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PSICOLOGIA EM SAÚDE PSICOLOGIA EM SAÚDE Psicologia em Saúde Fabiana Gonçalves Felix Jefferson Muniz Nogueira Fabiana Gonçalves Felix Jefferson Muniz Nogueira GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro PSICOLOGIA EM SAÚDE AUTORES FABIANA GONÇALVES FELIX JEFFERSON MUNIZ NOGUEIRA FELIX, Fabiana Gonçalves; NOGUEIRA, Jefferson Muniz. Psicologia em Saúde ISBN: 978-65-81507-19-0 I. Psicologia. II. Saúde. © Ser Educacional 2019 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Fabiana Gonçalves Felix DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. Unidade 1 - A psicologia como ciência: processo histórico e correntes teóricas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Momento histórico de constituição da psicologia: da filosofia a uma ciência independente........................................................................................................................ 13 A psicologia no Brasil ..................................................................................................... 15 A psicologia como ciência: os objetos de estudo e seus métodos ............................ 18 As principais escolas modernas da psicologia ............................................................. 21 Behaviorismo ................................................................................................................... 21 Psicanálise ....................................................................................................................... 25 Gestalt ............................................................................................................................... 29 Humanista ......................................................................................................................... 33 Sintetizando ........................................................................................................................... 36 Referências bibliográficas ................................................................................................. 38 Sumário Unidade 2 - O processo de desenvolvimento humano: da concepção ao fim da vida Objetivos da unidade ........................................................................................................... 40 Conceitos básicos do desenvolvimento humano ........................................................... 41 Contexto do desenvolvimento humano ........................................................................ 43 Teorias do desenvolvimento ............................................................................................... 44 Perspectiva psicanalítica ............................................................................................... 44 Perspectiva da aprendizagem ....................................................................................... 47 Perspectiva cognitiva ..................................................................................................... 48 Os ciclos de vida .................................................................................................................. 52 Sintetizando ........................................................................................................................... 72 Referências bibliográficas ................................................................................................. 73 PSICOLOGIA EM SAÚDE 6 Sumário Unidade 3 - Psicologia da saúde, conceituação de saúde pela OMS e o adoecimento e a morte Objetivos da unidade ........................................................................................................... 75 O conceito de saúde da OMS ............................................................................................. 76 Um breve resgate histórico ........................................................................................... 76 O conceito ampliado de saúde e sua repercussão .................................................. 79 A psicologia da saúde ......................................................................................................... 81 Espaços e formas de atuação ....................................................................................... 82 A atuação multiprofissional e interdisciplinar das equipes de saúde ................... 87 O adoecimento e a morte .................................................................................................... 91 O sofrimento do paciente e dos familiares ................................................................. 95 O sofrimento da equipe de saúde ................................................................................. 99 Sintetizando ......................................................................................................................... 101 Referências bibliográficas ............................................................................................... 102 PSICOLOGIA EM SAÚDE 7 Sumário Unidade 4 - O psicólogo e a equipe de saúde Objetivos da unidade ......................................................................................................... 105 O profissional de saúde diante da morte ....................................................................... 106 Os cuidados paliativos .................................................................................................. 106 Os sentimentos da equipe ............................................................................................ 110 A equipe multidisciplinar no hospital ............................................................................ 113 Cuidado em saúde ......................................................................................................... 117 Atenção psicológica com variadas patologias ........................................................ 122 Sintetizando ......................................................................................................................... 125 Referências bibliográficas ............................................................................................... 127 PSICOLOGIA EM SAÚDE 8 Sumário Dedico meu trabalho e meu esforço contínuo a todas as pessoas que encontram nos profissionaisda saúde cuidado, empatia e compromisso. Agradeço ainda a todos os colegas de trabalho que cruzaram meu caminho e partilham diariamente do desejo de um cuidado mais humanizado e justo nos espaços de saúde. saúde e hospitais, mas sua maior de- dicação foi à saúde pública, sua maior paixão. É psicóloga na Prefeitura Mu- nicipal de Blumenau e, como servidora pública, já trabalhou na gestão, assim como na assistência na área da saúde mental, saúde da pessoa idosa e em ambulatório de IST/HIV-AIDS. Atual- mente, está na assistência à saúde da mulher e pacientes fissurados de lábio e palato. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9487271956195456 A professora Fabiana Gonçalves Fe- lix tem formação em Psicologia Cog- nitivo-comportamental pelo Instituto WP – Centro de Psicoterapia Compor- tamental de Porto Alegre (2017) e for- mação em Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa pela Fiocruz (2017). É especialista em Saúde da Família e Comunidade (2013) e especialista em Psicologia e Saúde Mental (2002), e graduada em Psicologia pela Universi- dade Regional de Blumenau (2002). Sua experiência profissional sempre foi na área da saúde, em clínicas de PSICOLOGIA EM SAÚDE 9 A autora PSICOLOGIA EM SAÚDE 10 Dedico este trabalho aos meus pais que sempre batalharam para que eu pudesse estudar e realizar meus sonhos. Tudo o que conquistei até hoje devo a eles e sempre serei grato! O professor Jefferson Muniz No- gueira é graduado em Psicologia pela Universidade Veiga de Almeida (UVA, 2019) e ministra disciplinas da área de Psicologia em cursos acadêmicos. É atuante na área clinica com enfâse em Psicoterapia Breve, Psicodinâmica e Psicodiagnóstico; Psicologia Social e Psicologia Organizacional. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6323630785924262 O autor A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA: PROCESSO HISTÓRICO E CORRENTES TEÓRICAS 1 UNIDADE Objetivos da unidade Tópicos de estudo Desenvolver o entendimento da psicologia como uma ciência; Apresentar o processo histórico de desenvolvimento da psicologia; Apresentar as principais correntes teóricas da psicologia; Possibilitar uma compreensão ampliada sobre a visão de ser humano pelo viés psicológico. Momento histórico de constituição da psicologia: da filosofia a uma ciência independente A psicologia no Brasi A psicologia como ciência: os objetos de estudo e seus métodos As principais escolas modernas da psicologia Behaviorismo Psicanálise Gestalt Humanista PSICOLOGIA EM SAÚDE 12 Momento histórico de constituição da psicologia: da filosofia a uma ciência independente A constituição da psicologia não deriva de somente um momento histórico. Cada época e cada região (continente ou país) fala de um contexto específico. Portanto, conhecer a história da psicologia vai muito além de conhecer vários pensadores notáveis e quais escolas de pensamento norteiam suas práticas. É fundamental o entendimento e a compreensão do contexto histórico que mar- cou cada época do seu surgimento e sua evolução enquanto saber. O conheci- mento dos diferentes caminhos que determinaram o avanço da psicologia faz com que compreendamos o porquê de a psicologia apresentar uma multiplici- dade de teorias (SILVA, 2007). Assim, iniciamos pela compreensão da palavra psicologia. A origem da pa- lavra é oriunda da junção de dois conceitos gregos: psiquê (alma) e logos (razão ou explicação). Na Antiguidade, filósofos gregos interpretavam fenômenos hu- manos como advindos da alma: morte, nascimento, sonhos, delírios etc. Havia todo um interesse em conhecer o ser humano, o que dava início a um processo de tomada de consciência. Quando perceberam que o ser humano se diferen- ciava dos animais, nasceu a ideia de alma. Antes, a alma era vista como um fenômeno em si, individual, independente do corpo, mas relacionada a ele. O comportamento humano era relacionado, então, a manifestações psíquicas ou espirituais. Entretanto, ainda na Idade Antiga, alguns pensadores já especu- lavam uma condição de “mente”, e não de alma. Um deles foi Sócrates, que reconhecia a mente para além da alma – era algo a mais, diferente e enigmá- tico. Platão e Aristóteles, seus alunos, continuaram e reforçaram essa ideia, enfatizando a capacidade de raciocínio do ser humano, denominando-o animal racional (AZEVEDO, 2016). Ao atravessarmos para a Idade Média, o conceito de alma passou a ser subs- tituído pelo de consciência, ainda que este período apresente uma forte religio- sidade, associando consciência cristã e razão filosófica e científica. Pelo fato de a Idade Média ter sido um período muito longo da História, várias fases norteiam toda a evolução do estudo sobre o ser humano e seu comportamento. Estamos, porém, ainda falando de um período em que todas as indagações e respostas partiam da intuição, observações sem qualquer validade científica. PSICOLOGIA EM SAÚDE 13 A entrada na Idade Moderna marcou um período de amplo desenvolvimen- to científico – anatomia, biologia, matemática, astronomia etc. Passou-se a va- lorizar a razão em virtude de descobertas na natureza. Falamos agora de uma fase em que a ciência estava em desenvolvimento, com grande valor ao racio- nalismo e o empirismo. A psicologia começa, então, a separar-se da filosofia, definida como o estudo da mente. Tomando esse rumo histórico, começou, então, a fase da psicologia como ciência. Já estamos na Idade Contemporânea, e a psicologia já não pode mais surgir de especulações. Foi quando, no século XIX, na Alemanha, Wilhelm Wundt criou o Instituto de Psicologia em 1879, e a psicologia passou a ser expe- rimental. A partir daí, avançaram os estudos de várias escolas de pensamento, reafirmando a psicologia como ciência. O Quadro 1 apresenta um resumo das principais escolas de pensamento que contribuíram para a evolução da psico- logia científica. Escola de pensamento Característica Estruturalismo Século XIX O objeto de estudo é a estrutura da consciência por meio da introspecção, em que os próprios pesquisadores descreviam seu estado de consciência após receberem algum estímulo. Funcionalismo Século XIX O objetivo é investigar as funções dos processos mentais para o organismo adaptar-se ao meio ambiente. O método era a observação introspectiva com técnicas como testes, questionários e descrições do comportamento. Associacionismo Século XX Associação entre situações e respostas. Baseia-se na aprendizagem de comportamentos por meio de alguns estímulos. Behaviorismo Século XX Rompe com a psicologia baseada em estudos introspectivos, propondo que o comportamento pode ser observado como um objeto mensurável e modificável. O método é experimental. Gestalt Século XX Faz oposição à fragmentação do ser humano, desconsiderando o reducionismo ao estudo do comportamento. Para a Gestalt, o ser humano deve ser entendido em sua totalidade: o mundo exterior e as percepções do sujeito. Psicanálise Século XX Compreensão do comportamento humano acessando os processos misteriosos do inconsciente, sendo este prioritariamente inacessível. Método: associação livre. Humanismo Século XX Dá ênfase e valor ao ser humano, às suas vontades, e não ao inconsciente e ao ambiente. QUADRO 1. ESCOLAS DE PENSAMENTO DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA E SUAS CARACTERÍSTICAS PSICOLOGIA EM SAÚDE 14 No século XX, marcado por duas grandes guerras, aumenta-se o interes- se pela psicologia em função das consequências emocionais aos veteranos de guerra, promovendo-se, assim, o surgimento de novas abordagens teóricas. A ciência, em contínuo aperfeiçoamento e considerando todos os aspectos e eventos sociais, favoreceu continuamente a evolução de vários conceitos. So- mos marcados pelos avanços tecnológicos, por mudanças de consumo, pela inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, pelo acesso crescente de crianças nas escolas, por regimes militares, por movimentos ativistas, enfim, por uma sériede si- tuações que caracterizaram as reformulações de teo- rias, revisão de perspectivas e novas visões do ser humano no mundo e sua forma de agir e interagir no ambiente, que está em constante processo de reconstituição (CAMBAÚVA; SILVA; FERREIRA, 1998). A psicologia no Brasil Nessa abordagem histórica, torna-se relevante conhecer a trajetória da psico- logia no Brasil, já que é a influência que temos no desenvolvimento educacional, cultural e na saúde. O Brasil colonial caracteriza-se por ter cerceado o desenvolvimento cultural do seu povo: a educação apresentava apenas o viés de catequizar os indígenas, dou- triná-los. Isso mostra que a intenção dos portugueses era apenas a exploração. Nesse momento histórico, no mundo, a psicologia ainda era ligada à filosofia e teologia, e o foco era a boa educação das crianças, baseada em valores morais, religiosos e da família. Com a vinda da família real portuguesa, surge um novo mo- mento político e cultural: estabelece-se a imprensa, o comércio exterior e a criação de instituições universitárias. Iniciam-se movimentos políticos como a Indepen- dência, a abolição da escravatura, a proclamação da República, e o País começa a levantar esforços para a estruturação voltada para a civilização, a partir de movi- mentos da classe média que trazem, em seus discursos, palavras de ordem como abolição, república e democracia. Então, surgem novas maneiras de interpretar a vida brasileira: é o movimento da ciência, que começa a suprimir a posição das filosofias religiosas (VILELA, 2012). PSICOLOGIA EM SAÚDE 15 Os intelectuais da época estavam engajados em levar o Brasil a um mo- delo civilizado de nação europeia; por- tanto, no status da ciência, as ideias psicológicas no Brasil passam a surgir dos médicos, filhos de grandes latifun- diários, que estudaram medicina na Europa e voltavam com ideias novas sobre o ser humano, superando a con- cepção de alma. D. João VI, ao chegar no Brasil, criou a Faculdade de Medi- cina na Bahia e Rio de Janeiro. É esta última que, em 1841, apresentou a primeira tese de teor psicológico, que procurava estabelecer a localização cerebral de diversas atividades humanas. Em 1900, surgiu o primeiro trabalho de psicologia experimental no Brasil, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. No embalo desse modelo civilizatório, a elite política e intelectual brasilei- ra passou a dedicar-se à educação – lembrando que éramos um país agrário, conservador, escravagista, hierárquico, patriarcal e de superioridade branca. A ideia da educação, portanto, era de “higienizar a civilização”, e este higienizar era limpar as heranças africanas e indígenas (VILELA, 2012, p. 34). Por volta das décadas de 1920 e 1930, no Brasil, iniciam-se a elaboração, es- tudo e instituição dos testes psicológicos. Era em um momento de crise no País e de profundas mudanças político-culturais. A educação ganhou foco, e a psi- cologia ocupou um espaço importante nesse movimento. Além da importância voltada para a educação, outra característica do Brasil nesse início do século foi a industrialização, a urbanização crescente e o consequente aumento das desigualdades entre o mundo rural e urbano. A partir dos anos 1940, a psicologia começou a crescer no âmbito clíni- co e na seleção e orientação profissional. Em todos esses campos, os testes psicológicos tiveram uma importância central. Em 1953, foi criada a primei- ra graduação em psicologia, na PUC-Rio e iniciou-se o campo profissional de psicólogo no País, com a regulamentação da profissão em 1962. A profissão PSICOLOGIA EM SAÚDE 16 perdurou, por um longo período, em um modelo biologicista, inclusive pelo momento político de implantação da ditadura no País, trazendo uma inter- venção acrítica – e, assim, permanecendo em função da intervenção do Es- tado nas formações dos profissionais. Não se considerava, nessas primeiras formações, uma contextualização histórica e social do ser humano. A prática psicológica atendia à lógica do mercado, voltada à intervenção de adaptação do ser humano ao sistema: daí, a crescente expansão da clínica psicológica, pois era predominante o entendimento de que o sofrimento era de responsa- bilidade individual e cabia ao indivíduo adequar-se às normas sociais (CAM- BAÚVA; SILVA; FERREIRA, 1998). A partir da década de 1970, iniciou-se movimentos com outro olhar sobre a psicologia, por meio das contribuições europeias, com a teoria das representa- ções sociais. Passou-se a fomentar novos rumos no campo da psicologia social. Vale, ainda, apresentar brevemente a inserção do psicólogo no contexto da saúde, especialmente no Brasil. Podemos