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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE SISTEMA NEUROSSENSORIAL DISCIPLINA: FARMACOLOGIA MARCOS EDUARDO FERREIRA DOS SANTOS Caso Clínico: Feocromocitoma BELÉM-PA 2023 1 MARCOS EDUARDO FERREIRA DOS SANTOS MATRÍCULA: 202209740051 TURMA: D22 Caso Clínico: Feocromocitoma Atividade apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará – Campus Belém, sob orientação do Prof. Dr. Moisés Hamoy, como requisito de obtenção de conceito parcial no módulo de Sistema Neurossensorial, o qual integra a disciplina de Farmacologia. BELÉM-PA 2023 2 CASO CLÍNICO Criança do gênero masculino, 12 anos, internado na UTI infantil do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Jundiaí em decorrência de crise convulsiva tônico clônica generalizada, com PA: 200x12 mmHg. Havia antecedentes de cefaleia há dois anos, parestesia em face e em membros superior e inferior direito. Iniciado o tratamento para emergência hipertensiva com nitroprussiato de sódio. No quarto dia de internação, a USG de abdome revelou a presença de uma massa hipoecogênica em topografia de adrenal esquerda. Iniciado o tratamento para pressão arterial sistêmica por meio do uso de prazosina, um bloqueador A-1 seletivo pelo provável diagnóstico de feocromocitoma. A TC de abdome confirmou a presença de uma massa em adrenal esquerda. A dosagem de catecolaminas urinárias resultou em valores elevados para adrenalina e noradrenalina. O paciente foi submetido a adrenalectomia esquerda, evoluiu bem no pós operatório com normalização da PA e suspensão das medicações anti- hipertensivas. Pergunta-se: 1. Quais são os principais sintomas da doença em um quadro clínico clássico de FEO? Alguns dos principais sintomas incluem crises de pressão arterial elevada, durante essas crises, a pressão pode subir rapidamente, resultando em dores de cabeça intensas e persistentes. Além disso, é comum sentir palpitações, ou seja, uma sensação de que o coração está batendo rápido e irregular. Essas crises também podem desencadear sudorese excessiva, mesmo sem realizar atividade física ou em ambientes com temperaturas normais. É como se o corpo estivesse em alerta constante. Algumas pessoas com feocromocitoma podem experimentar um aumento nos níveis de açúcar no sangue, levando à intolerância à glicose. Isso significa que o organismo tem dificuldade em processar adequadamente o açúcar, resultando em sintomas como sede excessiva, aumento da vontade de urinar e fadiga. A pessoa pode se sentir constantemente sedenta, urinar com frequência acima do normal e se sentir cansada mesmo sem motivo aparente. O feocromocitoma também pode causar episódios de náuseas, que podem variar em intensidade e duração. Essa sensação de mal-estar no estômago pode ser acompanhada de vômitos em alguns casos, afetando o apetite e a capacidade de se alimentar normalmente. As náuseas podem ocorrer de forma intermitente, surgindo em momentos específicos ou de forma mais persistente ao longo do tempo. 3 2. A fisiopatologia do FEO está relacionada à hipersecreção de catecolaminas, como epinefrina e norepinefrina, e a ativação dos receptores adrenérgicos. Quais são os principais receptores envolvidos na fisiopatologia da doença, onde eles se localizam e quais os principais efeitos da sua ativação? Como no feocromocitoma, ocorre uma superprodução de catecolaminas, geralmente devido a uma alteração genética no tumor. Essas catecolaminas em excesso podem se ligar aos receptores adrenérgicos e de dopamina, desencadeando respostas fisiológicas que resultam nos sintomas característicos da doença. Existem vários tipos de receptores envolvidos na regulação da produção e ação das catecolaminas, incluindo os seguintes: adrenérgico alfa, beta e os receptores de dopamina. Os receptores adrenérgicos alfa estão envolvidos na resposta do sistema nervoso simpático, que é responsável por controlar a pressão arterial e a resposta ao estresse. Existem diferentes subtipos de receptores alfa (alfa-1 e alfa-2), o primeiro está presente em diferentes órgãos e tecidos, como