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14-TÓP1-Lingua Portuguesa e Gramática Histórica

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Unidade I
Fundamentos e História da 
Língua Portuguesa
Língua Portuguesa e 
Gramática Histórica
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial 
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autoria 
DÉBORA LUIZA DA SILVA
LUCIANA UHREN MEIRA SILVA
AUTORIA
Débora Luiza da Silva
Olá! Meu nome é Débora Luiza da Silva. Sou licenciada em Letras 
(Habilitação Português) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – 
UNISNOS e Especialista em Educação a Distância: Gestão e Docência 
pela mesma instituição, com uma experiência técnico-profissional na 
área da docência e elaboração de conteúdos pedagógicos para cursos 
da modalidade a distância. Passei por diferentes instituições privadas, 
nas quais já atuei como analista acadêmica de EAD, professora-tutora, 
designer educacional e docente de EAD. Sou apaixonada pelo que faço 
e adoro transmitir minha experiência de vida, bem como contribuir com 
o aprendizado daqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, 
fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores 
independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de 
muito estudo e trabalho. Conte comigo! 
Luciana Uhren Meira Silva 
Olá, meu nome é Luciana Uhren Meira Silva, sou formada em Letras 
pela Universidade de São Paulo (USP) e tenho mestrado em Literatura e 
Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP). Sou professora desde 2000 e já atuei em vários níveis de ensino, 
desde o Ensino Fundamental, passando por cursos pré-vestibulares até a 
Pós-Graduação. Atualmente, leciono em cursos de graduação e elaboro 
conteúdo para cursos a distância. Sou apaixonada pelo que faço e amo 
transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas 
profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu 
elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você 
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
INTRODUÇÃO:
para o início do 
desenvolvimento de 
uma nova compe-
tência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de se apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando forem 
necessários obser-
vações ou comple-
mentações para o 
seu conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundamen-
to do seu conheci-
mento;
REFLITA:
se houver a neces-
sidade de chamar a 
atenção sobre algo 
a ser refletido ou dis-
cutido sobre;
ACESSE: 
se for preciso aces-
sar um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
se fazer um resumo 
acumulativo das últi-
mas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de au-
toaprendizagem for 
aplicada;
TESTANDO:
quando o desen-
volvimento de uma 
competência for 
concluído e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
Da Gramática Latina Portuguesa ..........................................................10
Origens do Latim – famílias linguísticas ........................................................................ 10
Percursos do Latim ........................................................................................................................ 13
Do Latim vulgar às línguas neolatinas ............................................................................. 15
A Língua Portuguesa na Europa ........................................................................................... 19
Gramática Histórica: Formação Linguística Do Brasil .................21
A chegada da Língua Portuguesa ao Brasil ................................................................. 21
A Língua Portuguesa no Brasil e o contato com outras línguas ..................24
Fases de desenvolvimento da Língua Portuguesa no Brasil .........................26
Constituição do Léxico Português ...................................................... 28
A influência indígena .....................................................................................................................28
A influência africana ......................................................................................................................29
Influência latina e grega ............................................................................................................29
Processos de formação de palavras – composição e derivação .............. 31
Formação lexical – movimento constante nas línguas .......................................33
Gramáticas Linguísticas ........................................................................... 36
O que é gramática? ....................................................................................................................... 36
Gramática normativa e descritiva.................................................................... 36
Gramática comparada e gramática histórica ...........................................37
Planos de estruturação da língua ...................................................................................... 39
Sistema .............................................................................................................................. 40
Fala ..........................................................................................................................................42
7
UNIDADE
01
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
8
INTRODUÇÃO
A área dos estudos de Língua Portuguesa representa um universo 
rico em aprendizado e experiência. Estudar essa língua significa 
compreender a sua formação, analisar a maneira como nos comunicamos 
e entender como a língua é viva, ou seja, está em constante mudança – 
provocada por aspectos históricos, culturais, sociais e até econômicos. 
Assim, vamos estudar não só a formação da língua, mas diferentes 
maneiras de compreendê-la por meio dos mais variados tipos de estudos 
gramaticais. Como dizia o poeta Olavo Bilac, ao identificar a Língua 
Portuguesa, “A última flor do Lácio, inculta e bela.” Assim, vamos conhecer 
toda sua beleza e profundidade. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva 
você vai mergulhar neste universo!
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
9
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar 
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o 
término desta etapa de estudos:
1. Identificar os diferentes tipos de gramática, compreendendo sua 
composição e importância para os estudos de Língua Portuguesa;
2. Reconhecer as influências da gramática latina na Língua Portuguesa, 
estudando alguns de seus aspectos constitutivos;
3. Explicar o que é a gramática histórica, analisando a formação 
linguística do Brasil;
4. Apontar o que é léxico, estudando sua formação na Língua Portuguesa.
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? 
Ao trabalho! 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
10
Da Gramática Latina Portuguesa
Origens do Latim – famílias linguísticas 
Provavelmente você já ouviu dizer que a Língua Portuguesa é 
derivada da língua latina e, assim como nossa língua, muitas outras 
derivaram do Latim, como o espanhol, o italiano e o francês. Isso significa 
dizer que essas línguas fazem parte de uma mesma família.
Mas, se a Língua Portuguesa é originária do Latim, então, significa 
que o Latim também possui sua origem em outra língua? Isso era o que 
queria descobrir os gramáticos e linguistas comparatistas que estudavam 
as línguas por volta do final do século XIX e meados do século XX. Esses 
estudiosos tinham por objetivos descobrir as ‘famílias linguísticas’ por 
meio dos estudoscomparatistas das semelhanças existentes entre as 
diversas línguas.
Assim, por meio da comparação entre línguas como o Latim, o 
Grego e o Sânscrito (língua praticada na Ásia), os linguistas chegaram a 
descobrir o protoindo-europeu, ou seja, a língua ‘matriarca’ de diversas 
línguas indo-europeias. Não existem, porém, registros escritos dessa 
língua antiga, falada por volta de 2500 a.C., originária de tantas outras 
(GONÇALVES; BASSO, 2010). No quadro a seguir, notamos algumas 
famílias linguísticas que se formaram do protoindo-europeu.
Figura 1: Origem comum: ‘árvore genealógica’ das famílias linguísticas formadas a partir do protoindo-europeu 
 Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 16. Adaptado
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
11
As transformações ocorridas no protoindo-europeu e a origem de 
outras línguas indo-europeias atingem um longo período da história da 
humanidade, pois, apenas para termos uma ideia, o Latim tem origem 
em torno do século XI a.C. e o Sânscrito entre 1500 a 1000 a.C. Veja, no 
quadro comparativo a seguir, alguns exemplos de palavras de línguas 
indo-europeias. Observe as semelhanças entre elas.
Quadro 1: comparativo entre língua indo-europeias. A semelhança entre as palavras indica 
uma origem comum das línguas
Língua Exemplos
Português Pai Mãe Irmão Lobo 
Latim Pater Mater Frater Lupus
Grego antigo Pater Meter Phrater Lykos 
Sânscrito Pitar Matar Bhratar Vrkas 
Espanhol Padre Madre Hermano Lobo 
Francês Pére Mére Frére Loup 
Inglês Father Mother Brother Wolf 
Alemão Vater Mutter Bruder Wolf 
Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 15. Adaptado.
