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Relatos docentes de ações exitosas APLICADAS NO ENSINO FUNDAMENTAL I 2 0 2 3 4 INTRODUÇÃO 10 XILOGRAVURA DE J. BORGES 18 CIRANDA: HISTÓRIAS E ORIGENS 21 SUSTENTABILIDADE E ARTE REVERBERANDO NA EDUCAÇÃO 24 PROJETO: CORAL DAS ESTRELAS 29 CIRANDA 42 CIRANDA, UMA BRINCADEIRA DE RODA 53 ARTE NEGRA IMPORTA 59 CONGADA DANÇA FOLCLÓRICA EM MOGI DAS CRUZES 80 TRADIÇÃO, RESGATE E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL MOGIANO “FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO” 86 RELATO DE EXPERIÊNCIA: MUSICALIZAÇÃO INFANTIL 99 BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS 114 RUGBY NA ESCOLA: MAIS QUE UM ESPORTE, UM CÓDIGO DE CONDUTA 121 NÃO É SÓ FUTEBOL 129 O BASQUETE DA ESCOLA: UM PROJETO ESPORTIVO EDUCACIONAL EM UMA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL SUMÁRIO 138 TÊNIS NA ESCOLA: DA TEORIA À PRÁTICA, PROPOSTAS E DESAFIOS 145 GRAXA NA MÃO E SORRISO NO ROSTO: OFICINAS PEDAGÓGICAS A SERVIÇO DA APRENDIZAGEM 153 DERRUBANDO TABUS: QUEM PODE PRATICAR A GINÁSTICA RÍTMICA? SÓ MENINAS? OU MENINOS TAMBÉM? 161 O ENSINO DO XADREZ NA ESCOLA 168 MALABARISMO 171 CAETANDOGIL: PROCESSO ARTÍSTICO E PEDAGÓGICO BASEADOS NA VIDA E OBRA DE CAETANO VELOSO E GILBERTO GIL INTRODUÇÃO A formação continuada de professores é uma temática bastante dis- cutida na área educacional e nas pesquisas acadêmicas. Sua contribui- ção para o desenvolvimento profissional docente é inegável. Entretanto, para que tal formação seja verdadeiramente efetiva, deve estar apoiada na reflexão do sujeito sobre a sua própria prática e promover questio- namentos permanentes, num processo constante de autoavaliação que oriente o seu trabalho. Considerando que o desenvolvimento profissional docente é um pro- cesso de evolução contínuo e coletivo, que leva em consideração o ca- ráter contextual e organizacional e deve ser orientado para a mudança, é que o formato do curso oferecido aos professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental e EJA foi idealizado. Em 2022 foi realizado, assim, um curso de formação continuada para esse público com a característica de um grupo de estudos. Dessa forma, foi possível promover reflexões mais assertivas com relação às reais necessidades desses profissionais. Os grupos de estudo foram organizados de acordo com a área de atu- ação do docente. Ou seja, cada professor especialista participou do gru- po da área de conhecimento sobre a qual ministra suas aulas. As discus- sões de tais grupos foram organizadas e mediadas pelos professores especialistas das áreas de conhecimento que atuam no Departamento Pedagógico (DEPED). Contando com quase 100% de participação dos professores envolvi- dos, encerramos esse movimento formativo com um saldo positivo no envolvimento com as propostas e no engajamento dos professores. Como produto final desse processo, cada professor produziu um tex- to, que poderia ou não ser compartilhado posteriormente. Para aqueles que optaram por compartilhar, foi disponibilizado um espaço no pre- sente livro, composta por textos de todas as áreas de conhecimento. As produções foram diversas e trouxeram, para além da auto formação com reflexões sobre a prática docente, a interação entre os especia- listas de diversas áreas, contribuindo, assim, para o desenvolvimento profissional docente de todos os envolvidos. A seguir, disponibilizamos esses textos, divididos por área de conhe- cimento5. Aproveite a leitura! 5 Salientamos que cada autor é responsável pela produção e autorização de divulgação do seu texto, exi- mindo o Departamento Pedagógico e a Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes de quaisquer incum- bências ou obrigações com relação a plágios e outras situações semelhantes. ARTE A R T E 7 Na formação dos professores de Arte em 2022, experimenta-mos pela primeira vez um modelo formativo menos amparado na apresentação e sistematização por parte do formador para o grupo de cursistas. Partimos da premissa de que todos os professores de Arte detêm a mesma licenciatura, embora, naturalmente, cada um tenha direcionado seus estudos para uma ou mais linguagens artísticas, conforme sua trajetória pessoal. Propusemos, então, um desenho no qual os educadores pudessem compartilhar entre si as experiências desenvolvidas em suas escolas, conhecendo, assim, os desafios, as conquistas e as dificuldades encon- tradas em cada realidade. David Thornburg descreve quatro diferentes modelos de aprendizagem, aos quais ele se refere metaforicamente como “lugares” (Oddone, 2020)5. Um desses “lugares” descrito pelo autor é a “fogueira” - a imagem metafórica de um grupo de pessoas reunidas ao redor de uma fogueira, ouvindo as explanações de um sábio. Este seria o modelo tradicionalmente empregado não só na aula de aula con- vencional, durante as aulas expositivas nas quais os estudantes acom- panham a apresentação conduzida pelo professor, mas também nos cursos e oficinas direcionados para a formação de educadores, onde estes passam a representar o papel dos estudantes diante da apresen- tação de um palestrante ou formador. Não há nada de errado com tal prática; com efeito, eventualmente todos podem aprender muito num curso ou palestra dessa forma. Entretanto, o modelo formador > estu- dantes está longe de ser o único. O “lugar” descrito por Thornburg como a “fonte d’água” propõe um modelo diferente, a partir da imagem de diferentes animais que vêm be- 5 ODDONE, Kay. Re-imagining learning spaces to inspire contemporary learning - part one: models for change (“re-imaginando espaços de aprendizagem para inspirar aprendizagem contemporânea - parte um: mo- delos para mudança”). Disponível em <https://www.linkinglearning.com.au/re-imagining-learning-spaces-to- -inspire-contemporary-learning-part-one-models-for-change/>. Acessado em 17 de fevereiro de 2020. A R T E 8 ber no mesmo lago, sendo esse um local de encontro, de aprendizagem social. O modelo formativo que daí deriva convida pessoas com diferen- tes backgrounds a compartilhar entre si suas experiências, aprendendo, portanto, umas com as outras. Também o professor António Nóvoa, da Unesco, em fala transmitida durante uma live em 2020, sublinhou a eficácia de um modelo formati- vo amparado na coletividade e no compartilhamento de relatos de boas práticas. A partir dessa ideia, coube aos formadores, não preparar todo o con- teúdo da formação, as trilhas de aprendizagem e cada detalhe da pauta dos encontros, mas atuar como facilitadores e dinamizadores da troca de experiências. A fim de trazer alguma unidade aos relatos que seriam compartilhados, foi proposto aos educadores que buscassem diálogos com a cultura popular brasileira, por ser este um tema suficientemen- te amplo para que todas as linguagens artísticas apontadas pela Base Nacional Comum Curricular (doravante BNCC) e pelo Currículo Municipal fossem contempladas: Artes Visuais, Dança, Música, Teatro e Artes In- tegradas. Ainda assim, foi garantido aos educadores liberdade para buscar ou propor outros referenciais, a depender da proposta pedagógica que seria desenvolvida em cada contexto escolar. Na Rede Municipal, os professo- res de Arte atuam em escolas diferentes, inseridas nos mais variados contextos: urbano, periférico, rural, de modo que qualquer delimitação mais rígida acabaria por privilegiar alguma prática ou projeto de um lado e dificultar outros. Um terceiro “lugar” descrito por Thornburg é a “caverna”, uma metá- fora para o exercício da reflexão individual - a qual se realiza mediante a leitura e a contemplação. Dessa forma, os facilitadores da formação A R T E 9 procuraram selecionar textos e vídeos que viessem ao encontro dos re- latos trazidos pelos cursistas no decorrer dos encontros, de modo a ofe- recer subsídios teóricos às práticas que se desenhavam. A cada reunião, os professores puderam compartilhar os avanços encontrados, resul- tando em alguns dos relatos aqui publicados. Por ser uma primeira experiência, o modelo praticado não foi livre de dificuldades - sendo a principal delas, talvez, a adequaçãoao intrincado calendário escolar daquele ano, levando a que os projetos propostos e desenvolvidos pelos professores o tenham sido num espaço de tempo demasiado breve. Isto veio dificultar, também, um acompanhamento mais próximo por parte do Departamento Pedagógico. Entretanto, nem mesmo isso impediu que se vislumbrasse um trabalho rico, diverso e de qualidade realizado nas escolas municipais. O desenho de uma formação de educadores menos baseado na “fo- gueira” e mais próximo à “fonte d’água” e à “caverna” de Thornburg se mostra uma alternativa viável para a formação de professores, a ser aperfeiçoada e mais extensivamente praticada no futuro. A R T E 10 XILOGRAVURA DE J. BORGES Carla Andréa Zigante Ponto, linha, forma, cor e textura são os elementos básicos de toda composição visual. Tão básicos que, pensando na neces-sidade de uma recuperação das aprendizagens, após quase dois anos de afastamento escolar, devido à pandemia da COVID-19, optar por um plano que trabalhe cada um desses elementos, não é uma opção. Sempre que vou iniciar um trabalho com o elemento “TEXTURA” é aplicado primeiramente, um exercício de colagem, onde as crianças criam uma pequena cidade, usando formas geométricas e formas livres, conforme sua criatividade. Essa colagem é realizada apenas na parte inferior da folha, que se encontra dividida ao meio, na horizontal, pois a parte superior é reservada para a segunda parte da atividade. PRIMEIRA ETAPA DA ATIVIDADE Colagem realizada por estudantes, na parte inferior da folha, utilizada horizontalmente. A R T E 11 Finalizada a etapa de colagem, realizo uma roda de conversa com as crianças, para destacar as diferenças desta técnica, em relação ao de- senho/pintura, apontando algumas peculiaridades como o fato de que elas podem “sentir” com a pontinha dos dedos, cada forma existente na imagem que elas