Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Receitas, Despesas, Suprimento de Fundos, Restos a Pagar e Dívida Pública Contabilidade Pública Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO DAYANNA DOS SANTOS COSTA MACIEL AUTORIA Elaine Christine Pessoa Delgado Possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (2007) e pós-graduação em Direito Administrativo pela Faculdade Campos Elíseos (2020). Com experiência técnico-profissional na área de gerência de empresas por mais de dez anos, Elaine também é professora conteudista na empresa Modular Criativo. Dayanna dos Santos Costa Maciel Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da UFPB (2019), área de concentração Administração e sociedade e Mestre em Recursos Naturais, pelo Programa de Pós- Graduação em Recursos Naturais da UFCG (2014), com ênfase na linha de pesquisa Sustentabilidade e Competitividade. Dayanna possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (2010) e Atua como pesquisadora no Grupo de Estudos em Gestão da Inovação Tecnológica (GEGIT) – UFCG, cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq – na linha de pesquisa Inovação e Desenvolvimento Regional l, com foco nos seguintes temas: administração geral, gestão da inovação, desenvolvimento regional. Atuou como pesquisadora do Grupo de Estratégia Empresarial e Meio Ambiente (GEEMA) – cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq – na linha de pesquisa Estratégia Ambiental e Competitividade com ênfase em Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental com foco nos seguintes temas: administração geral e gestão ambiental. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de apresentar um novo conceito; NOTA: quando necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando uma competência for concluída e questões forem explicadas; SUMÁRIO Programação e Classificação da Receita Pública ......................... 12 Receita pública ................................................................................................................................. 12 Classificação das receitas públicas ................................................................ 13 Etapas da receita pública ....................................................................................... 17 Programação e Classificação da Despesa Pública .......................24 Despesas públicas .........................................................................................................................24 Classificação da despesa pública ....................................................................26 Etapas da despesa pública .................................................................................. 30 Despesas de Exercícios Anteriores, Suprimentos de Fundos e Restos a Pagar .............................................................................................36 Despesas de exercícios anteriores .................................................................................... 36 Restos a pagar .................................................................................................................................. 38 Suprimento de fundos .................................................................................................................42 Dívida Pública e Operações de Crédito .............................................46 Dívida pública.................................................................................................................................... 46 Operações de crédito .................................................................................................................52 9 UNIDADE 03 Contabilidade Pública 10 INTRODUÇÃO Você sabia que o Poder Público precisa das receitas públicas para poder honrar com as despesas públicas? Mas você sabe o que vem a ser receita e as despesa públicas e a importância de se manter um equilíbrio entre essas receitas e despesas? As receitas públicas são essenciais para que as obras e os programas governamentais possam ser efetivados, pois essas obras e programas requerem dispêndios de recursos públicos. Quando ocorre uma redução na arrecadação de receitas, o Poder Público acaba recorrendo a algumas fontes de financiamento, o que faz surgir a dívida pública, a qual possui limitações para que o endividamento não venha a prejudicar a manutenção dos serviços, nem tampouco venha a bloquear o desenvolvimento do país e impedir o oferecimento de direitos fundamentais básicos à sociedade. Também é preciso compreender que existem despesas que, por algum motivo, acabam não sendo pagas no exercício financeiro ao qual pertencem. Essas situações, a depender do caso, podem gerar despesas de exercícios anteriores ou restos a pagar. Além disso, o Poder Público ainda pode fazer uso de suprimento de fundos, que são espécies de adiantamentos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste universo! Contabilidade Pública 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3 – Receitas, despesas, suprimento de fundos, restos a pagar e dívida pública. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Definir e compreender a dinâmica da receita pública. 2. Identificar os elementos constituintes das despesas públicas. 3. Entender como se processam as despesas de exercícios anteriores, o suprimento de fundos e os restos a pagar. 4. Compreender a composição da dívida pública e as operações de crédito. Contabilidade Pública 12 Programação e Classificação da Receita Pública OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o que vem a ser a receita pública, conhecendo as suas principais características, bem como suas classificações, sua formação e todas suas etapas até chegar definitivamente aos cofres públicos para serem utilizadas. Então, vamos lá. Avante! Receita pública Qualquer empresa ou até mesmo um indivíduo comum precisa de recursos para honrar com suas dívidas e para executar algum projeto, e esses recursos precisam se originar de algum lugar. Com a Administração Pública não é diferente, pois ela também precisa de recursos para colocar o seu plano de governo em ação e para honrar com os seus compromissos diários. Esse valor monetário que o Poder Público possui para disponibilizar bens e serviços à população e para honrar com seus compromissos mantendo a sua estrutura administrativa é chamado de receita pública. Para Silva (2015), a receita pública trata-se de entradas ou recebimentos de recursos financeiros destinados à aquisição de bens e serviços, com vistas a prestar serviços públicos à sociedade. Contabilidade Pública 13 Figura 1 – Receita Pública Fonte: Freepik. Por isso, Paludo (2017) lembra que não são todas as entradas derecursos no cofre público que podem ser consideradas como receitas públicas, isso porque existem entradas que precisam ser devolvidas. Assim, apenas as receitas orçamentárias que são disponíveis para custear as despesas públicas é que podem ser chamadas como receitas públicas. As receitas públicas são fundamentais para que a Administração possa fixar as despesas a serem efetuadas, compreendendo a sua capacidade de executar o orçamento. Diante disso, existem algumas classificações de receitas públicas. Classificação das receitas públicas As receitas púbicas podem diferenciar-se de diversas formas. Vejamos as principais delas, segundo Silva (2015). Quanto à natureza, elas podem ser: Orçamentárias, que são aquelas que passam a integrar de maneira definitiva no Patrimônio Público, como os impostos e as taxas pagos pelos cidadãos. Contabilidade Pública 14 Extraorçamentárias, que são as entradas que não integram o Patrimônio Público de maneira definitiva, bem como também não integram o orçamento público. Por isso, as receitas extraorçamentárias só são consideradas como receitas públicas quando estas puderem ser convertidas em receitas orçamentárias (SILVA, 2015). As receitas extraorçamentárias possuem um caráter temporário, assim o Poder Público atua como um simples depositário desses valores, como no caso de depósitos em caução e fiança (BRASIL, 2021). Dessa forma, o Manual de Contabilidade Pública (BRASIL, 2021) traz a composição da classificação por natureza da receita orçamentária, na qual ela é formada por um código de oito dígitos em que: • a – refere-se à categoria econômica. • b – refere-se à origem da receita. • c – refere-se à espécie da receita. • d, e e f – referem-se a desdobramentos para identificação de peculiaridades da receita. • g – refere-se ao tipo de receita. Quadro 1 – Classificação da receita orçamentária por natureza A B C D E F G Cate- goria econô- mica Origem Espécie Desdobra- mento para identificação de peculia- ridades