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CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Revisão de Registros e os Dados Disponíveis no Início do Caso e Anamnese Comportamental Aída Brito Nesta aula, serão abordados temas e ferramentas que estarão presentes na avaliação inicial do sujeito, ou seja, a pré-avaliação. Alguns aspectos importantes devem ser citados: a disciplina de avaliação comportamental servirá como base para todas as etapas, desde o primeiro contato com o sujeito e sua família até a intervenção. Portanto, tal disciplina será constituída por 05 módulos principais, sendo o primeiro referente ao processo de PRÉ- AVALIAÇÃO. Durante os módulos, serão citados alguns protocolos de avaliação, mas não serão apresentados de forma detalhada, sendo necessário buscar aprofundar-se em materiais e formações complementares, fundamentais para o conhecimento e aplicação eficaz e ética dos protocolos. 1. Pré-Avaliação – Do que Se Trata A pré-avaliação é caracterizada enquanto processo de entrada do avaliador no caso e na casa do sujeito que será avaliado, ou seja, o avaliador terá contato com o indivíduo, com o seu contexto natural, com a sua família, seu diagnóstico, seus antecedentes históricos, demandas, potencialidades e, também, com as expectativas da família e/ou do sujeito etc. Tal momento é marcado, inicialmente, pela acolhida e pela coleta de informações. É necessário que o avaliador seja receptivo e reforçador para a família e para o sujeito que passará pela avaliação. Conforme Cooper, Heron e Heward (2014, p. 69): A Análise do Comportamento Aplicada está preocupada em produzir melhorias previsíveis e replicáveis no comportamento. No entanto, não basta qualquer comportamento: analistas de comportamento aplicados melhoram comportamentos socialmente importantes que tenham significado imediato e duradouro para a pessoa e para aqueles que com ela interagem. CBI of Miami 4 Portanto, é possível compreender a importância de que seja realizada a pré-avaliação, cujo objetivo serão os já citados anteriormente – conhecer o sujeito, seu contexto natural, suas habilidades, suas expectativas e suas demandas, para que assim, o avaliador possa escolher o protocolo de avaliação mais indicado para o caso. Cooper, Heron e Heward (2014), chamam a atenção dos profissionais responsáveis pela avaliação, afirmando que tal processo não deve estar centralizado apenas na descrição e classificação das habilidades que o sujeito apresenta ou de suas deficiências. Mas, sobretudo, os profissionais devem atentar-se em compreender a função do comportamento e o que ele trará como consequências para o sujeito. (HARVEY, LUISELLI, WONG, 2009; CAMARGO, RISPOLI, 2013). Os dados que serão obtidos irão fornecer ao avaliador uma espécie de roteiro, guiando-o para uma forma mais direta e eficaz de intervenção. Portanto, o processo de avaliação envolverá uma variedade de ferramentas e métodos, sendo dividido entre: observações diretas e indiretas, nas quais poderão ser utilizadas as entrevistas, listas de verificação, testes e observações diretas (HARVEY, LUISELLI, WONG, 2009; COOPER, HERON, HEWARD, 2014). Além disso, o processo avaliativo contará com algumas fases, conforme apresentam Cooper, Heron e Heward (2014), como sendo: a triagem, a definição de critérios de realização desejados, a identificação de comportamentos alvos, monitoramento do progresso e acompanhamento. Para que sejam alcançadas tais informações e etapas consideradas fundamentais no processo de avaliação comportamental, o analista do comportamento se beneficiará de algumas ferramentas, conforme foram citadas anteriormente, visando facilitar a compreensão do sujeito como um todo e, também, o contexto o qual ele está inserido. Dessa forma, a seguir serão apresentadas tais ferramentas e as suas funcionalidades/objetivos. CBI of Miami 5 1.1. Ferramentas Utilizadas na Avaliação Comportamental • Entrevistas A entrevista será um dos primeiros recursos utilizados na avaliação comportamental, podendo ser entrevistado tanto o sujeito que será avaliado (entrevista direta), quanto pessoas próximas e significativas (entrevista indireta), as quais poderão fornecer informações importantes para o processo avaliativo, bem como para futuras intervenções. A partir da entrevista, o avaliador identifica possíveis comportamentos- alvos, os quais serão analisados com relação a sua importância para a futura intervenção com o sujeito. Portanto, após a entrevista inicial e com a lista de possíveis comportamentos-alvos em mãos, o avaliador poderá fazer uma observação direta, ou seja, com o sujeito, para