A semelhança entre as palavras indicam a mesma origem das 
diferentes línguas apresentadas no quadro. Isso mostra que, assim como 
queriam demonstrar os comparatistas, as línguas, quando estudadas 
a partir do ponto de vista diacrônico, ou seja, das mudanças ocorridas 
ao longo do tempo, apontam para uma origem comum. Além do indo-
europeu, existem outras famílias linguísticas que deram origem a várias 
línguas faladas atualmente. 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
12
REFLITA:
Seria possível, então, conhecer todas as línguas e suas 
famílias desde o início da história da humanidade? Por 
mais que os estudiosos tentem chegar à origem de 
todas as línguas, essa ‘e uma tarefa muito difícil. Muitas 
línguas deixaram de existir e nem sequer deixaram um 
registro escrito. Assim, muito do conhecimento que se 
tem hoje a respeito dessa questão devemos a hipóteses 
lançadas pelos estudiosos de acordo com as observações 
conseguidas com a comparação entre as línguas. 
Pois bem, até aqui compreendemos que o Latim faz parte de uma 
família indo-europeia. Morfologicamente, os estudiosos descobriram que 
algumas características do protoindo-europeu foram preservadas no 
Latim e, posteriormente, seriam a base das línguas neolatinas, como o 
Português. Por exemplo, o protoindo-europeu variava seus substantivos 
em gênero (masculino e feminino) e também em número (plural e 
singular). Essa variação foi preservada no Latim e, posteriormente, na 
Língua Portuguesa. Mas, o protoindo-europeu também possuía variações 
relacionadas às funções sintáticas (GONÇALVES; BASSO, 2010). Observe 
o quadro a seguir.
Quadro 2: Casos (variação) do protoindo-europeu que permanecerem no Latim e que 
serviram de base para a sintaxe das línguas do ramo indo-europeu
Caso Definição
Nominativo Indica basicamente o sujeito na oração.
Acusativo 
Refere-se ao objeto direto, ou seja, 
complemento verbal.
Vocativo 
Caso usado quando o interlocutor é 
chamado
Genitivo Indica posse.
Dativo Objeto indireto.
Ablativo Usado para indicar um local afastado.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
13
Locativo 
Indica local em que se está no 
momento.
Instrumental 
Usado para especificar instrumento 
utilizado para fazer algo.
Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 19-20. Adaptado.
Agora que entendemos o estudo comparatista que indicou as 
origens do Latim, vamos nos aprofundar um pouco mais na história dessa 
língua que originou a língua Portuguesa. 
Percursos do Latim
O Latim falado na cidade de Roma e na província do Lácio, no 
século I antes de Cristo. Essa língua se estendeu pela Europa, pelo norte 
da África e por diversas regiões da Ásia devido à expansão do Império 
Romano que a utilizava como língua oficial (VILAS BOAS; HUNHOFF, 2014).
Entre os séculos I a.C. e I d.C. importantes autores produziram obras 
literárias que influenciaram a cultura, a política e a filosofia na Europa. 
Dentre esses autores podemos citar o poeta Virgílio que escrever o 
poema épico Eneida no final do século I a.C. (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
VOCÊ SABIA?
Eneida, poema épico de Virgílio conta a saga de Eneias, 
um troiano que, após a queda de Tróia, funda uma colônia 
troiana na região do Lácio, local de origem do povo romano. 
Assim, a Eneida é um poema sobre a fundação de Roma, 
desde o seu início como colônia até os tempos do Império. O 
poema é dividido em 12 cantos (como se fossem capítulos) 
e escrito em versos. Virgílio levou 12 anos para compor essa 
obra que só foi divulgada após a sua morte.
Didaticamente, o Latim é dividido em cinco diferentes períodos 
com suas manifestações. São eles:
 • Latim arcaico: os primeiros registros escritos do Latim datam de 
VII a.C. ou VI a.C. Aproximadamente em III a.C. foi produzida a 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
14
obra literária mais antiga que se tem notícia nessa língua – uma 
tradução da epopeia grega Odisseia.
 • Latim clássico: entre I a.C. e I d.C. foram produzidas diversas obras 
importantes que se tornaram um marco na cultura europeia e 
mundial, dentre elas os escritos do filósofo Cícero, a poesia de 
Virgílio e os textos do historiador Tito Lívio. A língua utilizada nessa 
época apresenta beleza de estilo e um cuidadoso trabalho com 
as palavras. 
 • Latim culto: a classe culta de Roma utilizava o Latim culto para se 
comunicar. Era uma variante do clássico, com regras gramaticais 
semelhantes, mas sem a mesma preocupação estilística da 
produção literária. 
 • Latim vulgar: a língua falada pelo povo comum para se comunicar. 
Essa forma de comunicação era bastante viva e aberta a mudanças, 
principalmente àquelas proporcionadas pelo contato do povo 
romano com outros povos, em razão da constante expansão 
do Império. Embora não haja registros escritos dessa época, as 
poucas inscrições que foram encontradas serviram de base para 
os estudiosos entenderem que as línguas românicas ou neolatinas 
são derivadas desse tipo de Latim.
 • Latim tardio: o Latim foi utilizado por muito tempo como a língua 
oficial, não só pelo Império Romano, mas também pela Igreja 
Católica e por países com língua já estabelecida para o registro 
de documentos oficiais. É o que aconteceu, por exemplo, com a 
Coroa Portuguesa que utilizava o Latim nos documentos oficiais 
da administração. O Latim tardio abrange o período até a Idade 
Média (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
Por isso, a partir de agora, vamos compreender qual é a relação 
existente entre a gramática latina e a portuguesa.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
15
Do Latim vulgar às línguas neolatinas
Como vimos, as língua neolatinas derivaram do Latim Vulgar, 
língua falada pela população romana em geral e que apresentava uma 
característica mais dinâmica e aberta a mudanças do que o Latim Clássico. 
VOCÊ SABIA?
Assim como atualmente existem as gramáticas e as aulas 
de Língua Portuguesa que têm por objetivo ensinar a 
maneira “correta” de utilizar a língua, no passado, em Roma, 
existia a obra Appendix Probi, documento que ensinava 
a pronúncia correta das palavras de acordo com o Latim 
Clássico. A obra possui a forma vulgar da palavra que deve 
ser substituída pela clássica. Por exemplo, encontram-se 
as seguintes formas: auris no lugar de oricla (o que deu 
origem a palavra “orelha” em português) e a forma clássica 
speculum no lugar de speclum (“espelho” em português)(GONÇALVES; BASSO, 2010)
São muitas as diferenças que distinguem as variantes entre o Latim 
Clássico e o Vulgar. Por isso, vamos estudar essas diferenças existentes 
em quatro aspectos: sintaxe, morfologia, fonologia e léxico.
Em relação à sintaxe, no Latim Clássico as palavras recebiam 
terminações de acordo com sua função na oração. Assim, as palavras 
em uma oração poderiam ser escritas quem qualquer ordem, já que a 
terminação era o que demonstrava o papel de cada uma das palavras. 
Veja um exemplo:
a. Petrus Paulum videt (Pedro vê Paulo).
b. Paulus Petrum videt (Paulo vê Pedro).
Notamos que o sujeito – caso nominativo (Petrus, Paulus) – recebe 
uma terminação diferente da palavra que faz papel de objeto – caso 
acusativo (Paulum, Petrum). Ainda que a ordem das palavras fosse livre, 
existia uma ordem básica de construção de orações que era sujeito – 
objeto / complemento. Já no Latim Vulgar, a ordem da construção das 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
16
orações mudou para sujeito – verbo – objeto/complemento. Essa é a 
forma adotada em Língua Portuguesa também, como herança do latim 
Vulgar. Outra característica importante é que os casos utilizados no Latim 
Clássico para substantivos, adjetivos e pronomes (nominativo, acusativo, 
vocativo, genitivo, dativo e ablativo) também foram simplificados no Latim 
Vulgar. Em relação à Língua Portuguesa, embora esses casos existam 
nas funções sintáticas, não existe uma terminação que os identifique 
nas orações. O vocativo, por exemplo, uma espécie de chamamento do 
interlocutor, é marcado por vírgulas, e não por uma terminação como no 
Latim Clássico Petre, huc veni! (Ó, Pedro, venha cá!) (ILARI, 2018). Essa 
mudança em relação aos casos pode ser observada no quadro a seguir.
