Buscar

História da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

História da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
Apresentação
Esta narrativa, construída por muitas vozes, conta a trajetória do espaço urbano sempre pautado pela forte presença da natureza: a do Rio de muitos janeiros, que se apresenta como um presente para o futuro.
Esta é a história da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Ou uma forma de contá-la. Do ontem e do hoje – com os seus caminhos e com as suas incontáveis possibilidades. A cidade que, aos poucos, foi ganhando papéis diferenciados – de entreposto comercial a um expressivo centro que, simbolicamente, projeta a imagem do Brasil no exterior.
Uma antiga lição ensina que “em História não há obra definitiva: há aproximações felizes”. A História, segundo o historiador Boris Fausto, “tanto ou mais do que outras disciplinas, se encontra em constante elaboração”. Resgata a humanidade com suas particularidades sem abandonar sua universalidade. O historiador, ao voltar seu olhar para o passado, não procura revivê-lo; busca realizar, no presente, o elo entre o passado e o futuro.
Essa jornada, com suas escolhas, parte da reflexão de que essa ciência é o estudo das ações humanas no tempo. Para entender o hoje da Cidade Maravilhosa, será necessário percorrer um caminho de volta, alcançando o passado. Revisitando o passado, estaremos ligados ao tempo presente, procurando compreendê-lo. Os seres humanos, de uma forma ou de outra, relacionam-se com o que aconteceu no ontem.
 ponto de partida desta narrativa? Observar o firmamento, entendendo que estar escrito nas estrelas pode não ser apenas uma abstração. É mais que isso; vai além. Desde tempos remotos, a humanidade é fascinada pelos mistérios do Universo. O desafio era (e ainda é) explorá-lo, buscando a sua conexão com a vida. Observando o Cosmo em constantes indagações, investigaram horizontes. Guiados pela posição especialmente das estrelas no firmamento, caminharam pisando em terras desconhecidas. A engenhosidade humana prosseguiu observando, experimentando e somando conhecimentos transformadores do pensamento moderno, que resultariam em feitos nunca vistos.
Pelos idos do século XV, dispondo da avançada tecnologia da época, povos da Europa Ocidental lançaram suas embarcações pelas revoltas águas atlânticas – fato conhecido como Grandes Navegações. Nessa era, tida como a Era dos Descobrimentos, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro entra na História quando caravelas portuguesas alcançaram pela primeira vez a região, com a expedição de 1501, comandada provavelmente por Gaspar de Lemos. Singrando as águas do Mar Sem Fim, margeando o litoral ainda desconhecido da América portuguesa, em 1º de janeiro de 1502 a tripulação se deparou com o que Américo Vespúcio (1454-1512) descreveu como um “grande espelho d’água, com entrada estreita e bem protegida”: a Baía de Guanabara. Décadas depois, nas terras do seu entorno, em meio às batalhas sangrentas para retomar a região ocupada por franceses, no dia 1º de março de 1565 seria fundada a cidade, sob a invocação de São Sebastião, padroeiro do rei de Portugal, D. Sebastião.
Um longo percurso, entre acertos e dificuldades, entre sonhos e vontades, seria trilhado pelos que construíram as suas vidas neste chão, enquanto órbita de Portugal, Capital Imperial, Distrito Federal, Estado-Capital ou Capital de Estado. Esta narrativa, construída por muitas vozes, conta a trajetória do espaço urbano sempre pautado pela forte presença da natureza: a do Rio de muitos janeiros, que se apresenta como um presente para o futuro.
Versos famosos dizem que a alma canta quando surge o perfil sinuoso do Rio de Janeiro. Vista de cima, a cidade fotogênica também revela seus contrastes e, mesmo assim, depois de séculos, continua linda. Observar o local dessa forma tornou-se possível por conta das tecnologias desenvolvidas ao longo do tempo. Nada mais encantador, especialmente à noite, quando o firmamento fica pontilhado por estrelas que a cidade contempla e que iluminam o seu céu.
Terra Brasilis. Detalhe de mapa do início do século XVI (Crédito: Atlas Miller/Lopo Homem (Jorge e Pedro Reinel) / Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)
Para existir a possibilidade de apreciar o Rio dessa forma, a humanidade, coletivamente, deu passos transformadores, escrevendo capítulos importantíssimos na História. Passos que, no século XV, permitiriam que povos da Europa Ocidental, sob a liderança de Portugal, utilizando inúmeros conhecimentos acumulados, somados ao espírito aventureiro, enfrentassem as águas revoltas do Atlântico. Superando dificuldades – entre vontades e interesses –, incontáveis navegadores se lançariam pelo desconhecido em feitos nunca vistos. Utilizando instrumentos de medição como o compasso, o astrolábio e a bússola, além das cartas náuticas, alcançaram as terras do além-mar.