criaram. Este é o momento de revelar o motivo de re- servar a parte superior da folha. Nesta etapa, as crianças sobrepõem a parte inferior da folha, onde se encontra a colagem, com a parte superior da folha, ainda em bran- co. Com isso feito, as crianças aplicam a técnica da “Frottage”, usando giz de cera. Embora algumas crianças acreditem ser mágica, o fato da imagem ir surgindo na folha em branco, durante o processo artístico, a maioria já percebeu que isso acontece porque havia papéis colados, na base, criando um “relevo”. SEGUNDA ETAPA DA ATIVIDADE Imagem desenvolvida por meio da Frottage, utilizando uma colagem como base. Todos os seres e objetos possuem um relevo e uma textura. Para de- monstrar esse fato às crianças, a próxima atividade desenvolvida é uma pesquisa tátil pela escola: parede, chão, tronco de árvores, o quadricu- lado da grade das janelas e a tampa de metal do bueiro são capturados, usando também, a técnica da frottage, com giz de cera. A R T E 12 Em alguns dos resultados destas pesquisas, estavam as texturas das folhas, que estavam caídas no chão do pátio externo. Este é o ponto de partida para a próxima atividade: pesquisar em casa, folhas de plantas e árvores, criando com estas folhas, através da mesma técnica (Frottage), uma árvore. TERCEIRA ETAPA DA ATIVIDADE QUARTA ETAPA DA ATIVIDADE Pesquisa textual utilizando a técnica da Frottage Paisagens desenvolvidas por meio da Frottage A R T E 13 Estas mesmas folhas, pesquisadas, podem ser utilizadas em outra técnica: a “impressão botânica”. Com estas folhas “carimbadas”, em um suporte, o trabalho de criação é direcionado para a criação de uma pai- sagem, onde é possível trabalhar noções de composição e perspectiva. QUINTA ETAPA DA ATIVIDADE SEXTA ETAPA DA ATIVIDADE Estudantes realizando a impressão botânica Paisagens criadas usando folhas a carimbagem A R T E 14 Para dar continuidade ao trabalho e contextualizar as próximas téc- nicas de impressão, também é apresentado às crianças, um vídeo so- bre a “História da Impressão” (disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=2645Scfct54). Aproveitando que ainda temos algumas folhas disponíveis, usadas na impressão botânica, trabalhamos com elas na técnica da “Monotipia”. No primeiro momento, os(as) estudantes criam desenhos próprios aplicando tinta sobre um plástico esticado na carteira, realizando en- tão, a impressão. Na etapa posterior, as crianças aplicam tinta com um rolinho de espuma, formando um retângulo preto. Depois, escolhem e colocam as folhas secas formando uma composição, realizando então, uma primeira impressão em negativo desta imagem. Logo em seguida, retiram as folhas do plástico, onde a tinta ainda está preservada, e rea- lizam uma segunda impressão agora em positivo. MONOTIPIA Monotipia desenvolvida pelas crianças https://www.youtube.com/watch?v=2645Scfct54 https://www.youtube.com/watch?v=2645Scfct54 A R T E 15 Finalmente chegamos ao momento de apresentar a obra do artista J. Borges, utilizando para tal fim, dois vídeos “J. Borges - Xilogravura e Literatura de Cordel” (disponível em https://www.youtube.com/watch?- v=f1XrCCiqyhc&t=10s) e “J. Borges e a arte da Xilogravura” (disponível em https://www.youtube.com/watc h?v=Pg70LPMTm14&t=13s). Além dos vídeos, os(as) estudantes ainda tiveram contato com ma- trizes, ferramentas, impressões de xilogravuras, além da apreciação de reproduções das seguintes obras de J. Borges: “Lampião e Maria Boni- ta”, “O Bicho de sete cabeças”, “Galo de Campina” e “A menina e o Cão” onde fazem suas leituras, tiram dúvidas e expõe suas ideias. Esse é o momento de explorar e conhecer as origens nordestinas de muitos(as) estudantes da nossa escola, buscar histórias, paisagens e personagens desta parte do Brasil, inspirando as crianças a criarem seus próprios desenhos. As artes desenvolvidas foram posteriormente trabalhadas em uma “matriz” adaptada de isopor. Foram realizadas impressões em preto, divididas em Provas5 de es- tado PI e PII, entrecortadas por um novo trabalho na matriz, a fim de destacar algum elemento particular ou então, ressaltar aquilo que ainda não tinha ficado muito nítido. Ao final, as crianças ainda realizaram mais duas impressões, uma em papel colorido e outra colorindo alguma parte da imagem que gostariam de destacar. 5 O termo “prova” se refere a uma etapa do processo de impressão, na qual o artista experimenta a ima- gem até chegar ao resultado desejado, passando então à impressão das gravuras definitivas, que serão numera- das e expostas ou comercializadas. https://www.youtube.com/watch?v=f1XrCCiqyhc&t=10s https://www.youtube.com/watch?v=f1XrCCiqyhc&t=10s https://www.youtube.com/watc h?v=Pg70LPMTm14&t=13s A R T E 16 ISOGRAVURA Crianças desenvolvendo as Isogravuras A R T E 17 A xilogravura é uma técnica de impressão milenar que foi trazida pe- los nossos colonizadores. Encontrou na região do nordeste sua forma de expressão máxima, através da literatura de cordel, de artistas como J. Borges, entre outros. Trazer esse tipo de trabalho para as crianças foi muito importante e enriquecedor. Através dele, pôde-se compreender melhor que toda obra é fruto de um processo, que leva “tempo” para ser concluído e que muitas vezes nos traz um resultado inesperado. Aliás, o processo foi o que não faltou em nosso caminho, até chegar- mos na xilogravura propriamente dita. Muitas descobertas foram feitas, novas técnicas e expressões foram incorporadas aos nossos vocabulá- rios. Outro ponto importante deste aprendizado foi conhecer um artista, que apesar de semi analfabeto, viajou o mundo e encantou todos com sua obra, reforçando a ideia da arte como agente transformador: trans- forma a vida de quem pratica e transforma a vida de quem se permite conhecê-la. A R T E 18 CIRANDA: HISTÓRIAS E ORIGENS Eliana Mignoni Sakaki Meu relato sobre “Cultura Popular” foi desenvolvido a partir do trabalho realizado com a turma do primeiro ano. O foco desta explanação foi o projeto de Música e Artes Visuais, tendo como tema “Ciranda: histórias e origens”, desenvolvido ao longo do quartobimestre de 2022. O objetivo da proposta foi resgatar as brin- cadeiras antigas por meio de cantigas de roda. Neste momento, o universo tecnológico tem atraído a atenção de nos- sos alunos, sendo importante trazer à atualidade, brincadeiras do pas- sado, fazendo com que conheçam outras formas de interação social, de modo divertido e prazeroso. Assim, pode-se considerar o fato de que a música encanta as pesso- as desde a infância e que as cantigas de roda possuem características significativas, por serem poesias cantadas, de estrofes simétricas, tam- bém denominadas quadrinhas. Nas atividades propostas, todos tiveram a oportunidade de cantar brincando, tendo sido propiciada a aproximação entre os estudantes, facilitando o desenvolvimento da criatividade, despertando a atenção e, principalmente, o conhecimento e a valorização da própria cultura. Iniciamos o projeto com uma roda de conversa sobre brincadeiras e música. O levantamento de dados constatou que nem todas as crianças conheciam as cantigas de roda, principalmente as que têm muito con- A R T E 19 tato com a tecnologia, que não privilegiam este tipo de cultura. Outro fator importante, observado na conversa, foi o relato dos(as) estudantes sobre o período de quarentena, ocorrido na pandemia de COVID-19, que impediu as crianças de frequentarem a escola. Um momento relevante nesta proposta foi a alternância dos(as) estu- dantes na prática de leitura oral das cantigas de roda, situação direcio- nada para o desenvolvimento das habilidades de leitura competente das crianças. Nas aulas de Artes Visuais, os conteúdos foram desenvolvidos a par- tir de cada uma das cantigas de roda. Para tanto, seguiu-se uma rotina: Leitura oral, roda de conversa, contextualização, momento da ciranda e resgate das brincadeiras antigas e por fim, registro em forma de dese- nho. As cantigas estudadas foram: O cravo e a rosa; Peixe vivo; A Barata; Caranguejo não é peixe; Rosa Juvenil; Fui morar numa casinha; Sítio de Seu Lobato. A aula costuma ser a mais aguardada pelos pequenos. No momento de descrição deste relato, o projeto “Ciranda: história e origens” ainda se encontra em andamento. A R T E 20 BRINCANDO DE CIRANDA LEITURA DAS CANTIGAS DE RODA Estudantes dançando a Ciranda Estudante realizando a leitura de uma Cantiga de Roda A R T E 21 SUSTENTABILIDADE E ARTE REVERBERANDO NA EDUCAÇÃO Jovana Aparecida de Souza Nossa escola necessita de uma reforma, pois não conta com muitos espaços direcionados ao bem estar das crianças ou locais para que possam desfrutar de momentos de tranquili- dade. Ao mesmo tempo, percebo que os(as) estudantes estão inquietos, com problemas de comportamento e dificuldades de interação. A construção de um jardim criaria um maior vínculo dos(as) estudan- tes com a escola. Acredito que desenvolveriam mais respeito por um espaço feito por eles(as) mesmos(as). Esse seria um local que poderiam estar e cuidar ao mesmo tempo. Este projeto foi desenvolvido a partir dos seguintes tópicos: • Roda de conversa; • Apreciação do filme Wall-E, para sensibilização; • Biografias dos artistas: Roberto Burle Marx, Frans Krajcberg, Siron Franco e Vik Muniz, os quais possuem histórias de comprometi- mento com a defesa do meio ambiente, sua preservação, e tam- bém de paixão pela natureza; A R T E 22 • Leitura Visual das obras de arte dos artistas selecionados; • Planejamento e organização do jardim; • Desenvolvimento de um Mapa Mental, caminhada pela escola e complemento do Mapa Mental; • Estudos, pesquisas e apreciação de vídeos para ampliar conheci- mentos sobre a Mata Atlântica, sua história e situação atual, im- portância das florestas para a manutenção do clima, da qualidade da água e do ar e da vida; • Realizar uma visita à Escola Ambiental; • Efetivar o plantio de mudas no jardim • Exercitar o cuidado com as mudinhas, observando e registrando o crescimento das