Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PEDIATRIA – JÚLIA COLOGNEZI 21 DE AGOSTO DE 2023 INFECÇÕES DE VIAS AÉREAS SUPERIORES CONCEITOS 6 – 8 episódios IVAS a cada ano Todas as regiões da VAS podem ser afetadas simultaneamente ou em diferentes momentos durante as doenças Começa com coriza hiperemia seio maxilar congestão, cefaleia dor de amigdala dificuldade engolir febre baixa catarro Quando está tudo acometido chamamos de IVAS, podendo ser dividido em Terminologias gerais: resfriado comum, gripe (etiologia viral) Quando passa de um quadro geral para uma localização Terminologia específica: rinossinusite, faringoamigdalite, otite média aguda (etiologia bacterianas) – começou com ivas mas agora tem uma infecção Rinossinusite e otite média – epitélio e mucosa respiratória Amigdala – tecido linfático, via digestiva Abordagens diferentes Impacto epidemiológico: influenza (gripe) < 2 anos são mais susceptíveis pois ainda estão construindo a imunidade tem mais quadro respiratório ETIOLOGIAS IVAS Rinovírus – resfriado comum (30 – 50%) Coronavírus (10 – 15%); Em criança grande parte das infecções são leves pois ela já está acostumada com o contato Vírus influenza (5 – 15%) – gripe (criança tem risco grande de desenvolver complicação) Vírus sincicial respiratório (VSR) (5%) – agente principal da bronquiolite viral aguda: começa na VAS, depois de uns 3 dias a criança começa a ficar cansada, com dificuldade respiratória e chiado do peito (VAI) Adenovírus (<5%) Parainfluenza (<5%) Enterovírus (<5%) Etiologia desconhecida em 30% dos casos *grifado = tem mais chance de pior evolução e nesse caso precisam internar VSR, influenza e coronavírus → tem que identificar (passa para familiares) → fazer o teste nas crianças que podem complicar (menores de 2 anos, infecção é mais agressiva pela imunidade baixa) Geralmente os exames para identificar o vírus são feitos quando a criança já chega com o quadro complicado (depende do hospital - público ou privado) Importante identificação viral das IVAS TRANSMISSÃO Contato direto com secreção oral ou nasal dos infectados Contato com objetos contaminados (superfície) Gotículas FATORES DE RISCO Sazonalidade (outono/inverno) Exposição ambiental ou pessoal ao fumo Imunodeficiência < 2 anos de idade Alergias respiratórias (atópicos) SINAIS E SINTOMAS Comuns Congestão nasal, rinorréia, lacrimejamento, tosse, espirros, otalgia Outros sintomas Febre baixa e intermitente (15% dos paciente, especialmente lactente), cefaleia, dor de garganta, leve mialgia e cansaço Melhora em no máximo 10 dias e não complica Lactentes respiradores nasais: dificuldade alimentar, dificuldade em dormir, agitação obstrução do nariz e faz taquipneia para tentar compensar a obstrução (até aprox. 4 meses pois não consegue compensar a obstrução nasal com a abertura da boca – fica taquipneica) lavagem nasal PEDIATRIA – JÚLIA COLOGNEZI 21 DE AGOSTO DE 2023 REFRIADO X GRIPE Resfriado: sintomas graduais de coriza, tosse, febre baixa Gripe: subida – febre alta, dor de cabeça, mal estar, dor no corpo, indisposição, inapetência Em ambos: orofaringe vermelha, ouvido vermelho e secreção clara no nariz O que diferencia um do outro são os sintomas sistêmicos Diagnóstico clínico História clínica Exame físico: eritema orofaringe, mucosa nasal e membrana timpânica Secreção nasal hialina Sintomas nas IVAS começam com febre nos primeiros 2-3 dias, depois diminui, ficam sintomas respiratórios (febre, coriza, secreção) por aprox. 