dizer que a psicologia da saúde (assim conceituada) é muito nova, desenvolvida a partir da década de 1970 – e ainda está em plena construção. Nos variados espaços de saúde, observou-se que a condição psicológica do paciente muito interferia na sua recuperação. Então, pesquisas em psicologia começaram a associar práticas de reabilitação em saúde, inicialmente no hospital como principal espaço de atuação. A psicologia da saúde, no entanto, vai além da psicologia hospitalar. En- quanto a psicologia hospitalar atém-se ao sofrimento gerado pelo processo de aceitação da doença, adaptação a um ambiente diferente de casa, à proximida- de da morte, ao processo de luto da família e do paciente, a psicologia da saúde vai além, pensando nos processos de reabilitação, promoção e prevenção de saúde, considerando os aspectos sociais e comunitários. A psicologia da saúde amplia-se pelo fato de o profissional estar preparado para atuar em todos os níveis de atenção, na saúde privada ou pública. Outra consideração importante sobre a psicologia da saúde é a condição do psicólogo de saber trabalhar em equipe, uma vez que todos os outros campos da saúde (enfermagem, fisioterapia, nutrição, odontologia, medicina, terapia ocupacional etc.) atuam em conjunto para o cuidado ampliado em saúde. PSICOLOGIA EM SAÚDE 17 A psicologia como ciência: os objetos de estudo e seus métodos Até o momento, apresentamos todo o processo histórico de constituição da psicologia enquanto ciência: ela surge de um momento em que havia várias concepções sobre o ser humano, que partiam de crenças religiosas e espiri- tuais, até entrar em um momento da História em que a ciência começa a exigir deduções baseadas em evidências e observações. Para facilitar a compreen- são, tornou-se necessário discutir os conceitos de senso comum, ciência e mé- todo científico. O senso comum é o conhecimento do cotidiano, aqueles conceitos que aprendemos no dia a dia, passados pelos nossos familiares, nossa cultura, nos- sa intuição. Surge por meio de nossas vivências, leituras, conclusões a partir de vários pontos de vista. É o conhecimento que temos, por exemplo, que uma compressa de bolsa de água quente no baixo ventre pode aliviar a cólica mens- trual, sem saber exatamente o porquê disso, assim como saber que o chá de camomila traz benefícios para o sono, sem conhecer as propriedades da erva e como ela age no sistema nervoso. É um modo de conhecimento reduzido. A palavra ciência originou-se do latim scientia, que significa conhecimento. Se eu tenho ciência de algo, tenho conhecimento daquele fato. Segundo Gni- pper (2019), “a ciência é aquele tipo de conhecimento que busca compreender verdades ou leis naturais para explicar o funcionamento das coisas e do uni- verso em geral”. Bock, Furtado e Teixeira (1999) explicam a ciência como um conjunto de conhecimentos sobre a realidade ou fatos que são descritos de forma precisa e rigorosa. Portanto, podemos concluir que ciência é o conheci- mento de algo que foi minuciosamente estudado, registrado, controlado, e sua validade é passível de verificação e reprodução. Toda essa possibilidade de checagem ocorre por causa do mé- todo científico, um conjunto de regras que visa a coibir as subjetividades,objetivando a produção de um co- nhecimento válido ou corrigir conhecimentos pree- xistentes. Os métodos científicos variam, depen- dendo do tipo de pesquisa que se pretende fazer, podendo ser uma pesquisa de caráter experimental PSICOLOGIA EM SAÚDE 18 (observação e medição), dialético (con- sidera o movimento dos fenômenos históricos e sociais), empírico-analítico (diferencia os elementos de um fenô- meno, revendo individualmente cada um deles) e histórico (relaciona o obje- to estudado a cada etapa que ele pas- sa, de acordo com sua ordem crono- lógica). As etapas básicas para realizar uma pesquisa geralmente seguem a seguinte ordem: observação, elabora- ção de um problema, levantamento de hipóteses, experimentação, análise dos dados e conclusão (GNIPPER, 2019). Ao estabelecermos uma conexão entre esses conceitos – senso comum, ciên- cia e método científico –, podemos concluir que fazer ciência é sair de uma infor- mação reduzida, de uma visão de mundo restrita a uma única realidade vivida e um único ponto de vista para produzir um conhecimento mais amplo, rico, isento de subjetividades e fundamentado em uma constatação que foi validada por um estudo rigoroso, que cumpriu etapas necessárias para chegar a deter- minada constatação. Essa característica da ciência possibilita a continuidade do conhecimento: ela pode ser reavaliada, produzida a partir de algo já desenvol- vido anteriormente, a partir de um fato objetivo. Portanto, podemos dizer que um conjunto de conhecimentos, para que seja científico, precisa ter um “objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo cumu- lativo de conhecimento e objetividade” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 20). Retomando ao conceito da psicologia e entendendo agora os processos ne- cessários para se fazer ciência, torna-se relevante compreender qual é o ob- jeto de estudo da psicologia, para que ela seja considerada ciência. Quando foram apresentados os vários momentos históricos de constituição da psicolo- gia, entendemos que ela surgiu de indagações sobre o ser humano, mas variou os aspectos investigados: a alma, a mente, os sentimentos, o comportamento, o processo de aprendizagem. A psicologia estuda o ser humano, mas a com- preensão de ser humano é muito ampla e vai muito além da área de interven- ção psicológica, pois abrange biologia, economia, história e antropologia. PSICOLOGIA EM SAÚDE 19 Ainda assim, se restringirmos o estudo do ser humano aos aspectos da mente, a diversidade de objetos de estudo é muito ampla, pois há psicólo- gos que estudarão o comportamento humano; outros, a consciência; outros, o inconsciente ou, ainda, seu sistema de relações. É uma área que parte de diversas vertentes e conceitos filosóficos, assim como são muito variados os fe- nômenos psicológicos. Bock, Furtado e Teixeira (1999, p. 22) defendem que não existe uma psicologia, mas ciências psicológicas. Tal afirmação faz jus à brinca- deira que sempre fazem, quando dizem que, para o estudante de psicologia e para o psicólogo, tudo é relativo, tudo depende de como se vê a situação. No entanto, para sermos mais precisos nesse raciocínio, vamos trabalhar com o conceito de subjetividade humana enquanto objeto de estudo e inter- venção da psicologia. Todas as expressões humanas, visíveis (comportamen- tos) e não visíveis (sentimentos) podem estar resumidas no termo subjetivida- de, que é a maneira de rir, de chorar, de falar, de reagir e de amar de cada um. A subjetividade não é inata: ela é construída nas nossas relações e experiências na vida, conforme cada um recebe e transmite informações. A pessoa é passiva e ativa na construção da sua subjetividade. Quando a criança vem ao mundo, ela recebe amor ou rejeição, e a forma como ela é aceita ou rejeitada fará com que ela tome determinadas atitudes, que também afetarão as vidas das pessoas com quem convive. Se ela for rejei- tada pela mãe, pode receber o cuidado e carinho de uma vizinha ou avó, por exemplo. Ela pode tornar-se uma pessoa frustrada pela rejeição materna, ou grata por ter tido o carinho de outro alguém. Ela pode transformar a vida da própria mãe que a rejeitou ou as vidas das pessoas que a acolheram, até mes- mo de seus amigos e familiares futuros. Tudo dependerá de como a vida se desenha para ela e de como ela desenha a vida. A subjetividade também pode ser alterada, ou seja, o sujeito pode se recusar a viver a daquela forma ou se sujeitar àquele modelo construído, pois as pessoas não estão “terminadas” ou destinadas a pensar e agir da mesma maneira sempre – e esses elementos básicos da vida, o movimento e a transformação, caracterizam nossa trajetória enquanto seres humanos (BOCK; FURTADO; TEIXEI- RA, 1999, p. 24). PSICOLOGIA EM SAÚDE 20 Enfim, podemos concluir que a psicologia estuda e intervém na subjetividade humana. Esse é o seu objeto de estudo, mas a forma de compreensão e cuidado do ser humano, da sua subjetividade, vai depender das diferentes escolas psicológicas. Já foi apresentado um resumo anterior- mente, sobre as principais escolas de pensamento que contribuíram para o desenvolvimento da psicologia como uma ciência e o principal foco de estudo de cada uma. ASSISTA Para que você conheça melhor a função de um psicólogo, assista ao vídeo O que um psicólogo faz?, no qual é abor- dada a variedade de atividades que pode ser desenvolvida por esses profissionais. As principais escolas modernas da psicologia A psicologia passou por um longo período de estruturação e tornou-se inde- pendente da filosofia. Passou também pelo estudo da medicina para começar a ter a característica científica, até que se estrutura como uma ciência indepen- dente, com diversas escolas de pensamento. No século XX, estrutura-se cada vez mais em novas teorias, e discutiremos agora essas escolas modernas. Quando falamos de escola de pensamento, falamos de linhas teóricas e abordagens que se diferenciam pela forma como enxergam e intervêm na subjetividade humana. Behaviorismo O temo behaviorismo deriva da palavra em inglês behavior, que significa comportamento. Ele foi incorporado na psicologia por John B. Watson em 1913, em um artigo que lançou o comportamento como objeto da psicologia. O