selecionar os alvos que serão vitais para a eficácia da intervenção. Dessa forma, o analista do comportamento poderá observar em ambiente natural as variáveis dos comportamentos do sujeito. Portanto, Cooper, Heron e Heward (2014), indicam alguns tipos de perguntas que irão auxiliar na elaboração de hipóteses acerca das funções dos comportamentos observados, o que é necessário para que resulte em um bom planejamento das intervenções a serem realizadas. Tais perguntas irão contribuir para a melhor definição da função do comportamento, sendo assim, será levado em consideração informações, como: o quê, como, onde, com quem, qual a intensidade e frequência da ocorrência dos comportamentos descritos. Além da compreensão acerca dos comportamentos emitidos e das possíveis funções que os mantém, o avaliador também deverá levar em consideração as possibilidades e dificuldades apresentadas pela família ou pessoas significativas na vida do sujeito, as quais contribuirão na implementação da intervenção. Portanto, a entrevista possibilitará uma linha de base acerca do sujeito e da família, compreendendo as condições ambientais, bem como o repertório do paciente. (COOPER, HERON, HEWARD, 2014; CAMARGO, RISPOLI, 2013). CBI of Miami 6 • Listas de Verificação As listas de verificação ou as chamadas “escalas de verificação”, são ferramentas utilizadas para avaliar determinados comportamentos ou habilidades/áreas importantes para a vida do sujeito. Tais listas são respondidas em escalas “likert”, ou seja, sendo respondida por níveis, considerando os antecedentes, consequências, intensidade e frequência dos comportamentos em questão. Tal ferramenta auxiliará o avaliador na verificação de comportamentos que deverão ser analisados diretamente com o sujeito, de forma intensiva (COOPER, HERON, HEWARD, 2014). Alguns exemplos de escalas de verificação, são: • Lista de verificação de comportamento infantil (CBCL); • Escala de comportamento adaptativo – Escola (ABS-S); • Escala de comportamento adaptativo (ABS – RC); As listas de verificação devem ser aplicadas por um profissional responsável e que tenha conhecimento na área, mas também poderá ser registrado pelo próprio sujeito, caso seja possível, ou por familiares/pessoas significativas, desde que tenham convívio com o sujeitoque está sendo avaliado. Ao final do registro serão analisados os scores indicados para cada comportamento/habilidade e, dessa forma, será feito o cálculo que indicará o resultado do funcionamento global do sujeito (SILVA, 2017), o que virá a contribuir no delineamento de metas para a intervenção. • Observação Direta As observações diretas, como o próprio título indica, serão observações feitas diretamente com o indivíduo, ou seja, analisando os seus comportamentos e todas as variáveis presentes no contexto, em tempo real. Um dos possíveis tipos de observação é a chamada “observação anedótica”, apresentada pelos pesquisadores Bijou, Peterson e Ault, em 1968, os quais foram mencionados por Cooper, Heron e Heward (2014). Esta observação tem como característica principal a descrição meticulosa dos comportamentos do sujeito e, portanto, torna-se necessário a dedicação total do avaliador ao contexto e ao sujeito que será avaliado. (COOPER, HERON, HEWARD, 2014). CBI of Miami 7 Dessa forma, será feito o registro detalhado de todos os comportamentos considerados significativos, interesses do sujeito, condições ambientais, antecedentes e consequências que motivam ou mantêm o comportamento. Para que seja feito o registro, o avaliador poderá contar com o auxílio de formulários ABC para que possa apresentar as informações que foram observadas e que são importantes. Entretanto, para que o avaliador possa se utilizar desse tipo de registro, será necessário estar inteiramente focado no sujeito e o que acontece com ele. Assim sendo, o profissional deverá descrever o que o sujeito fez, o que acontece, os antecedentes e as consequências e, também, a duração dos comportamentos emitidos. Além da necessidade de que o avaliador esteja atento ao sujeito, é também necessário e indicado a discrição no momento de registro, evitando que o indivíduo perceba que está sendo analisado e busque se comportar de modo diferente ao habitual. • Comportamentos-Alvos Reunindo todas as informações selecionadas através de entrevistas e avaliações diretas, o analista do comportamento irá selecionar comportamentos-alvos que deverão estar em treino. Entretanto, na escolha desses comportamentos-alvos, deve-se levar em consideração a perspectiva e opinião dos pacientes, de seus familiares/responsáveis ou qualquer outra pessoa que