não há coautoria)
○ Participe \ alguém pode atuar em concurso de pessoas
como participe no crime de aborto (art. 124) ao
instigar, induzir ou auxiliar a conduta da gestante
[Pena: 1 a 3 anos]
Esse tipo penal é doloso e material, logo, é possível ser um
crime tentado.
Art. 125 - (Aborto provocado por terceiro) Provocar
aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
● Aborto sem consentimento \ (art. 125) há duas vítimas, o
feto e a gestante (crime de dupla subjetividade passiva),
tal que qualquer pessoa pode praticá-lo
[Pena: 3 a 10 anos]
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da
gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ Ún. - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante
não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude,
grave ameaça ou violência
● Aborto com consentimento \ (art. 126) esse tipo penal
refere-se à quem executa o aborto consentido, e não a
quem induz, instiga e auxilia, (ex.: o médico que abortou
responde pelo 126, o namorado da gestante que instigou
responde pelo 124)
[Pena: 1 a 4 anos]
○ § Único \ (art. 126, § Ún.) com a gestante sendo menor
de 14 anos, alienada ou débil mental, ou com
consentimento sob fraude, grave ameaça ou violência,
a pena aumenta
[Pena: 3 a 10 anos]
Art. 127 - (Forma qualificada) As penas cominadas nos
dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se,
em consequência do aborto ou dos meios empregados
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas
causas, lhe sobrevém a morte.
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● Qualificado \ (art. 127) para provocação de aborto com ou
sem consentimento (arts. 125 e 126), a pena aumenta em
⅓ se resultar em lesão corporal de natureza grave ou é
duplicada se causar a morte da gestante – a lesão e a
morte são causadas de forma culposa e designam,
portanto, um crime preterdoloso, onde não se há intensão
de lesionar nem matar, somente de abortar
[Pena: aumentada ⅓ ou duplicada]
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
I - (Aborto necessário) se não há outro meio de salvar a
vida da gestante;
II - (Aborto no caso de gravidez resultante de estupro) se a
gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu
representante legal.
● Aborto terapêutico necessário \ (art. 128, I) aborto
praticado por médico em que não há outro meio de se
salvar a vida da gestante, tal que não é uma questão de
escolha da mãe – é fato típico mas não antijurídico por
estado de necessidade
[Pena: excluída]
● Aborto humanitário \ (art. 128, II) quando a gestação
decorre de estupro, se a mãe ou representante legal
consentir, há a possibilidade de aborto praticado por
médico – é fato típico mas não antijurídico por exercício
regular de direito
[Pena: excluída]
● Aborto eugênico \ (APDF 54, não contido em lei) é o
abortamento de um feto com anencefalite e com
consentimento da gestante – não é um fato típico já que é
um crime impossível
[Pena: não há]
Crime de Lesão Corporal
Observações Gerais
Art. 129 - (Lesão corporal) Ofender a integridade corporal
ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 1º - (Lesão corporal de natureza grave) Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de
trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° - Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 3° - (Lesão corporal seguida de morte) Se resulta morte
e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 4° - (Diminuição de pena) Se o agente comete o crime
impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço.
Substituição da pena
§ 5° - O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos
mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa
§ 6° - Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
§ 7º - (Aumento de pena) Aumenta-se a pena de 1/3 (um
terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do
art. 121 deste Código.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art.
121.
§ 9º - (violência doméstica) Se a lesão for praticada contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro,
ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 10 - Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se
as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo,
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
§ 11 - Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será
aumentada de um terço se o crime for cometido contra
pessoa portadora de deficiência.
§ 12 - Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição, a pena é aumentada de um a dois terços.
§ 13 - Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões
da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art.
121 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).
O crime de lesão corporal é um crime comum quanto ao
sujeito ativo e passivo, de forma que todos podem praticar e
ser vítima dele – sendo o dolo do tipo penal o ato de lesionar
somente. Em sua forma dolosa, admite tentativa por ser um
crime material.
● Lesão corporal \ (art. 129, caput) a conduta do agente é
dirigida a ofender a integridade física ou a saúde da vítima
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
(ex.: lesionar o nariz da vítima ou transmitir uma doença
incurável)
● Vias de fato \ é uma contravenção na qual não há lesão
na vítima (ex.: puxar o cabelo), já que a dor,
desacompanhada de alteração anatômica ou ofensa à
saúde, não constitui lesão
○ Equimoses \ rompimento de pequenos vasos
sanguíneos no tecido subcutâneo e que, por romper
tecidos e provocar um roxo, caracteriza lesão corporal
○ Eritemas \ são um deslocamento sanguíneo
momentâneo que provoca vermelhidão na pele –
caracterizando contravenção de vias de fato ou
tentativa de lesão corporal
Obs.: A realização de tatuagens e piercings em menores
de idade caracteriza crime de lesão corporal para quem
realizou o procedimento.
Gravidade da Lesão Corporal
● Gravidade da lesão \ a gravidade da lesão interfere na
tipificação somente se o crime for doloso
A gravidade da lesão pode classificar o crime doloso em
quatro categorias diferentes:
● Lesão leve \ (art. 129, caput) qualifica-se pelas
características da lesão que não se enquadram como
grave ou gravíssima, ou seja, é obtida por exclusão
[Pena: 3 meses a 1 ano]
● Lesão grave \ (art. 129, § 1º) resulta em: incapacidade das
ocupações habituais (trabalhos e rotinas), por mais detrinta dias; perigo de vida; debilidade permanente de
membro, sentido ou função; ou aceleração de parto
[Pena: 1 a 5 anos]
● Lesão gravíssima \ (art. 129, § 2º) resulta em:
incapacidade permanente de trabalho; enfermidade
incurável; perda ou inutilização de membro, sentido ou
função; deformidade permanente; ou aborto (o aborto é
culposo, agindo como qualificadora)
[Pena: 2 a 8 anos]
● Lesão seguida de morte \ (art. 129, § 3º) a intenção é
exclusivamente lesionar, e não a morte, sendo
caracterizado como um preterdolo – a agente não quis a
morte e nem assumiu o risco de produzi-la, não
abrangendo, também, mortes inesperadas e imprevisíveis
[Pena: 4 a 12 anos]
Lesão Privilegiada e Culposa
● Lesão Privilegiada \ (art. 129, § 5º) ocorre quando o
agente comete a lesão por motivo de relevante valor
social ou moral ou sob domínio de violenta emoção, logo
em seguida injusta provocação da vítima
[Pena: reduzida de ⅓ a ⅙]
● Substituição da pena \ (art. 129, § 5º) não sendo graves
ou gravíssimas as lesões, sendo privilegiado e se forem
recíprocas, a pena de detenção pode ser substituída pela
de multa (200 mil réis a 2 contos de réis)
[Pena: multa]
● Lesão culposa \ (art. 129, § 6º) ocorre quando, por
negligência, imprudência ou imperícia, há danos à saúde
ou integridade corporal da vítima sem que seja relevante a
gravidade da lesão
[Pena: 2 meses a 1 ano]
Lesão Majorante e Perdão Judicial
● Majorante \ (art. 129, § 7º) o aumento de pena ocorre se o
crime foi praticado por milícia privada em serviço ou grupo
de extermínio ou se, nos seguintes casos, ocorrer:
○ Culposa \ se o agente age sob inobservância de
arte/ofício, deixa de prestar socorro à vítima ou foge
para evitar prisão em flagrante
○ Dolosa \ se o agente é menor de 14 anos ou maior de
60 anos
[Pena: aumento de ⅓]
● Perdão judicial \ se as consequências da lesão culposa à
vítima atingiram o próprio agente de forma proporcional,
há a extinção da punibilidade
[Pena: excluída]
Lesão em Violência Doméstica
A lesão corporal em contexto de violência doméstica é um
tipo penal qualificante que atinge vítimas específicas. Caso
ela seja culposa, a qualificante não se aplica, se dolosa,
temos os seguintes casos:
● Violência doméstica leve \ (art. 129, § 9º) ocorre contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro,
coabitante ou hóspede
[Pena: 3 meses a 3 anos]
● Violência doméstica grave \ (art. 129, § 10º) sendo a
violência doméstica grave, gravíssima ou seguida de
morte, a tipificação do crime será nos parágrafos
correspondentes, possuindo um aumento qualificante por
ser doméstico
[Pena: aumento de ⅓]
● Vítima doméstica deficiente \ (art. 129, § 11º) caso a
vítima do § 9º seja portadora de deficiência, a pena é
aumentada
[Pena: aumentada em ⅓]
● Sexo feminino \ (art. 129, § 13º) se uma lesão qualquer
for praticada contra uma mulher por causa do seu sexo
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feminino (como descrito no art. 121, § 2º-A, misogenia), a
pena é de:
[Pena: 1 a 4 anos]
Ação Penal
● Ação pública incondicionada I \ (art. 100, CPB) ocorre
quando a lesão é grave, gravíssima ou seguida de morte
em qualquer contexto (doméstico ou não)
● Ação pública condicionada \ (art. 88, Lei 9.099/95)
quando a lesão é leve e culposa e tem como vítima um
homem (independentemente do contexto) ou mulher (em
situação não doméstica)
● Ação pública incondicionada II \ (ADI 4.424/DF e súmula
542 do STJ) quando a lesão é leve e culposa e a vítima é
mulher em contexto doméstico
Periclitação da Vida e da Saúde & Rixa
Perigos de Contágio e à Saúde
Nesses tipos penais, estamos falando de crimes de perigo
(abstratos ou concretos), ou seja, aqueles que ameaçam o
bem jurídico que possuem probabilidade de sofrer uma lesão.
Art. 130 - (Perigo de contágio venéreo) Expor alguém, por
meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber
que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.
● Perigo de contágio venéreo \ (art. 130, caput) crime
concreto em que a vítima é posta em perigo
conscientemente por um agente que não deixa explícita a
doença, por meio de um ato libidinoso, à uma doença
venérea (transmissão se dá pelo ato libidinoso tão
somente, logo, HIV não é contemplado)
[Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa]
● Qualificado \ (art. 130, § 1º) a intenção do agente é
transmitir a moléstia, sendo um dolo de dano
[Pena: 1 a 4 ano, e multas]
Portanto, é um crime próprio quanto ao sujeito ativo
(preexistência da doença venérea) e comum ao passivo. É
comissivo (expor) mas pode ser omissivo na forma imprópria
– admite, também, a tentativa, sendo consumado quando o
perigo é exposto.
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de
produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
● Perigo de contágio de moléstia grave \ (art. 131, caput)
é um crime de dano pela redação da lei que, por sua vez, é
a prática de um ato por um sujeito ativo próprio portador
de uma doença grave (tipo penal em branco heterogêneo)
a fim de contaminar outra pessoa, admitindo tentativa (ex.:
agente com intenção de transmitir HIV por qualquer via
necessária)
[Pena: 1 a 4 anos, e multa]
Os dois artigos admitem crime impossível nos casos em
que o agente não sabe que não possui a doença ou que já foi
curado delas. Caso haja a contaminação, de fato, o crime
pode evoluir para lesão corporal e tentativa de homicídio
Art. 132 - (Perigo para a vida ou saúde de outrem) Expor a
vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não
constitui crime mais grave.
§ Ún. - A pena é aumentada de um sexto a um terço se a
exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre
do transporte de pessoas para a prestação de serviços em
estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo
com as normas legais.
● Perigo para a vida ou saúde de outrem \ (art. 132,
caput) esse crime abrange a exposição de pessoas a
perigos diretos ou iminentes contra suas vidas ou saúde
[Pena: 3 meses a 1 ano]
É um crime de perigo concreto subsidiário (ou seja, o
agente só responde por ele caso a conduta não esteja
inserida em outro tipo penal de forma mais gravosa).
Crimes de Abandono
Art. 133 - (Abandono de incapaz) Abandonar pessoa que
está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e,
por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza
grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - (Aumento de pena) As penas cominadas neste
artigo aumentam-se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge,
irmão, tutor ou curador da vítima;
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
● Abandono de incapaz \ (art. 133, caput) crime de perigo
próprio em que um sujeito ativo abandona um sujeito
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passivo próprio (requer uma relação com o agente) que,
independentemente do motivo, não é capaz de se
defender sozinho dos riscos do abandono – admite
tentativa
○ Cuidado \ assistência a pessoas com perda temporária
da capacidade de cuidar de si mesmas
○ Guarda \ assistência a pessoas que não prescindem
dela
○ Vigilância \ zelo pela segurança alheia (sem o rigor da
guarda)
○ Autoridade \ inerente ao vínculo de poder que uma
pessoa tem sobre outra
[Pena: 6 meses a 3 anos]
● Qualificado \ (art. 133, §§ 1º e 2º) ocorre quando a vítima
é exposta à lesão corporal preterdolosa decorrente do
abandono ou à morte, tendo como pena, respectivamente:
[Pena: 1 a 5 anos]
[Pena: 4 a 12 anos]
● Majorante \ (art. 133,§ 3º) a pena é aumentada se o
lugar do abandono é ermo (espaço sem frequente
circulação de pessoas), se o agente possui relação direta
com a vítima ou de responsabilidade (tutor ou curador), ou
se a vítima é maior de 60 anos
[Pena: aumento de ⅓]
Art. 134 - (Exposição ou abandono de recém-nascido)
Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra
própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
● Exposição ou abandono de recém-nascido \ (art. 134,
caput) crime comissivo de perigo concreto do abandono
do recém-nascido que decorre da preservação da honra
da mãe
○ Desonra própria \ crime praticado honoris causa, por
uma questão de honra
[Pena: 6 meses a 2 anos]
● Qualificado \ (art. 134, §§ 1º e 2º) ocorre quando a vítima
é exposta à lesão corporal preterdolosa decorrente do
abandono ou à morte, tendo como pena, respectivamente:
[Pena: 1 a 3 anos]
[Pena: 2 a 6 anos]
Omissão de Socorro
Art. 135 - (Omissão de socorro) Deixar de prestar
assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou
não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ Ún. - A pena é aumentada de metade, se da omissão
resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se
resulta a morte.
● Omissão de socorro \ (art. 135, caput) decorre do
princípio da solidariedade, ou seja, o autor do crime
omissivo próprio deixa de socorrer alguém por egoísmo já
que ajudar a vítima não lhe oferece risco.
○ Criança abandonada ou extraviada \ aquela que não
completou 12 anos e que foi abandonada pelos
responsáveis e não tem contato com a vigilância
○ Pessoa inválida \ não pode prover a própria
segurança, seja por suas condições normais ou por
acidente
○ Pessoa ferida \ aquela que teve ofendida sua
integridade corporal ou saúde, estando incapaz de
buscar auxílio a fim de evitar um dano maior à sua
pessoa
Pelo crime ser omissivo próprio, não admite tentativa. Esse
crime também traz uma forma de aumento de pena:
● Aumento de pena \ (art. 135, § único) a pena aumenta o
dobro se resultar em lesão corporal grave da vítima ou
triplica se resultar em morte
[Pena: duplicada (lesão) e triplicada (morte)]
Art. 135-A - (Condicionamento de atendimento
médico-hospitalar emergencial) Exigir cheque-caução,
nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como
condição para o atendimento médico-hospitalar
emergencial:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ Ún. - A pena é aumentada até o dobro se da negativa de
atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e
até o triplo se resulta a morte.
Esse artigo foi inserido em 2012 em por causa da exigência
de uma garantia de pagamento dos serviços antes do
atendimento de emergência em hospitais antes.
● Condicionamento de atendimento médico-hospitalar
emergencial \ (art. 135-A, caput) crime formal em que o
agente possui dolo de perigo ao exigir garantia do
paciente em situação de emergência médico-hospitalar
○ Emergência \ o tipo penal branco heterogêneo trata
como emergência médica aquelas situações que
implicam em risco iminente de vida ou sofrimento
intenso que exijam atendimento médico imediato
[Pena: 3 meses a 1 ano, e multa]
● Aumento de pena \ (art. 135, § único) a pena aumenta o
dobro se resultar em lesão corporal grave da vítima ou
triplica se resultar em morte de forma preterdolosa
[Pena: duplicada (lesão) e triplicada (morte)]
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Maus-tratos
Art. 136 - (Maus-tratos) Expor a perigo a vida ou a saúde
de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para
fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer
privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis,
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado,
quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
● Maus-tratos \ (art. 136, caput) crime próprio de perigo
concreto em que se o agente (do art. 133) tem finalidade
de educação, ensino, tratamento ou custódia, a partir da
privação de alimentação, de cuidados indispensáveis, por
trabalhos excessivos ou inadequados, ou abusos de meios
de correção ou disciplina – admite tentativa
[Pena: 2 meses a 1 ano, ou multa]
● Qualificado \ (art. 134, §§ 1º e 2º) ocorre quando a vítima
é exposta à lesão corporal preterdolosa decorrente do
abandono ou à morte, tendo como pena, respectivamente:
[Pena: 1 a 4 anos]
[Pena: 4 a 12 anos]
● Majorante \ (art. 134, § 3º) ocorre quando a pessoa é
menor de 14 anos
[Pena: aumento de ⅓]
Rixa
Art. 137 - (Rixa) Participar de rixa, salvo para separar os
contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
§ Ún. - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza
grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena
de detenção, de seis meses a dois anos.