mesmas; • Sensibilizar funcionários e familiares sobre a importância da exis- tência de árvores na escola e no bairro onde a unidade escolar está localizada. O cronograma foi desenvolvido para que o projeto seja executado ao longo do ano letivo de 2023. Como resultado, avalio que os(as) estudantes ficaram muito envolvi- dos e comprometidos com o projeto. Além da crescente motivação com as práticas desenvolvidas, houve o desenvolvimento da interação entre os(as) estudantes. A R T E 23 A coleta seletiva fez parte do projeto, e foi notório a ampliação gradu- al na motivação no cuidado com a escola, assim como, um maior desen- volvimento no senso crítico das crianças. Outro ponto importante a ser apresentado, diz respeito à diminuição no estresse nos(as) estudantes, na hora do almoço, fato surgido a partir da promoção de atividades diri- gidas. A R T E 24 PROJETO: CORAL DAS ESTRELAS Ricardo Alexandre Leite da Silva Venho trabalhando na escola EMESP Profa. Jovita Arouche Franco, uma escola com atendimento a estudantes com ne-cessidades especiais. Tenho trabalhado as atividades de musicalização com os(as) estudan- tes das turmas de letramento, dado o fato que a professora Ane Caroline Bispo Pimentel trabalha as atividades de artes visuais. A princípio, conversando com a Ane, tivemos a ideia de desenvolver atividades ligadas a brincadeiras e brinquedos de origem popular, onde poderíamos trabalhar brincadeiras musicais e brinquedos populares, para serem desenvolvidos com as turmas. Seria realmente interessante trabalharmos brincadeiras musicais, bem como, confecção de brinque- dos como pião, pipa, bilboquê, etc. Acontece que os(as) estudantes são adultos e muitos possuem re- ais impossibilidades motoras, algo que acaba inviabilizando a execução de algumas atividades de caráter infantil. Além disso, o meu horário de trabalho não coincide com o horário da professora de artes visuais. Tra- balhamos de forma complementar para melhor utilização logística e es- pacial da escola, o que acentuou a nossa dificuldade em desenvolver um projeto em parceria… Vinha trabalhando em musicalização um projeto de canto coral, a par- tir de músicas populares, de acordo com o gosto dos(as) estudantes, por A R T E 25 ser mais fácil a fixação das letras e melodias conhecidas por eles(as). Após muitas tentativas de introdução de músicas e melodias, bem como atividades rítmicas e motoras, como escravos de Jó, pude perceber a grande dificuldade por parte dos(as) estudantes para memorizar a letra e também, conseguir concatenar a coordenação motora de acordo com as especificidades e particularidades de cada um. A partir dessas observações e considerando a iminência de uma pos- sível gravação do projeto: “Coral das Estrelas”, em parceria com a Se- cretaria de Cultura e com o suporte do estúdio público de música EMAM (Estúdio Municipal de Áudio e Música), resolvi relatar todo o processo de trabalho, criação e gravação dessas músicas, bem como os seus des- dobramentos, sendo este, o nosso trabalho em cultura popular. Nosso trabalho leva em consideração as especificidades da comunidade e a realidade dos(as) estudantes atendidos(as). O nome “Coral das Estrelas” veio da observação da dificuldade em desenvolver na escola de educação especial, um projeto tradicional de canto coral, com duas ou mais vozes ao mesmo tempo ou mesmo ape- nas uma voz coletiva em uníssono. Lembro de voltar para casa e comen- tar com minha companheira Inaiá, após algumas tentativas e um insis- tente trabalho de consciência vocal a partir de respirações e vocalizes: “ - Percebo que será impossível chegarmos ao canto em uníssono, mas observo que essa é a grande potencialidade desse grupo… Cada aluno canta a mesma música com muita personalidade e amor! Cada aluno canta como se fosse a grande estrela do espetáculo. Não existe cantor de apoio ou ator coadjuvante… Todos querem brilhar! Cada um possui sua luz própria! Não existe espaço para um canto coral tradicional, mas a grande característica do grupo é que se trata de um coral constituídode estrelas! O Coral Das Estrelas”. A R T E 26 Ao trabalhar músicas populares brasileiras com os(as) estudantes, acabamos garantindo a temática proposta pelo curso “Cultura Popular”, e conseguimos garantir um produto musical que pudesse satisfazer os anseios dos(as) estudantes em relação à sua experiência artística. A ideia aqui era assumir a característica sonora do grupo, que apresenta uma multiplicidade sonora vocal, de acordo com timbres e especificida- des dos(as) estudantes. Para trazer a afinação desejada em um projeto gravado no estúdio público, pensei em convidar artistas para fazer as vozes guias das mú- sicas. Assim, os(as) estudantes do coral poderiam observar o seu canto em uma música, com melodia e letra bem definidas. O mesmo foi pen- sado em relação ao acompanhamento instrumental das músicas, afinal, diante de toda essa diversidade sonora vocal, imaginei fazer sentido uma banda acompanhando o canto, dado o fato que apenas as vozes cantando à capella não me pareciam suficientes, por se tratar de um trabalho de canto com características bastante distintas de um projeto de canto coral tradicional. A escolha das músicas foi um longo processo em que pude observar e absorver as características das diferentes turmas dos dois períodos. O processo foi muito vivo e participativo. Alguns alunos tinham um re- pertório cultural de músicas sertanejas, enquanto outros, de músicas românticas, infantis, etc. Pude propor algumas músicas que havíamos trabalhado sobre o meio ambiente. No final, chegamos em um projeto de gravação, totalizando 7 músicas. São elas: 01- “Asa Branca” de Luís Gonzaga, 02 - “Num Dia” de Arnaldo Antunes, 03 - “Romaria” de Renato Teixeira, 04 - “É o Amor” de Zezé di Camargo, 05 - “Evidências” de José Augusto e Paulo Sérgio Valle, 06 - “Como é Grande o meu Amor por Você” de Roberto Carlos e a 07 - “Filhote do Filhote” de Jean e Paulo Garfunkel. Gravamos ainda uma A R T E 27 oitava música: 08 - Faixa Bônus, o registro da experimentação com os instrumentos musicais que fizemos após o horário do lanche, enquanto esperávamos o técnico voltar do seu horário de almoço. A principal gravação com os alunos, aconteceu no dia 16 de setembro de 2022, uma sexta-feira. Gravamos sete músicas acompanhadas com o violão, exatamente como fazíamos em sala de aula, com a diferença de termos os alunos das diferentes turmas cantando juntos. Os cantores que gravaram as vozes guia foram: Mateus Sartori, Re- nata San Giácomo, Inaiá Ayaní Bitencourt (minha companheira), Isabela Maria (minha filha) e Ricardo Leite (eu). Os músicos que participaram das gravações foram: Geraldo Monteiro Neto (violão de 12 cordas), José Edilson Ferreira (sanfona), Flávio Liborio (contrabaixo), Leandro Pellágio (piano), Thiago Franco Cortes dos Santos (guitarra) e Ricardo Leite (violão, bateria, guitarra, contrabaixo e percus- são) Inaiá e eu gravamos algumas “vozes guia” e já no dia 23 de setem- bro, gravamos a sanfona do Edilson, o violão de 12 cordas do Neto, a voz da Renata, algumas guitarras do Thiago e a bateria do Ricardo. No dia 30 de setembro foi a vez de gravarmos o contrabaixo do Flin, as outras guitarras que faltaram, metalofone e percussão por conta do professor Ricardo. No dia 05 de outubro consegui levar Isabela, minha filha, pra gravar a música Filhote do filhote e finalmente no dia 14 de outubro, gravamos a última voz, do Mateus, em Asa Branca. Depois fizemos a mixagem e a masterização, finalizando o trabalho de estúdio. Contamos com o apoio do pessoal da Secretaria de Cultura do muni- cípio, através da utilização do espaço e dos recursos do Estúdio Munici- A R T E 28 pal de Áudio e Música (EMAM), além do trabalho fantástico do técnico de som: Evandro Cesar dos Reis. Contamos ainda, com a participação de artistas convidados, que gentilmente cederam suas habilidades musi- cais para abrilhantar este projeto. Os alunos que gravaram suas vozes no estúdio: Anderson Antunes de Carvalho, Cláudia Aparecida de Jesus, Danielle de Camargo Reis, Edu- ardo Santana Chaves, Emerson Aparecido de Moura, Janaina Firmino, Jeferson Luiz dos Santos, José Carlos Monteiro, Katia Rosanes Paiva, Marcelo de Souza Loyola, Queitilin Andressa dos Santos, Sueli Aparecida dos Santos Trajano, Valquiria Aparecida Tavares de Andrade e Vânia Ma- ria Tavares Barbosa. Os profissionais da EMESP que participaram das gravações, trans- porte, alimentação e logística de apoio foram: Ana Lucia R. Cunha, Ane Caroline Bispo Pimentel, Aline Coelho Peres da Silva, Antônio D. Carmo, Carmela Rodrigues Alves, Daniela Rosa da Silva e Patrícia Pontes Silvé- rio. O motorista envolvido no transporte dos alunos: Marcos Avila Alves e as merendeiras responsáveis pela alimentação dos alunos: Sandra Ma- ria Paiva e Sônia Mara de Sá. A R T E 29 CIRANDA Rosemeire Donizeti Do Prado INTRODUÇÃO Estudos apontam a origem da dança em Portugal. A Ciranda, como “manifestação folclórica pertencente aos populares”, era inicialmente praticada na beira do mar, ruas e terreiros. Além desses locais, há relatos de que as cirandas eram praticadas no interior de Pernambuco. A Ciranda se manifesta como apresentações tradicio- nais para além das fronteiras dos vilarejos caiçaras, se tornando uma dança praticada em pontos turísticos de Pernambuco. Ciranda é uma dança com formação em círculo, muito tradicional em Pernambuco e na Paraíba, com coreografia simples: no compasso da música, realiza passos para direita, começando com o pé esquerdo. Os participantes são denominados cirandeiros; mestre, que é responsável por tirar as canções, contramestre, e músicos, que ficam no centro da roda. A partir da Ciranda foi desenvolvido o trabalho sobre a Cultura Po- pular, proporcionando informações e estabelecendo conexões com as linguagens da Arte. A dança de roda foi estudada como uma ferramenta para o desenvolvimento de habilidades, integração e melhor concentra- ção, movimento, ritmo e voz