com- portamento, algo mensurável, observável, reproduzível em diferentes condi- ções e pessoas, deu a validade que a psicologia desejava no rol das ciências, algo muito importante no início do século XX. O behaviorismo aprimorou-se no decorrer de sua história e, até os dias de hoje, já teve muitas alterações na aplicação clínica. Na época de Watson, já so- PSICOLOGIA EM SAÚDE 21 fria revisões, uma vez que o compor- tamento deixou de ser compreendido apenas como uma ação isolada do su- jeito e passou a ser interpretado como uma interação entre o ser humano e seu ambiente. O ambiente (tudo aqui- lo que o ser humano observa, vive e a que é submetido) estimula as ações (respostas) que esse ser humano terá como comportamento nas variadas si- tuações vividas (BOCK; FURTADO; TEI- XEIRA, 1999, p. 46). Vamos entender melhor o que isso tudo quer dizer a partir da compreensão dos termos estímulo e resposta. Para os psicólogos behavioristas, estímulo e resposta estão relacionados a tudo que o organismo faz em relação às situações do ambiente a que o ser humano é submetido. A explicação para adotar essas variáveis como objeto de estudo dá-se pela condição metodológica (pois é passível de investigação a partir do método experimental e analítico) e pela condição histórica do ser humano, estudando-se sua interação com o seu ambiente. Antes de Watson, um cientista muito importante para a construção do behaviorismo foi Ivan Pavlov (1849-1936), um médico russo, que desenvolveu a teoria do condicionamento clássico, que viria a ser, futuramente, uma base teórica do behaviorismo. O condicionamento clássico, também chamado de condicionamento reflexo oucondicionamento respondente, refere-se a toda resposta que o organismo dá involuntariamente, por meio de estímulos do am- biente. Por exemplo: a reação dos olhos (pupilas) quando, no escuro, alguém acende a luz de repente; a salivação provocada por gotas de limão na ponta da língua; o coração disparado quando se leva um susto. Essas reações são refle- xos incondicionados, involuntários aos estímulos do ambiente – taquicardia, salivação e dilatação das pupilas são mecanismos involuntários. Algumas reações, no entanto, também podem ser provocadas se houver as- sociação a um outro estímulo, tornando-se reflexos condicionados. Por exem- plo, uma pessoa sofreu um forte trauma vendo sua casa desabar após uma for- te chuva, apresentando reações como medo e a taquicardia. Após o incidente, PSICOLOGIA EM SAÚDE 22 todas as vezes que começa uma forte chuva, o coração dessa pessoa dispara. Nesse exemplo, podemos dizer que a taquicardia é um reflexo incondicionado do medo; e, quando surge como consequência do barulho da chuva, um reflexo condicionado. Antes do trauma, o barulho da chuva era um estímulo neutro, não causava taquicardia. Depois do evento trágico, a chuva passou a ser um es- tímulo condicionado que causa a taquicardia (agora, um reflexo condicionado), como se observa no Diagrama 1. DIAGRAMA 1. REFLEXO INCONDICIONADO E REFLEXO CONDICIONADO Chuva forte Estímulo neutro Chuva forte Estímulo condicionado Taquicardia Reflexo condicionado Enxurrada Acidente com a casa Taquicardia Reflexo incondicionado Na sequência, outro personagem importante na história do behaviorismo foi Skinner (1904-1990). Seu estudo foi uma das maiores influências nessa abor- dagem, e o pesquisador tornou-se conhecido pelos experimentos com ratos e da caixa de Skinner. Foi ele quem desenvolveu importantes teorias, como o condicionamento operante. No condicionamento (ou comportamento) operante, o comportamento é ativo e opera sobre o mundo, para gerar resultados. É um método de apren- dizagem baseado em consequências que aumentam ou diminuem a probabili- dade de um comportamento repetir-se no futuro, por meio de reforçamento e punição. Segue-se a seguinte ordem: as ações (respostas) que recebem refor- çador tendem a repetir-se, e as ações que recebem punição tendem a não se repetir. Por exemplo, em um laboratório, um ratinho é colocado em uma caixa com duas alavancas: na azul, recebe comida (o reforçador); na vermelha, rece- be um leve choque. Isso fará com que o ratinho aperte a alavanca azul e evite a vermelha (reforçamento versus punição). PSICOLOGIA EM SAÚDE 23 Fora do laboratório, no dia a dia, em ambiente natural, costumamos manter ou diminuir comportamentos conforme as consequências que obtemos. Se, cada vez que a criança chora, ela ganha colo, o colo torna-se um reforçador e aumenta a probabilidade futura da ação de chorar (resposta). Tem-se, nessa relação, um comportamento operante, pois ela recebe uma recompensa com o choro. Se, cada vez que essa criança entra no quarto e apanha do irmão, ela passa a não entrar no quarto ou a não chegar mais perto do irmão. O ato de apanhar é um estímulo aversivo (que veio pela punição), e a resposta é a de não entrar no quarto ou fugir do irmão (fuga/esquiva), constituindo-se, nessa relação, um outro comportamento operante. Há também o mecanismo de extinção do comportamento, que entra na seguinte lógica: se, cada vez que a criança chora, ela deixar de ganhar colo, a resposta de chorar para ganhar colo deixa de ocorrer, pois não gera a conse- quência esperada. No caso de entrar no quarto do irmão, se ele para de agredi- -la, ela pode voltar a entrar no quarto ou voltar a aproximar-se dele. ASSISTA Para saber mais sobre o estudo envolvendo a caixa de Skinner, assista ao vídeo A caixa de Skinner (condiciona- mento operante / behaviorismo), em que ficou demonstra- do como se procedeu o condicionamento operante dentro do laboratório. Essa é principal base do behaviorismo, mas as práticas clínicas e estudos desenvolveram-se durante todo o século, e, a partir dessa matriz, outras im- portantes teorias surgiram, como a psicologia cognitivo-comportamental. Até a metade do século XX, a psicanálise dominava o campo da psicoterapia, e o behaviorismo estava voltado para pesquisas em análise do comportamen- to, e suas técnicas empregadas nos espaços da educação, especialmente para mudanças de comportamento por meio das técnicas de condicionamento. No campo terapêutico, da clínica e intervenções nos sofrimentos, porém, era a psi- canálise que se desenvolvia cada vez mais forte. No entanto, ao redor dos anos 1950, cientistas começaram a questionar a eficácia da psicanálise em função de ela lidar com algo não mensurável (o inconsciente), enquanto as teorias de base comportamental estavam em pleno crescimento pelo seu status científico. PSICOLOGIA EM SAÚDE 24 Na década de 1960, em uma nova fase das ciências psicológicas, alguns estudiosos clínicos estavam insatisfeitos tanto com o modelo psicanalítico quanto com os modelos do behaviorismo radical, que trabalhava no sis- tema de condicionamento. Clinicamente, para tratamento terapêutico de um paciente, alguns importantes nomes da terapia cognitiva, como Beck, Bandura e Ellis, começaram a desenvolver estudos que apontaram os pro- cessos cognitivos como cruciais no desenvolvimento de estratégias para o enfrentamento da depressão. Beck foi o mais conhecido dentro das te- rapias de base cognitiva, com seus trabalhos voltados para a depressão e ansiedade. Estava, então, inaugurada a era cognitiva na psicoterapia. Nessa nova perspectiva, não era somente o ambiente que influenciava o ser humano, mas a racionalidade era uma fonte de direção das ações humanas. Quando o paciente passa a racionalizar as si- tuações que intervêm sobre seu sofrimento, há como alterar os pensamentos e a forma de ver o proble- ma de maneira distorcida. Concluindo, portanto, a psicologia comportamental (behaviorista) em- basou o que hoje temos de atual e moderno den- tro das psicologias de base cognitiva. Psicanálise Figura 1. Sigmund Freud, o fundador da psicanálise. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 11/09/2020. PSICOLOGIA EM SAÚDE 25 Falar da psicanálise é falar do mais famoso entre todos os estudiosos da subjetividade humana: Sigmund Freud (1856-1939). Freud, pai da psicanálise, era um médico psiquiatra vienense que marcou radicalmente toda a for- ma de estudar e pensar a vida psíqui- ca. Bock, Furtado e Teixeira (1999, p. 70) afirmam que Freud “ousou colocar os ‘processos misteriosos’ do psiquis- mo, suas ‘regiões obscuras’, isto é, as fantasias, os sonhos, os esquecimen- tos, a interioridade do ser humano, como problemas científicos”. Em 1909, Freud sai de Viena e vai para os Estados Unidos proferir pales- tras sobre o desenvolvimento de sua teoria. Essa viagem expandiu amplamente sua teoria, lançando-a para além do mundo europeu e fazendo com que ele es- crevesse uma das suas mais conhecidas obras: Cinco lições de psicanálise. Freud era um psiquiatra que trabalhava como pesquisador, mas, por condições financeiras precárias, precisou iniciar alguma atividade rentá- vel; então, passou a atender pessoas com acometimentos psiquiátricos. Após uma temporada em Paris com um psiquiatra francês, Jean Charcot, que trabalhava com hipnose, Freud retornou à Viena utilizando esse mé- todo. Foi quando iniciou o tratamento de Ana O., em parceria com outro amigo médico. Aos poucos, Freud foi substituindo e abandonando a hip- nose, utilizando-se de outros métodos até chegar à associação livre, na qual o paciente não é submetido a perguntas, mas fala tudo que surge na sua mente. Nessa liberdade de expressão, o famoso médico começou a formu- lar a teoria sobre o inconsciente. No Quadro 2, apresentamos um breve