vasos sanguíneos, músculos lisos ( parede de vasos e no trato gastrointestinal) e´órgãos como bexiga e a próstata, sua ativação provoca a contração dos músculos lisos, resultando em constrição dos vasos sanguíneos periféricos, levando ao aumento da resistência vascular e, consequentemente, aumento da pressão arterial, já na contração dos músculos lisos nas paredes dos órgãos, pode resultar numa redução do fluxo sanguíneo para os órgãos e aumento da resistência ao fluxo urinário na bexiga. Já o segundo, alfa-2, localizam-se em terminais nervosos, tecido adiposo e plaquetas, sua ativação inibe a liberação de neurotransmissores e hormônios, resultando na redução da liberação de noradrenalina, diminuindo a resposta do sistema nervoso simpático, inibe a insulina, o que leva a ter um aumento nos níveis de glicose no sangue, além de inibir a liberação de lipases, reduzindo a lipólise Os receptores adrenérgicos beta também estão envolvidos na resposta do sistema nervoso simpático. Existem três subtipos principais de receptores beta (beta-1, beta-2 e beta-3), que estão presentes em diferentes tecidos e desempenham funções distintas. Os receptores beta-1 estão envolvidos na regulação cardíaca, enquanto os receptores beta-2 estão associados à vasodilatação e relaxamento dos músculos brônquicos. Os receptores beta-3 estão presentes principalmente no tecido adiposo e estão envolvidos na regulação do metabolismo energético. A dopamina é outra catecolamina produzida pelas glândulas adrenais e está envolvida na regulação da pressão arterial, fluxo sanguíneo renal e função renal. Os receptores de dopamina estão presentes no Sistema Nervoso Central, como no núcleo accumbens, corpo estriado, córtex pré-frontal e substância nigra, também é achado em outros tecidos periféricos, como nos rins, 4 sistema cardiovascular, trato gastrointestinal e no respiratório. Sua ativação pode estar associada a sensação de prazer, motivação e recompensa, regulando o humor do indivíduo, também pode ter função motora, visto que a dopamina desempenha um papel fundamental no controle motor, já que a ativação dos receptores de dopamina no corpo estriado contribui para a regulação dos movimentos voluntários. Nos rins, esses receptores podem participar na regulação da pressão arterial e do fluxo sanguíneo renal, ajudando a modular a função renal e a manter a homeostase cardiovascular. 3. Comente sobre como é realizado o diagnóstico da doença e sobre os principais achados clínicos, laboratoriais e topográficos. O diagnóstico do feocromocitoma envolve uma abordagem clínica, laboratorial e topográfica para confirmar a presença do tumor. No aspecto clínico, o médico realizará uma avaliação detalhada dos sintomas relatados pelo paciente. Os principais sinais de alerta incluem crises de pressão arterial elevada ou paroxismos adrenérgicos desencadeados pelo uso de antidepressivos tricíclicos, dores de cabeça intensas, palpitações, sudorese excessiva e episódios de náuseas. Esses sintomas podem ocorrer de forma intermitente e imprevisível. Além disso, o médico também investigará a presença de fatores de risco, como histórico familiar da doença, com manifestações das síndromes genéticas ou com familiares portadores de determinadas síndromes, como NEM2A (neoplasia endócrina múltipla tipo 2A), VHL (Doença de Von Hippel- Lindau), NF1 e paragangliomas, ou de tumores endócrinos. Na abordagem laboratorial, é fundamental realizar exames para avaliar os níveis de catecolaminas e seus metabólitos na urina ou no sangue. Os principais exames incluem a dosagemde metanefrinas, normetanefrinas e ácido vanilmandélico (VMA). Valores elevados dessas substâncias podem sugerir a presença de feocromocitoma. Em suma, irá detectar o excesso de catecolaminas liberadas pela doença, que vão estar presentes no plasma ou na urina, até mesmo seus produtos de degradação. Além disso, exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM), são utilizados para localizar e visualizar o tumor nas glândulas adrenais ou em outros locais. A topografia desempenha um papel importante no diagnóstico do feocromocitoma, pois permite localizar o tumor. As glândulas adrenais são os locais mais comuns de desenvolvimento do tumor, podendo ser encontrado em uma ou em ambas as glândulas. Entretanto, em cerca de 10-15% dos casos, o tumor pode se desenvolver fora das glândulas adrenais, em locais chamados de paragangliomas. Esses paragangliomas podem estar localizados em outras partes do corpo, como abdome, tórax, cabeça e pescoço. 