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AO JUÍZO DA 1ª VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DE CARUARU-PE Autos nº:0001989-2022.8.17.2480 OTÁVIO BARBOSA DA SILVA NETO, solteiro, marceneiro, inscrito no CPF nº 101.130.894-88, RG Nº 9.191.485-SDS, residente e domiciliado na Rua Seis de Novembro, nº 78, Bairro São Jose 2, Caruaru-PE, por meio do seu Advogado, infra-assinado, vem a presença e Vossa Excelência, apresentar uma CONTESTAÇÃO C/C RECONVENÇÃO Em face da Ação de Guarda Unilateral com Pedido Liminar movida por JULIANE LÚCIA DOS SANTOS SILVA, dizendo e requerendo o que segue. BREVE SINTESE Narra a requerente da ação que, em abril de 2020, o requerido esteve em sua residência, e retirou todas as roupas e documentos da menor, e que após isso, a mesma tentou resolver a situação de forma amigável. Alega também que, o genitor não teria condições de criar a criança, pois reside em uma serralharia e não teria nem uma cama para menor dormir. Ocorre que, diferentemente do que foi narrado na inicial, o requerente tem provas que o relacionamento se findou no ano de 2020, onde a requerida saiu de casa e não voltou mais, o deixando sozinho com a filha, não obtendo outra solução o requerido e genitor da criança, voltou a morar na casa da mãe e aos poucos foi retirando as coisas da criança da casa, com autorização da mãe da requerida, não as retirou de uma vez, como foi alegado. O genitor mora na casa de sua mãe, onde possui um quarto, em que dorme com a menor, no qual há uma cama separada para ela, mas por ser muito apegada ao pai, prefere dormir com ele na cama. A marcenaria não fica dentro da casa e sim, no início do terreno da casa. Apesar da alegação de ter condições para criação da filha, a veracidade dos fatos não confirma isso, a mesma não tem emprego fixo e atualmente sustenta-se com o Auxílio Brasil. DA TEMPESTIVIDADE Nos termos do art. 335 do CPC, considerando que a intimação para responder a presente ação ocorreu em 2022, conforme tem-se por tempestiva a presente contestação, devendo ser acolhida. DO MÉRITO O contestante impugna todos os fatos articulados na inicial que se contrapõem com os termos desta contestação, estimando a IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO PROPOSTA, pelos seguintes motivos: O requerido é o genitor de Lara Valentina Barbosa Silva, de quatro anos de idade, conforme consta na cópia da certidão de nascimento apresentada pela requerente. Lara é fruto de um relacionamento de 10 anos, entre a requerente e o requerido, que segundo alegações deste. A requerente alega que após o término do relacionamento, em 2019, a menor, que à época do fato tinha dois anos de idade, ficou sob sua guarda fática, e que o genitor tinha livre acesso, mediante prévio ajuste. No entanto, segundo o requerido, tal fato não corresponde à realidade, pois, disse que a requerida saiu de casa e não retornou mais, deixando-o sozinho com a menor, que desde o ocorrido está sob sua guarda. Lara, de fato, ficava em uma creche das 07h às 17h, e logo após a mãe ou a irmã do requerido a buscavam e a levavam para a residência do mesmo. Mas, diferente do que havia dito a genitora (que ela buscava a menor ás 21:30, quando encerrava suas atividades), Lara permanecia na residência de seu genitor, haja visto que ela mora com ele. O genitor trabalha em uma marcenaria, das 08h às 17:30, localizada no mesmo terreno da casa em que residem a menor, ele, sua mãe e mais quatro irmãos. A marcenaria, apesar de ser no mesmo, é separada da residência, e para ter acesso à casa, não preciso passar por ela. Ou seja, o comentário da requerente, a respeito de que genitor residia no seu ambiente de trabalho, o qual seria inapropriado para a menor, a qual é acometida de rinite alérgica, onde não anexou nenhum laudo médico comprovatório, não procede. O requerido ainda reforça que ele e a menor dividem o mesmo quarto, e que ela tem uma cama exclusiva para ela, contradizendo a fala da genitora. Atualmente, a menor estuda em uma escola pública, e