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GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Tamara Esteves de Oliveira Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................01 CAPÍTULO 1 Gestão de Materiais ..............................................................09 CAPÍTULO 2 Planejamento e Controle da Produção ............................41 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 Gestão de Estoques ..............................................................65 Gestão Logística Integrada .................................................87 Gestão de Recursos Patrimoniais.....................................119 CAPÍTULO 1 Gestão de Materiais A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem para este capítulo: � Conhecer os principais conceitos e princípios da administração de materiais e sua aplicação para as empresas rurais. � Conhecer as diferentes formas de classificar os materiais. � Definir os materiais utilizados pelas empresas rurais. 10 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II 11 Gestão de Materiais Capítulo 1 Contextualização A gestão das empresas vinculadas ao agronegócio apresenta características diferenciadas das tradicionais. No ambiente de alta concorrência, em que estas empresas estão inseridas, a gestão de seus recursos, em busca de sustentabilidade econômica e ambiental, torna-se fundamental. Frente a estes desafios, nesta disciplina será possível conhecer alguns conceitos, ferramentas e aplicações da gestão em agronegócios. Para tanto, o foco do primeiro capítulo será o da gestão de materiais, em que serão apresentados os conceitos e princípios da administração de materiais, bem como as atividades gerais de classificação e organização destes itens. Neste capítulo, será estudada a importância da gestão de materiais; as relações com alguns setores do agronegócio; como são desenvolvidas suas principais atividades; e quais os tipos e formas de classificação dos materiais das empresas. Serão abordados também os fluxos de materiais dentro das empresas, sua programação, compra, recepção, almoxarifado, movimentação e transporte e o depósito de produtos prontos para a venda, quando for o caso. Algumas características específicas dos empreendimentos do agronegócio serão destacadas, como a percepção histórica de empresas amadoras; a mudança no cenário competitivo ao qual estão expostas; as dificuldades em relação ao clima, sazonalidade, perecibilidade e dependência do ciclo biológico destas produções. Mesmo com estas dificuldades, será salientada a crescente necessidade de que estes empresários se dediquem integralmente a tornar suas empresas mais eficientes e eficazes. As principais atividades envolvidas na gestão de materiais serão descritas e exemplificadas, com maior destaque, inicialmente, para os tipos e critérios de classificação de materiais. Outras atividades serão abordadas com maior profundidade nos outros capítulos desta disciplina. Ao final desta etapa, o aluno terá o conhecimento sobre os principais conceitos e princípios da administração de materiais e sua aplicação para as empresas dos setores do agronegócio, reconhecendo, assim, as diferentes formas de classificar os materiais, além de ser capaz de definir e classificar os principais materiais utilizados. 12 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Administração de Materiais A eficiência de um sistema de produção pode ser compreendida como a sua capacidade de atender às necessidades dos consumidores. Esta eficiência pode ser relacionada à gestão eficiente das transações entre os agentes das cadeias produtivas ou pela capacidade de gestão interna da organização, capaz de ofertar produtos em níveis de qualidade e preço adequados ao mercado-alvo das empresas (BATALHA, 2007). Neste sentido, são as próprias empresas as responsáveis pela administração dos recursos para garantir sua lucratividade e competitividade. Especificamente, esta área representa as atividades desenvolvidas dentro da empresa com o objetivo de atender às unidades desta organização. Mais ainda, segundo Chiavenato (2005, p. 35): A administração de materiais envolve a totalidade dos fluxos de materiais da empresa, desde a programação de materiais, compras, recepção, armazenamento no almoxarifado, movimentação de materiais, transporte interno e armazenamento no depósito de produtos acabados. A gestão de recursos materiais, de forma resumida, representa a sequência de operações, que começam na escolha e identificação do fornecedor, na compra dos itens; na recepção; no transporte interno e o acondicionamento; no transporte durante a produção; no armazenamento do acabado; e na distribuição para venda. (MARTINS, 2001). Ademais, esta área da administração tem por objetivo otimizar o investimento em estoques, aumentando o uso dos recursos no ambiente da empresa, buscando sempre minimizar as necessidades de capital investido. A questão central envolve a determinação da quantidade ideal de materiais que deve ser mantida em estoque, considerando os menores custos e riscos envolvidos, sendo que sua organização deve assegurar que nunca ocorra a falta de itens para empresa e que o capital investido nesta sessão não seja excessivo em relação aos investimentos totais da empresa. Exemplificando, uma indústria de tratores e implementos agrícolas tem que assegurar que terá a quantidade adequada de peças e componentes para a montagem do maquinário, funcionários, materiais de limpeza, materiais de escritório para o funcionamento de sua rotina de atividades, além de determinar quanto itens prontos manterá em estoque para atender aos seus clientes. Conforme o tipo de empresa e de produto, deve-se ter atenção especial ao espaço e tempo de armazenamento, principalmente para produtos alimentares altamente perecíveis. 13 Gestão de Materiais Capítulo 1 Dentro desta gestão, alguns fatores são fundamentais e refletem no desempenho de toda a empresa, por exemplo, a redução de custos, seja na compra dos recursos materiais, seja como consequência do aumento da eficiência da produção, contribui para a competitividade destas empresas no mercado. Outros fatores, como a qualidade das matérias-primas, interferem diretamente na qualidade dos produtos finais e na eficiência dos processos produtivos e, assim, devem também ser considerados nos processos de compra e seleção dos fornecedores. Dessa forma, um processo de organização para controlar a circulação destes recursos e sua categorização também é vital para que os recursos materiais da empresa estejam no local adequado, prontos para a utilização no momento em que a empresa os necessitar, disponibilizados aos consumidores por preços competitivos. Neste vídeo você acompanha um resumo simples e irreverente sobre a administração de materiais. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=ZtQOLMh_0Ak>. Acesso em: 22 nov. 2017. Além disso, a administração de materiais também é fortemente ligada às estratégias logísticas e, em geral, os gestores desta área atuam determinando: o quê, quando, como e quanto comprar os recursos materiais; considerando o menor custo, desde a seleção dos fornecedores até a entrega ao consumidor final (FENILI, 2015). Os recursos das organizações incluem todos os ativos, conhecimentos, capacidades técnicas, processos de gestão e de produção, atributos das firmas, informação, recursos naturais e tantos outros fatores que podemos citar e que são controlados pela empresa (BARNEY, 1991). Dessa forma, percebe-se que temos em nossas mãos uma missão complexa, que envolve muitos processos e fatores diversos, o que acarreta uma necessidade de organização e padronização desta atividade, como veremos neste capítulo. A Visão Baseada em Recursos (VBR) foi inicialmente proposta por Penrose (1959) nos anos 1950, que considerava as empresas um conjunto único de recursos produtivos. Este conjuntoé capaz de gerar vantagens competitivas para estas organizações, se forem eficientemente gerenciados (BARNEY, 2001). Para compreender esta gestão de recursos materiais, primeiramente, é necessário compreender o que são recursos. Trata-se, portanto, de todos os itens empregados pelas organizações para a conquista de seus objetivos, eles podem diferenciar as empresas, pois sendo os disponíveis específicos (raros, escassos, especializados) e capazes de agregar valor aos produtos finais, podem gerar um diferencial competitivo (BARNEY, 1991). 14 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Os recursos podem ser classificados como tangíveis, ou seja, os itens que podem claramente ser observados e avaliados, como os recursos humanos, financeiros e equipamentos. Por outro lado, os recursos intangíveis não podem ser tocados ou vistos, podendo-se citar como exemplos o conhecimento; as características e cultura organizacionais; a reputação da marca; as tecnologias e inovações não patenteadas; além do relacionamento com clientes e fornecedores (GRANT, 1991). Figura 1 – Resumo da classificação e exemplos dos recursos das empresas Fonte: Adaptado de Grant (1991). Existem muitas formas e estratégias de classificação para os recursos das empresas e a explicação mais detalhada será dada na última seção deste capítulo. Neste momento, basta a compreensão de que os recurso materiais são todo os bens físicos (tangíveis, que se pode tocar e sentir) utilizados em uma empresa em suas funções e processos gerais (FENILI, 2015). Confira na publicação de Kerbes et al. (2016) um exemplo da importância da administração de materiais em empresas do meio rural. Disponível em: <https://ageconsearch.umn.edu/ bitstream/109727/2/11.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2017. 