resumo das principais postulações teóricas de Freud a respeito da per- sonalidade e dinâmicapsíquica. PSICOLOGIA EM SAÚDE 26 QUADRO 2. AS ESTRUTURAS DO APARELHO PSÍQUICO Primeira Teoria – Ano: 1900 Conceito Definição Inconsciente São conteúdos reprimidos, que não estão presentes no campo atual da consciência por censuras internas. Em algum momento, esses conteúdos podem ter sidos conscientes, mas foram reprimidos. É atemporal, não tem noção de passado ou futuro. Pré-consciente São os conteúdos psíquicos que podem ser mais acessíveis. Não estão no campo da consciência, mas podem, a qualquer momento, estar acessíveis. Consciente É a percepção do mundo exterior, atenção e raciocínio. É o sistema do aparelho psíquico que recebe tantos as informações do mundo exterior quanto as do mundo interior. Segunda Teoria – Ano: 1920 a 1923 Conceito Definição Id É o reservatório da energia psíquica, no qual há as pulsões de vida (au- toconservação) ou de morte (autodestruição). É regido pelo princípio do prazer. É relativo ao inconsciente da primeira teoria. Superego Fruto das exigências sociais e culturais, é regido pela moral e ideais. O superego destina-nos aos limites que temos em algumas atitudes e traz, muitas vezes, o sentimento de culpa. Ego O ego é o equilíbrio entre as exigências do Id (prazer) e do superego (moral e ideal). A busca pelo prazer pode ser substituída pelo desprazer. O ego busca esse equilíbrio. CURIOSIDADE Freud e Breuer, também psiquiatra, estudavam a histeria. Na época, mui- tos acreditavam que era uma doença das mulheres e que os sintomas eram fingidos. Anna O., uma inteligente jovem da aristocracia austríaca, começou a ter comportamentos como paralisações, alucinações, ficava estrábica e esquecia a língua materna (alemão), falando em inglês ou fran- cês. Breuer iniciou o tratamento com hipnose, mas passou a tratá-la com a escuta, incentivando-a a falar o que estava em sua mente. Os sintomas melhoraram, e, então, se instaurou a técnica da associação livre, até hoje utilizada na psicanálise. Outro aspecto relevante da teoria psicanalítica é a descoberta da sexualida- de infantil. A partir de suas observações das neuroses na prática clínica, Freud começou a perceber que muitos desejos reprimidos se referiam a conflitos de ordem sexual e que estes eram o centro da vida psíquica do sujeito. Muitos even- tos traumáticos se configuraram na infância e foram reprimidos, originando os sintomas atuais no adulto. Tal afirmação defende os seguintes aspectos: que a PSICOLOGIA EM SAÚDE 27 função sexual existe desde o princípio da vida; que o desenvolvimento da sexua- lidade é longo e complexo, não estando voltado apenas para a reprodução, mas também para o prazer; e que a libido é a energia dos instintos sexuais. Freud, então, postula o desenvolvimento sexual em cinco fases: fase oral, fase anal, fase fálica, fase de latência e fase genital. É na fase fálica, entre os três e cinco anos de idade, que a criança vivencia o complexo de Édipo, e toda a personalidade do indivíduo está condicionada à boa ou insuficiente estruturação dessa fase. Outras contribuições importantes de conhecer sobre a teoria psicanalítica de Freud é que, primeiramente, ele conside- rava verdadeiras todas as falas trazidas pelos pacientes; depois, postulou que as vivências relatadas por eles podiam ser imaginadas. No entanto, independente- mente de serem reais ou não, o impor- tante era a realidade psíquica do paciente. O conceito de pulsão é outra postulação importante dentro da teoria de Freud, que se refere a ela como o estado em que a pessoa desprende grande energia de autoconservação ou autodestruição. A psica- nálise também fala muito no sintoma como resultado de um conflito que habita entre o mecanismo de defesa e o desejo. É um comportamento ou um pensamento, que geralmente é o ponto de partida da investigação psicanalítica. A psicanálise caracterizou-se como um método de terapia que investigava o inconsciente do paciente, constituindo o tratamento por meio da fala. Torqua- to (2015) explica que a psicanálise se tornou uma escola de pensamento, não apenas uma teoria, tendo em vista que se apresentou como um tratamento, um método terapêutico, uma técnica, uma clínica psicológica e um movimento psicanalítico, pois englobou várias correntes do freudismo. Enquanto teoria, a psicanálise traz um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento da vida psíquica. Freud desenvolveu uma extensa obra falando de seus pressupostos e trazendo relatos clínicos e leis gerais que explicavam toda a estrutura da personalidade. É interessante mencionar que grande parte da sua produção foi pautada em experiências pessoais. Enquanto método tera- pêutico, utilizava-se da análise, que incita o paciente a buscar seu autoconheci- mento ou a cura, que ocorre por meio desse resgate de si mesmo. O método de PSICOLOGIA EM SAÚDE 28 investigação de toda essa busca pelo próprio conhecimento se dá pela interpre- tação do significado oculto que se manifesta através de sonhos, palavras, atitu- des e produções imaginárias. O psicanalista vai provocar o paciente a perceber determinados comportamentos e compreender o que isso significa dentro da sua história, do seu sofrimento. A psicanálise tem sua relevância tanto no âmbito clínico terapêutico quanto na análise e compreensão de fenômenos sociais relevantes, partindo de uma análise de toda a condição histórica do mundo no seu momento atual. É uma teoria muito estereotipada, associada com divã, com sexualidade, além de vários conceitos do senso comum, mas a psicanálise também trouxe muitas outras contribuições na construção social e em várias áreas da saúde mental, indo muito além das contribuições de Freud. Outros personagens importan- tes e que marcaram a história da psicanálise foram: Jung, Melanie Klein, Anna Freud, Lacan e Winnicott, entre outros. Importante reforçar que a psicanálise não é uma escola da psicologia. Ela é independente, tanto que, para ser psicanalista, uma pessoa pode ter outra formação (como Direito ou Medicina) e atuar na clínica psicanalítica. De qual- quer forma, sua teoria influencia grandemente a atuação psicoterápica, pois mesmos os psicólogos que não tiveram a formação psicanalítica podem atuar em outras teorias de base freudiana, que lidam com a psicodinâmica. Gestalt A gestalt é uma teoria que surgiu na Alemanha a partir dos estudos de dois cientistas: um físico, Ernst Mach (1838-1916); e um filósofo e psicólogo, Christian von Ehrenfels (1859-1932). Ambos iniciaram seus estudos voltados para uma teoria psicofísica, sobre as sensações que uma pessoa pode ter de- pendendo do espaço e da forma com que é vista. Dando sequência a estudos, Wertheimer (1880-1943), Köhler (1887-1967) e Koffka (1886-1941) criaram uma teoria puramente psicológica, baseados em tal estudo psicofísico, na qual re- lacionaram percepção e sensação de movimentos. O foco era compreender quais processos psicológicos estavam envolvidos na ilusão de óptica de uma pessoa, quando o estímulo físico é um e a forma que ela percebe é diferente da realidade. Com essa explicação inicial, fica mais fácil definir o termo gestalt, PSICOLOGIA EM SAÚDE 29 uma palavra alemã de difícil tradução, mas que tem o significado mais próximo, no português, das palavras forma ou configuração. Assim, o ponto central da teoria é a percepção. A preocupação era questio- nar o behaviorismo do início do século XX em algo que os gestaltistas conside- ravam ignorado naquela teoria do comportamento: havia algo implícito entre o estímulo e a resposta, pois acreditavam que, entre o estímulo do meio am- biente e a resposta dada pela situação, havia o processo de percepção – o que a pessoa percebe configura a resposta que ela dá. Vamos usar como exemplo um som alto e o choro do bebê. Para os behavioristas, ao ouvir um som alto, o bebê chora porque se assusta. Os gestaltistas diriam que o choro dependeria de como o bebê percebe esse som: a chegada de alguém ou umaameaça. Por- tanto, em vez do choro, alguns bebês poderiam ignorar e não reagir com choro enquanto outros poderiam rir, caso achassem que tudo fosse uma brincadeira. Tanto a gestalt quanto behaviorismo tinham como objeto de estudo o com- portamento. No entanto, o confronto entre as duas teorias estava na ideia de que o behaviorismo desprezaria os conteúdos da consciência, pois estava preocupado apenas com a relação estímulo-resposta. A gestalt, por sua vez, considerava que, ao ser desprezado esse critério, o estudo perdia o significa- do, por ignorar um contexto mais amplo. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1999, p. 60) “na visão dos gestaltistas, o comportamento deveria ser estudado nos seus aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo”. Veremos, a seguir, os pressupostos teóricos para embasar tal afirmação. O isomorfismo é uma teoria que defende que a percepção de uma parte vai sempre buscar o equilíbrio da forma. Por exemplo, se eu vejo uma parte de um objeto, a tendência é que eu restaure toda a forma para dar algum sentido ao que estou percebendo. O sentido real da visão vai estar baseado no que é global para mim. Observe a Figura 2 e identifique que você acaba por perceber o todo, conforme sua gama de ex- periência é capaz de entender. O que você verá nela é diferente do que veria uma criança de quatro anos de idade, uma pessoa com algum comprometi- mento neurológico ou alguém que foi privado de muitos outros estímulos visuais. PSICOLOGIA EM SAÚDE 30 Figura 2. Isomorfismo e percepção. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/09/2020. Note que você visualiza apenas uma parte do objeto e cria uma compreen- são da imagem total. Alguém pode ver um boneco em um movimento de dan- ça, outra pessoa que o boneco está dando uma bronca e outro que ele está limpando a boca ou acariciando alguém. Esse fenômeno da percepção ocorre devido à busca do cérebro pelo fechamento, simetria e regularidade. Para explicar toda essa condição do isomorfismo, há o conceito de boa forma. A maneira como percebemos um determinado estímulo desencadeia nosso comportamento. Os estímulos físicos podem desencadear comporta- mentos diferentes dependendo de como entendemos aquilo que vemos. Ima- gine a seguinte situação: você está dentro de um carro fechado, em um dia de chuva, e os vidros encontram-se um pouco embaçados. Você para o carro e abre o vidro para oferecer carona para sua vizinha, que está andando na calça- da toda atrapalhada com o guarda-chuva e as sacolas de compra. Ao oferecer a carona, você percebe que se confundiu e que não é a sua vizinha, apesar de a estatura da mulher, o jeito de andar e o corte de cabelo terem lembrado dela. Foi um erro de percepção, mas, na hora que você parou o carro, era de fato sua vizinha. Essa confusão mostra que, durante a percepção do estímulo (a pessoa desconhecida), aquelas condições ambientais (chuva e vidro embaçado) altera- ram a sua interpretação do conteúdo percebido. PSICOLOGIA EM SAÚDE 31 Outro aspecto também relacionado à tendência da nossa percepção buscar a boa forma é a relação figura-fundo: quanto mais objetiva e clara estiver a forma (ou a situação), mais clara será a identificação da figura e do seu fundo. Preste atenção na sequência da Figura 3, já conhecida por muitos. Na primeira figura, muitas pessoas acabam mencionando a imagem de duas pessoas se olhando; na segunda imagem, um vaso (ou o contrário), mas, ao se distanciar a imagem e focar o fundo, fica mais clara ou tendenciosa a percepção da imagem. Para a gestalt, todo conjunto de estímulos que determina o comportamen- to é meio ambiental. São conhecidos dois tipos de meio: o meio geográfico (o ambiente físico em si) e o meio comportamental, que está relacionado à reali- dade que se mostra para nós, à nossa interpretação do meio geográfico, que, para nós, é realidade subjetiva e particular, criada pela nossa mente. Assim, nosso comportamento é definido pela nossa percepção do meio comporta- mental. Um exemplo disso pode ser uma rua com pouca iluminação de madrugada. O mesmo espaço físico é um meio comportamen- tal diferente para uma pessoa que mora naquela rua há anos e uma pessoa que chega a ela pela primeira vez. Um estádio, em um grande centro, vai ser di- ferente para você se o seu meio comportamental for o jogo do seu time do coração, ou um show de uma banda pouco conhecida – e você esteja nesse estádio como público, ou como um trabalhador. Figura 3. Relação figura e fundo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/09/2020. PSICOLOGIA EM SAÚDE 32 Outro termo bem conhecido e muito importante na gestalt é a palavra in- sight. O termo faz referência a uma compreensão imediata de algo, um enten- dimento interno de uma situação que, até então, era despercebida. É aquele momento que costumamos ter depois de termos a compreensão do todo, algo muito importante na gestalt. Humanista A psicologia humanista recebeu grande influência da filosofia de base existencial e fenomenológica. A par- tir de 1950, um grupo de psicólogos começou a questionar os estudos e intervenções da psicologia da época, voltados para fatores relacionados ao ser humano, mas em corrigir pa- tologias, sem focar no próprio ser humano. Enquanto o behaviorismo estava voltado para o comportamento, a psicanálise para o inconsciente e a gestalt para a percepção, a psicologia humanista buscou conhecer o ser humano em si, humanizando o aparelho psíquico e contrariando a visão do ser humano condicionado pelo mundo externo. Desejavam analisar as pessoas a partir de uma perspectiva mais positiva. Para eles, o ser humano tem total consciência do mundo e dos fenômenos à sua volta. O objetivo da psicologia humanista é trabalhar o conteúdo consciente do ser humano, seus desejos e aspirações, investindo no livre arbítrio, na autor- realização, na espontaneidade e no poder criativo. Um dos cientistas que iniciou o movimento na psicologia humanista foi Abraham Maslow (1908-1970), norte-americano que acreditava na tendência natural de cada pessoa para chegar à autorrealização, que, para ele, era o nível mais alto da existência humana. Foi ele quem criou a famosa teoria das ne- cessidades de realização, a pirâmide de Maslow. Para ele, o ser humano tem uma escala de necessidades a serem satisfeitas. Inicia-se sempre pelas mais básicas e, cada vez que satisfaz uma delas, outra necessidade se apresenta. No momento que ele tem todas as necessidades satisfeitas, chegou à realização. PSICOLOGIA EM SAÚDE 33 Autorrealização Estima Amor e pertencimento (social) Segurança Fisiológica Figura 4. Pirâmide de Maslow. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 11/09/2020. Para Maslow, não fazia sentido uma pessoa sentir-se segura ou socialmente bem se não tivesse sua fome e sede saciada, sono tranquilo etc., e, conforme as necessidades mais básicas fossem satisfeitas, outras necessidades surgiriam, conforme a escala, até chegar à realização pessoal. Outro psicólogo marcante na evolução da psicologia humanista, e talvez o mais famoso entre eles, foi Carl Rogers (1902-1987). Ele criou a chamada abor- dagem centrada na pessoa e defendia a capacidade que cada ser humano tem de aprimorar seu potencial. Para ele, o ser humano tem uma capacidade na- tural ao crescimento e busca do bem-estar, assim, alinhando sua teoria à de Maslow. Defendia também a ideia de autoconceito, na qual o ser humano tem a possibilidade de substituir ou reforçar suas características trazidas desde a infância. Essa capacidade de modificar conscientemente seus pensamentos e comportamentos define sua personalidade. No entanto, as críticas a essa teo- ria assentam-se na premissa de que pessoas mais afetadas psicologicamente não teriam esse suporte emocional, estando essa hipótese mais aplicada a pes- soas mais ajustadas. Outro conceito importante para Rogers era a aproximação com o paciente,o que a difere da teoria psicanalítica, que defende um distanciamento mais pessoal entre analista e paciente. Para ele, esse apoio mais próximo não atra- palha o paciente no seu processo de autodescoberta, mas sim o contrário. Por suas contribuições, Rogers foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz em 1987. PSICOLOGIA EM SAÚDE 34 Torna-se também importante falar sobre a psicologia existencialista de Sar- tre, que surgiu também no século XX, na França, após a Segunda Guerra Mun- dial. A partir da filosofia do mesmo autor e outras influências psicológicas, bus- cava qualificar a compreensão da humanidade em um período tão devastado. A psicologia existencialista define o ser humano como um ser livre e ba- seia-se no projeto de futuro, trazendo a ideia de que “podemos fazer algo com o que fizeram de nós”. Valoriza o ser humano enquanto um ser histórico e, na medida que é afetado por sua historicidade, também tem a capacidade de alte- rá-la, sendo o próprio ser humano responsável por sua história. Vale também mencionar o psicodrama de Jacob Levy Moreno (1889-1974), psiquiatra que desenvolveu a técnica psicoterápica que tinha como objetivo promover, por meio da dramatização, o encontro do ser humano consigo mes- mo, com suas estruturas e inter-relações. O importante é compreender que a psicologia de base humanis- ta, apesar de apresentar diferenças entre suas práticas, mantém a ideia de que o ser humano está em constante transfor- mação, é livre e responsável pelas suas escolhas. Todas se contrapõem às abordagens comportamentais e psi- canalíticas e aos critérios de dividir o ser humano entre mente e corpo. PSICOLOGIA EM SAÚDE 35 Sintetizando A importância de conhecer a história da psicologia é que se compreenda que ela é uma ciência que transcorreu por todas as fases da História, da Idade Antiga à Idade Contemporânea, evoluindo para a compreensão do ser humano. Os primórdios da psicologia estava atrelado à filosofia, mas, na revolução científica, ela consolidou-se como ciência e passou a ter como objeto a subjetividade humana. No Brasil, a psicologia esteve muito tempo atrelada ao modelo clínico, de tratamento individual, ou na aprendizagem, com grande ênfase nos testes psicológicos. A partir da década de 1970, novos movimentos foram concreti- zados, fomentando o surgimento da psicologia social, que tirava o indivíduo como foco do sofrimento e analisava todo p seu meio social e cultural. As principais abordagens teóricas modernas são: o behaviorismo, a psi- canálise, a gestalt e o humanismo. O behaviorismo adotou como foco de estudo e prática o comportamen- to. Defende a hipótese de que o ambiente é determinante na construção da personalidade. Iniciou-se a partir de experimentos em laboratório, obser- vando o comportamento de animais e relacionando estímulos e respostas. Entretanto, avançou na forma de conceber a personalidade do ser humano e em suas práticas. Teorias de base comportamental passaram a estudar a condição cognitiva do ser humano – e surgiram, a partir da segunda meta- de do século XX, algumas outras técnicas de base cognitiva. A psicanálise, em contraponto ao behaviorismo e teorias da consciên- cia, baseia-se na teoria do inconsciente, realizando o tratamento pela fala. Freud traz uma nova forma de intervir no sofrimento, com novas concep- ções sobre neurose, sexualidade, infância e subjetividade. A gestalt aproxima-se do behaviorismo por considerar o comportamento humano, mas diferencia-se por afirmar que, entre o ambiente que estimulou uma resposta dada pelo ser humano, há uma série de percepções e conexões desconsideradas por aquela teoria. Dessa forma, baseia seu estudo e prática em não desvincular o ser humano do todo. PSICOLOGIA EM SAÚDE 36 A forma como o ser humano percebe o todo é que trará sentido para a compreensão das partes. As teorias de base humanista trazem a ideia de ter como o foco o próprio ser humano, seu potencial criativo e suas aspirações. Discordam das teorias que separam o ser humano em consciente, comportamento e inconsciente. Para todas essas teorias, o ser humano está em constante transformação. PSICOLOGIA EM SAÚDE 37 Referências bibliográficas UNIDADE 1 A CAIXA de Skinner. Postado por Espaço Psicológico. (06min. 26s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zUSgQK3f348>. Aces- so em: 11 set. 2020. AZEVEDO, T. 