A caravela de descobrir, muito superior às outras daquele tempo, adaptada para enfrentar mares grossos, desempenharia também um importante protagonismo nas viagens. A embarcação, para o professor Antonio Vieira Martins, não era um navio de carga, no sentido tradicional da palavra: “A sua carga mais importante na volta era o conhecimento que realimentava as viagens seguintes”.
O fato histórico conhecido como Grandes Navegações, que permitiu o conhecimento da América portuguesa definida pelo tratado assinado em Tordesilhas, aconteceu porque o pensamento, à época, aliou ciência e técnica: olhar o céu e medir o chão. O conhecimento submetido à experimentação permitiu que obstáculos fossem superados e horizontes, desvendados – terras, coisas e pessoas. É nesse contexto, incluindo a procura de novos mercados e mercadorias, que, pela primeira vez, a Baía de Guanabara seria alcançada, no dia 1º de janeiro de 1502.
A cidade localizada nas cercanias da baía surgiria décadas depois, quando o calendário indicasse o primeiro dia do mês de março de 1565. No esforço para extinguir a França Antártica, centro das preocupações da Coroa lusitana, Estácio de Sá (1520-1567), sobrinho do governador-geral Mem de Sá (1500-1572), fundou um povoado, segundo suas palavras, “sob a invocação de São Sebastião, padroeiro do rei de Portugal, D. Sebastião”, no chão do seu entorno. Sua localização inicial, por estratégia militar, foi aos pés das muralhas naturais de granito, de onde era possível observar tanto a movimentação das embarcações pelo Atlântico como o interior da baía.
Armada Portuguesa (Crédito: Lisuarte de Abreu/Academia das Ciências de Lisboa)
Diante das circunstâncias do conflito, fundar uma cidade que assegurasse o domínio efetivo da região representava um privilégio, concedido pelo rei de Portugal ao governador-geral. Erguida para ser uma fortificação no Atlântico Sul, diferente de uma simples vila da época, teria maior autonomia administrativa e judiciária. Singularidades como essa e outras estariam presentes no desenrolar de toda a história do Rio de Janeiro. “Cada coisa a seu tempo tem seu tempo” (Fernando Pessoa).
Em janeiro de 1502, margeando o litoral atlântico, ultrapassaram a boca da Baía de Guanabara, nomeando o local como Rio de Janeiro, talvez por entenderem existir ali a foz de um rio.
O mar, fonte de perigos e mistérios, é uma estrada utilizada pelo homem como forma de chegar, estar e partir, desde épocas remotas. O desconhecido por trás do horizonte e a oportunidade de descobrir novas terras e tesouros inesgotáveis faziam com que navegadores da Europa Ocidental, dispondo dos avançados recursos da época, velejassem por águas revoltas até o momento em que o vigia, no alto do mastro de alguma embarcação, gritasse: “Terra à vista!”.
Mapa das Índias Ocidentais, 1601 (Crédito: Antonio de Herrera y Tordesillas)
Luís de Camões referia-se à liderança de Portugal em um dos maiores feitos da humanidade do segundo milênio – a conquista do Mar Oceano –, quando escreveu em Os Lusíadas, em fins do século XVI: “As navegações grandes que fizeram; (...) Que eu canto o peito ilustre lusitano”.
Antes de o Rio ser o Rio e depois que a frota sob o comando do fidalgo Pedro Álvares Cabral (1467-1520) avistou oMonte Pascoal em 1500 (no atual estado da Bahia), as caravelas portuguesas foram além, explorando aquela natureza (des)conhecida e intrigante. Em janeiro de 1502, margeando o litoral atlântico, ultrapassaram a boca da Baía de Guanabara, nomeando o local como Rio de Janeiro, talvez por entenderem existir ali a foz de um rio.
Naquela época, a extensa costa permanecia desguarnecida da ocupação efetiva dos portugueses. Em decorrência da situação, frequentemente outros europeus, piratas e contrabandistas – chamados pela Coroa portuguesa de estrangeiros vis e infames – rondavam a região que incluía o litoral carioca, negociando com os nativos as riquezas tropicais.