15 Gestão de Materiais Capítulo 1 Atividades de Estudos: 1) Complete o quadro com os recursos tangíveis e intangíveis que dispõe sua persona profissional. Recursos intangíveis Recursos tangíveis 1. 1. 2. 2. 3. 3. 4. 4. 5. 5. 2) Complete o quadro citando e classificando três tipos de recursos empresariais que você considera importantes. Descrição do recurso Classificação (tangível ou intangível) 1. 2. 3. 4. 5. 3) Explique, em poucas palavras, o que é e quais são os objetivos da administração de materiais. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 16 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Administração de Materiais nas Empresas Rurais A importância de assegurar à população alimentos com quantidade e qualidade adequados faz com que os setores do agronegócio, em geral, sejam objeto de severa vigilância quanto à seguridade e disponibilidade destes produtos. Este controle ocorre tanto no acompanhamento sanitário dos alimentos, quanto no controle de seu preço (BATALHA, 2007). Estas influências governamentais estabelecem normas que tornam a gestão das empresas destes setores ainda mais complexa. Da mesma forma, outras exigências legais e mudanças no perfil dos consumidores passaram a demandar ainda mais de todas as empresas relacionadas às cadeias produtivas do agronegócio, principalmente, em relação ao uso dos recursos naturais, ao respeito às condições trabalhistas, ao manejo adequado dos dejetos, além do enorme desafio oferecido pelo ambiente de hipercompetição. O ambiente rural difere de outros ambientes, tanto para a gestão quanto para a generalização dos processos gerenciais e soluções dos problemas cotidianos. Isso ocorre em função de estas empresas, em geral, serem definidas justamente pelas características ecológicas e espaciais, que são diferentes entre si, sendo que uma proposta ou projeto pode apresentar resultados muito distintos quando estas características variam (NEUMANNN; LOCH, 2002). A gestão das empresas rurais enfrenta outras dificuldades específicas que também precisam ser consideradas durante a administração destas corporações. Dentre estes desafios estão as variações climáticas, situação agravada pela necessidade de adequar a produção à ameaça das mudanças climáticas; à sazonalidade característica deste tipo de produção, que somente pode ser sobrepujada ao custo de altos investimentos em tecnologias; à perecibilidade dos produtos, que demanda uma cadeia eficiente e com alto controle e conservação destes produtos; e ao ciclo biológico dos animais e vegetais envolvidos; além do fato de que o desempenho natural que pode ser alcançado por estas organizações é limitado pela biologia de seus produtos (BATALHA, 2007). Além disso, a perecibilidade da matéria-prima e a pressão para diminuir o tempo necessário para disponibilizar os produtos finais agem como impulsionadores para a produção das empresas de base do agronegócio (PROENÇA, 1996). Ademais: 17 Gestão de Materiais Capítulo 1 Em gestão agropecuária, hoje uma fazenda apresenta uma arquitetura diferente. É um conjunto de contratos e agentes articulados, com insumos, revendas, prestadores de serviços, técnicos, comercializadores e outros. A fazenda fica cada vez mais enxuta, eficiente e empresarial. Mudam o perfil e a imagem do fazendeiro, [...] para um moderno empresário. (NEVES; ZILBERSZTAJN; NEVES, 2005, p. 4). Mesmo com as exigências estabelecidas pelas características de mercados, os gestores rurais, usualmente, dedicam-se principalmente a aumentar a produção e a produtividade de suas empresas rurais sem considerar outros fatores que influenciam os resultados econômicos da empresa, como os custos de produção associados a cada atividade que esta desenvolve (OAIGEN, 2014). Isto ocorre porque, em geral, as empresas buscam racionalizar os seus esforços, com o propósito de executar suas atividades da forma mais eficiente possível para concorrentes (ROCHA, 2008). Assim, os gestores que não atingirem os altos níveis de produtividade de seus concorrentes, certamente não vão se manter ativos nesta nova realidade econômica. Assim, para alcançar a eficiência, é necessário o controle da produção, da produtividade, da qualidade e do custo. A produção se refere à quantidade física total a ser produzida e produtividade se refere à quantidade a ser produzida por unidade de área (como quilos de soja por hectare). A produtividade é o primeiro resultado da administração da produção, constituindo-se em excelentes parâmetros para avaliar o desempenho de diferentes empresas rurais (SILVA, 2013). Esta eficiência, no processo de produção e na gestão das empresas rurais, está relacionada diretamente a aquisições de fatores de produção; a preços mais baixos; a treinamentos e capacitação dos recursos humanos; à gestão eficiente do uso de insumos e serviços; além de diminuição de perdas e ineficiências. Confira na publicação de Kerbes et al. (2016), um exemplo da importância da administração de materiais em empresas do meio rural. Disponível em: <http://egepe.org.br/anais/arquivos/edicaoatual/ Artigo55.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2017. 18 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Uma vez que o limite, entre o lucro e o prejuízo nas atividades rurais, está muito próximo atualmente (SANTOS; MARION; SEGATTI, 2009), a gestão do processo produtivo tem de conduzir o empreendimento para alcançar eficácia e eficiência; e procurar a racionalização dos processos operacionais para transferência física dos materiais, das informações sobre estoques e do plano de aplicação de cada produto, quantidade e época de uso (ARAÚJO, 1995). Para a produção rural, em especial, a parte de produção está intimamente conectada à transformação de recursos em produtos. Quandoos recursos são utilizados de maneira racional, obtém-se eficiência; e quando os objetivos da empresa são atingidos, alcança-se a eficácia. Para alcançar a eficácia, as empresas devem estar atentas para alguns fatores, como o planejamento da produção, que permite ao empresário saber com antecipação o quê, quanto, como e quando produzir (SILVA, 2013). Confira na notícia disponibilizada pelo link, como a gestão pode influenciar o sucesso das empresas rurais. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UK2EDrlA_RQ>. Acesso em: 22 nov. 2017. Atividades da Gestão de Materiais A gestão de materiais está relacionada a diversas atividades como a compra de insumos e suprimentos, o recebimento, a armazenagem, a distribuição e o controle, moldando-se ao gerenciamento e servindo de suporte para o bom funcionamento das atividades da empresa de forma eficiente e eficaz. Em geral, pode-se classificar estas atividades conforme a figura a seguir: 19 Gestão de Materiais Capítulo 1 Figura 2 – Principais nichos da gestão de recursos materiais Fonte: Adaptado de Gonçalves (2010). Esta proposição resume de forma didática as atividades referentes à gestão de materiais. Em geral, todas as atividades da empresa devem buscar equilíbrio constante entre o estoque e o consumo, sendo que este deve ser o objetivo principal da administração de materiais. Este fluxo de distribuição dos produtos e materiais deve sempre ser constante, sem interrupções (FENILI, 2015), o que demanda um profundo conhecimento e estratégia de gestão dos empresários. Algumas das principais atividades da administração dos materiais são: a) Processo de compras As compras de uma empresa envolvem a seleção dos fornecedores disponíveis, em que são escolhidos aqueles que melhor atendem às necessidades da firma. Este setor se ocupa também com a gestão e a negociação das compras de materiais através de licitação, como o estoque de matéria-prima, assegurando que estejam disponíveis no momento em que são necessários. Evidentemente, também devem ser preferidos os preços mais favoráveis, pois o custo da matéria- prima representa, em geral, uma grande fatia do custo do produto final. Portanto, a atividade de compras tem o objetivo principal de prover as necessidades de materiais da organização (VIANA, 2011). Entretanto, Gonçalves (2010) afirma que este setor deveria acompanhar o planejamento das compras e os deslocamentos dos materiais, os processos de decisão, pesquisas e seleção dos fornecedores e o diligenciamento. Quanto à administração da aquisição, tem-se ainda que: 20 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II A administração da aquisição, movimenta-se com o uso do cadastro de fornecedores por meio de escolha das fontes de suprimentos a serem consultadas; realização das pesquisas de preços; análise das ofertas; negociações para a contratação, fechamento de contrato destinado ao fornecimento do material ou serviço solicitado pelo usuário interessado (GONÇALVES, 2010, p. 246). Outra atividade importante, em relação às compras, é a administração do fornecimento que busca garantir o cumprimento dos contratos dentro dos prazos e condições acordados (GONÇALVES, 2010). Objetivo este que é alcançado, segundo o autor, através de relacionamento próximo com os fornecedores, acompanhamento do mercado de suprimentos e da situação geral do mercado. Alguns cuidados devem ser tomados durante este processo, dentre eles, a escolha do número apropriado de fornecedores; os cuidados ao se rejeitar propostas, em que devem ser informados os motivos da rejeição de forma clara e direta para que os fornecedores apresentem propostas que superem estas dificuldades; e com problemas na embalagem. b) Recepção do material O setor de recepção de materiais é responsável pelo controle físico e documental do recebimento de materiais, além de verificar as características qualitativas e o atendimento das normas legais