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PSICOLOGIA EM SAÚDE 38 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO: DA CONCEPÇÃO AO FIM DA VIDA 2 UNIDADE Objetivos da unidade Tópicos de estudo Trazer conceitos do desenvolvimento humano e influências no processo; Mostrar fundamentos e teorias do desenvolvimento humano; Compreender cada fase de desenvolvimento e suas principais características. Conceitos básicos do desenvolvimento humano Contexto do desenvolvimento humano Teorias do desenvolvimento Perspectiva psicanalítica Perspectiva da aprendizagem Perspectiva cognitiva Os ciclos de vida PSICOLOGIA EM SAÚDE 40 Conceitos básicos do desenvolvimento humano Os cientistas que estudam o processo de desenvolvimento humano bus- cam observar as mudanças e transformações da concepção à morte, assim como as características que permanecem em cada grupo ou ciclo de vida. Conforme o estudo do desenvolvimento humano se tornou um campo da ciência, os pesquisadores dividiram os estudos em descrição, explicação, pre- visão e intervenção. Para descrever sobre a criança que começa a engatinhar, foi necessário observar um imenso número de crianças, observar seus movi- mentos, os grupos e contexto culturais nas quais estavam inseridas pra expli- car processos positivos, prejudiciais, influências culturais, nutrição, enfim, uma variedade de situações que intervém no ato de engatinhar. Com este conhecimento, é possível intervir, prever possíveis problemas na fala e desenvolver métodos de reabilitação. Sendo assim, não dá para se pen- sar em um estudo do desenvolvimento que não seja interdisciplinar, como a medicina, psicologia, nutrição, fonoaudiologia,etc. Para compreender melhor as explicações, existem alguns conceitos, como ciclo de vida, domínios do de- senvolvimento, influências do desenvolvimento e período crítico. Os ciclos de vida são uma organização cultural pois não há um momento preciso que uma criança se torna adolescente, algo muito particular de cada cultura e contexto de vida. As concepções sobre estes ciclos também são con- figuradas por épocas. As crianças no início do século XX tornavam-se adultos quando casavam ou saiam de casa, não existindo adolescência. Segundo Xavier e Nunes, na página 39 do livro Psicologia do desenvolvimento, de 2015, o povo Ojibwa ou Chippewa, originário da região que hoje é o norte dos Estados Unidos e o sul do Canadá, considera a infância como o período até a criança andar. Dali em diante, é puberdade até que envelheça. No entanto, os cientistas distinguiram os ciclos de vida, sugerindo que certas neces- sidades devem ser satisfeitas para que ocorra um desenvolvimento normal. Bebês precisam dos pais para se alimentar, receber cuidados, abrigo e afeto, enquanto idosos apre- PSICOLOGIA EM SAÚDE 41 sentam limitações em algumas atividades e ficam mais expostos a doenças, sendo a imunização imprescindível em ambos os casos. Os domínios do desenvolvimento são aspectos a serem observados, como o desenvolvimento físico, o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento psicossocial. Desenvolvimento físico refere-se às mudanças corporais, habili- dades motoras e saúde, desenvolvimento cognitivo à aprendizagem memória, pensamento e raciocínio, e o desenvolvimento psicossocial às relações inter- pessoais, personalidade e emoções. Sobre as influências no desenvolvimento, os aspectos estão presentes em cada domínio do desenvolvimento, como a hereditariedade e o meio ambiente. A discussão sobre quais das influências causam mais impacto na vida do indiví- duo traz grandes debates, pois as características herdadas, os fatores externos e as experiências deste ser humano afetam o desenvolvimento. As pessoas apresentam altura, peso, gêneros diferentes, bem como temperamento e inte- ligência diferentes. São variadas também as formas de viver: em lares, comuni- dades, escolas e trabalho. Por isso, se consideram como a hereditariedade e o ambiente interagem nos estudos atuais. Período crítico é outro conceito muito importante no desenvolvimento. Papa- lia e Feldman, na página 48 do livro Desenvolvimento humano, de 2013, apresentam a teoria de Konrad Lorenz, na qual há um período, com um intervalo de tempo específico, no qual a pessoa (no caso do desenvolvimento humano) desenvolve uma habilidade com mais facilidade e aprende um mecanismo de defesa ou so- brevivência, ou seja, é uma fase ou momento mais propício de desenvolver de- terminado comportamento ou aprendizagem, em que a presença ou a ausência deste período de maturação causa um impacto sobre o desenvolvimento. Lorenz conduziu um estudo bem conhecido no qual ele fez com que os pa- tinhos recém chocados o seguissem, como fariam com a mãe. Eles instintiva- mente seguiram o primeiro objeto em movimento que eles viram, ainda que não fosse da sua espécie. Esse fenômeno foi designado como imprinting, uma predisposição à aprendizagem; a prontidão do sistema nervoso para re- ceber informações num período crítico (ou período sensível, como também é chamado). Por isso, tem se dado grande importância para o parto humani- zado e o toque e colo da mãe após o nascimento, fortalecendo o vínculo e o apego entre mãe e filho. PSICOLOGIA EM SAÚDE 42 ASSISTA Para entender melhor o processo de imprinting, o vídeo Tom and Jerry. Imprinting Duck mostra de uma forma lú- dica como se processa o imprinting conforme Lorenz, e o segundo, Imprinting do potro Incrivel do RSM, o imprinting em potros, para que cresça um cavalo dócil e domável. No caso do cavalo, o período crítico para domá-lo é o momento mostrado no vídeo. Contexto do desenvolvimento humano O profissional de saúde deve considerar o contexto do desenvol- vimento, histórico e social antes de qualquer intervenção. Vivendo num momento cultural e histórico em que a internet está acessível a quase to- dos e a tecnologia é muito presente, crianças e adolescentes crescem de uma forma muito diferente do que o mesmo grupo há 10 anos. Idosos e alguns adultos tiveram que se adap- tar (sem muita escolha) ao avanço da tecnologia. Visita-se menos os avós, pois há as redes sociais, surgem amizades e casamentos virtuais, mudou-se a forma de usar o dinheiro e de se comu- nicar com as pessoas. Ainda que essa seja uma realidade nos grandes e médios centros urbanos, cidades mais interioranas ou bairros com maior vulnerabilidade podem não apresentar muitas dessas condições e acabam por oferecer menos oportunidades às crianças e jovens. A vida dessas pessoas é compreendida e enxergada no espaço em que vivem. Um profissional de saúde que tenha uma casa com chuveiro, ba- nheiro, água encanada, acesso à alimentação adequada, seu próprio espa- ço para dormir e fácil acesso a produtos de higiene não pode cobrar de uma PSICOLOGIA EM SAÚDE 43 família que eles tenham o mesmo padrão de cuidado em saúde quando a casa tem apenas dois cômodos, um número grande de moradores no mes- mo espaço e não há água encanada nem banheiro. Há o ideal e o real, e os profissionais de saúde precisam saber lidar com as dificuldades reais das pessoas e da comunidade onde estão inseridos. Situações que privam um bom desenvolvimento físico, como difícil aces- so à alimentação adequada, difícil acesso à saúde e educação de qualidade, faz com que essas pessoas estejam mais propensas a um prejuízo na sua condição emocional e cognitiva. Por este motivo, não se separa a área da saúde das demais áreas ligadas ao contexto social, como educação, assis- tência social, e demais espaços de políticas públicas. Sobre os contextos do desenvolvimento, se considera a cultura de cada grupo social interferindo e contribuindo de formas diferentes no desenvolvimento, como suas tradi- ções, suas leis, seus valores, suas características e ancestralidade. Teorias do desenvolvimento O estudo do desenvolvimento perpassa por diversos olhares e perspec- tivas, dependendo da orientação teórica do pesquisador. As teorias tam- bém se divergem por se ater a focos diferenciados de estudo, seja no desenvolvimento cognitivo, no desenvolvimento afe- tivo, moral ou social. Aqui são apresentadas as três principais teorias, que tiveram maior influência em vários estudos e desenvolvimento de métodos de intervenção. São elas: a perspectiva psicanalítica, da aprendizagem e a cognitiva. Perspectiva psicanalítica Na perspectiva psicanalítica de Freud, o desenvolvimento acontece por forças inconscientes. A personalidade sofre influência de três instâncias psíquicas: o id, o ego e o superego. O id é governado pelo princípio do prazer (os impulsos), o ego representa a razão e o superego incorpora os valores desenvolvidos pelo seu contexto cultural. PSICOLOGIA EM SAÚDE 44 Figura 1. Ilustração do conceito de Freud. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/10/2020. O bebê é governado pelo id, pois seu comportamento surge de impulsos para sobrevivência e prazer (por exemplo, chorar porque está com dor ou ga- nhar colo). O ego (racional) vem a se desenvolver por volta do primeiro ano de idade, procurando alternativas mais realistas para suas necessidades que não forem suprimidas. O superego, que é a consciência de seus valores, surge por volta dos cinco ou seis anos. Para Freud, a personalidade surge de conflitos que ocorreram em fases de desenvolvimento psicossexual, e que definem o modo de viver da pessoa adul- ta, dependendo de como estes conflitos foram resolvidos. Quando se fala em desenvolvimento psicossexual, não está se falando da sexualidade vivida na vida adulta, da condição genital, mas sim da ênfase no prazer e nos aspectos de fantasiae desejo (não eróticos). As cinco fases são: 1. Fase oral: o prazer está concentrado na região bucal, pois a boca é que supre seus instintos básicos, como a alimentação, a chupeta, o seio materno, ou seja, a gratificação é pela boca. Essa fase é considerada importante na per- sonalidade, pois é o que constitui a imagem que a pessoa tem sobre si; Consciente EGO ID SUPEREGO Inconsciente PSICOLOGIA EM SAÚDE 45 Figura 2. Um dos exemplos da fase oral, a amamentação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/10/2020. 2. Fase anal: é a fase em que a criança está aprendendo a controlar seus es- fíncteres, portanto, o impulso libidinal se dirige para a região anal. A excreção, que ela pode reter ou expelir, é a forma representativa de controle em relação ao outro e muitas cobranças e exigências nesta fase podem interferir nas vi- vências futuras de prazer e desprazer; 3. Fase fálica: é quando a criança começa a descobrir seu corpo e começa a manipulação dos seus órgãos genitais como descoberta. Marcada pelo Com- plexo de Édipo; 4. Fase de latência: período em que os impulsos não tem ação, sendo um momento de sublimação, quando variadas atividades como esporte e brinca- deiras, maior desenvolvimento intelectual; 5. Fase genital: a partir da puberdade, com o desenvolvimento hormonal, há o retorno do interesse sexual, agora com outro enfoque, pois o interesse maior do prazer está voltado para fora da família, para os amigos. É o momento da descoberta da sexualidade, prazer de sair com os amigos. A teoria psicossocial de Erikson, um psicanalista alemão, também é um im- portante referencial para a teoria do desenvolvimento. Para ele, o desenvolvimen- to do ego é um processo contínuo, enquanto Freud restringiu o desenvolvimento da personalidade à infância. Para Erikson, o desenvolvimento ocorre em oito es- tágios ao longo do ciclo de vida. Em cada um deles, há uma crise na personalidade que, se superada de forma satisfatória, o ego mantém-se saudável. Erikson tam- bém valorizou a influência social e cultural no desenvolvimento. As fases são: PSICOLOGIA EM SAÚDE 46 1. Confiança básica versus desconfiança básica: relacionada à relação mãe e bebê nos dois primeiros anos de vida. Dependendo da relação materna com o bebê, gera o sentimento de confiança ou desconfiança; 2. Autonomia versus vergonha e dúvida: também relacionada com a relação com os pais, é a fase em que sua autonomia começa a se desenvolver, buscando um equilíbrio entre aceitar o cuidado do outros e experimentar sua vontade. A vergo- nha se instala no processo negativo, quando é punição dada pelos pais; 3. Iniciativa versus culpa: nesta fase a criança tem entre três e seis anos e apre- senta o medo do fracasso e da punição. Tem mais autonomia, destreza e imagina- ção para realizar suas atividades. Seu conflito está em querer ser como os adultos, mas sofre a tensão das expectativas que eles depositam sobre ela; 4. Diligência versus inferioridade: período que a criança inicia sua atividade escolar e passa a experimentar tarefas mais complexas. A crise pode surgir quando ela não consegue dar conta dos novos desafios; 5. Identidade versus confusão: esta fase já abrange toda a adolescência. A crise está na busca pela sua identidade pessoal e o seu papel no mundo. É um período de muitas vivências e experimentações que, quando não for bem sucedida, passa a ter dificuldade de saber quem é e de fazer escolhas; 6. Intimidade versus isolamento: dos 18 anos até por volta de 30 anos, o jovem passa pela fase de construir relações afetivas, no amor e na amizade. A crise está na dificuldade que pode enfrentar de estabelecer vínculos e se isolar; 7. Generatividade versus estagnação: período dos 30 aos 60 anos, a pes- soa passa a vivenciar uma fase mais criativa e produtiva, com propósitos pes- soais. A crise está na dificuldade de estar focado em preocupações e aquisição de bens materiais; 8. Integridade versus desespero: última fase da vida quando, a partir dos 60 anos, a pessoa passa a fazer um resgate de suas vivências. Dependendo da avaliação que ela faz de suas experiências, passa ter a sensação de solidão e tempo perdido. Perspectiva da aprendizagem A perspectiva da aprendizagem e os estudos do comportamento acreditam no desenvolvimento como algo contínuo. Para os teóricos desta linha, o desen- PSICOLOGIA EM SAÚDE 47 volvimento é resultante da aprendizagem baseada na experiência e adaptação ao ambiente. As duas teorias que embasam esta perspectiva são o behaviorismo e a teoria da aprendizagem social. O behaviorismo é a teoria que descreve o comportamento observado, que gera uma resposta já previsível (estímulo/resposta). Eles consideram fortemente a influência do ambiente no desenvolvimento da pessoa, ou seja, a resposta (com- portamento) é sempre uma reação ao estímulo ambiente. Por exemplo: sinto chei- ro de comida e salivo, levo um susto e meu coração dispara. O condicionamento clássico e o condicionamento operante são processos que explicam a aprendiza- gem: associação de estímulos a fim de gerar um comportamento; o reforço, que tende a manter determinado comportamento; e a punição, que extingue alguns comportamentos. Já a teoria da aprendizagem social de Albert Bandura diverge dos behavio- ristas, que consideram que o desenvolvimento é resultado da ação do ambiente sobre a pessoa. Para ele, o desenvolvimento é bidirecional: o ambiente age sobre a pessoa e vice-versa. A aprendizagem social acontece por modelação, isto é, a criança imita o comportamento que observa nos outros nas suas referências. É através da imitação que a criança desenvolve sua linguagem, reage a uma agres- são e desenvolve valores. Uma visão mais atual sobre este tipo de aprendizagem é a teoria social cognitiva, considerando os pensamentos e demais processos cog- nitivos essenciais para o desenvolvimento. Perspectiva cognitiva A perspectiva cognitiva desenvolveu seus trabalhos de pesquisa voltados para os processos de pensamento. Estão entre as teorias mais famosas do desenvolvi- mento os estudos de Jean Piaget e Vigotski, que trouxeram grandes contribuições para a psicologia e pedagogia, apresentando como as crianças pensam. Piaget era biólogo e filósofo. Para ele, as crianças têm uma capacidade inata de adaptação ao ambiente. Defendeu que o desenvolvimento cognitivo não está separado do desenvolvimento biológico. Quando curiosa, a criança explora o am- biente e os objetos que a cercam e vai criando sua forma de se apropriar deste espaço. Para desenvolver competência com os objetos e o espaço, Piaget refere que a criança o faz em três processos bem importantes para seu desenvolvimento PSICOLOGIA EM SAÚDE 48 intelectual: a assimilação, a adaptação e a equilibração. Esta combinação de com- petências ocorre conforme o Diagrama 1. DIAGRAMA 1. TEORIA DA EQUILIBRAÇÃO DE JEAN PIAGET A assimilação é o processo em que a criança começa a explorar um novo objeto, absorve a nova informação e incorpora à sua estrutura cognitiva, mani- pulando e testando formas de uso. Na acomodação, ela já tem uma habilidade e familiaridade em relação ao objeto e ajusta as estruturas já existentes, en- caixando a nova informação. Ela vai criando habilidades com o novo objeto, já incorporado em seu esquema cognitivo. Da adaptação, ela segue para a equili- bração, tendo plena facilidade ao já estar incorporada à informação. Um exemplo disso se dá quando um bebê, que até então só usava a mama- deira, se depara com um novo objeto – um copo. Na assimilação, ele começa a explorar, percebe que as outras pessoas o colocam na boca, brinca colocando na boca e faz que está tomando água, imitando um adulto. Outro dia, a mãe dá um pouco de água no copo na sua boca e ele deixa cair. Na acomodação, ele pegar o copo sozinho, inclina demais como se fosse a mamadeira (que ele já conhece), mas a água cai porque ele virou demais. Aos poucos, ele percebe que não pode inclinar tanto e vai
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