dos educandos. A R T E 30 OBJETIVOS A cantiga de roda é um importante instrumento para a aprendizagem, devido ao fato de proporcionar a interação social e desenvolver aspec- tos afetivos, estéticos e cognitivos, por meio da linguagem musical, além de estimular o resgate das brincadeiras folclóricas, proporcionan- do momentos para brincar coletivamente. Nesse momento de brincar e se divertir, é que a criança aprende e descobre o mundo à sua volta e as relações interpessoais. A Ciranda, como manifestação cultural, é uma dança de origem Por- tuguesa, cuja denominação supõe provir do vocabulário espanhol, “za- randa”, utensílio utilizado para peneirar cereal. Sendo em Portugal con- sagrada dança de adultos, no Brasil a Ciranda é conhecida de vários modos, como: dança infantil, roda cantada, dança de adultos. Em Pernambuco, ganha aspectos advindos da quadrilha, influência do Frevo, e acompanhamento instrumental variadíssimo. Os participantes dançam em círculo, de mãos dadas, fechando e abrindo a roda; quando a casa é pequena, os integrantes entram e saem em serpentina de mãos dadas. O passo com que se deslocam é batido, marcando o ritmo que nos remete ao Coco. No litoral sul de São Paulo é encontrada com o caráter de ser execu- tada como dança isolada ou fazendo parte do Fandango, conjunto de danças, sendo essas características apresentadas nas Cirandas, em Parati, Bertioga, Guarujá, Cananéia e Ubatuba. Na Ciranda de Guarujá, os cirandeiros se dispõe em duplas, damas ao lado de seu cavalheiro, desenvolvendo a roda com passos balanceados, pares ficam ao lado do outro, executam meio giros, seguindo as indicações dos versos. A R T E 31 Com informações das características das Cirandas em diferentes lo- cais em nosso país, temos um amplo repertório da dança como mani- festação da Cultura popular. Além do propósito de resgatar as brinca- deiras de rodas e apresentar aos educandos as Cirandas como dança de adultos advinda de Portugal, temos um grande legado dessa dança presentesem nossa cultura. JUSTIFICATIVA Visando o resgate das cantigas infantis, brincadeira de roda, no mo- mento atual de retorno ao contexto social, devido à pandemia, as ativi- dades com as cantigas infantis contribuem para o desenvolvimento so- cioemocional, expressão, música, movimento e ritmo. Com coreografias simples, unindo todos os participantes, apresenta-se como uma dança democrática, demonstrando a importância de todos para que o movi- mento da ciranda seja bem sucedido. As Cirandas no Brasil são denominadas como brincadeira de rodas com cantigas infantis, que fazem parte da nossa cultura do brincar, das tradições passadas por gerações. Porém, a Dança Ciranda em Portugal, a qual herdamos, é praticada por adultos. No Brasil, houve uma carate- rística particular de disseminar esta dança com as feições das brin- cadeiras de roda. As cirandas são praticadas por adultos em diferentes regiões, principalmente Pernambuco, Paraíba, litoral de São Paulo e Rio de Janeiro, podendo ser apresentada isoladamente ou como parte do Fandango, como acontece na Vila Caiçara da praia Grande Bonete em Ubatuba. Além de promulgar a dança como manifestação cultural, as atividades contribuem nos aspectos do desenvolvimento integral dos educandos. A R T E 32 A dança é uma linguagem corporal que possibilita o homem se co- municar, simbolizar seu estado de espírito, suas emoções e suas ca- racterísticas culturais, além de permitir o desenvolvimento de ordem psicológica, sociológica e motora....( A CIRANDA: ensino-aprendizagem na educação física escolar no município de Manacapuru/AM. Autores Ja- meson Solimões da Silva, Carmen Silvia da Silva Martini) METODOLOGIA Nas Oficinas de Atividades Rítmicas, o trabalho a princípio foi com as músicas “Cirandeiro” e “Escravos de Jó” em ritmo “vira”. As outras canti- gas foram sendo apresentadas no transcorrer das aulas . Em paralelo com a Artes Visuais, a partir da apresentação da obra “Ciranda”, de Mil- ton Dacosta, foi possível realizar o diálogo sobre a Ciranda, salientando o âmbito cultural, não apenas brincadeira de roda realizada pelas crian- ças, mas também como Dança realizadas pelos adultos, que compõe a nossa cultura popular. Outro ponto importante, foi estabelecer o diálogo sobre o conhecimento prévio das cantigas e brincadeiras de roda além das atividades escolares. As atividades nas Oficinas de Artes Visuais foram desenvolvidas de acordo com as turmas. O trabalho com a obra “Ciranda” do artista Milton Dacosta, foi realizado com as turmas do 2º e 3º Anos. Com os alunos do 5º Ano, iniciamos com a apresentação da xilogravura “Ciranda”, do artista Severino Borges, o qual a escolha além da temática da obra, representar a cultura popular, foi devido ao fato de fazer parte de uma família de gra- vadores com a tradição passada de geração em geração, sendo o poeta e gravurista J.Borges o pioneiro e incentivador de Severino Borges. A R T E 33 A cultura popular reverbera com todas as linguagens da arte, o teatro de bonecos conhecidos com diferentes nomes de acordo com a região, também proporciona uma vasta possibilidade de trabalho com o tema. Com os alunos do 5º ano, confeccionamos marionetes utilizando caixas de papelão. Esta atividade foi desenvolvida com o objetivo de criar uma ciranda com os bonecos. MÚSICAS UTILIZADAS: • Ciranda - Palavra Cantada. • Cirandeiro. • Escravos de Jó – vira. (Ritmos do Mundo). • Passa passa Gavião- Lula e Vitória Canário ( melodias para Brin- car). • Ciranda do Anel- Bia Bedran. • Quem me deu Foi Lia - Lia de Itamaracá. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO EM ARTES VISUAIS - (2º E 3º ANO) Apresentar a obra Ciranda, do artista Milton Dacosta. Realizar a leitu- ra da imagem formal e informal, desenhar uma brincadeira de roda, dia- logar sobre qual cantiga de roda poderia ser cantada. Após essa etapa, confeccionaram uma ciranda tridimensional, e os alunos desenvolve- A R T E 34 ram as figuras com diferentes características, recortaram e montaram a Ciranda, utilizando cartolina para desenhar as figuras e um círculo de papelão como base. Obra: Ciranda, 1942 .Óleo sobre tela-75,50 cm x 88,00 cm Artista: Milton Dacosta. Fonte: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3600/ciranda Releitura tridimensional, obra Roda , artista Milton Dacosta https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3600/ciranda A R T E 35 Esta representação de brincadeira de roda, utilizei para compor a apresentação das cirandas com as crianças. Fonte: http://xilogravurasb.blogspot.com/2008/09/xilogravura.html http://xilogravurasb.blogspot.com/2008/09/xilogravura.html A R T E 36 ARTES VISUAIS: XILOGRAVURA - ( 5º ANO) Apresentar a obra de Severino Borges, filho do xilogravador Amaro Francisco. O talento na arte de cortar a madeira vem de família, sua mãe Dona Nena, talha as próprias matrizes. O mesmo acontece com outros parentes. O precursor é o tio J.Borges, o poeta popular e xilogravador que o sobrinho admira e de quem tem orgulho desde pequeno, salientan- do a questão da cultura popular, passada de geração em geração, como observamos na família do artista. Tecer comentários sobre a origem da palavra Xilogravura, sobre a utilização da técnica para a ilustração dos livretos de cordel. Apresen- tei as ferramentas utilizadas para realizar o trabalho (goivas) e duas matrizes (trabalho pessoal). Após essa etapa, solicitei que realizassem um esboço em papel sulfite, no primeiro momento com o tema lendas, devido a estar trabalhando em parceria com a Oficina Intelectual5. So- licitei que observassem o tamanho da bandeja de isopor que utiliza- riam como matriz, antes de criar os seus desenhos. Posteriormente desenvolveram a impressão das imagens, escolhendo as cores de tinta guache de sua preferência. Alguns alunos realizaram várias impressões com cores diferentes. 5 Nas Escolas de Tempo Integral da Rede municipal de Mogi, são realizadas oficinas de contraturno com atividades culturais (Arte, Música, Dança, Teatro), modalidades esportivas e atividades denominadas “oficinas intelectuais”, que compreendem produção textual, matemática, leitura e interpretação de texto, entre outras. A R T E 37 ARTES VISUAIS/TEATRO: TEATRO DE BONECOS ( MARIONE- TES) - 5º ANO O teatro se difunde desde a pré história, quando os primitivos se des- lumbravam com as sombras nas paredes das cavernas. Posteriormente, surgem os primeiros bonecos moldados em barro. O teatro de bonecos se originou no Oriente, principalmente na China, e foi difundido mundo afora pelos mercadores e colonizadores. Pelo mundo, os fantoches manipulados são conhecidos por diferen- tes nomes como nos Estados Unidos, puppet. No Brasil, os bonecos são conhecidos como “Mamulengo”, em Pernambuco; “Babau”, na Paraíba; “João Redondo” no Rio Grande do Norte, ‘Mané Gostoso”, na Bahia, e Cas- simiro Coco, no Ceará e Piauí. As marionetes (fantoches), do termo francês marionette, consistem em bonecos que representam animais, pessoas e objetos animados por cordéis. Atividade: Confecção de marionetes, utilizando papelão ( caixas de papelão proveniente do recebimento da merenda), palito de sorvete, li- nha de nylon, e araminho utilizado para fechar embalagens, lã e papel colorido. A R T E 38 Após essa etapa, realizar a movimentação dos bonecos em ritmo de ciranda. (na Oficina de Teatro). ATIVIDADES RÍTMICAS Iniciamos a proposta com as cantigas Cirandeiro e Escravos de Jó (ritmo vira). Com o desenvolvimento das aulas foram apresentadas ou- tras músicas e brincadeiras de roda. Apresentação Folclore- Escravos de Jó. (Ritmos do Mundo) A R T E 39 “ Ciranda do Anel”- Bia Bedran (2º e 3º Ano). A R T E 40 Passa Passa gavião - Lula e Vitória Canário (3º Ano) REFERÊNCIAS Giffoni, Maria Amália Correia, 1918- G388d Danças miúdas do folclore paulista. São Paulo, Nobel, 1972. Marconi, Marina de Andrade- Brinquedos Cantados e Dança do Brasil. Ricordi Brasileira S.A.E.C- 1978,São Paulo. Sá, Ivo de – Oficinas de dança e expressão corporal para o Ensino Fundamental / Ivo Ribeiro de Sá, Kathya Maria Ayres de Godoy- São Pau- lo: Cortez, 2009.