● Rixa \ (art. 137, caput) é um tumulto doloso com violência
física ou vias de fato (briga generalizada) cujo objetivo é
participar dessa briga desordenada, tal que a consumação
se dá pela participação da rixa – admite tentativa em
teoria
[Pena: 15 dias a 2 meses, ou multa]
É um crime comum plurissubjetivo (número mínimo de
agentes necessários, nesse caso, mínimo de 3 pessoas) de
menor potencial ofensivo cujo bem jurídico é a pessoa e os
autores são ao mesmo tempo sujeitos ativos e passivos.
Além de ser um crime de perigo abstrato. A rixa deve ser
instantânea (ex improviso) e pode, dependendo da doutrina,
ser planejada.
● Qualificado \ (art. 137, § único) ocorre quando há lesão
corporal grave ou morte de forma preterdolosa,
qualificando para todos os participantes da rixa
[Pena: 6 meses a 2 anos]
Crimes Contra a Honra
Introdução à Honra
Os crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria) são
crimes formais e de menor potencial ofensivo. O bem
jurídico honra se divide em dois:
● Honra objetiva \ é a visão que a sociedade tem sobre
você, sua reputação (refere-se à calúnia e difamação) – a
consumação se dá quando, pelo menos, uma terceira
pessoa toma conhecimento da lesão da honra
● Honra subjetiva \ é a visão que você tem sobre si mesmo,
sua autoestima (refere-se à injúria) – a consumação se dá
quando o sujeito agredido toma conhecimento do crime
Tanto na calúnia quanto na difamação temos a imputação
de um fato determinado a alguém (dizer que alguém fez
alguma coisa). O fato imputado, na calúnia, é previsto em lei
como crime; na difamação, não é previsto em lei como crime,
mas é ofensivo à reputação ou previsto em lei como
contravenção. Na injúria, há uma adjetivação negativa sobre
a pessoa.
Calúnia
Art. 138 - (Calúnia) Caluniar alguém, imputando-lhe
falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a
imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
§ 3º - (Exceção da verdade) Admite-se a prova da
verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada,
o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas
no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
● Calúnia \ (art. 138, caput) a calúnia ocorre quando a honra
objetiva de alguém é ferida falsamente a partir de um
discurso que imputa ao lesado a consumação de um ato
criminoso (ex.: tal pessoa roubou minha bicicleta)
○ Animus caluniandi\ a doutrina define isso como o
dolo específico de quem, sabendo que a afirmação é
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
falsa, a propaga mesmo assim, sendo, portanto,
calúnia um crime doloso
[Pena: 6 meses a 2 anos, e multa]
● Observações \ (art. 138, §§ 1º e 2º) a mesma pena da
calúnia é aplicada para quem continua propagando,
mesmo sabendo que é falsa. Além disso, a calúnia contra
os mortos também é punível (sendo as vítimas os
familiares, que prezam pela boa imagem do falecido)
[Pena: 6 meses a 2 anos, e multa]
Pela calúnia escrita ser um crime formal plurissubsistente
(ato de escrever, o ato de enviar, e o ato do destinatário ler),
ele admite tentativa.
O crime é comum, mas há pessoas que possuem
imunidade de acordo com o art. 53 da Constituição Federal,
são eles os Deputados e Senadores em condutas realizadas
no exercício de suas atividades. Além dos Deputados
Estaduais e os Vereadores.
As pessoas jurídicas só podem ser vítimas de calúnia em
casos de crimes contra o meio ambiente.
Difamação
Art. 139 - (Difamação) Difamar alguém, imputando-lhe
fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ Ún. - (Exceção da verdade) A exceção da verdade
somente se admite se o ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
● Difamação \ (art. 139, caput) a difamação ocorre quando
a honra objetiva de alguém é ferida (falsamente ou não) a
partir de um discurso que imputa ao lesado qualquer
conduta que distorça sua imagem social (ex.: tal pessoa
traiu a esposa)
○ Animus diffamandi \ é necessário haver dolo
específico de ferir honra alheia
[Pena: 3 meses a 1 ano, e multa]
É um crime comummas, assim como na calúnia, há
profissionais com imunidade de acordo com a Constituição
Federal. No caso da difamação, mortos não são considerados,
mas pessoas jurídicas sim.
Injúria
Art. 140 - (Injúria) Injuriar alguém, ofendendo-lhe a
dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra
injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato,
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da
pena correspondente à violência.
§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.
● Injúria \ (art. 140, caput) refere-se à atribuição de um
adjetivo negativo para a vítima que, por sua vez, fere a
honra subjetiva dela (ex.: você é um caloteiro)
○ Animus injuriandi \ é a intenção dolosa deliberada de
atingir a honra subjetiva da vítima
○ Animus jocandi ou corrigendi \ é a intenção de usar
uma palavra desairosa por brincadeira ou por fins de
disciplina, não se classificando como crime
[Pena: 1 a 6 meses, ou multa]
O crime de injúria só pode ser cometido contra funcionários
públicos na ausência das vítimas, caso contrário seria crime
de desacato. Além disso, também admite tentativa quando
por escrito.
A vítima precisa ser, expressamente, alguém determinado,
tal que, quando a fala for de forma genérica e abrangente,
não é considerado como crime. Ademais, pessoas jurídicas
não possuem autoestima, logo, não podem ser vítimas de
injúria.
● Perdão judicial \ (art. 140, § 1º) admite-se perdão judicial
nos casos em que a vítima da injúria foi previamente
ofendida (não houve injúria, só provocação) ou em
retorsão imediata (injuriar alguém que acabou de ser
injuriado)
[Pena: excluída]
● Injúria real \ (art. 140, § 2º) é uma qualificante na qual o
agente ofende a vítima por meio de uma agressão física
(violência ou vias de fato), sendo essa ofensa considerada
aviltante (humilhante) em razão da natureza do ato (ex.:
cuspir na vítima, jogá-la em uma fonte de água, raspar seu
cabelo…) ou do meio empregado (ex.: atirar um ovo nela,
jogar bolo na pessoa em uma festa…)
[Pena: 3 meses a 1 ano, e multa, e a pena da violência]
● Injúria preconceituosa \ (art. 140, § 3º) é uma qualificante
na qual a ofensa da injúria é um preconceito (cor, raça,
etnia, religião, capacitismo, etc…)
[Pena: 1 a 3 anos, e multa]
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Disposições Gerais sobre Crimes Contra a Honra
Art. 141 - (Disposições comuns) As penas cominadas
neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos
crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de
governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções,
ou contra os Presidentes do Senado Federal, da Câmara
dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite
a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa
de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
§ 2º - Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer
modalidades das redes sociais da rede mundial de
computadores, aplica-se em triplo a pena.
● Majorantes \ (art. 141, caput) os três crimes contra a
honra têm um aumento de pena caso sejam praticados
contra as vítimas determinadas nos incisos listados. São
listadas outras duas majorantes, também, nos parágrafos
primeiro e segundo com aumentos de pena distintos
[Pena: aumentada em ⅓]
● Majorantes \ (art. 141, § 2º) majora-se o crime quando é
cometido em redes sociais e em rede mundial de
computadores
[Pena: aumentada pelo triplo]
As formas de exclusão dos crimes contra a honra são
listadas no artigo 142 do Código Penal:
Art. 142 - (Exclusão do crime) Não constituem injúria ou
difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela
parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou
científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou
difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício.
§ Ún. - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou
pela difamação quem lhe dá publicidade.
Art. 143 - (Retratação) O querelado que, antes da
sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da
difamação, fica isento de pena.
§ Ún. - Nos casos em que o querelado tenha praticado a
calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de
comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o
ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a
ofensa.
● Retratação \ (art. 143, caput) nos casos de crime de
calúnia e de difamação, o agente tem sua pena excluída
caso se retrate com a vítima antes da sentença – é
unilateral, logo, a vítima aceitar a retratação ou não, o caso
é retratável. Porém, pelo parágrafo único, a vítima pode
exigir que a retratação seja pelo mesmo meio do ato
calunioso ou difamatório
[Pena: excluída]
Art. 144 - (Pedido de explicações) Se, de referências,
alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria,
quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo.
Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as
dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se
procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art.
140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
§ Ún. - Procede-se mediante requisição do Ministro da
Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste
Código, e mediante representação do ofendido, no caso do
inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do
art. 140 deste Código.
Crimes Contra a Liberdade Individual
Constrangimento Ilegal
Os crimes contra a liberdade pessoal (física ou psicológica)
vão do art. 146 ao 149-A e estão inseridos nos crimes contra
o bem jurídico da liberdade individual.A liberdade é um
direito constitucional que garante que ninguém deve fazer
ou deixar de fazer algo senão em virtude da lei (art. 5º, II, CF).
Art. 146 - (Constrangimento ilegal) Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que
ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - (Aumento de pena) As penas aplicam-se
cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do
crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de
armas.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as
correspondentes à violência.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento
do paciente ou de seu representante legal, se justificada
por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
É um crime comum, doloso e subsidiário (não pode ser
enquadrado caso haja um crime mais grave envolvido) que se
utiliza dos meios de violência (físico), ameaça (moral) ou
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
outros meios (produtos químicos e afins) para se obter o
constrangimento.
O crime é comissivo (podendo ser omissão imprópria)
material em que se é possível fracionar o iter criminis, logo,
admite tentativa.
● Constrangimento ilegal \ (art. 146, caput) refere-se a
obrigar uma vítima a fazer algo que ela não quer,
privando-a, portanto, de liberdade pessoal
[Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa]
A conduta se torna atípica quando a intervenção é médica
ou cirúrgica em casos de risco de vida ou em casos que visam
impedir o suicídio pelo (art. 146, § 3º).
● Majorante \ (art. 146, § 1º) a pena é aumentada quando a
conduta envolve mais de três pessoas e quando há o
emprego de armas
[Pena: duplicada, e multa]
Ameaça e Perseguição
Art. 147 - (Ameaça) Ameaçar alguém, por palavra, escrito
ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe
mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ Ún. - Somente se procede mediante representação.
● Ameaça \ (art. 147, caput) crime menor que consiste em
privar a pessoa de uma liberdade pessoal a partir de uma
ameaça direta (para a pessoa) ou indireta (para um
terceiro) de forma explícita (o agente ameaça
denotativamente) ou implícita (o agente ameaça por
símbolos ou metáforas…)
[Pena: 1 a 6 meses]
Art. 147-A - (Perseguição) Perseguir alguém,
reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a
integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma,
invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade.
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de metade se o crime é
cometido:
I – contra criança, adolescente ou idoso;
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino,
nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código;
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou
com o emprego de arma.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
das correspondentes à violência.
§ 3º - Somente se procede mediante representação.
Violência psicológica contra a mulher
Art. 147-B - Causar dano emocional à mulher que a
prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que
vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir
ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa,
se a conduta não constitui crime mais grave.
Sequestro e Cárcere Privado
Art. 148 - (Sequestro e cárcere privado) Privar alguém de
sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima
em casa de saúde ou hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito)
anos;
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da
natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
● Sequestro \ (art. 148, caput) tutela o bem da liberdade
física (direito de ir e vir) da vítima colocando-a em um
espaço de reduzida locomoção
● Cárcere privado \ (art. 148, caput) assim como o
sequestro, retira o direito de ir e vir da vítima, porém, há
uma privação de locomoção maior em relação ao
sequestro
[Pena: 1 a 3 anos]
Esse crime é doloso, comum e permanente (logo, a sua
consumação se perpetua com o decorrer do tempo em que a
vítima está privada de liberdade).
● Qualificado \ (art. 148, §§ 1º e 2º) o crime se torna
qualificado se estiver enquadrado em alguns dos incisos
do primeiro parágrafo; ou, também, quando há grave
sofrimento físico ou moral decorrente de maus-tratos ou
da natureza da detenção
[Pena: 2 a 5 anos]
[Pena: 2 a 8 anos]
O crime pode ser na forma de detenção (o agente priva a
liberdade da vítima diretamente) ou retenção (alguém não
auxilia a vítima ou se omite da situação, deixando com que a
vítima continue privada de liberdade).
12
Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
Condição Análoga à de Escravo e Tráfico de Pessoas
Art. 149 - (Redução à Condição Análoga à de Escravo)
Reduzir alguém à condição análoga à de escravo, quer
submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de
trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua
locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena
correspondente à violência.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte
do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
§ 2º - A pena é aumentada de metade, se o crime é
cometido:
I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
origem.
● Redução à Condição Análoga à de Escravo \ (art, 149,
caput) essa condição é alcançada a partir de trabalhos
forçados, trabalhos exaustivos, condições degradantes ou
que restrinjam a locomoção do trabalhador em
decorrência de dívidas – (art. 149, § 1º) expressa que
também se aplicam situações de retirada de documentos
e transporte da vítima com finalidade de mantê-la no local
[Pena: 2 a 8 anos, e multa, e penas sobre as violências]
● Majorante \ (art. 149, § 2º) a pena aumenta se o crime for
cometido contra crianças, adolescentes ou por motivos
preconceituosos
[Pena: aumentada na metade]
Art. 149-A - (Tráfico de pessoas) Agenciar, aliciar,
recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher
pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude
ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de
escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício
de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou
pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco,
domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de
dependência econômica, de autoridade ou de
superioridade hierárquica inerente ao exercício de
emprego, cargoou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território
nacional.
§ 2º - A pena é reduzida de um a dois terços se o agente
for primário e não integrar organização criminosa.
● Tráfico de pessoas \ (art. 149-A, caput) o caput descreve
as condutas, os meios e as finalidades do tráfico de
pessoas, tal que o primeiro parágrafo apresenta
majorantes e o segundo traz uma forma privilegiada
[Pena: 4 a 8 anos, e multa]
Violação de Domicílio
A seção II dos crimes contra a liberdade individual traz à
tona os crimes contra a inviolabilidade de domicílios,
estando presente o artigo 150 do Código Penal.
O único crime que consta nessa seção é o de violação de
domicílio, sendo ele:
Art. 150 - (Violação de domicílio) Entrar ou permanecer,
clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou
em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar
ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por
duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena
correspondente à violência.
§ 2º - Revogado
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em
casa alheia ou em suas dependências:
I - durante o dia, com observância das formalidades legais,
para efetuar prisão ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém
exerce profissão ou atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do
parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
● Invasão de domicílio \ (art. 150, caput) é um crime de
menor potencial ofensivo que tutela o bem jurídico da
tranquilidade doméstica, sendo a conduta consumada
pelo adentramento ou permanência do agente no
domicílio contra a vontade de quem tem direito sobre ele
[Pena: 1 a 3 meses, ou multa ]
O crime é doloso, comum, de mera conduta, comissivo com
relação ao verbo "entrar", permitindo tentativa, e omissivo
13
Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
com relação ao verbo "permanecer". Ademais, os parágrafos
quarto e quinto indicam o que se configura como "casa" para
o direito penal.
● Qualificado \ (art. 150, § 1º) se dá quando o crime é
praticado no período noturno, em lugar ermo, por duas ou
mais pessoas, ou com o uso de armas ou violência
[Pena: 6 meses a 2 anos, além da pena da violência]
● Atipicidade \ (art. 150, § 2º) a tipicidade é excluída nos
casos diurnos (06:00 às 20:00) em que há a necessidade
de prisão ou outra diligência ou em qualquer caso de
crime ou iminência dele
[Pena: excluída]
Correspondência Comercial
A seção III diz respeito aos crimes contra a liberdade
individual referentes aos crimes contra a correspondência.
O art. 151 do Código Penal refere-se à violação de
correspondência, porém, esse artigo foi revogado e
substituído pela Lei de Serviços Postais.
Art. 152 - (Correspondência comercial) Abusar da
condição de sócio ou empregado de estabelecimento
comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar,
sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a
estranho seu conteúdo:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
§ Ún. - Somente se procede mediante representação.
● Violação de correspondência comercial \ (art. 152,
caput) é um crime próprio quanto ao sujeito ativo (sócio ou
empregado do estabelecimento) em que o agente desviar,
sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar
o conteúdo dela
[Pena: 3 meses a 2 anos]
Divulgação de Segredo
A seção IV é a última dos crimes contra a liberdade
individual e diz respeito aos crimes contra a inviolabilidade
dos segredos. O primeiro deles diz o seguinte:
Art. 153 - (Divulgação de segredo) Divulgar alguém, sem
justa causa, conteúdo de documento particular ou de
correspondência confidencial, de que é destinatário ou
detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, de
trezentos mil réis a dois contos de réis.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 1º-A - Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas
ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos
sistemas de informações ou banco de dados da
Administração Pública:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2º - Quando resultar prejuízo para a Administração
Pública, a ação penal será incondicionada.
● Divulgação de segredos \ (art. 153, caput) refere-se a
divulgar segredos sem justa causa que, necessariamente,
possam causar dano à vítima
[Pena: 1 a 6 meses, ou multa]
● Qualificado \ (art. 153, § 1º-A) refere-se a divulgar
informações sigilosas ou reservadas, contidas, ou não, em
sistemas de informações ou banco de dados da
Administração Pública
[Pena: 1 a 4 anos, e multa]
O crime é doloso, próprio em relação ao sujeito ativo
(detentor do conhecimento do segredo), monossubjetivo,
formal e em que a consumação se dá quando o segredo que
possa resultar em dano é divulgado.