da receita Tipo Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Brasil (2021). Portanto a classificação por natureza é utilizada para compreender a entrada dos recursos públicos, ajudando na definição de análises econômico-financeiras sobre a atuação governamental (BRASIL, 2021). Agora, precisamos entender a classificação por categoria econômica. Nessa classificação, as receitas podem ser correntes e de capital. Contabilidade Pública 15 IMPORTANTE: As receitas correntes são aquelas decorrentes da imposição estatal, como os tributos e as contribuições, e ainda aquelas que decorrem do recebimento de recursos financeiros voltados para suprir despesas correntes, como as transferências correntes (MENDES, 2015). As receitas de capital são, conforme o MCASP (BRASIL, 2021, p. 42): As provenientes tanto da realização de recursos financeiros oriundos da constituição de dívidas e da conversão, em espécie, de bens e direitos, quanto de recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado e destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital. Dessa forma, as receitas de capital atuam como mutações patrimoniais, nas quais ocorre apenas um ingresso de recursos públicos e uma saída do patrimônio. A classificação por categoria econômica auxilia na compreensão do impacto das ações governamentais no cenário econômico nacional, proporcionando ao orçamento um caráter importante de verificação e ação de política econômica, voltado para aspectos, como o desenvolvimento do país (SILVA, 2015). Além disso, as receitas correntes e as receitas de capital são originadas de formas distintas. No caso das receitas correntes, elas podem ser compulsórias, ou seja, o Estado impõe a obrigação dessas receitas a particulares. Mas também podem ser originadas de outras formas, como quando o ente público atua na produção, como a prestação de serviços. Contabilidade Pública 16 Assim, temos que: Figura 2 – Receitas correntes e de capital • Receita tributária: impostos, taxas, contribuições de melhoria • Receitas de contribuições • Receita patrimonial • Receita agropecuária • Receita industrial • Receita de serviços • Transferências correntes • Outras receitas correntes • Operações de crédito • Alienação de bens • Amortização de empréstimos • Transferência de capital • Outras receitas de capital Receitas correntes Receitas de capital Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Silva (2015). Desse modo, também é importante compreender que a espécie está associada à origem, como no caso da receita tributária que pode ter como espécie os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria. Já o desdobramento para identificação de peculiaridades se trata do detalhamento da espécie, como no caso do imposto, que o desdobramento poderá ser Imposto sobre Produtos Industrializados. E o tipo indica o tipo de arrecadação da receita, podendo ser, por exemplo, receita principal (MENDES, 2015). SAIBA MAIS: Observe no Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público como as receitas podem ser descritas e facilmente encontradas por meio da sua codificação. Essas informações constam a partir da página 41 e irão ajudar na compreensão da classificação das receitas públicas. Acesse aqui Contabilidade Pública https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41943 17 As receitas públicas ainda possuem outras classificações que são muito relevantes (como no caso da afetação do patrimônio) e podem ser: • Receitas efetivas – que colaboram para a elevação patrimonial, como as receitas correntes. • Receitas não efetivas – são as que não elevam o patrimônio, como as receitas de capital. Ainda, temos as receitas que se diferem em relação à regularidade, que podem ser: • Ordinárias – são as que possuem caráter de continuidade, isto é, são entradas contínuas nos cofres públicos, como no caso dos impostos. • Extraordinárias – são as que possuem caráter temporário, não havendo continuidade de entradas, como no caso de empréstimos compulsórios. Temos também as receitas classificadas quanto à coercitividade, que são: • Originárias – que resultam da exploração do patrimônio público, como em relação aos aluguéis de bens públicos. • Derivadas – são resultantes do poder estatal de tributar, como em relação à cobrança de tributos, multas etc. Vale ressaltar que o poder de tributar é de competência de cada ente da federação de acordo com a sua esfera, ou seja, os tributos federais são competências da União, os tributos estaduais são competências dos estados e os tributos municipais são competências dos municípios (SILVA, 2015). Etapas da receita pública De acordo com Mendes (2015), a gestão das receitas públicas é dividida em três etapas, para que assim possa ser melhor compreendido o processo orçamentário. Essas etapas são o planejamento, a execução e o controle e avaliação. Contabilidade Pública 18 VOCÊ SABIA? No planejamento, são realizadas previsões conforme as metodologias de projeção normalmente adotadas. Na execução, são compreendidas algumas fases, que são o lançamento, a arrecadação e o recolhimento. Já o controle e a avaliação abrangem a fiscalização efetuada pelo Poder Público, pelos órgãos de controle e pela própria população, esclarece o autor. No entanto, conforme o Manual de Contabilidade Pública, a receita pública passa por algumas etapas para que seja completamente realizada. Essas etapas são previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento (BRASIL, 2021). Para Mendes (2015), essas etapas se tratam dos estágios da receita pública e se referem aos passos que demonstram o comportamento da receita e auxiliam a compreensão e a gestão das entradas de recursos. Nem todas as receitas públicas passam por todos os estágios, pois existem algumas que passam pela arrecadação e não passam pelo lançamento, por exemplo.Sem entrar no mérito de se tratar de etapas ou estágios, vamos estudar quais são essas etapas de acordo com o MCASP (BRASIL, 2021). Figura 3 – Etapas da receita pública Previsão Lançamento Arrecadação Recolhimento Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Contabilidade Pública 19 Vamos compreender cada uma delas. Na etapa de previsão, ocorre o planejamento e a geração de estimativas de arrecadação de receitas orçamentárias, ou seja, é nessa etapa que se define o quanto se espera arrecadar de receita para o exercício. Esse planejamento deve ser realizado levando em consideração a Lei de Responsabilidade Fiscal, a qual determina que devem ser observadas as normas técnicas e legais, bem como outros aspectos, como os efeitos das modificações da legislação ou outros fatores pertinentes a essa previsão. IMPORTANTE: De acordo com Paludo (2017), o governo federal emprega uma metodologia fundamentada na série histórica de arrecadação dos últimos anos, atentando para variação de preços e alterações de aplicação de alíquota, ou seja, são levados em conta: • Alterações realizadas na legislação (em alíquotas). • Previsão de crescimento da economia. • Taxa de inflação (influenciará nos preços). Conforme Mendes (2015), uma das maneiras de projetar o montante de arrecadação é por meio do emprego de modelos incrementais que levam em conta os seguintes elementos: Quadro 2 – Projeção de receitas públicas Projeção = Base de cálculo x índice de preço x índice de quantidade x efeito da legislação Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Mendes (2015). Ainda segundo o autor: • A projeção reflete o valor estimado para uma receita para que assim possa atender à execução orçamentária, em que a programação é realizada de forma mensal. Contabilidade Pública 20 • A base de cálculo é conseguida por meio da série histórica de arrecadação da receita e irá depender do seu comportamento mensal. • Índice de preços é aquele que disponibiliza a variação média na quantidade de bens de um certo segmento do mercado. • Efeito legislação dá importância a alterações na alíquota ou na base de cálculo de alguma receita. Essa etapa de previsão é de grande relevância, visto que irá fundamentar a fixação de despesas para o exercício financeiro da LOA e, consequentemente, para a realização dos planos de governo, até mesmo em relação à necessidade de financiamento público. Assim, essa previsão irá constar na elaboração da Lei Orçamentária Anual para a devida aprovação. A etapa de lançamento, consoante à Lei nº 4.320/64, art. 53, “é o ato da repartição competente que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta”. Desse modo, no lançamento, temos a constituição do crédito tributável por meio do reconhecimento da ocorrência do fato gerador do tributo e a indicação da matéria tributável. Paludo (2017) explica que existem três espécies de lançamentos: • De ofício – realizado diretamente pela Administração, como em relação ao IPVA. • Por declaração – quando as informações necessárias são prestadas pelo sujeito passivo à Administração, como no caso da Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física. • Por homologação – quando são antecipados pagamentos pelo sujeito passivo sem participação prévia da Administração, como ocorre com o ICMS. Contabilidade Pública 21 Para esclarecer quem é o sujeito passivo nessas ações, você pode pensar o seguinte: trata-se da pessoa, seja ela física ou jurídica, privada ou pública, que deve cumprir com a obrigação, ou seja, o sujeito passivo é o contribuinte que deve pagar o devido tributo. IMPORTANTE: A etapa de lançamento não é obrigatória para todas as receitas públicas, visto que é indispensável para receitas resultantes de obrigações previstas em lei, contratos, regulamentos e impostos diretos (Lei nº 4.320/64, art. 52). A etapa de arrecadação refere-se ao pagamento propriamente dito, pelo sujeito passivo da obrigação, ou seja, é a etapa em que o contribuinte vai até um banco ou um agente arrecadador e realiza o pagamento da obrigação. Figura 4 – Arrecadação Fonte: Freepik. Contabilidade Pública 22 A arrecadação pode ser direta ou indireta. Ela será direta quando efetuada por uma agência bancária, agente arrecadador credenciado ou por meio da repartição administrativa estatal; e será indireta quando a obrigação é retida pelo sujeito passivo para posterior pagamento (PALUDO, 2017). EXEMPLO Como exemplo de uma arrecadação indireta, podemos pensar na situação das empresas que descontam o Imposto de Renda de seus funcionários, para efetuar o recolhimento posteriormente ao órgão responsável. Por fim, temos a etapa de recolhimento, que é o momento em que os valores arrecadados são transferidos aos cofres públicos. Portanto, nessa etapa, o banco ou agente arrecadador repassa os valores recebidos pelo contribuinte para a Conta Única do Tesouro Nacional. Esse repasse deve observar o Princípio da Unidade de Caixa, constituído pelo controle dos recursos arrecadados de cada entidade, ou seja, as receitas arrecadadas pelo ente devem ser repassadas para a Conta Única do Tesouro (PALUDO, 2017). A quantidade de dias para que ocorra o recolhimento irá depender do tipo de obrigação que foi arrecadada, sendo alguns com um prazo de apenas um dia útil. Outros, como o GRU, possuem um prazo maior pelo fato de serem centralizados inicialmente no Branco do Brasil para, posteriormente, serem repassados ao Tesouro. Contabilidade Pública 23 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a arrecadação de receitas é essencial para que seja realizada a lei orçamentária e para que, assim, se possa saber as despesas a serem realizadas em um determinado exercício financeiro. Além disso, você viu que as receitas são as entradas de recursos públicos para serem utilizadas na aquisição de bens e serviços, excluindo-se do conceito de receitas públicas aquelas que não estejam disponíveis para custear as despesas públicas. Viu ainda que as receitas podem ser classificadas de diversas formas e que, quanto à natureza, elas são orçamentárias e são formadas por oito dígitos, cada um com suas características que as definem. Além disso, compreendeu as outras diversas classificações da receita pública, as quais podem ser correntes e de capital, em relação à categoria econômica. Podem ser, ainda, efetivas e não efetivas, quanto à afetação do patrimônio; podem ser ordinárias e extraordinárias quanto à regularidade; e podem, ainda, ser originárias ou derivadas quanto à coercitividade. Por fim, conheceu as etapas da receita pública, que são a previsão, em que são realizadas as projeções da arrecadação de receita pública; o lançamento, em que é identificado o devedor ou a pessoa do contribuinte e que pode ser de ofício, por homologação ou por declaração; a arrecadação, que é o momento em que o contribuinte realiza o pagamento nas agências arrecadadoras; e o recolhimento, sendo este último o momento em que os valores entram de fato nos cofres públicos. Contabilidade Pública 24 Programação e Classificação da Despesa Pública OBJETIVO: Neste capítulo, iremos conceituar as despesas públicas, compreendendo a sua importância para a lei orçamentária, conhecendo as suas principais classificações, bem como identificando os estágios percorridos pela despesa pública, para que, assim, possamos ampliar os nossos conhecimentos sobre a contabilidade pública. Despesas públicas Vimos como as receitas são importantes para que o orçamento seja realizado, pois elas são fundamentais para a execução das despesas públicas. Mas o que são despesas públicas? A lei orçamentária contém todos os gastos que o Poder Público poderá realizarem um exercício financeiro. E esses gastos envolvem a execução de serviços públicos, elevação patrimonial, entre outros. Dessa forma, as despesas públicas referem-se a todos os gastos efetuados pela Administração Pública em um determinado período. IMPORTANTE: Para Paludo (2017), as despesas públicas referem-se a dispêndios de recursos, pois é por meio deles que os programas e as ações governamentais são executados e a sociedade passa a ter suas necessidades atendidas. Contabilidade Pública 25 Figura 5 – Despesas públicas Despesas públicas Dispêndios de recursos Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Paludo (2017). Aqui, também precisamos lembrar da importância que a despesa tem para o orçamento público, pois, ao contrário das receitas, que precisam apenas serem estimadas, elas precisam ser autorizadas. Assim, as despesas públicas só podem ser realizadas quando constantes na LOA, ou em situações específicas por meio da utilização de créditos adicionais. Ou seja, as despesas públicas precisam de autorização legislativa para que possam ser executadas. Além disso, existem outras características relevantes sobre as despesas públicas e que constam na Lei nº 4.320/64 e na LRF. Vejamos algumas delas: • Deve existir a fixação da despesa em um programa do PPA. • Deve existir compatibilidade entre as despesas públicas, o PPA e a LDO. • Para a realização da despesa, devem ser observadas as normas pertinentes de contratação, seja por meio de licitação ou em casos específicos da respectiva dispensa ou inexigibilidade. • Deve existir uma programação financeira que garanta a disponibilização dos recursos para pagamento das despesas. • Todos os estágios previstos para as despesas públicas devem ser seguidos na ordem determinada até o seu efetivo pagamento. Contabilidade Pública 26 SAIBA MAIS: A Lei de Responsabilidade Fiscal ainda traz diversos dispositivos que regulam como devem ser as despesas de caráter continuado, as despesas com pessoal, inclusive os limites máximos a serem respeitados em cada esfera de governo, além de determinações acerca das despesas com seguridade social. Para saber mais como essas despesas podem ser efetivadas, leia os artigos 15 ao 24 da LRF aqui. As despesas públicas também possuem diversas classificações. Vamos conhecer as principais delas. Classificação da despesa pública A classificação possibilita observar as despesas sob enfoques distintos, de acordo com o ângulo que se busca analisar. Elas são fundamentais para aspectos, como programação, execução, controle e avaliação das despesas, como também para que os recursos públicos sejam melhor geridos e exista transparência na sua realização (PALUDO, 2017). Primeiramente, é necessário compreender que as despesas podem ser orçamentárias ou extraorçamentárias. Elas são orçamentárias quando estão fixadas na LOA, ou são créditos adicionais, e são autorizadas para realização, como no caso das despesas correntes e de capital (MENDES, 2015). VOCÊ SABIA? Já as despesas extraorçamentárias são as despesas que não precisam de autorização para serem realizadas, por isso não integram a LOA. Isso porque se referem à devolução de recursos, assim não pertencem ao Poder Público, mas a terceiros, como as restituições de cauções. Contabilidade Pública http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm 27 Figura 6 – Despesas orçamentárias e extraorçamentárias Precisam de autorização legislativa Despesas correntes e de capital Orçamentárias Não precisam de autorização Restituição de cauções Extraorçamentárias Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Mendes (2015). Elas também podem ser diferenciadas conforme a sua afetação patrimonial e podem ser: • Efetivas – quando colaboram para a redução do patrimônio, como em relação aos pagamentos de salários dos servidores. • Não efetivas – quando não causam nenhuma modificação no patrimônio, como realização de investimentos. Ainda, temos a classificação