Quadro 3: O Latim Vulgar preservou apenas dois casos dos seis presentes no Latim Clássico 
para a escrita de substantivos, adjetivos e pronomes.
Latim Clássico (“senhor”)
Caso Singular Plural
Nominativo Dominus Domini
Vocativo Domine Domini 
Acusativo Dominum Dominos 
Genitivo Domini Dominorum 
Dativo Domino Dominis 
Ablativo Domino Dominis 
Latim Vulgar(“senhor”)
Caso Singular Plural
Nominativo Dominus Domini 
Acusativo Dominum Dominos 
Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 30.
Ainda em relação à sintaxe, no Latim Clássico a ordem mais comum 
utilizada era determinante – determinado, como algo que conhecemos 
atualmente por adjetivo e substantivo. Então, era comum a construção: 
felix homo (feliz homem). Já no Latim Vulgar, a ordem passou a ser mais 
fixa e mudou para determinado – determinante (substantivo – adjetivo), 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
17
assim: homo felix (homem feliz), forma que também foi adotada pela 
Língua Portuguesa (GONÇALVES; BASSO, 2010).
Outra mudança significativa é aponta para o uso dos artigos. No 
Latim Clássico não havia o uso de artigos definidos e indefinidos como 
os existentes em nossa língua. Já o Latim Vulgar passou a adotar o uso 
de pronomes demonstrativos com funções próximas a dos artigos. Por 
exemplo, o pronome ille, illa, illud (“aquele, aquela, aquilo”), passa a 
cumprir a função de artigo definido “o, a, os, as”. O pronome unus, una, 
unum, anteriormente numeral, passa a ser usado como artigo indefinido 
“um, uma, uns, umas” (GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 30).
Sobre a morfologia, o Latim Clássico apresentava cinco declinações 
nominais. Essas declinações lembram o que temos hoje com –a, -o, -e 
(mala, vaso, cartomante). Veja o quadro a seguir dessas declinações. 
Quadro 4: Terminações nominais em Latim Clássico
Terminação Aplicação Exemplo
-a
Normalmente indicava o 
feminino, mas também 
poderia se relacionar ao 
masculino
Luna (lua – feminino); 
poeta (poeta – 
masculino).
-o
Normalmente masculino, 
mas indicava alguns 
neutros e femininos
Dominus (senhor – 
masculino), ficus (figo, 
figueira – feminino), 
somnium (sonho – 
neutro).
-i ou consoante final Três gêneros 
fur (ladrão – masculino) 
aedis (templo, casa – 
feminino) nomen (nome 
– neutro).
-u
Três gêneros, com 
neutros mais raros
Exercitus (exército – 
masculino), manus (mão 
– feminino), cornu (chifre 
– neutro).
-e
Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 31.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
18
No Latim Vulgar foram preservadas três terminações, mais 
próximas do que temos atualmente em Língua Portuguesa: palavras do 
gênero feminino em –a; palavras do gênero masculinos e neutros em –us; 
comuns (masculinos e femininos) em –e (ILARI, 2018).
Ainda em relação à morfologia, outro aspecto importante é a 
simplificação dos modelos de conjugação verbal. O latim Clássico 
apresentava cinco modelos: 1ª conjugação com vogal temática “a” – amo, 
amas, amare (amar); 2ª conjugação com vogal temática “e” – habeo, habes, 
habere (possuir, ter); 3ª conjugação sem vogal temática – dico, dicis, 
dicere (dizer); 4ª conjugação com vogal temática “i” – audio, audis, audire 
(ouvir); 5ª conjugação mista, sem vogal temática mas com conjugação 
parecida à quarta – capio, capis, capere (tomar, capturar) (ILARI, 2018). No 
Latim Vulgar, o sistema de conjugação se simplifica para três terminações: 
-a, -e, e –i. alguns verbos que, por sua irregularidade, não pertenciam a 
nenhuma terminação, passaram a ser incorporados por uma dessas três 
terminações. É o caso, por exemplo, de fídere (confiar), de fido, da terceira 
conjugação, passa a fidáre, da primeira; e de cádere (cair), da terceira 
conjugação, que passa a cadére, da segunda (ILARI, 2018).
Sobre a fonologia, estudiosos e comparatistas avaliaram que, dentre 
outras características, o Latim Clássico apresentava 10 representações 
para seu sistema vocálico que incluía, além das vogais átonas e tônicas, 
as longas e breves (o que influenciava na pronúncia das palavras). Já o 
Latim Vulgar apresentava apenas 10 representações e excluía as vogais 
longas e breves (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
No que diz respeito ao léxico, as línguas neolatinas derivam mais 
diretamente do Latim Vulgar. Por exemplo, a palavra portuguesa para 
“cavalo” derivou do Latim Vulgar caballus e não do Clássico equus, 
embora exista, em nossa língua, a palavra “equino” que é derivada do 
latim Clássico (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
19
RESUMINDO:
Esse breve estudo aponta para as diferenças entre o Latim 
Clássico e o Vulgar e como essas diferenças e simplificações 
afetaram a constituição das línguas neolatinas, em especial, 
a Língua Portuguesa.
É possível apontar a influência latina em muitos radicais das palavras 
da Língua Portuguesa, como em óculo (olho) usado na palavra ocular; 
agri (campo) utilizada em agricultura e sapo (sabão) na palavra saponáceo. 
Além disso, muitas expressões utilizadas nas áreas da Biologia e do Direito 
também apresentam origem latina como homo sapiens (homem sábio) e 
habeas corpus (corpo livre) (VILAS BOAS; HUNHOFF, 2014).
A Língua Portuguesa na Europa
Resumidamente, a Língua Portuguesa tem origem na Península 
Ibérica, região que compreende, atualmente, Portugal e Espanha. 
Os romanos chegaram à Península Ibérica por volta de 218 a.C. Com 
a ocupação romana, a península foi dividida em duas regiões – nordeste 
(Hispania Citerior) e sudeste (Hispania Ulterior). Sob o império de Augusto, 
aproximadamente em 27 d.C., a região passou por uma nova configuração.
A influência exercida pelos romanos nessas regiões aconteceu de 
forma diferente, por causa da localização geográfica e da distância até 
Roma. Assim, em algumas regiões, como na Baetica, falava-se o Latim 
mais conservador enquanto na Terraconensis se desenvolviam inovações 
típicas do Latim Vulgar (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
Não era incomum, também, que as regiões conquistadas 
apresentassem situações de bilinguismo e, nessas situações, é natural 
que o Latim sofresse influência das línguas locais. Os povos vencidos 
praticavam a língua latina de acordo com seus próprios hábitoslinguísticos 
de pronúncia e de preferência vocabular, causando, com o tempo, 
mudanças significativas na língua latina (ILARI, 2018).
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
20
Durante os séculos V, VI e VII da Era Cristã, a península sofreu várias 
invasões por povos bárbaros, mas o Latim continuou sendo da língua da 
cultura naquele local. Assim, os dialetos desses povos pouco contribuíram 
para o desenvolvimento das línguas românicas (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
Em um período anterior à formação da língua portuguesa 
propriamente dita, entre os séculos XII e XIV, os moradores da região da 
Lusitânia utilizavam o que ficou conhecido como galego-português, dialeto 
usado para a comunicação, bem como para a produção literária, como por 
exemplo, nas cantigas trovadorescas (VILAS BOAS; HUNHOFF, 2014).