Violação do Segredo Profissional
Art. 154 - (Violação de segredo profissional) Revelar
alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em
razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja
revelação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa de um
conto a dez contos de réis.
§ Ún. - Somente se procede mediante representação.
Art. 154-A - (Invasão de dispositivo informático) Invadir
dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à
rede de computadores, com o fim de obter, adulterar ou
destruir dados ou informações sem autorização expressa
ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o - Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de
computador com o intuito de permitir a prática da conduta
definida no caput.
§ 2º - Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
terços) se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3º - Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de
comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou
industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei,
ou o controle remoto não autorizado do dispositivo
invadido:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 4o - Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a
dois terços se houver divulgação, comercialização ou
transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou
informações obtidos.
§ 5o - Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime
for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado
Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara
Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta
federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
Art. 154-B - (Ação penal) Nos crimes definidos no art.
154-A, somente se procede mediante representação, salvo
se o crime é cometido contra a administração pública direta
ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados,
Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas
concessionárias de serviços públicos.
● Violação de segredo profissional \ (art. 154, caput) o
crime próprio quanto ao sujeito próprio diz respeito à
divulgação de um segredo da esfera profissional que
possam causar dano a outrem
[Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa]
O art. 154-A (Lei carolina Dieckmann) é um crime de
plástico (crime introduzido no código penal pelas mudançassócio-culturais do Brasil).
● Invasão de dispositivo informático \ (art. 154-A, caput)
diz respeito à invasão de dispositivo informático com
finalidade de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações, ou instalar vulnerabilidades para obter
vantagem ilícita – (art. 154-A, § 1º) da mesma forma de
quem oferece os meios para essa inviolabilidade
[Pena: 1 a 4 anos, e multa]
● Majorante I \ (art. 154-A, § 2º) ocorre quando há prejuízo
econômico
[Pena: aumentada de ⅓ a ⅔]
● Qualificado \ (art. 154-A, § 3º) qualifica-se quando, da
invasão, obtém-se conteúdo sigiloso de conversas
privadas, segredos comerciais ou industriais ou o controle
remoto do dispositivo
[Pena: 2 a 5 anos, e multa]
● Majorante II \ (art. 154-A, § 4º) quando, do parágrafo
terceiro, houver divulgação, comercialização ou
transmissão dos dados à terceiros
[Pena: aumentada de ⅓ a ⅔]
● Majorante III \ (art. 154-A, § 5º) a pena é aumentada caso
ela tenha sido praticada contra as pessoas listadas nos
incisos do parágrafo
[Pena: aumentada de ⅓ a metade]
Crimes Contra o Patrimônio e Propriedade Imaterial
Furto
Art. 155 - (Furto) Subtrair, para si ou para outrem, coisa
alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a
coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela
de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar
somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
qualquer outra que tenha valor econômico.
§ 4º - (Furto qualificado) A pena é de reclusão de dois a
oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à
subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada
ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 4º-A - A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.
§ 4º-B - A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos,
e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de
dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à
rede de computadores, com ou sem a violação de
mecanismo de segurança ou a utilização de programa
malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 4º-C - A pena prevista no § 4º-B deste artigo,
considerada a relevância do resultado gravoso:
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o
crime é praticado mediante a utilização de servidor
mantido fora do território nacional;
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é
praticado contra idoso ou vulnerável.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a
subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior.
§ 6º - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se
a subtração for de semovente domesticável de produção,
ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração.
§ 7º - A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e
multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.
● Furto \ (art. 155, caput) subtrair, para si ou para outra
pessoa, coisa alheia móvel
○ Subtrair coisa alheia móvel \ decorre da inversão da
posse (amotio) como meio da consumação do crime, tal
que o objeto do crime é algo móvel e alheio, logo, deve
pertencer à alguma pessoa (sem estar perdida ou
abandonada)
○ Animus furandi \ refere-se à intenção de subtrair algo,
de forma que o furto de uso (subtrair, usar e depois
devolver) não tem dolo de furto no código penal
comum (só militar), sendo um fato atípico
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
○ Furto famélico \ refere-se ao furto em estado de
necessidade para saciar a fome com inevitabilidade de
comportamento diverso, havendo, portanto, uma
excludente de ilicitude
[Pena: 1 a 4 anos, e multa]
É um crime comum, é material – cujo resultado se dá pela
subtração da coisa – e é doloso por si só, logo, por ser doloso
e material, admite tentativa. Nos casos de furto com pessoa
jurídica, a consumação só se dá com a saída do agente do
estabelecimento, antes disso o crime é tentado.
Quando o furto é simples (não é qualificado) ele admite a
aplicação do princípio da insignificância. Além disso, energia
elétrica ou outra energia que tenha valor econômico pode se
caracterizar como coisa móvel (art. 155, § 3º).
● Majorante \ (art. 155, § 1º) aumenta-se a pena se o crime
é praticado durante o repouso noturno
[Pena; aumentada em ⅓]
● Privilegiado \ (art. 155, § 2º) quando o criminoso é
primário e o furto foi de coisa pequena (não é superior a 1
salário mínimo no país), pode-se substituir a pena de
reclusão pela de detenção ou aplicar somente a multa –
também é possível ser qualificado e privilegiado quando a
qualificadora é objetiva (todas exceto abuso de confiança)
[Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa]
● Qualificado I \ (art. 155, § 4º) o furto é qualificado
quando:
- Ocorre destruição ou rompimento de obstáculo (que não
é parte integrante do que se pretende furtar) para a
subtração da coisa;
- Há abuso de confiança (subjetivo); mediante fraude (para
subtrair, usa-se fraudulentamente uma enganação);
mediante escalada (qualquer meio de esforço anormal de
acesso à coisa); mediante destreza (uso de habilidade
acima do normal para furtar)
- Empregada chave falsa (uso de qualquer objeto que
sirva para a abertura da fechadura)
- Há concurso de duas ou mais pessoas (estritamente
numérico)
[Pena: 2 a 8 anos, e multa]
● Qualificado II \ (art. 155, § 4º-A) qualifica-se o furto
quando há uso de explosivo ou artefato análogo que
cause perigo comum
[Pena: 4 a 10 anos, e multa]
● Qualificado III \ (art. 155, § 4º-B) qualifica-se o furto
quando praticado mediante dispositivo eletrônico ou
informático com ou sem a violação do mecanismo de
segurança ou proteção do dispositivo – sendo possível
sua forma majorada pelos incisos do art. 155, § 4º-C
[Pena: 4 a 8 anos, e multa]
● Qualificado IV \ (art. 155, § 5º) qualifica-se o furto
quando o veículo automotor furtado é transportado para
outro Estado ou País
[Pena: 3 a 8 anos]
● Qualificado V \ (art. 155, § 6º) qualifica-se o furto se a
coisa for semovente domesticável de produção (animal de
produção, como uma vaca), ainda que abatido ou dividido
em partes no local da subtração
[Pena: 2 a 5 anos]
● Qualificado VI \ (art. 155, § 7º) qualifica-se o furto se a
subtração for de explosivos ou de acessórios que,
conjunto ou isoladamente, possibilitem a fabricação,
montagem ou emprego
[Pena: 4 a 10 anos, e multa]
Furto de Coisa Comum
Art. 156 - (Furto de coisa comum) Subtrair o condômino,
co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem
legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível,
cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
● Furto de coisa comum \ (art. 156, caput) subtrair
propriedade do condomínio, espólio ou ações para si ou
para outrem
[Pena: 6 meses a 2 anos, ou multa]
É um crime doloso de menor potencial ofensivo e próprio
(sujeito ativo e passivo condômino, co-herdeiro ou sócio). É
um crime material que permite o fracionamento do iter
criminis (admite tentativa), instantâneo e monossubjetivo.
● Impunibilidade \ (art. 156, § 2º) não é punível o furto de
coisa fungível (bens que podem ser substituídos por
outros de mesma espécie, descritos no art. 85, CV)
Roubo
Art. 157 - (Roubo) Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
para outrem, mediante grave ameaça ou violência à
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido
à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depoisde
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou
grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime
ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I - (revogado);
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e
o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder,
restringindo sua liberdade.
VI - se a subtração for de substâncias explosivas ou de
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma branca;
§ 2º-A - A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de
arma de fogo;
II - se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante
o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
perigo comum.
§ 2º-B - Se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
§ 3º - Se da violência resulta:
I - lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a
18 (dezoito) anos, e multa;
II - morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta)
anos, e multa.
O roubo é um crime pluriofensivo, isso porque ele está na
seção de crimes contra o patrimônio mas lesiona mais de um
bem jurídico (bem jurídico principal: patrimônio; bem jurídico
secundário: liberdade individual, vida…).
● Roubo próprio \ (art. 157, caput) subtração de coisa
alheia móvel após ou mediante grave ameaça, violência
própria (física) ou imprópria (impossibilidade de
resistência da vítima; ex.: utilizar um sonífero antes do
roubo)
[Pena: 4 a 10 anos, e multa]
É um crime comum, material (resultado é a subtração) e
estritamente doloso. Além disso, é um crime complexo, ou
seja, a sua construção é a reunião de dois ou mais tipos
penais (art. 146 e art. 155). O crime admite tentativa.
● Roubo impróprio \ (art. 157, § 1º) subtração de coisa
alheia móvel seguida de violência própria ou grave
ameaça para segurar impunidade ou a detenção da coisa
alheia móvel já subtraída
[Pena: 4 a 10 anos, e multa]
● Majorante I \ (art. 157, § 2º) os incisos indicam os casos
em que a pena do crime de roubo é aumentada: concurso
de duas ou mais pessoas; vítima em serviço conhecido de
transporte de valores (serviço formal para terceiros);
subtração de veículo automotor transportado para outro
Estado ou País; roubo com privação de liberdade para
consumar o crime; roubo de substância explosivas; ou uso
de arma branca
[Pena: aumentada de ⅓ até metade]
● Majorante II \ (art. 157, §§ 2º-A e 2º-B) os incisos indicam
os casos em que a pena é aumentada em ⅔: roubo com
uso de arma de fogo (de uso permitido); ou se há
destruição ou rompimento de obstáculo com emprego de
explosivo
A pena é dobrada casos haja o emprego de arma de fogo
no crime
[Pena: aumentada em ⅔ (A) ou o dobro (B)]
● Qualificado \ (art. 157, § 3º) o crime de roubo é
qualificado havendo lesão corporal de natureza grave ou
morte contra a vítima, sendo as penas, respectivamente:
[Pena: 7 a 18 anos, e multa]
[Pena: 20 a 30 anos, e multa]
● Latrocínio \ nome dado aos crimes hediondos de roubos
qualificados por morte da vítima, podendo se apresentar
das seguintes formas:
○ Preterdoloso \ não admite tentativa na morte
○ Estritamente doloso \ admite tentativa na morte – o
latrocínio é consumado sempre que houver a morte da
vítima, com ou sem subtração
Extorsão
Art. 158 - (Extorsão) Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si
ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou
com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até
metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o
disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3º - Se o crime é cometido mediante a restrição da
liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a
obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão,
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta
lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas
previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
● Extorsão \ (art. 158, caput) constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, para que a vítima faça alguma
coisa a fim do agente obter alguma vantagem econômica
(ex.: ameaçar seu chefe para te dar um aumento)
[Pena: 4 a 10 anos, e multa]
O crime de extorsão é um crime formal, logo, a
consumação se dá com o constrangimento da vítima (simples
ato da conduta e do intuito consuma a extorsão, não
necessitando do resultado para sua consumação). As
ameaças podem ser em níveis tangíveis (ex.: divulgação de
fotos íntimas) ou de níveis espirituais (ex.: jogar uma praga).
No crime de roubo, a consumação independe de
colaboração da vítima (a coisa alheia móvel pode ser roubada
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independente da vontade da vítima), ao contrário da extorsão,
que é dependente da colaboração da vítima (se a vítima
não dar a coisa, o agente não a conseguirá)!
● Majorante \ (art. 158, § 1º) aumenta-se a pena com o
concurso de duas ou mais pessoas ou com o emprego de
arma (branca ou de fogo)
[Pena: aumentada em ⅓ até ½]
● Qualificado I \ (art. 158, § 2º) o parágrafo terceiro do
crime de roubo (art. 157, § 3º) garante a mesma pena para
a extorsão qualificada para lesão corporal grave ou morte
[Pena: 7 a 18 anos, e multa]
[Pena: 20 a 30 anos, e multa]
● Sequestro relâmpago \ (art. 158, § 3º) é um tipo de
extorsão qualificada pela privação de liberdade da vítima
para constrangê-la na extorsão
Se resultar em lesão grave, a pena é a do (art. 159, § 2º) e,
se resultar em morte, a pena é do (art. 159, § 3º)
[Pena: 6 a 12 anos, e multa]
[Pena: 16 a 24 anos]
[Pena: 24 a 30 anos]
Extorsão Mediante Sequestro
Art. 159 - (Extorsão mediante sequestro) Sequestrar
pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1º - Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro)
horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior
de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando
ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente
que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do
sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
● Extorsão mediante sequestro \ (art. 159, caput)
sequestrar a vítima com a finalidade de um terceiro trazer
uma recompensa patrimonial pelo resgate
[Pena: 8 a 15 anos]
Esse crime tutela bens jurídicos além do patrimônio, sendo
eles a vida, a integridade física e a liberdade individual. Esse
crime é uma junção dos art. 148 (sequestro e/ou cárcere
privado) com o art. 158 (extorsão), sendo, também, um crime
formal.
A diferença deste artigo para o sequestro relâmpago (art.
158, § 3º) é que o sequestro tem por finalidade um terceiro
pagar uma recompensa, não a vítima do sequestro.
● Qualificado I \ (art. 159, § 1º) qualifica-se quando o
sequestro dura mais de 24 horas, quando a vítima é
menor de idade ou maior de 60 anos ou quando o crime é
cometido por bando ou quadrilha
[Pena: 12 a 20 anos]
● Qualificado II \ (art. 159, §§ 2º e 3º) se o fato resulta em
lesão corporal grave ou em morte, temos,
respectivamente:
[Pena: 16 a 24 anos]
[Pena: 24 a 30 anos]
● Colaboração premiada \ (art. 159, § 4º) privilegia-se o
criminoso que denuncia o crimeque está sendo cometido
em concurso para alguma autoridade, facilitando a
libertação do sequestrado
[Pena: reduzida de ⅓ a ⅔]
Extorsão Indireta
Art. 160 - (Extorsão indireta) Exigir ou receber, como
garantia de dívida, abusando da situação de alguém,
documento que pode dar causa a procedimento criminal
contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
● Extorsão indireta \ (art. 160, caput) o agente exige algum
documento (apto a dar causa a procedimento criminal
contra a vítima ou terceiro) que possa ser usado no futuro
contra a vítima, usando como forma de garantia que uma
dívida será quitada (ex.: a vítima entrega para o
extorsionário a confissão de um crime)
[Pena: 1 a 3 anos, e multa]
Aqui, há o abuso da situação de necessidade do sujeito
passivo, de modo que ela entregue os documentos para o
criminoso – sendo o intuito principal a garantia de uma
quitação da dívida. É um crime formal, necessitando
somente da exigência ou do recebimento dos documentos
para sua consumação.
Usurpação
Art. 161 - (Alteração de limites) Suprimir ou deslocar
tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha
divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa
imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
I - (Usurpação de águas) desvia ou represa, em proveito
próprio ou de outrem, águas alheias;
II - (Esbulho possessório) invade, com violência a pessoa
ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
possessório.
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§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na
pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de
violência, somente se procede mediante queixa.
● Alteração de limite \ (art. 161, caput) fazer desaparecer
(supressão) ou deslocamento (total ou em parte) da linha
divisória, do tapume ou do marco da propriedade, para
apropriar-se de coisa alheia imóvel
○ Tapume \ cerca ou vedação que separa propriedades
imóveis
○ Marco \ qualquer tipo de sinal demarcatório, natural ou
artificial
○ Sinal indicativo \ qualquer símbolo ou expediente
destinado a demarcar imóvel por meio de advertência
[Pena: 1 a 6 meses, e multa]
Nos crimes de usurpação, o bem jurídico é o patrimônio,
em especial a coisa imóvel alheia. O crime formal se consuma
com a supressão ou deslocamento do sinal indicativo de linha
divisória. É um crime comissivo ou omissivo impróprio, crime
próprio (deve possuir um dono de um imóvel) e que admite
tentativa.
● Usurpação de águas \ (art. 161, § 1º, I) ocorre quando o
agente desvia ou represa (respectivamente, modifica ou
interrompe o fluxo natural) águas alheias para proveito
próprio ou de terceiro
[Pena: 1 a 6 meses, e multa]
● Esbulho possessório \ (art. 161, § 1º, II) se refere à
conduta de invadir um imóvel alheio contra a vontade do
proprietário, usando violência ou grave ameaça contra a
vítima ou o concurso de três ou mais pessoas, com a
finalidade do esbulho possessório (tomada da
propriedade por violência, precariedade e clandestinidade)
[Pena: 1 a 6 meses, e multa]
Quando há uso da violência, o crime cumula-se com a
respectiva violência (art. 161, § 2º). Quando a propriedade
é particular e sem o emprego de violência, o crime só
procede mediante uma queixa do sujeito passivo (art. 161, §
3º). Além disso, é importante comentar a presença provável
do excludente de ilicitude de estado de necessidade no
esbulho possessório.