10-14 dias (principalmente atópicos demora mais pra responder) Quando volta a fazer febre depois de um dia, provavelmente infectou “double sickening” Pesquisar otite/sinusite ou pneumonia/bronquiolite *ficar atento à evoluções quando muda o padrão da febre DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Aspirado de nasofaringe e swab nasal Painel viral (método RT-PCR) VSR, Influenza A (H1N1, H3N2), Influenza B, Sars-CoV-2 Só vai saber o tipo de influenza na sorotipagem DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Rinite alérgica Laringite viral (presença de rouquidão/estridor) – obstrução traqueia EVOLUÇÃO E COMPLICAÇÕES (Observar idade e sintomas adicionais) SRAG (Influenza/ Sars-Cov-2) Dificuldade respiratória com saturação baixa Bronquiolite viral aguda (VSR) Complicações bacterianas de VAS: OMA, sinusite aguda, mastoidite Complicações bacterianas VAI: pneumonia Precisa explicar para os pais as complicações para que eles retornem em caso de aparecimento de algum sinal ou sintoma (desconforto respiratório, chiado, cansado, febre persistente ou febre que volta) TRATAMENTO • Repouso relativo • Alívio da dor e febre com analgésicos comuns (paracetamol, dipirona). • Evitar antibióticos: sem indicação clara e precisa. • Manter hidratação. • Nos lactentes jovens higiene nasal com soro fisiológico. • Corticóides, xaropes para tosse e anti- histamínicos não são indicados. • Descongestionantes orais só em crianças acima de 12 anos – intoxicação • Manter seguimento para observar desenvolvimento de novos sintomas. • Sinais de insuficiência respiratória indicam complicações. • Neonatos com febre seguem protocolo específico INFLUENZA • Responsável por pandemias históricas. • Alta taxa de morbidade e mortalidade pelo sorotipo H1N1 em 2009. • 870.000 hospitalizações/ano em crianças menores de 5 anos. • Estimativa de 28.000 – 110.000 mortes em menores de 5 anos no mundo. • Carga e carreador viral: maior em crianças. Definição de casos Síndrome gripal PEDIATRIA – JÚLIA COLOGNEZI 21 DE AGOSTO DE 2023 Síndrome respiratória aguda grave – SRAG Influenza e sars-cov 2 Grupos de risco para complicação de influenza “Escolher quem vai tratar” • Menores de 5 anos, especialmente menores de 2 anos – independente da presença de comorbidade (na prática só trata menor de 2 anos) • Doença pulmonar crônica (asma) Entra em contato com o vírus desencadeia crise aguda de asma • Doença cardíaca com repercussão hemodinâmica • Retarde DNPM • Desordens metabólicas • Prematuridade • Imuonossupressão • Obesidade Diagnóstico • Aspirado nasofaríngeo. • Swab nasal. • 3-4 dias após início dos sintomas • Teste rápido: 97% especifidade, 50-70% sensibilidade. • PCR-RT (RNA) Tratamento • Trata o paciente com síndrome gripal que tenha fator de risco • Dentro de 48 horas do início dos sintomas (Não espera o teste e mesmo se o teste der negativo vai dar o remédio) • Oseltamivir via oral (tamiflu) • Independe estado vacinal ou teste +. • Para todos pacientes com gravidade clínica. • Diminuição dos sintomas de 0,5 a 3,5 dias. • Redução mortalidade quando início < 48 hs Trata maior de 2 anos quando: Tem contato com o avô Tem irmão menor de 6 meses (sem vacina) É atópico Tem comorbidade Imunização • Vacina trivalente: influenza A (H3N2, H1N1) e influenza B anual • Maior de 6 meses • Reações adversas são raras: guillain-barré e anafilaxia (alergia ao ovo – observação 30 minutos e retaguarda hospitalar COMPLICAÇÃO IVAS Ou persistiu a febre ou voltou a ter febre de novo Pesquisar – tá cansado? Tem dificuldade respiratória? Não Procura complicações VAS RINOSSINUSITE E OTITE MÉDIA AGUDA • Fatores de risco: obstrução e alteração movimento ciliar • Nasofaringe: fonte de contaminação • Evolução clínica autolimitada • Etiologia bacteriana semelhante Haemophilus não tipado e Moraxella produzem beta lactamase resistência a amoxicilina Vacina para pneumococo (pneumo 10V) Etiologia Começa com viral e evolui para bacteriana - as duas últimas são menos comuns Pyogenes – amigdalite Rinossinusite aguda • 0,5-5% dos resfriados comunscomplicam com RSA PEDIATRIA – JÚLIA COLOGNEZI 21 DE AGOSTO DE 2023 • Aguda: curso clínico < 4 semanas Critérios diagnósticos: Seio maxilar não está desenvolvido ao nascimento (exceto o eimoidal) O seio maxilar se desenvolve a partir do primeiro ano