possa ser afetada. Os alvos selecionados para intervenção, devem ser escolhidos em benefício do sujeito, levando em consideração o que será significativo para a sua vida, não devendo optar apenas pelo que é favorável para terceiros. (COOPER, HERON, HEWARD, 2014; CAMARGO, RISPOLI, 2013). À vista disso, Cooper, Heron e Heward (2014), apresentam um ponto fundamental que deve ser ponderado nas escolhas dos alvos comportamentais: “Até que ponto a mudança de comportamento proposta melhorará a experiência de vida da pessoa?” (p.76). A partir desse questionamento, o avaliador poderá estar atento à sua prática e às suas escolhas, verificando, de forma ética e precisa, o melhor trajeto a ser proposto para o sujeito. Para isso, o profissional deve ser receptivo ao que o paciente CBI of Miami 8 poderá propor ou os seus familiares/pessoas significativas. Além destes, outros pontos devem ser observados: O analista do comportamento deve ter repertório adequado e, também, familiaridade com os alvos que serão propostos para treino; deve ser possível mensurar os resultados; deve ser aplicável e poderá estar inserido em atividades habilitatórias; deve estar de acordo com as necessidades do sujeito e com o que é socialmente relevante; analisar se o comportamento selecionado será reforçado no dia a dia do sujeito, mesmo que na ausência de intervenção; observar se é um comportamento que será pré-requisito para outros, assim como dará acesso à novos ambientes; ponderar se tais comportamentos auxiliarão na interação apropriada com outros, assim como deve ser um comportamento apropriado para a idade do paciente (COOPER, HERON, HEWARD, 2014). Junto a avaliação comportamental e a seleção de comportamentos-alvos, o analista também deverá se concentrar em realizar uma análise funcional dos comportamentos, o que é imprescindível em todo o processo já que, além de buscar os alvos, também será necessário avaliar funcionalmente os comportamentos problema que passam a aparecer durante a avaliação e, possivelmente, surgirão durante a intervenção. (HARVEY, LUISELLI, WONG, 2009; COOPER, HERON, HEWARD, 2014). Porém, ao identificar tais comportamentos, o avaliador não poderá apenas propor a eliminação destes do repertório do sujeito, mas sim, deverá analisar e propor comportamentos substitutivos e adequados. Para além destes pontos, também será necessário estar atento às expectativas do paciente/família acerca dos comportamentos desejados ou metas. Possivelmente os familiares ou até mesmo o paciente poderão apresentar algumas metas desejadas, como, por exemplo, emagrecer. Emagrecer não se trata de um comportamento, mas sim um objetivo ou meta e, para que se cumpra, é necessário destrinchá-lo em cadeias que o auxiliarão na chegada desse objetivo. Para isso, o avaliador deverá estar atento às particularidades de cada sujeito com relação às suas expectativas e quais são os reais objetivos. A exemplo disso, Cooper, Heron e Heward, afirmam que: CBI of Miami 9 Selecionar comportamentos-alvo que ajudarão os clientes ou alunos a atingir esses tipos de objetivos é ainda mais difícil do que sugere sua complexidade, porque os próprios objetivos muitas vezes significam coisas diferentes para pessoas diferentes. Ser um sucesso pode acarretar uma grande variedade de comportamentos. Uma pessoa pode ver o sucesso em termos de renda e cargo. Por outro lado, sucesso pode significar satisfação no trabalho e bom uso do tempo de lazer. Um papel importante do analista do comportamento durante a avaliação e identificação do comportamento alvo é ajudar o cliente a selecionar e definir comportamentos pessoais, cuja soma resultará na avaliação do cliente e de outros seu repertório da maneira pretendida (p. 81). Encerrado esse passo da avaliação, ou seja, a identificação e listagem dos comportamentos alvos, é chegada mais uma etapa crucial na avaliação: identificar a prioridade dos alvos listados. Portanto, considerando o fato de ser uma tomada de decisão importante e fundamental na vida do sujeito, o avaliador deverá fazer alguns questionamentos que o auxiliará a fazer tais escolhas de forma mais fidedigna e comprometida às demandas e expectativas do sujeito e seus familiares/responsáveis, sendo estes: 1) O comportamento apresenta algum perigo ao sujeito ou aos outros?; 2) Esse comportamento é o mais relevante atualmente?; 3) Ao mudar o comportamento, o sujeito terá uma alta taxa de reforço?; 4) Qual a importância desse comportamento na vida do sujeito?; 5) O novo comportamento irá contribuir para reforçar outros alvos significativos?; 6) Qual a probabilidade de que esse comportamento seja