Art. 162 - (Supressão ou Alteração de Marca em Animais)
Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho
alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
● Supressão ou alteração de marca em animais \ (art. 162,
caput) suprimir (fazer desaparecer) ou alterar a marca ou
sinal indicativo de propriedade de animais de rebanho
alheio (equinos, gados, suínos, etc…)
[Pena: 1 a 3 anos, e multa]
Dano
Art. 163 - (Dano) Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa
alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ Ún. - (Dano qualificado) Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se
o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito
Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública,
empresa pública, sociedade de economia mista ou
empresa concessionária de serviços públicos;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para
a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além
da pena correspondente à violência.
● Dano \ (art. 163, caput) trata-se da conduta material de
destruir, inutilizar ou deteriorar total ou parcialmente coisa
"econômica" e patrimonial alheia
[Pena: 1 a 6 meses, ou multa]
É um crime comissivo comum e material (prevê um
resultado para a consumação). O crime de dano não ocorre na
forma culposa, então é necessária uma intenção para se
consumar o crime.
● Qualificado \ (art. 163, § único) o crime de dano é
qualificado quando a ocasião implica em algum dos
quatro incisos do parágrafo, sendo eles: violência ou grave
ameaça; emprego de substância inflamável ou explosiva
que não seja preterdoloso;
Quando o patrimônio atingido é público; ou quando o
motivo do dolo é egoísta ou com prejuízo considerável à
vítima do crime (ex.: deteriorar o carro do seu concorrente
de uma corrida para conseguir ganhar)
[Pena: 6 meses a 3 anos, e multa, além da pena da violência]
Animais em Propriedade Alheia
Art. 164 - (Introdução ou abandono de animais em
propriedade alheia) Introduzir ou deixar animais em
propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito,
desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.
● Introdução ou abandono de animais em propriedade
alheia \ (art. 164, caput) o crime é consumado com o
prejuízo decorrente da introdução ou abandono não
consentidos de animais em uma propriedade alheia
[Pena: 1 a 6 meses, ou multa]
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É um crime condicionado (ele condiciona a conduta do
agente ao prejuízo) que, nesse caso, exige um dano
patrimonial à vítima.
Alterações do Dano para Leis Especiais
● Art. 165, CP \ refere-se ao crime de dano em coisa de
valor artístico, arqueológico ou histórico que foi revogado
tacitamente pelo art. 62 da Lei 9.605/98
● Art. 166, CP \ refere-se ao crime de alteração de local
especialmente protegido que foi revogado tacitamente
pelo art. 63 da Lei 9.605/98
É interessante ressaltar que a prática da pichação causa
uma deterioração à coisa privada, qualifica-se como crime de
dano. Quando o patrimônio é público, refere-se ao art. 65 da
Lei 9.605/98, em que há prejuízo à pichação de monumentos
públicos.
Art. 167 - (Ação penal) Nos casos do art. 163, do inciso IV
do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.
Apropriação Indébita
Art. 168 - (Apropriação indébita) Apropriar-se de coisa
alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - (Aumento de pena) A pena é aumentada de um
terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,
inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
● Apropriação indébita \ (art. 168, caput) é um crime de
dolo subsequente, em que após o agente ter tido acesso à
posse de forma legal, ele cria a intenção dolosa de
permanecer e se apropriar da coisa alheia móvel
○ Posse desvigiada \ a posse pode ser vigiada (furto) ou
desvigiada (apropriação indébita), de forma que, na
apropriação indébita, não há vigilância por parte do
dono da coisa, tal que é um empréstimo para o agente
ativo
[Pena: 1 a 4 anos, e multa]
O crime de apropriação indébita se assemelha ao crime de
furto já que também se refere ao patrimônio da coisaalheia
móvel, sendo a diferença no animus furandi (só presente no
furto), tal que na apropriação indébita há uma boa fé no
começo da ação, mas cria-se uma vontade de se apropriar da
coisa depois de já tê-la.
○ Exemplo de furto \ ir até uma biblioteca com a
intenção de roubar livros e colocá-los furtivamente na
bolsa sem que ninguém perceba
○ Exemplo de apropriação indébita \ ir até uma
biblioteca sem a intenção de roubar livros, pegá-los de
forma legal e não devolvê-los por uma nova vontade
de apropriação
○ Exemplo de estelionato \ ir até uma biblioteca com a
intenção de roubar livros, pegá-los de forma legal e
não devolvê-los
● Majorante \ (art. 161, § 1º) há três formas de aumento de
pena listados nos incisos do parágrafo primeiro: quando a
coisa é um depósito necessário (depósito miserável,
decorrente de uma ação calamitosa); quando o sujeito
passivo possui responsabilidade específica listada no
inciso sobre o sujeito passivo; ou quando o agente
recebeu a coisa em razão do ofício, emprego ou profissão
[Pena: aumentada em ⅓]
Art. 168-A - (Apropriação indébita previdenciária) Deixar
de repassar à previdência social as contribuições
recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou
convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra
importância destinada à previdência social que tenha sido
descontada de pagamento efetuado a segurados, a
terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que
tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à
venda de produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as
respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados
à empresa pela previdência social.
§ 2º - É extinta a punibilidade se o agente,
espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento
das contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação
fiscal.
§ 3º - É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar
somente a de multa se o agente for primário e de bons
antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de
oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social
previdenciária, inclusive acessórios; ou
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios,
seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência
social, administrativamente, como sendo o mínimo para o
ajuizamento de suas execuções fiscais.
§ 4º - A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se
aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo
valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele
estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo
para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
● Apropriação indébita previdenciária \ (art. 168-A, caput)
refere-se ao crime omissivo próprio de mera conduta de
não realizar o repasse à previdência social do valor já
descontado do contribuinte no prazo e da forma legal
Apropriação da Coisa
Art. 169 - (Apropriação da coisa havida por erro, caso
fortuito ou força da natureza) Apropriar-se alguém de coisa
alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força
da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
§ Ún. - Na mesma pena incorre:
I - (Apropriação de tesouro) quem acha tesouro em prédio
alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que
tem direito o proprietário do prédio;
II - (Apropriação de coisa achada) quem acha coisa alheia
perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando
de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de
quinze dias.
● Apropriação da coisa \ (art. 169, caput) refere-se ao ato
de se apropriar de coisa alheia vinda até você por:
○ Erro \ pode ser quanto à pessoa (ex.: carteiro que faz
uma entrega erroneamente); quanto à qualidade (ex.:
receber erroneamente um colar muito mais caro do que
você comprou); ou quanto à obrigação (ex.: há um
depósito feito erroneamente na sua conta)
○ Caso fortuito \ é o evento acidental, que faz com que
um objeto termine em mãos erradas (ex.: posse das
bagagens de um avião caído)
○ Força da natureza \ é a energia física e ativa que
provoca o ordenamento natural das coisas (ex.: em
decorrência de um vendaval, você se apropria de
coisas alheias vindas até você)
[Pena: 1 mês a 1 ano, ou multa]
A diferença nesse tipo penal é que não existe a posse
legítima da coisa no momento da apropriação, mas sim uma
posse decorrente de erro, caso fortuito ou força maior. A
consumação se dá no momento em que o sujeito passivo
percebe a apropriação.
● Apropriação de tesouro \ (art. 169, § único, I) é tipificado
o ato de encontrar um tesouro desconhecido pelo
proprietário do imóvel e não reportar ao proprietário
[Pena: 1 mês a 1 ano, ou multa]
● Apropriação de coisa achada \ (art. 169, § único, II) crime
condicionado ao lapso temporal de 15 dias, em que o
sujeito ativo acha coisa alheia perdida e dela se apropria –
coisa perdida/esquecida é diferente de coisa abandonada
ou de ninguém, que são penalmente irrelevantes
[Pena: 1 mês a 1 ano, ou multa]
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o
disposto no art. 155, § 2º.
● Privilegiado \ (art. 170, caput) quando o criminoso é
primário e a apropriação foi de coisa pequena (não é
superior a 1 salário mínimo no país), pode-se substituir a
pena de reclusão pela de detenção ou aplicar somente a
multa
[Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa]
Estelionato
Art. 171 - (Estelionato) Obter, para si ou para outrem,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de
quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o
prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no
art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
I - (Disposição de coisa alheia como própria) vende,
permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia
coisa alheia como própria;
II - (Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria)
vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa
própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em
prestações, silenciando sobre qualquer dessas
circunstâncias;
III - (Defraudação de penhor) defrauda, mediante alienação
não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
IV - (Fraude na entrega de coisa) defrauda substância,
qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a
alguém;
V - (Fraude para recebimento de indenização ou valor de
seguro) destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa
própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as
conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver
indenização ou valor de seguro;
VI - (Fraude no pagamento por meio de cheque) emite
cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado, ou lhe frustra o pagamento.
§ 2º-A - (Fraude eletrônica) A pena é de reclusão, de 4
(quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida
com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou
por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais,
contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico
fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento
análogo.
§ 2º-B - A pena prevista no § 2º-A deste artigo,
considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o
crime é praticado mediante a utilização de servidor
mantido fora do território nacional.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
cometido em detrimento de entidade de direitopúblico ou
de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.
§ 4º - (Estelionato contra idoso ou vulnerável) A pena
aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é
cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a
relevância do resultado gravoso.
§ 5º - Somente se procede mediante representação, salvo
se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
● Estelionato \ (art. 171, caput) o sujeito busca uma
vantagem patrimonial (financeira) ilícita ao induzir
(estelionato por ação) ou manter (estelionato por omissão)
alguém em erro mediante meio fraudulento, ou seja,
engana-se a vítima para obter o patrimônio pertencente à
vítima
[Pena: 1 a 5 anos, e multa]
Há uma preocupação em diferenciar o furto mediante
fraude do estelionato. No furto mediante fraude, o agente
usa uma fraude (distração) para fazer com que a vítima não
perceba que algo está sendo retirado dela. Já no estelionato,
o sujeito ativo engana a vítima para que ela dê o que ele quer.
A fraude pode ser alcançada por artifício (ex.: bilhete de
papel com uma enganação), por meio ardil, exigindo a
habilidade intelectual de convencimento e argumentação ou
qualquer outro meio fraudulento.
● Privilegiado \ (art. 171, § 1º) quando o criminoso é
primário e o estelionato foi de coisa pequena (não é
superior a 1 salário mínimo no país), pode-se substituir a
pena de reclusão pela de detenção ou aplicar somente a
multa
[Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa]
● Disposição de coisa alheia como própria \ (art. 171, § 2º,
I) vender, permutar dar em pagamento, locar ou dar em
garantia coisa alheia móvel ou imóvel que não seja sua –
logo, não pode se dispor dessa coisa
[Pena: 1 a 5 anos, e multa]
● Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria \
(art. 171, § 2º, II) o objeto material, na hipótese deste
inciso, é coisa pertencente ao próprio agente que, no
entanto, está impedido – por lei, por contrato ou por
testamento – de aliená-la, assim como coisa gravada de
ônus ou litigiosa, que não se pode vender, permutar ou
dar em pagamento ou garantia
[Pena: 1 a 5 anos, e multa]
● Defraudação de penhor \ (art. 171, § 2º, III) o sujeito ativo
defrauda não consentidamente pelo sujeito passivo a
garantia pignoratícia (relativo ao contrato do penhor) do
objeto empenhado
[Pena: 1 a 5 anos, e multa]
● Fraude na entrega da coisa \ (art. 171, § 2º, IV) pune-se o
agente que defrauda indevidamente, em quantidade ou
qualidade, uma entrega. Quando há alteração na entrega
alimentícia ou medicamentosa, o crime é contra a
incolumidade pública, não estelionato
[Pena: 1 a 5 anos, e multa]
● Fraude para recebimento de indenização ou valor de
seguro \ (art. 171, § 2º, V) ato de destruir (total ou
parcialmente), ocultar coisa própria, lesar o próprio corpo
ou agravar sua doença para obter vantagem econômica da
indenização ou seguro
[Pena: 1 a 5 anos, e multa]
● Fraude no pagamento por meio de cheque \ (art. 171, §
2º, VI) emitir cheque sem fundo ou com a fraude no saque,
de forma que frustra o patrimônio do pagamento, devendo
haver comprovação dessa fraude, havendo presença do
dolo na vantagem financeira
[Pena: 1 a 5 anos, e multa]
● Fraude eletrônica \ (art. 171, § 2º-A) o estelionato é
qualificado quando a fraude é cometida por meio
eletrônico, em que a vítima é enganada de alguma forma
fraudulenta (listada no parágrafo) para fornecer o acesso
ao sujeito ativo
[Pena: 4 a 8 anos, e multa]
● Majorante \ (art. 171, § 3º) aumenta-se a pena se o crime
é cometido em detrimento de entidade de direito público
ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência
[Pena: aumentada em ⅓]
● Estelionato etário \ (art. 171, § 4º) aumenta-se a pena
quando é cometido contra idoso ou vulnerável tendo sido
relevada a gravidade do resultado
[Pena: aumentada de ⅓ até o dobro]
O crime de estelionato é procedido mediante ação pública
incondicionada quando se qualifica a partir dos incisos do
parágrafo quinto do art. 171.
Duplicata Simulada
Art. 172 - (Duplicata simulada) Emitir fatura, duplicata ou
nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida,
em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ Ún. - Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar
ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de
Duplicatas.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
● Duplicata simulada \ (art. 172, caput) condena a conduta
do prestador de serviço ou comerciante de emitir fatura
sobre um serviço que não foi realizado de forma
correspondente em quantidade ou qualidade
[Pena: 2 a 4 anos, e multa]
Abuso de Incapazes
Art. 173 - (Abuso de incapazes) Abusar, em proveito
próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência
de menor, ou da alienação ou debilidade mental de
outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato
suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou
de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
● Abuso de incapazes \ (art. 172, caput) abusar (usar do
mau, induzir ou prevalecer) da necessidade, paixão ou
inexperiência de menor (menor de 18 anos), alienação ou
debilidade mental de outrem, induzindo a vítima a praticar
ato suscetível a efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de
terceiro
[Pena: 2 a 6 anos, e multa]
O crime é formal, mas ainda exige o bem jurídico tutelado
do patrimônio para se qualificar o tipo penal, todavia há
autores que discordem.
Induzimento à Especulação
Art. 174 - (Induzimento à especulação) Abusar, em
proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da
simplicidade ou inferioridade mental de outrem,
induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação
com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber
que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
● Induzimento à especulação \ (art. 174, caput) abusar
(usar do mal) da inexperiência ou da simplicidade ou
inferioridade mental da vítima para conduzi-la a praticar
jogos ou apostas (ilícitos ou não), ou a especulação com
títulos ou mercadorias (investimentos), sabendo (dolo
direto) ou devendo saber (dolo eventual) que o resultado
é ruinoso
[Pena: 1 a 3 anos, e multa]
Fraude no Comércio
Art. 175 - (Fraude no comércio) Enganar, no exercício de
atividade comercial, o adquirente ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
falsificada ou deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade
ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra
verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender
pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal
de ou outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
● Fraude no comércio \ (art. 175, caput) enganar no
exercício da atividade comercial o consumidor a partir da
venda pirata (vender mercadoria dada como perfeita ou
verdadeira, quando na verdade é falsificada ou
deteriorada) ou entregar uma mercadoria no lugar de
outra
[Pena: 6 meses a 2 anos, ou multa]
● Qualificado \ (art. 175, § 1º) refere-se à problemáticas de
fraude no comércio de jóias e metais, listadas no
parágrafo
[Pena: 1 a 5 anos, e multa]
● Privilegiado \ (art. 175, § 2º) quando o criminoso é
primário e a fraude foi de coisa pequena (não é superior a
1 salário mínimo no país), pode-se substituir a pena de
reclusão pela de detenção ou aplicar somente a multa
[Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa]
Outras Fraudes
Art. 176 - (Outras fraudes) Tomar refeição em restaurante,
alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
§ Ún. - Somente se procede mediante representação, e o
juiz pode, conforme as circunstâncias,deixar de aplicar a
pena.
Art. 177 - (Fraudes e abusos na fundação ou
administração de sociedade por ações) Promover a
fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto
ou em comunicação ao público ou à assembléia, afirmação
falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato
não constitui crime contra a economia popular.
§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui
crime contra a economia popular:
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações,
que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou
comunicação ao público ou à assembléia, faz afirmação
falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou
oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas
relativo;
23
Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros
títulos da sociedade;
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos
bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da
assembléia geral;
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta
da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o
permite;
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito
social, aceita em penhor ou em caução ações da própria
sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em
desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui
lucros ou dividendos fictícios;
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta
pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação
de conta ou parecer;
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira,
autorizada a funcionar no País, que pratica os atos
mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao
Governo.
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois
anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem
para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de
assembléia geral.
Art. 178 - (Emissão irregular de conhecimento de depósito
ou "warrant") Emitir conhecimento de depósito ou warrant,
em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 179 - (Fraude à execução) Fraudar execução,
alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou
simulando dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ Ún. - Somente se procede mediante queixa.