Em 1555, franceses, fugindo de guerras religiosas que aconteciam na Europa e ignorando o Tratado de Tordesilhas, invadiram a Baía de Guanabara, estabeleceram uma colônia na ilha rochosa que os índios chamavam de Serigipe e deram início à França Antártica. Em 1565, no processo de retomada do local, seria fundada, nesse momento com objetivo militar, no sopé do morro chamado de Cara de Cão, uma cidade singular de inspiração portuguesa: a de São Sebastião do Rio de Janeiro. A partir daí, talvez alguns pensassem que estava mesmo escrito nas estrelas.
A região da Baía de Guanabara: olhares
Nos primeiros tempos, descrições da América portuguesa, incluindo a região da Baía de Guanabara e do seu entorno (onde, em 1565, seria fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro), seriam anotadas nos relatos feitos por escrivães que participavam das frotas que cruzavam mares e oceanos.
Eram informações preciosas, como as encontradas na carta da expedição de 1500, que comunicou ao rei de Portugal, D. Manuel I (1469-1521), a notícia do descobrimento. No caso, a pena de Pero Vaz de Caminha (1450-1500) deslizou, anotando impressões sobre a extensão litorânea da nova terra: “Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra sul vimos até outra ponta que contra o norte, de que nós deste porto tivemos visão, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa”. Referia-se ao que via: uma parte do litoral sul, onde hoje é o estado da Bahia, e também a que intuía existir.
Aquarela do século XVIII (ou XIX) da Baía de Guanabara (Crédito: G. Haevel / Acervo particular)
Outros apontamentos, incluindo a região do Rio antes de existir a cidade do Rio de Janeiro, seriam feitos também por viajantes e cronistas do século XV, XVI e XVII. Contudo, nem sempre as informações contêm objetividade e distanciamento entre a pessoa que escreve e o fato descrito.
Para o geógrafo João Lima Sant'Anna, esses relatos apresentam “mais visões do que fatos”. Possuem ambiguidades e ambivalências. Talvez, o desejo de encontrar o paraíso terreno somado à imaginação tenha contribuído para a construção do lugar ideal. Desconhecendo a natureza tropical, os estrangeiros fantasiaram um mundo perfeito – diametralmente oposto à cena europeia do século XV.
Assim, as impressões e os olhares daqueles nautas, religiosos, comerciantes e aventureiros de perfis diversos relacionam-se com o tempo histórico em que viviam. O historiador Ilmar Rohloff de Mattos sinaliza que, para aqueles homens, “as terras americanas significavam um imenso vazio a ser preenchido com seus interesses, concepções e valores. Um grande deserto, um desertão. Daí a origem do nome sertão”.
O litoral carioca: o mar e a montanha
Olitoral carioca é formado por ilhas isoladas, hoje nomeadas como Rasa e Redonda, e as do Arquipélago das Cagarras; praias como a da Reserva e a da Joatinga; e também pelo que a mão humana ergueu para a defesa da região, como a Fortaleza de Santa Cruz e a Fortaleza de São João, impregnadas de história. A de São João, no bairro da Urca, está fortemente ligada à fundação da cidade. Justamente nesse ponto, Estácio de Sá (1520-1567), com a sua tropa, desembarcou, em 1565, na praia (entre o Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão), objetivando expulsar os franceses – chamados pela Coroa portuguesa de estrangeiros vis e infames –, reintegrando a região ao domínio de Portugal.
Mapa do século XVI da Baía de Guanabara (Crédito: André Thevet/Biblioteca do Itamaraty, Rio de Janeiro)
Mais um trecho dessa orla está nos grandes paredões de pedra formados pelas montanhas da cidade, projetando-se sobre o mar e as praias localizadas nas partes baixas do litoral.
Outros cartões-postais: o trecho que vai do Rio São João de Meriti até o Pão de Açúcar, a Ilha de Paquetá, a Praia da Urca e o Aterro do Flamengo – local urbanizado após sucessivos aterros, a partir dos anos 1960. São pontos situados dentro da Baía de Guanabara, portal de entrada das terras do entorno. Em muitos desses lugares, é possível desvendar ângulos inusitados que o tempo não apagou. Diante de tantas retas e curvas, Tom Jobim descreveria a cidade entre o mar e a montanha: “Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro”.