passível de mudança? Além destes, o avaliador também deverá se questionar sobre a sua expertise profissional, levar em consideração as possibilidades e recursos apresentados pela família, as variáveis ambientais e, também, quanto tempo poderá ser necessário para que o sujeito adquira tais comportamentos. A partir de então, o analista do comportamento poderá tomar a decisão de qual protocolo irá usar para avaliar e, depois, intervir, compreendendo o porquê escolheu tal protocolo. CBI of Miami 10 2. Avaliação de Preferências e de Reforçadores Nesta aula,será abordada uma das ferramentas que deverá estar presente tanto no processo de avaliação quanto, também, estará vinculada às intervenções em ABA: a sondagem das preferências do sujeito. Portanto, o objetivo dessa aula é de que os alunos possam compreender: 1) Do que se trata a avaliação de preferências e de reforçadores; 2) Compreender a importância da avaliação de preferências e de reforçadores durante a pré- avaliação e, também, durante todo o percurso de intervenção; 3) Distinguir a diferença entre as preferências e o que, de fato, será reforçador para o sujeito; 4) Perceber a importância do uso de reforçadores na terapia para que se tenha o aumento da emissão dos comportamentos desejados/treinados; 5) Identificar e conhecer quais os métodos de avaliação de preferências e reforçadores; 6) Compreender e identificar qual o método adequado para avaliar as preferências e quais os seus possíveis reforçadores para cada sujeito, analisando as vantagens e desvantagens de cada um deles. 2.1. Avaliação de Preferências e de Reforçadores: Do que Se Trata? É sabido que todo comportamento produz consequências ao ser emitido e, portanto, tais consequências poderão aumentar ou diminuir a frequência da emissão dele em uma ocasião futura. Quando a consequência dada ao sujeito colabora para que o comportamento seja emitido mais vezes, ou seja, a frequência, duração ou intensidade aumente, dizemos que tal comportamento foi reforçado. Dessa forma, para que ocorra o ensino e a manutenção de repertórios comportamentais, é necessário que tais comportamentos sejam reforçados e, consequentemente, aumente a probabilidade de que eles voltem a serem emitidos no futuro. Nesse sentido, nos deparamos com a importância de conhecer o sujeito, as suas preferências e quais são as consequências que provavelmente auxiliarão no aumento da ocorrência de certos comportamentos, o que é fundamental para uma intervenção comportamental efetiva. Os reforçadores podem ser uma grande variedade de itens e até mesmo eventos – alimentos, atenção, brinquedos etc. Alguns serão demandados por questões naturais/biológicas, os chamados “reforçadores intrínsecos”, como CBI of Miami 11 sendo: a água, quando se está com sede; a comida, quando se está com fome; a soneca, quando se está com sono ou quando o próprio comportamento é reforçador para o sujeito. Como exemplo, podemos citar uma situação em que o indivíduo gosta de ler e ao ler acaba sendo reforçado, visto que aumenta a possibilidade de que o comportamento de leitura surja em outros momentos. Enquanto outros, os chamados “reforçadores extrínsecos”, serão inseridos de forma arranjada e planejada para cada sujeito, levando em consideração as suas preferências e demais aspectos considerados fundamentais para a escolha de um reforçador. (GOMES, C.G.S; SILVEIRA, A.D., 2016). Nessa perspectiva, torna-se importante enfatizar que o que pode ser reforçador para um sujeito, poderá não ser para o outro. Assim como o que pode ser reforçador para uma pessoa em um determinado contexto, poderá não ser, para ele, em outra situação. Portanto, percebe-se a necessidade de que seja realizada uma avaliação de itens de preferência e de reforçadores, visando uma intervenção eficaz. Dessa forma, existem alguns métodos utilizados para auxiliar os profissionais a avaliarem e identificarem quais os possíveis itens reforçadores de um indivíduo, podendo ser feita de duas maneiras: avaliação indireta e direta. Quando se fala em uma avaliação “indireta”, refere-se a checklists, questionários, entrevistas estruturadas ou semiestruturadas realizadas com terceiros, ou seja, pais, responsáveis ou terapeutas/profissionais que acompanham o paciente, não havendo uma observação direta do sujeito. Tal método irá contribuir para que se possa levantar informações necessárias sobre o paciente nos contextos naturais dele, sendo listado os seus interesses mais frequentes e atividades preferidas, além de outras informações que possam ser necessárias durante a avaliação. (SILVA, F.S.; PANOSSO, M.G.; BEN, R.D, 2017). As