e de controle de qualidade. Esta etapa é muito importante para o controle da qualidade, pois avarias, danos de transporte e falta de materiais somente poderão ser reclamados ou trocados neste momento (FRANCISCHINI; GURGEL, 2012). Neste momento, também é realizado o cadastramento de materiais, que envolve registrar os itens, detalhando suas características em um sistema de banco de dados (GONÇALVES, 2010). c) Almoxarifado Também definido como armazenagem, é o processo ou etapa responsável pela gestão física dos estoques, exceto os produtos em processamento, atentando para sua preservação, embalagem, recepção e expedição, dentro de normas e métodos indicados. Além disso, é o local onde ficam armazenados os produtos, para atender à produção, e os materiais e matérias-primas entregues pelos fornecedores. Nesta atividade, diversas técnicas de estocagem são propostas para a administração de materiais, sendo que a dimensão e as características dos materiais e dos produtos podem exigir desde instalações simples (como prateleiras) até complexos sistemas de armações, caixas e gavetas (DIAS, 2010). Ademais, o sistema ou atividade almoxarifado busca certificar a guarda fidedigna 21 Gestão de Materiais Capítulo 1 dos materiais, mantendo sua preservação e integridade até o momento do consumo (VIANA, 2011), envolvendo desde o fluxo de entrada à movimentação interna e a saída desses materiais (GONÇALVES, 2010). Neste processo é importante estabelecer a demanda exata por produtos para determinar o quanto deve ser armazenado, pois, em demasia, traz prejuízos financeiros à organização. O layout do depósito também é muito importante, pois é a integração do fluxo diário de materiais e da operação dos equipamentos de movimentação (DIAS, 2010). Viana (2011) afirma que a eficiência do almoxarifado depende principalmente: da redução das distâncias internas percorridas pelos materiais e, consequentemente, do aumento das viagens de movimentação destes produtos; do aumento do tamanho médio das unidades armazenadas; e da melhor utilização da capacidade volumétrica das instalações. Além destes, outro fator importante no armazenamento de materiais se refere à flexibilidade do sistema de armazenamento, quanto às facilidades de retirada de um material sem movimentar outros itens armazenados (GONÇALVES, 2010). O mesmo autor salienta sobre a importância da acessibilidade para estes espaços, definida como a capacidade de alcançar o material desejado no menor espaço de tempo possível, ao menor custo (GONÇALVES, 2010). d) Distribuição dos materiais O sistema de distribuição física dos materiais é responsável pela organização dos fluxos de produtos e de informações que resultam do processo produtivo. Este processo deve garantir que os produtos acabados sejam entregues aos clientes a partir dos processos de gestão de estoques, transportes e armazenagem (MOURA, 2006). Os materiais são distribuídos nas organizações conforme as ordens de compra recebidas, em que se faz a distribuição dos produtos aos clientes na quantidade e no momento oportunos. Dentre os aspectos importantes a serem considerados para o arranjo eficiente dos materiais está a natureza dos produtos transportados, que determina a carga e o tipo de transporte que devem ser utilizados (VIANA, 2011). Essa distribuição pode ser interna, no caso de matérias- primas, ou externos, produtos destinados a terceiros e/ou parceiros. A distribuição do produto acabado pode ser feita através de venda direta (sem a participação de intermediários), ou venda indireta (distribuição que passa por vários intermediários até chegar ao consumidor final) (CHIAVENATO, 2005). 22 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II A atividade de distribuição envolve as características de transporte necessárias para a organização e seus produtos e materiais. Neste contexto, inicia-se o debate sobre o conceito e as aplicações de logística, definida como a atividade que organiza a armazenagem, a movimentação e o transporte dosmateriais e produtos, finalizados ou não, da empresa até o cliente, que não necessariamente seja cliente final (VIANA, 2011). Estes conceitos serão aprofundados no Capítulo 4 - Gestão Logística Integrada. e) Controle de estoque Conforme a demanda, é realizado o controle de estoque, respeitando-se a disponibilidade financeira da organização. Nesta atividade, estão incluídos o planejamento e a programação do material armazenado, o acompanhamento e controle do nível e o investimento financeiro envolvendo o estoque. Nos estoques, são armazenadas matérias-primas, produtos em fabricação e produtos acabados. Será tratado sobre a gestão de estoques, seus conceitos, aplicações e ferramentas no Capítulo 3. f) Classificação de material A atividade de classificação de materiais é responsável pela identificação (especificação), classificação, codificação, cadastramento e catalogação de material. A classificação de materiais tem por objetivo definir um processo de identificação, codificação, cadastramento e catalogação dos materiais de uma organização (GONÇALVES, 2010). Esta atividade será discriminada na próxima seção. Atividade de Estudos: 1) Nesta seção foram abordadas algumas atividades da gestão de materiais e suas funções, aplicações e importância. Entretanto, a administração de materiais envolve bem mais do que o exposto. Complete o quadro com outros exemplos e compartilhe com os seus colegas. 23 Gestão de Materiais Capítulo 1 Atividade da gestão de materiais Funções Aplicação Importância Processo de compras Recepção do material Almoxarifado Distribuição dos materiais Controle de estoque Classificação de material g) Critérios para a classificação de materiais Para as organizações, a classificação é processo de aglutinação de materiais por características semelhantes. Além disso, grande parte do sucesso no gerenciamento de estoques depende basicamente da classificação adequada dos materiais da empresa. Porém, existem diversas estratégias e tipos de classificação, que são determinados em função das informações demandadas pelo responsável pelo gerenciamento dos materiais da organização. O sistema de classificação deve permitir identificar e decidir quanto à prioridade dos suprimentos para empresa. Para tanto, alguns critérios de classificação devem ser respeitados, sendo que um bom método de classificação deve ser abrangente, flexível e prático (VIANA, 2006), conforme pode ser observado na figura a seguir. 24 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Figura 3 – Princípios básicos para uma classificação de materiais eficiente Fonte: Adaptado de Viana (2011, p. 281) e Fenili (2015). Portanto, qual o motivo pelo qual se deveria classificar os materiais? Os dados fornecidos por este setor são úteis aos gestores de materiais que podem analisar determinada categoria em especial; ao invés de elaborar estratégias para todos os materiais da empresa sem critérios claros, por exemplo. Além disso, sem uma classificação de materiais clara e bem definida, a administração dos estoques seria impossível. Ademais, a classificação dos materiais também permite que os itens de um estoque sejam agrupados conforme critérios pré-determinados, que podem ser o peso, a forma, o valor, o tamanho etc. O principal resultado desta etapa é a otimização, tanto dos controles de estoques, quanto da armazenagem e da operacionalização dos almoxarifados. • Etapas da classificação de materiais Como quase todo o processo de gestão, alguns princípios organizacionais são necessários ao determinar a classificação dos materiais. Para esta atividade, são sugeridas uma série de etapas descritas por Fenili (2015): 25 Gestão de Materiais Capítulo 1 ETAPAS DA CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS • Catalogação: arrolamento de todos os itens de material existentes em estoque, permitindo uma ideia geral do conjunto. • Simplificação: redução da diversidade de itens de material em estoque que se destinam a um mesmo fim. Caso existam dois itens de material empregados para a mesma finalidade, com o mesmo resultado, opta-se pela inclusão de apenas um deles no catálogo de materiais. • Identificação: descrição minuciosa do material, possibilitando sua individualização em linguagem familiar ao mercado. • Normalização: estabelecimento de normas técnicas para os itens de material, ou para seu emprego com segurança. Pode- se dizer que a normalização é necessária para a consecução da padronização. Um exemplo de material a ser normalizado são os medicamentos – a bula é, nesse caso, o produto final da normalização. • Padronização: uniformização do emprego e do tipo do material. Facilita o diálogo com o mercado, facilita o controle, permite a intercambialidade de sobressalentes ou demais materiais de consumo (peças, cartuchos de impressoras padronizadas etc.). • Codificação: atribuição de uma série de números e/ou letras a cada item de material, de forma que essa informação, compilada em um único código, represente as características do item. Cada item terá, assim, código único. Fonte: Adaptado de Fenili (2015). Apesar da importância das etapas de classificação descritas, ao longo da rotina das empresas, algumas delas não serão necessárias e devem ser adaptadas ou ignoradas conforme as estratégias e organização do gestor de cada empresa, por exemplo, no caso de compra de um produto, que já tenha sido padronizado, não necessidade de nova padronização, apenas de sua especificação e codificação. 