Prévia do material em texto
CEDERJ/UERJ – GEOGRAFIA Disciplina: Geografia Agrária do Brasil – Professor: Luis Felipe Umbelino GABARITO AD1 – 2023.2 Aluno: ________________________________________________________ 1 – A Geografia Agrária enquanto um segmento da Geografia, teve o seu desenvolvimento ligado ao próprio desenvolvimento da Ciência geográfica, desenvolvendo-se no Brasil no início do século XX, com um país de características predominantemente rurais, os estudos foram por muito tempo, atrelados aos aspectos físicos da Geografia, dando à Geografia Agrária um caráter físico. No entanto, a partir da década de 1950, com o desenvolvimento da Geografia Teorética ou Geografia Pragmática, fundada no neopositivismo, passa a ser a base analítica da Geografia e a Geografia Agrária passa a adotar também gráficos, mapas, tabelas, entre outros, dando um caráter mais econômico, focando na produção agrícola e na organização do espaço agrário. Para essa corrente de pensamento geográfico, a abordagem de estudos dualista foi a que mais predominou, por fazer uma separação clara entre os estudos de geografia física dos estudos de geografia humana e social e seus modos de vida. Autores como Morgan e Munton se destacaram. A natureza passa a ser vista como recurso e assim usada de acordo com os interesses econômicos dominantes. Mesmo com a ascensão da Geografia Crítica e do pensamento marxista, a partir da década de 1960, a Geografia Agrária ainda permanece vendo a natureza como capital e a distribuição da renda atribuída a partir da sua transformação vista como bem é o enfoque da nova discussão. Nessa corrente de pensamento, os estudos com abordagem interrelacionista se destacam por considerar além dos aspectos físicos do espaço, a relação que estes desempenham com os aspectos humanos e seus diferentes modos de vida. Autores como Daniel Faucher e Leo Waibel se destacam. Vale a pena lembrar o papel dos estudos da professora Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira, que colocaram os diferentes temas de Geografia Agrária em destaque no país, influenciando outros autores como Orlando Valverde e Manuel Correia de Andrade, a pensarem o campo e sua dinâmica socioeconômica ao longo do tempo. 2 – Quando o colonizador chegou às terras brasileiras, encontrou o território ocupado por diferentes populações nativas e, para pôr em prática os seus interesses econômicos, foi preciso implantar uma política de intervenção territorial de dominação e escravização dessa população. Daí as figuras dos bandeirantes e jesuítas serem tão significativas para o desenvolvimento desta política. Nesse sentido, os bandeirantes tinham a função de fazer a limpeza da área, deslocando e aprisionando a população nativa para a entrada e ação do colonizador, enquanto os jesuístas atuavam na realocação dessas comunidades em áreas de controle mais fácil. Essas ações combinadas entre política e religião, facilitaram o domínio sobre os povos originários, uma vez que, retiravam as ligações identitárias desses povos com os seus territórios e manifestações culturais simbólicas e impondo-lhes formas de trabalho e relações sociais impostas pelo colonizador. 3 – A Lei de Sesmarias sendo uma lei agrária que foi copiada da Coroa e implantada na Colônia, não levou em consideração os aspectos socioeconômicos, ambientais e culturais do país, estando diretamente relacionada com o desenvolvimento econômico de Portugal no mercado internacional. Por isso, estava baseada no uso produtivo da cana-de-açúcar para o consumo externo, em que sesmaria era o pedaço de terra que era concedido ao responsável, chamado de sesmeiro, para fazer a terra produzir. Nesse sentido, a plantação de cana-de-açúcar e a criação de gado foram responsáveis pela estruturação do espaço agrário brasileiro e a partir daí, atraindo população para ocupação e povoamento do interior do país através de ciclos econômicos. Desse modo, podemos dizer que a partir das Sesmarias, baseada em distribuição de grandes porções do território para o desenvolvimento de monoculturas como a cana-de- açúcar, o espaço agrário brasileiro foi tomando forma, e apesar da modernização das leis de concessão e posse da terra, o modelo de latifúndios e monoculturas permanece atraindo o foco das políticas públicas no Brasil, como no caso atual dos grandes complexos do agronegócio. 4 - A atividade canavieira foi responsável, juntamente com a fazenda de gado e mais tarde com a atividade mineradora, pela estruturação e organização do espaço agrário brasileiro. Ocupando primeiramente a área litorânea, a atividade canavieira estava organizada internamente por meio do engenho de cana, configurando assim sua estrutura espacial. A atividade monocultora da cana-de-açúcar era responsável pelas atividades de processamento da cana, transformando-a em mercadoria e a partir daí era exportada. Vale salientar que a montagem de um engenho-fábrica exigia um poder aquisitivo alto e nem todo produtor tinha condições financeiras para tal, dependendo das instalações do vizinho para efetuar a moagem da cana. Tal fato, explicitava as relações de poder existentes no espaço canavieiro brasileiro. Todavia, durante o período minerador, as atenções da metrópole foram voltadas para esta atividade, que recebe maiores investimentos e colocam a atividade açucareira em segundo plano. Só com o declínio da atividade mineradora que a atividade da cana volta ao cenário nacional, mas sob nova configuração econômica. Forçados pela concorrência holandesa no Caribe, que empregou novas formas de produção além de tecnologia, a produção aqui no Brasil precisou de adequar às novas exigências do mercado, bem como no processo produtivo. De imediato é feito a substituição da espécie da cana produzida no Brasil, passando da cana crioula para a cana caiana, devido a sua maior rentabilidade. Em seguida troca-se a fonte de energia motriz do engenho-fábrica de tração animal para energia hidráulica e posteriormente para a máquina a vapor. Todo esse processo de transformações desde o plantio da cana até o seu processamento culminará com a substituição do engenho-fábrica pela usina. Assim, vários engenhos foram incorporados à usina, aumentando a concentração fundiária. 5 - A partir da abolição do tráfico negreiro no Brasil, o trabalhador escravo foi sendo gradativamente substituído pelo trabalhador livre. A partir daí, o escravo é convertido em agregado, que funciona como uma espécie de parceiro e só posteriormente que este trabalhador é convertido em morador. Só a partir das práticas capitalistas no campo, principalmente com a modernização da agricultura brasileira que há a transformação do morador em trabalhador volante diarista. Apesar de termos um trabalhador livre, ele continua trabalhando nas terras do seu antigo dono, desenvolvendo uma relação de trabalho subordinada, sob a influência do novo patrão. Assim, o proprietário de terra o domínio sob a força de trabalho que necessita e a manutenção da sua atividade produtiva. A transformação do engenho em usina, juntamente com a expansão da ferrovia transforma a mão-de-obra advinda da escravidão em força de trabalho disponível para a atividade agroindustrial do processamento da cana-de-açúcar. Em termos gerais, temos que com a abolição da escravidão no Brasil mudou-se a condição social do escravo, transformando- o em trabalhador livre, porém não mudou a sua situação econômica. Se antes eles dependiam do senhor de engenho, agora passam a depender dos baixos salários pagos pelos donos das usinas.