ferramentas de avaliação indireta auxiliarão na avaliação direta, mas não devem ser consideradas únicas e suficientes, visto que ambas se complementam e só a partir da avaliação direta é que poderá ser feita a hierarquização dos itens de preferência para cada indivíduo. Conforme apresentam as autoras Sella e Ribeiro (2018), a avaliação indireta apresenta algumas vantagens, sendo: 1) a aplicação rápida, comparada a avaliação direta; 2) não é necessário que o aplicador seja CBI of Miami 12 treinado para tal avaliação, visto que dependerá mais de uma rememoração do que, cotidianamente, é mais utilizado pelo sujeito; 3) não é necessário a aquisição de novos itens para serem apresentados ao paciente. No entanto, também estará presente algumas desvantagens. Com relação a isso, podemos citar que ao ser feita a avaliação indireta, comumente os avaliadores acabam por se deparar com a pouca correspondência do que os responsáveis dizem ser os itens preferidos do paciente, com o que de fato é. Porém, ainda assim é importante que sejam realizadas as duas etapas da avaliação – indireta e direta. Inicialmente deverá ser feita a avaliação indireta, obtendo uma listagem dos possíveis reforçadores, o que auxiliará na avaliação direta e na hierarquização destes itens. Posteriormente, com tais possíveis reforçadores em mãos, deverá ser feita a avaliação direta, analisando com o próprio sujeito o que para ele é reforçador. A avaliação direta, portanto, será a avaliação que terá como base o desempenho direto do paciente, ou seja, a principal fonte de informação será o sujeito que será avaliado a partir de sua interação livre com os seus itens de preferência e o seu ambiente natural, bem como a partir de situações mediadas pelo avaliador, onde a interação com esses itens ocorrerão a partir da instrução fornecida pelo profissional – métodos por tentativas. 2.2. Métodos Baseados em Tentativas – Quais São e Quais Utilizar? Conforme mencionado anteriormente, existem alguns métodos utilizados na avaliação de itens de preferência e reforçadores. Para que possa ser feita a avaliação, inicialmente será necessário que o avaliador observe o ambiente em que será aplicada e, também, o repertório do sujeito, visando identificar qual será o método mais adequado. Dessa forma, os métodos comumente utilizados durante o processo de avaliação, são: Avaliação de preferência com estímulo único; Avaliação de preferências com pares de estímulos; Avaliação de preferência com múltiplos estímulos sem reposição e a Avaliação de preferências por operante livre (SILVA, F.S.; PANOSSO, M.G.; BEN, R.D, 2017; RIBEIRO, D.M.; SELLA, A.C., 2018). CBI of Miami 13 2.3. Avaliação de Preferência com Estímulo Único A avaliação de preferência com estímulo único ocorre como o próprio título remete, ou seja, será apresentado ao sujeito um estímulo por vez. Nesse sentido, as instruções para esse tipo de avaliação é de que o paciente esteja atento às instruções e que o ambiente esteja organizado, estando disponível os itens que serão apresentados ao paciente – os quais foram listados na avaliação indireta. Dessa forma, será apresentado o suposto item reforçador e o avaliador terá de observar entre 10 e 15 segundos qual foi a resposta emitida pelo sujeito avaliado. Caso o participante manipule o item, dentro do tempo estipulado, deverá ser observado e registrado o tempo que ele passa com o objeto. Se porventura o participante não manipular e nem se aproximar do item proposto, o avaliador poderá dar o modelo de como manusear e registrarcaso tenha tido ou não o contato. Ao finalizar a apresentação de todos os itens propostos, deverá ser feita uma nova rodada de apresentação, registrando novamente o tempo de contato do participante com cada objeto, comparando a avaliação inicial. Conforme indica Silva, Panosso e Ben (2007, p.95), tal comparação “aumenta a confiabilidade da AIP ao indicar se a preferência foi a mesma durante as duas apresentações ou se ela aumentou ou diminuiu ao longo das apresentações”. Como pré-requisito, o participante deve ser capaz de seguir instruções, assim como de manter contato visual com os itens que estarão à mostra. Tal avaliação é indicada para casos de participantes que são mais comprometidos, demonstram pouca interação com os reforçadores, apresentam dificuldade de escolha e de rastreio visual. As vantagens desse método de avaliação é de que serão apresentados estímulos únicos ao sujeito, evitando a escolha entre dois ou mais, além de que, possibilita uma redução da probabilidade de comportamentos desafiantes. Já com relação as desvantagens, incluem o que as autoras Sella e