DEFINIÇÃO:
As Cantigas Trovadorescas eram poemas cantados 
produzidos pelos trovadores. Essas cantigas assumiam a 
forma de cantiga de amor, de amigo ou de cantigas satíricas. 
Uma das mais conhecidas coletâneas dessas cantigas é o 
Cancioneiro da Ajuda, datado do final do século XIII. Nesse 
cancioneiro, todas as cantigas são de amor.
As características morfológicas do galego-português são 
semelhantes às do Latim Vulgar: a declinação nominal latina acaba por 
desaparecer e são preservadas apenas as formas de singular e plural nos 
substantivos derivadas do acusativo latino. Os gêneros são reduzidos a 
dois (masculino e feminino) e o gênero neutro deixa de existir. Além disso, 
ocorre a perda das declinações e as preposições marcam as funções 
sintáticas dos antigos casos do genitivo, ablativo e dativo. A ordem das 
composições das orações passa a ser mais rígida (GONÇALVES; BASSO, 
2010).
A separação entre o galego (desenvolvido na região da Galícia, 
Espanha) e o português, como duas línguas distintas, foi ganhando 
espaço e se firmando a partir da independência de Portugal, em 1185. 
Com a expulsão dos mouros (povos árabes) da Península e com a derrota 
dos castelhanos, a Língua Portuguesa foi ganhando status de língua oficial 
em Portugal (VILAS BOAS; HUNHOFF, 2014).
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
21
Gramática Histórica: Formação 
Linguística Do Brasil 
A chegada da Língua Portuguesa ao Brasil
A Língua Portuguesa chega ao Brasil com a vinda dos portugueses 
para nosso território em 1500. 
A carta de Pero Vaz de Caminha, escrita ao rei de Portugal, dá uma 
ideia do tipo de Língua Portuguesa que era utilizada à época. Observe um 
trecho dessa carta e sua tradução para a Língua Portuguesa atual.
Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha original
afeiçam deles he seerem pardos maneira dauerme
lhados de boõs rrostros e boos narizes bem feitos. / am
dam nuus sem nenhuu[m]a cubertura. nem estimam n
huu[m]a coussa cobrir nem mostrar suas vergonhas. e
estam açerqua disso com tamta jnocemçia como
teem em mostrar orrostro. [...]
os cabelos seus sam coredios e andauã trosqujados de 
trosquya
alta mais que de sobre pemtem deboa gramdura
e rrapados ataa per cjma das orelhas. e huu[m] deles
trazia per baixo da solapa de fonte afonte pera detras
huu[m]a maneira de cabeleira de penas daue ama
rela que seria decompridam dhuu[m] couto. muy
basta e muy çarada que lhe cobria otoutuço eas ore
lhas. aqual amdaua pegada nos cabelos pena e
pena com huu[m]a comfeiçam branda coma cera e
nõ no era. demaneira que amdaua acabeleira
muy rredomda e muy basta e muy jgual que nõ
fazia mjngoa mais lauajem peraa leuantar. 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
22
Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha traduzida
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados,
de bons rostos e bons narizes, bem feitos.
Andam nus, sem cobertura alguma.
Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de
encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca 
disso são de
grande inocência. [...]
Os cabelos deles são corredios.
E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do
que sobre-pente, de boa grandeza,
rapados todavia por cima das orelhas.
um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a
fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira,
de penas de ave amarela,
que seria do comprimento de um coto, mui basta e
mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas.
E andava pegada aos cabelos, pena por pena,
com uma confeição branda como, de maneira tal
que a cabeleira era
mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia
míngua mais lavagem para a levantar.
Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 120, 122.
VOCÊ SABIA?
Pero Vaz de Caminha escreveu sua carta para relatar ao 
rei D. Manuel o que a esquadra de Pedro Álvares Cabral 
havia encontrado em terras brasileiras. Embora a carta 
tenha ficado conhecida como a certidão de nascimento 
do Brasil, ela só foi publicada no século XIX, pois a Coroa 
Portuguesa mantinha em segredo as informações sobre 
suas descobertas.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
23
Então, a carta preserva as características de um português mais 
antigo, como, por exemplo, a utilização de “u” por “v”, o que pode indicar 
que a pronúncia de “v” ainda não estava solidificada (GONÇALVES; BASSO, 
2010, p. 123). Em comparação, o português praticado por Camões em Os 
Lusíadas (1572) é de mais fácil entendimento para nós, pois seguia um 
padrão forçado pela mídia impressa. Veja como exemplo um trecho da 
obra de Camões:
As armas, & os barões assinalados,
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos, & guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana.
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte 
Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010, p. 123.
De todo modo, a Língua Portuguesa que chegou ao Brasil foi mais 
próxima àquela expressa por Caminha em sua carta. A partir de 1532, 
porém, é que a Língua Portuguesa terá sua entrada efetiva em terras 
brasileiras com a implantação das capitanias hereditárias. Outro fator que 
contribuiu para a presença da Língua Portuguesa por aqui foi o trabalho 
de catequização realizado pelos padres jesuítas, iniciado em 1549 (VILAS 
BOAS; HUNHOFF, 2014).
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
24
Além disso, movimentos de expansão territorial foram encabeçados 
pelos bandeirantes a partir do século XVIII, o que contribuiu para a 
colonização de regiões mais distantes no interior do território, como Minas 
Gerais, Mato Grosso e das terras da região sul, e também para a difusão 
da língua portuguesa em contato com as outras línguas que existiam por 
aqui (ILARI, 2018). Essa relação da Língua Portuguesa com outras línguas 
é o que veremos no item a seguir. 
A Língua Portuguesa no Brasil e o contato 
com outras línguas
O contato dos colonos portugueses e dos padres jesuítas com os 
moradores locais se deu em um ambiente em que havia mais de 1000 
línguas indígenas diferentes. Dada essa grande diversidade linguística, 
os portugueses usaram o que ficou conhecido como “línguas gerais”. 
Essas línguas eram usadas em situações específicas como no comércio 
(GONÇALVES; BASSO, 2010).
No Brasil, havia duas línguas gerais: a língua geral paulista, utilizada 
na parte sul do país, e a língua nheengatu, utilizada no norte do Brasil. A 
primeira tinha como base a língua falada pelos índios tupinambás e era 
utilizada pelos bandeirantes a partir do século XVII. Já a segunda, também 
com base em línguas do tronco tupi, era utilizada pelos jesuítas para a 
catequese e na relação dos portugueses com os moradores do norte do 
país (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
Da primeira, não restaram registros, mas a segunda ainda é utilizada 
em regiões específicas do Amazonas. Essas línguas gerais deixaram de 
existirprincipalmente por medidas adotadas pelo governo português, 
como a obrigação do ensino da Língua Portuguesa e a medida adotada 
a partir do decreto do Marquês de Pombal de punição para aqueles que 
falassem outra língua que não a portuguesa (GONÇALVES; BASSO, 2010).
Além das línguas indígenas que serviram de base para as línguas 
gerais no Brasil, as línguas africanas também deram sua contribuição para 
a formação linguística do Brasil. O tráfico negreiro se inicia em 1559 e, 
por força de sua atuação, foram trazidos para cá falantes de diferentes 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
25
línguas africanas, como ewe, iorubá (tronco kwa), quicongo, quimbundo, 
umbundo (tronco bantu), mandinga, hauçá (tronco mande), além do 
árabe, falado por africanos muçulmanos (GONÇALVES; BASSO, 2010). 
Foram trazidos cerca de 18 milhões de africanos para o Brasil (ILARI, 2018).
Segundo Rodolfo Ilari (2018), um “dialeto das senzalas” originou-se 
a partir do século XVII a partir da mistura entre negros e índios provocada 
pelos portugueses para evitar as revoltas. Esse dialeto teria sucedido 
outro, o “dialeto português rural”, com o processo de aportuguesamento 
dos africanos e com a respectiva entrada de africanismos no português.