Receptação
Art. 180 - (Receptação) Adquirir, receber, transportar,
conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa
que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro,
de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - (Receptação qualificada) Adquirir, receber,
transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,
montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer
forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício
de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber
ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do
parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercício em residência.
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou
pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas
as penas.
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou
isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode
o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de
aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto
no § 2º do art. 155.
§ 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de
Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviços públicos,
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
● Receptação própria \ (art. 180, caput) sabendo da origem
ilícita da coisa, adquire, recebe movimenta ou oculta essa
coisa em proveito do patrimônio
● Receptação imprópria \ (art. 180, caput) sabendo da
origem ilícita da coisa, influencia e induz um terceiro que
não sabe da ilicitude a cometer a conduta típica
[Pena: 1 a 4 anos, e multa]
É um crime comum quanto aos sujeitos ativo e passivo. É
um crime material de dano, mono-subjetivo e comissivo
(podendo ser omissivo impróprio). Vale ressaltar que o crime
é punível mesmo quando não conhecemos o autor do
crime anterior à receptação (art. 180, § 4º).
● Qualificado \ (art. 180, § 1º) ocorre quando a receptação é
consumada no exercício de prática comercial ou industrial
(mesmo que seja uma prática clandestina ou irregular
(art. 180, § 2º))
[Pena: 3 a 8 anos, e multa]
● Receptação culposa \ (art. 180, § 3º) adquirir ou receber
coisa que, sugestivamente, era perceptível sua natureza
ilícita
[Pena: 1 mês a 1 ano, e/ou multa]
● Perdão judicial \ (art. 180, § 3º) pode ocorrer nas duas
formas da receptação:
○ Dolosa \ quando o criminoso é primário e a receptação
foi de coisa pequena (não é superior a 1 salário mínimo
no país), pode-se substituir a pena de reclusão pela de
detenção ou aplicar somente a multa
[Pena: detenção, diminuída de ⅓ a ⅔, ou multa]
○ Culposa \ é uma possibilidade quando o réu é primário
[Pena: excluída]
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
● Majorante \ aumenta-se a pena quando a coisa receptada
é referente à bens públicos em geral
[Pena: duplicada]
Art. 180-A - (Receptação de animal) Adquirir, receber,
transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender,
com a finalidade de produção ou de comercialização,
semovente domesticável de produção, ainda que abatido
ou dividido em partes, que deve saber ser produto de
crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
● Receptação de animal \ (art. 180-A, caput) receptar (ou
ter em depósito ou vender) animal doméstico semovente
de produção ou de comercialização
[Pena: 2 a 5 anos, e multa]
Disposições Gerais
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos
crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco
legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação,
se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Os artigos 181 e 182 aplicam excludentes de punibilidade
para os crimes contra o patrimônio em decorrência dos danos
pelo núcleo familiar.
● Escusas absolutórias \ (art. 181, caput) é isento de pena
crimes praticados contra o cônjuge (ou convivente, a partir
de uma extensão doutrinária) ou ascendente ou
descendente independente da legitimidade ou
naturalidade
● Imunidade relativa \ (art. 182, caput) o crime só se
procede mediante representação se a vítima for um
cônjuge (desquitado ou separado); irmão (legítimos ou
ilegítimos); ou tio ou sobrinho em coabitação
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos
anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral,
quando haja emprego de grave ameaça ou violência à
pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual
ou superior a 60 (sessenta) anos.
● Ressalvas \ (art. 183, caput) os artigos anteriores não se
aplicam ao roubo ou extorsão mediante grave ameaça ou
violência; à um terceiro estranho que pratica o crime em
concurso de pessoas; ou se o crime é praticado contra
maior ou igual de 60 anos
Violação de Direito Autoral
Art. 184 - (Violação de direitosautorais) Violar direitos de
autor e os que lhe são conexos:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 1º - Se a violação consistir em reprodução total ou
parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer
meio ou processo, de obra intelectual, interpretação,
execução ou fonograma, sem autorização expressa do
autor, do artista intérprete ou executante, do produtor,
conforme o caso, ou de quem os represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2º - Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito
de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda,
aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito,
original ou cópia de obra intelectual ou fonograma
reproduzido com violação do direito de autor, do direito de
artista intérprete ou executante ou do direito do produtor
de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra
intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos
titulares dos direitos ou de quem os represente.
§ 3º - Se a violação consistir no oferecimento ao público,
mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer
outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da
obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar
previamente determinados por quem formula a demanda,
com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização
expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete
ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os
represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 4º - O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando
se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os
que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na
Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de
obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para
uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou
indireto.
● Violação de direitos autorais \ (art. 184, caput) violar
(transgredir) os direitos autorais ou conexos (quem possui
o direito de reprodução ou segurança do material) – aqui
se introduz o conceito de plágio (imitar ou reproduzir obra
sem fornecer os devidos créditos)
[Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa]
Atualmente, é o único tipo restante dos crimes contra a
propriedade imaterial, em específico, contra a propriedade
intelectual. Os outros títulos deste capítulos foram revogados
por leis posteriores.
É um tipo penal em branco com sujeito passivo próprio, já
que precisamos de um detentor da propriedade intelectual
imaterial. É importante realçar o caráter doloso do crime.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
● Qualificado I \ (art. 184, § 1º) reproduzir dolosamente
obra intelectual (científica, literária ou artística) com intuito
de lucro direto ou indireto
[Pena: 2 a 4 anos, e multa]
● Qualificado II \ (art. 184, § 2º) refere-se à comercialização,
introdução ou manter em depósito de material violado nos
direitos autorais, com o dolo do lucro direto ou indireto
[Pena: 2 a 4 anos, e multa]
● Qualificado III \ (art. 184, § 3º) refere-se à violação ao
direito autoral que se faz pela internet, com ausência de
autorização do autor ou quem o representa, com intuito de
lucro direto ou indireto
[Pena: 2 a 4 anos, e multa]
● Exclusão de tipicidade \ (art. 184, § 4º) a pena é excluída
quando há limitação no direito do autor ou quando a cópia
da obra é para uso privado ou copista com um único
exemplar, sem intuito de lucro
[Pena: excluída]
Art. 186 - (Ação penal) Procede-se mediante:
I – queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184;
II – ação penal pública incondicionada, nos crimes
previstos nos §§ 1o e 2o do art. 184;
III – ação penal pública incondicionada, nos crimes
cometidos em desfavor de entidades de direito público,
autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista
ou fundação instituída pelo Poder Público;
IV – ação penal pública condicionada à representação, nos
crimes previstos no § 3o do art. 184.
Crimes Contra a Organização do Trabalho
Aqui são apresentados os crimes que vão contra o direito
do trabalho
Liberdade do Trabalho
Art. 197 - (Atentado contra a liberdade do trabalho)
Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça:
I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou
indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo
período ou em determinados dias:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da
pena correspondente à violência;
II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou
a participar de parede ou paralisação de atividade
econômica:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da
pena correspondente à violência.
● Atentado contra a liberdade do trabalho I \ (art. 197,
caput, I) obrigar uma pessoa a trabalhar ou a não
trabalhar durante certo período mediante
constrangimento por violência ou grave ameaça
[Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência]
● Atentado contra a liberdade do trabalho II \ (art. 197,
caput, II) proibir o trabalhador de abrir ou fechar seu
estabelecimento comercial mediante constrangimento por
violência ou grave ameaça
[Pena: 3 meses a 1 ano, e multa, além da pena da violência]
Liberdade de Contrato de Trabalho e Boicotagem
Art. 198 - (Atentado contra a liberdade de contrato de
trabalho e boicotagem violenta) Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de
trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de
outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da
pena correspondente à violência.
● Atentado contra a liberdade de contratos e boicotagem
violenta \ (art. 198, caput) refere-se à constranger alguém
mediante violência ou grave ameaça para celebração de
contratos de trabalho ou não fornecer ou adquirir para
terceiro matéria-prima ou produto industrializado, sempre
mediante violência ou grave ameaça
[Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência]
Liberdade de Associação
Art. 199 - (Atentado contra a liberdade de associação)
Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,
a participar ou deixar de participar de determinado
sindicato ou associação profissional:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da
pena correspondente à violência.
● Atentado contra a liberdade de associação \ (art. 199,
caput) a Constituição Federal garante às associações não
criminosas, o crime, portanto, está em constranger alguém
para a vítima participar ou sair de determinada associação
ou sindicato, mediante violência ou grave ameaça
[Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência]
Paralisação de Trabalho
Art. 200 - (Paralisação de trabalho, seguida de violência
ou perturbação da ordem) Participar de suspensão ou
abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra
pessoa ou contra coisa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da
pena correspondente à violência.
§ Ún. - Para que se considere coletivo o abandono de
trabalho é indispensável o concurso de, pelo menos, três
empregados.
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● Paralisação seguida de violência ou perturbação da
ordem \ (art. 200, caput) participar de uma greve
(abandono coletivo são três ou mais pessoas) e praticar
violência contra pessoa ou coisa em meio à essa
paralisação – a violência pode ser por parte do empregado
ou do empregador
[Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência]
Art. 201 - (Paralisação de trabalho de interesse coletivo)
Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,
provocando a interrupção de obra pública ou serviço de
interesse coletivo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
● Paralisação de interesse coletivo \ (art. 201, caput)
pune-se o ato de participar de uma greve que interrompa
uma obra pública ou um serviço de interesse coletivo –
sendo a vítima a coletividade
[Pena: 6 meses a 2 anos, e multa]
Invasão de Estabelecimento Comercial
Art. 202 - (Invasão de estabelecimento industrial,
comercial ouagrícola. Sabotagem) Invadir ou ocupar
estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o
intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do
trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento
ou as coisas nele existentes ou delas dispor:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
● Sabotagem \ (art. 202, caput) invadir um estabelecimento
industrial, comercial ou agrícola para sabotar (impedir o
curso normal do trabalho) – também calha a sabotagem
de danificar o estabelecimento para impedir o curso
normal de trabalho (o dolo não está em outra coisa senão
essa sabotagem)
[Pena: 1 a 3 anos, e multa]
Frustrações de Trabalho
Art. 203 - (Frustração de direito assegurado por lei
trabalhista) Frustrar, mediante fraude ou violência, direito
assegurado pela legislação do trabalho:
Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da
pena correspondente à violência.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de
determinado estabelecimento, para impossibilitar o
desligamento do serviço em virtude de dívida;
II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer
natureza, mediante coação ou por meio da retenção de
seus documentos pessoais ou contratuais.
§ 2º - A pena é aumentada de um sexto a um terço se a
vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena
ou portadora de deficiência física ou mental.
● Frustração de direito trabalhista \ (art. 203, caput)
decorre do ato de frustrar as leis trabalhistas mediante
grave ameaça ou violência
[Pena: 1 a 2 anos, e multa, além da pena da violência]
● Outras frustrações \ (art. 202, § 1º, I e II) pune na mesma
pena quem faz a vítima contrair dívidas para impedir a
pessoa de sair do trabalho e a coloca em uma situação
análoga à de escravo;
Assim como quem é impedido de se desligar de um
trabalho mediante coação ou por retenção de documentos
pessoais ou contratuais
[Pena: 1 a 2 anos, e multa, além da pena da violência]
● Majorante \ (art. 202, § 2º) ocorre quando a vítima é
menor de 18 anos, idoso, gestante, indígena ou portador
de deficiência
[Pena: aumentada de ⅙ a ⅓]
Art. 204 - (Frustração de lei sobre nacionalização do
trabalho) Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação
legal relativa à nacionalização do trabalho:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da
pena correspondente à violência.
● Frustração de nacionalização \ (art. 204, caput) refere-se
a frustrar a nacionalização do trabalho (há limite de
estrangeiros passíveis de contratação por empresa, já que
o Brasil busca a nacionalização) mediante fraude ou
violência
[Pena: 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena da violência]
Exercício Ilegal de Trabalho
Art. 205 - (Exercício de atividade com infração de decisão
administrativa) Exercer atividade, de que está impedido por
decisão administrativa:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
● Exercício ilegal de trabalho \ (art. 205, caput) ocorre
quando a empresa mantem o funcionário que está
impedido de trabalhar – sendo, os dois, sujeitos ativos do
crime – é um crime habitual, semelhante ao estado
permanente, por haver habitualidade da ação
[3 meses a 2 anos, ou multa]
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Aliciamentos de Trabalho
Art. 206 - (Aliciamento para o fim de emigração) Recrutar
trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para
território estrangeiro.
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
● Aliciamento de emigração \ (art. 206, caput) recrutar
trabalhadores (aliciamento) mediante fraude (enganar a
vítima) para emigrá-los (levá-los para fora do país) –
tutela o interesse do Estado em querer reter os brasileiros
em território nacional
[1 a 3 anos, e multa]
Art. 207 - (Aliciamento de trabalhadores de um local para
o outro do território nacional) Aliciar trabalhadores, com o
fim de levá-los de uma para outra localidade do território
nacional:
Pena - detenção de um a três anos, e multa.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores
fora da localidade de execução do trabalho, dentro do
território nacional, mediante fraude ou cobrança de
qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar
condições do seu retorno ao local de origem.
§ 2º - A pena é aumentada de um sexto a um terço se a
vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena
ou portadora de deficiência física ou mental.
● Aliciamento estatal \ (art. 207, caput) a consumação se
dá quando o agente alicia (torna atrativo, seduz a ideia) os
trabalhadores para trabalhar em outro Estado
[1 a 3 anos, e multa]
● Outro aliciamento \ (art. 207, § 1º) mediante fraude ou
cobrança econômica, pune-se quem recruta vítima em
outro local que não o da execução do trabalho e não dá
condições de retorno
[1 a 3 anos, e multa]
● Majorante \ (art. 207, § 2º) ocorre quando a vítima é
menor de 18 anos, idoso, gestante, indígena ou portador
de deficiência
[Pena: aumentada em ⅙ a ⅓]
Crimes Contra o Religião e Respeito aos Mortos
Os dois bens jurídicos tutelados pelo capítulo V são: o
sentimento religioso e o respeito aos mortos
Ultraje a Culto
Art. 208 - (Ultraje a culto e impedimento ou perturbação
de ato a ele relativo) Escarnecer de alguém publicamente,
por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou
perturbar cerimônia ou prática de culto religioso;
vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
§ Ún. - Se há emprego de violência, a pena é aumentada
de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.
● Ultraje a culto \ (art. 208, caput) escarnecer (desprezar,
humilhar e afins) publicamente alguém por motivo de
crença ou religião; além de impedir ou perturbar alguma
cerimônia religiosa; ou vilipendiar (tornar vil ou rebaixado)
publicamente ato ou objeto de culto religioso
[Pena: 1 mês a 1 ano, ou multa]
A diferença entre esse crime e injúria está no fato de ser
público (ultraje religioso) ou não.
● Majorante \ ocorre quando há emprego de violência
[Pena: aumentada em ⅓]
Impedimento ou Perturbação de Cerimônia Funerária
Art. 209 - (Impedimento ou perturbação de cerimônia
funerária) Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia
funerária:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
§ Ún. - Se há emprego de violência, a pena é aumentada
de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.
● Impedimento ou perturbação de funeral \ (art. 209,
caput) impedir ou perturbar um velório ou qualquer outra
cerimônia funerária
[Pena: 1 mês à 1 ano, ou multa]
Como um crime contra os mortos, o tipo penal não protege
os cadáveres, já que não sentem mais nada, mas sim os
familiares e pessoas que possam se ofender com atos
consumados ou tentados contra o cadáver.
● Majorante \ ocorre quando há emprego de violência
[Pena: aumentada em ⅓]
Outros Crimes Contra os Mortos
Art. 210 - (Violação de sepultura) Violar ou profanar
sepultura ou urna funerária:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
● Violação de sepultura \ (art. 210, caput) violar ou
profanar qualquer sepultura por dolo que não se cabe em
um crime maior (ex.: violar sepultura para furtar um anel
de ouro seria um crime contra o patrimônio)
[Pena: 1 mês a 3 anos, e multa]
Art. 211 - (Destruição, subtração ou ocultação de cadáver)
Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
● Crime contra o cadáver \ (art. 211, caput) crime
consumado com a ocultação (esconder, caráter de crime
permanente) do cadáver, assim como sua subtração ou
destruição, total ou parcial
[Pena: 1 mês a 3 anos, e multa]
Art. 212 - (Vilipêndio a cadáver) Vilipendiar cadáver ou
suas cinzas:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
● Vilipêndio a cadáver \ (art. 212, caput) vilipendiar
(ultrajar, desprezar, etc) cadáver ou suas cinzas
[Pena: 1 mês a 3 anos, e multa]
Crimes Contra a Liberdade Sexual e Família
A dignidade sexual é um dos bens jurídicos tutelados pelo
direito penal, designadoa se importar com a violação da
liberdade de escolha para feituras sexuais (liberdade
sexual), logo, temos total liberdade de escolha com quem
nos relacionamos e deve ser consentido.
O direito penal não tutela moral sexual, ou seja, o uso da
sexualidade para outros fins como a prostituição, possuindo
os exercedores dessa conduta os mesmos direitos à
liberdade sexual.