- (Oficinas aprender fazendo). MATERIAL DA INTERNET A CIRANDA: ensino-aprendizagem na educação física escolar no mu- nicípio de Manacapuru/AM. A R T E 41 Lydia Hortélio: uma pesquisadora das culturas da infância (Ana Luiza Lemos Tomich) Artes integradas-sópedagogia www.pedagogia.com.br/artesintegradas/index.phd?pagina=0 https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1612/milton-dacosta https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa240506/lia-de-itama- raca http://xilogravurasb.blogspot.com/2008/09/xilogravura.html https://repositorio.ifsc.edu.br/bitstream/handle/123456789/1729/ Susane%20Luiza%20Schlindwein%20Habitzreuter.pdf?sequence=1&i- sAllowed=y http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/Tesauro_de_Folclo- re_e_Cultura_Popular_Brasileira.PDF https://www.infoescola.com/artes/teatro-de-bonecos/ https://www.infoescola.com/teatro/marionete/ http://www.pedagogia.com.br/artesintegradas/index.phd?pagina=0 https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1612/milton-dacosta https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa240506/lia-de-itamaraca https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa240506/lia-de-itamaraca http://xilogravurasb.blogspot.com/2008/09/xilogravura.html https://repositorio.ifsc.edu.br/bitstream/handle/123456789/1729/Susane%20Luiza%20Schlindwein%20Habitzreuter.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://repositorio.ifsc.edu.br/bitstream/handle/123456789/1729/Susane%20Luiza%20Schlindwein%20Habitzreuter.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://repositorio.ifsc.edu.br/bitstream/handle/123456789/1729/Susane%20Luiza%20Schlindwein%20Habitzreuter.pdf?sequence=1&isAllowed=y http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/Tesauro_de_Folclore_e_Cultura_Popular_Brasileira.PDF http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/Tesauro_de_Folclore_e_Cultura_Popular_Brasileira.PDF https://www.infoescola.com/artes/teatro-de-bonecos/ https://www.infoescola.com/teatro/marionete/ A R T E 42 CIRANDA, UMA BRINCADEIRA DE RODA Solange Ap. Gonzales Bassini JUSTIFICATIVA Neste projeto será apresentado às crianças, um recorte da Cul-tura Popular, onde a Ciranda será uma parte importante. Para complementar, falaremos desse gênero musical, suas princi- pais características, contextualizando sua importância dentro do cená- rio musical brasileiro. Iremos analisar algumas canções: forma, letra e o rítmo e, de maneira lúdica, vamos explorar o espaço com movimentos corporais, auxilian- do a coordenação motora, lateralidade e noções rítmicas na criação de sons corporais (palmas, estalos, bater pés, etc.). Faremos intersecção, analisando obras de artistas das artes visuais como: Pieter Bruegel - Jogos Infantis (1560); Cândido Portinari - Brinca- deiras; Ivan Cruz - Brincadeiras; Antônio Poteiro; Ricardo Ferrari e Milton Dacosta. Com suas cores e formas orgânicas ou geométricas, as obras de arte serão usadas para leitura visual e para o desenvolvimento de rodas de conversas, trabalhando a oralidade, a escuta, a representação pelo desenho e a pintura e também pela expressão corporal. O objetivo do projeto é valorizar a Cultura brasileira de maneira lúdica e trazer o sentimento de pertencimento à terra, traçando diálogo entre as linguagens. A R T E 43 OBJETIVO GERAL Integrar as quatro linguagens artísticas por meio de diferentes ativi- dades, provocando a sensação de pertencimento e respeito no grupo, observando o tempo de desenvolvimento dos(as) estudantes, que tra- zem características diversas. OBJETIVOS NA MÚSICA • Desenvolver exercícios de respiração, e aquecimento corporal e vocal, (atenção e presença); • Identificar nas letras das canções que farão parte do repertório, os temas como: brincadeiras, cores, sentimentos; • Analisar vocabulário como sendo parte literária das canções (Lia de Itamaracá, Roda Gigante, Caminho de Viseu, Ciclo sem fim, Ci- randeiro, etc.); • Identificar os compositores das canções; • Desenvolver a escuta ativa e passiva com atividades rítmicas mu- sicais e instrumentais; • Identificar alguns gêneros musicais que serão trabalhados, como as canções, samba, ciranda, por meio da apreciação musical. A R T E 44 OBJETIVOS NAS ARTES VISUAIS • Identificar os artistas e suas obras nas artes visuais, que trazem temáticas como: brincadeiras e danças circulares: (entre os esco- lhidos Portinari e Ivan Cruz); • Identificar cores: primárias ( brincadeiras com manchas); • Identificar cores secundárias; • Identificar formas geométricas, linhas e pontos. OBJETIVOS NA DANÇA E ARTES CÊNICAS • Desenvolver a coordenação motora grossa; • Desenvolver a coordenação motora fina e equilíbrio, nos planos baixo, médio e alto; • Explorar a lateralidade com membros superiores e inferiores; • Explorar movimentos corporais nas canções e explorar movimen- tos com adereços. METODOLOGIA Em todas as oportunidades serão realizadas rodas de conversa que sejam pertinentes às vivências. (Em todas as linguagens). A R T E 45 NA MÚSICA O aquecimento vocal e corporal faz parte da rotina do trabalho de cantar. A intenção é que a criança possa, por meio desta atividade, estar preparada corporalmente para a realização da atividade. Não há inten- ção de torná-las artistas, mas sim, o propósito é que tenham consciên- cia do momento presente. As letras das canções são escritas em papel branco e colocadas onde todos tenham boa visualização. Realizamos a confecção e pintura de chocalhos (com mini garrafa pet e arroz). Os chocalhos nos ajudam na prática rítmica e prontidão. Confeccionamos também petecas, que serão utilizadas como adereços para movimentos em nossas canções, e adereços com fitas coloridas. NAS ARTES VISUAIS Cada turma terá como referência um artista e brincadeira: Manchas Aquareladas - No primeiro ano e segundo ano, utilizamos conta-gotas e tinta acrílica diluída para confecção de manchas em sul- fite 40, molhado. Os artistas que utilizei como referência são: Paulo Seccomandi e Gustavo Rosa (para o primeiro ano) Cores e for- mas; Lúcio Bittencourt e Miró (para o segundo ano) Cores, texturas e for- mas tridimensionais; Tarsila do Amaral e Ivan Cruz (para o terceiro ano) Cores, formas, co- lagens, brincadeiras; A R T E 46 Gilvan Samico (para o quarto ano) Linhas, textura gráfica e imagens simbólicas. DANÇA E ARTES CÊNICAS Exploração de movimentos corporais direcionados e em grupos. Com a música “Tum pá”, realizamos movimentos de exploração de sons cor- porais e rítmicos, também formando duplas para brincadeira de mãos. Esta atividade também é utilizada como aquecimento corporal e vocal nas aulas de música. CANÇÕES COM DANÇAS CIRCULARES Caminho de Viseu - Esta canção, de origem Portuguesa, é uma brinca- deira de roda, onde os participantes podem fazer círculos concêntricos (que giram em direções diferentes) e ao parar em frente a um parceiro das rodas, formam duplas para o jogo de mãos. Ao caminhar durante a canção, fazem os gestos interpretando a música. Trabalhamos a aten- ção, sequência rítmica de movimentos, lateralidade e os gestos. A mão direita tem uma roseira - Esta canção também se desenvolve com forma circular, porém os integrantes ficam parados no lugar can- tando e batendo palmas, enquanto um integrante, que segura a rosa, vai andando, obedecendo aos comandos da canção e escolhe um outro integrante para entregar a rosa, dando-lhe um abraço. Esta canção tra- balha a lateralidade, atenção, ritmo, respeito e afeto. Roda Gigante - Interessante esta canção, pois é atual e a cantora é jo- vem (Vicka), achei que as crianças se identificariam com ela quando vis- A R T E 47 sem o clip. Trabalhamos a letra da canção, para entender do que se trata e eles fizeram a interpretação em conjunto, observando as passagens da infância para a vida adulta. Nesta música estamos fazendo o caracol ( coreografia tradicional da quadrilha das festas juninas)de uma maneira atualizada que pode ser inserida em outra música (MPB). Trabalhamos a atenção, colaboração no grupo coletivo e o ritmo lento. Finalmente chegamos à Ciranda: Vamos Colorir, uma atualização da ciranda tradicional, pois o texto fala de brincadeiras infantis. Sua melo- dia traz três andamentos e tonalidades diferentes, e as crianças iden- tificaram que não parece a mesma música, o refrão é bem marcado e eles gostaram bastante. Estamos trabalhando os passos da ciranda, que ensinei em duas etapas com coreografia marcada: 1. Pé direito cruza na frente do pé esquerdo e pé esquerdo vai para a lateral. Repetimos várias vezes. Na semana seguinte fizemos a segunda etapa. 