Ribeiro (2018) citam como “falsos positivos”, visto que os participantes irão interagir com os itens propostos, já que não terão outros disponíveis, o que dificulta na identificação do que, de fato, é reforçador. Além disso, o avaliador também irá se deparar com a instabilidade da preferência e com a dificuldade de estabelecer a hierarquização dos reforçadores. CBI of Miami 14 2.4. Avaliação de Preferência com Pares de Estímulos A avaliação de preferência com pares de estímulos ocorre como o próprio título remete, ou seja, são apresentados ao sujeito dois estímulos por vez, a partir de várias combinações de itens, em duplas, as quais já serão pré- estabelecidas pelo avaliador, visando a não apresentação consecutiva de algum item. Nesse sentido, as instruções para esse tipo de avaliação é de que o paciente esteja atento às instruções e que o ambiente esteja organizado, estando disponível os itens que serão apresentados ao paciente – os quais foram listados na avaliação indireta. Caso o participante não conheça os itens que virão a ser expostos, poderão ser dispostos para o manuseio durante a avaliação, de forma individual. Após esse primeiro momento, o avaliador irá retirar os itens da mesa e formará as duplas dos itens que deverão ser apresentados. Com isso, o participante deverá seguir a instrução de escolher um dos itens e, assim, o avaliador irá registrar qual o item escolhido e observar o manuseio do participante com o objeto por até 30 segundos. Caso o participante tente pegar os dois objetos, esse comportamento será bloqueado. Já se o participante vier a não demonstrar interesse para com nenhum dos objetos, ambos serão retirados, será registrado essa resposta e, em seguida, serão apresentados dois novos itens. A apresentação das duplas de itens deverá ser apresentada randomicamente, ou seja, evitando que o mesmo item seja apresentado repetidamente e de forma consecutiva. Então, “a porcentagem de preferência por cada um dos itens é calculada pela divisão do número de vezes em que ele foi escolhido pelo número de vezes em que ele foi apresentado, multiplicado por 100” (SELLA, A.C.; RIBEIRO, D.M., 2018, p.112). Dessa forma, a preferência poderá ser classificada a partir do resultado desse cálculo, definindo-a enquanto alta, média ou baixa. Como pré-requisito, o participante deve ser capaz de seguir instruções, manter-se sentado, tolerar o tempo de avaliação e apresentar pouco comportamento disruptivo. Tal avaliação é indicada para casos de participantes que têm muitos itens de preferência e de quando que é necessário identificar a hierarquia desses itens enquanto reforçadores. As vantagens desse método de CBI of Miami 15 avaliação é de que é possível ter uma hierarquia de reforçadores, ou seja, identifica-se quais são os de alta magnitude para o sujeito. Além disso, a avaliação com pares de estímulos se assemelha à escolha de itens em ambiente natural, onde o sujeito terá a possibilidade de escolher e discriminar o seu item preferido dentre outros presentes no ambiente. Com relação às desvantagens, tem-se a longa duração da avaliação, o que acaba por demandar mais do participante. Dessa forma, facilita a emissão de comportamentos inadequados. 2.5. Avaliação de Preferência com Múltiplos Estímulos Sem Reposição A avaliação de preferência com múltiplos estímulos sem reposição ocorre quando o avaliador dispõe sobre a mesa alguns estímulos, por volta de 07 itens. Dessa forma, será instruído ao participante a escolher um dos itens expostos – “Qual desses você mais quer?”. Ao ser selecionado, o participante terá a oportunidade de manusear o item escolhido por até 30 segundos. Após o manuseio, o item será retirado da mesa e serão dispostos os demais, alterando a sequência destes. Dando prosseguimento, serão feitas as demais tentativas. Caso o participante tente pegar mais de um item, será bloqueado. No caso de não escolher nenhum dos itens disponíveis, será registrado como “ausência de escolha”. Tal processo se repete até que todos os itens sejam selecionados e o registro deverá ser feito seguindo a ordem das escolhas. Ao final das tentativas, deverá ser feito o cálculo da hierarquia de preferência. Para isso, conforme Silva, Panosso e Ben (2017) instruem, “some o número de vezes nas quais o participante escolheu cada item e o dívida pela soma do número de vezes em que o item esteve disponível; por fim, multiplique o resultado por 100%” (p.99), assim, aquele com maior porcentagem será o reforçador de alta potência. Como pré-requisito, o participante deve ser capaz de seguir instruções, manter-se sentado, tolerar o tempo de avaliação