26 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II • Tipos de classificação de materiais Existem diversos tipos e formas de classificar os materiais. Diariamente, surgem novas propostas, sendo impossível determinar a mais interessante para cada empresa ou gestor. Alguns dos principais tipos de classificação propostos são: Figura 4 – Tipos de classificação de materiais Fonte: Adaptado de Viana (2011, p. 281). • Classificação de materiais por tipo de demanda Este tipo de classificação divide-se entre os materiais que devem ser mantidos em estoque ou não. Os materiais de não estoque representam itens de demanda, imprevisível por parte da organização e, portanto, não precisam de estoque. O processo de compra destes últimos materiais inicia ao ser identificada a sua necessidade (FENILI, 2015). Cabe ressaltar que a manutenção de itens em estoque sempre gera custos às empresas. Os materiais de estoque são aqueles em função da previsibilidade de demanda da empresa, devem ser mantidos em estoque. Pode-se, ainda, separá-los quanto a sua aplicação, quanto ao valor de consumo e a sua importância operacional. • Classificação dos materiais de estoque quanto a sua aplicação Pode-se classificá-los como produtivos (ligados direta ou indiretamente ao processo produtivo), matérias-primas (materiais básicos e insumos), produtos em fabricação, produtos acabados, materiais de manutenção, materiais improdutivos e materiais de consumo geral. 27 Gestão de Materiais Capítulo 1 • Classificação dos materiais de estoque quanto ao seu valor de consumo Buscando-se a eficácia na gestão dos estoques, uma das propostas é a separação entre o que é essencial e o que é secundário quanto ao valor de consumo da organização. Neste sentido, o método da curva ABC – ou princípio de Pareto –, é uma ferramenta que classifica os itens estocados conforme sua importância, geralmente financeira (FENILI, 2015). O principal objetivo da análise ABC é identificar os itens de maior valor de demanda e exercer nestes materiais uma gestão mais refinada, especialmente por representarem altos investimentos e com impacto na sobrevivência da organização (GONÇALVES, 2010). Neste método os itens são ordenados conforme sua importância relativa e, posteriormente as classes da curva ABC podem ser definidas da seguinte maneira: Figura 5 – Classificação dos materiais conforme o método da Curva ABC Fonte: Adaptado de Gonçalves (2010). Normalmente, de70 a 80% do total de investimentos em estoques, representa de 15 a 20% do total de itens armazenados (Classe A), 15% do investimento corresponde a 25% dos itens (Classe B), e 5% do investido equivale a 55% dos bens armazenados (Classe C). Cabe ressaltar que esta é uma generalização que não se aplica a todas as organizações, mas é uma proposta bastante difundida em função de sua simplicidade. 28 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Apesar de esta proposta ser baseada na classificação dos itens conforme seu valor de demanda, é possível adotar outros critérios, como o impacto na linha de produção, ou de acordo com itens mais requisitados pelos setores da organização (FENILI, 2015). Nesta videoaula você encontra um resumo da classificação ABC. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=WMeYTyHHONw>. Acesso em: 23 nov. 2017. • Classificação dos materiais de estoque quanto à importância operacional No que diz respeito à importância operacional, os materiais são classifi- cação conforme o método XYZ, que avalia o grau de imprescindibilidade do mate- rial na organização. Figura 6 – Classificação dos materiais conforme sua por importância operacional – XYZ Fonte: Adaptado de Mendes e Castilho (2009). 29 Gestão de Materiais Capítulo 1 A classificação por importância operacional oferece informações qualitativas quanto à relevância do material para a rotina da organização. Para uma análise mais confiável, esta informação deve ser associada a uma análise quantitativa, em termos de impacto financeiro do material. A análise quantitativa, representada financeiramente, foi discutida na classificação ABC (FENILI, 2015). Os materiais classificados como Z são também denominados materiais críticos e podem ser analisados sobre a perspectiva a seguir. • Classificação de materiais críticos Os materiais críticos podem ser considerados como aqueles que merecem atenção especial do gestor por quaisquer motivos, sejam eles operacionais, de segurança, econômicos, de raridade entre outros (VIANA, 2011). Dessa forma, pode- se considerar um material como crítico por motivos econômicos (itens caros, de transporte e armazenamento de alto custo), em função da manipulação (materiais de alta periculosidade, perecíveis ou muito grandes/pesados), além de materiais críticos em função do planejamento (difícil previsão de consumo na organização). • Classificação de materiais por perecibilidade Este tipo de classificação considera as alterações dos materiais em relação a suas propriedades físico-químicas. São considerados perecíveis: alimentos, vacinas, remédios, materiais de laboratório etc., pois estes estão sujeitos à deterioração e à decomposição. Quando temos se tratar de materiais perecíveis em função do tempo, a organização deve ter um controle especial em relação aos prazos de vencimentos e às condições de armazenamento (sem contato com água, luz e calor, por exemplo) (Figura 7). Figura 7 – Motivos gerais para considerar a classificação de um material como perecível Fonte: Adaptado de Viana (2011). 30 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Em geral, estes princípios são respeitados dentro dos sistemas de organização dos estoques, em que são utilizados métodos como o PEPS e o FEFO. O PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair) tem origem no termo da língua inglesa FIFO (first in, first out), que determina que o primeiro material a entrar no estoque deve ser o primeiro também a sair do estoque. Entretanto, o mais interessante seria a distribuição segundo o critério FEFO (first to expire first out), em que os itens com data de validade mais próxima devem sair primeiro dos estoques (FENILI, 2015). Estes princípios do PEPS e do FEFO serão abordados com maior profundidade no Capítulo 3 - Gestão de estoques. • Classificação de materiais por periculosidade Algumas empresas trabalham com materiais que podem oferecer riscos aos funcionários, ao meio ambiente e/ou às sociedades ao redor das empresas. São considerados como materiais perigosos aqueles que oferecem risco, especialmente, no momento do transporte, manuseio ou uso nas organizações. Pode-se incluir nesta categoria os itens explosivos, corrosivos, radioativos, inflamáveis, oxidantes, venenosos e afins. Esta classificação visa identificar estes materiais e estabelecer planos de controle em caso de contaminação e a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) adequado ao manipular estes itens. • Classificação de materiais tipos de estocagem Os materiais podem ser classificados em materiais de estocagem permanente e temporária. Sendo os materiais de estocagem permanente: materiais para os quais foram aprovados níveis de estoque e que necessitam de ressuprimento constante. E os materiais de estocagem temporária: aqueles materiais de utilização imediata e sem ressuprimento, ou seja, são os materiais que não precisam de estoque. • Classificação de materiais de difícil aquisição Comumente, os materiais de difícil aquisição são também considerados como materiais críticos para as organizações, tais como: os materiais importados, os disponibilizados por apenas um único fornecedor, itens que são escassos no mercado, materiais estratégicos para várias empresas e os itens de difícil fabricação e/ou compra. • Classificação de materiais mercado fornecedor Esta classificação está relacionada à classificação de materiais de difícil aquisição e complementa sua descrição. Assim, podemos identificar materiais 31 Gestão de Materiais Capítulo 1 fabricados no próprio país (materiais do mercado nacional), materiais fabricados fora do país (materiais do mercado internacional) e os materiais que estão em processo de desenvolvimento por fornecedores nacionais (materiais em processo de nacionalização). h) Codificação dos materiais Os processos de codificação e de classificação são utilizados pela humanidade para identificar materiais, objetivos, pessoas, animais ou quaisquer coisas que possuam semelhanças. Esse sistema é organizado com base em uma prévia classificação dos itens em categorias e é formado a partir de duas únicas dimensões: numérica e/ou alfabética. A classificação é um processo de catalogação, simplificação, especificação, normalização e padronização de todos os materiais do estoque (CHIAVANETO, 2005). Além disso, os processos de classificação, codificação e descrição são fundamentais para uma eficiente administração de estoques (COSTA, 2002; DIAS, 2010; VIANA, 2011). Quanto maior a quantidade e diversidade dos materiais de uma empresa, mais importante e necessário se torna o código para a gestão da organização. A codificação constitui-se de elementos e meios pelos quais será efetuada a classificação; devido a esse entendimento, alguns autores consideram a codificação como um mecanismo utilizado para a classificação adequada (DIAS, 2010). Por outro lado, os sistemas de codificação mal elaborados podem trazer sérios problemas às organizações, como tornar os processos confusos e/ou muito extensos, que estão mais sujeitos a erros. O objetivo da codificação é estabelecer formas de representação das diversas características dos produtos, tornando-os passíveis de controle e operacionalização (COSTA, 2002). Os sistemas de codificação devem facilitar a comunicação interna da organização quanto aos materiais para compra, evitar a duplicidade de itens estocados, facilitar a padronização dos itens e o controle contábil dos estoques. No entanto, é importante que este sistema seja simples, prático e acessível às empresas. Machado e Nantes (2000) exemplificam a importância do controle individual dos animais. Disponível em: <http://www.gepai.dep.ufscar. br/pdfs/1086874721_rbi-agro.PDF>. Acesso em: 23 nov. 2017. 