de vida Para ter febre causada por sinusite precisa ter seio maxilar grande – para acumular secreção Precisa ter mais de 3 anos (seio maxilar desenvolvido) Persistência de sinais e sintomas de IVAS > 10 dias. Febre (37,8) > 72 horas, rinorréia purulenta, tosse, descarga de secreção purulenta em retrofaringe. “Double sickening” Não tem otite, não está chiando, não tem pneumonia, não está chiando Radiografia simples de seios da face: sem indicação – resfriado mostra secreção do seio da face da mesma forma Tratamento rinossinusite aguda • Antibioticoterapia • Amoxicilina: 45-90 mg/Kg/dia. - pneumococo • Amoxicilina + Clavulanato de potássio – haemophilus e moraxella • Sulfametoxazol-trometoprim • Azitromicina (excepcionalmente, apenas em alérgicos a penicilina – penetração mais tecidual do que sérica então raramente erradica bactérias dos seios da face) • Adição de corticoterapia nasal pode melhorar sintomas. • Duração do tratamento: 10-14 dias (moderada) e 14-21 dias (grave). Complicações rinossinusite aguda Começa com dor ocular Falha terapêutica (considerar resistência bacteriana) Presença de sinais clínicos (órbita e SNC) Indicação de tomografia computadorizada Lâmina crivosa lâmina óssea que divide o seio maxilar da órbita Quando a sinusite compromete muito o seio maxilar órbita persistencia da febre e dor ocular eritema, calor, não consegue abrir o olho e intensa dor ocular = celulite orbitária Dá analgésico e faz tomografia dos seios da face e órbita – procura outras complicações também - por contiguidade faz abcesso Interna chama neurologia e otorrino drenagem antibioticoterapia de amplo espectro Otite média aguda • A maioria das crianças apresenta pelo menos um episódio de OMA. • Pico de incidência: 6-12 meses. • Mais comum em < 2 anos • Dor associada à OMA resolve em 24 horas em 60% dos casos e dentro de três dias em 80%. • Resolução espontânea é improvável em menores de 2 anos (tuba auditiva estreita e horizontal – obstrui mais e não tem inclinação de drenagem) • A dor é manifesta como choro, irritabilidade, febre. - essa vermelhidão indica apenas IVAS Fisiopatologia Obstrução da tuba auditiva durante IVAS pode causar a efusão da orelha média, com subsequente colonização bacteriana PEDIATRIA – JÚLIA COLOGNEZI 21 DE AGOSTO DE 2023 Definição Inflamação e infecção da orelha média, quase sempre bacteriana. Agentes mais comums • Streptococcus pneumoniae (27-52%) • Haemophilus influenzae não tipado (16- 52%) • Moraxella catarrhallis (2-15%). • Outros: Streptococcus pyogenes, Staphylococcus aureus, vírus (2 a 10%). Fatores de risco • Genética: história familiar. • Idade: imunidade, fatores anatômicos (angulação da tuba auditiva). Pico: 6-15 m. • Frequência à creche. • Sazonalidade • Ausência de aleitamento materno: imunológicos, musculatura facial, posição de mamada, microbioma nasofaringe. • Tabagismo/poluição. • Uso de chupeta. • Socioeconômicos Sintomas • Crianças maiores: febre, otorréia, otalgia súbita, hipoacusia. • Crianças que não falam: levam a mão à orelha (inespecífico, menos de 10%), choro excessivo, irritabilidade, perda de apetite e do sono. Persistência febre > 3 dias, para de comer... • Outros sintomas (comuns nas IVAS): rinorréia, congestão nasal, tosse, cefaleia, vômitos, mal estar Critério diagnóstico Clínica E otoscopia Presença de coleção na orelha média + presença de sintomas (dor) e sinais inflamatórios (abaulamento ou otorréia), com início agudo (<48h) - otite média aguda (abaulamento) - otite média aguda perfurada; associada a surdez Se tem só otoscopia alterada (abaulamento sem clínica) não trata Se na otoscopia tem perfuração sem pus = perfuração antiga – tomar cuidado para não entrar água e avaliar depois de uns meses A otoscopia leva aproximadamente 3 meses para voltar ao normal Diagnóstico diferencial Otite média secretora com efusão, miringite bolhosa - miringite bolhosa (bolha com