e apresentar pouco comportamento disruptivo. Tal avaliação é indicada para casos de participantes que têm muitos itens de preferência e de quando que é necessário identificar a hierarquia desses itens enquanto reforçadores. As vantagens desse método de avaliação, semelhante ao anterior, é de que é possível ter uma hierarquia de CBI of Miami 16 reforçadores, ou seja, identifica-se quais são os de alta magnitude para o sujeito. Além disso, a avaliação se torna mais rápida, visto que serão apresentados todos os itens de uma só vez. Com relação às desvantagens, tem-se a apresentação de todos os itens preferidos do sujeito e a possibilidade da emissão de comportamentos inadequados, em virtude da demanda de escolha entre vários itens e, também, do acesso interrompido após um certo período. 2.6. Avaliação de Preferência com Múltiplos Estímulos com Reposição A avaliação de preferência com múltiplos estímulos com reposição ocorre de forma muito semelhante a anterior, sendo a única diferença a reposição do item escolhido. Quando o avaliador dispõe sobre a mesa alguns estímulos, por volta de 07 itens, será instruído ao participante a escolher um dos itens expostos – “Qual desses você mais quer?”. Ao ser selecionado, o participante terá a oportunidade de manusear o item escolhido por até 30 segundos. Após o manuseio, o item será recolocado sobre a mesa, assim como os demais. Dando prosseguimento, serão feitas as demais tentativas. Caso o participante tente pegar mais de um item, será bloqueado. No caso de não escolher nenhum dos itens disponíveis, será registrado como “ausência de escolha”. A vantagem desse método de avaliação é que o procedimento é mais curto, em comparação aos anteriores. Entretanto, tal método apresenta algumas desvantagens, como o que é chamado de “falsos negativos”, ou seja, o participante pode sempre escolher o mesmo item e, ao não haveruma variabilidade das escolhas, dificulta a identificação da hierarquização dos itens. 2.7. Avaliação de Preferência de Operante Livre A avaliação de preferência de operante livre ocorre de forma diferente das anteriores, sendo um método de avaliação menos estruturado, observando os itens de preferência do sujeito na sua rotina e contexto natural. Dessa forma, não há uma restrição com relação ao tempo disponível para cada item e nem dos itens que serão manuseados pelo participante. O avaliador irá registrar o tempo em que a pessoa permanece engajada com determinados CBI of Miami 17 objetos ou situações, não havendo remoção dos itens, ocorrendo isto apenas após o término da avaliação. As vantagens observadas a partir desse método é de que possui uma baixa probabilidade de que o participante emita comportamentos inadequados, visto que terá acesso irrestrito aos seus itens de preferência e, também, o curto período de avaliação. Já com relação às desvantagens, tem-se a dificuldade em identificar a hierarquia de preferência e a possibilidade de saciação dos itens, já que o participante terá um acesso contínuo e ininterrupto durante a avaliação. 3. Escolha do Protocolo de Avaliação Após ser realizada a pré-avaliação, o avaliador partirá para a seleção de comportamentos-alvos que deverão estar em treino. Como já explicitado na aula anterior, para que o profissional possa selecionar quais serão os comportamentos-alvos, este deverá levar em consideração as habilidades já conquistadas e as que precisarão ser trabalhadas, ou seja, analisando o repertório atual do sujeito. Além disso, também deverá ser observado a perspectiva e opinião dos pacientes, de seus familiares/responsáveis ou qualquer outra pessoa que possa ser afetada. Dessa forma, os alvos selecionados para intervenção, devem ser escolhidos em benefício do sujeito, levando em consideração o que será significativo para a sua vida, não devendo optar apenas pelo que é favorável para terceiros. (CAMARGO, RISPOLI, 2013; COOPER, HERON, HEWARD, 2014; MARTIN, G., PEAR, J., 2018). Portanto, durante o processo de avaliação, tais pontos devem ser observados: O analista do comportamento deve ter repertório adequado e, também, familiaridade com os alvos que serão propostos para treino; expertise com o protocolo que será aplicado; deve ser possível mensurar os resultados; deve ser aplicável e estar inserido em atividades habilitatórias; deve estar de acordo com as necessidades do sujeito e com o que é socialmente relevante; analisar se o comportamento selecionado será reforçado no dia a dia do sujeito, mesmo que na ausência de intervenção; observar se é um comportamento que será pré-requisito para outros, assim como dará acesso à novos ambientes; ponderar