2. Pé direito cruza na frente do pé esquerdo, pé esquerdo vai para a lateral, e pé direito cruza atrás do pé esquerdo, pé esquerdo vai para a lateral. Alguns(mas) estudantes conseguiram, outros tive- ram um pouco mais de dificuldade. Trabalhamos a atenção, a prontidão, a lateralidade, o ritmo e o anda- mento. PÚBLICO-ALVO Todas as turmas do primeiro ao quarto ano - 6 a 10 anos A R T E 48 MATERIAIS Tintas variadas, pincéis diversos, tubos de papelão, mini garrafas pets, garrafas pets grandes, grãos variados, papéis coloridos, fitas de cetim (várias cores), papelão, papel A3, sulfite 40g.,cola, tesoura, conta gotas, bolas, recortes de tecidos variados,durex colorido. Instrumentos musicais : Xilofone, violão, aparelho de som, meia- lua, chocalhos, reco-reco, caixa, tambor e agogô. AVALIAÇÃO A avaliação acontece de forma contínua, onde sempre conversamos sobre o comportamento, disciplina e respeito para com os colegas. Tam- bém acontece nas apresentações na escola. A participação de cada criança é muito importante, não há inten- ção de que seja perfeito e acolhemos o “erro”, pois na escola eles estão aprendendo a fazer, ser e ter o máximo de vivências possíveis, para de- senvolverem suas habilidades e competências. O processo de aprendizagem se dá pela evolução dos trabalhos reali- zados em atividades pensadas e propostas para cada turma. Também realizamos exposições das atividades de pintura onde todos os trabalhos são expostos e eles fazem a “críticas” em rodas de conver- sas. A R T E 49 TEMPO PREVISTO • 1 aula por semana 1h30min - Artes Visuais - 1 semestre • 1 aula por semana 1h30min - Canto Coral - 1 semestre “A melhor maneira de pensar a prática é a melhor maneira de pensar o certo” Paulo Freire A SALA DE AULA COMO LABORATÓRIO ... “COMO SE FOSSE BRINCADEIRA DE RODA”... Pensei em trazer a Ciranda, uma das mais tradicionais danças popu- lares, pois após um grande período de falta de contato, percebemos que as crianças que não têm acesso aos principais meios de comunicação estão apresentando muita dificuldade de concentração, falta de aten- ção, apresentando até comportamentos complexos na convivência com os outros. Ao relatar para eles que gostaria de fazer um coral cênico, eles fica- ram surpresos, pois só cantamos. Tive que elaborar uma sequência didática, pois muitas crianças têm vergonha e medo de se expor, tornando o trabalho mais demorado. Po- rém vislumbrei esta possibilidade com a ciranda. A R T E 50 A ciranda se faz com movimentos circulares, cantigas e mãos dadas. Desde a pré história, já se fazia uma dança ritual em roda, acompanhada por cânticos. Segundo a tradição, ao se voltarem para o centro do círcu- lo, movimentando-se e cantando, os homens se comunicavam com os deuses. (ALMEIDA, p.9) As melodias seguem com temas variados do cotidiano, fluindo de ma- neira autenticamente brasileira. A CIRANDA NO BRASIL Segundo historiadores, a ciranda originária de Portugal era dançada por adultos. A difusão pelo Brasil teve início no norte de Pernambuco, tendo imediatamente atraído as crianças, por esta mistura de canto, dança, brincadeira e diversão. Na Ciranda não cabiam discriminações, dançando velhos e moços, homens e mulheres de todas as condições. A brincadeira se espalhou rapidamente por todo o nordeste. Quando se fala em ciranda, não se pode deixar de citar o grande mestre Antônio Ba- racho, um dos maiores poetas e compositores que comandou, durante muitos anos, a Ciranda do Abreu e Lima. Baracho era trabalhador braçal e encantava a todos com sua voz forte e os versos que criava nas brin- cadeiras de roda. É comum realizar Cirandas na beira da praia, em que a cadência dos passos, com os pés descalços, se harmonizam com o balanço das ondas do mar. A Ilha de Itamaracá foi cantada nos versos da ciranda mais conhecida do Brasil: A R T E 51 Esta ciranda quem me deu foi Lia que mora na Ilha de Itamaracá estávamos na beira da praia, ouvindo as pancadas, das ondas do mar... Junto a ela vieram outras canções para ajudar a concretizar a apren- dizagem e tudo ficou fácil... MÚSICAS 1. Tum Pá - Barbatuques 2. Caminho de Viseu 3. A mão direita tem uma roseira 4. Roda Gigante - Vicka 5. Vamos Colorir - Bruno Ribeiro (Ciranda) Grupo Pé de Cerrado REPRODUÇÃO DAS OBRAS UTILIZADAS NAS AULAS DE ARTES VISUAIS (XEROX): 1. Jogos Infantis - Pieter Bruegel 2. Coleção de Brincadeiras - Ivan Cruz A R T E 52 3. O Pescador - Tarsila do Amaral 4. Várias Brincadeiras ( Roda, pipas e crianças brincando)- Cândido Portinari 5. Brincadeiras - Ricardo Ferrari 6. Roda - Milton Dacosta 7. Esculturas - Lúcio Bittencourt 8. Figuras invertidas -Juan Miró 9. Animais - Gustavo Rosa 10. Bailarinas - E. Degas REFERÊNCIAS ALMEIDA, Rosane - Apostila Brincante Formação de educadores brin- cantes, 2006. A R T E 53 ARTE NEGRA IMPORTA Vania Macedo Araujo Bissaco Construir um relato acerca de um projeto não se resume a contar uma trajetória linear com começo, meio e fim. É mais do que isso. É contar uma história, ou mais ainda, é contar histórias dentro de uma história… e no meu caso, em particular, é contar essas histórias entrelaçadas com o início da minha jornada como professora de Arte na Rede de Mogi das Cruzes. Ao pensar em um projeto para trabalhar com os(as) estudantes, pri- meiramente considerei a informação mais crucial: o tempo. Iniciei na rede já na segunda quinzena de outubro, com o bimestre em andamen- to, muitos eventos e feriados pela frente, e uma Feira do Conhecimento agendada para acontecer em novembro, evento no qual os demais pro- fessores já estavam engajados em alguns temas. A solução foi agregar nosso projeto ao que já estava sendo abordado em outras disciplinas. Dessa forma, a temática escolhida foi a Arte e a Cultura negra. Refletindo sobre o tema, a opção foi trazer um outro panorama para os(as) estudantes: o uso da arte como instrumento de afirmação e de validação da cultura e da força de um povo. A proposta foi apresentar alguns artistas negros e suas obras em algumas rodas de conversa para que refletissem acerca do tema. De cada artista eu trazia pequenos ví- deos que contavam um pouquinho da sua história e seu trabalho. O primeiro questionamento que lancei para os(as) estudantes foi para que me dissessem o nome de algum artista plástico negro. Em todas as A R T E 54 9 turmas que leciono ninguém se lembrou de nenhum. Para ampliar a reflexão, informei a eles que, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, o índice de população autodeclarada negra no Brasil está em 55%. Como é possível num país em que mais da metade da população é negra, não lembrarmos ao menos de um artista negro? Para dar continuidade às reflexões, foram apresentadas algumas obras com a temática da cultura negra, separando-as em duas catego- rias: obras criadas por artistas brancos e obras produzidas por artistas negros. As discussões ganharam amplitude, as diferenças na maioria dos casos eram perceptíveis. O olhar aguçado dos(as) estudantes buscava a compreensão do porquê daquelas diferenças, e eles mesmos chegaram num consenso, a história contada por quem apenas viu e por quem vi- venciou algo sempre será diferente. Assim, aos poucos, eles percebiam o quanto era crucial que a cultura e a história de um povo fossemconta- das por eles próprios, o quanto é urgente e necessário que a cultura e as artes negras sejam contadas por sua própria voz, narrando sua própria história, suas próprias dores e alegrias. E em meio a esse caldeirão de questionamentos e reflexões, quis elencar um artista que representasse tudo isso que já fora discutido an- teriormente. Busquei um artista que pudesse gerar identificação junto aos(às) estudantes, adolescentes de 6º e 7º anos do Ensino Fundamental II. Dessa forma, o artista escolhido foi Maxwell Alexandre, artista plásti- co de 31 anos, carioca, negro, jovem e morador da Rocinha, já reconhe- cido internacionalmente com exposições em Museus de várias partes do mundo. Um artista contemporâneo que busca um diálogo natural da sua arte com várias outras vertentes, seja música, dança e performances diversas. Recordo-me que na primeira aula sobre o artista Maxwell, assim que citei o seu nome, antes mesmo de mostrar qualquer foto ou vídeo do A R T E 55 mesmo, um(a) dos(as) estudantes levantou a mão e perguntou: “Prô, ele ainda tá vivo?” – Essas indagações naturais dos(as) estudantes, nos dão muitas pistas sobre a percepção que eles têm da Arte e o quanto para eles, Arte é apenas e tão somente um amontoado de coisas antigas, fei- tas por pessoas que já morreram há muito tempo e que dialogam pouco ou quase nada com suas vidas. E assim a proposta foi se desenhando, acontecendo e suscitando nos(as) estudantes questionamentos e novos olhares. E de uma forma muito marcante, pude perceber nos(as) estudantes, um estranhamento inicial, assim que começaram a assistir os vídeos sobre o artista. O pri- meiro trazia uma breve apresentação da exposição do artista, intitulada “Pardo é papel”, realizada no Museu de Arte do Rio em 2019. O mesmo mesclava algumas falas do artista, cenas da abertura da Exposição e das obras como um todo. A reação de muitos(as) estudantes foi de sur- presa e admiração ao verem um artista muito jovem, com dreads no ca- belo, vestido e falando como eles, mas, ao mesmo tempo, exaltando a cultura negra com um senso crítico singular. O espanto aumentou quando eles viram a cena da abertura da Expo- sição, na qual o artista convidou os rappers BK e Baco Exu do Blues para fazerem um show dentro do Museu, para os visitantes. Vários(as) estu- dantes que eram fãs perguntaram: “- É o BK cantando rap no Museu???” “- Sim, é o BK fazendo rap no Museu, aliás, os rappers são amigos pes- soais do artista e tudo que está acontecendo ali é arte...“ Ao final da apresentação selecionei uma das obras do artista intitu- lada “Pisando no céu” e propus que fizessem uma leitura de imagem e compartilhassem suas impressões. Foi bonito ver como a identificação A R T E 56 com o artista foi quase imediata. Como assim aquilo tão legal era arte? Como assim rap poderia estar num Museu? Como assim um artista re- conhecido internacionalmente poderia ser jovem, negro, usar dreads, ser morador de comunidade e mostrar ao mundo por meio da sua arte o orgulho de ser negro? Eram essas as indagações que pairavam em seus olhares. E de “como assim” em “como assim”, vivemos muitos momentos de reflexões, de trocas, de descobertas, de perceber que existe, sim, uma Arte na qual eles podem se reconhecer, que existem artistas que estão vivos e trabalhando muito para dar voz a quem nunca a teve. A tal Arte Contemporânea, que quebra as barreiras, torna sim possível um show de rap num Museu consagrado, uma arte em que tudo é permeável, entrela- çado, e que espelha também o que somos enquanto seres humanos, se- res que não cabem num rótulo ou numa caixa. Somos a soma dos nossos afetos, experiências e desejos. Os(as) estudantes descobriram que na Arte cabem sim Da Vinci, Mo- net, Maxwell Alexandre, Rosana Paulino, Basquiat, Estevão Silva, Djanira e tantos e tantos outros… nas aulas que se seguiram, pude ouvir de al- guns comentários do tipo: “Prô, eu pesquisei sobre o Maxwell na inter- net, é show, vi um monte de obras dele...” Ao término do nosso projeto, fizemos um painel com a releitura da obra escolhida e um registro reflexivo. E foi uma grata surpresa perce- ber que alguns(mas) estudantes negros(as) se empenharam em fazer um registro crítico, consciente do poder da arte para combater o racismo e suas mazelas. Pedi um texto de aproximadamente 10 linhas, recebi al- guns com a folha inteira. Aprenderam comigo. Aprendi muito mais com eles. Nesse tempo tão curto que tivemos, pudemos refletir, rever pensamentos, sair do lugar A R T E 57 comum e descobrir novos olhares. Não foi um projeto com tanta mão na massa, principalmente porque não haveria tempo hábil, mas em contra- partida, as trocas e conexões que suscitaram a partir da proposta, me fizeram ver que sim, isso também faz parte do nosso papel de educado- res, demonstrar o poder da Arte. Para Maxwell “O Museu é esse lugar de salvaguardar a história, de se- lar narrativas (...). Museu é um templo, se a gente não dominar esse tem- plo não vamos conseguir guardar e contar a nossa história (...). Eu acho que levar um povo, que não tem a sua história garantida e guardada, pro lugar de preservação histórica, pra mim, pessoalmente, é uma das es- tratégias mais fortes de tomada de poder a longo prazo.”