32 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II i) Sistemas de codificação Existem diversos tipos e sistemas de codificação, sendo que cada organização pode, inclusive, estabelecer o seu próprio sistema. No sistemaalfabético, os materiais são identificados com o uso de letras; o alfanumérico oferece mais variabilidade ao combinar letras e números, pois possibilita uma maior flexibilidade nos dados. Por fim, o sistema numérico possui enorme amplitude, tendo inclusive variações importantes como o Sistema Americano Federal (SUPPLY CLASSIFICATION) (DIAS, 2010, p. 190). • Codificação alfabética Este processo foi muito utilizado na codificação de livros (método Dewey), na época da implementação da imprensa no mundo. No sistema alfabético, os materiais são codificados com letras, sendo utilizado um conjunto de letras que seja suficiente para preencher e possibilitar toda a identificação do material. Uma vez que o número de letras do alfabeto é finito, em função da dificuldade de memorizar este código final, este sistema não está mais sendo utilizado, salvo em raríssimos casos (DIAS, 2010). • Codificação alfanumérica Este sistema combina letras e números para abranger a capacidade de codificação do sistema alfabético, porém, ainda é menor do que o numérico (DIAS, 2010). Ainda é utilizado para na identificação de peças e nas placas de automóveis, como exemplo: IJK3345. • Sistema decimal ou numérico Dias (2010) afirma que o sistema numérico é o mais utilizado pelas empresas, apresentando grande amplitude e enormes variações. Esta proposição é importante e deu origem a diversos outros sistemas de classificação. • Federal Supply Classification (FSC) Esse sistema foi criado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos (1949) a partir de uma dificuldade operacional no suprimento de materiais durante a Segunda Guerra, que ocorreu em função de cada órgão de defesa utilizar seu próprio sistema de códigos. A partir deste momento, foi adotado um número único de um sistema unificado de catalogação para que um item pudesse ser encontrado em qualquer lugar do mundo em que o governo americano atue (FRANCISCHINI; GURGEL, 2012). Dentre as suas vantagens estão a simplicidade e a flexibilidade, que permitem sua adaptação para o uso em empresas (VIANA, 2011). 33 Gestão de Materiais Capítulo 1 • Federal Stock Number (FSN) O FSN, ou Federal Stock Number, integra o sistema federal de suprimentos dos Estados Unidos (GONÇALVES, 2010) (Figura 8). Figura 8 – Estrutura do número de estoque nacional dos estados unidos (FSN) Fonte: Adaptado de Viana (2011) e Gonçalves (2010). Os quatro primeiros dígitos são a classe e são originados do FSC; os sete dígitos seguintes são o número de identificação, que é codificado por um único órgão da Defense Logistics Services. O décimo segundo é o dígito verificador (VIANA, 2011). • Código de barras Código de barras trata-se de uma representação gráfica de dados numéricos ou alfanuméricos, cuja leitura dos dados precisa de um leitor de código de barras. O leitor emite um raio vermelho que lê a imagem através da luz refletida pelos espaços onde a barra for clara. Os dados captados são analisados pelo computador, que os converte em letras ou números. O uso de códigos de barras é uma forma simples e prática de evitar os problemas de confusão e erros encontrados em alguns dos sistemas de codificação expostos, pois evita erros de registros, por exemplo (BERTAGLIA, 2009) (Figura 9). Figura 9 – Um dos códigos de barras mais criativos de 2010 Fonte: Demilked (2010). 34 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II A Associação Brasileira de Automação Comercial (EAN Brasil – atualmente GSI) administra no território brasileiro o Código Nacional de Produtos, Sistema EAN/UCC. Conforme Decreto Lei nº 90.595, de 29 de setembro de 1984 e da Portaria nº 143 de 12 de dezembro 1984 do Ministério da Indústria e Comércio (BRASIL, 1984). O uso do código de barras contribui para a interação entre atacadistas e varejistas, que alcançaram melhores índices de controle e de troca de informações, que se tornou mais rápida e confiável. Tipos de leitores de código de barras. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=OROSjvVW7D4>. Acesso em: 23 nov. 2017. Confira de forma resumida o que é o RFID no vídeo, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3J99pqx7ZDM>. Acesso em: 23 nov. 2017. • Identificação por rádio frequência - RFID A RFID diz respeito a uma tecnologia sem fio de coleta de informação que usa radiofrequência para capturar dados codificados em etiquetas especiais que contam com uma antena e um chip remotamente localizados (FINKENZELLER, 2010). Tipicamente, trata-se de um sistema de três componentes: um leitor, que envia o sinal de interrogação; uma etiqueta com o código de identificação que responde ao sinal que o leitor envia; e um software que recebe e interpreta estas informações em um computador (PRERADOVIC; KARMAKAR, 2010), com acesso à internet para aumentar a conectividade do sistema. Este sistema de identificação é amplamente utilizado em ingressos de eventos e shows, cobrança de pedágio, controle de estoque, identificação militar, entre outros usos. Considerado como o substituto do código de barras para rastreabilidade, apresentando vantagens como leitura de vários produtos ao mesmo tempo, maior alcance e possibilidade de leitura mesmo sem linha de visão entre o objeto e o leitor (MINBO; CHEN, 2009). 35 Gestão de Materiais Capítulo 1 O que são e como utilizar os QR CODES? Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_MOP_K3v2A0>; e <https://www. youtube.com/watch?v=1rzwS4eSW-k>. Acesso em: 23 nov. 2017. • QR code – quick response Os códigos de barras lineares são capazes de conter apenas dados numéricos com até 20 dígitos. Já o código de barra 2D permite encriptar dados numéricos e alfanuméricos em vários alfabetos diferentes, além de apresentar uma capacidade de armazenamento muito maior que o código de barras tradicional (GABRIEL, 2010). Assim, a nova proposta são os QR codes (Quick Response ou Resposta Rápida), que são códigos de barras 2D, podendo ser identificado e traduzido por celulares com câmera e aplicativo para leitura desse código (GABRIEL, 2010; GAZOLLA NETO, 2012). O maior espaço de armazenamento é possibilitado pela combinação de duas dimensões para a criação e leitura dos pontos, sendo que cada região tem uma função, como posicionamento, versão, produto e atributos de segurança (PANKIEWICZ, 2009). Esta tecnologia já está sendo utilizada, por exemplo, para permitir que os consumidores tenham acesso rápido, via seus celulares, às informações de origem dos produtos que adquirem, como já ocorre no caso de grãos. k) Registro e catalogação de materiais Após sua classificação, identificação e codificação, os materiais devem ser registrados. Este registro, atualmente, é realizado em computadores, com o uso de dados identificadores e códigos, que são a forma como o item será conhecido e localizado pela empresa, além do registro de outras informações como fornecedor do material. Por fim, a catalogação é a fase da classificação de materiais que consiste em ordenar, de forma racional, todo um conjunto de dados, relativos aos itens identificados, codificados e registados, de forma a facilitar a sua consulta pelas diversas áreas da empresa. Esta etapa consiste em uma listagem de todos os itens existentes (CHIAVENATO, 2005). Nas grandes empresas, os catálogos são ilustrados com fotografias, esquemas e desenhos para assegurar que sejam corretamente identificados. 36 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Atividades de Estudos: 1) Qual a finalidade de um sistema de codificação de materiais? Descreva três sistemas que achou mais interessantes. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 2) Qual seria a opção mais indicada para a identificação de um produto alimentar cuja cadeia produtiva tem por objetivo informar os atributos diferenciais do produto ao consumidor final? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Ao longo deste capítulo, foram apresentados inúmeros conceitos referentes à administração de materiais, à sua aplicação para as organizações do agronegócio, à importância da organização e classificação dos materiais e catalogação que são ferramentas desta área da administração. Este capítulo teve o intuito de demonstrar a importância e a complexidade da gestão de materiais, indicando alguns caminhos que os gestores podem seguir para tornar suas organizações mais eficientes e adaptadas ao novo ambiente de utilização máxima de recursos e alta competição. 37 Gestão de Materiais Capítulo 1 A partir deste momento, espero que você tenha conhecimento mais aprofundado sobre a importância e o conceito de materiais, suas relações com as empresas rurais, algumas de suas principais atividades e como são diversas as possibilidades de classificar e catalogar os materiais das empresas. No próximo capítulo serão discutidos planejamento e controle da produção, além de alguns princípios sobre a aquisição de materiais. Referências ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos do agronegócio. São Paulo: Atlas, 2013. BARNEY, J. B. Resource-based theories of competitive advantage: a ten-year retrospective on the resource-based view. Journal of Management. California. v. 27, n. 6, 2001. p. 643-650. ISSN: 0149-2063 ______. Firm resource and sustained competitive advantage. Journal of Management. California. v. 17, n. 1, 1991. ISSN: 0149-2063 BATALHA, Mário Otávio (Coord.). Gestão agroindustrial: GEPAI: grupo de estudos e pesquisas agroindustriais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 2 v. v. 1. BERTAGLIA, Paulo Roberto. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. 2. ed. Pinheiros: Saraiva, 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Administração de materiais: uma abordagem introdutória. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. COSTA, Fábio J. C. L. Introdução à administração de materiais em sistemas informatizados. São Paulo: Editco, 2002. DEMILKED. 44 cool and creative bar code designs. Disponível em: <https://www. demilked.com/cool-and-creative-bar-code-designs/>. Acesso em:: 19 set. 2017. DIAS, Marco Aurélio P. Administração de materiais: uma abordagem logística. São Paulo: Atlas, 2010. FENILI, Renato Ribeiro. Gestão de materiais. Brasília: ENAP, Enap Didáticos, n. 1, 2015. FINKENZELLER, Klaus. RFID handbook: fundamentals and applications in contactless smart cards, radio frequency identification and near-field communication. John Wiley & Sons, 2010. CAPÍTULO 2 Planejamento e Controle da Produção A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender os processos de planejamento e controle da produção. � Reconhecer as ações importantes em relação aos sistemas de planejamento e controle para cada empresa. � Conhecer os métodos de previsão de demanda. � Elaborar um PERT. � Estabelecer ações de planejamento e controle da produção para as empresas. 43 Planejamento e Controle da Produção Capítulo 2 Contextualização No segundo capítulo discutiremos o planejamento e controle da produção, abordando questões como previsão de demanda, plano mestre de produção, além das informações para a gestão e princípios de um Planejamento de Controle de Produção (PCP). A intenção deste capítulo não é desenvolver minuciosas descrições sobre o planejamento, mas capacitar você a agir frente a algumas questões gerenciais de produção. Para tanto, abordaremos a importância e princípios do planejamento e sua relevância para que os administradores possam se preparar melhor para prever as consequências de suas ações e decisões. Também discutiremos a relevância do controle no monitoramento da execução do planejado, registrando e avaliando de forma contínua o desempenho das atividades da empresa e como corrigir possíveis falhas de planejamento. Vamos demonstrar, nas próximas seções, que o planejamento determina os objetivos das empresas e quais as ações que devem colocar em prática para atingi-los da forma mais eficiente possível. Na etapa de controle, você vai perceber a importância de acompanhar, verificar e garantir o desempenho das empresas, conforme o planejamento, e incluir os ajustes que porventura sejam necessários ao longo do desenvolvimento das ações determinadas no planejamento. Nas seções finais conversaremos sobre a aquisição de recursos materiais, considerando as diversas decisões que gestores devem tomar neste processo. Ademais, serão abordadas as fases dos processos de aquisição, bem como o cadastro de fornecedores. Após este capítulo, você deverá compreender os processos de planejamento e controle da produção, sendo capaz de estabelecer um PERT (Program Evaluation and Review Technique - Avaliação do Programa e Técnica de Revisão) com base nos princípios do Planejamento de Controle de Produção para empresas rurais. 44 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Planejamento e Controle de Produção (PCP) A produção é a principal função das organizações, uma vez que esta etapa é responsável por determinar o objetivo da empresa, seu produto final. Considerando a importância da gestão da produção, esta seção trata do planejamento e do controle da produção, etapas dedicadas ao gerenciamento das atividades envolvidas na produção, buscando atender a uma demanda do mercado (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002, p. 34). A interpretação dos termos planejamento e controle indica que estas são etapas de um mesmo processo, sendo que a diferença entre elas é que planejar está associado a objetivos e ações a longo prazo, e o controle é um conjunto de metas e ações avaliadas e estabelecidas com informações a curto/médio prazo (BATALHA, 2007, p. 337). Para a produção, o planejamento e controle são a primeira e a última fase do processo administrativo, sendo que o primeiro determina os objetivos e como atingi-los de forma eficiente, e o controle acompanha e assegura o desempenho (CHIAVENATO, 2011). Além disso, o planejamento trata de um processo de preparação com um roteiro e métodos determinados, que tornam os gestores mais capazes de antecipar as consequências de suas decisões ou ação. Assim, o planejamento é a base de todo e qualquer processo da administração, pois na administração é necessário pensar, traçar objetivos e estabelecer ações que devem ser executadas sempre com a maior antecedência possível, para que a empresa esteja preparada de forma organizada a cumprir seus objetivos. O planejamento é ainda mais relevante em empresas rurais, pois nestas organizações não é possível reverter os processos iniciados. Veja um exemplo: ao se planejar plantar em determinada área é preciso adquirir todos os insumos necessários (como sementes, fertilizantes etc.). Em caso de alterações na demanda ou preços baixos ou ainda de falta de locais para estocar tamanha produção, não será possível devolver o material ou diminuir a área cultivada. A finalidade do planejamento da produção é alcançar a melhor eficiência e eficácia do processo de produção (CHIAVENATO, 2011, p. 44) (Figura 10). 45 Planejamento e Controle da Produção Capítulo 2 Figura 10 – Finalidades do planejamento da produção Fonte: Adaptado de Chiavenato (2011). O planejamento da produção é o estabelecimento doque a empresa deverá produzir, tendo em vista, de um lado, a sua capacidade de produção e, de outro, a previsão de vendas que deve ser atendida. Esta determinação é um conjunto de funções integradas que visam orientar o processo produtivo em relação aos objetivos da empresa e aos recursos empresariais disponíveis (CHIAVENATO, 2011, p. 44). Para os produtores rurais pode ser a determinação do espaço da área a ser dedicado a tal cultura, que pode ser estabelecido considerando os valores de mercado da cultura no momento, pela previsão do tempo, por contratos de venda preestabelecidos, pelos preços dos insumos e por diversos outros fatores. Neste exemplo temos um plano estratégico para a produção de biodiesel a partir da mamona. Disponível em: <http://www.revistasg. uff.br/index.php/sg/article/view/V9N4A3>. Por outro lado, o controle inclui o monitoramento do que de fato aconteceu, comparando com o que foi planejado, elaborando as ações para realinhar os planos da empresa (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002, p. 321). Assim, o administrador deve planejar e manter o controle do que acontece na empresa. Nesse sentido, o controle busca registrar e avaliar continuamente o desempenho das atividades da organização para conseguir fazer os ajustes necessários em tempo hábil. Como exemplo podemos citar o controle da produção de uma indústria de biodiesel, em que devem ser acompanhados os sistemas de produção, a qualidade do produto, os prazos de produção, além de algumas características que devem ser mantidas ao longo destes processos. 46 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II No artigo a seguir, de Birchal e Birchal (2013), temos um exemplo de automação para melhorar o controle da produção de biodiesel. Disponível em: <http://revistas.unibh.br/index.php/dcet/ article/viewFile/1091/622>. Em termos gerais, o planejamento pode ser compreendido também como as condições e ações para atingir os objetivos propostos e o controle seria o momento de monitorar e acompanhar as reais condições do planejamento posto em prática, avaliando se os resultados correspondem aos esperados e se são necessários ajustes no plano original (BATALHA, 2007, p. 336). Este setor de planejamento e controle da produção é o apoio à produção e tem o objetivo de apresentar o Plano de Produção e as principais questões relacionadas à sua formalização em nível estratégico. O apoio à produção possui três níveis de decisões: o estratégico, o tático e o operacional (TUBINO, 2009), conforme a figura a seguir (Figura 11): Figura 11 – Níveis de decisão em planejamento e controle da produção Fonte: Tubino (2009). Todos os níveis de decisão apresentados influenciam a forma como as organizações planejam, programam e controlam sua produção (RUSSOMANO, 2000). Apesar de fundamentais para a gestão do processo produtivo, os planos financeiro e de marketing serão tratados em outras disciplinas. Neste capítulo daremos ênfase aos planos de produção e ao plano mestre de produção. No nível tático, as empresas estabelecem quais recursos estarão disponíveis, quais indicadores serão utilizados para a avaliação do desempenho e os limites que serão admitidos pela organização. Além disso, são programados o número de funcionários necessários para a produção; o número máximo de horas extras; se a empresa vai operar com estoques, qual é o valor máximo de estoque e como será o relacionamento com os funcionários; a previsão de demanda e a programação da capacidade de produção da empresa (BATALHA, 2007, p. 340). 