EXEMPLO: o dialeto é considerado um conjunto de marcas 
linguísticas (como marcas fonéticas e lexicais) que identificam um grupo 
de falantes dentro de um grupo maior que fala uma determinada língua. 
É o que acontece, por exemplo, com o dialeto “caipira” interpretado pela 
fala do personagem Chico Bento nas histórias em quadrinhos da Turma 
da Mônica. 
 • Em relação ao desenvolvimento da Língua Portuguesa no Brasil, 
podemos considerar três fases históricas (ILARI, 2018):
 • ●1533 a 1654 – situação de bilinguismo, a maior parte da 
população concentra-se na Bahia e em Pernambuco e fala, 
predominantemente, a língua geral;
 • 1654 a 1808 – as línguas gerais perdem força limitando-se ao 
interior e aos povoamentos jesuíticos, já na costa dissemina-se o 
português;
 • A partir de 1808 – o português difunde-se pelo interior com a 
chegada de cerca de 18 mil portugueses vindos de terras lusitanas 
fugidos das mãos do imperador francês Napoleão Bonaparte 
O contato entre a língua portuguesa trazida pelos europeus ao 
Brasil com as línguas indígenas e africanas certamente causaram 
impactos na língua que falamos na Língua Portuguesa que 
praticamos no Brasil, tanto de forma escrita como de forma falada. 
Essas modificações foram sendo causadas ao longo do tempo, 
como veremos no item a seguir.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
26
Fases de desenvolvimento da Língua 
Portuguesa no Brasil 
As mudanças ocorridas na Língua Portuguesa ocorreram desde a 
presença mais marcante dos portugueses em território nacional a partir de 
meados do século XVI. Os autores Gonçalves e Basso (2010) apresentam 
uma periodização do desenvolvimento da Língua Portuguesa no Brasil 
que abrange os anos de 1550 a 1950, já no século XX. O quadro a seguir 
apresenta as principais características dessa periodização. 
Quadro 5: dos períodos do desenvolvimento da Língua Portuguesa no Brasil
Período Fase Característica Exemplos
1500 – 1550 Inicial
Enriquecimento 
do léxico da 
língua, com a 
absorção de 
muitas palavras 
indígenas
Biju, cipó, 
mandioca, 
tucano, jacaré.
1550 – 1700 Formativa
Inicia-se a 
diferenciação 
entre o português 
falado em 
Portugal e no 
Brasil 
No português 
brasileiro, as 
vogais pretônicas 
“e” e “o” são 
substituídas, 
na fala, por “i” 
(‘minino’) e por “u” 
(‘durmir’). 
1700 – 1800 Diferenciadora 
Acentuação das 
diferenças entre 
o português 
europeu e o 
brasileiro
Queda do “l” 
final, como 
em Portugal – 
“Portugá”; e falta 
de concordância 
entre substantivo 
e seus 
determinante, 
como em “os 
menino” e “muitas 
flor”. 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
27
1800 – 1950 
Desenvolvimento 
do ensino e da 
escrita
Implantação 
de políticas de 
ensino no Brasil
A característica 
do português 
europeu que 
permaneceu 
na fala dos 
brasileiros, cuja 
vinda Corte para 
o país contribuiu, 
é o som chiante, 
presente na fala 
dos cariocas, por 
exemplo.
1950 – até o 
presente
Nivelamento
Homogeneização 
da Língua Portu-
guesa produzida 
em território 
nacional por meio 
dos veículos de 
comunicação 
A padronização 
foi estimulada 
pelos meios de 
comunicação, 
principalmente 
o rádio e a TV, 
já que pessoas 
em qualquer 
parte do território 
poderiam ter 
acesso a esses 
meios de 
comunicação.
Fonte: GONÇALVES; BASSO, 2010.
NOTA:
A partir das observações do quadro e dos estudos que 
fizemos a respeito do contato da Língua Portuguesa com as 
indígenas e africanas, é possível observar que o português 
falado e escrito no Brasil ganhou características diferentes 
do português europeu. Esse mesmo contato com diversas 
línguas contribuiu para a formação do léxico do português 
brasileiro. É o que estudaremos no próximo tópico.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
28
Constituição do Léxico Português
A influência indígena
Como vimos, os portugueses, ao chegarem ao Brasil, encontraram 
uma terra povoada por diversas etnias indígenas e um grande número de 
línguas. Do contato dos portugueses com os indígenas, além da formação 
da língua geral, usada para comunicação, catequização e comércio, outra 
contribuição importante foi para a constituição do léxico do português 
brasileiro. 
O léxico é o conjunto de palavras que formam o vocabulário de uma 
determinada língua. Para começarmos nossos estudos sobre o assunto, 
inicialmente daremos atenção à contribuição que os indígenas deram 
para a formação de nosso léxico.
IMPORTANTE:
É importante destacar, porém, que muitos pesquisadores 
afirmam que as línguas indígenas, assim como as africanas, 
pouco contribuíram para a formação do português brasileiro 
para além das contribuições lexicais. As diferenças entre a 
fala de brasileiros e portugueses sempre foram constatadas 
em diversos períodos na história, como o caso da repetição 
da negação (“Não sei não”), uso dos pronomes “ele” e “ela” 
como objeto direto (”Você viu ela?”) e quebra dos encontros 
consonantais (“adivogado” para “advogado”) (GONÇALVES; 
BASSO, 2010). 
Nesse caso, estando corretos esses estudos que ainda precisam 
ser aprofundados, a contribuição indígena para o português do Brasil se 
relaciona à formação do léxico, principalmente de palavras que servem 
para nomear animais, plantas, rios e lugares até então desconhecidos 
pelos colonizadores portugueses que poderiam adotar esses nomes como 
meio de identificação necessária àquilo que estavam tomando contato 
pela primeira vez. Muitas regiões brasileiras são identificadas com nomes 
de origem indígena como Goiás, Curitiba, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
29
Além da influência indígena para a constituição do léxico do 
português brasileiro, também tivemos as contribuições das línguas 
africanas. É o que estudaremos no próximo item. 
A influência africana
As línguas africanas chegaram ao Brasil com a vinda dos escravos a 
partir de 1559. Grande número de africanos foi trazido ao Brasil de diversas 
regiões da África e com isso, muitas línguas faladas por eles chegaram 
ao território brasileiro. Segundo Ilari (2018), as palavras de origem banto 
se relacionam a diversas categorias, como cacunda, caçula, fubá, angu, 
jiló, carinho, quiabo, dengo, samba. Já as palavras de origem do oeste 
africano se relacionam mais diretamente à liturgia do candomblé. 
Atualmente, podemos reconhecer a influência africana em nosso 
vocabulário em diferentes aspectos, tais como na fauna, na flora, na 
alimentação, em usos e costumes, na recreação, em ornamentos, entre 
outros casos. Porém, é indiscutível, também, a contribuição que os 
africanos deram à cultura brasileira em relação à culinária, à música, à 
religião eà literatura. 
Influência latina e grega 
O português brasileiro não sofreu influências apenas das línguas 
indígenas e africanas na constituição de seu léxico. O Latim e o Grego 
que estão na base da formação do português desde a Europa podem ser 
encontrados na variante que utilizamos no Brasil.