econômica, que proporciona uma análise do impacto causado pelas ações públicas em toda a economia. Essa classificação, segundo a Lei nº 4.320/64, divide as despesas em correntes e de capital. As despesas correntes são aquelas voltadas para o funcionamento das atividades públicas e subdivide-se em: • Despesas de custeio – são despesas que visam manter os serviços já criados, bem como conservar e adaptar bens imóveis. Estão incluídas aqui as despesas com pessoal e os encargos sociais, juros e encargos da dívida e outras despesas correntes, como compra de material de consumo. Contabilidade Pública 28 • Transferências correntes – são as despesas que não estão voltadas para o cumprimento de obrigações que estejam diretamente ligadas a bens e serviços, como no caso das contribuições da Previdência Social. Já as despesas de capital são voltadas para adquirir ou constituir bens de capital e podem ser: • Investimentos – execução de obras e compras de instalações, equipamentos e materiais, como mesas, cadeiras, veículos etc. • Inversões financeiras – estão incluídas as dotações destinadas a: I - aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em utilização; II - aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital; II - constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros (BRASIL, 1964, on-line). • Transferência de capital – são despesas voltadas para investimentos ou inversões financeiras a serem realizadas por outras pessoas, como transferências efetuadas para a construção de escolas. Veja quais são as despesas correntes e de capital expressas na Lei nº 4.320/64, art. 13: Contabilidade Pública 29 Quadro 3 – Despesas correntes e de capital Despesas correntes Despesas de capital Despesas de custeio Transferências correntes Investimentos Inversões financeiras Transferência de capital Pessoa civil Pessoa militar Material de consumo Serviços de terceiros Encargos diversos Subvenções sociais Subvenções econômicas Inativos Pensionistas Salário família e Abono familiar Juros da dívi- da pública Contribuições de Previdên- cia Social Diversas transferências correntes Obras públi- cas Serviços em regime de programação especial Equipamentos e instalações Material per- manente Participação em cons- tituição ou aumento de capital de empresas ou entidades industriais ou agrícolas Aquisição de imóveis Participação em constituição ou aumento de capital de empresas ou entidades comerciais ou financeiras Aquisição de títulos repre- sentativos de capital de empresa em funcionamento Constituição de fundos rota- tivos Concessão de empréstimos Diversas inversões finan- ceiras Amortização da dívida pública Auxílios para obras públi- cas Auxílios para equipamen- tos e instala- ções Auxílios para inversões financeiras Outras contri- buições Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Lei Brasil (1964). As despesas ainda podem ser classificadas quanto a sua regularidade e poderão ser ordinárias, quando tiverem caráter de continuidade, isto é, ocorrerem desembolsos contínuos, como as despesas com pessoal. Ainda, podem ser extraordinárias, quando não forem contínuas, como os gastos em período de calamidade pública (SILVA, 2015). Contabilidade Pública 30 Etapas da despesa pública Em termos de gestão, existem algumas etapas que as despesas públicas percorrem, sendo essas etapas formadas por alguns estágios. Assim, podemos dizer que as etapas da despesa pública são planejamento e execução (PALUDO, 2017). O planejamento é constituído por alguns estágios, que são: Fixação de despesa – abrange as medidas que serão efetuadas para criar/ idealizar uma situação de acordo com a previsão derecursos, bem como levando em consideração as diretrizes e prioridades governamentais. Ou seja, são fixadas despesas conforme as receitas foram previstas na LOA para que sejam aprovadas e possam ser realizadas. Assim, as despesas não poderão ultrapassar a previsão de receitas, a não ser nos casos em que forem utilizados os créditos adicionais. Figura 7 – Fixação de despesas Fixação de despesas Nunca maiores do que as receitas Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Descentralização/movimentação de créditos – acontecem quando forem realizadas as movimentações de parte do orçamento, sendo conservadas as respectivas classificações das despesas, as esferas a serem executadas, os órgãos ou as unidades orçamentárias responsáveis, as funções e subfunções, bem como os programas e as ações e a categoria econômica da despesa, para que, assim, outras unidades administrativas possam realizar a despesa. Programação orçamentária e financeira – representa a consonância entre os pagamentos e os recebimentos, para que possa ocorrer um ajuste entre a efetuação das despesas e as novas projeções Contabilidade Pública 31 de arrecadação de receitas. Assim, se a receita que foi estimada na LOA não for concretizada, deve ocorrer uma limitação no pagamento de despesas para que não sejam assumidos compromissos que não possam ser cumpridos monetariamente. Processo de licitação e contratação – para que sejam realizados determinados contratos, é necessário que ocorra um procedimento licitatório em que serão escolhidos, de acordo com critérios previstos no edital e em lei, um ganhador desse processo para realizar tal obra ou serviço. Dessa forma, deve ser realizado o procedimento licitatório para a escolha do fornecedor que seja melhor qualificado e que apresente a proposta mais vantajosa para a Administração Pública em relação à aquisição de bens ou realização dos serviços, para que, depois de encerrado o procedimento, possa ser assinado o contrato com o vencedor do certame. A execução da despesa orçamentária também é formada por alguns estágios, que são empenho, liquidação e pagamento. Empenho – “é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado a obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição” (BRASIL, 1964, online). O empenho trata-se do estágio em que assegura ao credor o pagamento da devida despesa caso seja cumprido o que foi acordado entre ele e o Poder Público. No entanto a lei determina que o emprenho da despesa não poderá ser maior do que o limite dos créditos concedidos, e esse estágio é obrigatório para todas as despesas públicas. EXEMPLO: Vamos imaginar que o crédito para uma determinada despesa seja de R$ 500.000,00. O empenho máximo a ser realizado deve ser até o limite da dotação, nesse caso R$ 500.000,00. Caso seja realizado um empenho para essa dotação no valor de 300.000,00, esse valor será deduzido da respectiva dotação, ocorrendo uma baixa no crédito disponível, restando um valor de R$ 200.000,00 para novos empenhos dessa dotação. Contabilidade Pública 32 O empenho, segundo Silva (2015), pode ser de três tipos: • Ordinário – para despesas as quais devem ser pagas de uma única vez e que os seus valores sejam conhecidos de forma prévia. Por exemplo: compra de materiais para um setor da Administração Pública. • Global – também são para despesas as quais os valores já são definidos de forma prévia, mas a execução dessas despesas será de forma parcelada ao longo do período, o que faz com que esses pagamentos também sejam parcelados. Também são incluídas aqui as despesas contratuais, por exemplo: contrato de aluguel, assinatura de tv etc. • Por estimativa – são despesas contratadas, mas que só se sabe o valor para pagamento de forma posterior, ou seja, são despesas que ocorrem regularmente, mas que os seus valores variam. Exemplo: fornecimento de energia elétrica, água etc. Figura 8 – Empenho Empenho - criação da obrigação de pagamento. Global Ordinário Estimativo Valor determi- nado sujeito a parcelamento. Uma só parcela e valor determinado. Despesas regu- lares com valores indeterminados. Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Silva (2015). Em relação ao empenho, ainda existem algumas observações importantes, pois é preciso compreender que o estágio do empenho é obrigatório, mas o documento chamado nota de empenho (NE) não é obrigatório. Contabilidade Pública 33 DEFINIÇÃO: “Nota de empenho é um documento extraído para cada empenho, utilizado para registrar as operações que envolvem despesas orçamentárias realizadas pela Administração Pública Federal” (MENDES, 2015, p. 320). O empenho poderá ser reforçado como também anulado totalmente ou parcialmente. Ele será reforçado quando se demonstrar insuficiente para atender à obrigação de um determinado período. Quando isso acontecer, a unidade emitente poderá reforçar o empenho, fazendo com que o valor seja referente ao inicial mais o reforço (MENDES, 2015). Quando acontecer de o empenho ser maior do que a despesa efetuada, ele deverá ser anulado parcialmente. E, quando tiver sido realizado de maneira incorreta, ele deverá ser anulado totalmente, explica o autor. O empenho também deve obedecer ao cronograma de pagamento para o limite de saques efetuados, demonstrados pela contabilidade. O outro estágio é a liquidação que, conforme a Lei nº 4.320/64, art. 63: “A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito (BRASIL, 1964, on-line). Dessa forma, a Lei nº 4.320/64 determina que é por meio da liquidação que se verifica se a despesa deve realmente ser paga, mediante a análise de aspectos, como: • O valor correto a ser pago. • O credor do direito de receber o pagamento. • O objeto a ser pago. Mesmo que a despesa já tenha sido empenhada, ela deve passar pelo estágio da liquidação para que possa ser verificado se a obra realmente foi realizada, ou se o serviço foi realmente prestado, ou se o material foi entregue corretamente etc. Contabilidade Pública 34 Além disso, a Lei nº 4.320/64 explica que, na liquidação, também são observados, no caso de fornecimento de bens ou de prestação de serviços, o contrato ou acordo, a nota de empenho e o comprovante da entrega do bem ou prestação dos serviços. Depois de realizada a liquidação, passa-se para o estágio do pagamento, que é o momento em que é realizado de fato o pagamento ao credor, com a entrega do numerário correspondente ao que foi empenhado e liquidado. Esse pagamento pode ser por meio de cheque, crédito em conta etc. e é feito pela tesouraria. Portanto temos que a despesa pública passa pelas seguintes etapas: Figura 9 – Etapas da despesa Planejamento Fixação Descentralização Programação Licitação Execução Empenho Liquidação Pagamento Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Paludo (2017). Para encerrar esse tema, gostaria de lembrar o fato de que a Contabilidade Aplicada ao Setor Público obedece ao regime de competência no qual as suas transações são reconhecidas no momento em que ocorrem, independentemente de liquidação ou pagamento. Assim, a exigência para que a despesa percorra todas essas etapas é de ordem orçamentária, a qual deve seguir a legislação pertinente, mas, em relação à contabilidade, as despesas não precisam ser empenhadas para que sejam reconhecidas, de acordo com a óptica da contabilidade pública. Contabilidade Pública 35 RESUMINDO: Neste capítulo, você deve ter compreendido que as despesas públicas se referem a dispêndios de recursos e que não podem exceder a estimativa de receitas, bem como devem estar contidas na LOA do exercício para que possam ser executadas, exceto quando forem abertas por créditos adicionais. Também viu que existem diversas classificações da despesa públicas, pois elaspodem ser orçamentárias ou extraorçamentárias, e ainda podem se diferenciar conforme a afetação patrimonial em efetivas e não efetivas. Quanto à regularidade, as despesas podem ser ordinárias e extraordinárias; quanto à classificação econômica, elas podem ser despesas correntes ou despesas de capital, sendo que as despesas correntes podem ser de custeio ou transferências correntes, e as despesas de capital podem ser investimentos, inversões financeiras ou transferências de capital. Por fim, conheceu as etapas da despesa pública, que são o planejamento, formado pela fixação da despesa, descentralização/ movimentação de créditos; programação orçamentária e processo de licitação e contratação; e a execução, formada pelo empenho, liquidação e pelo pagamento, compreendendo a importância e as principais particularidades de cada uma dessas etapas e desses estágios. Contabilidade Pública 36 Despesas de Exercícios Anteriores, Suprimentos de Fundos e Restos a Pagar OBJETIVO: Neste capítulo, iremos compreender o que vem a ser as despesas de exercícios anteriores, os restos a pagar e o suprimento de fundos, conhecendo as principais características de cada um deles e como eles podem ocorrer na Administração Pública. Despesas de exercícios anteriores A Administração Pública conta com muitas despesas para que as necessidades da população sejam supridas, e, para que esteja em conformidade com a lei, devem ser seguidas todas as normas relacionadas com essas despesas. Assim, podem existir situações em que determinadas despesas deveriam ser realizadas em um determinado exercício, mas que, por algum motivo, tiveram que ser empenhadas e pagas no exercício subsequente. Quando isso ocorre, temos as chamadas despesas de exercícios anteriores, em que, conforme o MCASP (BRASIL, 2021), o fato gerador daquela despesa se deu em um exercício anterior ao do seu pagamento. Figura 10 – Despesas de exercícios anteriores Exercício financeiro anterior Compromisso gerado Exercício atual Empenho, liquidação e pagamento Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Contabilidade Pública 37 Com isso, é gerada uma despesa orçamentária no exercício em curso, visto que os recursos que estão sendo utilizados pertencem a ele. IMPORTANTE: Essa é uma grande diferença entre as despesas de exercícios anteriores e os restos a pagar, pois, nos restos a pagar, a despesa foi empenhada esperando a liquidação e o pagamento. Já na DEA as despesas não chegaram a ser empenhadas e, se tiverem sido, esses empenhos foram anulados ou cancelados. Para identificar com mais facilidade como são as despesas de exercícios anteriores, o MCASP (BRASIL, 2021) traz algumas considerações: • Despesas, consignadas no orçamento, mas que não foram processadas no exercício correspondente, como aquelas em que o empenho foi inconsistente e anulado no seu exercício, mas que a obrigação foi cumprida pelo credor nos ditames do que foi acordado e dentro do prazo determinado. • Despesas inscritas em restos as pagar, mas que tiveram a sua prescrição interrompida, cancelando a sua inscrição, tendo o credor ainda válido o seu direito. • Obrigação reconhecida após o fim do exercício correspondente, compromisso de pagamento gerado em razão de lei, mas que o direito só foi reconhecido depois de encerrado o exercício. EXEMPLO: Vamos imaginar que os professores servidores de um ente público tinham direito a gratificações que não foram pagas no exercício correspondente, vindo o Poder Público reconhecer essa dívida após vários anos. As despesas referentes a esses pagamentos que não foram realizados no tempo correto serão reconhecidas como despesas de exercícios anteriores, pois não estão sendo pagas no exercício que as geraram. Contabilidade Pública 38 Para a realização dos pagamentos dessas despesas, são necessários alguns elementos mínimos a serem reconhecidos pela autoridade competente e são: a. Identificação do credor/favorecido. b. Descrição do bem, material ou serviço adquirido/ contratado. c. Data de vencimento do compromisso. d. Importância exata a pagar. e. Documentos fiscais comprobatórios. f. Certificação do cumprimento da obrigação pelo credor/ favorecido. g. Motivação pela qual a despesa não foi empenhada ou paga na época própria (BRASIL, 2021, on-line). Vale destacar que, no momento do pagamento, ocorrerá o empenho da despesa a ser paga, o que comprometerá o orçamento do exercício do real pagamento. Por isso, as despesas de exercícios anteriores são consideradas como orçamentárias, visto que o pagamento acontece por meio do orçamento vigente (MENDES, 2015). Restos a pagar Vimos que as despesas passam por estágios até a efetiva entrega de numerários ao credor, que são o empenho, a liquidação e pagamento. No entanto podem existir situações em que ocorra os estágios do empenho, ou do empenho e da liquidação, mas essas despesas não venham a ser realmente pagas no exercício a que se referem. Quando estivermos diante de uma situação assim, teremos restos a pagar e, de acordo com a Lei nº 4.320/64, art. 36, “consideram-se Restos a Pagar as despesas empenhadas mas não pagas até o dia 31 de dezembro distinguindo-se as processadas das não processadas” (BRASIL, 1964, on-line). Contabilidade Pública 39 Figura 11 – Restos a pagar Restos a pagar Despesas empenhadas Não pagas até 31 de dezembro Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Brasil (1964). Dessa forma, quando chegar 31 de dezembro e a despesa que tiver sido empenhada não tiver sido paga até essa data, será transformada em restos a pagar, podendo ser efetuado o devido pagamento em exercício posterior (MENDES, 2015). Os restos a pagar, consoante à Lei nº 4.320/64, dividem-se em processados e não processados. E qual é a diferença entre eles? Os restos a pagar processados são aqueles em que as despesas percorreram os estágios de empenho e liquidação, ou seja, foi assegurado ao credor o pagamento da devida despesa e foram verificados todos os requisitos necessários para que houvesse o pagamento, mas este não foi efetuado até o dia 31 do exercício. EXEMPLO: A Administração Pública firmou um contrato para aquisição de cadeiras escolares, as quais foram entregues no dia 29 de dezembro em perfeitas condições e de acordo com o que foi acordado. No entanto a liquidação desse empenho só ocorreu no dia 30 de dezembro, não ocorrendo o pagamento desse contrato no devido exercício financeiro. Por isso essa despesa será inscrita em restos a pagar processados, pois o direito ao pagamento está garantido ao credor. Contabilidade Pública 40 É importante compreender que, nesse caso, não pode haver cancelamento dos restos a pagar, porque houve a entrega do bem e o credor possui o direito do recebimento, cabendo à Administração realizá-lo. Os restos a pagar não processados são aqueles em que a despesa só percorreu o estágio do empenho, mas que não foi apurado o direito do credor. Isso pode acontecer porque o material não foi entregue, ou o serviço não foi completamente prestado, mas que ainda estão com o prazo vigente. Assim, nessa situação, como não houve ainda a liquidação, o direito ao pagamento ainda não é garantido. EXEMPLO: Voltemos ao exemplo anterior e imaginemos que as cadeiras ainda tivessem sido entregues, ficando essa etapa para o mês de janeiro do exercício subsequente. Assim, o estágio da liquidação não foi ainda realizado para que se verificasse se o material foi entregue e se chegou nas condições adequadas. Por isso, houve o empenho em relação à aquisição das cadeiras, mas é necessário que elas sejam entregues para que ocorra a liquidação, para, em seguida, ocorrer o pagamento, o que faz com que essa despesa seja inscrita em restos a pagar não processados. Os restos a pagar não processados podem ser divididos em “a liquidar” e “em liquidação”. Eles estão em fase de “a liquidar” quando a obrigaçãonão for entregue ou prestada pelo credor e se encontrar com o prazo ainda em vigor; e estará “em liquidação” quando a obrigação for entregue ou prestada, mas encontre-se na fase de liquidação, sendo analisadas as questões pertinentes sobre o objeto (BRASIL, 2021). Em relação à prescrição dos restos a pagar não processados, o Decreto nº 9.428/2018 dispõe que: § 2º Os restos a pagar inscritos na condição de não processados e que não forem liquidados serão bloqueados pela Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda em 30 de junho do segundo ano subsequente ao de sua inscrição, e serão mantidos os referidos saldos em conta contábil específica no Sistema Integrado de Contabilidade Pública 41 Administração Financeira do Governo Federal – Siafi (BRASIL, 2018, on-line). Figura 12 – Restos a pagar processados e não processados Empenhados e liquidados Não pagos até 31 de dezembro Processados Empenhados A liquidar; em liquidação Não processados Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Diante disso, Paludo (2017) cita como características dos restos a pagar: • Sem a realização do empenho, uma despesa não pode ser considerada como restos a pagar. • A efetivação dos restos a pagar depende dos limites legais das respectivas fontes de recursos. • Os restos a pagar não podem ser confundidos com obrigações a pagar, visto que estas são referentes a exercícios passados, futuros e atuais, e os restos a pagar referem-se a empenhos não pagos de exercícios passados. Também vale destacar que os restos a pagar são formados por recursos referentes a exercícios financeiros já finalizados, mas integram a programação financeira do exercício em que forem efetivamente pagos (MENDES, 2015). Contabilidade Pública 42 Suprimento de fundos Como vimos durante todo o nosso estudo até aqui, muitas são as leis e normas que devem ser seguidas para a realização de despesas pelos entes públicos. Tudo isso é necessário para que exista uma maior legalidade nos atos da administração em relação à utilização dos recursos públicos e para que esses recursos sejam utilizados adequadamente e voltados para suprir as necessidades da população. No entanto sabemos que todo esse processo é longo e demorado e existem despesas que não podem esperar todo esse tempo para serem realizadas. Por isso, surge a possibilidade da utilização do suprimento de fundos. IMPORTANTE: O suprimento de fundos é uma espécie de adiantamento em que um servidor recebe um numerário para realizar determinadas despesas que não podem aguardar todo o curso normal, pois iria causar prejuízo à Administração Pública. Assim, devem ser utilizados para atender situações atípicas que necessitem de pagamento imediato em espécie, sendo uma exceção à obrigatoriedade de realização do processo licitatório (MENDES, 2015). De acordo com o MCASP (BRASIL, 2021), o suprimento deve ser utilizado: • Para despesas imprevistas, até mesmo viagens e serviços especiais que requeiram pronto pagamento. • Para despesas que possuam caráter sigiloso, segundo classificação em regulamento. • Para despesas de pequeno valor, compreendidas nessa hipótese o limite determinado em ato normativo próprio. Contabilidade Pública 43 Figura 13 – Suprimento de fundos Despesas de pequeno vulto Despesas eventuais Despesas sigilosas Suprimento de fundos - adiantamento Fonte: Elaborada pelo autor, com base em MCASP (2021). Desse modo, não são todos os tipos de despesas que podem ser utilizados como suprimento de fundos. Além disso, não podem ser realizados fracionamento de despesas para que se enquadre em um suprimento, ou seja, dividir a despesa em diversas partes para que ela se torne de pequeno vulto. Além do mais, não pode ser empregado como justificativa o fato de ausência de planejamento para execução de compras contínuas por meio do suprimento de fundos (PALUDO, 2017). O MCASP (BRASIL, 2021) ainda traz algumas vedações à concessão do adiantamento: • Não será entregue o adiantamento a servidor que tenha por responsabilidade dois suprimentos. • A servidor que seja responsável pela guarda ou pelo emprego do material a ser obtido, exceto quando não tiver na repartição outro servidor. • A servidor que não tenha justificado as despesas no prazo em relação a outro suprimento. • A servidor que tenha tido suas contas recusadas ou impugnadas por um motivo, que seja desvio, má aplicação etc. Contabilidade Pública 44 Figura 14 – Vedações ao suprimento de fundos Responsável por dois suprimentos Servidor que não tenha prestado contas no prazo Responsável pela guarda ou utilização do material a adquirir V e d aç õ e s Servidor com contas recusadas ou impugnadas Fonte: Elaborada pelo autor, com base em MCASP (2021). Desse modo, pode-se perceber que a prestação de contas pela utilização de recursos por meio do suprimento de fundos é muito importante, visto que, quando realizada fora do prazo ou de forma inadequada que venha a ser recusada, impossibilita o servidor de receber outro suprimento. Além disso, o servidor que não prestar contas no prazo pode responder administrativamente para que os fatos sejam apurados. Esse adiantamento, no âmbito federal, é concedido por meio do Cartão de Pagamentos do Governo Federal (CPGF), sendo utilizada outra forma apenas quando comprovada a impossibilidade de utilização do cartão. Por meio desse cartão, é mais fácil acompanhar sua utilização e ele só pode ser utilizado pelo portador identificado nele, auxiliando, assim, a prestação de contas e a segurança das operações (MENDES, 2015). Paludo (2017) explica que, para a devida concessão, é aberto um processo administrativo solicitando o suprimento, o qual deverá constar algumas informações, como: • Nome e cargo do suprido. • Forma de concessão: cartão ou depósito. • CPF e dados bancários. • Valor e especificação do objeto para suprimento. • Finalidade e justificativa. • Prazo de aplicação e de prestação de contas. Contabilidade Pública 45 Depois de recebido o suprimento, ele só pode ser utilizado para as finalidades mencionadas no momento da solicitação, bem como não pode ser utilizado em valor superior, fazendo com o ato se torne ilegal quando desrespeitado o que foi mencionado. Caso o valor seja insuficiente, é necessário que seja realizada uma nova solicitação. Também é obrigatório que sejam respeitados todos os estágios das despesas públicas para a concessão, ou seja, empenho, liquidação para que ocorra o devido pagamento (MENDES, 2015). No momento da concessão do suprimento, são estabelecidos os prazos para a prestação de contas, no entanto esse prazo não pode ultrapassar trinta dias após a aplicação, ou seja, esse prazo começa a contar após o fim do período de aplicação. No caso de a aplicação perdurar até 31 de dezembro, a prestação deverá ser realizada até o dia 15 de janeiro do mês subsequente (PALUDO, 2017). RESUMINDO: Neste capítulo, você deve ter estudado que as despesas de exercícios anteriores se referem