pontinhos brancos); é viral – adenovírus; não trata, só analgesia não é OMA Classificação • Não complicada: sem otorréia • Complicada: com otorréia (perfuração da membrana timpânica). • Persistente: persistência dos sintomas após tratamento com antimicrobianos ou retorno dos sintomas dentro de 1 mês após final do tratamento. • Recorrente: 3 ou mais episódios agudos em 6 meses OU 4 ou mais episódios em 1 ano. Manejo clínico • Observação por 2-3 dias na criança com OMA não complicada. • Considerar: idade, critérios diagnósticos, gravidade na apresentação (febre, otalgia) e acesso a serviços médicos. • Atenção à presença de otite média secretora/serosa: efusão não infecciosa • Evitar uso de antibiótico (otite média é a maior causa de resistência a penicilina) Indicações para uso imediato de antibiótico • Idade < 6 meses • Idade < 2 anos com OMA bilateral • OMA perfurada (complicada) – independentemente da idade; se não tratar fica aberta e prejudica audição PEDIATRIA – JÚLIA COLOGNEZI 21 DE AGOSTO DE 2023 • Imunossupressão • Anomalias craniofaciais Antibioticoterapia Cefuroxima – cefalosporia 2 geração Ceftrixona – cefalosporina 3 geração Complicações • Otite média crônica supurada • Paralisia facial • Trombose de seio lateral • Mastoidite - pneumococo - dor, abaulamento e hiperema da membrana e orelha anteriorizada; otoscopia com pus ou membrana abaulada e febre Complicações da mastoidite: • Labirintite • Meningite • Abscesso cerebral Faz tomografia de cranio e mastóide - abcesso cerebelar do lado do mastoide acometido por contiguidade (apresentada sinais neurológicos) drenagem, ATB e interna FARINGOAMIGDALITE • Resfriada e com dor de garganta geralmente é viral • Vírus: Influenza, Parainfluenza, Adenovirus, Rhinovirus, Coxsackie (enterovírus – herpangina é a amigdalite por coxsackie “Mão-pé-boca” – vesicula do pilar amigdaliana com dor e febre baixa), Epstein-Barr (placa purulenta, adenomegalina, esplenomegalia, exantema) • Bactérias: • Streptococcus pyogenes – PRECISA TRATAR (complica com febre reumática) Streptest Raro em menores de 2 anos • Mycoplasma pneumoniae • Chamydia pneumoniae • Neisseria gonorrhea Sinais clínicos mais sugestivos de infecção bacteriana • Disfagia • Febre alta • Cefaléia • Dor abdominal (gânglio mesentérico inflama – adenite mesentérica) Adenite mesentérica = amigdalite purulenta acompanhada de dor abdominal • Exsudato tonsilar • Adenopatia cervical • Ausência de tosse Testes diagnósticos • Teste rápido para antígeno • Cultura de secreção amigdaliana e faríngea • Baixa sensibilidade do teste rápido em crianças. • Se negativo, aguardar cultura antes da introdução antibiótica. • Observação por até 9 dias é segura, sem risco para doença reumática. • Proteína C reativa, leucograma e VHS não diferenciam infecção viral e bacteriana Tratamento • Amoxicilina: 40mg/kg/dia (10 dias). • Penicilina Benzatina: dose única • 50.000 UI/ Kg até 10 anos • 1.200.000 UI >10 anos • Macrolídeos: alergia à penicilina • Azitromicina: 10 mg/kg/dia ou 500 mg/dia (5 dias). COMPLICAÇÃO Abcesso periamigdaliano • Comum em escolares e adolescentes. • Etiologia polimicrobiana. • Febre, salivação, odinofagia, trisma PEDIATRIA – JÚLIA COLOGNEZI 21 DE AGOSTO DE 2023 • Assimetria da amígdala com desvio de úvula e abaulamento do pilar amigdaliano • Faz tomografia cervical • Sinal: crisma – nãoconsegue abrir a boca • Tomografia tomocervical • Antibioticoterapia com penicilina cristalina/ ampicilina ev. • Punção e drenagem cirúrgica. MEDIDAS PREVENTIVAS GERAIS IVAS • Vacinação • Pneumo 10 • Pentavalente (contém proteção com Haemophilus influenzae B) • Influenza (tanto para o paciente como seus familiares) • Higiene das mãos e dos objetos em contato com a criança. • Evitar aglomerações, especialmente RNs e no primeiro ano de vida durante sazonalidade da circulação viral. • Aleitamento materno. • Evitar exposição ao fumo
Compartilhar