A Baía de Guanabara: suas histórias
ABaía de Guanabara é dos símbolos mais fortes da cidade do Rio de Janeiro. Desde a chegada dos primeiros europeus, sua paisagem e sua natureza foram descritas pelo olhar dos escrivães das frotas, dos viajantes, dos cronistas, dos pintores, dos poetas, dos estudiosos – famosos ou anônimos.
Em 1502, o navegador Américo Vespúcio (1454-1512) assim se referiu às terras que a expedição exploradora alcançou – incluindo a Baía de Guanabara: “Digo que é terra muito amena, e temperada e sã porque daquele tempo que andamos por ela, que foram dez meses, não só nenhum de nós morreu, mas poucos adoeceram”.
A cidade do Rio de Janeiro em gravura do final do século XVII (Crédito: François Froger/Museu Imperial - Iphan)
O religioso espanhol José de Anchieta (1534-1597), em uma de suas cartas, registrou: “É a mais fértil e viçosa terra que há no Brasil”. O pensador francês Saint-Hillaire (1779-1853) constatou: “Quem seria capaz de descrever as belezas que apresenta a baía do Rio de Janeiro, esse porto que, na opinião de um dos nossos almirantes mais instruídos, poderia conter todos os navios da Europa?”.
O reconhecimento da sua importância começou muito antes de o Rio ser o Rio e da chegada da frota cabralina. Por séculos, desde a presença dos povos construtores dos sambaquis até as populações indígenas encontradas pelos primeiros europeus que alcançaram a região, o ecossistema da Baía de Guanabara e seu entorno foi objeto de disputas entre populações rivais que dele retiravam o seu sustento.
Os navegadores europeus que, viajando pelo mar afora com as suas caravelas de descobrir, alcançaram a Baía de Guanabara em busca de riquezas logo perceberam que aquelas águas calmas e seguras possuíam um importante valor estratégico, tanto no suporte à navegação ao longo do litoral como para o acesso ao interior. Inúmeras anotações e desenhos detalharam, nos mapas e nas cartas do século XV e dos seguintes, essas informações. Consta que, observando esses aspectos, em 1553, o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa (1503-1579), propôs que se erguesse no entorno da Baía de Guanabara uma “povoação honrada e boa”. Objetivava que se interrompesse o comércio frequente entre estrangeiros – especialmente franceses, que não reconheciam a soberania da Coroa portuguesa sobre as terras americanas – e os nativos que habitavam as aldeias nas redondezas da baía.

A Baía de Guanabara: características
Essa baía é ampla e considerada uma das mais abrigadas do mundo, devido ao espaço estreito de sua barra, com 1.600 metros. Possuindo uma área aproximada de 400 quilômetros quadrados e profundidades além de 40 metros, em sua margem oeste, localiza-se a cidade do Rio de Janeiro com seu porto; na leste, a cidade de Niterói; na parte norte, junto à Ilha do Governador, encontra-se um dos principais terminais petrolíferos do país. Em ambas as margens, estão os grandes estaleiros que constroem e que reparam embarcações. A baía é ladeada por dois morros, que constituem uma proteção natural e são elementos importantes para contar a história da cidade do Rio de Janeiro, fundada em 1565.
O Pão de Açúcar, entrada da Baía de Guanabara,em imagem da primeira metade do século XIX (Crédito: Le Pain du Sucre a l'entrée du port de Rio de Janeiro / Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)
Com a finalidade de proteger a boca da baía, garantindo a posse efetiva das terras definidas pelo Tratado de Tordesilhas, os portugueses construiriam, na entrada de sua barra, a Fortaleza de Santa Cruz e a Fortaleza de São João. Além dessas, com a mesma finalidade, no século XVIII, foi erguida (mais para dentro da baía) a Fortaleza de Lage. Formatava-se um triângulo de segurança, pretendendo proteger a cidade e seu porto.
Testemunha de séculos da História do Brasil e do Rio de Janeiro, a bacia hidrográfica da Baía de Guanabara compreende 35 rios, que nela deságuam, e 53 praias. Ela, que era (e ainda é) o principal acesso à cidade, impôs sua importância como ponto fundamental para a movimentação da economia. Com o crescimento de outros centros urbanos no entorno da região, seu traçado original aos poucos foi sendo tragado. A ocupação irregular, os aterros e, principalmente, a poluição contribuíram para a alteração do desenho natural. Porém, ainda hoje, seu ecossistema sobrevive ao impacto dos desordenados processos de ocupação.