se tais comportamentos auxiliarão na interação CBI of Miami 18 apropriada com outros, assim como deve ser um comportamento apropriado para a idade do paciente (COOPER, HERON, HEWARD, 2014). Para que sejam identificados e listados os comportamentos alvos necessários para a construção do currículo individualizado do sujeito, o analista deverá utilizar-se de protocolos ou seja, manuais de avaliação, tais como o VB- MAPP, ABLLS, AFLS, PEAK, PORTAGE, entre outros, sendo estes os mais conhecidos e usuais. Dessa forma, tais protocolos, possibilitam a avaliação global e específica do sujeito, permitindo com que o avaliador determine quais as habilidades que estão presentes e quais estão ausentes, além de fornecer “uma direção para a intervenção (...) e um sistema de rastreamento de aquisição das habilidades da criança”. (MARTONE, 2017, p.16) Os instrumentos de avaliação geralmente são compostos por perguntas com possibilidades de respostas do tipo “sim” e “não” ou escalas likert, visando mensurar quais os comportamentos o sujeito apresenta e quais não, ou seja, condizente ao seu repertório. Dessa forma, estas podem ser aplicadas com o auxílio de cuidadores, os quais responderão sobre o repertório comportamental do sujeito ou pela própria pessoa avaliada, em uma avaliação direta. Portanto, a aplicação dos manuais de avaliação deverá ser feita por profissionais que tenham conhecimento robusto acerca do protocolo escolhido e domínio dos princípios comportamentais. A partir do manual selecionado, o profissional poderá avaliar diversas habilidades que vão conduzir o tratamento para diferentes caminhos, como: treino de linguagem, alfabetização, brincar, habilidades sociais etc., seguindo de acordo com a demanda do sujeito. Compreende-se, portanto, a importância de escolher um protocolo adequado para cada caso, o qual deve ser escolhido a partir das deficiências apresentadas ao longo do seu desenvolvimento e do seu repertório atual. Como exemplo, podemos pensar na seguinte situação: uma criança de 4 anos que não apresenta habilidades básicas como, sentar, olhar, seguir instruções, discriminações simples, imitação, entre outras. Nesse caso, o avaliador deverá identificar e selecionar um protocolo que possibilite avaliar, bem como trabalhar tais habilidades como, por exemplo, o Portage ou VB-MAPP. CBI of Miami 19 Para isso, o avaliador deverá ter conhecimento prévio acerca dos manuais existentes e possíveis de serem aplicados, observando quais são as habilidades avaliadas, os comportamentos esperados, além da faixa etária proposta. Entretanto, a idade não deve ser o fator inclusivo ou excludente para o uso de um determinado protocolo, mas sim o repertório do sujeito. A idade deve ser considerada como um aspecto importante para nortear quais as habilidades que um sujeito em desenvolvimento típico está adquirindo, possibilitando com que haja uma contribuição para elencar os objetivos a serem trabalhados. Portanto, abaixo serão elencadas algumas questões que poderão ser norteadoras para a escolha do protocolo: • Quais as demandas/dificuldades que ele(a) apresenta? • Quais as habilidades que ele(a) apresenta a princípio? • Qual o nível que o sujeito apresenta - Básico, intermediário ou avançado? • O sujeito se comunica? • Apresenta algum comportamento desafiador? • Apresenta dificuldades para realizar atividades sozinho? • A família te procura para quais demandas? No próximo módulo, serão apresentados alguns dos protocolos, os seus objetivos e critérios de avaliação. Com isso, os avaliadores poderão estudar mais a fundo cada um destes manuais e, consequentemente, contribuir com a sua prática profissional. Considerações Finais A partir dos conhecimentos aqui discutidos, podemos concluir a importância que os profissionais que atuam diretamente com a ABA possam e devam estudar e identificar quais os melhores métodos a serem aplicados para identificar os possíveis reforçadores dos seus pacientes. Compreendemos, portanto, que o que temos enquanto itens preferidos, não precisamente serão os itens reforçadores e, dessa forma, nota-se a importância e eficácia dos métodos de avaliação de itens de preferência. Além de conhecer os métodos disponíveis e quais as formas de aplicação, é imprescindível de que os CBI of Miami 20 avaliadores e profissionais que acompanham o caso possam conhecer o sujeito e suas preferências, identificando o que os motiva e, portanto, colaborando para que a terapia possa ser mais eficaz e aplicada às demandas do sujeito. Referências Bibliográficas CAMARGO, S.P.H.; RISPOLI, M. 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