DEFINIÇÃO:
Na formação de palavras são utilizados afixos que podem 
ser sufixos ou prefixos. Os prefixos são adicionais na parte 
anterior ao radical (parte fixa, “dura” da palavra que não se 
modifica). Por exemplo: o prefixo des adicionado à “ilusão” 
forma “desilusão”. Já o sufixo é adicionado à parte posterior 
da palavra. Assim, o sufixo mente adicionado à “grande” 
forma “grandemente”.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
30
EXEMPLO: É o caso dos prefixos latinos mais comuns em nossa 
língua. Veja alguns exemplos no quadro a seguir:
Quadro 6: de prefixos latinos comuns em Língua Portuguesa
Prefixo Significado Exemplo
Ambi Duplicidade
Ambidestro, 
ambiguidade
Bis, bi, bin Dois, duplicidade Bisneto, bienal, binóculo
Circum, circu Em roda de
Circunferência, 
circulação
De, des Movimento para baixo Decompor, descair
De Negação Desventura, destravar
Extra Fora de Extradição, extralegal
Inter, enter Posição no meio Intercâmbio, entreter
Intro Dentro Introduzir 
Pluri Muito Pluricelular
Retro Para trás Retroceder, retroagir
Semi Metade Semicírculo, semivogal
Fonte: BECHARA, 2015, p. 366-367.
Os prefixos, como podemos observar no quadro, apresentam 
significado e, quando associados a um radical, podem mudar o sentido de 
uma palavra. É o caso, por exemplo, do prefixo latino in- que, se associado 
à palavra feliz, dá a ela o sentido contrário: infeliz. Esse e outros processos 
de formação de palavras serão estudados no tópico seguinte.
Além dos prefixos latinos, também os gregos são comuns em 
Língua Portuguesa. Apresentamos alguns exemplos no quadro a seguir:
Quadro 7: de prefixos gregos comuns em Língua Portuguesa
Prefixo Significado Exemplo
A, an Privação, negação Amoral, anônimo 
Arqui, arce
Superioridade 
hierárquica
Arquiduque, 
arquimilionário
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
31
Di Duplicidade, intensidade Dissílabo, ditongo
Ex, exo Para fora Êxodo, exógeno
Hemi Metade Hemisfério 
Metá Mudança, sucessão Metamorfose, metáfora
Perí Em torno de Perímetro, período
Proto Início, começo Proto-história, protótipo
Poli Multiplicidade Polissílabo, politeísmo 
Tele Distância, afastamento Telégrafo, telepatia
Semi Metade Semicírculo, semivogal
Fonte: BECHARA, 2015, p. 368-369.
Alguns prefixos latinos coincidem, em significado, com os gregos. É 
o caso, por exemplo, dos prefixos de negação des, in (latinos) – desleal, 
infeliz; e a, an (gregos) – amoral, anemia. A formação de palavras com os 
prefixos gregos segue o mesmo procedimento de afixação a radicais que 
acontece com os radicais latinos. A seguir, vamos estudar processos de 
formação de palavras em Língua Portuguesa.
Processos de formação de palavras – 
composição e derivação 
Conhecemos alguns prefixos latinos e gregos no item anterior. Os 
processos de formação de palavras envolvem o uso de prefixos e sufixos, 
e ocorrem, basicamente, de duas maneiras: por meio de derivação e de 
composição.
A derivação é um processo pelo qual as palavras são formadas a 
partir de colocação de afixos nas palavras primitivas (BECHARA, 2015). 
Esse tipo de formação de palavras pode ocorrer de quatro maneiras 
diferentes. Veja no quadro a seguir:
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
32
Quadro 8: Tipos de derivação – processos de formação de palavras
Processo Definição Exemplos
Derivação prefixal
Colocação de um prefixo 
antes do radical
Prever, reter, infeliz, 
destravar
Derivação sufixal
Colocação de um sufixo 
após o radical
Felizmente, travamento, 
livrinho
Derivação sufixal e 
prefixal
Colocação de um prefixo 
e um sufixo no mesmo 
radical
Infelizmente, 
deslealdade, 
Derivação parassintética
A mesma ação do 
processo anterior, porém, 
quando um dos afixos é 
retirado, a palavra deixa 
de existir.
Emudecer, desalmado.
Hemi Metade Hemisfério 
Fonte: BECHARA, 2015.
Além desses processos, temos também o processo de composição. 
Na composição, a criação de uma palavra nova consiste na relação entre 
dois radicais (BECHARA, 2015). Esse processo pode acontecer por meio 
da junção de palavras justapostas, isto é, que não sofrem transformações, 
como por exemplo, o substantivo “girassol”, ou ainda, por meio da 
aglutinação, que consiste em modificar pelo menos uma das partes, 
como no caso do substantivo “planalto” (plano+alto).
Esses são alguns dos processos que servem para a formação 
do léxico em Língua Portuguesa. Mas ainda resta um elemento a ser 
considerado: a influência constante que outras línguas exercem no 
português.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
33
ACESSE:
Para obter mais informações e exemplos sobre os processos 
de formação de palavras, consulte o site educativo “Só 
Português”. No site, além de ter acesso à teoria, é possível 
fazer exercícios sobre o tema escolhido. Disponível em: 
https://bit.ly/3e3nLmm. Acesso em: 18 jan. 2019.
Formação lexical – movimento constante 
nas línguas
Sabe-se que a formação da Língua Portuguesa, tanto em Portugal 
como no Brasil, aconteceu a partir do contato de diversas línguas entre si. 
Esse primeiro contato foi promovido pelas conquistas do Império Romano 
que levou o Latim para diversas regiões e, assim, exerceu e sofreu 
influência de diversas línguas.
Chegando ao Brasil, a Língua Portuguesa trazida pelos europeus 
logo entrou em contato com as línguas indígenas e africanas que 
contribuíram para a formação lexical do português brasileiro. Ainda outras 
línguas contribuíram para a formação de nosso léxico como o francês 
(batom, bijuteria, abajur) e o árabe (almôndega, álcool, alface). 
Atualmente, podemos dizer que ainda existem influências de 
outras línguas sobre o português? As línguas não são sistemas neutros 
e isolados, mas estão relacionadas a fatores sociais, culturais e políticos 
(TORELLI; FELICIO; CÂMARA, 2012).
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
https://bit.ly/3e3nLmm
34
IMPORTANTE:
Pense um pouco sobre o vocabulário relacionado 
à informática. Em sua maioria, essas palavras são 
provenientes da Língua Inglesa e, aos poucos, foram 
introduzidas em nosso cotidiano. Palavras como hardware, 
software, pendrive, e-mail, dentre outras só passaram a 
fazer parte de nosso léxico a partir do momento em que 
a informática se tornou mais comum em nossas vidas. Isso 
indica uma influência cultural na Língua Portuguesa e que, 
além, disso, é preciso que o usuário de informática tenha 
ao menos conhecimentos mínimos sobre esses termos 
(TORELLI; FELICIO; CÂMARA, 2012). Esse é o resultado 
do contato existente entre o Brasil e os países de Língua 
Inglesa, dentre eles Estados Unidos da América e Inglaterra 
(TORELLI; FELICIO; CÂMARA, 2012).
Isso prova que a língua é viva e passa por constantes modificações, 
não só de acréscimo de palavras, como também de descarte de palavras 
antigas, renovação das gírias, mudança de estruturas sintáticas, dentre 
outros fenômenos. Além disso, ainda existem as diferenças regionais em 
nosso país de tão vasto território e as diferenças entre as camadas sociais 
mais e menos privilegiadas.
Estudar como se forma uma língua é ter em mente sua constante 
evolução e reconhecer, também, que não existe uma forma “mais pura” 
ou “correta” de utilização da língua, mas sim, diferentes usos e registros. 