quando não está na escola, ou está brincando com seus brinquedos, ou está assistindo na televisão ou no tablet, o que contraria a alegação de sua genitora, que disse que ela realizava atividades domésticas na residência do genitor. O mesmo ressalta que Lara nunca realizou quaisquer atividades domésticas, pois ela é uma criança de apenas quatro anos de idade, e jamais permitiria que isso acontecesse. Foi dito também pelo genitor, que a genitora, não costumava visitar a menor reiteradamente, e que somente passou a fazê-lo, aos finais de semana, a partir de dezembro de 2021, e que ela não contribui financeiramente com a menor. O genitor relata que a criança nunca manifestou interesse em morar com a mãe, e que a relação entre ele e a genitora é tranquila e pacífica. Disse ainda que, de fato, esteve na residência da requerente, algumas vezes, para buscar os documentos e pertences da menor, simplesmente pelo fato de que é com ele que ela mora, mas sempre com autorização da mãe da requerente. DA RECONVENÇÃO No CPC em seu art. 343, podemos extrair que "na contestação, é lícito, ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa". DOS FATOS A Reconvinda, na data de 02/02/2022, promovera a mencionada Ação de Guarda com Pedido Liminar. Essa ação, como se observa, tramita perante este juízo e, no âmago, pede a concessão da guarda unilateral da menor para a sua genitora e o mero direito de convivência para o genitor. A autora da lide requer, ainda, a concessão da guarda provisória da menor com prioridade de tramitação do feito. A Reconvinda e o Reconvinte viveram juntos em União Estável por aproximadamente 10 (dez) anos, compartilhando de uma convivência pública, contínua e duradoura, firmada com o objetivo de constituir família. Como fruto dessa união, a Reconvinda e o Reconvinte tiveram uma filha juntos, de nome LARA VALENTINA BARBOSA SILVA, que conta atualmente com 4 (quatro) anos de idade. Ocorre que, no ano de 2020, mais precisamente no dia 28/02/2020, o casal teve um desentendimento que acabou levando à dissolução da União Estável. No dia seguinte àquele em que houve a discussão, a Reconvinda saiu de casa e passou a morar com outro companheiro, com quem ela vive até hoje. No ato de sair de casa, a Reconvinda levou a filha consigo, privando o Reconvinte de vê-la até o dia seguinte, quando foi buscá-la na creche. Desde então, a filha do casal vive com o Reconvinte, que arca com todas as despesas necessárias para a sua criação e manutenção. Ambos vivem juntos em uma casa localizada aos fundos de uma marcenaria, e a criança tem todas as suas necessidades básicas supridas unilateralmente pelo Reconvinte, que custeia a sua alimentação e todas as despesas relacionadas à sua saúde, educação e transporte, bem como arca com as suas vestimentas e proporciona-lhe momentos de lazer. Isto posto, registre-se que a Reconvinda nunca ajudou financeiramente o Reconvinte no tocante à criação e manutenção da criança após a separação, de forma que todos os gastos inerentes à sua criação são unilateralmente custeados pelo Reconvinte. A criança tem seu próprio quarto e sua própria cama, a contrário do que foi alegado pela Reconvinda na petição inicial, o que pode ser comprovado pelo arquivo em anexo (doc. 1 – foto da cama de Lara). A criança tem uma rotina tranquila, compatível com a de qualquer criança da sua idade. Durante o dia, Lara frequenta a escola e a creche, chegando em casa às 16:00, quando fica sob os cuidados da sua avó ou da sua tia (mãe e irmã do Reconvinte, respectivamente), até que seu pai (Reconvinte) chegue do trabalho, às 17:30. A menor apresenta uma boa convivência com o pai e com as demais pessoas com quem tem contato no seu dia a dia, como é o caso da sua avó paterna e da sua tia. Como já mencionado, a criança possui uma rotina ideal eperfeitamente condizente com a sua idade, já que frequenta a escola e a creche durante a manhã e à tarde, e ao final do dia pode descansar e desfrutar de momentos de lazer. Ao contrário do que foi alegado pela Reconvinda