47 Planejamento e Controle da Produção Capítulo 2 O Planejamento e Controle de Produção (PCP), como sua denominação sugere, representam as duas fases da administração descritas na seção anterior, o planejamento e o controle da produção das organizações. Assim, o PCP participa de forma integrada e contínua da elaboração de projetos, processos, administração e manutenção das cadeias produtivas. O objetivo do PCP é tornar estes processos produtivos mais eficazes, organizando o sistema de produção e estabelecendo parâmetros de funcionalidade entre setores da empresa (CHIAVENATO, 2011). Ademais, esta proposição concilia o potencial de fornecimento dos produtos/serviços com a demanda de seus clientes, garantindo um processo produtivo constante (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002). Um sistema de PCP é um sistema de informações estruturadas para obter dados, processá-los e avaliá-los para fundamentar decisões em relação aos objetivos, metas e ações das empresas a curto, médio e longo prazo, sempre monitorando e respondendo conforme os resultados são obtidos (BATALHA, 2007, p. 337). Para que este sistema seja eficiente, deve-se aperfeiçoar o uso de recursos para a produção, garantindo fluidez à produção, além de gerenciar as demandas dos clientes, partindo do setor de vendas, gerando uma ou mais ordens de serviços de produção, minimizando atrasos, gerenciando eficazmente a utilização dos estoques, consequentemente, atendendo melhor aos clientes e, desta forma, gerenciando e controlando a produção. O PCP apresenta três fases principais. Pode-se descrevê-las detalhadamente como: projeto de produção, planejamento da produção e controle da produção (Figura 12). Figura 12 - Fases do planejamento e controle de produção (PCP) Fonte: Adaptado de Chiavenato (2011, p. 39). Vale ressaltar que a grande dificuldade ao se trabalhar com o PCP das organizações é que cada empresa possui necessidade de diversas combinações e estruturas de informações e modelos para sua tomada de decisão (BATALHA, 2007, p. 337). 48 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Atividades de Estudos: 1) Considerando suas atividades de estudo e trabalho em sua rotina normal e aplicando os conceitos que conhecemos até agora, qual é a importância destes princípios em sua vida? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ __________________________________________________ 2) Liste três tipos de decisões que devem ser tomados no controle da produção e cite exemplos: Decisões de controle da produção Exemplo 1 Exemplo 2 Exemplo 3 Planejamento da Produção O planejamento busca evitar atrasos e problemas no processo de produção (como falhas na qualidade, aumento dos custos e não atendimento das expectativas dos clientes). Estes transtornos são causados geralmente por especificações inadequadas, prazos estabelecidos de forma incongruente, performance dos recursos humanos e do maquinário utilizados na produção, além do preço de insumos e serviços necessários (POZO, 2004). Ao elaborar o planejamento para organizações rurais, deve-se considerar que nestes casos existe um número muito maior de variáveis sobre as quais os empresários não possuem nenhum controle ou capacidade de gestão (BATALHA, 2007). 49 Planejamento e Controle da Produção Capítulo 2 PERT – Program Evaluation Review Technique A denominação PERT é sigla para Program Evaluation and Review Technique (Técnica de Avaliação e Revisão de Programas). O objetivo do PERT é o de facilitar o desempenho de funções administrativas, como estabelecer programações objetivas para economia de tempo; programar recursos disponíveis para sua utilização eficiente; indicar, com a devida antecedência, pontos de estrangulamento na execução de programas ou no controle de custos; rever planos a fim de adaptá- los à realidade observada durante sua execução (BILLON, 1964). O PERT é uma ferramenta para planejar e controlar de forma gráfica as atividades e projetos das organizações. Esta imagem gráfica é uma rede construídaa partir de séries de ações ordenadas representando fluxos de esforços para alcançar os objetivos da empresa. Apenas dois símbolos são utilizados nesta representação: EVENTO E ATIVIDADE. Evento representa o instante no tempo (estimativa do tempo de duração das atividades), podendo representar o início, objetivo final ou conclusão de um projeto ou atividade e início de outro. A atividade são as ações que consomem tempo e recursos e a seta representa uma conexão ou tarefa que não consome tempo ou recursos. Para elaborar uma PERT é preciso primeiramente estabelecer as ações necessárias para alcançar um objetivo final, assim como determinar quais as relações de precedência entre estas atividades, estabelecendo uma ordem em que um evento não pode ser alcançado sem que o evento anterior seja contemplado (BATALHA, 2007). Vamos conferir um exemplo de como montar um gráfico de PERT a seguir (Quadros 1 e 2 e Figura 4). Quadro 1– Relações de precedência entre as atividades e sua duração, organizadas para a elaboração do PERT Atividades Atividades anteriores Duração da atividade em horas A - 5 B A 4 C - 7 D A, B 9 E F 8 F C 11 Fonte: A autora. 50 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II No Quadro 1 foram atribuídas as atividades do processo, indicando quais atividades eram necessárias anteriormente a esta, determinando também o número de horas estimado para esta atividade. Figura 13 - Exemplo de rede PERT com eventos e atividades de uma organização fictícia Fonte: A autora. O gráfico de PERT demonstra os caminhos possíveis para alcançar os objetivos da empresa, facilitando uma visualização simplificada do funcionamento da produção e as opções de sequências de atividades que podem ser desenvolvidas, bem como o tempo que cada rota vai exigir do processo (Figura 13). Por fim, são calculados os prazos mínimos necessários para a conclusão das atividades: Quadro 2 - Cálculos de prazos mínimos de conclusão das atividades em uma rede PERT Eventos Fluxo de Atividades Prazos mínimos para a conclusão 1 - 0h 2 C 7h 3 A 5h 4 B, A 4+5 = 9h 5 F, C 11+7 = 18h 6 D, B, A; E, F, C MÁX (9+4+5=23h; 8+11+7= 26h) 26h Fonte: A autora. 51 Planejamento e Controle da Produção Capítulo 2 Atividade de Estudos: 1) Explique em poucas palavras o que é uma técnica de PERT. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Neste exemplo temos uma proposta para a aplicação do PERT para organização das atividades de uma cadeia agroindustrial e o tempo de produção em uma cooperativa agroindustrial. Disponível em: <http:// saber.unioeste.br/index.php/csaemrevista/article/view/8542/6283>. Cabe lembrar que o PERT é um método simples de planejamento da produção, mas em algumas empresas, com gestores menos experientes, pode vir a ser uma boa alternativa de controle que não envolve grandes investimentos financeiros nem altera significativamente a rotina das empresas. Além disso, oferece um produto bastante concreto e visual ao final do processo e que possibilita que os funcionários visualizem o sistema. Uma das principais informações que são necessárias para o planejamento da produção é quanto a empresa estima precisar que seja produzido. Veremos algumas estratégias para esta estimativa a seguir. 52 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Previsão de Demanda Uma das estratégias utilizadas pelo PCP são as previsões que são aplicadas para planejar o sistema de produção e para planejar como este sistema será utilizado. No primeiro caso, as previsões de longo prazo servem para elaborar o plano estratégico de produção, em que se define os produtos/serviços oferecidos ao mercado-alvo. Já no segundo caso, as previsões mais detalhadas (de médio/curto prazo) formam a base para planejar e programar a produção em si, determinando como os recursos definidos serão utilizados, considerando a definição dos planos de produção e de armazenagem (TUBINO, 2009). Conforme Bowersox et al. (2013), todo o processo de produção para estoque ou para planejamento demanda uma previsão quanto às necessidades do mercado-alvo. A importância da previsão de demanda reside na utilização dos recursos, maquinários e recursos humanos de maneira adequada, para repor os materiais no momento e quantidade correta, possibilitando a programação das atividades produtivas. Esta etapa é talvez a mais importante ao se definir um sistema de produção, especialmente para atender às funções do PCP (TUBINO, 2009). Isto porque a previsão da demanda fundamenta o planejamento estratégico da produção, das vendas e das finanças da organização. Ademais, as previsões permitem que os gestores compreendam as possibilidades, oportunidades e ameaças futuras para planejar e adequar suas ações e agir frente ao cenário que se apresenta. Dessa forma, auxilia a reduzir as incertezas, contribuindo para o desenvolvimento de planos mais realistas (AQUILANO; CHASE; JACOBS, 2006). Confira, no vídeo a seguir, três técnicas de previsão de demanda para manter seus clientes satisfeitos: <https://www.youtube.com/ watch?v=OEOUEmXvrn0>. As previsões são ainda informações básicas para as diversas tomadas de decisão que os gestores devem fazer diariamente (STEVENSON, 2001). Nesta apostila vamos considerar que previsão é a arte de estimar a demanda futura, antecipando o que os compradores possivelmente farão em determinadas condições futuras (KOTLER; ARMSTRONG, 2012). 