O mesmo acontece com a Língua Portuguesa. Que tenhamos, então, 
a mente aberta e os olhos bem atentos às constantes modificações da 
nossa “inculta e bela” Língua Portuguesa! 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
35
SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso 
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento:
SOUZA, M. S.; OLIVEIRA, J. M.; ARAÚJO, S. S. F. O contato 
entre línguas na constituiçãoda realidade sócio-histórica 
do português brasileiro: aspectos para um estudo 
sociolinguístico. A cor das letras, Feira de Santana, v. 19, n. 
Especial Dossiê: VII Encontro de Sociolinguística, p.12-22, 
mar. 2018. Disponível em: https://bit.ly/2HyQxzK. Acesso 
em: 17 jan. 2019.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
https://bit.ly/2HyQxzK
36
Gramáticas Linguísticas
A gramática envolve os estudos das leis que regem uma língua. Os 
estudos gramaticais, porém, podem ser feitos de diferentes pontos de 
vista e essa diferença acontece pela mudança no objeto de estudo. 
Sendo assim, vamos analisar, a partir de agora, quatro tipos 
diferentes de gramática para compreender como são feitos os estudos 
nessas áreas específicas.
O que é gramática?
A palavra gramática significa as leis que regem uma língua, ou 
ainda, as regras da linguagem (PRIBERAM, 2018). Essas regras, no geral 
estão associadas à forma escrita da língua, aquela que tem mais prestígio 
e costuma receber mais destaque nas aulas de Língua Portuguesa. 
Essa coletânea de regras, também chamada de gramática tradicional, 
assume, desde sua origem, um aspecto normativo em relação à língua. 
A gramática apresenta as normas daquela língua considerada padrão, 
correta segundo a tradição gramatical. 
Petter (2014) afirma que mesmo as gramáticas antigas como as 
do árabe, grego e latim prescreviam o uso correto da língua e, por isso, 
possuíam um caráter pedagógico. Essa tendência continua até os dias 
atuais e tem por objetivo “[...] desenvolver e fortalecer uma língua padrão 
[...]” (PETTER, 2014, p. 19); ou seja, um modelo daquilo que é considerado o 
correto, segundo as regras gramaticais. 
Os estudos gramaticais envolvem aspectos como fonética e 
fonologia, sistema gráfico, morfossintaxe e lexicografia. Estudaremos 
cada um desses itens a partir do tópico a seguir. 
Gramática normativa e descritiva
A gramática normativa está diretamente relacionada com as 
normas que regem uma língua. Essas normas, no entanto, são aquelas 
específicas da língua escrita que seguem um padrão diferente da língua 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
37
falada. Saussure (2012, p. 35) indicou que “A língua tem, pois, uma tradição 
oral independente da escrita e bem diversamente fixa [...]”.
A educação escolar privilegia a gramática normativa e, na maioria 
das vezes, considera a forma escrita como o modelo daquilo que seria o 
correto para a fala. 
Nos estudos da gramática normativa cabe ao gramático indicar 
como deve ser a língua, quais normas ou regras devem ser seguidas 
na escrita e, consequentemente na fala, de modo que o uso correto da 
língua fique claro.
Diferente da normativa, a gramática descritiva explica os fenômenos 
da língua. Nesse caso, a gramática não explica o que é certo ou que é 
errado, mas “[...] descreve seu objeto como ele é, não especula nem faz 
afirmações sobre como a língua deveria ser.” (PETTER, 2014, p. 21).
Para a gramática descritiva o que vale é descrever as regularidades 
que sustentam uma determinada língua. 
ACESSE:
Um estudo bem interessante sobre a gramática do 
português falado no Brasil foi realizado pelo professor 
Ataliba T. de Castilho. Assista ao vídeo do professor 
descrevendo algumas particularidades existentes na 
língua falada no Brasil Disponível em: https://bit.ly/3jA5IW7. 
Acesso em: 12 jan. 2019. 
A gramática descritiva aponta os fenômenos de uma determinada 
língua – como nesse caso em que é comum para o brasileiro iniciar uma 
sentença com pronome átono. Perceba que essa análise não indica o 
que está certo ou errado, mas o que acontece no registro linguístico dos 
brasileiros. E assim se dá a análise feita pela gramática descritiva. 
Gramática comparada e gramática histórica
Na gramática comparada o objetivo é realizar um “[...] estudo 
comparado de língua pertencentes a um tronco ou ‘família’ procedente de 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
https://bit.ly/3jA5IW7
38
uma fonte comum primitiva, com vista a estabelecer os fatos manifestados 
pela relação de “parentesco.’” (BECHARA, 2015, p. 55-56)
Esses estudos comparativos entre as línguas da mesma família 
envolvem as mudanças diacrônicas que acontecem nas línguas. O que 
são essas mudanças diacrônicas?
DEFINIÇÃO:
Além do conceito de diacronia, outro conceito importante 
para os estudos da língua é a sincronia. “Diacronia, do 
grego dia “através” e chrónos tempo, quer dizer “através do 
tempo”, e sincronia, do grego syn “juntamente” e chrónos 
“tempo”, significa “ao mesmo tempo.” (PIETROFORTE, 
2014, p. 79). Enquanto a diacronia se ocupa das mudanças 
ocorridas na língua através do tempo, a sincronia estuda 
os fenômenos da língua são estudados dentro de um 
determinado período de tempo.
A diacronia envolve “[...] a língua através do tempo, isto é, no estudo 
histórico as estruturas de um sistema como história da língua.” (BECHARA, 
2015, p. 40). 
Esses estudos são realizados a partir da observação de algumas 
palavras utilizadas em língua diferentes. Dessa forma:
Quadro 9: Palavras de língua neolatinas que mostram a origem comum das línguas 
europeias como português, espanhol, francês e italiano:
Português Espanhol Francês Italiano
Pai Padre Père Padre
Fonte: PIETROFORTE, 2014, p. 78.
Assim, “[...] pelo trabalho comparativo é possível reconstruir o 
percurso histórico das línguas, ou seja, é possível determinar como uma 
língua muda através dos do tempo, transformando-se em outras línguas.” 
(PIETROFORTE, 2014, p. 78).
A gramática comparativa e seus estudos linguísticos eram mais 
comuns à época do linguista Ferdinand Saussure, por volta do final do 
século XIX e meados do século XX. O objetivo desses estudos era “[...] 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
39
comparar as línguas para organizá-las em grupos e reconstruir as línguas 
de que os grupos se originavam.” (PIETROFORTE, 2014, p. 79). Ainda hoje 
esses estudos dão base para as pesquisas gramaticais e linguísticas. 
Por fim, a gramática histórica que pode ser definida como “[...] o 
estudo diacrônico de um só sistema idealmente homogêneo.” (BECHARA, 
2015, p. 56). A gramática histórica busca compreender, portanto, as 
mudanças ocorridas com o passar do tempo nos fenômenos linguísticos 
de uma determinada língua. Isso acontece porque todas as línguas estão 
em constante mudança.
É o que afirma Azeredo (2008, p. 61 apud SILVA, 2013, p. 142): 
A mudança na língua é causada por fatores diversos, mas é 
certo que nenhum deles opera independentemente e que, 
para que atuem e produzam seus efeitos, é indispensável 
uma condição: que a língua esteja em uso e integrada no 
cotidiano dos que a falam. Uma língua não muda ‘de vez 
em quando’, mas continuamente.
REFLITA:
Portanto, a gramática histórica, além de identificar as 
mudanças pelas quais passa uma língua, indica, também, 
que essas mudanças ocorrem em todas as línguas e que 
esse fenômeno não as empobrece ou as descaracteriza, 
mas causa alterações em seus registros, tanto na escrita 
quanto na fala. 
Planos de estruturação da língua
Toda língua apresenta uma estrutura básica, mas antes de conhecer 
essa estrutura, como podemos definir o conceito de língua?