. Nós, educadores, temos a missão de não apenas oportunizar expe- riências, ensinar técnicas e expressões artísticas, mas contextualizar a Arte no seu tempo, como um potente instrumento de afirmação, de combate aos preconceitos e de preservação da cultura de um povo. Pintor Maxwell Alexandre, nascido em favela carioca, expõe obras em museu de Paris – Reprodução / Instagram / @maxwell_alexandre A R T E 58 Estudantes durante o desenvolvimento do projeto. Pisando no Céu, 2020. Foto: Gabi Carerra. Dísponível em: https://www.theparisreview.org/blog/2020/10/22/sce- nes-from-a-favela/ REFERÊNCIAS https://www.ufrgs.br/arteversa/maxwell-alexandre-das-vielas-da- -rocinha-e-dos-museus/: acesso em 07/11/2022 https://www.youtube.com/watch?v=-TvR_g3HCvg&ab_channel=Mu- seudeArtedoRio/: acesso em 07/11/2022 https://www.youtube.com/watch?v=rghR_blAMtY&t=146s&ab_chan- nel=InstitutoInclusartiz/: acesso em 07/11/2022 https://www.youtube.com/watch?v=-rVukkxuWTk&ab_channel=A- GentilCarioca/: acesso em 07/11/2022 https://www.youtube.com/watch?v=-TvR_g3HCvg&list=RDLV-TvR_ g3HCvg&start_radio=1&rv=-TvR_g3HCvg&t=30&ab_channel=Museude- ArtedoRio/: acesso em 07/11/2022 https://www.youtube.com/watch?v=lAB59KbQgqE&t=59s&ab_chan- nel=Funda%C3%A7%C3%A3oIber%C3%AA/: acesso em 07/11/2022 https://www.theparisreview.org/blog/2020/10/22/scenes-from-a-favela/ https://www.theparisreview.org/blog/2020/10/22/scenes-from-a-favela/ https://www.ufrgs.br/arteversa/maxwell-alexandre-das-vielas-da-rocinha-e-dos-museus/ https://www.ufrgs.br/arteversa/maxwell-alexandre-das-vielas-da-rocinha-e-dos-museus/ https://www.youtube.com/watch?v=-TvR_g3HCvg&ab_channel=MuseudeArtedoRio/ https://www.youtube.com/watch?v=-TvR_g3HCvg&ab_channel=MuseudeArtedoRio/ https://www.youtube.com/watch?v=rghR_blAMtY&t=146s&ab_channel=InstitutoInclusartiz/ https://www.youtube.com/watch?v=rghR_blAMtY&t=146s&ab_channel=InstitutoInclusartiz/ https://www.youtube.com/watch?v=-rVukkxuWTk&ab_channel=AGentilCarioca/ https://www.youtube.com/watch?v=-rVukkxuWTk&ab_channel=AGentilCarioca/ https://www.youtube.com/watch?v=-TvR_g3HCvg&list=RDLV-TvR_g3HCvg&start_radio=1&rv=-TvR_g3HCvg&t=30&ab_channel=MuseudeArtedoRio/ https://www.youtube.com/watch?v=-TvR_g3HCvg&list=RDLV-TvR_g3HCvg&start_radio=1&rv=-TvR_g3HCvg&t=30&ab_channel=MuseudeArtedoRio/ https://www.youtube.com/watch?v=-TvR_g3HCvg&list=RDLV-TvR_g3HCvg&start_radio=1&rv=-TvR_g3HCvg&t=30&ab_channel=MuseudeArtedoRio/ https://www.youtube.com/watch?v=lAB59KbQgqE&t=59s&ab_channel=Funda%C3%A7%C3%A3oIber%C3%AA/ https://www.youtube.com/watch?v=lAB59KbQgqE&t=59s&ab_channel=Funda%C3%A7%C3%A3oIber%C3%AA/ A R T E 59 CONGADA DANÇA FOLCLÓRICA EM MOGI DAS CRUZES Maria de Fátima Coutinho Edméa Cristina da Silva Trettel APRESENTAÇÃOEste trabalho e projeto têm como objetivo valorizar a cultura po-pular folclórica de Mogi das Cruzes, em especial a Congada, ma-nifestação afro-brasileira, no país desde o século XVII. Num Brasil em que temos uma enorme diversidade de manifestação popular e que também possui um território imenso, com divergências pontuais de cada localidade, que enriquecem a nossa história, a con- gada é uma dança típica e folclórica, muito cultuada na Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes, existindo um sincretismo em meio à religiosidade da população. O público alvo pertence às comunidades de dois bairros de Mogi das Cruzes, Vila Industrial, por meio dos estudantes da Escola Municipal Adolfo Martini, e César de Souza, por meio dos estudantes da Escola Mu- nicipal Profª Guiomar Pinheiro Franco. O tema foi escolhido devido à grande aceitação e predisposição dos alunos do ensino fundamental I, encontrada nesse sentimento livre que a criança possui para o aprendizado de dança. A R T E 60 A Congada tem um histórico rico e aproveitar esse material na prática escolar é de grande valia para nós educadores. Será abordado contexto histórico envolvendo o continente Africano e suas influências, bem como o Brasil e suas dimensões culturais. Quanto à fundamentação teórica, no item I – Congada, trataremos da história, incluindo seu surgimento. No item II – A congada e seus perso- nagens, destacaremos a coroação, ritual que faz parte da dança. Para o item III - Dança da congada, o foco serão os passos, batuques e core- ografia. No IV item – Figurinos e adereços da congada. No item V – Ins- trumentos Musicais da Congada. No item VI – A Congada de Mogi das Cruzes. O presente trabalho é encerrado com a avaliação do projeto e suas referências. OBJETIVO • Divulgar a congada como dança folclórica de Mogi das Cruzes • Esclarecer aos alunos que a dança é um instrumento para a socia- lização em seus diversos meios de convivência em grupo; • Desmistificar a cultura africana, incluindo reflexão sobre o sincre- tismo religioso que existe na cidade de Mogi das Cruzes; • Entender tradições culturais de Mogi das Cruzes; • Praticar por meio da dança, cantos e alguns passos da congada; Valorizar a história e as manifestações culturais. A R T E 61 PÚBLICO-ALVO Alunos do ensino fundamental I LINGUAGENS ARTÍSTICAS • Artes Visuais • Teatro • Dança • Música CONEXÕES/INTERDISCIPLINARIDADES História, Geografia, Ciências Naturais, Língua Portuguesa, Matemáti- ca etc. METODOLOGIA/DESENVOLVIMENTO Serão desenvolvidas atividades nas salas do ensino integral, des- tacando-se as aulas de Artes Visuais, orientadas e ministradas pelo(a) Professor(a) de Artes - PII, trabalhando também, o tema nas linguagens do teatro, música e dança. A R T E 62 ARTES VISUAIS: RELEITURA DE OBRAS DOS ARTISTAS MOGIANOS SO- BRE A CONGADA E A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO. TEATRO : ENCENAR A COROAÇÃO DA FAMÍLIA REAL DO CONGO. MÚSICA: EXPERIMENTAR ALGUNS RITMOS E BATIDAS COM OS INSTRU- MENTOS DE PERCUSSÃO EXISTENTE NA UNIDADE ESCOLAR. DANÇA: EXPERIMENTAR E ENSAIAR PASSOS DA CONGADA. CRONOGRAMA O projeto será ocorrerá nos meses de agosto, setembro e outubro de 2022, desenvolvendo conteúdo histórico e ensaios que irão culminar em exposição e apresentação da Congada na quadra da escola. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA I - CONGADA: HISTÓRICO A Congada, também conhecida como Congado ou Congo, é uma ma- nifestação cultural e religiosa afro-brasileira, que faz parte do Folclore Brasileiro, desde o século XVII. Constitui-se em um bailado dramático em procissão ou desfile e é marcada com canto e música que recria a coroação do Rei do Congo. O Reino do Congo ou Império do Congo foi um Estado pré-colonial africano, no sudoeste da África, no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola (incluindo Cabinda), o sudoeste e oeste da República A R T E 63 do Congo, a parte oeste da República Democrática do Congo e a parte centro-sul do Gabão. A congada no Brasil, baseia-se em três temas em seu enredo: “A VIDA DE SÃO BENEDITO”; “O ENCONTRO DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO SUBMERGIDA NAS ÁGUAS”; e a representação da luta de “CAR- LOS MAGNO CONTRA AS INVASÕES MOURAS”. Embora seus registros mais antigos tenham ocorrido em Pernambu- co, a congada é mais praticada em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná e Pará. O congado mescla cultos católicos e africanos num movimento sinc- rético. É uma dança que representa a coroação do Rei do Congo, acom- panhado de um cortejo compassado, cavalgadas, levantamento de mas- tros e música. Ocorre em várias festividades ao longo do ano. Aqui em Mogi das Cru- zes, especialmente do mês de maio a julho, nas festividades da Festa do Divino Espírito Santo, sendo muito tradicional nos cortejos realizados nas ruas da cidade. Na celebração de festas aos santos, onde a aclamação é animada através de danças, com muito batuque de zabumba, há uma hierarquia, onde se destacam o rei, a rainha, os generais, capitães etc. Estes são di- vididos em turmas de números variáveis, chamados ternos ou guardas. Os tipos de ternos variam de acordo com sua função ritual na festa e no cortejo: moçambiques, catupés, marujos, congos, vilões, contra- -danças, ternos femininos e outros. A R T E 64 II – A CONGADA E SEUS PERSONAGENS Uma congada pode ter de 50 a 200 participantes, ou mais, divididos em cinquenta personagens. As letras mencionam o sofrimento dos es- cravos e também a esperança, a redenção, e a invocação dos santos para que a vida desse povo possa mudar. Os grupos são divididos em dois: a Congada de Cima e a Congada de Baixo. Na Congada de Cima temos Rei, Rainha, Príncipes, Cacique, Fidalgos ou Vassalos e crianças que são chamadas de “Conguinhos”. Na Congada de Baixo temos o Embaixador e o Secretário, o cortejo e os guerreiros. A festa do congo está longe de ser algo uniforme, pois cada região foi adicionando suas tradições e