na peça exordial, Lara não realiza nenhum serviço doméstico, mesmo porque a sua idade sequer permite assimilar as complexidades intrínsecas ao desempenho de atividades domésticas, já que a criança possui somente 4 (quatro) anos de idade. Desta forma, os únicos “serviços domésticos” que Lara realiza são aqueles feitos de forma lúdica, quando a menor está brincando de bonecas. Ressalte-se que a Reconvinda nem sempre demonstrou interesse em conviver com a filha. Quando ocorreu a separação do casal, no ano de 2020 (e não no ano de 2019, conforme erroneamente alegou a autora na inicial), a Reconvinda visitou a sua filha pouquíssimas vezes durante o período de tempo de 1 (um) ano, totalizando uma média aproximada de 1 (uma) visita por mês. Frise-se que o Reconvinte nunca se mostrou contrário às visitas da Reconvinda à filha, entretanto, as visitas eram escassas e não havia uma periodicidade, tanto que a genitora de Lara sequer costumava visitá-la em datas comemorativas ou festivas. A Reconvinda somente começou a nutrir mais contato com a filha no ano de 2021, mas ainda assim, de forma esporádica e não periódica. Criou-se uma periodicidade de visitas somente no ano de 2022, em que a Reconvinda começou a visitar a filha semanalmente, passando os fins de semana com ela. O Reconvinte, mais uma vez, não se mostra contrário às visitas e permite livremente que a Reconvinda mantenha contato com sua filha. Entretanto, o pedido sustentado pela autora na inicial é completamente incabível e inadequado. Não há que se falar em concessão da guarda unilateral de Lara para a Reconvinda quando esta somente começou a se aproximar da filha recentemente. A criança é extremamente apegada ao Reconvinte, de modo que se for questionada a respeito de com quem ela gostaria de viver, a resposta seria o Reconvinte. A opinião da criança é extremamente relevante quando da decisão judicial de concessão de guarda, já que se deve levar em consideração o princípio fundamental do melhor interesse da criança. Fora isso, importa destacar que a Reconvinda revela ser uma pessoa emocionalmente instável. A própria filha dos ex-companheiros já chegou a presenciar momentos em que a genitora agrediu, verbal e fisicamente, o seu atual companheiro. Por esse e outros motivos, a menina não demonstra interesses em morar com a mãe. Além disso, a vivência na casa da Reconvinda se torna tediosa para Lara, já que na casa da Reconvinda não há televisão, brinquedos, telefone celular ou qualquer outro elemento atrativo para Lara, de modo que, caso passasse a viver com a genitora, o seu dia a dia seria enfadonho e maçante, limitando potencialmente a sua criatividade e o seu desenvolvimento social. Ante os fatos acima apresentados, o Reconvinte vem, por meio da presente RECONVENÇÃO, pleitear a guarda unilateral da sua filha, estipulando-se uma regulação de horários e dias de visitas para que a Reconvinda possa manter contato com Lara. DO MÉRITO A Reconvenção consiste também em uma das formas de resposta do réu em face o autor no mesmo processo em que aquele é demandado. Não é defesa, é demanda, ataque. Esta ação amplia objetivamente o processo, obtendo novo pedido na presente ação. Nesses termos, o Art. 343 do CPC aduz: Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa. No caso supracitado a autora alegou que o réu não detém condições suficientes para o cuidado da menor, porém como resta comprovado, as condições em que a menor vive são suficientes para um desenvolvimento saudável e pleno, visto que o réu tem emprego e moradia fixa. A Carta Magna expressa em seu artigo 227 §6° que, é garantido as crianças o direito à vida, saúde, moradia e educação. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. DA GUARDA UNILATERAL Indubitavelmente, alegar reconvenção na contestação é lícito, conforme respalda o art. 343 do CPC. Desse modo, o reconvinte visa contra-atacar o pedido da autora, acerca da concessão da guarda unilateral da menor para a genitora. Sabe-se que compete a ambos os pais o direito ao poder familiar, no que concerne aos direitos e obrigações no que se refere aos seus filhos, independentemente da situação conjugal, conforme está previsto no Art. 1.634 do Código Civil de 2002. Os requisitos no qual englobam o instituto da guarda unilateral dependem da situação envolvendo o caso concreto, não fazendo o menor sentido lógico estabelecer a guarda unilateral a gestora da menor, pelo qual não apresenta vínculo contínuo com a mesma, justamente por sua falta de tempo e seus compromissos laborais e acadêmicos, no qual foi amplamente mencionada no exordial id n° 98081800. Assim, não possui as condições mínimas de exercer a guarda unilateral com a responsabilidade integral para a criação da menor, devendo ser julgado improcedente o pedido pelo qual foi pleiteado. Deve ser levado em consideração o que é mais benéfico para a criança, visto que se trata do desenvolvimento de sua personalidade e da sua própria subsistência. A autora ao requerer a guarda unilateral para si não está pensando nas melhores condições para a menor, visto que a guarda unilateral é possível em casos englobando maus tratos, abandono ou falta de condições mínimas para garantir os cuidados da criança, o que não ocorre com a criação do genitor frente a mesma, em que é bem cuidada e possui todas as suas necessidades supridas. Entretanto, não se pode dizer o mesmo frente à genitora, vez que esta não apresenta as mínimas condições de proteção integral da menor, justamente pela falta de tempo para fornecer os mesmos, sendo completamente incabível este pedido realizado pela parte autora. Como é demonstrado no CC em seu artigo Art. 1.583 o instituto da guarda unilateral é concebida a um dos genitores, que assegure os direitos e garantias suficientes para o pleno desenvolvimento da criança. Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. § 1° Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. § 2° A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores: I – Afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar; II – saúde e segurança; III – educação. § 3° A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos. No artigo 1.584 do mesmo código é mencionado que a guarda unilateral será requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável. Portanto é notório alegar, que a autora não visa a guarda da filha, mas sim o direito à visita, portanto restando a guarda da menor ao pai.Com o objetivo, de reforçar ainda mais o conceito de guarda unilateral e a sua disposição legal, vale ressaltar o que define a autora Maria Berenice Dias: A lei define guarda unilateral (CC 1.583 parágrafo 1º): é atribuída a um só dos genitores ou a alguém que a substituta. (...) A guarda unilateral será atribuída a um dos genitores somente quando o outro declarar, em juízo, que não deseja a guarda do filho (CC 1.584 parágrafo 2º). Caso somente um dos pais não concorde com a guarda compartida, pode o juiz determiná-la de ofício ou a requerimento do Ministério Público. A guarda unilateral obriga o não guardião a supervisionar os interesses dos filhos. Para isso, tem legitimidade para solicitar informações e até prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos (CC 1.583 parágrafo 5º). Do mesmo modo, poderá ter os filhos em sua companhia, em períodos estabelecidos por consenso ou fixados pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação (CC 1.589). Tanto isso é verdade que a escola tem o dever de informar, mesmo ao genitor que não convive com o filho, sobre a frequência e o rendimento do aluno, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola. (DIAS, 2011, p.523,524). Outrossim, vejamos o que o Superior Tribunal de Justiça se pronunciou sobre a demanda: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C.C. GUARDA DOS FILHOS E PARTILHA DE BENS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. GUARDA COMPARTILHADA DEFERIDA. REGRA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. REVELIA. EFEITOS QUE NÃO SE OPERAM NO CASO. IMPOSSIBILIDADE DE SE PRESUMIR QUE O REQUERIDO TENHA RENUNCIADO TACITAMENTE À GUARDA DOS MENORES. DIREITO INDISPONÍVEL. NECESSIDADE, PORÉM, DE ANÁLISE DA GUARDA COM BASE NO MELHOR INTERESSE DOS MENORES. PARTICULARIDADES DO CASO QUE RECOMENDAM O DEFERIMENTO DA GUARDA UNILATERAL PARA A GENITORA. DECISÃO QUE PODE SER ALTERADA POSTERIORMENTE, DADO O SEU CARÁTER REBUS SIC STANTIBUS. RECURSO PROVIDO. 