a compromissos que foram assumidos em um exercício, mas que só foram empenhados e pagos no exercício subsequente, e que são necessários elementos mínimos para que esses pagamentos sejam realizados. Compreendeu o que vem a ser os restos a pagar e que eles podem ser processados quando forem empenhados e liquidados, mas não pagos, e ainda podem ser não processados quando forem empenhados, mas estejam a liquidar ou em liquidação. Além disso, viu que a diferença entre as despesas de exercícios anteriores e os restos a pagar está no fato de que neste já houve o empenho, o que não ocorre no outro. Por fim, conheceu o suprimento de fundos, que atua como um adiantamento para despesas eventuais de pequeno vulto ou despesas sigilosas. Além disso, compreendeu as vedações na concessão do suprimento, as exigências no momento da solicitação e a importância da prestação correta de contas pelo servidor,além de entender que esses recursos só podem ser utilizados para a finalidade a qual foi concedida, como também nos valores que foram liberados para tanto. Contabilidade Pública 46 Dívida Pública e Operações de Crédito OBJETIVO: Neste capítulo, iremos entender o que vem a ser dívida pública, suas subdivisões e seus limites, além de compreender o que são as operações de crédito e vedações para essas operações e garantias. Dívida pública Vimos ao longo dos nossos estudos que a Administração Pública possui como função disponibilizar bens e serviços para a sociedade, por isso ela precisa arrecadar receitas para poder financiar essas despesas. No entanto podem ocorrer situações em que a arrecadação não seja suficiente, fazendo com que seja criado um défice orçamentário, em que as despesas acabam sendo maiores do que as receitas. Figura 15 – Défice orçamentário Fonte: Elaborada pelo autor (2022). O acúmulo do défice financeiro e o seu financiamento dão origem à dívida pública, que acaba precisando de dispêndio de recursos, pois necessita ser financiada. Esse dispêndio de recursos deve vir por meio Contabilidade Pública 47 de recursos não tributários, como financiamento externo, emissão de moeda etc. Ou seja, o Poder Público acaba pegando dinheiro emprestado para poder financiar parte das suas despesas, pois não consegue realizar com a arrecadação de receitas. Só que todo financiamento traz consigo encargos e juros, o que faz com que a dívida aumente e, consequentemente, as despesas e o défice também. Com a promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal, os entes precisaram adequar-se para que existisse o equilíbrio fiscal, com a contenção de despesas e o aumento das receitas, gerando, assim, uma responsabilidade fiscal. IMPORTANTE: O equilíbrio fiscal é de extrema importância para que os direitos fundamentais básicos possam ser assegurados à população. Quando o Estado passa a ter uma carga alta de despesas, acaba não conseguindo realizar os programas a que se propôs, o que faz com que venha a prejudicar serviços públicos básicos. Diante disso, Cassetari Junior et. al. (2018) afirmam que a compreensão, a transparência e as regras em relação à dívida pública são muito importantes para a eficiência dos gastos públicos, bem como para o controle governamental e para o desenvolvimento econômico do país. Para isso, é necessário que sejam observados todos os normativos referentes à dívida pública, como também sejam obedecidos limites de endividamento e dos requisitos para a efetivação de financiamentos por meio de operações de crédito, mesmo que seja por antecipação de receita orçamentária (PALUDO, 2017). Contabilidade Pública 48 DEFINIÇÃO: Antecipação de receita orçamentária (ARO) é voltada para suprir insuficiência de caixa no decorrer do ano e sua liquidação ocorrerá até dez de dezembro com a inclusão de juros e encargos devidos (LRF, 2000, art. 38). A dívida pública é constituída por financiamentos realizados pelo governo, segundo Gadelha (2017), junto a: • Instituições financeiras públicas. • Instituições financeiras privadas. • Mercado financeiro interno. • Mercado financeiro externo. • Organismos internacionais. • Organismos nacionais etc. Ela pode ser subdividida quanto a sua duração em dívida flutuante ou fundada (consolidada). A dívida flutuante compreende os compromissos adquiridos pelo ente público por um período inferior a doze meses e que não dependem de autorização legislativa para que sejam resgatados ou pagos (SILVA, 2015). Podemos dizer que ela faz parte da dívida interna de curto prazo e abrange: “I - os restos a pagar, excluídos os serviços da dívida; II - os serviços da dívida a pagar; III - os depósitos; IV - os débitos de tesouraria” (BRASIL, 1964, online). Com relação à dívida fundada, Silva (2015) afirma que ela abrange as seguintes características: • As obrigações possuem um prazo superior a doze meses. • Pagamento realizado com autorização legislativa. • Voltada para suprir os desequilíbrios orçamentários e financeiros de obras e serviços públicos. • Deve ser escriturada de maneira individualizada. Contabilidade Pública 49 Como exemplo estão obrigações assumidas devido a leis, contatos, convênios e operações de crédito para pagamento em mais de doze meses (LRF, art. 29, I). A dívida pública fundada pode ser formada pela dívida imobiliária, que é a dívida constituída por títulos públicos de todos os entes, até mesmo os do Banco Central. Figura 16 – Dívida imobiliária Fonte: Elaborada pelo autor (2022). O mercado de títulos públicos, segundo Cassetari Junior et. al. (2018), atua emprestando recursos para o Estado, em prol de uma remuneração posterior. Esse mercado pode ser: • Primário – em que o investidor adquire títulos do próprio emissor de maneira direta. • Secundário – em que o título é comprado de investidor para investidor, em troca de liquidez. Além disso, os precatórios também são incluídos na dívida fundada quando não forem pagos no momento da efetivação do orçamento em que fizerem parte. Contabilidade Pública 50 DEFINIÇÃO: De acordo com Mendes (2015), precatórios são pagamentos realizados devido a alguma sentença judicial na qual a Fazenda Pública de qualquer um dos entes atua como ré. Como quando um cidadão cobra uma dívida do Estado que não é reconhecida de forma administrativa, ele impetra uma ação judicial pleiteando o devido valor no qual a justiça, quando favorável à sentença, determina o pagamento. Esse pagamento é realizado por meio de um processo diferenciado, chamado de precatório, no qual a Constituição Federal determina como é realizado todo o procedimento. Também, é importante compreender que todas as despesas relacionadas com a dívida pública devem fazer parte do orçamento, mas os valores referentes ao refinanciamento devem constar de forma separada na LOA (BRASIL, 2000). Figura 17 – Orçamento Fonte: Freepik. Contabilidade Pública 51 A Constituição Federal traz atribuições significativas para o Senado Federal, como definir limites globais: • Para o montante da dívida consolidada dos entes federativos (art. 52, VI). • E condições para o montante da dívida mobiliária dos entes federativos (art. 52, IX). Além do mais, deve ser divulgada pelo Ministério da Fazenda, todos os meses, a relação constando os entes que excederam os limites da dívida consolidada e mobiliária. Para aqueles que tiverem esse excedente em relação à dívida consolidada, no final de um determinado quadrimestre, deverá haver uma recondução para que nos próximos três quadrimestres seguintes sejam reduzidos, sendo no primeiro deles diminuído em ao menos 25% (BRASIL, 2000). A Lei de Responsabilidade Fiscal traz também algumas observações a serem verificadas quando esse limite for ultrapassado e enquanto perdurar essa situação, como a proibição de realização de operação de crédito e limitação de empenho. Vale também destacar um ponto relevante em relação ao registro da dívida na contabilidade orçamentária, pois Cassetari Junior et. al. (2018) atentam para o fato de que os registros referentes ao pagamento de juros e amortização do principal da dívida devem ser efetuados como despesas. Já quando tratamos da contabilidade patrimonial pública, devemos nos lembrar que o enfoque não é o mesmo, por isso a amortização ou o refinanciamento da dívida não devem ter seus registros como despesas. Mas, no caso dos juros da dívida, deve continuar ocorrendo esse registro. Isso porque se trata de uma variação patrimonial diminutiva conforme o regime de competência, que não depende da concretização dos estágios da despesa pública para serem registrados, complementam os autores. Contabilidade Pública 52 Podemos melhor compreender essa separação lembrando que os juros da dívida e seus demais encargos são os custos que cabem ao Estado por decidir