53 Planejamento e Controle da Produção Capítulo 2 MÉTODOS PARA PREVISÃO DE DEMANDA • Extrapolação: a partir de dados das vendas, da análise das sazonalidades e dos ciclos de vendas projeta-se a previsão de vendas. • Suavização exponencial: aplicação da média ponderada e média móvel. Os dados disponíveis para o cálculo da previsão tornam- se cada vez menos relevantes conforme o aumento de sua idade. Pesos mais altos são utilizados para dados mais recentes. • Média simples: previsão é feita a partir da média aritmética das demandas passadas. Considera o mesmo peso para todos os dados históricos. • Média móvel: média dos dados mais recentes, atribuindo o mesmo peso para todos os dados. Necessita de uma grande quantidade de dados para produção de bons resultados. • Box-Jenkins (ARIMA): modelo que apresenta o menor erro. Considera-se série histórica de vendas, em ordem cronológica, na qual se realizam análises de autocorrelações e autocorrelações parciais, para se calcular uma estimativa dos parâmetros, minimizando o erro. • Correlação e regressão: a análise de regressão é muito utilizada para o desenvolvimento da função de demanda (com fator simples ou múltiplos fatores). • Modelos econométricos: são modelos estatísticos complexos realizados por especialistas. Fonte: Adaptado de Lin (2000). As etapas da previsão de demanda devem ser objetivas e incluem a coleta e análises dos dados, a seleção do método de previsão e o monitoramento contínuo do modelo para realizar os ajustes necessários. Na elaboração dos modelos, a escolha da técnica adequada é a etapa mais importante do modelo de previsão. Estas análises devem ser baseadas em modelos estatísticos, matemáticos, econométricos ou subjetivos suportados por um método claro. 54 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Entretanto, as previsões normalmente estão inexatas e estes erros não apenas são inevitáveis, como devem ser esperados e estimados em cada uma das previsões. Além disso, as previsões podem funcionar muito bem para fatores mais específicos, como dentro de nichos de mercado, por um período de tempo curto, mas deverão ser periodicamente refeitas e atualizadas, considerando novos métodos e novas informações. Para efetuar previsões eficazes é importante conhecer os mercados, osprodutos, os concorrentes e seu comportamento, as ações da empresa que afetam a demanda, além de analisar os dados históricos, manter uma base de dados relevantes, trabalhando com fatos e não com opiniões para articular os diversos setores que contribuem para a elaboração da previsão (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2001). Entretanto, uma previsão incorreta pode causar excesso de estoque, redução desnecessária dos preços e ainda vendas não realizadas em função da falta de produtos. Além disso, é impossível ter certeza da quantidade exata a ser solicitada pelos compradores e da quantidade a ser armazenada. As técnicas de previsão podem ser classificadas, conforme Dias (2010), como: • Projeção: previsões que admitem que o futuro será repetido conforme o passado ou que as vendas vão evoluir segundo os mesmos princípios no tempo; • Explicação: procura-se explicar as vendas do passado mediante leis que relacionem as mesmas com outras variáveis cuja evolução é conhecida ou previsível; • Predileção: funcionários experientes e conhecedores de fatores influentes nas vendas e no mercado estabelecem a evolução das vendas futuras. Quanto melhor forem estimadas e previstas as necessidades de capacidade e menos variabilidade de produtividade houver num sistema de serviços, melhor será o resultado do planejamento de capacidade e, consequentemente, melhor será o desempenho do sistema para atender a demanda. Após a compreensão da demanda futura, as empresas devem definir qual estratégia vão selecionar para atender seu mercado-alvo. 55 Planejamento e Controle da Produção Capítulo 2 O seguinte artigo de Pellegrini e Fogliatto (2001) apresenta um estudo de caso de como realizar uma previsão de demanda. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103- 65132001000100004&script=sci_arttext&tlng=es>. Neste material suplementar temos um exemplo de aplicação de um programa mestre de produção para uma indústria de cervejas e refrigerantes. Disponível em: <http://www.paulorodrigues.pro.br/ arquivos/enanpad1998_ols_13.pdf>. Plano Mestre de Produção Segundo Tubino (2009), o Planejamento Mestre de Produção desmembra o plano de produção e traz a necessidade de produtos finais, sendo a base para as atividades produtivas de fabricação, montagem e compras. Além disso, é um registro das decisões sobre os produtos que serão produzidos, quais as quantidades, em que período e como serão utilizados os recursos disponíveis, devendo atender às previsões de demanda e aos pedidos já realizados (BATALHA, 2007). Esta atividade multifuncional engloba vários setores da empresa, com informações que provêm do setor de vendas, a engenharia (setor de produção) fornece informações sobre produtos e processos, e as restrições de capacidade e de fornecimento vêm da produção e setor de compras, respectivamente (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2001). Conforme Corrêa e Corrêa (2011), o Planejamento Mestre de Produção tem por objetivo coordenar a demanda do mercado-alvo, utilizando os recursos da organização para programar as taxas adequadas de produção e fluxos de materiais, principalmente os que possuem demanda independente. As demandas independentes são consequências principalmente das condições do mercado em que a empresa age, sobre as quais a empresa não tem gerência. 56 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Aquisição de Recursos Materiais O PCP ainda é responsável pela elaboração do planejamento da produção, programando a necessidades de materiais (CHIAVENATO, 2011) e organizando os processos de aquisição de materiais. Além disso, organizar e gerenciar um fluxo contínuo de suprimentos para suprir os processos de produção, coordenar o fluxo contínuo de materiais; comprar os materiais com os melhores preços; e procurar as melhores condições para a organização, são objetivos do setor de compras (DIAS, 2010). Este processo inclui diversas atividades, que vão desde a escolha dos fornecedores até a gestão dos almoxarifados. FUNÇÃO EXERCIDA PELOS PARTICIPANTES NO PROCESSO DE COMPRAS DAS ORGANIZAÇÕES • Chefe de compras: responsável por estudar e analisar as solicitações de compra de materiais, máquinas e equipamentos, conhecendo as necessidades da empresa. Coordena as pesquisas de fornecedores e a coleta de preços, elaborando relatórios de controle geral. • Comprador técnico: efetua as compras de materiais especiais, classifica e analisa as solicitações de compra, além de analisar as necessidades técnicas da organização. Também é responsável por pesquisar cadastro de fornecedores e controlar a entrega dos materiais. • Comprador de materiais diversos: acompanhar pequenas compras sob supervisão da chefia da seção, classificar e analisar requisições de compras de outros setores, efetuar as compras, controlar a entrega dos materiais, manter os arquivos de catálogos e fornecedores. • Comprador de matéria-prima: efetuar compras de matérias- primas utilizadas em uma ou várias unidades fabris, sob supervisão da chefia da seção, classificar e analisar solicitações de compra remetidas por outros setores, pesquisar cadastro de fornecedores, consultar em publicações específicas as cotações dos produtos, organizar pequenas concorrências, analisar as informações e opinar sobre as melhores ofertas, providenciar as compras e acompanhar as entregas. 57 Planejamento e Controle da Produção Capítulo 2 • Acompanhador de compras Follow Up: acompanhar, documentar e fiscalizar as encomendas realizadas em observância aos respectivos prazos de entrega, informar ao comprador o resultado do acompanhamento, efetuar cancelamentos, modificações e pequenas compras conforme determinação da chefia. • Auxiliar de compras: controlar o recebimento de solicitações de compras e efetuar conferência dos valores anotados, pesquisar arquivos de publicações técnicas, elaborar relações de fornecedores para cada material, emitir pedidos de compra, controlar arquivo de catálogos e documentos referentes às compras efetuadas. Fonte: Adaptado de Dias (2010, p. 266-267). Esta notícia ressalta a importância das estratégias de compras, como o exemplo, na compra de fertilizantes. Disponível em: <https:// goo.gl/6wAUJU>. Fazer ou Comprar Após determinar as necessidades da empresa, cabe a decisão de comprar estes materiais ou se esta necessidade pode ser atendida recondicionando, fabricando na própria empresa ou comprando de fornecedores. Esta decisão deve considerar os custos e ainda inclui a terceirização de serviços que não são a base de negócios da organização, como limpeza, manutenção e outros (FENILI, 2015). Nesta etapa são consideradas também as estratégias de integração vertical e horizontal, que podem ser feitas a jusante (em etapas posteriores da cadeia de suprimentos) ou a montante (em etapas anteriores da cadeia de suprimentos). a) Verticalização Esta estratégia é concretizada para trás, quando a empresa ocupa estágios de produção anteriores ao que ela ocupa atualmente; e a verticalização para frente, em que a organização incorpora estágios posteriores (BRITTO, 2002). 58 GESTÃO DO AGRONEGÓCIO II Essa estratégia foi dominante nas grandes empresas até o final do século passado, para garantir a independência de outras organizações. No entanto, é uma estratégia arriscada, pois prende grande parte dos recursos financeiros e não oferece flexibilidade nos processos produtivos (FENILI, 2015). A verticalização também é uma estratégia de crescimento em que uma organização se envolve em mais de um elo da cadeia de determinado setor produtivo (HARRISON, 2005). No arquivo, um exemplo de verticalização como estratégia da Faber-Castell que investe na verticalização, plantando as próprias árvores: <http://educacao.faber-castell.com.br/conheca-a-faber- castell/sustentabilidade/>. b) Horizontalização Ao contrário da verticalização, a horizontalização é uma estratégia de comprar de outras empresas o máximo de materiais possível
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