vivências. A R T E 65 Entrada dos Palmitos junto com bandeiras da Festa do Divino Congada de São Benedito - Bairro Santo Ângelo A R T E 66 III – DANÇA DA CONGADA A dança representa a coroação do Rei do Congo, acompanhado de um cortejo denominado terno ou guarda. Para cada terno existe um líder, o “capitão”. Igualmente, as lutas entre os mouros e cristãos, ou pagãos e batiza- dos são apresentadas em forma de coreografias. Estes, ficam perfilados de frente e “combatem” entre si com varas, com seus golpes marcam o compasso da música e da festa. Abaixo um exemplo deste “combate” realizado durante a congada de São Benedito, em Motor Cunha/SP: A fotografia abaixo, registrada em Mogi das Cruzes, também apresen- ta a coreografia usando os bastões. A R T E 67 IV – FIGURINOS E ADEREÇOS DA CONGADA As roupas são muito importantes na congada porque representam a hierarquia e os personagens nas festas. Camisas, capas, chapéus, bastões, espadas e lenços fazem parte dos trajes que devem ser feitos de tecidos confortáveis para não inibir os movimentos. Além disso, há uma série de fitas e bandeiras coloridas que trazem a imagem dos santos e identificam os diferentes grupos do cor- tejo. As jóias e as coroas dos reis são enormes, mostrando a opulência dos soberanos africanos. Há também trajes especiais, o quepe [chapéu] usado é bordado à mão, com fitas coloridas, para dar um balanço duran- te a dança. A R T E 68 V - INSTRUMENTOS MUSICAIS DA CONGADA Os instrumentos musicais utilizados são chamados de batedores, cuíca, a caixa, o pandeiro, o reco-reco, o cavaquinho, a viola, o violão, o tarol, o tamborim, o ganzá, marimbas, a sanfona, também o violino ou acordeom, porém a rabeca e violas são as maestrinas nesse cortejo. Esses instrumentos acompanham o canto que é puxado por uma pes- soa em intensas ladainhas entoadas, na qual a multidão acompanha o A R T E 69 refrão, com letras em português, mas tambémcom palavras do idioma “banto”. “Banto é um tronco linguístico, uma língua que deu origem a diversas outras línguas africanas. Hoje são mais de 400 grupos étnicos que falam línguas bantas, todos eles ao sul da linha do Equador”. As letras falam do sofrimento da escravidão, dos lamentos de um povo arrancado de sua terra, invocando os santos e as forças do alto, mas também tem cantos de esperança, redenção e na esperança de uma vida melhor. Os Estados que têm maior representatividade na Congada são Goi- ás, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Paraná e São Paulo. No evento também são louvados São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário. São Benedito: nasceu em 1526, na Sicília, Itália. Seus pais foram es- cravos vindos da Etiópia para Sicília. De acordo com a história, seus pais não queriam ter filhos para não gerar mais escravos. O senhor deles, sabendo disso, informou que se eles tivessem um filho dariam à crian- ça, a liberdade. Logo depois tiveram Benedito, e como prometido, ele foi libertado. Benedito, que foi criado na fé cristã pelos pais, tornou-se monge quando adulto. Há relatos de que ele realizou muitos milagres, por isso, foi canonizado em 1807 pelo Papa Pio VII. Apenas no Brasil, a data de São Benedito é comemorada em 5 de outubro, nos outros países, a celebração acontece em 4 de abril. Santa Efigênia: filha de reis de Núbia ou Noba, localizada na Etiópia. Logo após a ascensão de Jesus Cristo, Efigênia foi a única pessoa que aceitou a ideia de um único Deus e rejeitou o paganismo. Alguns dis- cípulos de Jesus haviam passado pela capital da Núbia para pregar o A R T E 70 evangelho. Os sacerdotes do local insatisfeitos com a crença de Efigênia e dos discípulos, conseguiram convencer ao rei de oferecê-la em sa- crifício por meio de “um fogo sagrado”. Segundo a lenda, os sacerdotes acenderam a fogueira em torno dela e ela invocou Jesus. Com sua fé, surgiu um anjo que a libertou da fogueira e a transportou para outro lo- cal. Após este episódio, além do rei e da rainha, todos daquele reino se converteram e foram batizados. Efigênia passou a pregar a palavra de Deus e a passar por muitas provações. A data de comemoração da santa é 21 de setembro. Nossa Senhora do Rosário: originou dos monges irlandeses no século VIII, que recitavam os 150 Salmos da Bíblia. As pessoas que não sabiam ler, os monges ensinavam a rezar 150 Pai Nossos, e mais tarde foi substi- tuído por 150 Ave Marias. A palavra Rosário quer dizer um buquê de rosas que se oferece à Nossa Senhora, representando Maria, mãe de Jesus. A celebração de Nossa Senhora do Rosário acontece em 7 de outubro. VI - CONGADA EM MOGI DAS CRUZES Mogi das Cruzes é uma importante cidade para o congado de São Paulo. Originariamente existia somente o Moçambique Paulista e a Congada, ma- nifestações característica do estado de São Paulo. Devido à imigração de mineiros da região de Santana dos Montes, Carandaí e Conselheiro Lafaie- te e de paulistas de outras cidades do estado, seu congado se renovou. Hoje existem 6 grupos que mantêm essa tradição: Congada Batalhão Nossa Senhora Aparecida, Congada de Santa Efigênia, Congada de São Benedito Coração de Cezar, Congada de São Benedito do Santo Ângelo, Congada do Divino Espírito Santo, Congada Marujada Nossa Senhora do Rosário. A R T E 71 Na Cidade de Mogi das Cruzes as pessoas associam a congada a algo carnavalesco, e, no passado, a congada sofreu preconceitos. A manifes- tação cultural chegou a ser impedida de entrar no santuário, no centro da cidade, onde está localizada a Catedral de Mogi. Hoje, felizmente, a celebração é reconhecida na cidade. A congada tem um envolvimento com o espiritismo também, não é à toa que o Congo veio da África, com as entidades religiosas como o preto velho, o marinheiro, porém a congada faz parte do catolicismo da igreja católica de onde sai para cortejar com muito amor, fé, devoção dos par- ticipantes. HISTÓRIAS MOGIANAS: TRADIÇÃO FAMILIAR José Afonso morava em Santana dos Montes (MG), onde o avô partici- pava de congada, assim começou a dançar com quatro anos de idade. E aí do avô, passou para o pai e do pai para a filha Gislaine. Era o final dos anos 1980, quando José Afonso, o Zé Baiano, levou a fi- lha, Gislaine, para participar da congada de Santa Efigênia, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. A menina, apesar dos 9 anos, queria ficar ao lado dos dançantes e seguia o pai que era o capitão daquele evento. Foi quando Zé Baiano foi ao microfone e disse: “No dia que eu não estiver aqui na terra, tenho certeza que quem vai carregar é essa meni- na aqui. Ela vai carregar esse bastão e vai levar meu nome e o nome da congada”. Os anos passaram e Gislaine Donizete Afonso, 43, se tornou a mestre Laine, considerada a primeira mulher a comandar uma congada no es- tado de São Paulo. A R T E 72 Geralmente é realizada no mês de abril, quando se celebra São Bene- dito, ou na Festa do Divino. De forma sincrética, os grupos misturam a cultura africana e católica por meio de cortejos com danças, músicas percussivas e coreografias. As músicas que são cantadas são em forma de orações, louvando todos os santos usando os ritmos. Conta a luta e a história dos negros, sendo uma forma de reconhecer que antigamente os negros sofreram e seria uma forma de honrar a for- ça, a fé e a devoção desse povo que ajudou a construir a nação brasileira. Zé Baiano faleceu em 1999, deixando ensinamentos, destacando a humildade e o respeito. Para comandar uma congada é preciso saber o momento certo de entrar, sair, rezar e cantar. Dona Maria, foi a primeira rainha da bandeira da Congada de Santa Efigênia no ano de 1984, ainda sob o comando de José Batista Afonso (Zé Baiano). A R T E 73 AVALIAÇÃO Será realizada durante todo processo finalizando com a apresenta- ção da dança. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ESCOLA MUNICIPAL “ADOLFO MARTINI” Profª MARIA DE FÁTIMA COUTINHO 1. COREOGRAFIA FEITA PELA PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E APRESENTADA PARA ESCOLA. A R T E 74 2. ENCENAÇÃO DA COROAÇÃO E APRESENTAÇÃO DOS INS- TRUMENTOS QUE A ESCOLA POSSUI COM ACOMPANHA- MENTO A MÚSICA. A R T E 75 3. RELEITURA DA OBRA “CONGADA” NERIVAL RODRIGUES A R T E 76 ESCOLA MUNICIPAL “GUIOMAR PINHEIRO FRANCO” Profª EDMÉA CRISTINA DA SILVA TRETTEL 1. INICIEI APRESENTANDO VÍDEOS SOBRE A CONGADA E A MÚSICA “SÃO BENEDITO DA ESCADA ENSAIAMOS CANTAN- DO VÁRIAS VEZES. A R T E 77 2. VIVENCIAMOS OS PASSOS DA CONGADA. 3. CONHECEMOS A BIOGRAFIA DO ARTISTA PLÁSTICO NERI- VAL RODRIGUES E FIZEMOS RELEITURA DE UMA DE SUAS OBRAS SOBRE A CULTURA POPULAR “CONGADA”. A R T E 78 4. TEATRALIZAMOS A COROAÇÃO DA RAINHA E DO REI DO CONGADO 5. APRESENTAMOS NA QUADRA DA ESCOLA PARA ALGUNS ALUNOS DO PERÍODO INTEGRAL 6. RODA DE CONVERSA SOBRE A EXPERIÊNCIA. A R T E 79 CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência foi muito enriquecedora, porque vários alunos não co- nheciam a origem e poucos tinham noção do porquê da dança e dos adereços que são usados. Muitos só ouviram falar pela televisão, com a divulgação da Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes. A ex- periência realizada em bairros diferentes nos proporcionou vivenciar as peculiaridades de cada bairro. Como o bairro da Vila Industrial é forte na escola de samba e já possui uma comunidade rica em Cultura Popular, o assunto despertou bastante curiosidade nas crianças. Alguns até trou- xeram comentários dos pais. Já em Cesar de Souza, com uma religiosi- dade forte dos Evangélicos, os olhares são diferentes. Mesmo com estas diferenças o desenvolvimento foi muito bem aceito pelos alunos, pois o intuito de toda a preparação era deixar claro que a Congada é uma cultura popular trazida do continente africano e parte do sincretismo religioso do nosso povo. O importante é conhecer para en- tendermos nossas origens e misturas culturais. Desta forma, lançamos sementes de respeito, interesse e aceitação da nossa riqueza
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