A liberdade sexual gira em torno de dois conceitos prévios
importantes:
● Conjunção carnal \ refere-se à introdução completa ou
parcial do órgão sexual biológico masculino ao órgão
sexual biológico feminino
● Ato libidinoso diverso \ refere-se a qualquer outro tipo
de ato considerado socialmente como sexual (ex.:
penetração anal; "mão boba"; etc)
O direito penal compreende que qualquer pessoa possui
capacidade de consentir com um ato sexual a partir dos 14
anos, logo, antes disso, não há possibilidade de
consentimento.
Estupro
Art. 213 - (Estupro) Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de
14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o - Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
● Estupro \ (art. 213, caput) trata-se de um crime hediondo
que tipifica o ato de constranger (tolher a liberdade)
alguém a fim de se praticar conjunção carnal e/ou ato
libidinoso (não sendo necessário contato físico) mediante
grave ameaça (física ou psicológica) ou violência
[Pena: 6 a 10 anos]
O crime tem um sujeito ativo e passivo comum, logo, toda
e qualquer pessoa pode cometer e sofrer um crime de
estupro. Admite tentativa (ex.: o sujeito ativo ameaça divulgar
fotos íntimas da vítima se ela não consumir a conjunção
carnal com ela).
É possível crime continuado (art. 71, CP), logo, o sujeito
ativo consegue praticar estupro diversas vezes (mesmo que
com diferentes vítimas) em um determinado período de 30
dias.
● Qualificado I \ (art. 213, § 1º) qualifica-se o crime caso a
conduta resulte em lesão corporal grave (preterdolosa) ou
quando cometido com vítima entre 14 e 18 anos
[Pena: 8 a 12 anos]
● Qualificado II \ (art. 213, § 2º) outra qualificadora é o
estupro que decorre em morte da vítima (o sujeito tem a
intenção de estuprar mas não de matar a vítima, ou seja,
pretercoloso, em que o resultado da morte é culposo e o
do estupro, doloso)
[Pena: 12 a 30 anos]
Em 2009, o art. 214 se referia ao atentado violento ao
pudor (ato libidinoso) e o estupro contemplava somente
conjunção carnal, sendo o art. 214 revogado (não houve
abolitio criminis, e sim continuidade normativa). O estupro,
atualmente, abranje estupro e atentado violento ao pudor.
É importante dizer que a tipicidade é excluída caso a
conduta seja completamente consentida (consentimento
ofendido).
Violação Sexual Mediante fraude
Art. 215 - (Violação Sexual Mediante fraude) Ter
conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou
dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ Ún. - Se o crime é cometido com o fim de obter
vantagem econômica, aplica-se também multa.
● Violação sexual mediante fraude \ (art. 213, caput)
também chamado de estelionato sexual, a vítima, nesse
tipo de crime, sofre voluntariamente (há consentimento
viciado) ato libidinoso ou carnal por acreditar no discurso
do sujeito ativo, que, por sua vez, tem como dolo a lascívia
(ex.: ginecologista massageando a parte íntima da
paciente dizendo que é uma tática médica)
[Pena: 2 a 6 anos]
● Majorante \ acrescenta-se uma multa quando o crime tem
finalidade de se obter uma vantagem econômica
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[Pena: acrescida de multa]
O HC 33015/STF se refere à fraude em relação à pagar,
com cheque sem fundo, um serviço de prostituição, se
aplicando o crime de violção sexual mediante fraude.
Importunação Sexual
Art. 215-A - (Importunação sexual) Praticar contra alguém
e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não
constitui crime mais grave.
● Importunação sexual \ (art. 215-A, caput) se refere à
conduta de praticar ato libidinoso contra uma pessoa sem
seu consentimento com objetivo de se auto satisfazer ou
satisfizer outra pessoa (ex.: Frotteurismo (prazer do agente
em se esfregar em pessoas), configura uma conduta de
importunação sexual)
[Pena: 1 a 5 anos se não for considerado crime mais grave]
Assédio Sexual
Art. 216-A - (Assédio sexual) Constranger alguém com o
intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função.
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
§ 2o - A pena é aumentada em até um terço se a vítima é
menor de 18 (dezoito) anos.
● Assédio sexual \ (art. 216-A, caput) refere-se à
constranger alguém no âmbito sexual, a fim de obter
vantagem ou favorecimento sexual. Esse tipo penal
implica em ter um sujeito ativo com hierarquia e relação
profissional formal com o sujeito passivo no exercício de
seu emprego, cargo ou função
[Pena: 1 a 2 anos]
● Majorante \ (art. 216-A, § 2º) a pena é aumentada
quando a vítima é menor de idade
[Pena: aumentada em até ⅓]
Exposição da Intimidade Sexual
Art. 216-B - (Exposição da intimidade sexual) Produzir,
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo
com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter
íntimo e privado sem autorização dos participantes:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ Ún. -Na mesma pena incorre quem realiza montagem
em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com
o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou
libidinoso de caráter íntimo.
● Exposição da intimidade sexual \ (art. 216-B, caput) é
uma infração de menor potencial ofensivo que proíbe
produzir, fotografar, filmar ou registrar qualquer conteúdo
de caráter íntimo sem autorização
[Pena: 6 meses a 1 ano]
Sofrerá, pelo parágrafo único, da mesma pena quem
realiza montagens com finalidade de incluir qualquer pessoa
em uma cena íntima.
Estupro de Vulnerável
Art. 217-A - (Estupro de vulnerável) Ter conjunção carnal
ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o - Incorre na mesma pena quem pratica as ações
descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência.
§ 3o - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o - Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5º - As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º
deste artigo aplicam-se independentemente do
consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
relações sexuais anteriormente ao crime.
● Estupro de vulnerável \ (art. 217-A, caput) ter conjunção
carnal ou ato libidinoso comum sujeito passivo próprio
(menor de 14 anos), sendo este crime aplicado inclusive
nos casos em que há consentimento da vítima (art. 217-A,
§ 5º)
[Pena: 8 a 15 anos]
É importante destacar que o parágrafo primeiro declara
como vulnerável (art. 127-A, § 1º), também, qualquer
pessoa que não possa oferecer resistência ao ato libidinoso
ou conjunção carnal, além de deficientes mentais e enfermos
que também não podem oferecer essa resistência.
É um crime com ação penal pública incondicionada, logo,
independe da vontade da vítima.
● Qualificado I \ (art. 217-A, § 3º) qualifica-se o crime se
resultar em lesão corporal de natureza grave preterdolosa
[Pena:10 a 20 anos]
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
● Qualificado II \ (art. 217-A, § 4º) qualifica-se o crime se
resultar em morte preterdolosa
[Pena: 12 a 30 anos]
Corrupção de Menores
Art. 218 - (Corrupção de menores) Induzir alguém menor
de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
● Corrupção de menores \ (art. 218, caput) tipifica-se a
conduta de induzir (fazer nascer a ideia) um menor de 14
anos a satisfazer a lascívia (prática sexual contemplativa)
de outra pessoa
[Pena: 2 a 5 anos]
Lascívia na Presença de Menores
Art. 218-A - (Satisfação de lascívia na presença de
menores) Praticar, na presença de alguém menor de 14
(catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal
ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria
ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
● Lascívia na presença de menores \ (art. 218-A, caput)
praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou
induzi-lo a presenciar, ato carnal ou libidinoso a fim de
satisfazer lascívia própria
[Pena: 2 a 4 anos]
Há a necessidade de satisfazer lascívia própria ou de
outrem pela presença de alguém menor, sendo também
considerado um crime formal, ou seja, quando foi satisfeita a
lascívia há um mero exaurimento do que era previsto.
Favorecimento da Exploração de Vulnerável
Art. 218-B - (Favorecimento da prostituição ou de outra
forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou
de vulnerável) Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou
outra forma de exploração sexual alguém menor de 18
(dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1o - Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa.
§ 2o - Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso
com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze)
anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em
que se verifiquem as práticas referidas no caput deste
artigo.
§ 3o - Na hipótese do inciso II do § 2 o , constitui efeito
obrigatório da condenação a cassação da licença de
localização e de funcionamento do estabelecimento.
● Favorecimento da exploração de menores \ (art. 218-B,
caput) submeter , induzir ou atrair um menor de 18 anos
(ou vulnerável incapaz) à alguma forma de exploração
sexual
[Pena: 4 a 10 anos]
● Majorante \ (art. 218-B, § 1º) há um acréscimo de pena
quando há uma finalidade de se obter uma vantagem
econômica
[Pena: acrescida de multa]
● Exploração de menores \ (art. 218-B, § 2º) sofrerá a
mesma pena quem praticar a exploração ativamente com
menor de 18 e maior que 14 anos e quem for responsável
pelo local que se verifiquem as práticas realizadas, sendo
que haverá cassação da licença de localização e
funcionamento do local (art. 218-B, § 3º)
[Pena: 4 a 10 anos]
Exposição de Vulnerável
Art. 218-C - (Divulgação de cena de estupro ou de cena
de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de
pornografia) Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar,
por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de
massa ou sistema de informática ou telemática -,
fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que
contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou
que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou
pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não
constitui crime mais grave.
§ 1º - (Aumento de pena) A pena é aumentada de 1/3 (um
terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente
que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com
a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
§ 2º - (Exclusão de ilicitude) Não há crime quando o agente
pratica as condutas descritas no caput deste artigo em
publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou
acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a
identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização,
caso seja maior de 18 (dezoito) anos.
● Exposição de vulnerável \ (art. 218-C, caput) Oferecer,
trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda,
distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio (tipo
múltiplo alternativo), fotografia ou audiovisual cena de
pornografia de sujeito passivo comum que não consentiu
31
Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
com a conduta do crime material (ex.: divulgar "nudes"
sem consentimento de outra pessoa e fazer apologia ao
estupro)
[Pena: 1 a 5 anos se não for crime mais grave]
● Majorante \ (art. 218-C, § 1º) ocorre quando o crime é
praticado por um agente íntimo da vítima (atual ou antigo)
ou quando possui finalidade de humilhação ou vingança
[Pena: aumentada de ⅓ a ⅔]
● Exclusão de ilicitude \ (art. 218-C, § 2º) não há crime nas
condutas do caput quando possui finalidade acadêmica,
jornalística ou cultural com consentimento da vítima não
vulnerável e que não haja identificação da vítima
Observações e Majorantes Gerais
● Ação penal \ (art. 225, caput) este artigo prevê para os
crime sexuais uma ação penal pública incondicionada
● Majorantes I \ (art. 226) são majorantes para os crimes
sexuais vistos até o momentos (capítulos I e II)
○ Concurso de pessoas \ (art. 226, I) quando o crime é
cometido com o concurso de 2 ou mais pessoas
[Pena: aumentada em ¼]
○ Proximidade com a vítima \ (art. 226, II) se o agente é
ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador
da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade
sobre ela
[Pena: aumentada em ½]
○ Estupro coletivo \ (art. 226, IV, a) mediante o concurso
de 2 ou mais agentes (é exclusivo do crime de estupro,
diferente do inciso I, que pode ser aplicado para
qualquer crime sexual)
[Pena: aumentada de ⅓ a ⅔]
○ Estupro corretivo \ (art. 226, IV, b) para controlar o
comportamento social ou sexual da vítima
[Pena: aumentada de ⅓ a ⅔]
● Majorantes II \ (art. 234-A) todos os crimes sexuais
anteriormente e posteriormente apresentados (todo o
Título de crimes sexuais) possuem como majorante:
○ Gravidez \ (art. 234-A, I) se resulta em gravidez
[Pena: aumentada de ½ a ⅔]
○ Portador de doenças \ (art. 234-A, IV) se o agente
transmite à vitima doença sexualmente transmissível
de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a
vítima é idosa ou pessoa com deficiência
[Pena: aumentada de ⅓ a ⅔]
● Segredo de justiça \ (art. 234-A) todos os crimes sexuais
anteriormente e posteriormente apresentados (todo o
Título de crimes sexuais) correrão em segredo de justiça
Mediação de Lascívia de Outrem
Art. 227 - (Mediação para servir a lascívia de outrem)
Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1o - Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18
(dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente,
descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de
educação, de tratamento ou de guarda:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência,
grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena
correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se
também multa.
● Mediação de lascívia \ (art. 227, caput) induzir alguém a
satisfazer lascívia de outrem – há um agente da indução (o
que é punido pelo artigo), a vítima e o destinatário da
lascívia, que deve ser uma pessoa determinada e certa
[Pena: 1 a 3 anos]
● Qualificado I \ (art. 227, § 1º) refere-se às características
da vítima do crime e do agente da conduta
[Pena: 2 a 5 anos]
● Qualificado II \ (art. 227, § 2º) ocorre se o crime é
mediante violência, grave ameaça ou fraude – adiferença
entre o crime de esturpo é que a vítima aqui fornece nem
que o mínimo de consentimento
[Pena: 2 a 8 anos + pena da violência]
● Majorante \ (art. 227, § 3º) aplica-se quando há finalidade
de multa, também
[Pena: acréscimo de multa]
[Pena: aumentada de ⅓ a ⅔]
Favorecimento de Exploração Sexual
Art. 228 - (Favorecimento da prostituição ou outra forma
de exploração sexual) Induzir ou atrair alguém à
prostituição ou outra forma de exploração sexual,
facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o - Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta,
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador,
preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei
ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência,
grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena
correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se
também multa.
● Favorecimento de exploração sexual \ (art. 228, caput)
induzir ou atrair alguém à alguma forma de exploração
sexual (não incluso a pornografia infantil dos art. 240 e
241-E do Estatuto da Criança e do Adolecente) – além de
impedir ou dificultar que alguém abandone essa
habitualidade
○ Postituição \ comércio sexual exercido com
habitualidade (deve ocorrer com frequência) – o Brasil
adota o sistema abolicionista (não se pune a
prostituição mas aquele quem realiza a exploração)
[Pena: 2 a 5 anos, e multa]
● Qualificado I \ (art. 228, § 1º) aplica-se quando há um
vínculo entre o agente e a vítima como previsto no artigo
em questão
[Pena: 3 a 8 anos]
● Qualificado II \ (art. 228, § 2º) se o crime é cometido com
o emprego de violência, grave ameaça ou fraude
[Pena: 4 a 10 anos, além da pena da violência]
● Majorante \ (art. 228, § 3º) aplica-se quando há finalidade
de multa, também
[Pena: acréscimo de multa]
Rufianismo
Art. 229 - (Estabelecimento de exploração sexual) Manter,
por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que
ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou
mediação direta do proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Art. 230 - (Rufianismo) Tirar proveito da prostituição
alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a
exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14
(catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente,
padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro,
tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou
por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 2º - Se o crime é cometido mediante violência, grave
ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a
livre manifestação da vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da
pena correspondente à violência.
● Rufianismo \ (art. 230, caput) se refere ao aproveitamento
da prostituta, participando do seus lucros, todo ou em
parte – os sujeitos passivos são a coletividade (Estado) e a
pessoas explorada
○ Rufianismo direto \ (cafetão) àquele que põe a
prostituta para trabalhar e divide seus lucros em troca
de proteção
○ Rufianismo indireto \ (gigolô) é uma pessoa que vive
em custos de um prostituto (prostitutos motivados por
paixão e amor não configuram crime – ex.: manter a
família)
[Pena: 1 a 4 anos, e multa]
● Qualificado I \ (art. 230, § 1º) aplica-se quando há um
vínculo entre o agente e a vítima como previsto no artigo
em questão
[Pena: 3 a 6 anos, e multa]
● Qualificado II \ (art. 230, § 2º) quando é cometido
mediante violência, grave ameaça, fraude ou meios que
impedem livre manifestação da vontade
[Pena: 2 a 8 anos, mais a pena da violência]
Ato Obsceno
Art. 233 - (Ato obsceno) Praticar ato obsceno em lugar
público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
● Ato obsceno \ (art. 233, caput) refere-se à conduta de
praticar ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto
ao público
[Pena: 3 meses a 1 ano, ou multa]
Escrito ou Ato Obsceno
Art. 234 - (Escrito ou objeto obsceno) Fazer, importar,
exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de
comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito,
desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem:
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público
qualquer dos objetos referidos neste artigo;
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público,
representação teatral, ou exibição cinematográfica de
caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha
o mesmo caráter;
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou
pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
● Escrito ou objeto obsceno \ (art. 234, caput) necessita do
princípio da adequação social já que as condutas listadas
no artigo são comuns na nossa sociedade
Bigamia
É o primeiro crime contra a família de uma séria, tratando
de crimes contra casamento, filiação, assistência familiar e
afins.
Art. 235 - (Bigamia) Contrair alguém, sendo casado, novo
casamento:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento
com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é
punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento,
ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se
inexistente o crime.
● Bigamia \ (art. 235, caput) haver mais de um casamento
válido ao mesmo tempo (podendo ser de forma nacional
ou internacional)
[Pena: 2 a 6 anos]
● Bigamia privilegiada \ (art. 235, § 1º) casar com alguém
em casamento válido sabendo dessa condição
[Pena: 1 a 3 anos]
Abandono Material
Art. 244 - (Abandono material) Deixar, sem justa causa,
de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de
18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de
ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não
lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando
ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente
acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de
socorrer descendente ou ascendente, gravemente
enfermo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de
uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.
§ Ún. - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente,
frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono
injustificado de emprego ou função, o pagamento de
pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou
majorada.