Para responder a essa questão, o linguista suíço Ferdinand Saussure 
(2012) discute as diferenças existentes entre língua e linguagem. Para ele, 
a língua é uma manifestação da linguagem. Se a linguagem envolve a 
capacidade humana de comunicação, seja por meio da fala, da escrita, 
do gesto ou da imagem; a língua é “[...] um produto social da faculdade 
da linguagem e um conjunto de convenções necessárias adotadas pelo 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
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corpo social para permitir o exercício dessa faculdade dos indivíduos.” 
(SAUSSURE, 2012, p. 17). A língua também pode ser entendida como um 
“[...] instrumento criado e fornecido pela coletividade.” (p. 18). 
Em outras palavras, a língua é uma criação social que permite que o 
homem se comunique pormeio da fala e da escrita. Segundo Saussure, a 
comunhão existente entre os falantes da mesma língua acontece porque 
há um “[...] tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos 
pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe 
virtualmente em cada cérebro, [...] e só na massa ela existe de modo 
completo.” (2012, p. 21). 
EXEMPLO: mandioca, macaxeira ou aipim? Dependendo da região 
do Brasil em que uma pessoa se encontra, um desses nomes será utilizado 
para identificar o mesmo alimento. Entre os indivíduos que fazem parte 
da comunidade que utiliza o nome macaxeira, por exemplo, essa palavra 
não causa nenhum estranhamento, considerando que faz parte da língua 
portuguesa e é conhecida por todos naquela região.
Mas a língua, como fenômeno social, apresenta uma estruturação 
que permite que os indivíduos a conheçam e a pratiquem em suas 
relações sociais. Nessa estrutura, podemos identificar o sistema, a norma 
e a fala. Estudaremos cada um dos itens a seguir.
Sistema 
Para Saussure, a língua é entendida como um sistema de 
signos linguísticos, “[...] um conjunto de unidades que se relacionam 
organizadamente dentro de um todo.” (PETTER, 2014, p. 15). 
O que é um signo linguístico? Para entendermos esse conceito 
vamos partir do ponto do que o signo não é. Saussure (2012, p. 80) identifica 
que o signo “[...] une não uma coisa e uma palavra [...]”. Assim, dizer que 
“cavalo” corresponde ao próprio animal em si é uma compreensão 
equivocada do que é um signo linguístico.
Então, o que é, de fato, um signo linguístico? Para Saussure (2012, p. 
80), signo “[...] é a união de um conceito e uma imagem acústica.” Signo é, 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
41
então, uma relação estabelecida entre um significante (imagem acústica) 
e um significado (conceito).
Figura 2: Definição de signo linguístico para Saussure: relação entre conceito (significado) e 
imagem acústica (significante).
 Fonte: SAUSSURE, 2012, p. 80.
Cada língua é um sistema de signos, pois em cada uma delas 
há diferentes significantes para expressar um determinado significado, 
ou conceito. Nesse caso, para o significado de cavalo que, na língua 
portuguesa temos o significante “cavalo”, em outras línguas temos outros 
significantes, como horse (inglês); cheval (francês); pferd (alemão) ou konj 
(croata).
Esse sistema seria a parte social da língua, dominada pelos 
indivíduos em razão de suas interações sociais. Também por isso, esse 
sistema é exterior ao falante, pois um indivíduo não pode alterar os signos 
que já foram definidos pela sociedade (PETTER, 2014). 
Essa observação nos leva a outro conceito importante sobre o signo 
linguístico. É o que Saussure (2012, p. 81) chama de “arbitrariedade do 
signo”. O signo é arbitrário porque é cultural, aceito por uma determinada 
comunidade em que uma língua é praticada. Um signo não estabelece, 
necessariamente, uma relação entre som e sentido, o que prova isso é 
a existência de inúmeras formas escritas, nas diferentes línguas, para o 
mesmo conceito, conforme verificamos acima, com o exemplo do “cavalo” 
(FIORIN, 2014). Assim, o sistema de cada língua é uma convenção social 
que os indivíduos aprendem a partir das relações que estabelecem com 
outros indivíduos na vida em sociedade. 
O sistema linguístico é formado por signos que são unidades que 
estabelecem relação entre significante (imagem acústica) e significado 
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
42
(conceito). Os signos são arbitrários porque não podem ser modificados 
por indivíduos, pois são estabelecidos histórica e socialmente. 
Fala
A fala é a capacidade de expressão verbal de um indivíduo, certo? 
Além disso, Saussure (2012, p. 19) define a fala (parole) como “ato individual”. 
A fala, nesse sentido, não seria um fenômeno de massa, da coletividade, 
mas da pessoa em particular.
Saussure (2012) estabelece o que ficou conhecido como dicotomia 
língua (langue) / fala (parole). Para o linguista, langue, ou língua, é a criação 
social, o sistema de símbolos, que serve à comunicação. Já parole, ou 
fala, é a manifestação individual da língua, a produção de cada pessoa 
para sua comunicação particular. 
Por outro lado, é possível observar na fala características que não são 
apenas particulares, mas estão relacionadas, também, às características 
sociais. “Os diferentes sotaques, o uso de vocabulários próprios de alguns 
grupos sociais [...] caracterizam modos de realização linguística que não 
são próprios nem de um só indivíduo nem de todos os falantes de uma 
língua.” (PIETROFORTE, 2014, p. 92). 
Assim, a fala pode, ao mesmo tempo, representar as características 
particulares de uma pessoa, mas também indicam as características de 
uma determinada comunidade, o que implica a interação social entre os 
falantes. Isso indica as “[...] variantes linguísticas de uma mesma língua.” 
(PIETROFORTE, 2014, p. 92). Ou seja, em uma mesma língua, a fala pode 
indicar diferentes formas de expressão, tanto individual como coletiva; e 
essas diferenças formam a variação dentro de uma mesma língua.
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
43
SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar ainda mais sobre este tema? 
Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e 
aprofundamento:
Obra “História concisa da Língua Portuguesa”, de autoria 
de Renato Miguel Basso e Rodrigo Tadeu Gonçalves. 
Disponível em: https://bit.ly/2HHKJU2. Boa leitura!
Língua Portuguesa e Gramática Histórica
https://bit.ly/2HHKJU2
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REFERÊNCIAS
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Letras, 2017.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. São Paulo: 
Nova Fronteira, 2015.
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Linguística I: objetos teóricos. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2014. 
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linguístico e ensino: a contribuição de línguas indígenas na aprendizagem 
do português brasileiro. Sociodialeto, Campo Grande, v. 4, n. 11, nov. 2013. 
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www.dicionarioetimologico.com.br/educar/>. Acesso em: 12 jan. 2019. 
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QUANDO se trata de português falado, não existe certo e errado. 
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Língua Portuguesa e Gramática Histórica
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https://periodicos.unemat.br/index.php/moinhos/article/view/2486/2053
https://periodicos.unemat.br/index.php/moinhos/article/view/2486/2053
	Da Gramática Latina Portuguesa
	Origens do Latim – famílias linguísticas 
	Percursos do Latim
	Do Latim vulgar às línguas neolatinas
	A Língua Portuguesa na Europa
	Gramática Histórica: Formação Linguística Do Brasil 
	A chegada da Língua Portuguesa ao Brasil
	A Língua Portuguesa no Brasil e o contato com outras línguas
	Fases de desenvolvimento da Língua Portuguesa no Brasil 
	Constituição do Léxico Português
	A influência indígena
	A influência africana
	Influência latina e grega 
	Processos de formação de palavras – composição e derivação 
	Formação lexical – movimento constante nas línguas
	Gramáticas Linguísticas
	O que é gramática?
	Gramática normativa e descritiva
	Gramática comparada e gramática histórica
	Planos de estruturação da língua
	Sistema 
	Fala

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