A Baía de Guanabara: questões de hoje
Abaía vem enfrentando graves questões ligadas à ocupação irregular, aos aterros e, principalmente, à poluição. São situações importantes do hoje que conduzem à degradação ambiental decorrente do não reconhecimento, por muitos, dos valores contidos na natureza. Diante de situações tão adversas, tornam-se necessárias intervenções, objetivando prevenir e corrigir problemas.
O processo de deterioração vem ocorrendo especialmente nos últimos 50 anos. Se, por um lado, nessa baía localiza-se um importante porto comercial do Brasil – movimentando a economia –, por outro, paga-se um preço. Suas águas ainda estão abaixo do padrão ambiental, alterando, por exemplo, a qualidade das praias localizadas em seu interior. Todavia, a Lei Federal nº 9.605/98 elevou ao status de crime uma série de condutas lesivas ao meio ambiente, entre as quais “o lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos”. Isso inclui as águas de “baías, rios e suas desembocaduras, lagos, lagoas e canais, arquipélagos, as águas entre os baixios e a costa e todas as águas marítimas sob jurisdição nacional que não sejam interiores”, de acordo com a Lei Federal nº 9.966/00.
Apesar desses problemas, a beleza da região sobrevive. Sua geografia favorável prossegue encantando aqueles que, no presente, passam por ela, seja em terra firme, nas suas margens, ou dentro das embarcações que cortam suas águas todos os dias. Como a caravela lusitana no passado... 
Os rios da cidade
Os rios, no seu caminho da nascente à foz, desempenharam, desde muito cedo, um papel importante na conquista e na ocupação das terras da América portuguesa. Eram verdadeiras estradas que facilitavam o ir e vir de pessoas e de mercadorias, principalmente no entorno da Baía de Guanabara. Criaram uma espécie de corredor em direção aos portos litorâneos, e inúmeras povoações surgiram ao longo de suas margens.
Os que percorrem a cidade do Rio de Janeiro não possuem grande volume de água, se comparados a outros existentes no Brasil. Devido a essa característica, sempre existiram esforços para garantir o abastecimento. O escritor Vivaldo Coaracy (1882-1967) já registrara que “desde as suas origens foi sempre o Rio de Janeiro uma cidade com sede”.
Mapa do século XVI registra a desembocadura de alguns rios na Baía de Guanabara (Crédito: André Thevet/Biblioteca do Itamaraty, Rio de Janeiro)
Antes de o Rio ser o Rio, documentos informam que os cursos d’água atravessavam (livremente) as baixadas, no seu caminho para o mar, as lagoas ou outros rios. Atualmente, muitos deles se encontram ocultados, aterrados, drenados ou canalizados, tendo seu curso no subsolo das cidades. É o caso do Rio Carioca, por exemplo, que hoje corre embaixo de ruas e edifícios dos atuais bairros do Cosme Velho, de Laranjeiras e do Flamengo.
O Rio Carioca
Pelas palavras do escritor Alceu Amoroso Lima, entende-se, na teoria e na prática, o papel do primeiro manancial de água da cidade: “Muito antes de existir o Rio de Janeiro existia o Rio Carioca”.
A foz do Rio Carioca na Baía de Guanabara. Detalhe de mapa do século XVI (Crédito: André Thevet/Biblioteca do Itamaraty, Rio de Janeiro)
O Rio Carioca nasce na Serra do Corcovado, na altura das Paineiras, sendo o primeiro grande manancial que abasteceu a cidade. Um pouco abaixo, ao longo do Vale das Laranjeiras (hoje, o local abrange os bairros de Laranjeiras e do Cosme Velho), o Carioca divide-se em dois braços, um dos quais tem sua foz na Praia do Flamengo, e o outro desemboca junto ao Outeiro da Glória. Como a maioria dos rios da cidade, ele nasce nas áreas mais altas dos maciços (Serra do Corcovado) que fazem parte do relevo da região, segue o seu curso e vai desaguar na Baía de Guanabara.
Por longo tempo, o rio, com suas águas cristalinas, foi o mais importante da região, sendo aquele que abastecia de água potável os europeus pioneiros que alcançaram a Baía de Guanabara, da mesma forma que já fornecia à população nativa. Trilhas e caminhos, como o do Catete (origem do atual bairro localizado na Zona Sul da cidade), surgiriam diante da necessidade de encontrar água própria para o consumo em sua nascente ou em sua foz.