● Abandono material \ (art. 244, caput) tipo penal
alternativo que tipifica a conduta de deixar de prover
recursos de subsistência do cônjuge ou da filiação ou
ascendente ou descendente gravemente enfermo, sem
justa causa
[Pena: 1 a 4 anos e multa]
Crimes Contra a Incolumidade Pública
Os primeiros são os chamados crimes de periclitação, já
que não dependem da conduta ser materializada em si,
somente da exposição do bem jurídico ao perigo.
Incêndio
Art. 250 - (Incêndio) Causar incêndio, expondo a perigo a
vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - (Majorante) As penas aumentam-se de um terço:
I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem
pecuniária em proveito próprio ou alheio;
II - se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra
de assistência social ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de
transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífero ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
§ 2º - (Incêndio culposo) Se culposo o incêndio, é pena de
detenção, de seis meses a dois anos.
● Incêndio \ (art. 250, caput) causar incêndio que exponha
perigo concreto a saúde ou patrimônio de outra pessoa
[Pena:3 a 6 anos, e multa]
● Incêndio mercenário \ (art. 250, § 1º, I) se há intenção de
ganhar dinheiro em relação ao incêndio
[Pena:aumentada em ⅓]
● Majorante \ (art. 250, § 1º, II) se cometido em casa
habitada, local público,em transportes coletivos, em
fábricas, depósitos explosivos, poços petrolíferos,
florestas e afins
[Pena:aumentada em ⅓]
● Incêndio culposo \ (art. 250, § 2º) se oriundo de imperícia,
imprudência ou negligência
[Pena: 6 meses a 2 anos]
Explosão
Art. 251 - (Explosão) Expor a perigo a vida, a integridade
física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão,
arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite
ou de substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou
explosivo de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - (Aumento de pena) As penas aumentam de um
terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I,
do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das
coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.
§ 3º - (Culposa) No caso de culpa, se a explosão é de
dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de
detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é
de detenção, de três meses a um ano.
● Explosão \ (art. 251, caput) expor a saúde ou patrimônio
de alguém a perigo por meio do uso de um explosivo – a
simples colocação, mesmo não armada, de um mecanismo
explosivo em um local de perigo há a consumação do
crime
[Pena: 3 a 6 anos, e multa]
● Explosão culposa \ (art. 251, § 3º) incorre por efeitos de
negligência, imprudência ou imperícia
[Pena: 3 meses a 1 ano]
Vale-se notar que, por ser o bem jurídico tutelado de perigo
comum, a explosão tem que ser um objeto de periclitação. Se
for um assassinato doloso, o crime será de homicídio.
Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante
Art. 252 - (Uso de gás tóxico ou asfixiante) Expor a perigo
a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem,
usando de gás tóxico ou asfixiante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ Ún. - (Culposa) Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
O artigo 253, caput, CP se refere ao fabrico, fornecimento,
aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico,
ou asfixiante. A diferença entre os dois artigos (pela
modalidade culposa do art. 252) é que quando se tratar de
ofensa à saúde humana ou meio ambiente, se aplica o artigo
253, quando for sobre patrimônio é o 252.
Inundação
Art. 254 - (Inundação) Causar inundação, expondo a
perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de
outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de
dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de
culpa.
Art. 255 - (Perigo de inundação) Remover, destruir ou
inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a
vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem,
obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Desabamento ou desmoronamento
Art. 256 - (Desabamento ou desmoronamento) Causar
desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a
vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ Ún. - (Culposa) Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano.
● Desabamento \ é a derrubada de obras produzidas pelo
homem artificialmente
● Desmoronamento \ se refere à derrubada de partes do
meio ambiente natural
Inutilização de material de salvamento
Art. 257 - (Subtração, ocultação ou inutilização de material
de salvamento) Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião
de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou
calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado
a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento;
ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Qualificação de Perigo Comum
Art. 258 - (Formas qualificadas de crime de perigo
comum) Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão
corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é
aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em
dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal,
a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se
a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um
terço.
● Qualificantes \ (art. 258, caput) ocorre quando há lesão
corporal de natureza grave ou morte, aplicando-se tanto
para casos dolosos quanto culposos
Epidemia
Art. 267 - (Epidemia) Causar epidemia, mediante a
propagação de germes patogênicos:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em
dobro.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
§ 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a
dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.
É o primeiro dos crimes contra a saúde pública, o último
capítulo dos crimes contra a incolumidade pública.
● Epidemia \ (art. 267, caput) causar uma epidemia,
mediante de germes patogênicos – pode-se
responsabilizar, também, as pessoas que tiveram uma má
gestão em relação à saúde e provocou ou agravou casos
epidêmicos
[Pena: 10 a 15 anos]
● Qualificado \ (art. 267, §1º) é um crime hediondo,
inclusive, se resultar em morte
[Pena: dobrada]
● Culposo \ (art. 267, §2º) se resultar em morte a pena
culposa é duplicada
[Pena: 1 a 2 anos]
Envenenamento de Substâncias Públicas
Art. 270 - (Envenenamento de água potável ou de
substância alimentícia ou medicinal) Envenenar água
potável, de uso comum ou particular, ou substância
alimentícia ou medicinal destinada a consumo:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo
ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água
ou a substância envenenada.
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
● Envenenamento de substâncias públicas \ (art. 270,
caput) inserir em alimentos, águas ou medicamentos
substâncias que são perniciosas à saúde – um alimento,
medicamento ou semelhante adulterado já é crime, mas
este tipo penal garante um agravante do envenenamento
[Pena: 10 a 15 anos]
● Distribuição de veneno \ (art. 267, §1º) quem entrega
para o consumo ou tem em depósito mesma substância
envenenada
[Pena: 10 a 15 anos]
Art. 271 - (Corrupção ou poluição de água potável)
Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou
particular, tornando-a imprópria para consumo ou nociva à
saúde:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ Ún. - (Modalidade culposa) Se o crime é culposo: Pena -
detenção, de dois meses a um ano.
Substâncias Nocivas à Saúde Pública
Art. 278 - (Outras substâncias nocivas à saúde pública)
Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para
vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo coisa
ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à
alimentação ou a fim medicinal:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
§ Ún. - (Modalidade culposa) Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
● Substâncias nocivas à saúde pública \ (art. 278, caput)
fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para
vender ou entregar a consumo substância nociva à saúde
(não referente a alimentação ou medicação, que já foram
tratados em artigos anteriores)
[Pena: 1 a 3 anos, e multa]
Charlatanismo
Art. 283 - (Charlatanismo) Inculcar ou anunciar cura por
meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
● Charlatanismo \ (art. 283, caput) há a promessa e venda
de um processo de cura infalível ou que cura as
enfermidadessem qualquer tipo de comprovação ou nexo
[Pena: 3 meses a 1 ano, e multa]
Curandeirismo
Art. 284 - (Curandeirismo) Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente,
qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ Ún. - Se o crime é praticado mediante remuneração, o
agente fica também sujeito à multa.
● Curandeirismo \ (art. 284, caput) refere-se ao agente
ativo que constantemente atende pessoas com
promessas curandeiras (ou até mesmo charlatãs)
[Pena: 6 meses a 2 anos]
Quando o crime é cometido sob remuneração, há também
a presença de multa.
Crimes Contra a Fé Pública
Os crimes contra a fé pública tutelam uma forma de
organização coletiva na sociedade, condenando atos de
falsificação de bens que vinculam na sociedade.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
Os crimes contra a fé pública são todos dolosos e não
possuem aplicação do princípio da insignificância nem do
instituto do arrependimento posterior (art. 16, CP).
Todos os crimes documentais são formais, devendo
possuir a finalidade de prejudicar o bem jurídico mas não
necessariamente a concretização dessa finalidade e prejuízo
para o Estado.
Moeda Falsa
Art. 289 - (Moeda falsa) Falsificar, fabricando-a ou
alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso
legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria
ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede,
empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira,
moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de
conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis
meses a dois anos, e multa.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e
multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de
banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a
fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado
em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz
circular moeda, cuja circulação não estava ainda
autorizada.
§ Ún. - Se o crime é praticado mediante remuneração, o
agente fica também sujeito à multa.
● Moeda falsa \ (art. 289, caput) crime formal que decorre
da falsificação pela alteração ou fabricação de dinheiro
falso, assim como quem guarda, introduz, cede, exporta,
troca, empresta e afins para a sociedade (art. 289, § 1º)
[Pena: 3 a 12 anos, e multa]
É importante mencionar que a utilização de moeda
falsificada de forma grosseira configura um crime de
estelionato ( justiça estadual, não federal) por causa da
súmula 73 do STJ. É necessário saber também que se torna
um crime material com admissão de tentativa nos casos em
que a vantagem financeira não é alcançada pelo sujeito ativo.
● Recirculação da moeda \ (art. 289, § 2º) quem tendo
ganhado moeda falsa de boa-fé coloca ela novamente em
circulação na sociedade conhecendo sua falsidade
[Pena: 6 meses a 2 anos, e multa]
Falsidade Documental
A falsidade material de documentos são os tipos penais
dos artigos 296, 297, 298, 301 §1º e 303. Há falsificação
material em relação à:
1. Forma \ documento expedido ou criado por quem não tem
o poder ou perícia para isso
2. Conteúdo \ alteração de um documento que inicialmente
foi expedido regularmente
O outro tipo de falsificação é a ideológica (artigos 299,
300, 301 caput e 302), sendo que ela ocorre em relação ao:
3. Conteúdo \ o documento está sendo expedido por quem
pode expedir, mas as informações são falsas
Há, também, uma diferença em relação ao tipo de
documento que está sendo falsificado:
● Documento público \ todos que foram emanados da
administração pública direta e também indireta
● Documentos equiparados a públicos \ (art. 297, § 2º, CP)
emanados de entidade paraestatal, o título ao portador ou
transmissível por endosso (cheques), as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento
particular
● Documentos particulares \ todos os que não forem
públicos ou equiparados a públicos
● Documentos equiparados a particulares \ (art. 298, §
Ún., CP)cartões de crédito ou débito (não importando se
for de banco público ou privado)
Falsidade de Documento Público
Art. 297 - (Falsificação de documento público) Falsificar,
no todo ou em parte, documento público, ou alterar
documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta
parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento
público o emanado de entidade paraestatal, o título ao
portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento
particular.
§ 3º - Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz
inserir:
I – na folha de pagamento ou em documento de
informações que seja destinado a fazer prova perante a
previdênciasocial, pessoa que não possua a qualidade de
segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do
empregado ou em documento que deva produzir efeito
perantea previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro
documento relacionado com as obrigações da empresa
37
Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter constado.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem omite, nos
documentos mencionados no § 3º, nome do segurado e
seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do
contrato de trabalho ou de prestação de serviços.
● Falsificação de documento público \ (art. 297, caput)
falsificar, no todo ou em parte, documento público
(material em forma) ou alterar documento público
verdadeiro (material em conteúdo)
[Pena: 2 a 6 anos, e multa]
● Majorante \ (art. 297, § 1º) se o agente é funcionário
público prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
[Pena: aumento de sexta parte]
Falsidade de Documento Particular
Art. 298 - (Falsidade de documento particular) Falsificar,
no todo ou em parte, documento particular ou alterar
documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ Ún. - Para fins do disposto no caput, equipara-se a
documento particular o cartão de crédito ou débito.
● Falsificação de documento particular \ (art. 298, caput)
falsificação material de documento particular
[Pena: , e multa]
Falsidade Ideológica
Art. 299 - (Falsidade ideológica) Omitir, em documento
público ou particular, declaração que dele devia constar, ou
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
documento é público, e reclusão de um a três anos, e
multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o
documento é particular. (Vide Lei no 7.209, de 1984)
§ Ún. - Se o agente é funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração
é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de
sexta parte.
● Falsidade ideológica \ (art. 299, caput) o documento está
sendo expedido por um agente com perícia mas com
informações falsas em relação ao conteúdo ou omissas
[Pena: 1 a 5 anos, e multa (público)]
[Pena: 1 a 3 anos, e multa (particular)]
Deve-se notar que o tipo penal comum é um binômio,
sendo composto pela conduta (omitir, inserir ou fazer inserir
declaração falsa) e a finalidade específica (prejudicar direito,
criar obrigação ou alterar a verdade sobre fatos juridicamente
relevantes) – sendo necessário ambos para configurar o
crime.
Pelo entendimento da jurisprudência, declaração de
pobreza modificada e currículo Lattes configuram um fato
atípico.As fotocópias autenticadas têm o mesmo valor do
documento original e, portanto, podem ser alvo do artigo
299.
A súmula 17 do STJ diz respeito de um crime meio de
falsificação para alcançar um crime fim de estelionato. Nesse
caso, caso não haja mais potencial lesivo, só haveria crime de
estelionato, absorvendo o crime de falsificação – pelo
princípio da consunção (relação de meio e fim).
Falsidade de Atestado Médico
Art. 302 - (Falsidade de atestado médico) Dar o médico,
no exercício da sua profissão, atestado falso
Pena - detenção, de um mês a um ano.
§ Ún. - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se
também multa.
● Falsidade de atestado médico \ (art. 302, caput) crime
próprio que só pode ser cometido por alguém formado em
medicina e que condena a conduta de dar atestado falso
com a intenção de produzir documento falso, e não erros
diagnósticos
[Pena: 1 mês a 1 ano]
● Atestado médico mercenário \ (art. 302, § Ún.) se houver
finalidade de lucro, há acumulação cumulativa de pena
pecuniária
[Pena: 1 mês a 1 ano, e multa]
Uso de Documento Falso
Art. 304 - (Uso de documento falso) Fazer uso de
qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se
referem os arts. 297 a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
● Uso de documento falso \ (art. 304, caput) refere-se ao
agente que somente usa os documentos falsificados
listados no título de documentos falsos
[Pena: cominada à falsificação]
Caso você falsifique o documento e o use, você
responderá somente pelo crime de falsificação, sendo o crime
de uso absorvido por ele.
Crimes Contra a Administração Pública
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
Os crimes contra a administração pública tutelam crimes
praticados por funcionários públicos contra a adminsitração
geral (crimes próprios funcionais), crimes praticados por
particulares (crimes comuns), crimes particulares contra
administrações estrangeiras, contra a administração da justiça
e contra as finanças públicas.
Art. 327 - (Funcionário Público) Considera-se funcionário
público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
quem trabalha para empresa prestadora de serviço
contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção
ou assessoramento de órgão da administração direta,
sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo poder público.
Como é expresso nesse artigo, o conceito de funcionário
público para o direito penal é muito mais amplo do que o
mesmo conceito definido pelo direito administrativo.
Para o direito penal, funcionário público é todo aquele que
exerce cargo, emprego ou função pública (mesmo que
transitório ou sem remuneração, como um mesário de
eleições).
O parágrafo 2º já prevê uma majorante para os crimes
descritos nos artigos 312 a 326, sendo aumentada em ⅓ a
pena quando os autores ocupam cargos em comissão,
direçãoou assessoramento (não incluso autarquia).
Peculato
Art. 312 - (Peculato) Apropriar-se o funcionário público de
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público,
embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o
subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.
§ 2º - (Peculato culposo) Se o funcionário concorre
culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano,
se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade;
se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
● Peculato \ (art. 312, caput) divide-se em dois tipos em
que o objeto material é um bem móvel (público ou
particular) que está em posse lícita do funcionário público
em razão do seu cargo
○ Peculato aprorpriação \ (crime material) apropriar-se
de um bem material móvel, dinheiro ou valor em razão
do seu cargo público
○ Peculato desvio \ (crime formal) desviar bem material
móvel, dinheiro ou valor em razão do seu cargo público
para obter vantagem própria ou alheia – podendo ser
um desvio moral ou econômico
[Pena: 2 a 12 anos, e multa]
● Peculato furto \ (art. 312, § 1º) ocorre quando, embora
não tenha a posse do bem material móvel, dinheiro ou
valor, ele subtrai a coisa valendo-se da facilidade
garantida por ser um funcionário público
[Pena: 2 a 12 anos, e multa]
● Peculato culposo \ (art. 312, § 2º) ocorre quando há a
concorrência de pessoas culposamente para o crime de
outrem, sendo o concorrente um funcionário público (ex.:
um funcionário público esquece a porta destrancada e
uma pessoa furtar os pertences)
(art. 312, § 3º) se o funcionário público que cometeu
peculato culposo reparar o dano antes do trânsito em
julgado, extiingue-se a punibilidade. Se reparar
posteriormente à sentença, a pena reduz pela metade
[Pena: 3 meses a 1 ano]
O peculato é um crime funcional, ou seja, um crime que é
próprio de um funcionário público. Os crimes funcionais
próprios são aqueles que são exclusivos da condição de
funcionários públicos, ou seja, se não existir mais o conceito
de funcionário público, não existe mais tipicidade na conduta.
Os crimes funcionais impróprios são aqueles na qual a
conduta existe em outro tipo penal, logo, se o conceito de
funcionário público deixar de existir, ainda assim a conduta
será tipificada. O peculato é um exemplo próprio.
Além disso, a possibilidade do peculato de uso (o
funcionário público usar a coisa e depois devolvê-la sem
qualquer intenção de se apropriar ou desviar) não é uma
conduta criminosa (mas resulta em improbidade
administrativa), somente é considerado crime se o agente foi
um prefeito pela Lei 201/67.