recorrerao endividamento, como um crescimento da dívida. Operações de crédito A Administração Pública, quando percebe que possui mais despesas do que receitas, busca meios para cumprir com suas obrigações e realizar seus projetos. Uma das formas é por meio de operações de crédito. A Lei de Responsabilidade Fiscal define as operações de crédito como: Compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros (BRASIL, 2000, on-line). Dessa forma, temos que as operações de crédito são: Figura 18 – Operações de crédito Operações de crédito Mútuo Abertura de crédito Emissão de aceite e título Aquisição financiada de bens Recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços Arrendamento mercantil Outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Brasil (2000). Contabilidade Pública 53 O MCASP (BRASIL, 2021) traz também como operações de crédito: • Operação de crédito mobiliária – compromissos financeiros derivados da emissão de títulos públicos. • Operação de crédito contratual – são os compromissos derivados de contrato, convênio, ou qualquer instrumento que normatize um acordo contratual. Essas operações de crédito podem ser voltadas para financiar suas despesas, por meio das receitas de operações de crédito, ou podem ser direcionadas para suprir possíveis insuficiências de caixa, por meio das operações de crédito por antecipação de receitas, também chamadas de ARO (SILVA, 2015). Figura 19 – Operações de crédito por ARO Operações de crédito Financiar as despesas Operações de crédito por antecipação de receita Suprir as possíveis insuficiências de caixa Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Silva (2015). Deve-se compreender que as operações de crédito também se subordinam aos limites de endividamento impostos à dívida pública. Assim, todas as disposições referentes a esse limite, as reconduções aos limites e as observações relacionadas com excessos devem ser levadas em consideração, atentando-se para o fato de que essas operações ficam proibidas até que os limites adequados sejam reestabelecidos. IMPORTANTE: O cumprimento dos limites será analisado pelo Ministério da Fazenda, o qual também analisará as condições referentes à realização de operações de crédito de todas as entidades federativas, bem como das suas estatais (MENDES, 2015). Contabilidade Pública 54 Dessa forma, quando o ente for realizar uma operação de crédito, ele deverá formalizar o seu pedido por meio de um parecer com as fundamentações necessárias, como o interesse econômico e social, dentre vários outros descritos no art. 32 §1º da Lei de Responsabilidade Fiscal. A referida lei também traz diversas vedações a essas operações, como no caso dos seguintes artigos: Art. 35. É vedada a realização de operação de crédito entre um ente da Federação, diretamente ou por intermédio de fundo, autarquia, fundação ou empresa estatal dependente, e outro, inclusive suas entidades da administração indireta, ainda que sob a forma de novação, refinanciamento ou postergação de dívida contraída anteriormente. [...] Art. 36. É proibida a operação de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo (BRASIL, 2000, on-line). A LRF traz algumas determinações específicas para as operações de crédito por ARO que, além de terem que seguir as determinações estabelecidas para as contratações de operações de crédito, também devem levar em conta o que a leis trazem particularmente para elas, bem como suas vedações. Essas determinações estão descritas no art. 38 e trazem dispositivos, como os que se referem ao período permitido de realização, sendo este possível apenas no décimo dia do início do exercício, bem como não pode ser realizada no último ano do mandato do chefe do poder executivo do ente ao qual irá solicitar (BRASIL, 2000). IMPORTANTE: Essa vedação é importante para evitar que determinados administradores públicos não venham gerar endividamento para o ente quando perceberem que não serão reeleitos ou não puderem se reeleger, deixando dívidas para o próximo que virá, visto que quem mais perde com situações assim é a própria sociedade. Contabilidade Pública 55 As operações por ARO fazem parte da dívida flutuante, por isso não entram no endividamento do governo, visto que as que entram são as relacionadas com a dívida fundada (MENDES, 2015). Além disso, devemos compreender que o registro das operações de crédito na contabilidade orçamentária, conforme Cassetari Junior et. al. (2018), são realizados como receita do ente. Já quando mudamos o enfoque para patrimonial, ele também muda de registro, visto que ele não é reconhecido como receitas, pois isso pode acontecer antes, depois ou no instante em que ocorrer a arrecadação da receita, bem como antes, depois ou no instante da execução da despesa. SAIBA MAIS: Aprofunde-se nesse tema lendo o artigo “Dívida pública brasileira: uma análise comparativa dos três principais indicadores de esforço fiscal do governo”, no qual são trazidas explanações interessantes que ajudarão a ampliar seu conhecimento sobre a dívida pública. Além disso, traz a presença da comparação de indicadores que demonstrarão o esforço fiscal do Poder Público. Para ter acesso, clique aqui Contabilidade Pública https://www.scielo.br/j/neco/a/HNvnrJdrfkDzsMyZmhKyTYj/?lang=pt&format=pdf 56 RESUMINDO: Neste capítulo, você deve ter entendido diversos conceitos relacionados com a dívida pública, compreendo como ela pode fazer com que o Poder Público fique endividado e a importância de se manter o equilíbrio fiscal. Viu que quando o governo gasta mais do que arrecada, ele precisa buscar meios para concretizar seus projetos e para ajustar seu fluxo de caixa, por isso surge a dívida pública, que pode ser aquela em que há um prazo menor de doze meses, chamada de dívida flutuante, e aquelas com um prazo maior que esse, chamadas de dívidas fundadas ou consolidadas. Conheceu, ainda, como elas podem ser formadas e como o governo pode realizar os financiamentos, além de entender a relevância do Senado Federal junto a limitação da dívida consolidada e mobiliária. Além disso, viu como são feitos os registros da dívida pública na contabilidade dos entes públicos levando em consideração o regime desses entes. Por fim, viu os principais conceitos referentes às operações de crédito, como deve ser sua formalização e as vedações, como também os seus registros contábeis. Assim, terminamos mais uma unidade repleta de informações relevantes para o seu aprendizado sobre a Contabilidade Pública. Contabilidade Pública 57 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm Acesso em: 14 abr. 2022. BRASIL. Decreto nº 9.428, de 28 de junho de 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/ D9428.htm#art6 Acesso em: 14 abr. 2022. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm Acesso em: 14 abr. 2022. BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101. htm Acesso em: 14 abr. 2022. BRASIL. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. MCASP. 2021. Disponível em: https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/ f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41943 Acesso em: 14 abr. 2022. CASSETARI JUNIOR, A. et. al. Dívida Pública. São Paulo: Blucher, 2018.CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Orçamento Público: planejamento, elaboração e controle. São Paulo: Saraiva, 2013. GADELHA, S. R. de B. Introdução ao Orçamento Público. A dívida pública e o financiamento orçamentário. Enap Escola Nacional de Adminsitração Pública. Brasília, 2017. Disponível em: https://repositorio. enap.gov.br/bitstream/1/3169/1/Modulo%203%20-%20A%20Divida%20 Publica%20e%20o%20Financiamento%20Orcamentario.pdf Acesso em: 16 abr. 2022. MENDES, S. Administração Financeira e Orçamentária. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015. Contabilidade Pública 58 PALUDO, A. V. Orçamento público, administração financeira e orçamentária e LRF I. 7. ed. rev. e atual.Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017. SILVA, J. A. F. da. Contabilidade pública. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método: 2015. WILGES, I. J. Noções de Direito Financeiro: o orçamento público. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 1995. Contabilidade Pública Programação e Classificação da Receita Pública Receita pública Classificação das receitas públicas Etapas da receita pública Programação e Classificação da Despesa Pública Despesas públicas Classificação da despesa pública Etapas da despesa pública Despesas de Exercícios Anteriores, Suprimentos de Fundos e Restos a Pagar Despesas de exercícios anteriores Restos a pagar Suprimento de fundos Dívida Pública e Operações de Crédito Dívida pública Operações de crédito
Compartilhar