1. Discute-se no presente recurso se a ausência de manifestação do réu no curso da ação de reconhecimento e dissolução de união estável c.c. guarda dos filhos e partilha de bens, com a consequente decretação de sua revelia, caracteriza renúncia tácita em relação ao interesse na guarda dos filhos menores, autorizando, assim, o deferimento da guarda unilateral em favor da parte autora. 2. Após a edição da Lei n. 13.058/2014, a regra no ordenamento jurídico pátrio passou a ser a adoção da guarda compartilhada, ainda que haja discordância entre o pai e a mãe em relação à guarda do filho, permitindo-se, assim, uma participação mais ativa de ambos os pais na criação dos filhos. 3. A guarda unilateral, por sua vez, somente será fixada se um dos genitores declarar que não deseja a guarda do menor ou se o Juiz entender que um deles não está apto a exercer o poder familiar, nos termos do que dispõe o art. 1584, § 2º, do Código Civil, sem contar, também, com a possibilidade de afastar a guarda compartilhada diante de situações excepcionais, em observância ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. 4. Nos termos do que dispõem os arts. 344 e 345, inciso II, do Código de Processo Civil de 2015 (correspondentes aos arts. 319 e 320, II, do CPC/1973), se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor, salvo se o litígio versar sobre direitos indisponíveis. 5. Sendo o direito de guarda dos filhos indisponível, não obstante admita transação a respeito de seu exercício, não há que se falar em presunção de veracidade dos fatos oriunda da revelia. Em outras palavras, à revelia na ação que envolve guarda de filho, por si só, não implica em renúncia tácita do requerido em relação à guarda compartilhada, por se tratar de direito indisponível. 6. Todavia, tratando-se de demanda que envolve interesse de criança ou adolescente, a solução da controvérsia deve sempre observar o princípio do melhor interesse do menor, introduzido em nosso sistema jurídico como corolário da doutrina da proteção integral, consagrada pelo art. 227 da Constituição Federal, o qual deve orientar a atuação do magistrado. 6.1. Nessa linha de entendimento, independentemente da decretação da revelia, a questão sobre a guarda dos filhos deve ser apreciada com base nas peculiaridades do caso em análise, observando-se se realmente será do melhor interesse do menor a fixação da guarda compartilhada. 6.2. Na hipótese dos autos, revela-se prudente o deferimento da guarda unilateral em favor da genitora, considerando a completa ausência do recorrido em relação aos filhos menores, pois demorou mais de 2 (dois) anos para ser citado em virtude das constantes mudanças de endereço, permanecendo as crianças nesse período apenas com a mãe, fato que demonstra que não tem o menor interesse em cuidar ou mesmo conviver com eles. 6.3. Ademais, na petição inicial foi consignado que um dos motivos para a separação do casal foi em razão "do convivente consumir bebidas alcoólicas e entorpecentes excessivamente" (e-STJ, fl. 10), o que não foi nem sequer levado em consideração pelas instâncias ordinárias ao fixarem a guarda compartilhada. 7. De qualquer forma, em virtude do caráter rebus sic stantibus da decisão relativa à guarda de filhos, nada impede que o decisum proferido neste feito venha a ser modificado posteriormente, sobretudo se o recorrido manifestar seu interesse na guarda compartilhada e comprovar a possibilidade de cuidar dos filhos menores. 