Antigos documentos relatam que o Carioca era bem mais caudaloso e pelo seu curso subiam canoas, direcionadas ao interior, que traziam produtos das chácaras situadas no Vale das Laranjeiras. A desembocadura do rio com o mar, onde hoje é a Praia do Flamengo, servia como fonte de abastecimento às embarcações que, a partir do descobrimento, pela ausência de porto, lançavam suas âncoras na Baía de Guanabara. Daí a sua primeira denominação: Aguada dos Marinheiros.
As águas urbanas: patrimônio natural
As águas possuem usos variados, além do abastecimento para o consumo das populações. É o caso da irrigação, do transporte através das hidrovias, da geração de energia elétrica, etc. Essas atividades transformam a natureza: destroem paisagens nativas, criam novas e modificam os ambientes, produzindo impactos diversos. Na cidade do Rio de Janeiro, como em todas as regiões do planeta, as águas urbanas (incluindo lagoas e cachoeiras) representam um patrimônio natural para uso da população.
Transformadas em vazadouros de esgoto (alguns clandestinos), de lixo doméstico e industrial, sofrem as consequências do intenso desmatamento de suas nascentes e margens, estando com seus leitos acentuadamente assoreados, o que compromete o escoamento natural, causando frequentes enchentes na estação chuvosa, acarretando danos às populações. Assim, esses recursos hídricos precisam de proteção, por meio de políticas que incluam a gestão das águas, utilizando instrumentos como o tombamento.
Segundo o especialista Alexandre Pessoa Dias, priorizar a revitalização dos rios, com intervenções ambientais sistêmicas de saneamento, será “a melhor forma de se preservar a qualidade ambiental de qualquer corpo d’água”. Se não é possível retornar às condições originais – de tempos imemoriais –, será preciso mudar o rumo desse quadro de alto custo social e de desrespeito à natureza. Palavras citadas pelo professor Maurício Andrés Ribeiro, como hidroalfabetização ou hidrossensibilização, ganharam sentido, força e conteúdo no universo dos valores, dos princípios e da educação. Tais expressões significam integrar o elemento água nas decisões dos gestores que conduzam à construção de projetos de consciência transformadora quanto à utilização desse recurso natural.
A Mata Atlântica: o verde do Rio
No início da ocupação do espaço onde hoje se encontra a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Mata Atlântica cobria parte dos morros e das serras, além de estender-se pelas encostas próximas ao litoral brasileiro, dos atuais estados do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul.Além da Mata Atlântica, os navegadores vindos do além-mar encontraram outros ecossistemas, como o manguezal, as restingas, as praias e os costões litorâneos, que compuseram o cenário natural onde se desenvolveu uma sociedade com características próprias – relacionadas à presença do mar e da montanha. Os europeus, objetivando ocupar para garantir a posse da terra, aos poucos devastaram essas áreas, com a retirada de várias espécies vegetais para a construção de vilas, de povoados, de cidades e até mesmo para a utilização da madeira como lenha. Os jequitibás, as palmeiras, as orquídeas, as quaresmeiras e a árvore do pau-brasil são espécies da vegetação original, hoje dificilmente encontradas.
Desvendando o pensamento daquele tempo, a natureza era percebida como um espaço a ser conquistado diante da lógica mercantil. Séculos depois, o preço cobrado de todos é incalculável. Pensando a realidade do hoje, diante das diversas propostas e ações transformadoras do espaço, a geógrafa Daniella Guimarães Barcellos propõe uma reflexão: “A natureza inclui ou não o que é humano?”.
Antes de o Rio ser o Rio, a Mata Atlântica ocupava uma área equivalente a 1.315.460 quilômetros quadrados. Hoje, encontra-se reduzida e fragmentada – da sua cobertura de floresta original restam aproximadamente 7,3%, e seus pontos remanescentes estão localizados em locais de difícil acesso. Essa área é considerada uma das mais ricas em biodiversidade e também a mais ameaçada de desaparecer do planeta.
Inúmeros benefícios dão sentido à palavra preservação: controle do clima, fonte de alimentos e de plantas medicinais, regulagem do fluxo de mananciais hídricos. Preservação também significa garantir a contenção de encostas, além de assegurar a oportunidade para que se desfrute de paisagens exuberantes, para o desenvolvimento de atividades direcionadas ao ecoturismo, além de servir como abrigo a diversas populações remanescentes das primitivas tribos indígenas. E o mais importante: nessa mata encontram-se sete das nove bacias hidrográficas brasileiras – mananciais hídricos essenciais ao abastecimento de aproximadamente 70% da população do Brasil.

Outros materiais