5 Radiofármacos com técnicas de imagem nuclear também podem ajudar a localizar feocromocitomas. A cintilografia está avançando rapidamente e cada vez mais o MIBG I-123 está sendo substituído por PET com dotatato de Gálio-68. 4. Em relação ao caso clínico mostrado anteriormente, antes de realizar a adrenalectomia, o paciente precisou de um tratamento farmacológico para estabilizar a pressão arterial e assim evitar complicações. O paciente fez uso de prazosina, um bloqueador alfa 1 seletivo. Quais os efeitos que esse medicamento exerce? Dentre os principais efeitos, tem-se: • Efeitos Gerais: adinamia, fraqueza (astenia); • Efeitos no Sistema Nervoso Central e Periférico: tontura (desmaio), cefaleia; • Efeitos Gastrintestinais: náuseas; • Frequência e Ritmo Cardíaco: bradicardia; • Psiquiátrico: sonolência; • Cardiovascular: angina do peito, edema, hipotensão, hipotensão ortostática, síncope; • Urinário: incontinência, aumento da frequência urinária. A prazosina é um medicamento amplamente utilizado no tratamento da hipertensão arterial e de outras condições relacionadas ao sistema cardiovascular. Classificada como um antagonista dos receptores adrenérgicos alfa-1, essa substância atua bloqueando a ativação desses receptores encontrados em diversos tecidos do organismo. Seu mecanismo de ação reside na sua capacidade de se ligar aos receptores adrenérgicos alfa-1, impedindo que sejam ativados pelos neurotransmissores, como a noradrenalina. Essa interação bloqueadora resulta em uma série de efeitos positivos no corpo. Um dos principais efeitos da prazosina é a vasodilatação periférica, ou seja, a dilatação dos vasos sanguíneos localizados na periferia do corpo. Isso leva a uma redução da resistência vascular periférica e, consequentemente, à diminuição da pressão arterial. Essa propriedade torna a prazosina especialmente útil no tratamento da hipertensão arterial, pois auxilia no controle da pressão elevada, que foi o caso do paciente mencionado. Além disso, a prazosina também possui um efeito de relaxamento sobre o músculo liso presente em diversas estruturas corporais, como os músculos da próstata, uretra e trato gastrointestinal. Esse relaxamento muscular pode proporcionar alívio aos pacientes que sofrem de condições como hiperplasia prostática benigna (HPB) e síndrome do trato urinário inferior, 6 reduzindo os sintomas associados a essas condições. Outro efeito relevante da prazosina é a redução dos sintomas relacionados à hiperatividade do sistema nervoso simpático. Ao bloquear os receptores adrenérgicos alfa-1, ela diminui a ativação desse sistema, que é responsável pela resposta ao estresse. Dessa forma, a prazosina pode reduzir sintomas como ansiedade, tremores e palpitações, proporcionando um efeito calmante e tranquilizante, visto que alguns desses são sintomas da própria doença de Feocromocitoma. 7 REFERÊNCIAS GREENSPAN, Francis S.; GARDNER, David G. Endocrinologia básica e clínica. In: Endocrinologia básica e clínica. 2013. Goodman & Gilman. As bases farmacológicas da terapêutica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019. GUYTON, Arthur Clifton. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. KATZUNG, Bertram G; TREVOR, Anthony J. Farmacologia – Base e Clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. PEREIRA, Maria Adelaide A. et al. Feocromocitoma. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia. v. 48, p. 751-775, 2004. PEREL, Cecilia. Feocromocitoma. Insuficiencia Cardiaca, v. 9, n. 3, p. 120-133, 2014. VILAR, L. Endocrinologia clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
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