Art. 313 - (Peculato mediante erro de outrem)
Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no
exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
● Peculato estelionato \ (art. 313, caput) comete esse
delito o funcionário que se apropria de dinheiro ou
utilidade que recebe por erro de outrem durante o
exercício do seu cargo – há uma posse ilícita já que a coisa
foi recebida por erro
39
Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
[Pena: 1 a 4 anos, e multa]
Art. 313-A - (Inserção de dados falsos em sistema de
informações) Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a
inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente
dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de
dados da Administração Pública com o fim de obter
vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar
dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
● Peculato eletrônico \ (art. 313-A, caput) refere-se à
inserir, facilitar a inserção, alterar ou excluir dados
verdadeiros do banco de dados da Administração Pública
para obter vantagem indevida para si ou outrem ou para
causar dano (exige a materialidade da finalidade para
haver crime)
Os únicos funcionários públicos que podem cometer esse
delito são os funcionários públicos autorizados a mexerem
em dados da administração
[Pena: 2 a 12 anos, e multa]
Inserção de Dados Falsos
Art. 313-B - (Modificação ou alteração não autorizada de
sistema de informações) Modificar ou alterar, o funcionário,
sistema de informações ou programa de informática sem
autorização ou solicitação de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§ Ún. - As penas são aumentadas de um terço até a
metade se da modificação ou alteração resulta dano para a
Administração Pública oupara o administrado.
● Modificação não autorizada de informações \ (art.
313-B, caput) decorre do funcionário público modificar ou
alterar sistemas de informações ou programa sem
autorização
[Pena: 3 meses a 2 anos, e multa]
● Majorante \ (art. 313-B, § Ún.) a pena é aumentada se a
modificação resulta em dano para a Administração Pública
[Pena: Aumentada de ⅓ a ½]
Emprego Irregular de Verbas Públicas
Art. 315 - (Emprego irregular de verbas ou rendas
públicas) Dar às verbas ou rendas públicas aplicação
diversa da estabelecida em lei:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
● Emprego irregular de verbas públicas \ (art. 315, caput)
usar o dinheiro público para uma finalidade a qual ele não
foi destinado, não importando se a nova finalidade for
moralmente correta ou não
[Pena: 1 a 3 meses, ou multa]
Concussão
Art. 316 - (Concussão) Exigir, para si ou para outrem,
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social
que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido,
emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei
não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de
outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos
cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
● Concussão \ (art. 316, caput) é um crime formal que
consiste em exigir qualquer tipo de vantagem indevida em
razão do cargo de funcionário público (não é solicitação,
que configura outro crime), para si ou outrem, de forma
direta ou indireta, mesmo entanto fora ou antes de
assumir função de funcionário público (foi nomeado mas
não tomou psse ou nao entrou em exercício)
[Pena: 2 a 12 anos, e multa]
Se a exigência de uma vantagem econômica, por exemplo,
fosse feita sob grave ameaça, o crime deixaria de ser
concussão e se tornaria extorsão.
Corrupção Passiva
Art. 317 - (Corrupção passiva) Solicitar ou receber, para si
ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em
consequência da vantagem ou promessa, o funcionário
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o
pratica infringindo dever funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda
ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a
pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
● Corrupção passiva \ (art. 317, caput) refere-se à conduta
formar do funcionário público solicitar, receber ou aceitar
promessa de vantagem indevida
[Pena: 2 a 12 anos, e multa]
● Majorante \ (art. 317, § 1º) se a vantagem ou promessa
faz com que o funcionário retarda ou deixa de epraticar
qualquer ato de ofício ou pratica infringindo o dever
funcional
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
[Pena: aumentada de ⅓]
● Corrupção passiva privilegiada \ (art. 317, § 2º) não há
vantagem indevida envolvida (propina), ele deixa de
praticar ou retarda ato de ofício cedendo ao pedido ou
influência de alguém
[Pena: 3 meses a 1 anos, ou multa]
Prevaricação
Art. 319 - (Prevaricação) Retardar ou deixar de praticar,
indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
● Prevaricação \ (art. 319, caput) prevê a mesma conduta
da corrupção passiva privilegiada (retardar ou deixar de
praticar indevidamente ato ou ofício ou praticá-la contra o
correto). A diferença é que a finalidade na prevaricação é
satisfazer interesse ou sentimento pessoal
[Pena: 3 meses a 1 ano, e multa]
Condencendência Criminosa
Art. 320 - (Condencendencia criminosa) Deixar o
funcionário, por indulgência, de responsabilizar
subordinado que cometeu infração no exercício do cargo
ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
● Condescendência criminosa \ (art. 320, caput) na
primeira parte do artigo, refere-se à um funcionário
público de hierarquia superior deixar de responsabilizar
seu subordinado e, na segunda parte, refere-se à um
funcionário de mesmo nível hierárquico deixar de levar
conhecimento do fato criminoso para autoridade
competente
[Pena: 15 dias a 1 mês, ou multa]
Usurpação de Função Pública
Art. 328 - (Usurpação de função pública) Usurpar o
exercício de função pública:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
§ Ún. - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
● Usurpação de função pública \ (art. 328, caput) usurpar
o exercício de função pública (se passar por funcionário
público e, necessariamente, praticar atos como se fosse
aquele funcionário – caso não pratique atos, seria uma
contravenção penal)
(art. 328, § Ún.) se o agente confere algum tipo de
vantagem financeira, o crime é qualificado
[Pena: 3 meses a 2 anos, e multa]
[Pena: 2 a 5 anos, e multa]
Aqui inicia-se um novo capítulo no título, no caso, crimes
praticados por particulares contra a Administração
Pública. Diferentemente dos crimes anteriores, que eram
crimes funcionais próprios, aqui estão presentes crimes
comuns.
Resistência
Art. 329 - (Usurpação de função pública) Opor-se à
execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a
funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe
esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
das correspondentes à violência.
● Resistência simples \ (art. 329, caput) crime formal que
refere-se ao agente se opor à execução de um ato legal
usando violência ou ameaça a um funcionário competente
ou auxiliar – as penas dos crimes cometidos durante a
resistência ainda são aplicáveis, também, na pena total
(art. 329, § 2º)
[Pena: 2 meses a 2 anos]
● Resistência qualificada \ (art. 329, § 1º) ocorre quando a
oposição (resistência) ao ato funciona e a execução do
funcionário não ocorre
[Pena: 1 a 3 anos]
Desobediência
Art. 330 - (Desobediência) Desobedecer a ordem legal de
funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
● Desobediência \ (art. 330, caput) compara-se ao crime de
resistência porém sem uso de violência ou grave ameaça
[Pena: 15 dias a 6 meses, e multa]
Desacato
Art. 331 - (Desacato) Desacatar funcionário público no
exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
● Desacato \ (art. 331, caput) desacatar (menosprezar,
diminuir, humilhar…) funcionário público no exercício da
função ou em razão dela – é importante ressaltar que esse
tipo somente procede em presença física da autoridade
pública
A vítima de desacato é o Estado, sendo que os
funcionários desacatados são traatadas como testemunha,
e não como vítima
[Pena: 6 meses a 2 anos, ou multa]
Corrupção Ativa
Art. 333 - (Corrupção ativa) Oferecer ou prometer
vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ Ún. - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
● Corrupção ativa \ (art. 333, caput) oferecer ou prometer
vantagem indevida a funcionário público com intúito de
alterar a atividade dele
[Pena: 2 a 12 anos, e multa]
Descaminho e Contrabando
Art. 334 - (Descaminho) Iludir, no todo ou em parte, o
pagamento de direito ou impostodevido pela entrada, pela
saída ou pelo consumo de mercadoria
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
de procedência estrangeira que introduziu
clandestinamente no País ou importou fraudulentamente
ou que sabe ser produto de introdução clandestina no
território nacional ou de importação fraudulenta por parte
de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada
de documentação legal ou acompanhada de documentos
que sabe serem falsos.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos
deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
exercido em residências.
§ 3º - A pena aplica-se em dobro se o crime de
descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
fluvial.
Art. 334-A - (Contrabando) Importar ou exportar
mercadoria proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem:
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que
dependa de registro, análise ou autorização de órgão
público competente;
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira
destinada à exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
proibida pela lei brasileira;
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria proibida pela lei brasileira.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos
deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
exercido em residências.
§ 3º - A pena aplica-se em dobro se o crime de
contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
fluvial.
Falso Testemunho
Art. 342 - (Falso testemunho ou falsa perícia) Fazer
afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou
em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º - As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se
o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com
o fim de obter prova destinada a produzir efeito em
processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta.
§ 2º - O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no
processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a verdade.
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Denunciação Caluniosa
Art. 339 - (Denunciação caluniosa) Dar causa à
instauração de inquérito policial, de procedimento
investigatório criminal, de processo judicial, de processo
administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe
crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o
sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se
serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de
prática de contravenção.
Crimes Contra o Estado Democrático de Direito
O Estado é caracterizado por uma organização social e
jurídica formada por instituições que administram o país
(população, território e soberania). A democracia gira em
torno da escolha dos representantes do Estado pelo povo e
possuem garantias de direitos fundamentais, o que mantém
a dignidade humana.
A Lei 14.197/2021 (nova lei de segurança nacional) é a lei
que institui os crimes contra o Estado democrático de direito.
Art. 359-T - (Disposições comuns) Não constitui crime
previsto neste Título a manifestação crítica aos poderes
constitucionais nem a atividade jornalística ou a
reivindicação de direitos e garantias constitucionais por
meio de passeatas, de reuniões, de greves, de
aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação
política com propósitos sociais.
Os crimes previstos contra o Estado Democrático de Direito
possuem essa disposição que instaura que cada caso
concreto deve ser analisado, já que a manifestação crítica aos
poderes, reivindicação de direitos e afins são direitos
fundamentais da democracia. É importante entender que
devem possuir propósitos sociais, como diz o tipo, e não
propósitos alheios ou que ferem a liberdade de outrem.
Atentado à Integridade Nacional
Art. 359-J - (Atentado à integridade nacional) Praticar
violência ou grave ameaça com a finalidade de
desmembrar parte do território nacional para constituir
país independente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, além da pena
correspondente à violência.
● Atentado à integridade nacional \ (art. 359-J, caput)
aqui, o agente ativo tem a intenção de desmembrar o
território nacional para contituir um país novo e faz uso da
violência ou grave ameaça
[Pena: 2 a 6 anos, além da pena da violência]
Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito
Art. 359-L - (Abolição Violenta do Estado Democrático de
Direito)Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça,
abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou
restringindo o exercício dos poderes constitucionais:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena
correspondente à violência.
● Abolição violenta do estado democrático de direito \
(art. 359-L, caput) tentar abolir o Estado democrático de
direito a partir da restrição dos poderes constitucionais a
partir da violência ou grave ameaça
[Pena: 4 a 8 anos, além da pena da violência]
Golpe de Estado
Art. 359-M - (Golpe de Estado) Tentar depor, por meio de
violência ou grave ameaça, o governo legitimamente
constituído:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, além da
pena correspondente à violência.
● Golpe de estado \ (art. 359-M, caput) refere-se à
tentativa de subverter o governo legitimamente
constituído por meio de violência ou grave ameaça (quase
como uma extensão ou especificação do tipo penal
anterior)
[Pena:4 a 12 anos, além da pena da violência]
Interrupção do Processo Eleitoral
Art. 359-N - (Interrupção do processo eleitoral) Impedir ou
perturbar a eleição ou a aferição de seu resultado,
mediante violação indevida de mecanismos de segurança
do sistema eletrônico de votação estabelecido pela Justiça
Eleitoral:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
● Interrupção do processo eleitoral \ (art. 359-N, caput)
refere-se à violação indevida do mecanismo de segurança
do sistema eletrônico de votação para impedir ou
perturbar as eleições
[Pena: 3 a 6 anos, e multa]
Violência Política
Art. 359-P - (Violência política) Restringir, impedir ou
dificultar, com emprego de violência física, sexual ou
psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
pessoa em razão de seu sexo, raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa, além
da pena correspondente à violência.
● Violência política \ (art. 359-P, caput) restringir, impedir
ou dificultar o exercício de direitos políticos a qualquer
pessoa em razão à preconceitos com emprego de
violência física, psicológica ou sexual
[Pena: 3 a 6 anos, e multa, além da pena da violência]
Sabotagem
Art. 359-R - (Sabotagem) Destruir ou inutilizar meios de
comunicação ao público, estabelecimentos, instalações ou
serviços destinados à defesa nacional, com o fim de abolir
o Estado Democrático deDireito:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
● Sabotagem \ (art. 359-R, caput) destruir ou inutilizar
meios de comunicação, estabelecimentos, instalações ou
serviços de defesa nacional com a intenção de abolir o
estado democrático de direito
[Pena: 2 a 8 anos]
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
Crimes Contra a Vida 1
Homicídio Doloso Simples 1
Homicídio Doloso Privilegiado 2
Homicídio Doloso Qualificado 2
Homicídio Doloso Majorado 3
Homicídio Culposo 3
Induzimento ao Suicídio ou à Automutilação 3
Infanticídio 4
Aborto 4
Crime de Lesão Corporal 5
Observações Gerais 5
Gravidade da Lesão Corporal 6
Lesão Privilegiada e Culposa 6
Lesão Majorante e Perdão Judicial 6
Lesão em Violência Doméstica 6
Ação Penal 7
Periclitação da Vida e da Saúde & Rixa 7
Perigos de Contágio e à Saúde 7
Crimes de Abandono 7
Omissão de Socorro 8
Maus-tratos 9
Rixa 9
Crimes Contra a Honra 9
Introdução à Honra 9
Calúnia 9
Difamação 10
Injúria 10
Disposições Gerais sobre Crimes Contra a Honra 11
Crimes Contra a Liberdade Individual 11
Constrangimento Ilegal 11
Ameaça e Perseguição 12
Sequestro e Cárcere Privado 12
Condição Análoga à de Escravo e Tráfico de Pessoas 13
Violação de Domicílio 13
Correspondência Comercial 14
Divulgação de Segredo 14
Violação do Segredo Profissional 14
Crimes Contra o Patrimônio e Propriedade Imaterial 15
Furto 15
Furto de Coisa Comum 16
Roubo 16
Extorsão 17
Extorsão Mediante Sequestro 18
Extorsão Indireta 18
Usurpação 18
Dano 19
Animais em Propriedade Alheia 19
Alterações do Dano para Leis Especiais 20
Apropriação Indébita 20
Apropriação da Coisa 21
Estelionato 21
Duplicata Simulada 22
Abuso de Incapazes 23
Induzimento à Especulação 23
Fraude no Comércio 23
Outras Fraudes 23
Receptação 24
Disposições Gerais 25
Violação de Direito Autoral 25
Crimes Contra a Organização do Trabalho 26
Liberdade do Trabalho 26
Liberdade de Contrato de Trabalho e Boicotagem 26
Liberdade de Associação 26
Paralisação de Trabalho 26
Invasão de Estabelecimento Comercial 27
Frustrações de Trabalho 27
Exercício Ilegal de Trabalho 27
Aliciamentos de Trabalho 28
Crimes Contra o Religião e Respeito aos Mortos 28
Ultraje a Culto 28
Impedimento ou Perturbação de Cerimônia Funerária 28
Outros Crimes Contra os Mortos 28
Crimes Contra a Liberdade Sexual e Família 29
Estupro 29
Violação Sexual Mediante fraude 29
Importunação Sexual 30
Assédio Sexual 30
Exposição da Intimidade Sexual 30
Estupro de Vulnerável 30
Corrupção de Menores 31
Lascívia na Presença de Menores 31
Favorecimento da Exploração de Vulnerável 31
Exposição de Vulnerável 31
Observações e Majorantes Gerais 32
Mediação de Lascívia de Outrem 32
Favorecimento de Exploração Sexual 32
Rufianismo 33
Ato Obsceno 33
Escrito ou Ato Obsceno 33
Bigamia 34
Abandono Material 34
Crimes Contra a Incolumidade Pública 34
Incêndio 34
Explosão 34
Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante 35
Inundação 35
Desabamento ou desmoronamento 35
Inutilização de material de salvamento 35
Qualificação de Perigo Comum 35
Epidemia 35
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Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Especial
Envenenamento de Substâncias Públicas 36
Substâncias Nocivas à Saúde Pública 36
Charlatanismo 36
Curandeirismo 36
Crimes Contra a Fé Pública 36
Moeda Falsa 37
Falsidade Documental 37
Falsidade de Documento Público 37
Falsidade de Documento Particular 38
Falsidade Ideológica 38
Falsidade de Atestado Médico 38
Uso de Documento Falso 38
Crimes Contra a Administração Pública 38
Peculato 39
Inserção de Dados Falsos 40
Emprego Irregular de Verbas Públicas 40
Concussão 40
Corrupção Passiva 40
Prevaricação 41
Condencendência Criminosa 41
Usurpação de Função Pública 41
Resistência 41
Desobediência 41
Desacato 41
Corrupção Ativa 42
Descaminho e Contrabando 42
Falso Testemunho 42
Denunciação Caluniosa 43
Crimes Contra o Estado Democrático de Direito 43
Atentado à Integridade Nacional 43
Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito 43
Golpe de Estado 43
Interrupção do Processo Eleitoral 43
Violência Política 43
Sabotagem 44
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