8. Recurso provido. (Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 1773290 MT 2018/0267135-4). Grifos nossos. Assim, percebe-se que para a concessão da guarda unilateral, um dos genitores deve expressar que não requer a guarda da criança, o que não ocorre no caso concreto, além de que deve haver situações excepcionais a serem analisadas pelo magistrado. Na mesma linha, estão sendo publicados os precedentes judiciais dos Tribunais do país. Observemos: DIREITO DE FAMÍLIA. APELAÇÃO CÍVEL. GUARDA COMPARTILHADA. ALTERAÇÃO PARA GUARDA UNILATERAL PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR. OBSERVÂNCIA. 1. A implementação da guarda unilateral não se sujeita à conveniência ou transigência dos pais, devendo-se observar o princípio do melhor interesse do menor. 2. Ainda que não haja consenso entre os pais, a guarda compartilhada representa a proteção do melhor interesse dos filhos, porque possibilita a divisão de responsabilidade dos genitores, proporcionando ao desenvolvimento humano a aproximação ao ideal psicológico do duplo referencial. 3. Recurso desprovido. (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-DF: 0712483-74.2018.8.07.0016 - Segredo de Justiça 0712483-74.2018.8.07.0016). Grifos nossos. Destarte, o reconvinte visa contra-atacar o pedido da autora de guarda unilateral da criança, visto que deseja manter o vínculo com a mesma, já que possui as condições necessárias para promover a proteção integral da menor como já tem feito por esse lapso de 02 (dois) anos DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer à Vossa Excelência: a) A concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, nos termos do art. 98 e seguintes, do Código de Processo Civil e art. 1º, § 2º, da Lei nº 5.478/68, já que o Reconvinte não possui condições financeiras para arcar com o pagamento das custas judiciais e honorários advocatícios, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família; b) Seja julgada a IMPROCEDÊNCIA dos pedidos apresentados pela parte autora na petição inicial; c) A concessão, in limine litis, da guarda provisória da menor para o Reconvinte, expedindo-se o competente termo; d) A concessão da guarda unilateral da menor para o Reconvinte e o direito de convivência da genitora, com estipulação de dias e horários para o exercício do direito de visita; e) A intimação pessoal da Reconvinda para ser ouvida e manifestar-se a respeito da presentereconvenção, no prazo de 15 (quinze) dias, conforme dispõe o art. 350 do Código de Processo Civil brasileiro; f) O acolhimento dos documentos comprobatórios anexados à reconvenção, assim como as declarações e certidões, com base nos ditames legais da Lei 7.115/83; g) A condenação da Reconvinda ao pagamento do ônus da sucumbência, fixado em 15% do valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, §§ 2º e 6º, do CPC/2015, posto que a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita não impede a condenação do beneficiário ao pagamento dos ônus de sucumbência, com respaldo no art. 791-A da CLT; h) Requer, ainda, que todas as intimações e comunicações processuais destinadas ao Núcleo de Práticas Jurídicas da UNIFAVIP/Wyden sejam expedidas em nome da Bela. JULIANA ANGÉLICA THEODORA DE ALMEIDA, inscrita na OAB/PE n° 37.042, com endereço no rodapé, sob pena de nulidade de todos os atos praticados sem a observância desse requisito; Pretende provar o alegado por todos os meios de provas admitidas em direito, notadamente pela testemunhal e documental, bem como todas aquelas necessárias à obtenção da Justiça, incluindo o depoimento pessoal do Reconvinte. Dá-se à causa o valor de R$ 1.212,00 (mil duzentos e doze reais). Termos em que pede deferimento. Caruaru/PE, 13 de abril de 2022. Juliana Angélica Theodora de Almeida OAB/PE N° 37.042. Ada Karine Santos de Albuquerque Estagiária em Direito Matrícula: 201551309769 Ellen Thais Cavalcanti Estagiária em Direito Matrícula: 201951436091 Dandara França Sousa Estagiária em Direito Matrícula: 202051621567 José Gabriel da Silva Estagiário em Direito Matrícula: 201951383567 Ruanna Kamilly Nunes Cavalcante de Souza Estagiária em Direito Matrícula: 201951479441 Vitória Morgana Santos Barros Estagiária em Direito Matrícula: 201851074881